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SEM AUTORIZAÇÃO
(art. 16 da Lei n. 7.492/86)
Elaborada em 18/11/2013
A Lei n. 7.492/86, antes de tratar sobre os crimes, logo em seu art. 1º, define em que consiste uma
instituição financeira para os efeitos penais.
A Lei conceitua, no caput do art. 1º, o que é instituição financeira e também apresenta entidades que
devem ser a ela equiparadas (parágrafo único).
Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de direito
público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não,
a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda nacional
ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou
administração de valores mobiliários.
Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:
I - a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou
qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros;
II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda que de
forma eventual.
instituição financeira.
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Exemplos: agência de turismo que faz operações de Exemplo: pessoa física que exercia atividade de
câmbio, fundos de pensão, empresas de consórcio. consórcio sem autorização do BACEN.
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Factoring
As empresas de factoring são consideradas instituições financeiras?
NÃO. A factoring não faz a captação de dinheiro de terceiros, como acontece com os bancos. A empresa de
factoring utiliza recursos próprios em suas atividades.
Logo, a factoring não integra o Sistema Financeiro Nacional nem necessita de autorização do Banco Central
para funcionar. Nesse sentido: CC 98.062/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em
25/08/2010.
Resumo:
Instituição financeira em I – a captação, intermediação ou aplicação de recursos
SENTIDO PRÓPRIO financeiros de terceiros;
é a pessoa jurídica (de direito privado
ou público) que realiza, como atividade II – a custódia, emissão, distribuição, negociação,
principal ou acessória intermediação ou administração de valores mobiliários.
Vamos estudar agora o art. 16 da Lei n. 7.492/86, que traz o delito de fazer operar instituição financeira
sem a devida autorização ou obtida com declaração falsa.
Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida mediante declaração
(Vetado) falsa, instituição financeira, inclusive de distribuição de valores mobiliários ou de
câmbio:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Para que uma instituição financeira seja criada e funcione é necessária autorização?
SIM. Uma instituição financeira é uma atividade econômica que, se conduzida de forma inadequada, pode
gerar gravíssimos prejuízos a terceiros e à economia do país. Como exemplo, basta recordar os inúmeros
problemas que ocorreram em razão da liquidação dos Bancos Econômico, Nacional e Bamerindus, na
década de 90. Além disso, se não houver uma intensa fiscalização, a atividade bancária pode servir como
instrumento para a prática de delitos, como a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas.
Por essas razões, a Lei n. 4.595/64 afirma que as instituições financeiras somente poderão funcionar no
País com a prévia autorização do Banco Central. Se forem estrangeiras, será necessário ainda um decreto
do Poder Executivo (art. 18).
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Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum).
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Distribuição de valores mobiliários ou de câmbio:
O art. 16 afirma que também está incluída no conceito de instituição financeira a atividade de “distribuição
de valores mobiliários ou de câmbio”. Essa menção era desnecessária, uma vez que o inciso I do parágrafo
único do art. 1º da Lei já havia feito essa equiparação.
Consórcios: como vimos nos comentários ao parágrafo único do art. 1º da Lei, quem desempenha a
atividade de “consórcio” é equiparado à instituição financeira. Justamente por isso, o STF entende que a
pessoa que faz funcionar consórcio sem autorização legal pratica o delito do art. 16:
De acordo com os artigos 1º, parágrafo único e inciso I, e 16 da Lei nº 7.492, de 16 de junho de 1986,
consubstanciam crimes contra o Sistema Financeiro Nacional a formação e o funcionamento de consórcio à
margem de balizamento legal, de instrução do Banco Central do Brasil. (...)
(RHC 84182, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 24/08/2004)
Consumação: ocorre com a prática de ao menos uma operação própria de instituição financeira.
Para que se consuma, não é necessária a ocorrência de prejuízo para terceiros.
Trata-se de crime formal e de mera conduta.
Tentativa: é possível.
Factoring
Se o dono/administrador da factoring utiliza a empresa para emprestar dinheiro, pratica esse crime?
Como vimos acima, a factoring não é uma instituição financeira, considerando que não pode fazer a
captação de dinheiro de terceiros, como acontece com os bancos. Além disso, a factoring não pode
emprestar dinheiro. O que a factoring pode fazer é “comprar” títulos de crédito que ainda irão vencer,
fazendo com que a empresa aumente seu capital de giro.
Desse modo, repito: a factoring não pode fazer empréstimos.
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(...) As empresas popularmente conhecidas como factoring desempenham atividades de fomento
mercantil, de cunho meramente comercial, em que se ajusta a compra de créditos vencíveis, mediante
preço certo e ajustado, e com recursos próprios, não podendo ser caracterizadas como instituições
financeiras.
3. In casu, comprovando-se a abusividade dos juros cobrados nas operações de empréstimo, configura-se o
crime de usura, previsto no art. 4°, da Lei n° 1.521/51, cuja competência para julgamento é da Justiça
Estadual. (...)
(CC 98062/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 25/08/2010)
Excepcionalmente, pode-se imaginar uma situação em que a factoring, de forma ilegal, capta dinheiro de
terceiros e empresta esses recursos, com cobrança de juros, a outras pessoas. Ex: João cede 100 mil reais
para a factoring e esta empresta esse dinheiro para Antônio, que irá pagar 10% de juros ao mês. A factoring
remunera João com 3% e lucra 7%. Nesse caso, como a factoring captou e aplicou recursos de terceiros,
operou como verdadeira instituição financeira, o que configura, em tese, o crime do art. 16 da Lei n.
7.492/86, de competência da Justiça Federal (CC 115.338/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira
Seção, julgado em 26/06/2013).
Agiota
O chamado “agiota” pratica o delito do art. 16?
Em regra não. O agiota é aquela pessoa que empresta dinheiro seu a outras pessoas, cobrando juros e
multa superiores aos que são legalmente permitidos. Segundo o entendimento majoritário, o agiota não
pode ser equiparado a instituição financeira em razão de emprestar recursos financeiros próprios (e não de
terceiros).
Logo, o agiota responde pelo delito do art. 4º da Lei n. 1.521/51 (Lei de Economia Popular), delito de
competência da Justiça Estadual, e não pelo art. 16 da Lei n. 7.492/86.
(...) Na hipótese em que se cuida de empréstimos a juros, com valores próprios e não captados de terceiros,
há, em tese, delito de usura e, não, contra o Sistema Financeiro.
(CC 99305/PR, Min. Maria Thereza De Assis Moura, Terceira Seção, julgado em 11/02/2009)
No entanto, se ficar comprovado que o agiota faz a captação de recursos de terceiros e, com essas verbas,
empresta para outros, poderá ser equiparado à instituição financeira e, portanto, praticar o art. 16. Essa,
contudo, não é a situação mais comum na prática.
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. (Incluído pela Lei 10.303/2001)
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Diante disso, indaga-se: o crime do art. 16 da Lei n. 7.492/86 foi revogado pelo delito do art. 27-E da Lei
n.º 6.404/76 (Incluído pela Lei 10.303/2001)?
Não. Segundo decidiu o STF, não houve revogação, uma vez que a objetividade jurídica dos tipos penais é
distinta e há elementos da estrutura dos dois tipos que também não se confundem. O bem jurídico
tutelado pela Lei n. 7.492/86 é a higidez do Sistema Financeiro Nacional, considerando-se instituição
financeira aquela que tenha por atividade principal a captação, intermediação ou aplicação de recursos
financeiros de terceiros. A seu turno, a Lei 10.303/2001 protege a integridade do mercado de valores
mobiliários (HC 94955/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 21.10.2008).
Desse modo, o crime do art. 27-E da Lei n.º 6.404/76 é específico em relação ao do art. 16.
COMPETÊNCIA
O inciso VI afirma que os crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem econômico-financeira
somente serão de competência da Justiça Federal nos casos determinados por lei. Em outras palavras, nem
todos os crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem econômico-financeira serão de competência
da Justiça Federal, mas apenas nas hipóteses em que lei assim determinar.
Os crimes contra o sistema financeiro estão previstos na Lei n. 7.492/86 e são julgados pela Justiça Federal
por expressa previsão legal. Isso porque o art. 26 da lei n. 7.492/86 estabelece:
Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério Público Federal,
perante a Justiça Federal.
O crime de concessão de empréstimos vedados, previsto no art. 34 da Lei n. 4.595/64, de certa forma
também atenta contra o Sistema Financeiro Nacional, no entanto, no caso desse delito, a competência
será, em regra, da Justiça Estadual, considerando que não existe lei atribuindo sua apuração à Justiça
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