O vocábulo - Constituição - nos remete aos verbos criar, instituir,
demarcar. A Constituição pode ser conceituada como o conjunto de normas fundamentais e supremas responsáveis pela criação, estruturação e organização jurídico-político do Estado. A Constituição é um verdadeiro estatuto do poder. A Constituição é formada pelo preâmbulo, corpo fixo e pelos ADCT. Segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial o STF considerou no julgamento da ADI 2076 (ler) que o Preâmbulo pode ser utilizado como fonte de interpretação, mas não é norma jurídica, ou seja, o preâmbulo é desprovido de normatividade, e em razão disso não serve como parâmetro para o controle de constitucionalidade das leis, tampouco é de observância obrigatória das constituições estaduais. No entanto, não existe hierarquia entre as normas do corpo fixo e do ADCT. Em caso de conflito entre normas do corpo fixo e normas do ADCT provavelmente o conflito será resolvido pela norma mais específica (norma de hermenêutica). As normas constitucionais podem ser originárias que são aquelas que nasceram com a CF/88 ou derivadas que são aquelas inseridas no texto da constituição após a promulgação da CF/88. No julgamento da ADI 185 (ler) o STF decidiu que as normas constitucionais originárias gozam de presunção absoluta de constitucionalidade e não podem ser consideradas inconstitucionais. O STF afastou a teoria de um Jurista Alemão Oto Barrofi para quem seria possível declarar a inconstitucionalidade dessas normas originárias em face do direito natural. As normas constitucionais derivadas e as normas infraconstitucionais gozam de presunção relativa de constitucionalidade, ou seja, nascem produzindo os seus efeitos jurídicos, mas podem ser declaradas inconstitucionais caso se observe alguma violação ao texto da CF.
2. Concepções O Supremo adota múltiplas acepções/sentidos sobre a Constituição.
a) Sociológico - para Ferdinam Lassali a constituição seria um
produto dos fatores reais do poder, tais como as questões sociais, culturais, econômicas. E a constituição que não estivesse ligada com esses fatores do poder, não seria nada mais que uma simples folha de papel. Para ele a Constituição é formada por fatos. b) Político - para Karl Schimidt a Constituição deveria representar uma decisão política fundamental, ou seja, aquelas normas que estruturam o Estado como as normas relativas à forma de governo, a sistema de governos, ou seja, normas da estrutura principal do país. Normas materialmente constitucionais representam essa decisão política fundamental, consideras por Schimidt a verdadeira Constituição. Para ele tudo que estivesse no corpo da Constituição, mas que não representasse essa decisão político fundamental seriam normas formalmente constitucionais. Art. 178 da Carta do Império - Ler. c) - para Kelsen a Constituição é um conjunto de normas jurídicas prescritivas de condutas humanas e devidamente estruturada e hierarquizadas (pirâmide) num ordenamento escalonado que encontra seu fundamento jurídico de validade definitivo e último na norma fundamental. Ponto de convergência de todas as normas integrantes do sistema jurídico e fundamento de validade de toda estrutura normativa. Goza de imperatividade sobre as demais normas. Sentido lógico-jurídico que significa norma hipotética fundamental que não é posta, mas sim pressuposta. É responsável pelo comando: obedeçam a constituição. Sentido jurídico-positivo fundamenta e dá validade a todo o ordenamento jurídico.
3. Elementos
a) orgânicos - são também chamados de organizacionais e
cuidam das normas que tratam da estrutura básica do estado, como a sua forma de Governo, a sua forma de Estado, princípio e separação de poderes. Encontra-se no título I da CF/88 (princípios fundamentais), Título III, IV. b) limitativos - são os elementos que limitam e legitimam a atuação do Estado, formado por direitos e garantias fundamentais. Encontra-se no título II, exceto no capítulo II (direitos sociais) que entram nos elementos sócio-ideológicos. c) sócio-ideológicos - título II, exceto no capítulo II (direitos sociais) d) estabilização constitucional - estão ligados a proteção da supremacia da constituição e também são elementos que visam defender o próprio Estado Brasileiro, ex. Art. 102, I, alínea a, CF, art. 60, CF. e) formais de aplicabilidade - estão associados as normas da constituição que possuem prazo para fazer efeito e produzir eficácia imediata, ex. Art. 5º, §1º, CF.
Aula 1.3. Continuação
4. Eficácia e aplicabilidade das normas da Constituição
Não há hierarquia entre as normas do corpo fixo e do ADCT.
José Afonso da Silva divide as normas constitucionais em três grupos: normas e eficácia plena, normas de eficácia contida, normas de eficácia limitada ou reduzida. a) Grupo das Normas De Eficácia Plena: As normas de eficácia plena ou reduzida são autoaplicáveis. Começam a produzir os seus efeitos desde a sua entrada em vigor. São normas que não dependem de atuação futura do poder público e nem da atuação do legislativo, ou de atuação administrativa. Normas plenas possuem incidência direta (entre a entrada em vigor da norma e a produção dos seus efeitos jurídicos a necessidade de uma atuação regulamentadora, a norma já incide diretamente sobre aquele assunto), imediata (está associada ao aspecto temporal, ou seja, não há intervalo de tempo entre a entrada em vigor da norma e a produção dos seus efeitos jurídicos) e integral (não pode sofre restrições no âmbito infraconstitucional, art. 1º, CF). São normas que se bastam. São normas bastantes em si. As normas de eficácia contida são autoaplicáveis, produzem os seus efeitos jurídicos desde a entrada em vigor, possuem incidência direta e imediata, mas não possuem incidência integral (pode sofrer restrições no plano infraconstitucional, Art. 3, CF, art. 93, IX, CF, Art. 5º, XV, CF). As normas de eficácia contida não dependem de lei, tampouco de atuação administrativa do Poder Público para que possam produzir seus efeitos jurídicos. Os remédios constitucionais são exemplos de normas de eficácia plena. b) Grupo das Normas De Eficácia Limitada Ou Reduzida: não são autoaplicáveis, ou seja, dependem de atuação futura do Poder Público para que possam produzir os efeitos jurídicos básicos, mas isso não quer dizer que não produzam nenhum efeito. Efeitos temporais - incidência mediata, não integral. São dividas em normas: a) programáticas são aquelas que criam metas, programas, diretrizes e normalmente na área social - ex. Art. 196, CF, 205, CF, precisam de atuação futura do poder público para que essas normas possam produzir os seus máximos efeitos; b) institutivas ou organizatórias são aquelas que criam funções, órgãos e que dependem da atuação futura do Poder Público para que possam os seus efeitos essenciais - ex. Art. 112, 113, CF, art. 134, §4º. MI e ADO são ações constitucionais que normalmente são utilizadas para as normas de eficácia limitadas. Não existe hierarquia entre as normas da Constituição, ou seja, não se subordinam entre si. Boa parte da doutrina sustenta que temos uma eficácia negativa das normas constitucionais, ou seja, todas as normas produziriam efeitos jurídicos mínimos, quais sejam, estão aptas a produzir três efeitos: 1) servem como parâmetro para o controle de constitucionalidade, 2) servem como base para recepção ou não recepção das normas futuras, 3) servem de fonte de interpretação. Sendo assim, todas as normas sejam elas de eficácia plena, contida ou limitada possuem pelo menos três efeitos jurídicos: servem como parâmetro para o controle de constitucionalidade; servem como base para recepção ou não recepção das normas futuras, e, servem de fonte de interpretação. Obs.: Não há na Constituição norma desprovida de efeitos jurídicos.