Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
19.ª AULA
O controlo da legalidade dos atos tributários ou em matéria tributária pode ser feito
através da via administrativa ou graciosa ou da via judicial ou contenciosa.
O fim último do contribuinte que recorre aos meios administrativos que nos propomos
a analisar, é a obtenção de uma decisão de anulação do ato tributário que ele considera ilegal.
Ora, de acordo com o regime de anulação dos atos administrativos em geral, e nos termos do
disposto no art. 100.º da LGT, a anulação do ato impõe a reconstituição da situação hipotética
que existiria, acaso o ato não tivesse sido praticado.
1
Neste sentido, vejamos quais são os efeitos de uma decisão favorável ao sujeito passivo,
constante da citada norma: “A administração tributária está obrigada, em caso de procedência
total ou parcial de reclamação, impugnação judicial ou recurso a favor do sujeito passivo, à
imediata e plena reconstituição da legalidade do ato ou situação objeto do litígio,
compreendendo o pagamento de juros indemnizatórios, se for caso disso, a partir do termo do
prazo da execução da decisão”.
Refira-se que a sindicabilidade do ato não tem, em regra, efeitos suspensivo da sua
execução, o que é o mesmo que dizer que, tratando-se, por exemplo de um ato tributário de
liquidação, a discussão, perante a AT, da sua legalidade, não impede a mesma de proceder à
cobrança coercitiva da dívida, ainda virtual.1
Não sendo possível analisar todos os meios, iremos estudar os mais importantes, a saber:
RECLAMAÇÃO GRACIOSA
PEDIDO DE REVISÃO
RECURSO HIERÁRQUICO
1
Vide arts. 69.º, f, 169.º e 170.º do CPPT e art. 52.º da LGT.
2
Vide art. 183.º do CPPT.
2
RECLAMAÇÃO GRACIOSA
CPPT, art. 70.ª: “1 - A reclamação graciosa pode ser deduzida com os mesmos
fundamentos previstos para a impugnação judicial e será apresentada no prazo
de 120 dias contados a partir dos factos previstos no n.º 1 do artigo 102.º. 2 -
Revogado. 3 - Revogado. 4 - Em caso de documento ou sentença superveniente,
bem como de qualquer outro facto que não tivesse sido possível invocar no prazo
previsto no n.º 1, este conta-se a partir da data em que se tornou possível ao
reclamante obter o documento ou conhecer o facto. 5 - Se os fundamentos da
reclamação graciosa constarem de documento público ou sentença, o prazo
referido no número anterior suspende-se entre a solicitação e a emissão do
3
Jónatas E. M. MACHADO e Paulo Nogueira da COSTA, Manual de Direito Fiscal, 2.ª ed., Coimbra: Editora
Almedina, 2018. p. 533.
3
documento e a instauração e a decisão da acção judicial. 6 - A RECLAMAÇÃO
GRACIOSA É APRESENTADA POR ESCRITO NO SERVIÇO
PERIFÉRICO LOCAL DA ÁREA DO DOMICÍLIO OU SEDE DO
CONTRIBUINTE, DA SITUAÇÃO DOS BENS OU DA LIQUIDAÇÃO,
PODENDO SÊ-LO ORALMENTE MEDIANTE REDUÇÃO A TERMO
EM CASO DE MANIFESTA SIMPLICIDADE. 7 - A reclamação graciosa
pode igualmente ser enviada por transmissão electrónica de dados, nos termos
definidos em portaria do Ministro das Finanças.”
Mas isso quer dizer que não devem ser respeitadas as formalidades corriqueiras?
4
QUE SE BASEIA O PEDIDO E, QUANDO TAL SEJA POSSÍVEL AO
REQUERENTE, OS RESPETIVOS FUNDAMENTOS DE DIREITO; D)
A INDICAÇÃO DO PEDIDO, EM TERMOS CLAROS E PRECISOS; E)
A DATA E A ASSINATURA DO REQUERENTE, OU DE OUTREM A
SEU ROGO, SE O MESMO NÃO SOUBER OU NÃO PUDER
ASSINAR; f) A indicação do domicílio escolhido para nele ser notificado; g) A
indicação do número de telefax ou telefone ou a identificação da sua caixa postal
eletrónica, para os efeitos previstos no n.º 1 do artigo 63.º 2 - Podem ser
formulados num único requerimento vários pedidos, desde que entre eles exista
conexão. 3 - Salvo disposição em contrário, podem ser formuladas num único
requerimento as pretensões correspondentes a uma pluralidade de pessoas que
tenham conteúdo e fundamento idênticos ou substancialmente similares.”
5
CPPT, art. 50: “No procedimento, o ÓRGÃO INSTRUTOR UTILIZARÁ
TODOS OS MEIOS DE PROVA LEGALMENTE PREVISTOS QUE
SEJAM NECESSÁRIOS AO CORRECTO APURAMENTO DOS
FACTOS, PODENDO DESIGNADAMENTE JUNTAR ACTAS E
DOCUMENTOS, TOMAR DECLARAÇÕES DE QUALQUER
NATUREZA DO CONTRIBUINTE OU OUTRAS PESSOAS E
PROMOVER A REALIZAÇÃO DE PERÍCIAS OU INSPECÇÕES
OCULARES.”
6
LGT, art. 92.º: “(…) 8 - No caso de o parecer do perito independente ser
conforme ao do perito do contribuinte e a administração tributária resolver em
sentido diferente, a RECLAMAÇÃO GRACIOSA OU IMPUGNAÇÃO
JUDICIAL TÊM EFEITO SUSPENSIVO, independentemente da prestação
de garantia quanto à parte da liquidação controvertida em que aqueles peritos
estiveram de acordo”.
CPPT, art. 199.º: “1 - Caso não se encontre já constituída garantia, com o pedido
deverá o executado oferecer garantia idónea, a qual consistirá em GARANTIA
BANCÁRIA, CAUÇÃO, SEGURO-CAUÇÃO OU QUALQUER MEIO
SUSCEPTÍVEL DE ASSEGURAR OS CRÉDITOS DO EXEQUENTE. 2 -
A garantia idónea referida no número anterior poderá consistir, ainda, a
requerimento do executado e mediante concordância da administração tributária,
em PENHOR OU HIPOTECA VOLUNTÁRIA, aplicando-se o disposto no
artigo 195.º, com as necessárias adaptações. 3 - Se o executado considerar
existirem os pressupostos da isenção da prestação de garantia, deverá invocá-los
e prová-los na petição. 4 - Vale como garantia, para os efeitos do n.º 1, a penhora
já feita sobre os bens necessários para assegurar o pagamento da dívida
exequenda e acrescido ou a efectuar em bens nomeados para o efeito pelo
executado no prazo referido no n.º 7. 5 - No caso de a garantia apresentada se
tornar insuficiente, a mesma deve ser reforçada nos termos das normas previstas
neste artigo. 6 - A garantia é prestada pelo valor da dívida exequenda, juros de
mora contados até ao termo do prazo de pagamento voluntário ou à data do
7
pedido, quando posterior, com o limite de cinco anos, e custas na totalidade,
acrescida de 25 /prct. da soma daqueles valores, exceto no caso dos planos
prestacionais onde a garantia é prestada pelo valor da dívida exequenda, juros de
mora contados até ao termo do prazo do plano de pagamento concedido e custas
na totalidade, sem prejuízo do disposto no n.º 13 do artigo 169.º. 7 - As garantias
referidas no n.º 1 serão constituídas para cobrir todo o período de tempo que foi
concedido para efectuar o pagamento, acrescido de três meses, e serão
apresentadas no prazo de 15 dias a contar da notificação que autorizar as
prestações, salvo no caso de garantia que pela sua natureza justifique a ampliação
do prazo até 30 dias, prorrogáveis por mais 30, em caso de circunstâncias
excepcionais. 8 - A falta de prestação de garantia idónea dentro do prazo referido
no número anterior, ou a inexistência de autorização para dispensa da mesma,
no mesmo prazo, origina a prossecução dos termos normais do processo de
execução, nomeadamente para penhora dos bens ou direitos considerados
suficientes, nos termos e para os efeitos do n.º 4. 9 - É competente para apreciar
as garantias a prestar nos termos do presente artigo a entidade competente para
autorizar o pagamento em prestações. 10 - Em caso de diminuição significativa
do valor dos bens que constituem a garantia, o órgão da execução fiscal ordena
ao executado que a reforce ou preste nova garantia idónea no prazo de 15 dias,
com a cominação prevista no n.º 8 deste artigo. 11 - A garantia poderá ser
reduzida, oficiosamente ou a requerimento dos contribuintes, à medida que os
pagamentos forem efectuados e se tornar manifesta a desproporção entre o
montante daquela e a dívida restante. 12 - As garantias bancárias, caução e
seguros-caução previstas neste artigo são constituídas a favor da administração
tributária por via electrónica, nos termos a definir por portaria do Ministro das
Finanças. 13 - Os pagamentos em prestações ao abrigo de plano de recuperação
no âmbito de processo de insolvência ou de processo especial de revitalização
ou em acordo sujeito ao regime extrajudicial de recuperação de empresas em
execução ou em negociação que decorra do plano ou do acordo não dependem
da prestação de quaisquer garantias adicionais. 14 - As garantias constituídas à
data de autorização dos pagamentos em prestações referidos no número anterior
mantêm-se até ao limite máximo da quantia exequenda, sendo reduzidas
anualmente no dobro do montante efetivamente pago em prestações ao abrigo
daqueles planos de pagamentos, desde que não se verifique, consoante os casos,
8
a existência de novas dívidas fiscais em cobrança coerciva cuja execução não
esteja legalmente suspensa ou cujos prazos de reclamação ou impugnação
estejam a decorrer. 15 - Os n.os 13 e 14 são correspondentemente aplicáveis,
com as necessárias adaptações, aos planos de pagamentos em prestações
aprovados ao abrigo do n.º 7 do artigo 196.º”.
9
sede do contribuinte, da situação dos bens ou da liquidação ou, não havendo órgão
periférico regional, o dirigente máximo do serviço”. (art. 75.º, n.º 1 do CPPT).
10
Prazo e fundamentação » a reclamação graciosa pode ser deduzida com os
fundamentos previstos para a impugnação judicial e será apresentada no prazo de 120
dias contados a partir dos fatos previstos no art. 102.º, n.º 1 do CPPT, nos termos do art.
70.º, n.º 1 do CPPT.
CPPT, art. 70.º: “1 - A reclamação graciosa pode ser deduzida com os mesmos
fundamentos previstos para a impugnação judicial e será apresentada no prazo
de 120 dias contados a partir dos factos previstos no n.º 1 do artigo 102.º”.
11
CPPT, Art. 68.º: “(…) 2 - NÃO PODE SER DEDUZIDA RECLAMAÇÃO
GRACIOSA QUANDO TIVER SIDO APRESENTADA IMPUGNAÇÃO
JUDICIAL COM O MESMO FUNDAMENTO”.
Neste caso, sim. Pode ser apresentada reclamação graciosa com fundamento
diferente do alegado na petição de impugnação, devendo, nesta hipótese, a
mesma ser apensa à impugnação judicial, sendo igualmente considerada, para
todos os efeitos, no âmbito do processo de impugnação (art. 111.º, n.º 4, do
CPPT).
CPPT, art. 111.º: “(…) 3 - Caso haja sido apresentada, anteriormente à recepção
da petição de impugnação, reclamação graciosa relativamente ao mesmo acto,
esta deve ser apensa à impugnação judicial, no estado em que se encontrar, sendo
considerada, para todos os efeitos, no âmbito do processo de impugnação. 4 -
Caso, posteriormente à recepção da petição de impugnação, seja apresentada
reclamação graciosa relativamente AO MESMO ACTO E COM DIVERSO
FUNDAMENTO, DEVE ESTA SER APENSA À IMPUGNAÇÃO
JUDICIAL, SENDO IGUALMENTE CONSIDERADA, PARA TODOS
OS EFEITOS, NO ÂMBITO DO PROCESSO DE IMPUGNAÇÃO. 5 - O
disposto nos n. os 3 e 4 é igualmente aplicável, com as necessárias adaptações,
no caso de recurso hierárquico interposto da decisão da reclamação graciosa ao
abrigo do artigo 76º.”
1. Deduzir uma reclamação graciosa no prazo de 120 dias (art. 70.º, n.º 1 do
CPPT)
12
2. Impugnar judicialmente no prazo de 3 meses (art. 102.º, n.º 1 do CPPT)
Não pode ser deduzida reclamação graciosa quando tiver sido apresentada
impugnação judicial com o mesmo fundamento (art. 68.º, n.º 2, do CPPT).
Impugnação fora do prazo » não pode ser deduzida impugnação judicial depois de
terminado o prazo do art. 102 do CPPT sem que antes tenha havido decisão expressa ou
se tenha formado o ato tácito de indeferimento.
13
Decisão final desfavorável » a decisão final desfavorável pode ser objeto de
impugnação judicial no prazo de 3 meses (art. 102.º, n.º 1 do CPPT).
Indeferimento » pode ser ainda interposto recurso hierárquico (30 dias – art. 66.º, n.º 2
do CPPT), e desde, posteriormente, ação administrativa especial (impugnação judicial)
(arts. 76.º, n.º 2 e art. 97.º, n.º 1, d, do CPPT).
14
Exemplo: Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, proc.
0499/09, endereço eletrónico: http://www.dgsi.pt
/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/1899ad848d6950
1680257655004747f0?OpenDocument&ExpandSection=1
15
VIOLA QUALQUER NORMA DA LGT,
NOMEADAMENTE OS SEUS ARTºS. 9º, NºS. 1 E 2 E 95º,
N.º 1.
16
PODERÁ IMPUGNAR, NO PRAZO DE 30 DIAS, O ACTO NOS
MESMOS TERMOS QUE DO ACTO DE LIQUIDAÇÃO. 4 -
DECORRIDOS 90 DIAS APÓS A SUA APRESENTAÇÃO SEM
QUE TENHA SIDO INDEFERIDA, CONSIDERA-SE A
RECLAMAÇÃO TACITAMENTE DEFERIDA”.
Não será assim, se a reclamação tiver por fundamento exclusivamente matéria de direito
e a autoliquidação tiver sido efetuada de acordo com orientações genéricas emitidas pela
Administração Tributária, caso em que o prazo será o constante do n.º 1 do artigo 102.º do
CPPT, ou seja, três meses contados a partir do termo do prazo para pagamento voluntário das
prestações tributárias6.
Quanto ao prazo de dois anos a contar da apresentação da declaração, nos termos do n.º
1 artigo 131.º do CPPT, este prazo não será ampliado por efeito da apresentação de declaração
de substituição7.
4
Art. 54.º, n.º 2 da LGT.
5
Art. 131.º, n.º 1 do CPPT.
6
Art. 131.º, n.º 3 do CPPT.
7
Art. 59.º, n.º 6 da LGT.
17
competente no prazo de 2 anos a contar do termo do prazo nele referido, conforme determinado
pelo n.º 3 do artigo 132.º do CPPT.
O n.º 2 do artigo 97.º do CIVA estipula que a reclamação graciosa não será admitida
nos seguintes casos:
8
Art. 70.º, n.º 1 do CPPT e Art. 97.º, n.º 5 do CIVA.
9
Art. 78.º. n.º 3 do CIVA.
10
Art. 78.º. n.º 6 do CIVA.
18
» Enquanto não for entregue a declaração periódica a que respeita a liquidação
oficiosa.
Prazos para a reclamação graciosa no Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas
(IRC)
11
Art. 140.º, n.º 4 do CIRS.
12
Art. 137.º, n.º 1 do CIRC.
19
Prazos para a reclamação graciosa no Imposto Municipal sobre as Transmissões
Onerosas de Imóveis (IMT)
Nestes casos, o prazo de reclamação de uma liquidação de IMT pode chegar a 3 anos
(1+2 = 3 anos)13.
No caso em que haja tradição dos bens para o reclamante ou este deles tiver usufruído,
o imposto será anulado em importância proporcional ao resultado da sua oitava parte pelo
número de anos integrais que faltarem para oito, desde a data em que o mesmo abandonou o
seu domínio14.
13
Art. 44.º, n.º 1 do CIMT.
14
Art. 44.º, n.º 2 do CIMT.
20
Prazos para a reclamação graciosa no Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI)
15
Art. 130.º, n.º 3 do CIMI.
21
» Lapso na atualização dos valores patrimoniais tributários.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
Jónatas E. M. MACHADO e Paulo Nogueira da COSTA, Manual de Direito Fiscal, 2.ª ed.,
Coimbra: Editora Almedina, 2018. p. 533-536.
Jónatas E. M. MACHADO e Paulo Nogueira da COSTA, Curso de Direito Tributário, 2.ª ed.,
Coimbra: Coimbra Editora, 2012. p. 478-483.
António Manuel Cunha Araújo, A Reclamação Graciosa no Direito Fiscal. Endereço eletrónico:
https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/10501/1/Ant%C3%B3nio%20Manuel%20Cun
ha%20Ara%C3%BAjo.pdf
22