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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 2ª VARA DE

ACIDENTE DO TRABALHO DA COMARCA DE SÃO PAULO SP

AUTOS Nº: 0032411-73.2019.8.26.0053

ROBERTA DANIELA GOMES DE OLIVEIRA SILVA, já qualificado(a) nos


autos da ação em epígrafe, que move contra o(s) RÉU(S), vem, diante de Vossa
Excelência, por seu procurador, com fulcro no artigo 1.009 e seguintes do Novo
Código Processo Civil, interpor tempestivamente RECURSO DE APELAÇÃO,
requerendo desde já sejam remetidas as razões recursais anexas para o Tribunal de
Justiça.

De início, dirigindo-se ao juízo de primeiro grau, a parte Autora, ora Apelante,


vem demonstrar o total interesse no prosseguimento do feito, atendendo assim, ao ato
ordinatório praticado nos autos de origem.

Informa que deixa de juntar a guia de custas de preparo do recurso, uma vez
que está requerendo a apreciação do pedido de justiça gratuita em preliminar de
recurso, nos termos do artigo 99, §7º, do CPC/2015.

Nesses termos,

Pede deferimento.

São Paulo/SP, terça-feira, 28 de março de 2023.

EVANDRO JOSÉ LAGO

OAB/SP 214.055
DAS RAZÕES DO RECURSO

Colenda Câmara Julgadora,

Não obstante a cultura jurídica advinda da ínclita julgadora monocrática, sua


decisão contrariou parcialmente as regras basilares que ancoram o nosso direito pátrio
como ficará plenamente comprovado.

Mas não apenas isto, a respeitável sentença guerreada contrariou a Lei e o


curial entendimento jurisprudencial e doutrinário versante sobre a matéria focada,
como abaixo ficará caracterizado.

DO PREPARO E PORTE E REMESSA

Primeiramente cabe ressaltar que, o pedido de concessão da justiça gratuita


não foi devidamente analisado pelo juízo “a quo”, motivo este que suscita como
preliminar de apelação a análise do requerimento por este juízo “ad quem”, uma vez
que a parte Apelante se enquadra perfeitamente nos requisitos para a concessão da
benesse.

O pedido da benesse da justiça gratuita encontra-se respaldo no artigo 99, §7º,


do Código de Processo Civil/2015.

Art. 99.  O pedido de gratuidade da justiça pode ser


formulado na petição inicial, na contestação, na petição para
ingresso de terceiro no processo ou em recurso:

§ 7o Requerida a concessão de gratuidade da justiça em


recurso, o recorrente estará dispensado de comprovar o
recolhimento do preparo, incumbindo ao relator, neste
caso, apreciar o requerimento e, se indeferi-lo, fixar prazo
para realização do recolhimento.

No mesmo sentido, diz a jurisprudência:

CIVIL - APELAÇÃO CÍVEL - IRRESIGNAÇÃO CONTRA


SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE OS EMBARGOS
À AÇÃO MONITÓRIA - ACERTO - PRELIMINAR DE
BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA ACOLHIDA POR
UNANIMIDADE - PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO REJEITADA
POR UNANIMIDADE - MÉRITO - CHEQUE PRESCRITO -
MERAS ALEGAÇÕES SEM APRESENTAÇÃO DE PROVAS
DE QUE O TÍTULO FOI PAGO E COMPENSADO NÃO TEM O
CONDÃO DE INFIRMAR A EXISTÊNCIA DA DÍVIDA -
MANTIDA A SENTENÇA INTEGRALMENTE - DECISÃO
UNÂNIME. (TJPE. 0037060-78.2008.8.17.0001. Órgão
Julgador 6ª Câmara Cível. Julgamento 29 de Março de 2011.
Relator José Carlos Patriota Malta)

A Constituição dispõe que “o Estado prestará assistência jurídica integral e


gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos” (artigo 5º, LXXIV, CRFB/88).
Trata-se de cláusula pétrea da nossa Constituição, não se podendo incrementar o
texto normativo para nele inserir outras exigências.

Em consonância aos ditames Constitucionais e art. 99, caput e § 7º, do NCPC,


prevê que “O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição
inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em
recurso.” e "requerida a concessão de gratuidade da justiça em recurso, o
recorrente estará dispensado de comprovar o recolhimento do preparo,
incumbindo ao relator, neste caso, apreciar o requerimento e, se indeferi-lo, fixar
prazo para realização do recolhimento."

Todavia, desde já a parte Apelante reitera o pedido de justiça gratuita a corte


superior, isentando-a do pagamento das às taxas judiciárias, dos emolumentos e às
custas, na forma da Lei.

Com isso conclui-se que, a gratuidade da assistência judiciária é galgada,


então, a forma de garantia constitucional estando prevista entre os direitos individuais
do cidadão.

Nesse sentido, requer seja analisado o pedido do benefício da justiça gratuita,


e consequentemente deferido, eis que a parte Apelante preenche todos os requisitos
para a concessão.

DO PEDIDO DE SUA REFORMA

Com a devida vênia, mas a decisão recorrida não pode prevalecer.

A parte é beneficiária da Previdência Social, tendo recebido AUXÍLIO –


DOENÇA e/ou aposentadoria por INVALIDEZ conforme comprovam os documentos
anexos.

DA PRESCRIÇÃO/DECADÊNCIA
Não se trata de ação de revisão de beneficio previdenciário, mas de ação de
cobrança dos atrasados referente a revisão já realizada pela autarquia ré
administrativamente, de forma que se discute, tão somente, a possibilidade de
pagamento imediato do valor anteriormente apurado e já reconhecido como devido
pelo próprio INSS.

Segundo precedente da TNU, no PEDILEF 05003069320134058304, fixou-se a


tese de que é possível a cobrança de atrasados – com o seu recebimento imediato -
decorrente da revisão da RMI ocorrida por força da ACP n.º 0002320-
59.2012.403.6138, por meio de ação individual. Assim, com fundamento neste
precedente, presente o interesse de agir da parte.

A revisão dos benefícios na forma do acordo celebrado naquela ACP foi feita
de acordo com a Resolução do Presidente do Instituto Nacional do Seguro Social-
INSS - nº 268, de 24.01.2013, que assim dispõe:

Art. 3º A revisão contempla os benefícios que possuem Data do


Despacho - DDB, entre 17 de abril de 2002 e 29 de outubro de
2009, data em que foram implementadas as alterações
sistêmicas com base na nova regra de calculo.

§ 1º Não serão objeto da revisão os benefícios enquadrados


em um dos seguintes critérios: I - já revistos pelo mesmo
objeto, ou seja, administrativa e judicialmente; II - concedidos
no período de vigência da Medida Provisória nº 242, entre 28
de marco de 2005 e 3 de julho de 2005; III - concedidos ate o
dia 17 de abril de 2002, quando foi operada a decadência,
conforme art. 4º desta Resolução; IV - concedidos dentro do
período de seleção descrito no caput, porem precedidos de
benefícios alcançados pela decadência; e V - embora
concedidos no período definido no Acordo Judicial firmado no
âmbito da Ação Civil Publica nº
0002320-59.2012.4.03.6183/SP, sejam precedidos de
benefícios com Data de Inicio de Beneficio - DIB, anterior a 29
de novembro de 1999. (...)

Art. 4º Será aplicada a decadência de dez anos a contar da


data da citação do INSS na ACP.

Os pagamentos serão feitos por ordem de prioridade, conforme acordo firmado


na Ação Civil Pública: 1 – benefícios ativos; 2 – beneficiários mais idosos identificados
na data da citação; 3 – benefícios com menor valor de diferença apurada até o
processamento até 01/05/2022.
Ou seja, a revisão já foi efetuado, bastando apenas pagar-se os valores
atrasados, segundo apurado.

Segundo art. 4º, do DECRETO Nº 20.910, DE 6 DE JANEIRO DE 1932, não


corre a prescrição durante a demora que, no estudo, ao reconhecimento ou no
pagamento da dívida, considerada líquida, tiverem as repartições ou
funcionários encarregados de estudar e apurá-la.

Mesmo assim, no que se refere à prescrição, deve ser observado que em


15/04/2010 foi editado o Memorando Circular Conjunto n.º 21/DIRBEN/PFEINSS,
autorizando a revisão dos benefícios por incapacidade nos termos do artigo 29, II, da
Lei n.º 8.213/91 pelo INSS e importando, assim, no reconhecimento inequívoco do
direito dos segurados à revisão ora pleiteada no âmbito administrativo.

Sobre o tema citamos o precedente da TNU no PEDILEF 5001752-


48.2012.4.04.7211, em que restou assentada a seguinte tese:

“A publicação do Memorando-Circular Conjunto nº 21


/DIRBEN/PFEINSS, de 15/04/2010 é o marco inicial da
prescrição do direito à revisão pelo art. 29, II, da Lei nº
8.213/91, importando a renúncia tácita por parte do INSS aos
prazos prescricionais em curso, que deverão voltar a correr
integralmente a partir de sua publicação, e não pela metade, e
que para pedidos administrativos ou judiciais formulados dentro
do período de 5 (cinco) anos da publicação do referido
Memorando-Circular, não incide prescrição, retroagindo os
efeitos financeiros da revisão à data de concessão do
benefício” (PEDILEF nº 5001752-48.2012.4.04.7211, D.O.U,
Seção 1, págs. 97/127, 21.03.2014).

Não há que se falar em decadência, nos termos do disposto no art. 103 da Lei
nº 8.213/91, uma vez que, de fato, a parte autora pretende o desfazimento do ato de
concessão do benefício de aposentadoria e não a sua revisão.

Não se aplica ainda o prazo decadencial ao presente caso, pois a presente


ação tem por objeto a cobrança de valores atrasados decorrente de revisão
administrativa e não, a revisão do ato de concessão de benefício previdenciário, nesta
direção tem apontado a jurisprudência ao tratar da questão da revisão da RMI pela
aplicação do índice do IRSM de fev/94 (REsp 1501798/RS, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/05/2015, DJe
28/05/2015).

A própria orientação da Autarquia Previdenciária, declinada no artigo 441, § 2º,


da Instrução Normativa INSS/PRES. n. 45/2010, estabelece que as revisões
determinadas em dispositivos legais, salvo se houver revogação expressa, ainda que
decorridos mais de dez anos da data em que deveriam ter sido pagas, deverão ser
processadas, observando-se a prescrição quinquenal. Deste modo, afastada eventual
alegação preliminar sobre a decadência do direito da parte autora.

Assim sendo, não há que se falar em prescrição, nem muito menos


decadência, pois o ato de concessão já foi revisto pelo próprio INSS, requerendo-se
que seja afastada a prescrição/decadência.

DO MÉRITO

Ocorre, Exa., que o cálculo da renda mensal do benefício concedido à parte foi
efetuado de forma equivocada pelo INSS, conforme comprovam os documentos
acostados nos autos, pois não foi observado pelo INSS o inciso II, do artigo 29 da Lei
8.213/91, (com a redação dada pela Lei 9.876/99) já que considerado todo o período
contributivo, quando deveria se excluir do plano básico de cálculo os 20% (vinte por
cento) menores salários de contribuição, causando, prejuízo.

Em 15 de abril de 2010, o INSS através do Memorando- Circular Conjunto n°


21/DIRBEN/PFEINSS, 15.04.2010, reconheceu o direito a revisão do seu benefício e
prometeu fazer a revisão e pagar os valores devidos.

Adiante, surpreendentemente o INSS mandou, injustificadamente, sobrestou os


pedidos de revisões na forma do art.29, inciso II, da Lei 8.213/91, tendo emitido o
MEMORANDO-CIRCULAR n. 19, em 02 de julho de 2010, voltando a resistir a
pretensão.

Ora, simplesmente suspendeu o referido Memorando.

Em setembro de 2012, finalmente, por intermédio de acordo judicial feito na


AÇÃO CIVIL PUBLICA N° 0002320-59.2012.4.03.6183/SP entre o SINDICATO
NACIONAL DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS DA FORÇA SINDICAL e o
INSS, estabeleceu-se um calendário de pagamento para benefícios alcançados pela
revisão com a aplicação do inc. II do art. 29 da lei 8213-91.

Na citada Ação Cívil Publica, o INSS tornou publico mais uma vez que faria as
revisões administrativas de acordo com calendário estabelecido no citado acordo e a
partir de março de 2013 passou a revisar os benefícios que possuíam direito, porém,
diante de tantas idas e vindas, não há garantias concretas de que o INSS realmente
vai cumprir o ajustado, mais uma vez.

Ademais, Exa., o recorrido diz que pretende pagar os valores devidos a


parte Autora até MAIO DE 2022, conforme o cronograma que definiu.

Ora, isso não é aceitável e nem razoável; Pois o recorrente está sendo
prejudicado em seus direitos desde a concessão do benefício e não se pode obrigá-
lo a aguardar tão longos anos para receber o que é seu por direito. Exa., o próprio
recorrido poderá vir a falecer antes de receber tais valores, dada a elasticidade dos
prazos fixados pelo INSS.

Ademais, a parte não é nem jamais foi associada do referido SINDICATO


NACIONAL DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS DA FORÇA SINDICAL e,
portanto, não se sente representado por tal entidade e não pode ser obrigado a
concordar com o acordo feito na referida ação civil pública em São Paulo.

Com efeito, não há litispendência entre ações coletivas versando sobre direitos
individuais homogêneos patrimoniais/ disponíveis e ações individuais, pelo fato de os
pedidos daquelas, como categorizações amplas e genéricas de pretensões individuais,
não necessariamente abrangerem todos os tipos de pretensões possíveis, nem
servirem, em se tratando, como no caso, de direitos disponíveis, ao cerceamento do
auto-regramento da vontade privada.

Não por outra razão o art. 104 do CDC, ao disciplinar a inter-relação processual
entre ações coletivas e ações individuais, afastou a litispendência, pois a substituição
processual nas hipóteses de tutela coletiva de direitos disponíveis não pode
validamente suprimir o livre exercício do direito de ação, nem tampouco a
autodeterminação individual quanto à defesa de interesses pessoais, como
expressão da dignidade da pessoa humana (CF/88, art. 1º, III) .

Daí reputar-se que a recorrente não se sente representada pela referida


Associação que moveu a ação coletiva como substituto processual,(autos nº 0002320-
59.2012.4.03.6183/SP), destacada a presente ação da relação de
abrangência/englobação, mediante a diferenciação do pedido, seguirá a presente seu
curso normal, vez que fundada em pretensão diversa. De outro vértice, não se pode
olvidar que a presente ação trata da mesma matéria já decidida pela Suprema
Corte do País, com efeitos de repercussão geral, sendo pacifica, portanto a sua
procedência e não havendo mais provas a produzir – matéria exclusiva de direito-
faz-se importante o seu julgamento de imediato, a fim de dar agilidade justo pleito.

Portanto, o acordo realizado na ação civil pública não impede a recorrente de


mover a presente ação, nem lhe tira o interesse processual e a legitimidade sobre o
mesmo tema, requerendo a realização de seu direito.

Já se decidiu:

PROCESSUAL CIVIL ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL


PUBLICA AÇÃO INDIVIDUAL LITISPENDÊNCIA. NÃO
OCORRÊNCIA.
1. A Ação Civil Publica não tem o condão de obstar o
ajuizamento de ações individuais que pleiteiem provimentos
assemelhados ou idênticos aqueles requeridos na ação
coletiva.
2. Não havendo litispendência entre a ação que busca garantir
a tutela coletiva e a ação individual usada como paradigma,
não há que se determinar a conexão.
(TRF4, AG 5006554-91.2012.404.0000, 4° Turma, Relator
LUIS ALBERTO D’AZEVEDO AURVALLE, julgado aos
24/07/2012, D.E. de 25/07/2012)

Desta forma, o INSS já revisou administrativamente o beneficio da parte


impondo valores, sem o crivo do principio do contraditório e impôs um calendário de
pagamento que de antemão a recorrente não concorda.

Estando o direito da parte reconhecido pelo INSS, com a revisão pela aplicação
do Inc. II do artigo 29, da Lei 8213/91, resta apenas discutir os valores devidos pelo
INSS, com o pagamento via RPV, conforme determina a Lei no que se refere a débitos
da Fazenda Pública devidos em ação judicial.

Resumindo os fatos, a recorrente teve seu beneficio previdenciário revisto


administrativamente pelo INSS, de acordo com o artigo 29, inciso II, da Lei 8213/91,
sem o pagamento dos valores em atraso, sendo que o INSS impôs de forma unilateral
uma data de pagamento, longa e injusta, da qual a parte autora não concorda.

Por isso, pretende reaver os valores devidos e não pagos na presente ação de
forma imediata.

Assim sendo, requer-se a reforma da sentença.

DOS PEDIDOS

ISTO POSTO, requer-se o provimento total do presente recurso, reformando-se


a sentença nos termos requeridos.

Prequestiona-se para fins de interposição de Recursos as Cortes


Superiores todos os dispositivos de Lei e Constituição levantados.

São Paulo/SP, terça-feira, 28 de março de 2023

EVANDRO JOSÉ LAGO

OAB/SP 214.055

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