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OUSE

PRA
GERAL
DIREITO PROCESSUAL CIVIL - PARTE 1

M ate r i a l d i sp o n i b i l i z a d o n o cu rs o :
PROVA OBJETIVA PGM-BH
SUMÁRIO
I – RECURSOS E SUCEDÂNEOS RECURSAIS...................................................................................... 3
II – ORDEM DOS PROCESSOS E RECURSOS NOS TRIBUNAIS........................................................ 25

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I – RECURSOS E SUCEDÂNEOS RECURSAIS
Dentro do gênero “meios de impugnação das decisões judiciais”, existem duas
espécies de instrumentos processuais: os recursos e os sucedâneos recursais.

O conceito de recurso deve ser construído partindo-se de cinco características


essenciais a esse meio de impugnação: a) voluntariedade; b) expressa previsão em lei federal; c)
desenvolvimento no próprio processo no qual a decisão impugnada foi proferida; d) manejável
pelas partes, terceiros prejudicados e Ministério Público; e e) com o objetivo de reformar, anular,
integrar ou esclarecer decisão judicial.

Importante recordar que a identidade de processo não significa necessariamente a


identidade de autos, considerando-se que o recurso pode se desenvolver em autos próprios, por
exemplo, o agravo de instrumento, mas continuará a fazer parte do mesmo processo (mesma
relação jurídica processual) no qual a decisão impugnada foi proferida.

A doutrina vem adotando o conceito residual aos sucedâneos recursais, de modo


que se tem entendido como sucedâneo recursal todos os meios de impugnação da decisão que
não sejam recursos.

I.1 – Reexame necessário:

Tradicionalmente, o reexame necessário é definido como uma condição de eficácia


objetiva da sentença, de modo que a sentença proferida contra a União, o Estado, o Distrito
Federal, o Município e suas respectivas autarquias e fundações de direito público, bem como a
que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal, somente produzirá
efeitos após a sua confirmação pelo Tribunal (art. 496, CPC/15).

Atenção 1: O reexame necessário tem o condão de devolver para o Tribunal a análise


de todas as questões nas quais a Fazenda Pública sucumbiu, inclusive honorários
advocatícios. Nesse sentido, temos a Súmula nº 325 do STJ: “ A remessa oficial devolve
ao Tribunal o reexame de todas as parcelas da condenação suportadas pela Fazenda
Pública, inclusive dos honorários de advogado”.

Atenção 2: Havendo acolhimento de exceção de pré-executividade em vez de


embargos do devedor, por analogia, aplica-se o reexame necessário em favor do ente
público. Nesse sentido, já entendeu o STJ:

“(...) 1. Controverte-se a respeito do cabimento do Reexame Necessário


(art. 475 do CPC) na hipótese de extinção da Execução Fiscal decorrente
do acolhimento da Exceção de Pré-Executividade, com trânsito em
julgado certificado nos autos. 2. O Código de Processo Civil nada dispôs

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sobre o instituto do Reexame Necessário na hipótese do decisum que
acolhe a Exceção de Pré-Executividade, porque se trata de criação
jurisprudencial. Em outras palavras, a lei não disciplina o referido
instituto. 3. O reexame necessário, nos Embargos à Execução Fiscal, cabe
na hipótese de sentença proferida contra o ente público, decorrente
do julgamento de procedência do pedido neles deduzido, que pode se
referir à questão processual (nulidade do título executivo, ilegitimidade
ativa ou passiva, falta de interesse em razão de parcelamento concedido
de forma prévia e com as prestações em dia) ou de fundo (prescrição,
compensação já realizada e informada em DCTF, pagamento, inexistência
de responsabilidade tributária, etc.). 4. Em qualquer dessas hipóteses -
questões de direito processual ou material -, o acolhimento do pedido
enseja reexame necessário, razão pela qual o intérprete deve ter cautela
máxima ao analisar o que se deve entender por julgamento de mérito.
5. Se a extinção da Execução Fiscal decorre do acolhimento de Exceção
de Pré-Executividade, o Reexame Necessário só deve ser dispensado
na hipótese em que a Fazenda Pública, intimada para se manifestar
sobre a referida objeção processual, expressamente concordou com a
procedência do seu conteúdo. 6. A lógica que justifica esse entendimento
encontra amparo na constatação da necessidade de conferir o mesmo
tratamento que seria dispensado caso a matéria tivesse sido suscitada
nos Embargos à Execução Fiscal.(...)” (STJ - Segunda Turma, REsp
1415603/CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/05/2014).

Segundo o §3º do art. 496, não haverá duplo grau de jurisdição quando a condenação
ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a mil salários
mínimos para a União, e as respectivas autarquias e fundações de direito público; quinhentos
salários mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de
direito público, e o Municípios que constituam capitais dos Estados; cem salários mínimos para
todos os demais Municípios e respectivas autarquias e fundações de direito público.

Sendo a condenação ilíquida, o STJ entende cabível o reexame necessário, porque é


melhor correr o risco de um reexame desnecessário do que afastá-lo quando era cabível. Assim
aduz a Súmula nº 490/STJ: “A dispensa de reexame necessário, quando o valor da condenação
ou do direito controvertido for inferior a sessenta salários mínimos, não se aplica a sentenças
ilíquidas”.

O §4º do art. 496 dispensa o reexame necessário em razão de sentença fundamentada


em jurisprudência consolidada dos tribunais superiores. Assim, não haverá reexame necessário
se a sentença estiver fundada em:

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I – súmula de tribunal superior;
II – acórdão proferido pelo STF ou STJ em julgamento de recursos repetitivos;
III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou
de assunção de competência;
IV – entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou
súmula administrativa.

Obs.: Essa última hipótese é de importante memorização, haja vista a sua possível
grande incidência nas provas objetivas.

Atenção 1: Também não será possível o reexame necessário nos Juizados Especiais,
em razão do previsto no art. 13 da Lei 10.259/2001 (Lei dos Juizados Federais) e no art.
11 da Lei 12.153/2009 (Lei dos Juizados da Fazenda Pública). Ambos os dispositivos
são enfáticos em afastar o reexame necessário no âmbito do juizado, justamente em
razão desse instituto não ser compatível com os princípios que regem os juizados.

Atenção 2: Se o ente público ingressou na ação na condição de assistente simples,


NÃO HAVERÁ SUJEIÇÃO DA SENTENÇA AO REEXAME NECESSÁRIO, uma vez que o
assistente simples não é parte. O assistente simples não adquire a condição de parte,
figurando como mero auxiliar de uma delas. Sobre o tema, Leonardo Carneiro da
Cunha: “O certo é que o assistente não adquire a condição de parte, nem se sujeita à
coisa julgada material. Ora, já se viu que o reexame necessário constitui condição de
eficácia da sentença, de forma que não se produz coisa julgada enquanto a sentença
não for revista pelo tribunal. No caso de a Fazenda Pública ser assistente simples,
não haverá sentença contra ela proferida, não sendo hipótese, portanto, de reexame
necessário.” (Leonardo Carneiro da Cunha, 2007, p. 188).

Atenção 3: Não sendo interposto recurso da sentença desfavorável à Fazenda


Pública, o juiz é obrigado a ordenar a remessa dos autos ao Tribunal e, não o fazendo,
proporcionará a avocação dos autos por seu presidente, conforme o §1º do art. 496
(Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz
ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo
tribunal avocá-los-á). Não sendo o reexame necessário enviado ao tribunal para
julgamento, não haverá formação de coisa julgada material, impossibilitando a
interposição de ação rescisória.

Atenção 4: embora não seja caracterizado como recurso, ao reexame necessário


é aplicável o princípio do reformatio in pejus, uma vez que a Fazenda Pública não
poderá ter sua situação no processo piorado em decorrência do julgamento do
reexame necessário, sendo que, na pior das hipóteses, sua situação permanecerá
a mesa. Esse é o teor da Súmula nº 45 do STJ: “No reexame necessário é defeso, ao

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Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública.”

Atenção 5: É possível aplicar ao reexame necessário o teor do art. 932, IV e V


(equivalente ao art. 557 do CPC/73), que permite o julgamento monocrático pelo
relator, seja para desprover ou provê-lo. Nesse sentido, é a Súmula nº 253 do STJ:
“O art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o reexame
necessário”.

I.2 – Classificação dos recursos:

São quatro as classificações mais importantes do recurso:

(i) Quanto ao objeto imediato do recurso: os recursos se dividem em recursos


ordinários e extraordinários:

(i.1) Recurso ordinário: tem por escopo a defesa do direito subjetivo da parte,
protegendo o seu interesse particular. É evidente que se obterá a preservação do direito
objetivo por meio da melhor aplicação da lei, mas essa é uma mera consequência do
provimento do recurso, cuja existência se justifica na proteção do direito subjetivo
da parte. Essa categoria comporta a maioria dos recursos, excetuados o Recurso
Especial, Recurso Extraordinário e Embargos de Divergência.

(i.2) Recurso extraordinário: tem como objetivo a proteção e a preservação da boa


aplicação do direito e uniformização da jurisprudência dos Tribunais Superiores.
Essa categoria de recurso tem o objetivo a proteção do direito objetivo, e não do
direito subjetivo da parte recorrente. São três os recursos extraordinários: Recurso
Especial (STJ), Recurso Extraordinário (STF) e Embargos de Divergência (STJ e STF).

(ii) Quanto à fundamentação recursal: os recursos se dividem em recursos de


fundamentação vinculada e recursos de fundamentação livre:

(ii.1) Recurso de fundamentação vinculada: nessa categoria de recursos, o recorrente


não poderá alegar qualquer matéria/vício que desejar, pois sua fundamentação está
vinculada aos vícios expressamente previstos em lei. Ou seja, há um rol taxativo de
matérias alegáveis e o desrespeito a essa regra acarretará a inadmissibilidade do
recurso. São três recursos nessa categoria: Recurso Especial, Recurso Extraordinário
e Embargos de declaração.

(ii.2) Recurso de fundamentação livre: nessa categoria recursal, não há vinculação a


qualquer tipo de matéria, de modo que qualquer vício poderá ser arguido para fins
de justificar a reforma, anulação e/ou integração da decisão recorrida. São todos os
demais recursos.

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(iii) Quanto à abrangência da matéria impugnada:

(iii.1) Recurso total: tem por objeto a integralidade da parcela da decisão que tenha
gerado sucumbência à parte recorrente.

(iii.2) Recurso parcial: são aqueles nos quais somente uma parcela da decisão que
gerou a sucumbência da parte recorrente é objeto do recurso.

Atenção: Utilizando-se a ideia de capítulos da sentença, que pode ser aplicada em


qualquer espécie de decisão, o recurso total é aquele que impugna a totalidade dos
capítulos da decisão que geraram sucumbência à parte, enquanto o recurso parcial é
aquele no qual somente um, ou alguns dos capítulos que geraram sucumbência são
objeto do recurso.

(iv) Quanto à dependência ou subordinação:

(iv.1) Recurso independente: é aquele que somente depende do preenchimento


dos seus pressupostos de admissibilidade para ser conhecido, não dependendo do
conhecimento de qualquer outro recurso.

(iv.2) Recurso dependente: é aquele que tem seu conhecimento condicionado ao


juízo de admissibilidade positivo do recurso principal, havendo essa relação de
dependência/subordinação. O recurso adesivo consiste em um recurso dependente,
porém, ele não é espécie recursal, mas sim uma forma de interposição de recurso.
Os pressupostos processuais genéricos e específicos são os mesmos no recurso
principal e no recurso adesivo. Somente os recursos de apelação, recurso especial
e recurso extraordinário poderão ser oferecidos pela forma adesiva (art. 997, §2º,
II, do CPC/2015). Assim, os recursos aludidos apenas poderão ser interpostos sob
a forma adesiva se a decisão impugnada implicar em sucumbência para ambas as
partes.

Atenção 1: Em suma, para que ocorra a possibilidade de interposição de recurso


adesivo, é indispensável a ocorrência de dois requisitos: (a) sucumbência recíproca,
de modo que ambas as partes tenham interesse recursal; e (b) interposição de recurso
na forma principal por somente uma das partes (parte contrária), porque o recurso
adesivo é destinado para aquele que não pretendia recorrer, o que demonstra por
meio da não interposição de recurso principal.

Atenção 2: Em regra, se a parte que interpôs o recurso principal pede a sua


desistência ou tenha o juízo de admissibilidade negado, o recurso adesivo seguirá a
mesma sorte, e não será mais conhecido (art. 997, §2º, III, do CPC/2015). No entanto,
segundo decidiu o STJ, se já foi concedida antecipação dos efeitos da tutela no

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recurso adesivo, não se admite a desistência do recurso principal de apelação. Isso
porque a apresentação da petição de desistência logo após a concessão dos efeitos
da tutela recursal teve a nítida intenção de esvaziar o cumprimento da determinação
judicial, no momento em que o réu anteviu que o julgamento final da apelação lhe
seria desfavorável, sendo a pretensão, portanto, incompatível com o princípio da
boa-fé processual. Esse foi o entendimento do STJ no REsp 1.285.405-SP, da relatoria
do Ministro Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/12/2014, tendo esse julgado sido
divulgado no informativo 554.

I.3 – Princípios recursais:

(i) Principio do Duplo grau de jurisdição: preconiza a possibilidade de revisão da


solução da causa, ou seja, permite que a parte possa ter uma segunda opinião
concernente à decisão da causa. Para parcela da doutrina, o princípio do duplo grau
de jurisdição é previsto constitucionalmente de forma implícita, na medida em que
a há previsão constitucional que estabelece que os Tribunais tenham competência
originária e em grau de recurso. Essa corrente aponta que o princípio do duplo grau
de jurisdição não é absoluto, admitindo a sua não aplicação no caso concreto sempre
que se busque preservar outros princípios constitucionais de igual magnitude. Essas
exceções estão contidas na própria Constituição ao prever ações de competência
originárias dos Tribunais, nas quais as decisões finais serão impugnadas por, no
máximo, REs e REsps, que não são garantias do princípio em comento.

Obs.: Os recursos excepcionais (RE e REsp) limitam-se a devolver a matéria de direito


para os respectivos Tribunais Superiores, pois esses recursos têm o condão de velar
pelo direito objetivo e não pelo direito subjetivo da parte recorrente. Por isso, afasta-
se o princípio do duplo grau de jurisdição deles.

(ii) Princípio da Taxatividade (legalidade): Segundo esse princípio, somente poderá


ser considerado recurso o instrumento de impugnação que tiver expressamente
previsto em lei federal como tal. Isso porque o art. 22, I, da Constituição atribuiu à
União a competência exclusiva para legislar sobre processo, razão pela qual todos
as espécies recursais devem ser necessariamente previstas em lei federal. Pontue-
se que, embora o rol do art. 994 do CPC elenque um rol de recursos, existem leis
extravagantes que também criam recursos, por exemplo, o art. 34 da Lei de Execução
fiscal criou os embargos infringente contra sentença, ao passo que o art. 41 da Lei
dos Juizados Especiais Civeis e Criminais criou o recurso inominado.

(iii) Princípio da singularidade (unirrecorribilidade ou unicidade): preleciona


que é admissível tão somente a interposição de uma espécie recursal como meio
de impugnação de cada decisão judicial. Admite-se a existência concomitante de
mais de um recurso contra a mesma decisão desde que tenham a mesma natureza

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jurídica, fenômeno, inclusive, bastante frequente quando há no caso concreto
sucumbência recíproca ou litisconsórcio. Há exceções ao princípio em comento, a
saber: a) Interposição simultânea de Recurso Especial e Recurso Extraordinário contra
o mesmo acórdão; b) havendo mandado de segurança de competência originária
do Tribunal de segundo grau (TJ ou TRF) parcialmente acolhido, desse capítulo da
decisão caberá Recurso Especial e/ou Recurso Extraordinário, enquanto do capítulo
denegatório caberá Recurso Ordinário Constitucional.

(iv) Princípio da voluntariedade: aduz que a existência de recurso está condicionada


exclusivamente à vontade da parte, que demonstra a vontade de recorrer com
o ato de interposição do recurso. Dessa forma, de nada adiantará à parte noticiar
que pretende recorrer se dentro do prazo legal deixar de interpor o recurso cabível.
Em decorrência desse princípio, não se admite que o juiz, em qualquer hipótese,
interponha recurso de ofício, privilegiando-se o princípio dispositivo.

(v) Princípio da dialeticidade: exige do recorrente a exposição da fundamentação


recursal e do pedido (que poderá ser de anulação, reforma, esclarecimento ou
integração). Essa necessidade de justifica-se na medida em que é imprescindível a
fundamentação recursal para o recorrido oferecer contrarrazões, assim como para
estabelecer os limites de atuação do Tribunal no julgamento do recurso.

Atenção: Com efeito, o STJ (1º Seção, AgRg na Rcl 23.177/SC, Rel. Min. Assusete
Magalhães, j. 25/03/2015) entende que a fundamentação recursal deve impugnar
especificamente os fundamentos da decisão recorrida, sob pena de inadmissão do
recurso. Contudo, não obstante a referida exigência, também é entendimento do STJ
a possibilidade da parte recorrente reproduzir os fundamentos da petição inicial ou
da contestação nas razões de apelação, desde que da fundamentação recursal seja
possível se extrair a irresignação com a decisão prolatada, não havendo que se falar
em violação ao princípio da dialeticidade, considerando-se o recurso fundamentado.
Senão vejamos a seguinte ementa:

“PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. ART. 514, II, DO CPC. FUNDAMENTAÇÃO


RECURSAL. REPRODUÇÃO DOS ARGUMENTOS CONTIDOS NA
CONTESTAÇÃO. POSSIBILIDADE. 1. A reprodução na Apelação das
razões já deduzidas na contestação não enseja, por si só, a negativa de
conhecimento do recurso. Precedentes. 2. Recurso Especial provido”
(STJ - 2º Turma, REsp 1606646 / PB, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 13/09/2016, DJe 07/10/2016).

(vi) Princípio da fungibilidade: preleciona a possibilidade de receber um recurso


pelo outro, quando não se entende o primeiro como cabível para o caso concreto.
Trata-se notoriamente de flexibilização do pressuposto de admissibilidade recursal

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do cabimento, considerando-se que, em regra, recurso que não é cabível não é
conhecido. A fungibilidade se funda no princípio da instrumentalidade das formas,
amparando-se na ideia de que o desvio da forma legal sem a geração do prejuízo não
deve gerar a nulidade do ato processual.

Atenção: Enunciado 104 do FPPC: “O princípio da fungibilidade é compatível com o


CPC e alcança todos os recursos, sendo aplicável de ofício”.

Há previsão expressa no CPC/2015 da aplicabilidade do princípio em comento:

a) Art. 1.024, §3º - Cuida da aplicação do princípio da fungibilidade recursal, na


medida em que permite o recebimento de embargos de declaração contra decisão
monocrática em tribunal como agravo interno, exigindo do juízo a intimação prévia
do recorrente para que, no prazo de cinco dias, complemente as razões recursais, de
modo a ajustá-las às exigências do art. 1.012, §1º;

b) Art. 1.033 - Afirma que, se o STF considerar como reflexa a ofensa à Constituição
afirmada no Recurso Extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação da lei
federal ou tratado, remetê-lo-á ao STJ para julgamento como Recurso Especial;

c) Art. 1.032 - Aduz que, se o relator, no STJ, entender que o recurso especial versa
sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para o
recorrente demonstrar a existência de repercussão geral e se manifestar sobre a
questão constitucional. Cumprida a diligência, remeterá o recurso ao STF, que, em
juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao STJ (art. 1.032, parágrafo único).

Atenção: Ainda que sejam inegáveis os benefícios advindos com a adoção da


fungibilidade recursal, sua aplicação é exceção, e depende da demonstração dos
seguintes requisitos de forma cumulativa:

(i) Dúvida fundada a respeito do recurso cabível: A primeira condição para a aplicação
do princípio da fungibilidade no caso concreto é a existência de uma dúvida objetiva
a respeito de qual o recurso cabível. Se a dúvida decorrer única e exclusivamente de
interpretação feita pelo próprio recorrente, tratando-se assim de dúvida de caráter
subjetivo, será inaplicável o princípio da fungibilidade recursal.

(ii) Inexistência de erro grosseiro: Não serve o princípio da fungibilidade para tutelar
o erro crasso, gerado pela extrema imperícia do advogado do recorrente, mas para
evitar injustiças diante de erros justificáveis, não se aplicando o princípio quando o
recurso for manifestamente incabível.

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(iii) Inexistência de má-fé - Teoria do prazo menor: O princípio da fungibilidade
não protege o recorrente de má-fé, que se vale de recurso incabível somente para
ter um benefício injustificável no processo. O STJ, sob a égide do CPC/73, vinha
sistematicamente aplicando a teoria do prazo menor para se aferir a existência de
má-fé na interposição do recurso. Segundo essa teoria, considerava-se de má-fé
aquele que, na dúvida entre dois ou mais recursos, escolhesse o que o que tivesse o
maior prazo e nele recorresse, o que demonstraria sua malícia em aproveitar de mais
tempo para a interposição de recurso. Assim só era aplicado o princípio em questão
quando o recorrente, ao escolher o recurso interposto, o fazia no menor prazo
sempre que entre os recursos que gerassem a dúvida existissem prazos diferentes.
Esse requisito tende a ser menos recorrente com a unificação do prazo recursal
em 15 (quinze) dias prevista no art. 1.003, §5º, do CPC/2015. Como o único recurso
com o prazo menor serão os embargos de declaração, que terão cinco dias de prazo,
somente nas situações em que a dúvida objetiva quanto ao recurso cabível envolva
o aludido recurso seria possível a aplicação da Teoria do prazo menor.

(vii) Princípio da proibição da reformatio in pejus: Segundo esse princípio, é vedado


que o resultado do julgamento do recurso interposto pelo recorrente o prejudique,
assim, na pior das hipóteses, a decisão recorrida é mantida, não podendo ser alterada
para piorar sua situação.

Atenção: A reformatio in pejus é excepcionalmente admitida na aplicação do


efeito translativo dos recursos, por meio do qual se admite que o tribunal conheça
originariamente matéria cognoscível de ofício. Nesse caso, vale o princípio inquisitivo,
de forma que a atuação do tribunal não se limitará à matéria porventura devolvida
ao tribunal.

Atenção: O STJ entende não haver violação ao princípio da reformatio in pejus com a
alteração do termo inicial dos juros e da correção monetárias (AgRg no Ag 1.056.885/
SP, 6º Turma, j. 16/12/2014; AgRg no AREsp 468.256/PR, 3º Turma, j. 20/03/2014),
assim como no caso de alteração do termo na adoção de fundamentos diversos dos
adotados pela decisão impugnada (AgRg no RMS 28.147/MS, 6º Turma, j. 19/03/2015)
ou a alteração da natureza da responsabilidade civil (AgRg no AREsp 369.691/RJ, 2º
Turma, j. 18/03/2014).
Atenção – importantíssimo: Apesar do reexame necessário não ter natureza recursal,
aplica-se o princípio da proibição da reformatio in pejus em seu julgamento, não se
admitindo a piora na situação da Fazenda Pública, conforme a Súmula nº 45 do
STJ: “No reexame necessário, é defeso, ao tribunal, agravar a condenação imposta à
Fazenda Pública”.

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(viii) Princípio da complementariedade: preconiza que as razões recursais devem ser
apresentadas no ato de interposição do recurso, não se admitindo que o recurso seja
interposto num momento procedimental e as razões apresentadas posteriormente.
Aplica-se a preclusão consumativa no momento da interposição do recurso, de
forma que, após esse momento, é vedado ao recorrente complementar seu recurso
já interposto com novas razões. Esse princípio está consagrado expressamente no
§3º do art. 1.024 do CPC/2015, permitindo que a parte recorrente complemente
as razões de recurso já interposto sempre que no julgamento dos embargos de
declaração opostos pela parte contrária for criada uma nova sucumbência. Essa
complementação será limitada à nova sucumbência. Bastante atenção a esse
dispositivo, pois, no Código anterior, não havia disposição similar a ele.

(ix) Princípio da consumação/variabilidade: tem como fundamento a preclusão


consumativa, que se verifica no ato de interposição do recurso. Segundo o referido
princípio, é vedada que o recorrente, depois de interposto o recurso, o substitua por
outro recurso, interpostos posteriormente, ainda que dentro do prazo recursal.

(x) Princípio da primazia do julgamento do mérito recursal: O art. 4º do CPC/2015


consagra de forma expressa o princípio da primazia do julgamento do mérito,
fenômeno também verificável no ambiente recursal. O referido dispositivo deixa
claro que o objetivo de se julgar o mérito recursal só deve ser abandonado em
hipóteses excepcionais, nas quais o vício formal não possa ser corrigido ou que influa
de forma decisiva na impossibilidade, jurídica ou material, de julgamento do mérito.
Voltado para esse princípio o parágrafo único o art. 932 do CPC/2015 preleciona que
o relator, antes de considerar inadmissível o recurso, concederá o prazo de cinco
dias ao recorrente para que seja sanado o vício ou complementada a documentação
exigível.

I.4 – Efeitos recursais:

(i) Efeito obstativo: diz respeito à preclusão temporal e sua relação com a
interposição do recurso. O referido efeito impede a geração da preclusão temporal,
com o consequente trânsito em julgado, que somente se verificará após o devido
julgamento do recurso.

(ii) Efeito devolutivo: esse efeito provoca a transferência ao órgão ad quem do


conhecimento de matérias que já tenham sido objeto de decisão no juízo a quo. Todo
recurso gera efeito devolutivo, variando-se somente sua extensão e profundidade.
A dimensão horizontal da devolução é entendida como a extensão da devolução,
estabelecida pela matéria em relação à qual uma nova decisão é pedida, ou seja,
fixação derivando da concreta impugnação à matéria que é devolvida. A dimensão
vertical é entendida como sendo a profundidade da devolução, estabelecendo-se a

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devolução automática ao tribunal, dentro dos limites fixados pela extensão, de todas
as alegações, fundamentos e questões referentes à matéria devolvida. O art. 1.013,
§1º do CPC/15 preconiza que a profundidade da devolução inclui todas as questões
suscitadas e discutidas, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que limitada
ao capítulo da sentença impugnado, ou seja, à extensão da devolução.

Atenção: No tocante aos recursos extraordinário e especial, cumpre mencionar que


o art. 1.034 do CPC/15 prevê que, sendo admitidos os referidos recursos, o tribunal
julgará a causa, aplicando o direito, enquanto o seu parágrafo único preleciona que,
tendo sido admitido o RE ou REsp por um fundamento, devolve-se ao tribunal superior
o conhecimento dos demais fundamentos para a solução do capítulo impugnado. Ou
seja, a exigência de prévio pré-questionamento não limita a devolução na dimensão
vertical. Porém, no que diz respeito à dimensão horizontal, é indispensável o pré-
questionamento, uma vez que os tribunais superiores não poderão apreciar capítulo
da decisão que não fora debatido e impugnado pelo recurso excepcional.

(iii) Efeito suspensivo: diz respeito à impossibilidade de a decisão impugnada gerar


efeitos enquanto não for julgado o recurso interposto. O art. 995 do CPC/15 prevê
que, salvo quando houver disposição legal ou decisão judicial em sentido contrário,
o recurso não impede a geração de efeitos da decisão impugnada, ou seja, em regra,
os recursos não gozam de efeito suspensivo. Ensina a doutrina de Daniel Amorim
Assumpção Neves que:

“...a afirmação de que o recurso tem efeito suspensivo não pode ser
considerada correta, porque na realidade não é o recurso que suspende a
eficácia da decisão, mas sim sua recorribilidade, ou seja, a mera previsão
de um recurso que tenha como regra efeito suspensivo. Havendo a
previsão em lei de recurso a ser ‘recebido com efeito suspensivo’, a
decisão recorrível por tal recurso já surge no mundo jurídico ineficaz, não
sendo a interposição do recurso que gera tal suspensão, mas a previsão
legal de efeito suspensivo. O recurso, nesse caso, uma vez interposto,
prolonga o estado inicial de ineficácia da decisão até seu julgamento.
Essa é a razão pela qual não se admite execução provisória de sentença
no prazo de interposição do recurso de apelação, porque, sendo esse
recurso recebido no efeito suspensivo, dever-se-á aguardar o transcurso
do prazo, sendo certo que a interposição da apelação continuará a
impedir a geração de efeitos da sentença até o seu julgamento, ao passo
que a não interposição produz o trânsito em julgado, com a liberação
de seus efeitos” (Neves, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito
processual civil – volume único. 8º ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2016,
pág. 1470).

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Atenção 1: Nem todo recurso tem efeito suspensivo previsto em lei, mas em todos
eles é possível a sua obtenção no caso concreto, por meio de simples petição do
recorrente ou pedido nas razões do próprio recurso, desde que preenchidos os
seguintes requisitos (art. 995, parágrafo único, do CPC/15): (i) risco de dano grave,
de difícil ou impossível reparação, gerado pela geração imediata de efeitos da
decisão; e (ii) ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso. O efeito
suspensivo previsto em lei, que de nada depende para ser gerado, é chamado de
efeito suspensivo próprio, enquanto o efeito suspensivo obtido no caso concreto, a
depender do preenchimento de determinados requisitos, porque em regra o recurso
não o tem, é chamado de efeito suspensivo impróprio.

Atenção 2: O art. 1.012, §4º, do CPC/15 prevê que os requisitos para a concessão
de efeito suspensivo a apelação que não o tenha por previsão legal. Segundo esse
dispositivo, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante
demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a
fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação. O §3º do aludido
dispositivo prevê que o pedido de efeito suspensivo deve ser formulado por simples
requerimento dirigido ao relator, quando a apelação já tiver sido distribuída (II) ou
dirigida ao tribunal o período compreendido entre a interposição e distribuição do
recurso, hipótese em que será o requerimento livremente distribuído, ficando o
relator que o receber prevento para o exame e julgamento da apelação (I).

Atenção 3: Quanto aos recursos extraordinário e especial, o art. 1.029, §5º do CPC/15,
também prevê que o pedido de efeito suspensivo seja formulado por meio de simples
requerimento, dependendo do estágio procedimental o destinatário de tal peça: I
– ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da
decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para
seu exame prevento para julgá-lo; II – ao relator, se já distribuída o recurso; III – ao
presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido
entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso,
assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037.

(iv) Efeito translativo: consiste na possibilidade de o tribunal conhecer determinadas


matérias de ofício no julgamento do recurso, mesmo que elas não tenham sido objeto
de impugnação e, portanto, estejam fora da extensão da devolução. Tradicionalmente
esse efeito está associado às matérias de ordem pública, ou àquelas matérias que
a lei reconhece ser possível seu conhecimento de ofício pelo juiz, por exemplo, a
prescrição.

Atenção: Nos recursos extraordinário e especial, não há que se falar em efeito


translativo, uma vez que o requisito indispensável do pré-questionamento impede
que seja apreciada qualquer questão que não tenha sido decidida pelo juízo a quo,

14
mesmo que se trate de matéria de ordem pública. Nesse sentido, é a jurisprudência
do STF e do STJ, inclusive já havendo acórdão prolatado sob a égide do CPC/2015:

EMENTA: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM


RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SISTEMA FINANCEIRO
DE HABITAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL QUE NÃO ATACA TODOS OS
FUNDAMENTO DA DECISÃO AGRAVADA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA.
PREQUESTIONAMENTO. NECESSIDADE. CONTROVÉRSIA QUE DEMANDA
ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. REAPRECIAÇÃO DOS
FATOS E DO MATERIAL PROBATÓRIO CONSTANTES DOS AUTOS (SÚMULA
279/STF), BEM COMO A ANÁLISE DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS
(SÚMULA 454/STF). CARÁTER PROTELATÓRIO. IMPOSIÇÃO DE MULTA.
1. A parte agravante não atacou todos os fundamentos utilizados pelo
Tribunal de origem para inadmitir o recurso extraordinário, de modo
que a decisão permanece incólume. Precedente. 2. A jurisprudência do
Supremo Tribunal é firme em exigir o regular prequestionamento das
questões constitucionais suscitadas no recurso extraordinário, ainda
que se trate de matéria de ordem pública. Precedentes. 3. Para chegar
a conclusão diversa do acórdão recorrido, imprescindíveis seriam a
análise da legislação infraconstitucional pertinente, nova apreciação
dos fatos e do material probatório constante dos autos (Súmula 279/
STF), assim como a interpretação de cláusulas contratuais (Súmula
454/STF), procedimentos inviáveis em sede de recurso extraordinário.
4. Nos termos do art. 85, § 11, do CPC/2015, fica majorado em 25% o
valor da verba honorária fixada anteriormente, observados os limites
legais do art. 85, §§ 2º e 3º, do CPC/2015. 5. Agravo interno a que se
nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do
CPC/2015.
(STF – Primeira Turma, ARE 977741 AgR/SC, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 09/08/2016, Dje 26/08/2016).

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO EM EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ALEGAÇÃO DE FATO
SUPERVENIENTE. DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA PELA JUSTIÇA
ESTADUAL CRIMINAL EM PROL DA JUSTIÇA FEDERAL. REFLEXO NA
COMPETENCIA CIVEL DA IMPROBIDADE. INEXISTÊNCIA. MATÉRIA DE
ORDEM PÚBLICA. PREQUESTIONAMENTO. NECESSIDADE. AUSÊNCIA DE
OMISSÃO. REJEIÇÃO.
(...) 5. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que, ainda
que se trate de matéria de ordem pública, é imprescindível o seu pré-
questionamento nas instâncias ordinárias, em ordem a viabilizar a sua
discussão em sede de recurso especial.

15
6. Embargos de declaração rejeitados.
(STJ – Primeira Turma, EDcl nos EDcl no REsp 1436249 / AC, Rel. Min.
Olindo Menezes (desembargador convocado do TRF 1º Região), julgado
em 03/12/2015, Dje 11/12/2015).

(v) Efeito expansivo: será gerado o efeito expansivo sempre que o julgamento do
recurso ensejar decisão mais abrangente do que a matéria impugnada ou, ainda,
quando atingir sujeitos que não participaram como partes o recurso, apesar de serem
partes na demanda. Na primeira hipótese, haverá efeito expansivo objetivo, que ainda
poderá ser interno ou externo, a depender da matéria atingida pelo julgamento do
recurso estar localizada dentro ou fora da decisão impugnada. Na segunda hipótese,
tem-se o efeito expansivo subjetivo. O efeito expansivo objetivo interno refere-se a
capítulos não impugnados da decisão recorrida que serão atingidos pelo julgamento
do recurso. O efeito expansivo objetivo externo se verifica sempre que o julgamento
do recurso atinge outros atos processuais que não a decisão recorrida. O efeito
expansivo subjetivo se verifica quando o julgamento do recurso atinge um sujeito
processual que não tenha feito parte desse recurso.

(vi) Efeito substitutivo: A previsão do art. 1.008 do CPC/15 determina que o


julgamento do recurso substituirá a decisão recorrida, nos limites da impugnação.
Daniel Amorim faz a seguinte consideração sobre a temática:

“A interpretação literal do dispositivo legal, entretanto, não se mostra a


mais correta, considerando-se ser uníssono na doutrina o entendimento
de que a substituição da decisão recorrida pelo julgamento do recurso
somente ocorre na hipótese de julgamento do mérito recursal, e ainda
assim a depender do resultado de tal julgamento” (Neves, Daniel
Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil – volume único.
8º ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2016, pág. 1479).

Assim, com base nos ensinamentos do aludido autor, não sendo recebido ou
conhecido o recurso, não há que falar em efeito substitutivo, porque, nesse caso, o
julgamento do recurso não toma o lugar da decisão recorrida, que se mantém íntegra
para todos os fins jurídicos. Por outro lado, sendo o recurso conhecido e julgado em
seu mérito, cabe a análise do resultado de tal julgamento para aferir a existência ou
não do efeito substitutivo. Sendo a causa de pedir do recurso fundada em error in
judicando e o pedido em reforma da decisão, qualquer que seja a decisão de mérito
do recurso substituirá a decisão recorrida. Sendo a causa de pedir composto por
error in procedendo e sendo o pedido de anulação de decisão, o efeito substitutivo
somente será gerado na hipótese de não provimento, porque o provimento do recurso
implica na anulação da decisão e, por consequência lógica, não haverá substituição,
devendo ser proferida nova decisão pelo juízo a quo.

16
(vii) Efeito regressivo: permite que por via do recurso a causa volte ao conhecimento
do juízo prolator da decisão, permitindo que seja exercido o juízo de retratação. Esse
efeito está presente em todas as espécies de agravo. No recurso de apelação, ele terá
aplicabilidade no caso de sentença de indeferimento da petição inicial (art. 331), na
improcedência liminar (art. 332, §3º) e na extinção do processo sem julgamento do
mérito, ou seja, nas sentenças terminativas (art. 485, §7º).

(viii) Efeito diferido: ocorre quando o conhecimento do recurso depende de recurso


a ser interposto contra outra ou a mesma decisão. No primeiro caso, pode-se dar
como exemplo a necessidade de a apelação ser conhecida para que a impugnação da
decisão interlocutória não recorrível por agravo de instrumento ser julgada em seu
mérito. No segundo caso, pode-se lembrar do recurso especial e do extraordinário
contra o mesmo acórdão, sempre que a análise do segundo dependa do conhecimento
e julgamento do primeiro. Também o recurso adesivo, que somente será julgado se o
recurso principal for conhecido e julgado em seu mérito.

I.5 – Juízo de admissibilidade:

Para que o mérito de uma demanda seja julgado, o juiz precisa anteriormente analisar
os pressupostos processuais de existência e de validade, considerados genericamente como
pressupostos de admissibilidade do julgamento de mérito. No âmbito recursal, existe o mesmo
fenômeno, devendo o órgão julgador fazer uma análise de aspectos formais do recurso para só
então, superada positivamente essa fase, analisar o mérito recursal.

Parcela da doutrina classifica os pressupostos recursais em intrínsecos e extrínsecos,


entendendo-se por pressuposto intrínseco aquele referente à própria existência do poder de
recorrer, ao passo que se entende por pressuposto extrínseco aquele referente ao modo de
exercer tal poder.

Nessa concepção, são pressupostos intrínsecos: cabimento, legitimidade, interesse


em recorrer e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer. Por outro lado,
são pressupostos extrínsecos: tempestividade, preparo e regularidade formal.

Vejamos breves considerações sobre cada um deles:

(i) Cabimento: Exige que o pronunciamento seja recorrível e que o recurso


interposto seja o adequado, ou seja, o recurso indicado pela lei para impugnar
aquela determinada decisão judicial. Segundo o art. 1.001 do CPC/15, os despachos
são irrecorríveis. Determinada a recorribilidade da decisão, deve-se examinar a
correspondência do recurso, o que demandará a análise da natureza e do conteúdo
da decisão no caso concreto e, ainda, o respectivo recurso previsto em lei como
adequado à sua impugnação. O requisito do cabimento poderá ser flexibilizado em

17
razão da aplicação do princípio da fungibilidade, o que permitirá o julgamento do
mérito recursal, desde que os outros requisitos também sejam preenchidos, ainda
que o órgão jurisdicional entenda que o recurso interposto não é o cabível.

(ii) Legitimidade recursal: Segundo o art. 996 do CPC/15, o recurso pode ser
interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público nos
processos em que participou como parte ou como fiscal da ordem jurídica. O parágrafo
único do mesmo dispositivo aduz que o terceiro prejudicado deverá demonstrar a
possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial
atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto
processual.

Atenção 1: Segundo o art. 23 da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB), o advogado é o


credor dos honorários fixados em sentença ou acórdão, sendo parte legítima para
executar esse capítulo acessório da decisão, o que fará com a legitimação ordinária
(em nome próprio na defesa de direito próprio). Sendo legitimado a executar o
capítulo da decisão referente aos honorários, considerando-se ser o titular do direito
de crédito fixado nesse capítulo, é inegável a legitimidade recursal do advogado.
Para a doutrina majoritária, a sua legitimidade é de terceiro prejudicado, porque no
momento da prolação da decisão não figurava no processo como parte, mas é titular
de relação de direito material (direito de crédito) que pode ser afetada pelo resultado
do processo. O STJ (AgRg no AREsp 637.405/MG, 4º Turma, j. 19/03/2015; AgRg no
REsp 1.378.162/SC, 2º Turma, j. 04/02/2014) entende que também a parte poderá
recorrer em nome próprio do capítulo referente aos honorários advocatícios e nesse
caso sua legitimação será extraordinária (nome própria em defesa de direito alheio).
Trata-se, portanto, de legitimação concorrente entre a parte e o advogado (terceiro
prejudicado).

Atenção 2: A intervenção do amicus curiae passou a ser prevista pelo art. 138 do CPC/15
como modalidade típica de intervenção de terceiros, podendo ele ser considerado
parte processual, mas não da demanda, possuindo, portanto, legitimidade recursal.
Contudo, a legitimidade recursal do amicus curiae é limitada, pois os §§1º e 3º do art.
138 somente permitem que ele interponha o recurso de embargos de declaração e
recurso especial e extraordinário contra julgamento do Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas (IRDR) no tribunal de segundo grau.

Atenção 3: Nos processos em que atua como fiscal da ordem jurídica, a legitimidade
recursal do Ministério Público é autônoma, significando dizer que, mesmo que as
partes no processo não interponham recurso, é admissível o recurso interposto pelo
Ministério Público.

18
(iii) Interesse recursal: A mesma ideia de utilidade da prestação jurisdicional
presente no interesse de agir verifica-se no interesse recursal, entendendo-se que
somente será julgado em seu mérito o recurso que possa ser útil ao recorrente. Essa
utilidade deve ser analisada sob a perspectiva prática, sendo imperioso observar no
caso concreto se o recurso reúne condições de gerar uma melhora na situação fática
do recorrente. Não sendo possível a obtenção de uma situação mais vantajosa sob o
aspecto prático, não haverá interesse recursal. É por essa razão que, em regra, não se
admite recurso somente com o objetivo de modificar a fundamentação da decisão,
porque nesse caso a situação prática do recorrente se mantém inalterada. Inclusive,
assim já se manifestou o STF no MS 33.729/DF, julgado em 03/09/2015 e divulgado no
informativo nº 797.

(iv) Inexistência de ato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer:

iv.1) Desistência: Segundo o art. 998 do CPC/15, o recorrente poderá desistir de seu
recurso – total ou parcialmente – a qualquer momento, o que significa dizer que
o recorrente poderá abdicar de seu direito de ter seu recurso julgado. O STJ (AgRg
no AgRg no Ag 1.392.645/RJ, 2º Turma, j. 21/02/2013) entende que a desistência
pode ocorrer até o encerramento do julgamento do recurso, admitindo-se depois
de iniciado o julgamento, inclusive já tendo sido prolatado o voto do relator, mas
nunca após o julgamento, ainda que pendente a publicação do acórdão. Inclusive,
a desistência não depende de anuência dos litisconsortes, inclusive na hipótese de
litisconsórcio unitário, no qual o recurso poderia beneficiar o litisconsorte que não
recorreu, assim como independe da aceitação da outra parte (art. 998 do CPC/15).

Atenção: Segundo o parágrafo único do art. 998 do CPC/15, no julgamento de recurso


extraordinário cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e nos recursos
especiais e extraordinários repetitivos, mesmo havendo a desistência do recurso,
seu mérito será enfrentado pelos tribunais superiores. Segundo se compreende do
dispositivo legal, o pedido de desistência será deferido, mas a controvérsia contida no
recurso será julgada normalmente pelos tribunais superiores. Ainda, vale consignar
que o julgamento nesse caso não se aplicará ao recurso de que se desistiu, conforme
indica o enunciado 213 do FPPC. O dispositivo comentado contraria a jurisprudência
do STF e do STJ formada sob a égide do CPC/73, pois esses tribunais entendiam que
não era possível a desistência dos aludidos recursos, de modo que esse dispositivo
é de importantíssima memorização, pois inovou o ordenamento jurídico processual.

iv.2) Renúncia: Aduz o art. 999 do CPC/15 que a parte recorrente pode renunciar ao
recurso, independentemente de concordância da parte contrária. A renúncia diz
respeito ao direito de recorrer, de forma que só pode ser realizada antes da interposição
do recurso, porque depois disso já estará consumado o direito recursal, não havendo
mais sobre o que se renunciar. O termo inicial da renúncia é o surgimento concreto

19
e específico do direito de recorrer, não se admitindo no direito brasileiro a renúncia
prévia, nem mesmo quando resultado de acordo de vontade das partes.

iv.3) Aquiescência: Segundo o art. 1.000 do CPC/15, a parte que aceitar expressa ou
tacitamente a decisão não poderá recorrer. Trata-se do fenômeno da aquiescência, que
gera uma preclusão lógica a impedir a admissão do recurso, em nítida manifestação
do princípio da boa-fé objetiva. A aquiescência somente é possível entre a intimação
da decisão impugnável e a interposição de recurso. Há aquiescência sempre que a
parte que poderia recorrer pratica um ato, sem nenhuma reserva, incompatível com
a vontade de recorrer, demonstrando a concordância com a decisão.

Atenção: Nos termos do art. 520, §3º, do CPC/15, havendo o depósito do valor
exequendo no cumprimento de sentença no prazo de 15 dias da intimação do
executado se livra da aplicação da multa e não torna prejudicado seu recurso contra
a decisão exequenda. Entende Daniel Amorim Assumpção Neves que

“apesar de aparentemente tratar-se de exceção pontual à aquiescência


previsto no art. 1.000 do Novo CPC, o melhor entendimento é de que nesse
caso não há pagamento, mas mero depósito, com o que o executado não
está praticando ato de concordância com a decisão exequenda” (Neves,
Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil – volume
único. 8º ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2016, pág. 1479)

(v) Tempestividade: Todo recurso tem um prazo determinado em lei, ocorrendo


preclusão temporal sempre que vencido o prazo legal sem a sua interposição. Houve
uma uniformização dos prazos recursais, de modo que todos os recursos, exceto
os embargos de declaração, terão o prazo de 15 (quinze) dias para sua interposição
(art. 1.003, §5º, do CPC/15). Os embargos de declaração terão prazo de 5 (cinco) dias.
Note-se que a contagem do prazo só levará em consideração os dias úteis (art. 219
do CPC/15).

Atenção: Na vigência do CPC/73, o prazo processual era peremptório, não admitindo


prorrogação, suspensão ou interrupção por vontade das partes. Contudo, de forma
diversa, Daniel Amorim Assumpção Neves aduz que

“Nos termos do art. 190 do Novo CPC as partes podem celebrar um acordo
procedimental, sendo sem dúvida a modificação do prazo recursal um
dos objetos possíveis de tal acordo. Respeitando-se a isonomia, entendo
que tanto a majoração como a redução do prazo legal são possíveis de
acordo entre as partes. Por outro lado, o juízo poderá, unilateralmente,
majorar qualquer prazo processual, nos termos do art. 139, VI, do Novo
CPC, em regra aplicável ao prazo recursal” (Neves, Daniel Amorim

20
Assumpção. Manual de direito processual civil – volume único. 8º ed.
Salvador: Ed. Jus Podivm, 2016, pág. 1524).

Além disso, excepcionalmente, o prazo recursal poderá ser interrompido, devolvendo-


se à parte recorrente a íntegra do prazo depois de encerrada a causa de interrupção.
Segundo o art. 1.004 do CPC/15, haverá interrupção no caso de falecimento da
parte ou de seu advogado ou ainda no caso de força maior que suspenda o curso
do processo. Ademais, o art. 220 do CPC/15 consagra hipótese de suspensão dos
prazos processuais entre o dia 20 de dezembro e 20 de janeiro.

Atenção 1: Nos termos do §4º do art. 1.003 do CPC/15, para aferição da tempestividade
do recurso remetido pelo correio, será considerada como data da interposição a data
da postagem. Então, fica superado o entendimento consolidada na Súmula nº 216
do STJ, conforme apontou o Enunciado 96 do Fórum Permanente de Processualistas
Civis (FPPC).

Atenção 2: Na vigência do CPC/73, os tribunais superiores criaram a tese do


recurso prematuro, ou de intempestividade ante tempus, segundo a qual, o recurso
intempestivo é aquele interposto fora do prazo, o que pode ocorrer depois de finda
ou antes de iniciada a sua contagem. Em razão dessa tese, tinha-se por intempestivo
o recurso interposto antes da intimação das partes, considerando-se que o termo
inicial para a contagem do prazo ainda não se verificou. Contudo, a referida tese
foi superada pelo §4º do art. 218 do CPC/15, que consagra expressamente que o
ato praticado antes da intimação da parte é tempestivo, independentemente de
reiteração após a intimação.

Atenção 3: Ocorrendo feriados locais, a parte recorrente deverá anexar provas de sua
ocorrência no momento da interposição do recurso (art. 1.003, §6º, do CPC/15). O STF
(AI 741.616 AgR/RJ, 1º Turma, j. 25/06/2013) e o STJ (AgRg no AREsp 137.141/SE, Corte
Especial, j. 19/09/2012) já admitiram a comprovação do feriado local em momento
posterior ao da interposição do recurso. Porém, em provas objetivas, aconselha-se
que o candidato adote a redação do §6º do art. 1.003 do CPC/15, pois se trata de
dispositivo recente e cuja literalidade não confere margens à dubiedade. Frise-se que
não é admissível a mera alegação de feriado local, é necessária sua comprovação.

Atenção 4: Segunda já decidiu o STF, o fato de o protocolo ter sido realizado em setor
indevido, chegando ao local correto somente depois de transcorrido o prazo não
é motivo para inadmissão do recurso por intempestividade, afinal, a culpa do erro
deve ser compartilhada entre o advogado e o órgão que recebeu o recurso sem ter
competência para tanto (RE 755613 AgR – ED/ES, 1º Turma, j. 22/09/2015).

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Atenção 5: Segundo o art. 229 do CPC/15, os litisconsortes que tiverem diferentes
procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados
em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal,
independentemente de requerimento, o que inclui o prazo em dobro para
a interposição de recurso. Contudo, o gozo desse benefício na seara recursal
dependerá da existência de sucumbência para mais de um litisconsorte, uma vez
que a Súmula nº 641 do STF aduz que deve ser simples o prazo recursal se somente
um dos litisconsortes sucumbiu. Por óbvio, se houver sucumbência de mais de um
litisconsorte, o prazo será simples se eles forem representados pelo mesmo advogado
ou pelo mesmo escritório de advocacia, pois a prerrogativa do prazo em dobro
somente beneficia aqueles representados por procuradores distintos, de escritórios
igualmente diversos.

(vi) Preparo: O preparo recursal diz respeito ao custo financeiro da interposição


do recurso, incluindo o porte de remessa e de retorno, devendo o recolhimento
dessas verbas ser comprovada no momento da interposição do recurso, sob pena de
deserção (art. 1.007, do CPC/15). Não havendo o seu recolhimento, será concedido
ao recorrente a possibilidade de recolhimento em dobro, sob pena de deserção (§4º
do art. 1.007 do CPC/15) ou, sendo recolhido de forma incompleta, o recorrente será
intimado para, no prazo de 5 dias efetuar a complementação, sob pena de inadmissão
do recurso (§2º do art. 1.007 do CPC/15).

Atenção: Segundo o §3º do art. 1.007 do CPC/15, é dispensado o recolhimento do


porte de remessa e de retorno na hipótese de processo com autos eletrônicos. Isso
porque o porte de remessa e de retorno visa a custear o transporte dos autos para o
tribunal que julgará o recurso, assim como seu retorno depois do julgamento. Ocorre
que, sendo os autos eletrônicos, não haverá remessa nem retorno dos autos, de modo
que a cobrança desse valor se torna desnecessária, razão pela qual foi acertado o
teor do dispositivo aludido.

Atenção 1: Nem todos os recursos estão sujeitos a preparo. Os embargos de


declaração (art. 1.023 do CPC/15) e o agravo em recurso especial e em recurso
extraordinário (art. 1.042, §2º, do CPC/15) não exigem o recolhimento do preparo
para o seu conhecimento. Além disso, alguns sujeitos estão dispensados do
recolhimento do preparo. Segundo o 1º do art. 1.007 do CPC/15, são dispensados do
preparo o Ministério Público, União, Distrito Federal, Estados, Municípios e respectivas
autarquias, assim como os que gozam de isenção legal. Além disso, o beneficiário da
justiça gratuita, inclusive pessoa jurídica, também está dispensado do recolhimento
do preparo (art. 98, §1º, I, do CPC/15). No âmbito da Justiça Federal, embora o CPC/15
consagre que a autarquia está isenta do recolhimento de preparo, os Conselhos de
Fiscalização Profissional, apesar de terem natureza jurídica de autarquias, não têm
o direito de isenção do preparo, em razão de expressa ressalva nesse sentido do art.

22
4º, parágrafo único, da Lei nº 9.289/96 (Dispõe sobre as custas devidas à União, na
Justiça Federal de primeiro e segundo graus e dá outras providências).

Atenção 2: Se o recurso for interposto em dia no qual o expediente forense


(funcionamento do protocolo) se encerrou depois do encerramento do expediente
bancário, admitem-se o recolhimento e a comprovação no primeiro dia útil
subsequente, conforme a Súmula nº 484 do STJ: “Admite-se que o preparo seja
efetuado no primeiro dia útil subsequente, quando a interposição do recurso ocorrer
após o encerramento do expediente bancário”.

Atenção 3: É inaplicável a regra da comprovação imediata do preparo nos Juizados


Especiais, nos quais o art. 42, §1º, da Lei 9.099/1995 prevê um prazo de 48 horas
após a interposição do recurso inominado para a comprovação do recolhimento do
preparo.

Atenção 4: Sob a égide do CPC/73, o STJ havia firmado entendimento de que o


preenchimento incorreto da guia de recolhimento do preparo conduz à deserção
do recurso, seja pela não indicação do processo ou pela indicação do processo
errado, assim como também gera deserção o preparo recolhido com código errado
ou em guia inadequada. Porém, o §7º do art. 1.007 do CPC/15 superou o referido
entendimento, consagrando expressamente que qualquer que seja a incorreção no
preenchimento da guia o vício será sanável, devendo o recorrente ser intimado para
o seu saneamento, de forma a se tornar inadmissível a deserção liminar na hipótese.
Eis a redação do aludido dispositivo:

“O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a


aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de
dúvida quanto ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício
no prazo de 5 (cinco) dias”.

(vii) Regularidade formal: consiste no preenchimento dos requisitos formais gerais


e específicos para que o recurso seja admitido. No plano geral, é possível apontar
alguns requisitos formais genéricos a todos os recursos, ou ao menos à maioria
deles, ao passo que é natural que cada recurso tenha requisitos formais específicos
que devem ser preenchidos para que seja ele admitido.

I.6 – Juízo de mérito:

Sendo positivo o juízo de admissibilidade recursal, o órgão jurisdicional passa ao


exame do mérito do recurso, momento no qual deverá enfrentar os argumentos da irresignação
do recorrente para decidir se lhe assiste ou não razão. Por ser o julgamento do mérito recursal
voltado aos fundamentos recursais (causa de pedir do recurso), é preciso enfrentar quais

23
os possíveis vícios que o recorrente poderá alegar no recurso. Há os vícios formais (error
in procedendo) e vícios de conteúdo (erro in judicando), sendo que de cada espécie de vício
é derivada uma diferente espécie de pedido. Em razão da preclusão consumativa, cabe ao
recorrente cumular a impugnação de todos os vícios existentes na decisão recorrida, devendo
o órgão jurisdicional enfrentar antes o error in procedendo em razão de sua prejudicialidade em
relação ao error in judicando.

Vícios de atividade são entendidos como vícios formais do procedimento ou da


própria decisão impugnada e comumente identificados pela expressão error in procedendo.
Vícios de julgamento são entendidos como vícios do conteúdo da decisão impugnada e
comumente identificados pela expressão error in judicanto. Nessa espécie de causa de pedir, o
recorrente critica a qualidade da decisão, impugnando as considerações e conclusões judiciais.

Em regra, a alegação de error in procedendo leva a um pedido de anulação. No caso de


vício formal da própria decisão impugnada, a anulação será somente dessa decisão, ao passo
que, no caso de vício do procedimento, anula-se o processo desde o momento em que passou
a se configurar o vício. Na alegação de error in judicando, o pedido é de reforma a decisão, ou
seja, a substituição da decisão recorrida pela decisão do recurso.

Atenção: Tradicionalmente, os embargos de declaração têm causa de pedir específica


e pedidos que só podem ser feitos por meio desse recurso: a integração no caso de
decisão omissa e o esclarecimento no caso de decisão obscura ou contraditória. Essa
realidade foi parcialmente modificada pelo CPC/15. A inovação ficou por conta do art.
1.013, §3º do CPC/15, que admite de forma expressa que o tribunal, no julgamento
de apelação, julgue pedido ainda não decidido na hipótese de sentença citra petita.
Diante dessa novidade legislativa, além do pedido de reforma e anulação, na apelação
também poderá se pedir a integração da sentença, algo possível, na vigência do
CPC/73, apenas em sede de embargos de declaração.

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II – ORDEM DOS PROCESSOS E RECURSOS NOS
TRIBUNAIS
Cabe ao Regimento Interno de cada tribunal regulamentar a forma de distribuição
dos recursos, processos de competência originária e reexame necessário de sua competência. A
distribuição será realizada por sorteio eletrônico, de forma ALTERNADA E ALEATÓRIA, garantindo
a publicidade desse processo, com o fito de garantir o princípio do juiz natural. Observe-se o
teor dos arts. 930 e 285 do CPC/15:

Art. 285. A distribuição, que poderá ser eletrônica, será alternada e


aleatória, obedecendo-se rigorosa igualdade.
Parágrafo único. A lista de distribuição deverá ser publicada no Diário
de Justiça.

Art. 930. Far-se-á a distribuição de acordo com o regimento interno


do tribunal, observando-se a alternatividade, o sorteio eletrônico e a
publicidade.
Parágrafo único. O primeiro recurso protocolado no tribunal tornará
prevento o relator para eventual recurso subsequente interposto no
mesmo processo ou em processo conexo.

No CPC15, os recursos que anteriormente estavam sujeitos à revisão por julgador do


órgão colegiado (revisor) passam a serem objeto de análise somente do relator do recurso, de
modo que a figura do revisor foi extinta na nova ordem jurídica processual.

II.1 – Da prevenção nos Tribunais:

Não havia no CPC/73 previsão a respeito do fenômeno da prevenção nos Tribunais. Ao


contrário, o parágrafo único do art. 930 modificou essa realidade, preconizando que “O primeiro
recurso protocolado no tribunal tornará prevento o relator para eventual recurso subsequente
interposto no mesmo processo ou em processo conexo”.

Então, a prevenção se fixa pelo protocolo do recurso no Tribunal, independentemente


da data do julgamento, da data do protocolo do recurso em grau inferior ou postagem por
correio, e independentemente da inadmissão dos recursos. Ou seja, recurso inadmitido é
capaz de causar a prevenção.

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II.2 – Dos poderes do relator:

O art. 932 do CPC/15 versa sobre a competência delegada ao relator para a prática de
atos processuais e condução dos recursos, reexame necessário e de processos de competência
originária do Tribunal. Importante registrar que a competência para a prática dos atos descritos
no dispositivo legal ora comentado é do órgão colegiado, havendo uma delegação de poder
para que o relator possa decidir, de forma incidental ou final, monocraticamente.

DICA DE APROFUNDAMENTO:

Questiona-se, se a lógica do sistema recursal é ver a decisão impugnada


ser reexaminada por órgão colegiado cujos membros, em tese, possuem
maior experiência e conhecimento que os magistrados de piso, com
o fito de se garantir uma decisão correta, não afrontaria o princípio da
colegialidade a permissão de julgamento monocrático pelo relator em
sede dos Tribunais? Na verdade, conforme se aduziu, cuida-se de uma
delegação de competência do órgão colegiado ao relator, fundada em
razões de economia processual ou necessidade de decisão urgente,
o que justifica a atuação monocrática do relator. Sempre é mantida
a competência de revisão do órgão colegiado que delegou ao relator a
função inicial de apreciação da matéria, que, no caso, é o agravo interno
(art. 1.021 do CPC/15). Então, mesmo com o julgamento monocrático,
a parte poderá levar a matéria para apreciação do órgão colegiado,
bastando interpor o aludido recurso.

II.2.1 – Direção do processo:

Nos termos do art. 932, I, do CPC/15, incumbe ao relator “dirigir e ordenar o processo
no tribunal, inclusive em relação à produção de prova, bem como, quando for o caso, homologar
autocomposição das partes”.

Novidade interessante desse dispositivo é o poder do relator, monocraticamente,


homologar autocomposição das partes, pois o CPC/73 era omisso quanto a essa forma de
atuação do relator. Pela redação do presente dispositivo, percebe-se que o rol do art. 932 é
meramente exemplificativo, podendo o relator decidir outras questões incidentais.

II.2.2 – Tutela provisória recursal:

Segundo o art. 932, II, do CPC/15, cabe ao relator “apreciar o pedido de tutela
provisória nos recursos e nos processos de competência originária do tribunal”. Ressalte-se que
qualquer tipo de tutela provisória pode ser concedida na via recursal, antecipada, cautelar ou
de evidência.

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Defende Daniel Amorim que, embora o dispositivo seja omisso, essa regra também de
aplica ao reexame necessário e, por uma questão de isonomia, a mesma regra deve ser aplicada
ao pedido de efeito suspensivo, o que, inclusive, consta em alguns dispositivos do CPC/15 (art.
1.002, §3º; art.1.019, I; art. 1.026, §1º; e art. 1.029, §5º).

II.2.3 – Inadmissibilidade recursal:

O julgamento monocrático de inadmissibilidade vem previsto no art. 932, III, do


CPC/15 ao prever que incumbe ao relator “não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou
que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida”.

Perceba-se que, comparando com o dispositivo análogo do CPC/73, foi incluída a


ausência de impugnação específica dos fundamentos da decisão recorrida como causa para
o não conhecimento monocrático do recurso, embora ele já era possível sob a égide do CPC
anterior. Vale ressaltar que esse dispositivo permite ao relator exercer o juízo de admissibilidade
negativo, que não diz respeito ao mérito.

Atenção: Segundo o parágrafo único do art. 932 do CPC/15, o relator, antes de


considerar inadmissível o recurso, DEVERÁ CONCEDER o prazo de cinco dias ao(s)
recorrente(s) para que seja sanado o vício ou complementada a documentação
exigível. Esse dispositivo decorre do princípio da primazia do julgamento de mérito
e da cooperação das partes, não sendo uma faculdade do juiz, mas um poder-dever.
Outra utilidade do presente dispositivo foi combater a jurisprudência defensiva dos
Tribunais.

II.2.4 – Decisão monocrática que nega provimento:

O art. 932, IV, do CPC confere ao relator competência para

“negar provimento a recurso que for contrário a: a) súmula do Supremo


Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo
Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência”.

Por negar provimento entende-se o próprio julgamento de mérito do recurso,


não sendo acolhidos os pedidos recursais, ou seja, cuida-se de fase posterior ao juízo de
admissibilidade, o que diferencia esse dispositivo do art. 932, III. Novidade é a alínea ‘c’, pois os
incidentes ali citados não existiam na sistemática processual pretérita, sendo inovação da nova
ordem processual civil.

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II.2.5 – Decisão monocrática que dá provimento:

Esta competência do relator é tratada no inciso V do art. 932 do CPC/15:

“depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento


ao recurso se a decisão recorrida for contrária a: a) súmula do Supremo
Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo
Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência”.

Acrescente-se que a expressa previsão de que o provimento unipessoal ao recurso


depende de intimação do recorrido, conferindo a oportunidade de ofertar contrarrazões,
respeita o princípio do contraditório e da vedação de decisão desfavorável sem prévia intimação
das partes (art. 9º e 10 do CPC/15). Lembrando que, no caso dos embargos de declaração, só
se exige a intimação do recorrido para o oferecimento de contrarrazões, se tiverem efeitos
infringentes (art. 1.023, §2º, CPC/15).

DICA DE APROFUNDAMENTO:

É possível o julgamento monocrático do reexame necessário e dos


processos de competência originária?

O art. 932, III, IV e V só se referem às hipóteses de julgamento monocrático


dos recursos, nada indicando sobre o reexame necessário. Porém, a Súmula
nº 253 do STJ, que permite a aplicação das aludidas regras ao reexame
necessário, senão vejamos seu teor: “O art. 557 do CPC, que autoriza o relator
a decidir o recurso, alcança o reexame necessário”. Lembrando o art. 557 do
CPC/73 é o dispositivo análogo ao art. 932 do CPC/15. Contudo, quanto aos
processos de competência originária, o STJ não aceita o seu julgamento
monocrático, senão vejamos o seguinte acórdão:

MANDADO DE SEGURANÇA. CONCESSÃO POR DECISÃO DE


RELATOR. INVIABILIDADE. A faculdade que o art. 557 do Código
de Processo Civil atribui ao relator é a de decidir recursos, rol
em que não se inclui o mandado de segurança; por ser ação,
este deve ser julgado em colegiado. Agravo regimental provido.
(STJ - Primeira Seção, AgRg no MS 19764/DF, Rel. Min. Sergio
Kukina p/ Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 26/03/2014, DJe
05/12/2014).

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DICA DE APROFUNDAMENTO:

As hipóteses de julgamento monocrático são aplicáveis ao agravo de


instrumento?

Segundo o art. 1.019 do CPC/15, “Recebido o agravo de instrumento no


tribunal e distribuído imediatamente, se não for o caso de aplicação do
art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco) dias”. Pela redação
do dispositivo, percebe-se que não houve menção ao inciso V (possibilita
ao relator dar provimento monocraticamente ao recurso) do art. 932,
mas apenas aos incisos III (confere ao relator o poder de inadmitir
monocraticamente o recurso) e IV (confere ao relator o poder de negar
provimento monocraticamente ao recurso).

Em razão dessa omissão, parcela da doutrina entende que não é possível


ocorrer o julgamento monocrático do agravo de instrumento para lhe
dar provimento. Ao contrário, para a apelação, o art. 1.011, I, do CPC/15
previu o seguinte: “Recebido o recurso de apelação no tribunal e distribuído
imediatamente, o relator: I - decidi-lo-á monocraticamente apenas nas
hipóteses do art. 932, incisos III a V”.

Então, por haver previsão de aplicação do inciso V do art. 932 para a


apelação, alguns doutrinadores entendem que a omissão do art. 1.019 foi
proposital, não devendo ser dado provimento monocrático ao agravo de
instrumento. A questão é complexa, pois o art. 932 foi bastante genérico
e não limitou sua aplicação a qualquer recurso, porém, existe previsão
específica quanto ao agravo de instrumento que, em tese, retira a aplicação
do inciso V daquele artigo.

De qualquer forma, embora não se trate de questão pacífica, quando


se tratar de agravo de instrumento, fiquem atentos aos comandos das
questões objetivas, que podem inserir a hipótese do inciso V na alternativa,
tornando-a incorreta à luz do texto legal.

II.2.6 – Demais incumbências do relator:

Também é incumbência do relator decidir o incidente de desconsideração da


personalidade jurídica, quando este for instaurado originariamente perante o Tribunal (VI);
determinar a intimação do Ministério Público, quando for o caso (VII); e exercer outras atribuições
estabelecidas no regimento interno do tribunal (VIII).

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II.3 – Fato superveniente em sede recursal:

Mantendo a regra do CPC/73 (art. 517), o art. 1.014 do CPC/15 previu que as questões
de fato, não propostas no juízo inferior, poderiam ser suscitadas na apelação, se a parte provasse
que deixou de fazê-lo por motivo de força maior. Mas essa regra somente se aplica aos fatos cuja
ocorrência data de período anterior à interposição do recurso.

O art. 933 do CPC/15 foi além, inovando a ordem jurídica, prelecionando que

“Se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão


recorrida ou a existência de questão apreciável de ofício ainda não
examinada que devam ser considerados no julgamento do recurso,
intimará as partes para que se manifestem no prazo de 5 (cinco) dias”

Assim, pode-se levantar, em sede recursal, questões de fato que ocorreram após a
interposição do recurso, sanando a anterior omissão do CPC/73.

II.4 – Sustentação Oral:

O art. 937 do CPC/15 prevê a possibilidade do recorrente, do recorrido e do Ministério


Público, na qualidade de fiscal da ordem jurídica, nessa ordem, realizarem sustentação oral
pelo prazo máximo e improrrogável de 15 (quinze) minutos.

É possível a sustentação oral nas seguintes hipóteses: (i) no recurso de apelação; (ii)
no recurso ordinário; (iii) no recurso especial; (iv) no recurso extraordinário; (v) nos embargos de
divergência; (vi) na ação rescisória, no mandado de segurança e na reclamação; (vii) no agravo de
instrumento interposto contra as decisões interlocutórias que versem sobre tutelas provisórias
de urgência ou de evidência; (viii) em outras hipóteses previstas em lei ou no regimento interno
do tribunal.

O procurador que desejar proferir sustentação oral poderá requerer, até o início da
sessão, que o processo seja julgado em primeiro lugar, sem prejuízo das preferências legais
(§1º).

Atenção 1: percebe-se que não há previsão de sustentação oral para os recursos


de agravo interno e de embargos de declaração. Porém, quanto ao agravo interno,
nos processos de competência originária previstos no inciso VI do art. 937 (ação
rescisória, mandado de segurança e reclamação), caberá sustentação oral no agravo
interno interposto contra decisão de relator que o extinga.

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Atenção 2: Novidade do CPC/15 é a permissão ao advogado com domicílio profissional
em cidade diversa daquela onde está sediado o tribunal realizar sustentação oral
por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de
sons e imagens em tempo real, desde que o requeira até o dia anterior ao da sessão
(§4º). Candidatos, atentem para esse dispositivo, pois ele tem grandes chances de ser
explorado em prova objetiva.

II.5 – Técnica do julgamento substitutivo dos embargos infringentes (ATENÇÃO):

O CPC/15 retirou o recurso de embargos infringentes do rol recursal (art. 994). Porém,
em seu art. 942, cria uma inovadora técnica de julgamento com propósitos muito semelhantes
aos do recurso de embargos infringentes, mas com natureza de incidente processual, e não de
recurso.

Pois bem, a técnica de julgamento substitutivo prevê que o julgamento terá


prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, a serem
convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em número suficiente
para garantir a possibilidade de inversão do resultado oficial, sendo assegurado às partes e
a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgados.
Essa técnica será cabível nas seguintes hipóteses:

(i) julgamento não unânime de apelação (art. 942, caput);


(ii) na ação rescisória, quando o resultado for a decisão da sentença (art. 942, §3º, I);
(iii) no agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar
parcialmente o mérito (art. 942, §3º, II).

Atenção: Ainda que presentes os requisitos previstos pelo art. 942, caput e §3º do
CPC/15, não se adotará a técnica de julgamento ora analisada nas situações de
julgamento (§4º): (i) do incidente de assunção de competência e ao de resolução de
demandas repetitivas; (ii) da remessa necessária; e (iii) não unânime proferido, nos
tribunais, pelo plenário ou a corte especial.

Criou-se a técnica de julgamento com o fim de conferir maior segurança ao julgamento,


por meio do aumento do número de julgadores. Frise-se que essa técnica será implementada
de ofício, sem qualquer iniciativa da parte.

Sendo possível, o prosseguimento do julgamento dar-se-á na mesma sessão,


colhendo-se os votos de outros julgadores que porventura componham o órgão colegiado (§1º).
Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião do prosseguimento
do julgamento (§2º).

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II.6 – Saneamento de vício no Tribunal:

O art. 938, §1º, do CPC/15 permite que o relator, constatando a ocorrência de vício
sanável, inclusive aquele que possa ser conhecido de ofício, determine a realização ou a
renovação do ato processual, no próprio tribunal ou em primeiro grau de jurisdição, intimadas
as partes.

Já o §2º prevê que, após o cumprimento da diligência, o prosseguimento, sempre


que possível, do julgamento do recuso. Porém, o §1º exige dois requisitos para a ocorrência do
saneamento, (i) nulidade sanável, ou seja, que não viole norma processual de ordem pública; e
(ii) respeito ao contraditório, na medida em que determina a intimação das partes.

Atenção: Em razão da previsão expressa do art. 938, §4º, do CPC/15, tanto o relator
quanto o órgão colegiado poderão determinar o saneamento do vício sanável,
considerando-se que ambos fazem juízo de admissibilidade recursal.

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