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ILUSTRÍSSIMOS(AS) SENHORES(AS) CONSELHEIROS(AS) DA CÂMARA DE

JULGAMENTO DO CONSELHO DE RECURSOS DO SEGURO SOCIAL

NB XX/XXX.XXX.XXX-X

XXX, já qualificado nos autos do presente processo administrativo, vem,


respeitosamente, por meio dos seus procuradores, interpor

RECURSO ESPECIAL

com fulcro no art. 538 da Instrução Normativa INSS/PRES nº 77/2015.


Nessa conformidade, requer que o presente recurso seja encaminhado,
1
imediatamente, ao Serviço e à Seção de Reconhecimento de Direitos das Gerências-
Executivas para que o INSS apresente contrarrazões, conforme disposto no § 3º
do art. 540 da IN 77/2015. Após, requer sejam encaminhados os autos à Câmara
de Julgamento do Conselho de Recursos do Seguro Social.

Termos em que,

Pede deferimento.

Local, data.

Advogado(a)

OAB/UF nº
RECURSO ESPECIAL

Recorrente XXX
Recorridos : Instituto Nacional do Seguro Social
Xª Junta de Recursos da Previdência do CRSS
Endereço para correspondência : XXX

Colenda Câmara

Ilustres Conselheiros(as)

2
O Recorrente, no dia XX de XXX de XXXX, elaborou requerimento de
aposentadoria por idade, que restou indeferido sob a fundamentação de que a
Autora não teria preenchido a carência necessária à jubilação.

Isso porque, a Autarquia Previdenciária consignou que o cômputo do


período em gozo de benefício por incapacidade para fins de carência somente seria
possível nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, por força da
Ação Civil Pública nº 2009.71.00.004103-4.

A Xª Junta de Recursos da Previdência do CRSS manteve a decisão de


indeferimento do benefício, negando provimento ao recurso interposto pela
Requerente.

Sendo assim, passa-se à análise das razões pelas quais a decisão deve ser
revista.
RAZÕES RECURSAIS

DA AUTONOMIA DE JULGAMENTO DO CONSELHO DE RECURSOS DA


PREVIDÊNCIA SOCIAL – NÃO VINCULAÇÃO À INSTRUÇÃO NORMATIVA

Importante relembrar que no âmbito da análise dos recursos


administrativo, o Conselho de Recursos da Previdência Social possui autonomia,
tanto institucional quanto jurídica para proferir suas decisões.

Isto, pois o CRPS é órgão julgador formado por representantes do


governo, trabalhadores e empresas, não possuindo nenhuma subordinação
ou hierarquia com o Instituto Nacional do Seguro Social. Prova disto pode ser
vista no próprio regimento interno do tribunal administrativo (PORTARIA Nº
548/2011). Veja-se, à título exemplificativo que o art. 33 do referido regimento
expõe que a CRPS é livre para admitir ou não os recursos, não podendo o INSS 3
intervir neste processo:

Art. 33. Admitir ou não o recurso é prerrogativa do CRPS, sendo


vedado a qualquer órgão do INSS recusar o seu recebimento ou
sustar-lhe o andamento, exceto nas hipóteses expressamente
disciplinadas neste Regimento.

Nesse sentido, não havendo subordinação do CRPS ao INSS,


não é lógico que a Instrução Normativa (editada pelo Presidente
do INSS) vincule o CRPS!

Corroborando com esta ideia, a lição de Mauss e Triches1 (grifamos):

os julgadores do CRPS têm a possibilidade de rever a decisão


do INSS usando o princípio do livre convencimento das provas e
fundamentando sua análise no regulamento interno, na legislação

1
MAUSS, Adriano; TRICHES, Alexandre Schumacher. Processo administrativo previdenciário:
prática para um processo de benefício eficiente. 4ª ed. Caxias do Sul: Plenum, 2016, p. 306.
vigente e, também, na jurisprudência dos tribunais. A
interpretação dos fatos e da legislação, nesse momento, é
ampla e aberta a novas ideias.

Ademais, sempre importante gizar que Instrução Normativa não é

lei, e, portanto a Administração Pública não está vinculada a ela (art. 37, caput,
CF/88). O princípio da legalidade exige que o CRPS se atenha ao disposto na lei,
esta compreendida como o produto do consenso político produzido no âmbito do
Poder Legislativo. Do contrário, o INSS estaria usurpando a competência do
Congresso Nacional, violando o art. 2º da Constituição.

Aliás, também se estaria diante de uma incongruência se a Instrução


Normativa fosse vinculativa, se o CRPS entendesse que a IN violasse a legislação
ordinária (o que por diversas vezes vem a ocorrer), o CRPS deixaria de aplicar a
LEI em detrimento de Instrução Normativa (violando o princípio da legalidade).
Nessa senda, verifica-se que não é aceitável que a legislação previdenciária votada
pelo Congresso Nacional (que detêm a legitimidade do voto popular) tenha
normatividade reduzida em face de ato unilateral da autarquia previdenciária.
4
Por oportuno, nos termos do art. 15 do códex referido, as disposições do
Código de Processo Civil serão aplicadas supletiva e subsidiariamente nos
processos administrativos. Aliado a isso, a IN 77/2015 traz a seguinte previsão
normativa:

Art. 659. Nos processos administrativos previdenciários


serão observados, entre outros, os seguintes preceitos:
[...]
II - atuação conforme a LEI e o DIREITO;

Portanto, diante do exposto, verifica-se que o CRPS não está vinculado à


Instrução Normativa (em especial à IN nº 77/2015).

Dever de observação aos precedentes vinculantes:

Além de não haver vinculação do julgamento com o que dispõe a Instrução


Normativa nº 77/2015, os(as) N. Conselheiros(as) deverão observar os
PRECEDENTES VINCULANTES, conforme nova dicção do Código de Processo Civil.
A esse respeito, veja-se o que dispõe o artigo 927 do codex:

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle
concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de
resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos
extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em
matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em
matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais
estiverem vinculados.
§ 1o Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no
art. 489, § 1o, quando decidirem com fundamento neste artigo.
§ 2o A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula
ou em julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de
audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou
entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese.
§ 3o Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do
Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela
oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver
modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da
segurança jurídica. 5
§ 4o A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência
pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos
observará a necessidade de fundamentação adequada e específica,
considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da
confiança e da isonomia.
§ 5o Os tribunais darão publicidade a seus precedentes,
organizando-os por questão jurídica decidida e divulgando-os,
preferencialmente, na rede mundial de computadores.

Nesse sentido o ilustre doutrinador Fredie Didier Jr. assim leciona:

Ao falar em efeito vinculante do precedente, deve-se ter em


mente que, em certas situações, a norma jurídica geral (tese
jurídica, ratio decidendi) estabelecida na fundamentação de
determinadas decisões judiciais tem o condão de
vincular decisões posteriores [...]
No Brasil, há precedentes com força vinculante – é dizer, em
que a ratio decidendi contida a fundamentação de um julgada
tem força vinculante. Estão eles enumerados no art. 927,
CPC.
Para adequada compreensão desse dispositivo, é necessário
observar que o efeito vinculante do precedente abrange
os demais efeitos, sendo o mais intenso de todos eles. Por
isso, o precedente que tem efeito vinculante por
determinação legal deve ter reconhecida sua aptidão para
produzir efeitos persuasivos, obstativos, autorizantes
etc.2

Desta forma, verifica-se que OS PRECEDENTES JUDICIAIS DEVERÃO SER


FIELMENTE OBSERVADOS PELOS TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS, sobretudo
porque a interpretação sistemática do ordenamento jurídico pátrio não deixa
qualquer dúvida a respeito da ilegalidade/inconstitucionalidade da inserção de
norma que tenha por objetivo deixar de observar os precedentes
supramencionados.

Trata-se de regra que deve ser interpretada extensivamente para concluir-


se que é omissa a decisão que se furte em considerar qualquer um dos precedentes
obrigatórios nos termos do art. 927 do CPC.3

Nesse diapasão, oportuno salientar o teor do entendimento do Conselho de


Recursos do Seguro Social:

A consubstancialização da dignidade humana no Direito


Previdenciário sinaliza o reconhecimento de que todo
segurado possui - o direito de ser incluído na condição de
6
verdadeiro cidadão. Isto posta é inconcebível a cidadania sem a
extensão de forma plena do benefício de aposentadoria especial a
todos os segurados do regime geral de previdência social (RGPS)
que laboram em locais considerados nocivos à sua saúde ou à sua
integridade física ou mental. Logo, sonegar direitos é diminuir o
homem, o que significa restringir a sua verdadeira condição
de postular uma vida satisfatória em toda a sua integralidade.
Além disso, o Estado possui o importante papel de, ao positivar as
normas jurídicas, estimular o bem-estar da população e o
desenvolvimento social e humano. Fundamentação Legal:
A Jurisprudência dos Tribunais Superiores é
unânime ao fixar seu entendimento no sentido de que a conversão
em comum do tempo de serviço prestado em condições especiais,
para fins de concessão de aposentadoria, ocorre nos moldes
previstos à época em que exercida a atividade especial, sendo que,
no período anterior à vigência da Lei nº 9.032/95, a comprovação
da efetiva exposição a agentes nocivos era inexigível, uma vez que
o reconhecimento do tempo de serviço especial se dava apenas
em face do enquadramento na categoria profissional do
trabalhador. E a conversão do tempo de serviço especial em

2Didier Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações
probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. Salvador: Jus
Podivm, 2015. v. 2. p. 455.
3 Ibid. p. 456.
comum está limitada ao labor exercido até 28-05-1998, a teor do
art. 28 da Lei n.º 9.711 /98 (Precedentes das Quinta e Sexta
Turmas do STJ (Processo nº 44232.262830/2014-84 / APS
Campinas Carlos Gomes / NB 46/166.336.549-8 / Recorrente:
Paulo José Amorim - Procurador Recorrente: Ronaldo da Silva /
Recorrido: INSS / Rel. Roberval Alves Portela)

No mais, exatamente por ser obrigatória a observância dos precedentes


vinculantes, os julgadores, independentemente de provocação, deverão conhecê-
los de ofício, sob pena de omissão e denegação de justiça.

DO CÔMPUTO PARA FINS DE CARÊNCIA DO PERÍODO EM GOZO DE AUXÍLIO-


DOENÇA

No presente caso a Requerente busca a concessão de aposentadoria por


idade, considerando ter preenchido os requisitos necessários.

Todavia, os xx anos, xx meses e xx dias em que o segurado gozou de


benefício por incapacidade não foram considerados para fins de carência, ainda
que intercalados com períodos contributivos.
7
Para a Autarquia Previdenciária somente nos estados do Sul (RS, SC e PR) se
aplicaria tal possibilidade em face de haver decisão em Ação Civil Pública.

Contudo, é possível verificar na jurisprudência pátria, reiterados


precedentes no sentido da possibilidade de incluir tais períodos para fins de
carência:

Superior Tribunal de Justiça:

PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO


CIVIL DE 1973. APLICABILIDADE. APOSENTADORIA. CÔMPUTO
DO TEMPO DE RECEBIMENTO DE BENEFÍCIO POR
INCAPACIDADE PARA EFEITO DE CARÊNCIA. CONTRIBUIÇÃO EM
PERÍODO INTERCALADO. POSSIBILIDADE. I - Consoante o
decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em
09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da
publicação do provimento jurisdicional impugnado. Assim sendo,
in casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 1973. II - O tempo
em que o segurado recebe benefício por incapacidade, se
intercalado com período de atividade e, portanto,
contributivo, deve ser contado como tempo de contribuição e,
consequentemente, computado para efeito de carência.
Precedentes. III - Recurso especial desprovido. (REsp
1602868/SC, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 27/10/2016, DJe 18/11/2016)

PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CONVERSÃO DA


APOSENTADORIA POR INVALIDEZ EM APOSENTADORIA POR
IDADE. REQUISITO ETÁRIO PREENCHIDO NA VIGÊNCIA DA LEI
8.213/1991. DESCABIMENTO. CÔMPUTO DO TEMPO PARA FINS
DE CARÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE CONTRIBUIÇÃO EM PERÍODO
INTERCALADO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. RECURSO
ESPECIAL NÃO PROVIDO. 1. A Lei 8.213/1991 não contemplou a
conversão de aposentadoria por invalidez em aposentadoria por
idade. 2. É possível a consideração dos períodos em que o
segurado esteve em gozo de auxílio-doença ou de
aposentadoria por invalidez como carência para a concessão
de aposentadoria por idade, se intercalados com períodos
contributivos. 3. Na hipótese dos autos, como não houve retorno
do segurado ao exercício de atividade remunerada, não é possível
a utilização do tempo respectivo. 4. Recurso especial não provido.
(REsp 1422081/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 24/04/2014, DJe 02/05/2014).

Turma Nacional De Uniformização:


8
SÚMULA 73: O tempo de gozo de auxílio-doença ou de
aposentadoria por invalidez não decorrentes de acidente de
trabalho só pode ser computado como tempo de
contribuição ou para fins de carência quando intercalado
entre períodos nos quais houve recolhimento de
contribuições para a previdência social.

Tribunal Regional Federal da 3 ª Região:


PREVIDENCIÁRIO. PROCESSO CIVIL. REMESSA OFICIAL TIDA POR
INTERPOSTA. NULIDADE DA SENTENÇA AFASTADA. ERRO MATERIAL.
APOSENTADORIA COMUM POR IDADE. CARÊNCIA. PERÍODOS EM GOZO
DE AUXÍLIO-DOENÇA. REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS. CORREÇÃO
MONETÁRIA. JUROS DE MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
IMPLANTAÇÃO IMEDIATA DO BENEFÍCIO.
I - Remessa oficial tida por interposta, nos termos da Súmula n. 490 do E.
STJ.
II - A sentença apreciou devidamente o pedido da autora de concessão do
benefício de aposentadoria por idade, tendo ocorrido mero erro material
em seu dispositivo, ao conceder o benefício de aposentadoria por tempo
de contribuição, de modo que não há que se falar em sentença extra
petita.
III - Os períodos em que o segurado esteve em gozo de
auxílio-doença, intercalados com períodos contributivos, hão
que ser computados para fins de carência. Precedentes
jurisprudenciais.
[...]
(TRF 3ª Região, DÉCIMA TURMA, Ap - APELAÇÃO CÍVEL - 2268831 -
0030889-92.2017.4.03.9999, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL SERGIO
NASCIMENTO, julgado em 12/12/2017, e-DJF3 Judicial 1
DATA:19/12/2017).

Por todo o exposto, resta evidente que a jurisprudência pátria consolidou


entendimento de que o tempo em gozo de benefício por incapacidade deve ser
considerado para fins de carência, sendo imperioso que esta Colenda Câmara
profira julgamento neste sentido.

Assim, considerado o período em gozo de benefício por incapacidade como


carência, a Autora preenche as 180 contribuições necessárias, bem como o
requisito etário, de forma que o Acórdão deve ser reformado, sendo concedida a
aposentadoria por idade desde a DER.

ISSO POSTO, requer:

a) O recebimento do presente recurso; 9


b) Seja encaminhado o presente Recurso Especial à Câmara de
Julgamento do Conselho de Recursos do Seguro Social, bem como
toda a documentação juntada ao processo e ao presente recurso;

c) A produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em


especial a documental.

d) O cômputo para fins de carência dos seguintes períodos em que a


Requerente gozou do benefício de auxílio-doença: XXX

e) O provimento do presente recurso para a concessão do benefício de


APOSENTADORIA POR IDADE, a partir da data do requerimento
administrativo (XX/XX/XXXX).

Termos em que,

Pede deferimento.
Local, data.

Advogado(a)

OAB/UF nº

10

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