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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

DIREITO DA BANCA E SEGUROS


EXAME 16 de junho às 18h

DIREITO BANCÁRIO – LUÍS MIGUEL VASCONCELOS


LEI BANCÁRIA
Lei do contrato de seguro anotado
Aval e prescrição – Revista comercial

08/03/2022
ALGUNS CONCEITOS DE DIREITO BANCÁRIO:
CORE BUSINESS – atividade principal de uma determinada empresa. Qual é o core
business da banca? Qual a sua atividade principal? Receber depósitos e, com esses
depósitos, contribuir para o desenvolvimento da economia.

As instituições de créditos contêm bancos, sendo certo que estes são um tipo de
instituição de crédito.
p.ex. a caixa geral agrícola não é um banco, é uma instituição de crédito, que
tem como objetivo financiar um determinado setor – art. 3º LB
Quando dizemos “banco” estamos a ser redutor, uma vez que este é apenas uma espécie
de instituição de crédito. Uma sociedade financeira tem objetos regulados próprios.
Dentro das instituições de créditos temos os bancos. O art. 8º LB consagra como
atividade exclusiva do banco receber depósitos – p. da exclusividade. Para que é que
isto serve? Quando o particular recebe o rendimento, tiramos automaticamente o
necessário ao consumo (alimentação, vestuário, estilo de vida – hobby, combustível,
etc.), sendo que o que sobra, o excedente, é chamado de aforro (poupança1 – aquilo que
a pessoa pode optar por poupar2). Com o excedente podemos:
 Poupar, à moda do meu avô (esconder no quintal, p.ex)
 Depositá-lo numa instituição bancária, sendo que sou uma mera depositária (isto
não é investimento nenhum, sendo que, se o banco entrar em insolvência –
ocorrer um desequilíbrio financeiro- os montantes depositados são cobertos pelo
fundo de garantia de depósitos até um máximo de 100.000). No entanto, se eu
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A poupança é a base da economia.
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A função do dinheiro é gerar mais dinheiro

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investir, este valor já não é coberto pelo fundo de garantia de depósitos, mas sim
pelo SII (sistema indemnização investidor) até um máximo de 25.000 €.

O investidor pode ser não qualificado, este é comparado a um consumidor,


sendo que em termos de experiência quase não tem nenhum. Quanto mais
rentabilidade o produto oferece, mais probabilidade tenho de perder o capital. O
que vai variar sob o produto que vou investir é o meu perfil, sendo que cabe ao
banco analisar o meu perfil.
Investidor qualificado é mais experiente, sendo que tendo mais conhecimento
tende a cometer mais riscos, tendo produtos financeiros mais arrojados.
Também podemos ser investidores por conta própria (ex: DJIRE)

Não é só com os depósitos que o banco injeta na economia, sendo que, também ele
próprio (o banco) vai se financiar junto com os outros bancos, e , é com isto que temos a
concessão de crédito.

Um conceito importantíssimo nos bancos é a ratio de solvabilidade - percentagem que


se obtém através da diferença de fundos próprios e os riscos a que os bancos estão
expostos. Se a rácio de solvabilidade for de 8% quer dizer que em cada 100 só pode
emprestar 8, sob pena de colocar em crime a minha situação. Se a ratio estiver a baixo
de 8%, e o banco, mesmo assim, tiver emprestado, o banco de Portugal vai interpor o
banco vai equilibrar a sua balança, reequilibrar o seu ratio, nomeadamente através do
aumento dos fundos próprios (injetando dinheiro) ou diminuir os riscos, nomeadamente
cortando nos créditos (ex: até ao final do ano não pode emprestar 3 mais), ou ainda,
limpando os riscos a que se está exposto (através da titularização).

MERCADO PRIMÁRIO – subscrição de títulos no momento da sua emissão. Quem


vende o titulo (p.ex. ações) é a entidade emitente de valores mobiliários, usando esses
recursos para se financiar.

MERCADO SECUNDÁRIO – transacionar os títulos subscritos posteriormente.


Aaqui, o vendedor é investidor que se quer desfazer dos títulos para reaver o seu

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Quando a economia está em crime, torna-se frequente o facto de “estar difícil obter crédito”. É muito
inseguro emprestar, então corta-se no financiamento.

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dinheiro. os negócios realizados em Bolsa de Valores correspondem ao mercado


secundário.

MERCADO REGULAMENTAR (bolsa) – ex: a EDP está mal e precisa de se


financiar. O que fazer? Uma empresa normal dirige-se ao banco e pede um crédito.
Outra forma seria pedir empréstimo, não ao banco, mas sim aos investidores, através da
emissão de obrigações. Quando eu subscrevo as obrigações de uma empresa, estou a
emprestar dinheiro à mesma ( ex: peço emprestado 100k. depois vou ter de pagar 1 ano
– 5.000, 2º ano – 5.000; etc. 5º ano – 100k + 5.000).
Obrigações de tesouro – empréstimos ao estado português, que posteriormente
será pago o capital, juntamente com a taxa de juro.
Bilhetes de tesouro – empréstimos feitos ao estado, mas que recebemos ao final
de 2 anos.
Outra forma seria, não pedindo dinheiro emprestado, mas abdicando de parte da
empresa, nomeadamente através da venda de ações. A empresa financia-se admitindo
novos acionistas.
Ex: A EDP emitiu um conj de ações novas. Onde vou comprar? No mercado
primário, que são títulos que são emitidos diretamente ao comprador, nunca
foram transacionados.
Depois pode ser vendido a outro investidor, no mercado secundário
Os negócios feitos na bolsa são todos no mercado secundário, já que não são
novos, já foram obtidos por outra pessoa.

Intermediação financeira - atividade destinada a efetuar um match entre a oferta e a


procura no mercado dos capitais, entre as empresas com necessidades de financiamento
e os aforradores/investidores, assegurando o funcionamento de forma eficaz do
mercado. Atividade que visa juntar a “fome” com a “vontade de comer”, i.e., um
intermediário financeiro vê que alguém quer investir, e então tira proveito disso,
destinando-se a intermediar a procura e a oferta conforme as necessidades que a pessoa
tem. Conhece as necessidades opostas, mas que são conjuntas.

ASF - é a entidade de supervisão de seguros e de fundos de pensões em Portugal.


BP - banco de Portugal
CMVM - comissão de mercado de valores mobiliários
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Risco sistémico – é a justificação utilizada para recapitalização de determinados bancos


(ex: BANIF). Mas o que é?
O sistema financeiro assenta em 3 setores: banca; bolsa/mercado regulamentar; setor
segurador. Todo o sistema financeiro assenta na atividade desenvolvida por estes três
setores.
 Banca – há uns anos atras a banca estava internamente dividida entre banca de
retalho (quero abrir uma conta, quer depositar um cheque, quero pagar as contas,
etc... --- ou seja, receber depósitos, fornecer créditos) e banca de investimento
(especialistas em investimento – dedicados apenas para o investimento). Havia
uma separação, sendo que estes não se influenciavam. Há quase 20 anos que já
não é assim. Atualmente existe uma banca universal, sendo que podemos
investir em qualquer lado, salvo se se tratar de um investidor com milhões e aí é
tratado como “private” e passado para outra agencia. Hoje o banco não faz a
distinção entre banca a retalho com a banca de investimento e se alguma coisa
correr mal, ambos vão ficar afetados, não há uma separação. A banca é
supervisionada pelo banco de Portugal no que respeita à banca de retalho, a
banca de investimento é supervisionada e fiscalizada pela CMVM, que o faz em
relação a todo o sistema de investimento (se tem ou não licença, etc.).
 Bolsa - temos uma sociedade corretora – quem fiscaliza? A CMVM
 Seguro - O setor segurador é fiscalizado por quem ? ASF – autoridade de
supervisão de seguros e fundos de pensão

Os três juntos formam comissão nacional de sistemas financeiros.


Qual o seu risco? Atualmente os bancos são os principais mediadores de seguros, o
que acaba por trazer vários problemas. Art. 3º, al. m) LB
Há garantias bancárias que, em vez de serem dadas pelo banco, são dados pelo
seguro.
Interligação entre banco e seguradora, mas tb entre bancos e banca.
Antigamente haviam muros, não podendo haver intercomunicação entre os setores.
Se o setor bancário tivesse uma crise, não afetava os demais. Atualmente esses
muros foram abolidos, o que faz com que, caso ocorra mal num setor afeta os
demais. Todo o sistema financeiro pode ficar em crime – RISCO SISTÉMICO. Em

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virtude da queda de uma atividade impactante, provoca crise em todo o sistema


financeiro.

MORAL HAZARD – risco moral – excesso de confiança/excesso de ego. Quando


os gestores das grandes empresas, extremamente impactante, pensam em arriscar
mais do que é necessário. E porquê? Porque sabem que vai vir alguém “salvá-los”,
já que eles são “too big to fail” (ex: Limon brothers). É esta mentalidade que nos
leva a resgatar constantemente estas empresas. Mas e se, em vez deste pensamento,
pensássemos que estas empresas são “too big to save”? será que as consequências
seriam mais gravosas? Ou não? Não sabemos, pq a decisão é sempre de resgatar4.

AFFINITY CARD/CO-BRANDED CARD5 - cartão bancário multimarca emitido


em resultado de um acordo com uma instituição não financeira e que tem por
objetivo proporcionar vantagens diversas aos associados, como certos descontos
quando efetuam compras em diversos comerciantes ou outros benefícios. O nome
e/o o logotipo da instituição não financeira aparece normalmente na frente do cartão,
além do nome e/ou do logotipo da entidade emitente e da marca ou marcas
associadas ao cartão.

Anatocismo - juros sob juros. Ana + tokos – repetição + juros. Fenómeno de


calcular juros sob juros. Não é permitido. Todavia pode ser convencido pelas partes,
através da contabilização de juros não pagos.
ex: Se estamos muito tempo em mora, o banco pode calcular juros sob juros

ATM - automatic Teller machine

Caixa Económica - instituição de crédito associada ou pertencente a uma


associação mutualista beneficiente, de caráter social. As caixas económicas captam
essencialmente poupanças de particulares sobre a forma de depósitos e que aplicam
na concessão de empréstimos hipotecários e sobre penhores in aquisição de títulos.

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Quem toma estas decisões são é o setor financeiro, mas sim o político. Quando estamos perante partidos
polítos muito à esquerda, a solução, geralmente, é não resgatar. “agiste mal? Agora arcas com as
consequências”. Partidos mais à direito, geralmente, pretendem sempre resgatar, porque, alegadamente, as
consequências seriam sempre muito catastróficas.
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Ex: Santander tem parceria com a Repsol, sendo que tem desconto.

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Caixas de crédito agrícola mútuo (CCAM) - são instituições de crédito de


natureza bancária que possuem um estatuto próprio, não podendo praticar todo tipo
de operações bancárias mas, somente, as mais tradicionais. Destinam-se ele se
aumenta promover e apoiar o investimento no setor agrícola.

Carência de capital - período durante o qual as prestações apenas são compostas


por juros, mantendo-se o capital em dívida inalterado.

Carência de capital e juros - período durante o qual não há pagamento de


prestações, sendo o valor dos juros acumulado ao capital em dívida. No final do
período de carência de capital e juros o montante em dívida corresponde ao capital
em dívida no início do período de carência acrescido de juros não pagos durante
esse período.

Cash-advance - adiantamento de dinheiro. É a possibilidade conferida ao titular de


um cartão de crédito de levantar dinheiro em caixas automáticas ou aos balcões dos
bancos que disponham dessa funcionalidade. O valor do levantamento é, tal como as
compras em comerciantes, lançado na respectiva conta cartão. A utilização do cash-
advance não é gratuita e está sujeita ao pagamento das taxas de juro e comissões que
devem constar das condições gerais de utilização acordadas com o respetivo
emissor.

Central de responsabilidades de crédito (CRC) – Base de dados assegurado pelo


Banco de Portugal, com informação prestada pelas entidades participantes sobre os
créditos concedidos, i.e., contém informações sob determinada pessoa (quais os
créditos que tem, quais as contas, etc.). Facultam um conjunto de serviços que
permitem uma melhor avaliação do risco de crédito na economia portuguesa. A
central contém informação sobre as responsabilidades de crédito efetivas assumidas
por qualquer pessoa singular ou coletiva perante as entidades participantes virgula
bem como as responsabilidades de créditos potenciais que representem
compromissos irrevogáveis. No caso de sermos fiador, na CRC aparecemos como
potencial devedora, podendo dificultar a concessão de crédito, quando houver uma
análise à minha situação. Mesmo que a fiança nunca seja acionada, posso sair
prejudicada.
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Lista negra – difere-se de CRC. Esta consiste numa lista de números de débito ou
crédito que foram perdidos, burlados, etc. é uma espécie de base de dados, para que
sempre que haja utilização deste cartão, gera um alerta para se verificar.

Cheque bancário – título de crédito banco sobre uma conta desse mesmo banco. É
obrigatoriamente nominativo e existe sempre garantia do seu pagamento.
Sacado - Banco que paga o cheque
Sacador - Entidade que emite o cheque
Endosso - Forma pela qual o beneficiário do cheque pode transmitir todos os
direitos resultantes do cheque a outra entidade. Pode consistir na simples
assinatura do beneficiário no verso do cheque (endosso em branco) ou na
indicação do novo beneficiário também no verso do cheque.
LUR - listagem de utilizadores de cheque que oferecem risco - constituída por
entidades a quem os bancos não podem fornecer módulos de cheque para
movimentação de contas de depósito durante o período de 2 anos.
Regularização de cheque - demonstração junto do Banco sacado da liquidação
da importância devida ao beneficiário do cheque, acrescida de juros de mora o,
em caso de cheque pago pelo Banco por ser de montante inferior a 150 EUR,
depósito do valor do cheque nesse banco, não sendo exigíveis juros de mora.
Rescisão da Convenção de cheque - decisão tomada por uma instituição de
crédito de pôr fim ao contrato celebrado com o seu cliente que lhe atribuía o
direito de movimentar as contas de depósito através de cheque.
Valor tem de aparecer em numerário e por extenso, sendo que caso não
coincidam prevalece o que está por extenso
Assinatura tem de ser igual à que colocamos no documento de abertura da conta
do banco
 Cheque à ordem – o endosso é permitido, podendo haver diversos. Eu
assino o cheque e é como se o passasse, como se se tratasse de um título ao
portador.
Ex: entreguei a x um cheque à ordem. X vira o cheque ao contrário e
onde diz “endosso” e assina, entregando-o a Y. Y pode fazer o mesmo ,
endossando-o a Z.

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 Cheque não à ordem - cheque em que não foi aposta a cláusula “não à
ordem” antes ou depois do nome da entidade que conta como beneficiária.
Este cheque é pago ao beneficiário nele indicado e não pode ser endossado.
O endosso é proibido, o que significa que, se colocarmos o número só aquela
pessoa é que pode depositá-lo. Um cheque não à ordem pode ser um título ao
portador? Pode, desde que seja não inominativo, ou seja, desde que não
tenha o nome.

 Cheque cruzado (art. 38º LUC) - cheque atravessado por 2 linhas paralelas
e oblíquas. Se entre as linhas paralelas nada estiver escrito, o cruzamento diz
cruzamento geral: o cheque deve ser depositado, num banco qualquer, mas
pode ser pago ao balcão se o beneficiário for cliente do Banco sacado. Se
entre as linhas paralelas estiver escrito o nome de um banco, o cruzamento
diz-se especial: o cheque só pode ser depositado no banco indicado entre as
linhas, embora possa ser pago ao balcão se o banco indicado for sacado e o
beneficiário for cliente do mesmo.

 Cheque visado é um cheque normal que foi assegurado a sua cobertura pelo
banco, através de visto ou carimbo. Este tem a validade de 8 dias, ficando o
dinheiro “cativo” durante este período de tempo, sendo que a pessoa que o
recebe deve depositá-lo também neste período (art. 29º LUC).

 Checa levar em conta (art. 39º LUC)- o sacador e o portador de um cheque


podem proibir o seu pagamento em numerário, inserindo na face do cheque
transversalmente a menção “para levar em conta”, ou outra equivalente.
Neste caso o sacado só pode fazer a liquidação do cheque por lançamento da
escrita (crédito em conta, transferência de uma conta para a outra ou
compensação). A liquidação por lançamentos da escrita vale como
pagamento. A inutilização da menção “para levar em conta” considera-se
como não feita.

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Passar um cheque sem provisão é crime? O legislador trata esta situação dependendo
das circunstâncias.
Se o cheque sem provisão for pré-datado não é crime (ex: A vende me um automóvel
por 20.000. Passo um cheque sem provisão, se não for pago no dia que coloquei no
cheque, é crime. No entanto, se eu informar que só tenho esse valor daqui a 1 mês,
posso passar um cheque pré-datado, e aqui já não é crime). Deste modo, dizem que o
cheque tem de ser “justificado”, uma vez que se não justificarmos ao banco o porquê de
aquele cheque for emitido sem provisão somos incluídos na LUR (lista utilizadores de
risco de cheques). Quando temos o cheque original, o banco entende que temos uma
justificação plausível. Se não houver o original, o que muitas vezes acontece é
negociação entre as partes.

TAEG – taxa anual de encargos efetiva global- é uma taxa em percentagem anual que
expressa o custo total que o mutuário tem com um crédito. Geralmente a TAEG que for
mais baixa é a que tem o crédito mais barato, se o banco calculou certo, uma vez que é
possível não o fazer (ex: há uns anos ocorreu isso com duas instituições bancárias: caixa
geral de depósitos, e millenium bcp).
Distingue-se da TAE por incluir também os impostos associados ao empréstimo e por se
referir apenas ao crédito do consumo.

Taxa de esforço (DSTI) Debit service to income – proporção do rendimento de um


agregado familiar afeta o pagamento de um empréstimo. Pretende medir a capacidade
do agregado em cumprir as responsabilidades assumidas com um empréstimo. Ratio
entre os meus rendimentos e aquilo que tenho de despender com prestações de crédito
(ex: ganho 100, e 30 é para pagar crédito, a minha taxa de DSTI é de 30%).

MTIC – Montante total imputado ao consumidor.

Distrate – é uma declaração do banco em que se menciona que está tudo pago e por
isso está autorizado a fazer o cancelamento da garantia. Basicamente é um recibo de
quitação.
Ex: tenho uma hipoteca sobre a casa. Pago a casa. Vou pedir um distrate

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SPREAD - lucro entre o preço de compra e o preço do ativo. Lucro que o banco tira de
uma operação. Diferença entre os preços de oferta e de venda e de compra de um
determinado ativo ou instrumento. Termo também utilizado para referir o acréscimo ao
indexante, que os bancos exigem quando concedem um financiamento com taxa
variável.

11/03/2022
10/03/2023

Carencia de capital/carência de juros/ carência de capital e juros – suspensão do


dever de pagamento de capital, ou de juros remuneratórios, ou das duas coisas. Ex.
quando vamos a um banco e pedimos crédito, além de todos os docs que o banco
disponibiliza, há um em especial que é o plano de pagamento onde descrimina o capital,
jutos, impostos e custos com aquela prestação. No inicio do plano pagamento há mais
valor de juro, e menos de capital, e após os 5 anos, há menos juro e mais capital. Isto
porque, há um estudo que determina que as pessoas incumprem mais o contrato após os
5 anos, e também porque assim o banco recebe o juro remuneratório mais rápido.
No caso de amortização, a taxa é maior no inicio (primeiros 5 anos) do que no fim, isto
porque o banco tem uma expectativa de receber X de juros e não tem interesse que
liquidemos antes, i.e., ele quer fazer dinheiro com a nossa necessidade.
Em virtude das moratórias, as pessoas conseguiram não entrar em incumprimento, pois
esta determina a suspensão do dever de pagar o capital, juros ou as duas coisas. As
prestações que não são pagas nas moratórias, são pagas no fim.

Amortização - liquidar, de maneira a diminuir o montante em divida.


Há uma nova lei – 80-A/2022, que permite às famílias que em virtude da subida
exponencial da taxa de juro (+35%), poderem renegociar o crédito. Isto serve para evitar
o incumprimento. Estas medidas são para as pessoas que ficaram com taxa de esforço
superior a 35%.
Há uma medida que está consagrada nesse DL, que mesmo que a pessoa não tenha uma
taxa de esforço de 35%, pode durante o ano de 2023 amortizar totalmente ou
parcialmente o crédito, estão suspensas as taxas de amortização.

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Paralelamente a esta lei, o Gov fez outra, para que as pessoas possam ir buscar € às
poupanças sem taxas, para que estas possam ir buscar dinheiro às poupanças e amortizar
os créditos habitação , de maneira a ficarem mais folgadas.

Ex. se uma pessoa não paga X prestação crédito normal (s/ ser habitação) , o que pode
fazer o banco ? Com a falta de pagamento de uma, vencem-se todas. Pode executar,
porquanto tem titulo executivo nos termos do art. 703º al. b) CPCP. Normalmente, o
que o banco faz é só dizer quanto deve, mas, no entanto deveriam descriminar tudo o
que se pede.
Mas a lei manda que descrimine.
Ex. se calcula juros de 7 anos, podemos alegar que 2 estão prescritos.
E mais, se o banco pedir o capital total, não pode. Ele tem de retirar os juros
remuneratórios. Isto porque, estes só são devidos porque o banco é privado daquela
quantia até ao final do contrato, e se ele já não vai ficar privado do €, não tem de cobrar
aqueles juros. – ver Ac. Uniformizador

Art. 28º DL 74ºA/2017 – para que o banco possa declarar a resolução de um contrato,
no crédito à habitação, não o pode fazer com a falta de pagamento de uma prestação.
Tem de haver 3 prestações em atraso, integrais e sucessivas. O banco tem que notificar
e dar novo prazo para pagar e que diga, expressamente, que se não pagar dá direito a
resolução.

Nota: Quando incumprimos, o imóvel vai há venda por 85% do VPT ou do valor de
mercado consoante o maior. Por vezes o valor do imóvel é muito baixo (nas finanças).
O advogado pode impugnar esse valor e pedir avaliação do imóvel para que o imóvel
não vá a venda por aquele preço baixo.

Cash advance – Cartões de crédito são os mais usados.

Bolsa – PSI20 é o índice associado à nossa bolsa. As ações sobem e descem, sendo que
essas dão uma percentagem. A performance (média) em que as empresas tiverem em X
dia, é a PSI. Se a PSI for negativa, diz-se que o desempenho de todas foi baixa. Os
índices bolsistas refletem a performance que está associada naquele dia.

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EURONEXT LISBON – É o nome da bolsa portuguesa. Esta plataforma


renegoceia em vários países. Representa uma das maiores bolsas na Europa, mas
não é a única (ex. FWB; LONDON STE).
Há bolsas com impacto a nível mundial, como a dos EUA – AMEX ; NYSA;
NASDAQ (empresas tecnológicas).
Quem está a querer concorrer com os EUA em termos de economia emergente?
China. As bolsas da China são XSA e STAR MARKET (empresas tecnológicas)
e HONG KONG SA; TOKIO SA.

O que são índices bolsistas? O índice bolsista é um valor que traduz a tendência geral
de um determinado conjunto de títulos, nomeadamente, ações, através de uma média
das subidas e das descidas. O valor do índice é relativo.
Mercados Financeiros – Mercado de capitais ou mercado monetário são os segmentos
dos mercados financeiros. O mercado monetário também é dividido em intrabancário e
de operações.
No mercado monetário participam apenas instituições financeiras que compram e
vendem entre si e visam operações de curto prazo (liquidez/tesouraria). Os fins visados
são a arbitragem, cedência de fundos excedentários, captação de fundos e gestão de
risco de taxa de juro - FRA. Os títulos negociados são BT’s, papel comercial (títulos de
dívida equivalentes a BT’s mas para dívida emitida por empresas), repôs (repurchase
agrémentes).
O mercado de capitais É para operações de médio longo prazo, como operações com
ações ou obrigações.

Todos os instrumentos que atinjam uma maturidade (vencimento) a curto prazo (12
meses) são negociados no mercado monetário; e os superior a 12 meses são negociados
no mercado de capitais.
Ex. Quando subscrevo uma obrigação, subscrevo titulo de divida, empresto
dinheiro. Os financeiros não dizem “qual é o juro da tua obrigação?” mas antes
“qual é o cupão?”. Imaginemos que emprestei dinheiro à sic, e a obrigação é de
5 anos, é negociada no mercado de capitais. Nos primeiros 4 anos só recebo o
cupão e no ultimo ano recebo o capital + cupão.
Dependendo do tipo de investimento que queremos fazer, e do timing, temos que saber
movimentar-nos. No mercado de capitais, tem um período de maturidade mais longo.
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RISCOS COMUNS DOS MERCADOS FINANCEIROS

1. RISCO SISTÉMICO – Quando algo corre mal com uma entidade impactante.
São fenómenos de contágio de estabilizadores do mercado e que não se elimina
com a simples diversificação da carteira de investimento.

2. Risco de contraparte ou risco de crédito ou Default Risk– O risco que


corremos a emprestar dinheiro seja lá a quem for. É o principal risco.

3. Risco de mercado – Risco que tenho que, em virtude da inflação, o preço das
matérias que eu preciso para desenvolver a minha atividade se torne muito caro
e o meu lucro diminui.

4. Riso de liquidez – risco de não conseguir obter-se fundos a preço normal de


mercado. Ex. imaginemos que a balenciaga precisa de se financiar e emite
obrigações (Emprestem-me dinheiro), se a empresa tem má imagem não
consegue liquidez, as pessoas dizem que emprestam, mas não a 2% mas antes a
10%, ela tem que se financiar a um preço mais alto.

5. Risco operacional – Traduz NOS prejuízos provenientes de erro humano de


processo, técnicos ou tecnológico.
Ex. por um erro humano uma empresa pode fechar (exemplo do
COVID).

6. Risco soberano/país – o risco de um país não conseguir assumir as suas


obrigações. Ex. Quando a Grécia queria sair da UE, e achavam que a Grécia ia
falir. Aliás, acharam que nós íamos falir a seguir (PIIG’S).
Quando uma empresa tem avaliação de AAA , é risco 0.
Existem imensas empresas de Rating no mundo, mas as mais importantes são
EUA. O mercado é que decide se somos cumpridores ou não.
Quando nos atribuem um rating de “lixo” como foi o caso de PT, já ninguém
investe em nós ao preço normal.

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7. Risco cambial – faço investimento em dólar neozelandês e a taxa de cambio


muda.

8. Risco de taxa de juro – risco do meu investimento de tornar muito mais


oneroso em virtude de uma taxa de juro desfavorável.

INSTRUMENTOS FINANCEIROS ONDE PODEMOS INVESTIR (PLAYN


VANILLA [+ BASICOS]):

Entende-se por instrumento financeiro todo e qualquer bem ou ativo intangível dotar de
valor patrimonial, Expresso pecuniariamente, que seja susceptível de ser objeto de
transações no mercado.
Não se pode confundir com títulos de crédito: os títulos de crédito representam relações
bilaterais existentes entre os intervenientes do processo de circulação cartolar (cheques,
letras, livranças) E também, regra geral, não são emitidos de forma massificada, pelo
que não incorporam relações jurídicas homogéneas.

Regulados no Código de Valores mobiliários – que regula TODOS os instrumentos


financeiros que podem ser valores mobiliários (securities) ou derivados financeiros
(derivetis).

Formas de negociação: Life conect (existe uma camara de compensação, i.e., não
vendo diretamente, há uma espécie de intermediário); ou SMM (recurso a outra
plataforma FOREX, é venda direta); OTC (negociado bilateralmente ao balcão). A
forma de compensação varia consoante o sistema financeiro.

Tipos de instrumentos financeiros (art. 2º, nº1 CMVM):


1. valores mobiliários;
2. derivados;

Valores mobiliários: características distintivas


1. são direitos e não coisas, nem sequer corpóreas

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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

2. são direitos representados e deve existir uma relação estreita entre o direito
representado e o valor representativo
3. são emitidos de forma massificada em conjuntos homogéneos
4. são transmissíveis sem dependência de observância das regras de cessão de
crédito
5. devem ser potência dores de gerar proveitos - frutos civis
6. suscetíveis de ser negociados em mercado organizado (aliás e a propósito, só os
títulos de crédito negociáveis seriam admitidos à categoria de valores
mobiliários.

Os valores mobiliários são documentos emitidos por empresas e outras entidades, por
regra, de forma massificada, e que representam direitos ou deveres, podendo ser
transacionados em bolsa/mercado regulamentado.

Para demites constituem uma fonte de financiamento alternativa aos habituais mútuos
bancários. Para os investidores são uma fonte de investimento e aplicação de poupanças
distintas dos típicos depósitos a prazo ou certificados de aforro. Assim, existem valores
mobiliários que oferecem um nível de rendibilidade diversificado e de risco associado
também, podendo assim cada investidor optar pelo valor mobiliário que se adapte
melhor ao seu perfil de investimento.

Artigo 1º do CVM : imprimir.

Artigo 1.º
Valores mobiliários
1 - São valores mobiliários, além de outros que a lei como tal qualifique:
a) As ações;
b) As obrigações;
c) Os títulos de participação;
d) As unidades de participação em instituições de investimento coletivo;
e) Os warrants autónomos;
f) Os direitos destacados dos valores mobiliários referidos nas alíneas a) a d), desde que o destaque
abranja toda a emissão ou série ou esteja previsto no ato de emissão;

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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

g) Outros documentos representativos de situações jurídicas homogéneas, desde que sejam


suscetíveis de transmissão em mercado.

Este artigo descreve o que são valores mobiliários, e a al. g) é uma


espécie de clausula aberta. Ex. se subscrevo obrigações, ganho direito de
crédito; se subscrevo ação, ganho direito de participação naquela
empresa. A al. g) também nos dá as características dos valores
mobiliários – situaçoes jurídicas homogéneas + transimissiveis + tem que
ser potenciadores de gerar frutos civis.

Os documentos representativos de valores mobiliários podem assumir uma dupla forma:


 Em papel - valores mobiliários titulados;
 Em registo informático - valores mobiliários escriturais (são mais seguros,
proporcionando uma circulação e exercício de direitos mais eficiente)

11/03/2022
DERIVADOS (contratos financeiros)
Ativos financeiros com base em, ou derivados de, um instrumento subjacente diferente.
O instrumento subjacente é habitualmente outro ativo financeiro, mas pode ser também
um bem ou um índice.
Estão previstos no art. 2º, nº1, al. c) a h) do CVM e não instrumentos emitidos,
transmissíveis ou inscritos em conta e carecem de representação. Traduzem se em
fórmulas contratuais típicas propostas aos investidores e que se traduzem num encontro
de vontades e interesses entre os operadores que os subscrevem. Há aqui uma questão
complexa, que é de saber se, sendo um contrato, residualmente poderá aplicar-se o
direito civil?

Formas de comercialização:
1. Em mercado regulamentado (life connect da Euronext), com contraparte central
-que garante o pagamento dos fluxos financeiros resultantes dos contratos que
vão sendo registados diariamente em tempo real (Câmara de compensação);
2. sistema de negociação multilateral (MFT) (forex);
3. Over-the-counter (OTC), Mercado de balcão;

16
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Os derivados financeiros devem ser refletidos pelo seu valor de mercado ou, no caso
deste não existir, pelo seu valor equivalente (fair value).
Nos derivados tem em causa um ativo cujo valor, ainda que nocional, deriva de um
ativo subjacente.

As finalidades podem ser:


1. Hedging (originalmente, surgiram com a intenção de limitar o risco face à
variação da cotação dos produtos e mercadoria);
2. Especulação
3. Arbitragem.

Os derivados rapidamente evoluíram e os ativos subjacentes deixaram de ser apenas


físicos e apropriáveis. Hoje podemos distinguir entre commodities derivatives (forma
mais antiga de derivado), derivados financeiros (referentes a outros títulos, divisas ou
taxas de câmbio) e os derivados exóticos (fruto da desregulação dos EUA,
especialmente no setor energético, sendo que se permite que se aposte em quase tudo,
desde que o valor possa variar com O Tempo e haja informação que permita
acompanhar e medir essa variação).

As commodities derivatives e alguns derivados exóticos podem ser executados em


género - liquidação física-ou então podem ser executados por via do pagamento de um
diferencial - liquidação financeira, e aqui o interesse não reside no ativo subjacente, mas
sim no seu valor (se este descer o comprador paga a diferença, se subir, o vendedor
assume a diferença).

Não confundir contratos financeiros (derivados financeiros/investimento) com contratos


de financiamento (p.ex. lising).

CONTRATOS DE SWAP6
Um contrato de swap envolve a troca de Cash flows entre os agentes envolvidos, com
base nos termos previamente acordados e nos preços de referência dos ativos
subjacentes.
6
Tese da Dra María Emilia sob os swaps

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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Finalidades do contrato de swap: arbitragem, trading (quando o swap é usado para fazer
cobertura de risco) e hedging.
A doutrina tem discutido muito se o swap não é um jogo, se não é uma simples aposta,
sendo certo que os tribunais portugueses, 2012 a 2016, uma das formas pela qual
decidiam era que este era um jogo de aposta, enquadrando no 1246º CC, gerando apenas
obrigações naturais (a parte que deve, cumpre se quiser.), o que significava que os
bancos considerassem isso justo (se quiser pago, se não quiser não pago). Este art. pode
ser afastado por formas especiais reguladas – art. 1247º (ex: ganhei euromilhoes, santa
casa dizia que paga se quiser. Não era justo, logo tem uma regulamentação especial).
Deste modo, se houver uma regulamentação especial, a geral é afastada, o que significa
que o contrato de swop, mesmo tratando se de jogo nunca gera obrigações naturais, pq
tem regulamentação própria.
Os contratos de swaps são contratos atípicos, (têm nome, mas não tem regulamentação
jurídica própria), sendo lhe aplicável as clausulas que as partes especialmente acordam
no contrato (desde que não contrariem uma norma imperativa) e pelas regras gerais dos
contratos.

Modalidades:
 Interest rate swap - swap de taxa de juro
Acordo entre 2 partes de troca de pagamento de taxa de juro durante um
determinado período de tempo. Destina-se a transformar uma exposição a uma
taxa de juro fixa na exposição a uma taxa de juro variável, ou vice-versa.
 Currency swap - swap de taxa de câmbio ou divisa
 Equity swaps - swap sobre valores mobiliários, p.ex., ações.
 Commodity swaps - swap sobre matérias primas.
 Credit default swaps
 Swaps exóticos - zero-coupon swaps, rouller-coaster swaps, indexed and
floating principais swaps, etc.

O que significa finalidade de arbitragem?


É quando alguém olha para o mercado como se tivesse num patamar superior,
conseguindo ver as necessidades de todos, que não se conhecem entre si, fazendo um
encaixe das necessidades e tirando proveito disso (ex: A tem um fiat uno branco a

18
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

gasóleo, com 50.000km, em bom estado, e está disposta a vendê-lo por 10.000. O bruno
anda no mercado à procura de um fiat uno branco, com menos de 60.000km, em bom
estado, e está disposto a comprar por 15.000. um arbitragista vê a oportunidade, compra
a A por 10.000 e vendo ao bruno por 15.0000, ganhando 5.000).

Ex hedging:
A, banco mutuou 3.000.000 ao B. B é devedor, precisava de dinheiro, foi
a um banco, o banco mutuou por uma taxa variável (se a taxa subir, o
crédito vai subir). No momento que faz o crédito, a taxa está a 0,2. B diz
que aguenta a prestação deste crédito até 1%, não me causando nenhum
problema, mas se for superior a esse valor, não posso correr o risco de
não conseguir pagar. Assim, B procura um investimento que lhe permita
proteger. Assim, paralelamente ao contrato de mútuo base, ele faz um
outro contrato que pode, ou não, ser com A, em que aposta que a taxa de
juro pode subir até um certo valor, p.ex., até 3%.
Ou seja, existem diferentes perceções das partes do que poderá acontecer
a estas taxas.
Têm de atribuir ao swap um valor de referencia (valor nucional) que,
neste caso, será 3.000.000. Atenção, no swap não se vai emprestar
3.000.000, este é o valor nucional.
Nas clausulas que as partes estipulam tem de conter o valor do swap,
com um limite mínimo (floor) e máximo (cap).

Taxa juro inferior a 1% - swap está suspenso, não funciona ---- floor
Taxa juro superior a 5% - swap também não se aplica ---- cap
Swap vai se aplicar se as taxas de juro se encontrarem entre 1% e 5%.
Então em que sentido funcionam as taxas de juro entre 1% a 5%? B diz que se a
taxa de juro subir de 1,01% a 3% o outro lado perde a aposta e paga o valor da
taxa de juro que estiver em vigor sobre o valor nocional. E o A diz, se a tx de
juro estiver entre 3,01% e 5% B paga ao A sob o valor nocional. OU SEJA, o
lucro que ele ganha no SWAP (o B) cobre o risco da taxa de juro que subir no
contrato de crédito.

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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

E o A diz, se a tx de juro estiver entre 3,01% e 5% B paga ao A sob o valor


nocional. OU SEJA, o lucro que ele ganha no SWAP (o B) cobre o risco da taxa
de juro que subir no contrato de crédito, isto é o SWAP (uma espécie de seguro
que é feito no banco, os bancos não podem fazer seguros mas se se chamarem
swap já podem). Assim, se a taxa de juro no contrato de crédito subir para 2%, B
paga mais, MAS também vai ganhar no SWAP, há uma compensação. Este swap
é com finalidade de hadging (cobertura).

Ex2 (ESPECULAÇÃO):
Agora imaginemos que o contrato de crédito não existe, mas fez um swap,
querendo tirar lucros de uma espectativa que ele tem. B quando faz este swap
existe crédito bancário? Não. Então o que é que ele está a fazer? A Especular.

Contrato de revearse – contrato ao contrário do que fez no swap.

Equity swap
Currency swap (cambial)
Commodities swaps

OPÇÕES E WARRANTS
Warrants é um instrumento financeiro que concede ao seu detentor o direito com
duração limitada, de comprar ou vender um produto de investimento, tal como ações ou
obrigações, contra o emitente original desses valores mobiliários, a um preço
previamente determinado. O exercício de warrants pode ter associado a emissão de
novos títulos, diluindo assim o capital das obrigações ou ações existentes.
Ao contrário de um investimento em ações e obrigações, em que o não exercício de
direitos não implica a perda dos valores, no warrant se o direito não for exercido dentro
do período convencionado, o mesmo caduca e o investimento perde totalmente o seu
valor.
Modalidades de warrants: cal warrants (de compra), put warrants (de venda),
covered warrants (não são bem warrants, são mais opções, em que o direito de
compra de certos valores são exercidos contra entidade distinta da entidade
emitente desse valor mobiliário).

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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Os warrants e as opções dão um direito potestativo a quem os adquire. Este direito


potestativo é o direito de poder comprar ou de poder vender um determinado ativo
subjacente, numa data futura, a um determinado preço.
A diferença é que o warrants é negociado/adquirido diretamente do ativo sujacente que
eu quero comprar, i.e., é obtido diretamente ao admitente (ex: eu quero comprar aquela
empresa, ). Se não o obtar no prazo acordado, este caduca. Quando vou exercer o meu
direito potestativo, dizemos “fez strike”, ou “utilizou o seu warrants”.
Cal option – significa que eu tenho direito potestativo de comprar um ativo subjacente
numa data futura. (“chamar a mim”/comprar).
Papel comercial - PC
Títulos de dívida emitidos ao abrigo do DL os nº181/92 de 22 de agosto e demais
legislação aplicável em vigor. São títulos emitidos por prazo inferior a 2 anos, só
podendo ser emitidos por um prazo superior a um ano caso se destinem à subscrição
particular (caso contrário ficam sujeitos ao estabelecido no código do mercado de
valores mobiliários). São emitidos por prazo fixo embora seja possível o seu resgate
antecipado. Têm valor nominal mínimo fixado por legislação regulamentar, podendo ser
emitidos, quer em moeda com curso legal em Portugal quer em moeda estrangeira, por
entidades residentes ou não residentes, desde que cumpram os requisitos legalmente
fixados. Incluem-se instrumentos similares emitidos em mercados estrangeiros.

Put option - tenho o direito de vender essa ação a um determinado preço


Ex: Como é que eu ganho com estas operações? Eu fiz uma call option hoje de
ações da apple, e estipulei que se estas vão ser vendidas a 50, eu comprava,
sendo que elas valem 200, até daqui a 5 anos. Passados 2 anos, elas vão ser
vendidas a 40. Ganhei? claro
Warrants coverry , na realidade, não são warrants, são opções.

Qual o risco que eu perco se investir numa ação? Default risk – a empresa falir - O
risco principal ao investir em ações é o risco de que o preço diminua. Existe também o
risco de que a empresa que emitiu as ações vá à falência, e então os investidores podem
potencialmente perder o seu investimento total nas ações.

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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

O que é que detém quando possui uma obrigação? As obrigações são títulos de
dívida emitidos por governos, empresas, ou instituições financeiras. As obrigações têm
frequentemente um vencimento, o que significa que expirarão a determinada altura. Na
data de vencimento, o emitente necessita de pagar ao investidor o valor nominal da
obrigação.
Qual é o risco quando investe numa obrigação? O risco principal de investir numa
obrigação é de que o emitente não possa cumprir as obrigações de pagamento da dívida,
tais como os pagamentos de cupão e o valor nominal da obrigação no vencimento.
Outro risco é que o preço da obrigação diminua (com uma posição longa).

Quando eu vou numa posição Longa de obrigação7 (comprar barato, para


vender caro) (ex: se a ação desvaloriza, vamos perder). É ganhar nas subidas de
mercado. Quando um investidor adquire títulos e os mantêm na expectativa dos
preços virem a aumentar. É um raciocínio básico de qualquer investidor.
Para apostar na bolsa, o que é que temos de fazer? Buy low, sell hight –
pensamento inicial de um beginner na aposta da bolsa – assumir uma
posição longa.
O raciocínio aqui é: compra - espera que suba - vende e encerra a posição
(com lucro) - buy low/sell high

É possível ganhar na descida de mercado? Posição curta de obrigação 8 – vender


quando está alto, e comprar quando está barato (sell high + buy low). Cenário de
descida de mercado. Assumir uma posição curta é a mesma coisa que fazer short selling.
Como se faz? Vendo ações que não tenho, i.e., peço emprestado ao meu corretor, que as
tem, ou que também pede emprestado. Lucra se com a queda do mercado.
O raciocínio aqui é: vender - expectativa de que o preço vai baixar -
voltar a comprar mais tarde a um preço mais baixo para obter lucro. Mas
aqui, para vender não preciso de ser titular do ativo que vou vender,
posso pedir o ativo emprestado para o vender em short selling.

(Para investir: short/cover)

7
Buy low + sell high
8
Short selling

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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Ciclo de uma ação:


Ponto bear – ponto mais alto- quando atingimos o ponto bear, sabemos que o
mercado vai começar a descer
Ponto bull - ponto mais baixo - quando atingimos o ponto bear, sabemos que o
mercado vai começar a aumentar

15/03/2022
REGIME GERAL DE ORGANISMOS DE INVESTIMENTO COLETIVO – Lei
16/2015 de 24 de fevereiro
Aforro - Poupanças- excedente monetário. Quando opto por investir, e não por
depositar., devo procurar uma pessoa especializada (mediador financeiro) para o fazer,
já que ela irá determinar que tipo de pessoa sou eu e me indicar qual o investimento
mais adequado para mim. Este irá fazer-nos uma espécie de questionário, de modo a
conhecer-me melhor, podendo ser qualificada como sendo : investidora profissional
(antigamente designada por investidor qualificado), ou investidora não profissional (ou
não qualificada – que é equiparado a um consumidor). Tal classificação é importante
para que se possa determinar o nível de informação, procedimento e linguagem que o
mediador deve transmitir ao investidor. Se se tratar de um investidor profissional, tal
deve ocorrer mas com menos complexidade.
Ex: sofia foi sujeita a um teste de adequação, e com base no seu perfil,
foi designada por investidora profissional. O paulo fez o mesmo teste e
foi tratado por investidor não profissional. No entanto, quer alterar a sua
qualificação, já que se for classificado como investidor não profissional
não tem acesso a determinados produtos, cujo risco apesar de maior, dá
acesso a “produtos” mais altos. Para ser tratado como investidor
profissional, tem de fazer o pedido por escrito.
A sofia quer ser tratada como investidora não profissional, uma vez que
pretende que o mediador tenha um nível de informação maior com ela.
Nesse caso, o intermediário financeiro pode recusar prestar o serviço.

Assim, quando alguém tem aforro deve procurar um mediador financeiro, ainda que tal
não seja obrigatório. Há 2 formas de procurar ajuda profissional para investir o meu
aforro:
23
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

o Gestor de carteiras – quando quero que alguém gira o meu património. Aquele
intermediário vai “pegar” no meu montante e investir em diversos títulos que
vão compor a minha carteira de títulos financeiros, e gerir, de acordo com o meu
perfil (arts. 225º e 336º CVM).
o Posso decidir potencializar a rentabilização do meu dinheiro – pegar no meu
património e colocá-lo num “bolo” constituído por vários patrimónios, é um
património coletivo. Como se chama este “bolo”? organismo de investimento
coletivo (OIC).

OIC – só se podem constituir como forma


de organismo de investimento coletivo as
situações que a lei permite (p. da tipicidade
- art. 4º, nº1 RGOIC9), sendo elas pela
forma contratual ou pela forma societária 10.
Sempre que um OIC tenha sido constituída
por um contrato , chamaremos de fundo de
investimento. Se for pela forma societária,
temos sociedades de investimento coletivo
(SIC).

Art. 2º RGOIC, al. aa)

o "Organismos de investimento coletivo», as instituições, dotadas ou não de


personalidade jurídica” – uma sociedade tem personalidade jurídica e judiciária
(pode ser autor e réu). No entanto, o fundo não tem personalidade jurídica, já
que se tratam de contratos, logo, em princípio, não pode ser autor, nem réu numa
ação. No entanto, o art. 12º, al. a) CPC estende a personalidade judiciária aos
“patrimónios autónomos” (aqueles que só responde e responde só), ou seja, se o
fundo gerar dívidas, apenas ele responde. No entanto, se o participante gerar
dívidas, o fundo não responde. O mesmo acontece com a herança.

9
“Só podem ser constituídos os OIC previstos no presente regime geral ou em legislação aplicável.
10
Podem ser SICAF’s, o que significa que são OIC fechados. SICAN’s são OIC abertos.

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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

o “cujo funcionamento se encontra sujeito a um princípio de repartição de


riscos” – “dont put all your balls in one basquete” (?) – pretende repartir o
dinheiro por várias partes, diversificar o investimento.
o “e à prossecução do exclusivo interesse dos participantes” - quem vai gerar,
tem o único propósito de tomar decisões no interesse do participante –
relacionado com o p. da proibição da intermediação excessiva.

Unidades de participação (UP’s) – espécie de valores imobiliários, o que significa que


eu posso investir em UPS.

As entidades diretamente relacionadas com o OIC e que o permitem funcionar são:

o SGOIC – sociedade gestora de organismos de investimento coletivo, sendo que


uma OIC tem de conter a menção da mesma para definir o objeto daquela
sociedade. Se o OIC tiver sido constituído por um contrato terá associado uma
SGOIC diferente, mas se tiver nascido sobre a forma sociedade, a sociedade de
investimento não é auto-gerida, contratando uma SGOIC diferente para a gerir ,
ou pode ser auto-gerida, podendo gerir o dinheiro que lhe foi confiando. Assim,
a SIC pode autogerir-se ou pode entregar a sua gestão a uma outra SIC, e aí diz-
se que é heterogerida.
o Depositário – jamais pode ser a mesma entidade que a SGOIC, porque é um
convite às fraudes. Pode, por exemplo, ser um banco.
o Entidades comercializadoras – podem ser o depositário, SGOIC, a propriedade
sociedade de investimento, ou outros. É com a venda das unidades de
participação que se gera dinheiro. a compra das mesmas chama-se subscrição.
Tiramos de lá dinheiro resgatando. Pode ocorrer a qualquer momento? Depende
do tipo de OIC.
o Auditores - Responsáveis por fazer uma auditoria dentro do fundo
o Avaliadores externos – quando queremos uma auditoria externa

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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

As OIC podem ser:

o OICVM– investem em valores mobiliários, mas tb podem investir em valores


imobiliários (p.ex.em lisboa construíram prédios, com o objetivo de obter
rendas, que se transformariam em rentabilidade). Há também quem investida em
commodaties. Normalmente11, os OICVM chamamos de OIC abertos, o que
significa que posso entrar e resgatar a todo o tempo.

o OIA (organismo de investimento alternativo) – meia residual, que funcionam,


maioritariamente, como OIC fechado, o que significa que, inicialmente é aberto
um período de subscrição (não superior a 20 anos) em que, ou entro nesse
período de tempo, ou depois já não posso entrar e, para sair, tb não ser quando
quero. Nos 6 meses antes do fim do prazo, há uma assembleia que irá deliberar a
prorrogação, ou não, do investimento. Se um participante optar por não
prorrogar, mas a maioria optar por prorrogar, o investimento será prorrogado (a
maioria ganha), mas o que votou contra tem direito a “resgatar” a sua unidade de
participação.

Fundos de investimento são patrimónios autónomos, sem personalidade


jurídica, pertencente aos participantes no regime geral da comunhão.

Se as OIC forem de distribuição, em que dão retornos de tempos em tempos, chegando


a esse período distribuem as rentabilidades pelos participantes.

o OIC harmonizados – constituído em consonância com as regras vigentes nesse


país, e supervisisonado e regulado pela CMVM.
o OIC não harmonizados – não é supervisionado, nem regulado, estando livre nos
mercados. Os hedge funds. Fazem parte do shadow banking sistem.

Há ainda:

11
Dependendo dos elementos constitutivos

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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

o OIC Garantidos – que o capital que eu investi é reembolsado


o OIC não garantidos – posso perder capital

Da definição legal de OIC resultam 3 caractéristicas comuns:

 Objeto - gestão de ativos ou titulados coletivamente pelos participantes


 Capitais: obtido junto de investidores/ “participantes” (a quem pertencem)
 Fim: “vocação” de investimento

Quanto à representação do património, nos OIC o património “é representado por


partes de conteúdo idêntico que asseguram aos seus titulares direitos iguais, sem valor
nominal, que se designam unidades de participação” (art, 7º, nº1). O património dos
OIC é portanto representado por unidades de participação (UP) que são valores
mobiliários (srt. 1º, d) CVM).

MAIS CONCEITOS IMPORTANTES do art. 2º

“e) «Corretor principal», uma instituição de crédito, uma empresa de investimento


ou qualquer entidade sujeita a regulação prudencial e supervisão contínua que
preste serviços a investidores profissionais, nomeadamente financiando ou
executando transações de instrumentos financeiros na qualidade de contraparte, e
que também possa prestar outros serviços, como compensação e liquidação de
negócios, serviços de guarda de instrumentos financeiros, empréstimo de títulos,
tecnologia personalizada ou instalações de apoio operacional;

ll) «Sucursal», o estabelecimento de uma empresa desprovido de personalidade


jurídica e que efetue diretamente, no todo ou em parte, operações inerentes à
atividade da empresa de que faz parte;

t) «Filial», a pessoa coletiva relativamente à qual outra pessoa coletiva, designada


por empresa-mãe, se encontre numa relação de controlo, considerando-se ainda
que a filial de uma filial é igualmente filial da empresa-mãe de que ambas
dependem;

g) «Efeito de alavancagem», qualquer método pelo qual é aumentada a posição em


risco de um organismo de investimento coletivo gerido através da contração de

27
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

empréstimos em numerário ou em valores mobiliários, do recurso a posições sobre


derivados ou por qualquer outro meio;” ex: tenho 100k. sei que uma ação vai subir.
Vou apostar e fazer 100k x 5 – quando eu ganhar não vou ganhar 1x, vou ganhar 5x.
no entanto se perder, tb é em igual medida.

Ver art. 13º RGOIC

Forma dos organismos de investimento coletivo em Portugal:

 Contratual de fundo de investimento - FIM ou FII


 Societária de sociedade de investimento coletivo- SICAF ou SICAV/SICAFI ou
SICAVI (no caso dos OII).

COMO É QUE ACONTECE MATERIALIZADO?

Documento com informações fundamentais destinadas aos investidores (IFI ou KID)

o Documentos Constitutivos (al. f) do art. 2º regulados nos arts. 153º e ss) –


Elementos documentais de existência obrigatória destinados a prestar
informação aos participantes e aos investidores em geral. Aqueles que estão na
base da criação das OIC. Faz parte do elemento constitutivo de uma sociedade
de investimento o pacto social da sociedade de investimento. Sob a forma
contratual, o contrato. Prevêm tudo relativamente ao OIC, mas não são estes que
são entregues aos participantes.
o Documentos comuns– documentos entregues aos participantes, associados ao
funcionamento da OIC, mas que não estão na base da sua criação.
o Prospeto12: pode ser geral (+ extenso) ou simplificado
o Regulamento de gestão13 (quem elabora é a SGOIC)
o IFI’s – informação fundamental ao investidor (ou kid – key information
document) – quando vamos pedir informações sobre uma OIC, temos de

12
O prospeto é elaborado pela entidade gestora e deve incluir as informações necessárias para os investidores
apreciarem o investimento proposto, designadamente os riscos inerentes e deve conter uma explicação clara e de fácil
compreensão sobre o perfil de risco do OIC (art. 158º/1).
13
Regulamento de gestão é o documento que define a política de investimentos do OIC e o âmbito de actuação da
entidade gestora e rege as relações contratuais entre o OIC e a entidade gestora.
• O conteúdo obrigatório é o do art. 159º, é muito extenso, com a segurança da referência do modelo desenvolvido
pela CMVM – o modelo de regulamento de gestão consta do Anexo 7 do Regulamento CMVM n.o 2/2015 como
parte integrante do modelo de prospecto (Parte I).

28
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

pedir as IFI’s que deve conter informação clara, verdadeira e objetiva sob
o fundo.

O documento com informações fundamentais destinadas aos investidores


(o IFI) é elaborado pela entidade gestora e inclui informações adequadas
e actualizadas sobre as características essenciais do OIC de modo a
permitir aos investidores compreender natureza e riscos do investimento
proposto (art. 153.o/1/2/3), sem necessidade de consulta de outros
documentos (n.o 5) e com indicação de como podem os investidores
obter mais informações, designadamente aceder ao prospecto (n.o 6).

Deve conter os elementos informativos essenciais sobre o OIC exigidos


pelo nº4:

– Identificação do OIC e da CMVM como autoridade competente

– Breve descrição dos objectivos e política de investimentos;

– Custos e encargos associados;

– Perfil de risco e avisos sobre os riscos inerentes a investimentos


em OIC.

(Nº 7): o IFI constitui informação pré-contratual e deve ser (1)


correcto, (2) claro e (3) coerente com o prospeto e redigido de modo
sucinto e em linguagem não técnica.

O IFI deve ainda conter uma advertência clara sobre o regime de


responsabilidade civil por informações enganosas, inexactas ou
contraditórias com o prospecto (art. 155º).

O IFI é disponibilizado aos investidores pelas entidades


comercializadoras ou pelos intermediários financeiros que vendem ou
aconselham o OIC em causa (art. 156.o).

Os modelos de IFI estão nos Anexos 8 e 9 do Regulamento da CMVM


n.º 2/2015 (redacção actual – Reg. n.º 3/2020).

29
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

HEDGE FUNDS

Fundos com finalidade genérica de máximo retorno em curto prazo. Muitos problemas
regulatórios: não são harmonizados, habitualmente sediados em off- shores, mas geridos
(v.g.) nos EUA ou na EU.

Muito heterogéneos, com técnicas de gestão e estratégias de investimento muito


variáveis e perfis risco muito diversos também.

Actuam por entradas e saídas em empresas, não como o capital de risco, mas sim com
pressão sobre a cotação, combinação de posições longas e curtas, orientados por
“tendências” e baseados em “eventos” .

Regime incerto e difuso: regras dos OIA + regras da qualidade de informação (art. 7.o
do CVM) + aplicação de regras de abuso de mercado + regras do CVM para as cotadas
em que investem

Habitualmente reservados a investidores profissionais, mas que podem chegar aos não
profissionais através dos fundos de hedge funds ou através de derivados .

Soluções regulatórias? Regulação indirecta (aplicação de princípios gerais) + auto-


regulação (difícil) + regulação directa: sobretudo via aumento dos deveres de
informação nos OIA (sobretudo quanto a estratégia investimento, nível de alavancagem
e risco)

Cabem nos «OIC flexíveis» do 11.o do Reg CMVM n.o 2/2015, o que implica já maior
consciencialização do risco associado: além de se definirem como os OIC que não
assumem qualquer compromisso quanto à composição do património nos respectivos
documentos constitutivos, a subscrição de UP só se torna efectiva depois de o investidor
ratificar uma menção destacada que alerta para que o risco do OIC pode ser alterado
devido à modificação da composição do património e natureza dos activos que o
integram.

Unidades de participação - Parte do património dos fundos de investimento, de


conteúdo idêntico, que assegura ao seu titular direitos iguais, sem valor nominal.
30
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

O capital social das sociedades de investimento coletivo é dividido em ações


nominativas de conteúdo idêntico, sem valor nominal.

O valor das unidades de participação determina-se dividindo o valor líquido global do


organismo de investimento coletivo pelo número de unidades de participação em
circulação.

As unidades de participação são nominativas e adotam a forma escritural, sendo


admitido seu fracionamento para efeitos de subscrição e de resgate ou reembolso.

Os titulares de unidades de participação designam se por participantes, sendo esta


qualidade adquirida no momento da subscrição das unidades de participação com o
pagamento do respetivo valor, ou da respetiva aquisição em mercado, e cessa no
momento da extinção das unidades de participação no âmbito de operação de resgate,
reembolso, liquidação ou fusão do organismo de investimento coletivo, ou da alienação
em mercado.

A subscrição implica a aceitação do disposto NOS documentos constitutivos do


organismo de investimento coletivo e confere à entidade responsável pela gestão os
poderes necessários para realizar os atos relativos à sua administração. Os participantes
de organismos de investimento coletivo fechados gozam de direito de preferência na
subscrição de novas unidades de participação, salvo previsão em contrário NOS
documentos constitutivos.

Os organismos de investimento coletivo podem ser abertos ou fechados, consoante as


unidades de participação sejam, respetivamente, em número variável ou em número
fixo. As unidades de participação de organismos de investimento coletivo abertos são
emitidas e resgatadas a pedido dos participantes, de acordo com o estipulado nos
documentos constitutivos e em regulamento da CMVM.

As unidades de participação de organismos de investimento coletivo fechados não


podem ser objeto de resgate, salvo disposição legal ou regulamentar em contrário. As
sociedades de investimento coletivo são sociedades de capital fixo ou variável
consoante sejam organismos de investimento coletivo fechados ou abertos.

31
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Os OIA fechados de duração determinada não podem exceder 20 anos, sendo permitida
a sua prorrogação, uma ou mais vezes, por período não superior ao inicial, mediante
deliberação da assembleia de participantes nesse sentido com uma antecedência de seis
meses em relação ao termo da duração do organismo.

A prorrogação é imediatamente comunicada à CMVM, devendo a comunicação ser


instruída com toda a documentação a ela respeitante e com os documentos constitutivos
alterados em conformidade.

Sendo deliberada a prorrogação da duração do OIA os participantes que tenham votado


contra a prorrogação têm o direito de resgatar as respetivas unidades de participação
sem custos, no prazo de um mês a contar da data da deliberação.

Autonomia patrimonial

Os organismos de investimento coletivo não respondem, em caso algum, pelas dívidas


dos participantes, das entidades que asseguram as funções de gestão, depósito e
comercialização, ou de outros organismos de investimento coletivo.
Pelas dívidas relativas ao organismo de investimento coletivo responde apenas o
património do mesmo.

Independência e exclusivo interesse dos participantes:

A entidade responsável pela gestão, o depositário e as entidades comercializadoras de


um organismo de investimento coletivo agem de modo independente e no exclusivo
interesse dos participantes.

Direitos dos clientes e dos participantes

Os clientes interessados na subscrição de unidades de participação têm direito a que lhes


seja facultado o documento com informações fundamentais destinadas aos investidores
gratuitamente.

Os participantes têm direito, nomeadamente:

a) À inscrição das unidades de participação em conta de registo individualizado,


depois de terem pago integralmente o valor de subscrição, no prazo previsto nos

32
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

documentos constitutivos do organismo de investimento coletivo; b) À


informação, nos termos do presente Regime Geral;

b) A receber o montante, ou ativo, nos casos em que seja admissível o pagamento


em espécie, correspondente ao valor do resgate, do reembolso ou do produto da
liquidação das unidades de participação.

17/03/2022

!!TITULARIZAÇÃO!!

A titularização de créditos consiste na operação de Transmissão de créditos com vista à


subsequente emissão, pelas entidades adquirentes, de valores mobiliários destinados ao
financiamento da referida operação, ou seja, consiste numa agregação de créditos, sua
autonomização, mudança de titularidade e emissão de valores representativos. É um
relevante instrumento financeiro, frequentemente utilizado nas economias mais
desenvolvidas viabiliza um aumento da competitividade na economia e dinamiza e
diversifica o mercado de capitais.

Veículos de Titularização: FTC e STC – são EOET’s, ou seja, entidades com objeto
específico de titularização.

FTC - considerando a natureza de património autónomo que reveste, definiram-se regras


especiais de funcionamento das respectivas sociedades gestoras.

Quem pode recorrer: instituições financeiras (maioritariamente e desde que as regras


que lhes sejam especialmente aplicáveis o não impeçam), sociedades comerciais de
maior dimensão, entidades públicas (desde que as regras que lhes sejam especialmente
aplicáveis o não impeçam), ....

Vantagens inerentes para quem recorre a este método: diminuir os seus riscos e
custos de obtenção de financiamentos.

33
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Vantagens para os operadores de mercado: novas oportunidades de investimento,


mediante a colocação de títulos no mercado e a respectiva rentabilização, permitindo
aos investidores finais a obtenção de rendimentos indexados ao valor dos créditos.

As seguradoras podem recorrer a este método?

Considerando a específica natureza da actividade e as soluções adoptadas em outros


países, delimitou-se o universo de créditos que podem ser objecto de cessão no âmbito
de operações de titularização.

A concretização de operações de titularização fica dependente de um prévio e rigoroso


controlo de legalidade, o qual é exercido no momento da emissão dos valores
mobiliários, sejam as unidades de titularização de fundos (ut’s), sejam as obrigações a
emitir pelas sociedades de titularização (ot’s).

A realização das transmissões de créditos para efeitos de titularização está sujeita a


prévia autorização das competentes entidades de supervisão.

A titularização é uma operação financeira muito frequente, quer internamente quer


internacionalmente. Tem fins benéficos, não só para os investidores no mercado, como
também para os bancos (p.ex. reequilibrar casos de solvabilidade). Todavia, pode ser
usada para fins adversos, nomeadamente ilícitos.

Ex: em nova Orleães, a tragedia das cheias, que é uma catástrofe natural,
produziram efeitos negativos naquela cidade. No entanto, não dá para trazer
aquela tragedia para o resto do mundo, ao contrário das catástrofes financeiras
que, apesar de terem o seu epicentro num determinado local, podem os danos se
alastrar para todos os lados. Esta é uma situação ideal para alastrar uma crise por
todo o mundo, aquela que poderia ser apenas num determinado local.

Crise de 2008: usa crise imobiliária local nos EUA, afetaram o mundo inteiro. Gerou-se
uma bolha imobiliária que acabou por afetar o mundo. Anos antes da crise, quem
governava era Alan Greeseman, que apoiava as easy Money polities (ex: pedíamos 10k
em crédito e o bano até queria emprestar mais). Apoiado no mesmo, as instituições
financeiras começaram a utilizar este ideal, passando a emprestar crédito e fazer as
garantias sobre os imóveis.

34
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

BANCO X celebrava contratos de crédito à habitação com hipoteca com


vários mutuários. Estes eram créditos NINJA, i.e., os bancos
emprestaram dinheiro a quem não tinha bens, dinheiro, nem trabalho –
como iam comprar uma casa, eles hipotecavam a casa, ou seja, o banco
nunca ficava desprotegido. No entanto, ao final de 6/7 meses muitas
famílias, como não tinham maneira de fazer face aos créditos, perdiam as
mesmas, através da hipoteca. O problema é que, quando as famílias
obtiveram a casa esta valia 100 (p.ex.), e quando saíram, valiam 80. Mas
muitas famílias, ao saírem, destruíam as casas, e apenas valiam 40.
Assim, o banco passa a ter um crédito de 100k, e uma garantia de 40k
(suprime – garantia desvalorizou imenso).

De cada vez que um banco empresta, corre um maior risco (o risco de


DEEFOULT). Para equilibrar a balança, os bancos quando começaram a
ver estas situações, decidem fazer uma cessão de créditos em massa
(pegam em milhares de créditos, com categorias idênticas e valor
idênticos) onde o valor hipotético seria, p.ex., de 15 milhões, por 7
milhões. Assim, equilibra a balança porque vai ter um aumento no seu
ativo (de 7 milhões), e diminuição do seu risco (através da cessão
daqueles créditos). Estes cessionários são os ECET’S, i.e., são entidades
com objeto específico de titularização.

Securitization – securities (que são valores imobiliários)

Esta palavra deu origem à chamada titularização de créditos – pegar


numa massa de créditos e transformá-la em valores imobiliários ---
títulos disponíveis para o mercado --- títulos para serem investidos. E
quem é que transforma estes créditos em valores imobiliários? Os
ECET’S, que, em Portugal são os FTC (e chamamos estes valores
imobiliários de UT’s) e os STC (são os OT’s).

Quem compra estes valores imobiliários são os investidores, que acabam


por ter muito interesse nos mesmos por se tratarem de “carne nova”.

Trata-se de uma CESSÃO DE CRÉDITOS ONEROSA

35
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Vigora o principio da neutralidade 14 e, ainda que a regra na cessão de


créditos seja que os devedores tenham de ser notificados, no caso, não, já
que tal poderia gerar confusão nos devedores sem necessidade e, a sua
única obrigação é efetuar o pagamento. Não tem que saber quem é que
receberá o valor.

Assim, o banco que irá receber o pagamento, já não sendo o credor (o


cedente), será considerado gestor de crédito15 16, i.e., terá de armazenar o
pagamento e integrá-lo ao fundo que irá entregar o dinheiro aos
investidores.

No entanto, o que é que poderá correr mal? Tudo, já que todos têm de
cumprir o seu papel no procedimento, e no que diz respeito aos NINJA,
tudo indicava que estes não iriam pagar.

O que é que levou a que obtivessem estes valores? “alguém teve que dar
um doce”, i.e., as agencias de rating através do triple A (ou AAA) –
anotação e risco mais grave que há, o risco de default é praticamente 0.
Assim, os investidores, que no caso foram todos, e o Goldan and Sax,
JPmorgan, Citygroup (que são todos grandes bancos), e o Banco X. Estes
bancos, que já sabiam do que se passava tinham como objetivo:

 Compram 1 milhão sem CDS


 Compram 9 milhões com CDS (credit default swap ). As
seguradoras AIG17 acabaram por celebrar vários seguros, já
que o risco de default era praticamente 0 e a possibilidade de
ganharem dinheiro era muito.

Mais tarde verificou-se default e quem tinha comprado os produtos,


tinham produtos tóxicos empatados (o prejuízo), tendo de ir às
seguradoras obter este dinheiro.
14
Não é permitido que os créditos sejam retransmitidos pelos veículos de titularização -salvo em casos
excepcionais- permitindo-se apenas a circulação dos mesmos entre sociedades de titularização ou destas
para os fundos
15
Assim, se a titularização tiver ocorrido dentro de 2 anos antes da insolvência do banco, esta não poderá
ser impugnada pelo administrador da insolvência, SALVO se o tiverem feito de má fé.
16
Se o banco falir, estes valores não entram para a massa da empresa, já que estes valores já não são dele.
17
Swap de seguro

36
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Foram posteriormente abertas averiguações para se saber como é que


estes bancos sabiam do que estava a passar. Qual foi a justificação dos
mesmos? Que também perderam muito com esta situação, perderam 1
milhão.

Mas não ficou por aqui. Os bancos, posteriormente, vieram a apostar um


determinado valor no default (com CD’s com finalidade especulativa),
ou seja, apostaram com a seguradora em como aquilo ia cair, e a
seguradora apostou que não, acabando por ganhar dinheiro, novamente18.

A seguradora que fez estes seguros foi a AIG (america internation group), que é um
grande grupo de seguros a nível universal. Após a queda do limon brothers, a AIG
preparava-se para falir, sendo a típica entidade que poderia gerar estragos ainda maiores
(risco sistémico). Esta foi o exemplo do too big to fail. Assim, a américa fez um resgate,
através da injeção de biliões, e , ao mesmo tempo que o fez, tirou 80% das ações.
Muitos acionistas ficaram ofendidos, alegando roubo. Os EUA defenderam-se dizendo
que iam devolver as ações, de acordo com o dinheiro investido que fosse sendo
devolvido.

Resultado:

Em 2010, começaram a concluir que muito disto que se passou foi por falta de regras de
fiscalização. Assim, fizeram uma lei: “Dog Frank act” que veio introduzir uma grande
alteração nos contratos de swap19, que passaram a ser vistos como verdadeiros seguros
e, portanto, deveriam ser tratados como tal. Na véspera da votação dessa lei, um looby
do city wok veio fazer uma alteração na respetiva lei, onde “credit default swap is not
an ensurance”.

18
Esta é uma swap especulativa.
19
“ credit default swap is an ensurance”

37
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Em 2012 a UE decidiu fazer um regulamento inspirado na dog Frank act: o EMIR.


Curiosamente, neste regulamento20, continha uma norma que previa que o swap de risco
de incumprimento é um seguro. Em Portugal não temos uma regulamentação que trate
esta matéria.

Em 2017, a UE criou o regulamento 24/02 de 2017 que foi transposto para a nossa
ordem jurídica pela lei 69/2019, que nos veio trazer uma nova forma de titularização: a
titularização STS21 (simple transparente and standardising), que pode ser fornecida de
forma patronizada. O tipo de ativos que vai gerir são os ABCP (assent, baket,
comercial, paper), que são programas de papel comercial garantidos por ativos.

As seguradoras também podem usar a titularização, para ceder seguros? Podem.


Todavia, de forma muito limitada.

O estado e a segurança social também podem ceder créditos para titularização – lei
203/2003.

Regime titularização de créditos – art. 4º

À titularização geral apelidamos de titularização não STS, à titularização simples,


transparente e padronizada apelidamos de titularização STS (simple, transparent and
standardised), que tem um regime específico.

A identificação de titularizações STS é fundamental, atendendo a que possui um regime


específico. Assim é determinante saber se as titularizações são ou não realizadas ao
abrigo de ABCP - Asset-Backed Commercial Paper - (programas de papel comercial
garantidos por ativos).

A EBA publicou em 12 de dezembro de 2018 as Orientações sobre a identificação e


aplicação harmonizada dos critérios para a identificação de titularizações STS e não
STS - Orientaçõ es EBA/GL/2018/08 e EBA/GL/2018/09 .

20
Regulamento 453/99
21
Ainda que a anterior (e mais complexa) continue a ser utilizada

38
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Resumindo, as titularizações STS são operações que se pretendem simples,


transparentes e padronizadas. Para assegurar o cumprimento desse objetivo, o legislador
europeu definiu requisitos a cumprir pelas operações de titularização para que possam
ser qualificadas como STS.

Esta designação tem a grande vantagem de permitir aos investidores rápida e


eficientemente identificar as operações simples, transparentes e padronizadas (e os
valores mobiliários correspondentemente emitidos), distinguindo-os das operações e
instrumentos com caraterísticas mais complexas.

Existe ainda a titularização sintética com ligação ao conceito de “património de


referência” (menos importante para efeitos desta UC).

São requisitos da titularização não STS os seguintes (cumulativos) - (art. 4º, nº 1)

1.créditos vencidos e vincendos;

2.cuja transmissibilidade não se encontre sujeita a restrições legais ou


convencionais; 3.traduzam fluxos monetários quantificáveis ou previsíveis,
designadamente com base em modelos estatísticos;

4.seja garantida pelo cedente a respetiva existência e exigibilidade;

5.não sejam litigiosos;

6.não se encontrarem dados em garantia, nem judicialmente penhorados ou


apreendidos.

Os requisitos da titularização STS estão previstos nos artigos 20º ou 24º do


Regulamento

(UE) 2017/2402

Excepção: o Estado e a segurança social podem ceder créditos para efeitos de


titularização, ainda que esses créditos se encontrem sujeitos a condição ou sejam
litigiosos, podendo, neste caso, o cedente não garantir a existência e exigibilidade
desses créditos – Lei 203/2003.

39
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Podem ainda ser cedidos ou transferidos para titularização, créditos ou fluxos


monetários futuros, respetivamente, desde que emergentes de relações e de montante
conhecido ou estimável.

Os riscos e créditos suscetíveis de titularização podem ser garantidos por terceiro ou o


risco de não cumprimento transferido para empresa de seguros, desde que a entidade
que concede garantias ou assume responsabilidades pelo cumprimento não se encontre
em relação de domínio ou de grupo com o cedente.

A entidade cedente fica obrigada a revelar ao cessionário os factos relevantes


suscetíveis de afetar significativamente o valor global dos créditos que sejam do seu
conhecimento à data da produção de efeitos da cessão.

Eficácia da cessão para titularização em relação aos devedores: fica dependente de


notificação.

Excepção: quando a entidade cedente seja o Estado, a segurança social,


instituição de crédito, sociedade financeira, empresa de seguros, fundo de
pensões ou sociedade gestora de fundo de pensões, a cessão de créditos para
titularização produz efeitos em relação aos respetivos devedores no momento em
que se tornar eficaz entre o cedente e o cessionário, não dependendo do
conhecimento, aceitação ou notificação desses devedores.

A cessão dos créditos para titularização:

a) Só pode ser objeto de impugnação pauliana no caso de os interessados provarem


a verificação dos requisitos previstos nos artigos 610º e 612º do Código Civil – e
este direito caduca ao fim de três anos, contados a partir da data do ato
impugnável.;

b) Não se aplicam as presunções legalmente estabelecidas, designadamente no n.o


4 do artigo 120.o e no artigo 121.o do Código da Insolvência e da Recuperação
de Empresas, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 53/2004, de 18 de março;

c) Não pode ser resolvida em benefício da massa insolvente, exceto se os


interessados provarem que as partes agiram de má-fé.

40
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Não fazem parte da massa insolvente do cedente os montantes pagos no âmbito de


créditos cedidos para titularização anteriormente à declaração de insolvência e que
apenas se vençam depois dela.

22/03/2022

OPERAÇÃO DE TITULARIZAÇÃO DE CRÉDITOS

Art. 4º RJTC- que créditos é que o banco pode pegar e utilizar para titularização?

Não era permitida a cedência de créditos para efeitos de titularização, créditos vencidos,
uma vez que, no que diz respeito a estes, o risco de os devedores não pagarem é muito
maior (ou até de já estarem em incumprimento), o que faz com que o processo de
titularização falhe, desde logo, no primeiro passo. Todavia, a lei permite que se ceda
créditos vencidos e vincendos. Há determinados créditos que estão vencidos (os
credores entraram em mora, mas a sua cobrabilidade é possível (há património, p.ex.),
sendo que os bancos acionam coercivamente uma maneira de os cobrar. No entanto,
existem créditos que o banco percebeu que a pessoa entrou em mora, tentou executar e a
pessoa ou entrou em insolvência, ou aconteceu algo que os impediu de pagar, levando a
uma perda efetiva/créditos vencidos e incobráveis que vão ser entendidos como perdas
do banco. Os outros créditos, os primeiros, são os tais que podem ser cedidos para
efeitos de titularização.

“Artigo 4º

Riscos e créditos suscetíveis de titularização não STS

1 - Sem prejuízo do disposto no número seguinte, só podem ser objeto de transferência ou
de cessão para titularização os riscos22 ou os créditos, vencidos e vincendos, em relação aos
quais se verifiquem cumulativamente os seguintes requisitos:

a) A transmissibilidade não se encontrar sujeita a restrições legais ou


convencionais23

22
Default risk

41
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

b) Traduzam fluxos monetários quantificáveis ou previsíveis, designadamente


com base em modelos estatísticos;24

c) Seja garantida pelo cedente a respetiva existência e exigibilidade25;

d) Não serem litigiosos26 e não se encontrarem dados em garantia nem


judicialmente penhorados ou apreendidos27.

2 - Sem prejuízo do regime especial aplicável à titularização de créditos tributários, o


Estado e a segurança social podem ceder créditos para efeitos de titularização28, ainda que
esses créditos se encontrem sujeitos a condição ou sejam litigiosos, podendo, neste caso, o
cedente não garantir a existência e exigibilidade desses créditos.29

3 - Podem ainda ser cedidos ou transferidos para titularização, créditos ou fluxos


monetários futuros, respetivamente, desde que emergentes de relações e de montante
conhecido ou estimável30.

(...)

8 - A entidade cedente fica obrigada a revelar ao cessionário os factos relevantes


suscetíveis de afetar significativamente o valor global dos créditos que sejam do seu
conhecimento à data da produção de efeitos da cessão31. ”

CONTRATOS BANCÁRIOS

 PARTES: “bancos” e “clientes”

23
Se a ideia da titularização é transmitir os créditos, estes não podem estar impedidos contratualmente ou
legalmente no que diz respeito à sua transmissão
24
Os créditos têm de ser pecuniários. Qual era o interesse se o crédito fosse de entrega de coisa móvel,
p.ex. têm de ser fluxos monetários
25
Os bancos têm de garantir que os créditos existem e são exigíveis
26
O que significa que os devedores não podem estar a discutir em tribunal que o crédito não existe.
27
Não posso pegar em créditos penhorados, e utilizá-los para titularização, já que estes créditos já estão
de garantia para terceiro.
28
Lei 203/2003
29
Ou seja, se o estado está a discutir com alguém determinado crédito, o estado pode ceder o crédito na
mesma. ou seja, é quase como dizer que o estado nunca perde em tribunal, tendo como principal
objetivo o fim público.
30
Ex: estado pode ceder o imposto que vai cobrar em 2023. Ex2: o concessionário da autoestrada já tem
uma relação estabelecida com os condutores, ela poderá ceder os créditos que irá cobrar em 2023
31
Se alguma coisa grave acontecer com os créditos deve ser comunicado de imediato aos
concecionários– foi o que não acontreceu na crise supreme

42
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

 Por “bancos” entenderemos instituições de crédito e sociedades financeiras, sem


prejuízo da diferença existente entre as instituições de crédito e sociedades
financeiras e entre as próprias instituições de crédito (cfr. Art. 3º e 6º RGICSF)
 Por “clientes” entenderemos todas as pessoas singulares ou coletivas que
possuem relações com os bancos no âmbito da atividade económica destes.

Art. 3º a art. 8º RGISCSF

OBJETO: visa a criação, modificação, regulação ou extinção das relações jurídicas


mantidas entre os bancos e clientes, no âmbito da atividade de intermediação creditícia
do Banco.

 Autonomia privada;
 limites impostos pela lei, cláusulas contratuais gerais e interesses/fins
institucionais e exclusivos dos bancos (art. 2º RGICSF).
 Contratos de adesão
 regime jurídico das cláusulas contratuais gerais e avisos do BP nº11(2001 de
20/11 e nº11/2005, de 13/07, este ultimo alterado pelos avisos nº2/2007 e
5/2013.
 Contratos formais (art. 219.o é, neste sector, praticamente a excepção, a lei
impõe para múltiplos contratos bancários forma escrita e para os que não impõe,
resulta da vontade das partes essa forma escrita).
 Contratos comerciais (contratos especiais de comércio) – arts. 362.o a 364.o do
CCom. e art. 2.o do CCom.

Contrato de conta bancária – é o contrato matriz, o contrato primogénito, sendo


aquele onde é estabelecida a relação jurídica com o banco, onde de um lado tenho uma
instituição bancária e de outro o cliente, que poderá ser uma PS ou PC. É um contrato
atípico, cujo regime resulta das CCG e dos usos bancários e legislação avulsa.
Elementos que passa a dispor: NIb (21 algoritmos= nº de agencia, nº de conta e nº de
controlo)32.
32
Primeiros 4 números - código do banco; do 5º ao 8 numero - código do balcão ou agência; do 9º ao
19º número - numero da conta; últimos 2 números - algoritmos de controlo.

43
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

 Lei nº 83/201733 - art. 65º


 DL 107/201734 - art. 35º
 Aviso BP 4/200935
 Aviso nº1/2022
 Intrução BP 11/201836

Elementos essenciais para a identificação de pessoa singular que pretende abrir conta
bancária: nome, data de Nascimento, fotografia, nacionalidade, naturalidade, cartão do
cidadão, contribuinte fiscal e assinatura válida para atos posteriores.

Elementos essenciais para a identificação de pessoa coletiva que pretende abrir conta
bancária: denominação, NIPC, sede, CAE ou CAE’S, país de Constituição, morada de
locais onde exerce a atividade, objeto social, identificação daqueles que tenham mais de
5% de participação social com direito de voto.

Devem as instituições de crédito providenciar pela actualização de informação constante


dos titulares de conta bancária, sempre que tenham conhecimento de que os documentos
de identificação dos mesmos tenham expirado de validade ou um, quanto às pessoas
colectivas, que tenha existido uma alteração dos órgãos de administração/gerência ou
sócios, ou em que tenha existido uma alteração do objeto social ao modelo de negócio.

DL 295/2003 - é permitida a abertura de conta no estrangeiro ou em banco português


com representação no estrangeiro.

Tem como convenções acessórias:


33
estabelece medidas de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo
34
estabelece as regras relativas à mudança de contas de pagamento, a comparabilidade das respetivas
comissões, bem como ao acesso a contas de pagamento com características básicas,
35
estabelece um conjunto de deveres de informação a prestar pelas instituições de crédito no âmbito da
atividade de recepção, do Público, de depósitos bancários simples, esclarece que as instituições de
crédito devem informar com clareza e antecedência suficiente sobre a taxa de juro aplicável a reforços
de depósitos simples, não há ordem, sempre que a mesma seja distinta de aplicável ao depósito inicial e
aos reforços já efetuados. A referida informação deve ser incluída na ficha de informação normalizada
(FIN).
36
divulga a lista de serviços mais representativos associados a contas de pagamento em Portugal e
respetiva terminologia, a fim de facilitar a comparação das comissões cobradas pelos prestadores de
serviços de pagamento no âmbito das respetivas contas de pagamento.

44
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

 conta-corrente bancária - convenção que tem como objeto o registo


contabilístico das operações realizadas entre os contraentes e que culmina com a
indicação do saldo bancária;
 depósito bancário - convenção que tem como objeto o depósito de dinheiro na
conta do titular;
 convenção de cheque;
 cartões bancários

A conta pode ser suspensa ou “bloqueada” devido a ordem judicial ou por força da lei
(morte, penhora, insolvência, arresto, etc.).

Modalidades: singulares ou coletivas (um ou mais titulares)

Sendo coletiva: pode ser solidária (qualquer um dos titulares movimenta livremente) ou
conjunta (podem ser movimentadas apenas com a atuação simultânea ou conjunta de
todos os titulares).

Podem ser contas gerais (destinatários podem ser qualquer pessoa coletiva ou singular e
reguladas pelo regimes geral da conta poupança) ou especiais (com destinatários e
finalidades diferentes, são reguladas por lei ou convenção – ex: contas poupança-
emigrante, conta poupança-reformados, conta poupança- condomínio).

ENCERRAMENTO DA CONTA:

1. Por iniciativa do cliente:

i. Deve ser requerido o encerramento à entidade bancária e se a conta tiver mais do


que um titular, o pedido deve ser subscrito por todos os titulares;
ii. O banco pode eventualmente exigir um pré-aviso, mas esse período nunca pode
exceder os 30 dias.
iii. Pode ainda pedir-se o encerramento da conta quando se discorda de proposta
apresentada pelo banco de alteração às condições contratuais. Neste caso, o
encerramento pode ser imediato (como, aliás, na maioria dos casos costuma ser).
iv. O banco não pode cobrar comissões pelo encerramento, exceto num caso: se o
titular da conta for de uma empresa de média ou grande dimensão e a duração do

45
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

contrato de abertura de conta não tiver ultrapassado os 6 meses, o banco pode


cobrar os custos administrativos que teve como tal abertura.

2. Por iniciativa do banco:

i. Se assim estiver previsto no contrato e o banco terá de um pré-aviso de 60


dias (prova em suporte duradouro).

Condições para o encerramento:

i. Não existir saldo negativo;


ii. Entrega de todos os documentos relacionados com a conta e métodos de
pagamento (cheques, cartões, etc.).

E se um cheque vem devolvido por motivo “devolvido por conta cancelada”?

Acórdão do STJ 13/9737

“A declaração «devolvido por conta cancelada», aposta no verso do cheque


pela entidade bancária sacada, equivale, para efeitos penais, à verificação da
recusa de pagamento por falta de provisão, pelo que deve haver-se por
preenchida esta condição objectiva de punibilidade do crime de emissão de
cheque sem provisão, previsto e punível pelo artigo 11.o, n.o 1, alínea a), do
Decreto-Lei n.o 454/91, de 28 de Dezembro.”

Podemos dividir os contratos em três categorias:

 Contratos de crédito
o Mútuo bancário
o Desconto bancário
o Descoberto bancário
o Abertura de crédito
o Antecipação bancária

37
Consultar o Acórdão Integral aqui: https://dre.pt/web/guest/pesquisa-avancada/- /asearch/366181/details/normal?
emissor=Supremo+Tribunal+de+Justi%C3%A7a&types=JURISPRUDENCIA&search=Pesquisa

46
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

o Crédito documentário
o Crédito à habitação
o Crédito a consumo

 Contratos de financiamento
o Leasing
o Factoring
o Forfaitting
o Project finance
o Titularização de créditos
 Contratos de garantias
o Garantias aparentes
 Negative pledge
 Cross default
 Pari e passo
 Cartas de conforto

o Aval
o Fiança “omnibus”
o Mandato de crédito
o Garantia bancária autónoma
o Garantia financeira
 Penhor financeiro
 Alienação fiduciária em garantia

O direito bancário deriva do direito comercial. Os primeiros contratos de bancárias


constam dos códigos comerciais. No entanto, o direito bancário começou a ter tamanha
importância que teve de se emancipar do direito comercial.

47
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Assim, atualmente é entendido como um ramo de direito misto, nem público, nem
privado.

Vamos abordar mais o direito bancário material (contratos), do que institucional (já que
isto diz mais respeito à criação dos mesmos).

A maior parte dos contratos bancários que são comerciais, são tb contratos formais (art.
219º CC é absoluta exceção), já que maior parte dos contratos bancários implica forma,
e mesmo aqueles que não obrigam, o próprio banco formaliza-o, por uma questão de
prova e segurança. Assim, não temos contratos bancários com liberdade de forma. são
eminentemente formais.

Art. 3º lei bancária - instituições de crédito

Art. 6º lei bancária- Quais as sociedades financeiras – deve ser conjugado com o art. 7º,
que é definido em legislação especial.

Art. 4º - atividades que os bancos podem praticar (que são um tipo de instituição de
crédito)

Artigo 4º

Actividades das instituições de crédito

1 - Os bancos podem efectuar as operações seguintes:

a) Recepção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis38;

b) Operações de crédito, incluindo concessão de garantias e outros compromissos, locação


financeira e factoring39;

e) Transacções, por conta própria ou da clientela, sobre instrumentos do mercado


monetário e cambial, instrumentos financeiros a prazo, opções e operações sobre divisas,
taxas de juro, mercadorias e valores mobiliários40;

m) Mediação de seguros41;

38
Receber depósitos
39
Podem tb fazer locação financeira e factoring. As socedades de lising e de factoring são sociedades
financeiras. Aqui temos os bancos e as sociedades financeiras a fazer o mesmo serviço, há concorrência.
40
Intermediação financeira – o banco enquanto intermediador financeiro.
41
Quem supervisiona os bancos no que respeita ao deposito e créditos? O banco de Portugal. Quem é que
fiscalizar no que respeita às transações? CMVM. Quem fiscaliza os seguros? ASF

48
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

o) Aluguer de cofres e guarda de valores;

p) Locação de bens móveis, nos termos permitidos às sociedades de locação financeira;

2 - As restantes instituições de crédito42 43 só podem efectuar as operações permitidas pelas normas
legais e regulamentares que regem a sua actividade.”

“Artigo 8º Princípio da exclusividade

1 - Só as instituições de crédito podem exercer a atividade de receção, do público, de depósitos ou outros
fundos reembolsáveis, para utilização por conta própria44.”

Os contratos bancários visam criar, modificar, extinguir, regular as RJ entre o banco e o


seu cliente.

P. da autonomia privada é muito importante, já que as pessoas são livres de definir o seu
conteúdo, desde que seja respeitado os limites legais. Quando existe uma rj contratual
criada através de contratos de adesão, essa liberdade contratual não existe. Nos
contratos de adesão só existe liberdade de adotar ou não o contrato. Não existe liberdade
de o moldar. Assim, nos contratos de financiamento ou de credito, p.ex., tenho esta
liberdade de aceitar ou não, mas não o posso moldar.

Atualmente entende-se que ter uma conta bancária é um bem essencial. Até porque
existem certos apoios da segurança social que não são atribuídos se não houver um
IBAN associado.

Regime das clausulas gerais aplica-se aos contratos de adesão bancário, nomeadamente
art. 5º (dever de comunicação), art. 6º (dever de informação) e art. 8º (se não for
informada nem comunicada uma determinada clausula, ela é excluída).

É a volta do contrato bancário que gravita tudo o resto (p.ex. o contrato de débito, o
contrato de crédito, etc.).
42
Previstas no art. 3º
43
Ex: a caixa agricola tinha uma regulamentação própria, já que não se enquadrava enquanto banco
44
Por isso é que o depósito que fazemos uma instituição de crédito, significa que é um depósito
irregular, i.e., num depósito regular o depositário é obrigado a devolver exatamente a mesma coisa.
Nos depósitos irregulares não

49
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Qual o problema do homebanking?

Sistema de fishing/smishing (se for por mensagem) e farming (+ complexo, que é clonar
a pagina do banco).

24/03/2022

As contas podem ser conforme o número de titulares

o Singulares – um titular (PS ou PC)


o Plurais – dois ou mais titulares

Regime de movimentação da conta numa conta plural:

 Regime da conta conjunta – é necessário reunir o consentimento de todos,


para que haja movimentação.

Ex: herança jacente e a movimentação do património dos


herdeiros

Motivos de bloqueio da conta bancária – por morte do titular ou por


apreensão da conta porque 1 titular está insolvente, ou por penhora do
saldo bancário, etc...

 Regime da conta solidária – este regime permite que qualquer um dos


titulares possa movimentar sem autorização. Não obstante, para encerrar
essa conta é necessário o consentimento de todos os titulares.

Não confundir regime de movimentação da conta com titularidade dos fundos. Se


nada for dito em contrário, a nível da titularidade dos fundos, presume-se que é 50%
para cada, i.e., a propriedade daqueles fundos pertence em partes iguais aos titulares
daquela conta. No entanto, esta é uma situação ilidível. Esta é uma situação que se
aplica tanto no regime da conta solidária, como no regime da conta conjunta.

50
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Ex: conta de A e B. Presume-se que é 50% para cada, sendo que, a conta ao ter
um saldo bancário de 10.000, é 5.000 para cada um. Valor da penhora é de
7.000, que pertence a A. AE vai à conta e penhora 7.000. O que é que B pode
fazer? Alegar embargos de terceiros, uma vez que tiraram 2000 daquele valor
lhe pertence. Quem tem o ónus de prova é o exequente (a quem prejudica a
presunção é que deve fazer o afastamento desta presunção de titularidade).

A propósito do encerramento da conta, pode fazê-lo o titular da conta bancário ou o


próprio banco, por sua iniciativa, desde que avise o cliente com um aviso prévio de 60
dias. Se o encerramento for por iniciativa do titular, o banco pode exigir um aviso
prévio de 30 dias. Para o fazer não podemos ter saldo negativo e temos de entregar
todos os meios de pagamento relativos à conta (ex: cartão bancário, cheques, etc). Este
encerramento é gratuito, ou seja, não nos pode ser cobrado nada. Se for cobrado,
devemos pedir recibo e enviá-lo para o banco de Portugal, dando origem ao reembolso
ao cliente, e uma contraordenação ao banco. A não ser que se trate de uma conta aberta
por média ou grande empresa, que tenha pedido encerramento da conta decorridos 6
meses da sua abertura, e aí poderá ser cobrado algo pelo encerramento da conta.

CONTRATOS DE CRÉDITOS:

Pode ser:

o Empréstimo bancário
o Abertura de crédito
o Desconto bancário
o Descoberto bancário
o Antecipação bancária
o Crédito documentário
o Crédito à habitação
o Crédito ao consumo

 CONTRATO DE CRÉDITO – ex: contrato de mútuo que tem como objeto a


entrega ao mutuário, pelo mutuante, de determinada quantia em dinheiro com a

51
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

obrigação daquele restituir a este, findo um certo período, a quantia mutuada


acrescida dos respeitos juros.

- eu quero um veículo automóvel, recorro à ajuda do banco. O que acontece após


o empréstimo? Endividamento imediato no valor do carro. Há um passivo na
minha conta.

VS

 CONTRATO DE FINANCIAMENTO – ex lising – eu vou ao locador (banco) e


peço financiamento para o carro. O banco não vai emprestar o valor, vai financiar o
carro na medida em que permite que eu goze do veiculo automóvel, e em troca
tenho de efetuar o pagamento mensal. A ultima prestação será uma prestação maior ,
em regra (preço residual), e aqui, se eu pretender que o veículo automóvel passe
para minha propriedade, efetuo esse pagamento. Acaba por ser mais caro este tipo
de contrato, mas, no caso de empresas acaba por ser mais favorável na medida em
que estas precisam de despesas.

1. CONTRATOS DE CRÉDITO

OVERDRAFT (Descoberto bancário45) - é o contrato pelo qual o banco autoriza o seu


cliente, dentro de certos limites, a possuir um saldo negativo na conta. Existem certos
tipos de contas bancárias em que nos dão um plafom (ex: nas contas salário, dão um
plafom de 1 saldo bancário). No entanto, este não é um bónus que o banco dá, porque
isto é uma modalidade de mútuo a muito curto prazo, o que significa que, ao contrário
do que acontece nos contratos de mútuo normal, em que há um benefício de prazo ao
devedor46, não existe beneficio do prazo a favor do devedor, i.e., a qualquer momento o
banco pode pedir para pagar o montante em débito, sendo certo que se trata de um
mútuo, porque vamos pagar o montante negativo + IS + juros. Se não efetuarmos o
pagamento do montante negativo levamos a um incumprimento do contrato de crédito.

Geralmente o overdraft tem origem num acordo expresso. Todavia, a maioria dos
bancos concede de forma tácita, i.e., com base num acordo tácito entre banco e clinete,
45
Que é diferente de descoberto obrigatório que é um princípio previsto no art. 5º do DL do seguro de
crédito.
46
Há uma inexistência de benefício de prazo para o cliente, i.e., o banco pode pedir provisionamento da
conta a todo o momento.

52
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

o banco consente descobertos em conta pontualmente. (p.ex. quando vão cobrar


portagens e não temos saldo, o banco permite fazê-lo mas aparece na conta o saldo
negativo; o que significa que o banco nos forneceu um overdraft de forma tácita47).

A principal finalidade é fazer face a necessidades ocasionais e passageiras de tesouraria


do cliente bancário. Muitas vezes o contrato overdraft é vantajoso, para evitar
incumprimento noutros créditos.

Este é um contrato atípico, mas nominado, nos termos do art. 2º, al. a) do DL nº 220/94
de 23 de agosto.

As taxas de juro chegam a ser iguais às do cartão de crédito, que são talvez o tipo de
taxas de juros mais agressivas.

DESCONTO BANCÁRIO

Contrato pelo qual o banco se obriga a entregar ao cliente a importância de um crédito


pecuniário não vencido sobre terceiro, em troca da transferência da titularidade do
crédito e do pagamento das comissões associadas e juros compensatórios.

Ex: A emitiu um cheque48 no valor de 5.000 euros a B que é o credor, mas o A


quando emitiu o cheque ao devedor, e disse que valia a pena apresentar o cheque
a pagamento antes de 15/04/2023, uma vez que ele não tinha provimento (trata-
se de uma convenção de pagamento). No entanto, o banco pode pagar o cheque
em data anterior da data acordada, ainda que isso significasse que B tinha
incumprido a convenção celebrada. B precisa do cheque hoje. B não é titular de
um direito de crédito sobre A? É. Então o que é que pode fazer? Dirige-se ao
banco e diz “desconta-me este cheque”49, que no fundo é uma transferência da
propriedade do titulo de credito que B tem sobre A. Ao fazer isto, o banco, aos
EUR 5.000 desconta a comissão e desconta o juro antecipatório/compensatório,
ou seja, hoje, a 24/03/2023 até 15/04/2023 vai ficar sem o dinheiro, como se

47
É possível o banco conceder um contrato de crédito de forma tácita, i.e., sem o meu consentimento?
Sim
48
Mas pode ser qualquer tipo de nota de crédito
49
É diferente de “paga-me” e diferente do “tira da minha conta”

53
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

fosse um empréstimo, e , portanto, terá o cliente de pagar por tal. Chegado a


15/04/2023 o pagamento coloca a pagamento na conta de A, recebeu,
“arrumou”. No entanto, se não recebeu, B terá de devolver o valor emprestado.

Isto porque no desconto bancário há uma clausula pro solvendo/clausula boa


cobrança50, o que significa que o banco desconta, na condição de no dia ter o
dinheiro do devedor, sob pena de o senhor descontante ser responsável perante o
descontário do montante emprestado.

Isto funciona para quando há dificuldade de liquidez/de tesouraria. Para não se


endividarem, em vez de esperarem pelo dia para fazer o levantamento, fazem este
desconto.

É um contrato atípico e nomidade.

29/03/2022

Empréstimo (ou mútuo) bancário


Como é feito por instituições de crédito, e porque tem regulamentação própria,
especificou-se mais o mútuo bancário (que primeiramente foi civil, depois mercantil e
agora bancário - empréstimo bancário).
Tem como objeto, uma das partes (mutuante) entrega à outra parte (mutuário), uma
determinada quantia pecuniária, sendo que este segundo compromete-se a entregar a
quantia mutuada à qual acresce juros. O mútuo necessita uma entrega material para se
constituir, i.e., tem de se entregar a quantia pecuniária.
Muitas pessoas pensam que, quanto à forma, se aplica o CC. No entanto, no mútuo
bancário não há escalamento de quantias, o mútuo bancário tem sempre de constituir
forma escrita. Assim, é um contrato formal, e não consensual (Dl 32765/1943 de 29 de
abril e assento 17/94 de 3 de dezembro)
.
Quanto aos prazos de conceção de mútuo (art. 2º do DL 344/78 de 17 de Dezembro,
revogado pelo DL 58/2013 de 8 de maio51):
 A curto prazo – concedido a 12 meses

50
Clausula de boa cobrança: condiciona-se o desconto à efetiva cobrança do crédito na data do seu
vencimento, sob pena de ser responsabilizado o devedor descontário.
51
Lêr com atenção o art. 3º, al. d) e e); art. 4º, nº1 e 2, art. 7º e art. 8º + art. 9º, nº2

54
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

 A médio prazo - 1 ano a 5 anos


 A longo prazo - Mais de 5 anos
No entanto, ainda se mantém.

Art. 3º, 4º, 7º, 8º e 9º - DL 58/2013 – traz uma novidade quanto aos juros
remuneratórios.
No que respeito aos juros estes podem ser:
 Juros de mora- atraso no pagamento de uma obrigação pecuniária – art. 816º CC
 Juros antecipatórios ou compensatórios – são cobrados, p.ex., no desconto
bancário
 Juros de penalização52 - quando existe uma mora convertida em incumprimento
definitivo, ou quando há incumprimento definitivo imediato, o banco concede
uma taxa moratória de incumprimento, com base no montante em dívida,
aplicando-se a taxa de penalização. É calculada apenas a uma vez
 Juros remuneratórios – são a remuneração que o banco cobra por ter mutuado
aquela quantia, e por ter fixado sem esta durante determinado tempo. O banco
não vai ter determinada quantia durante x anos, o que significa que fica
desfalcado daquele valor durante aquele período de tempo, cobrando assim um
valor por essa situação – o juro remuneratório.
Art. 781º sofreu uma interpretação uniformizada por parte da jurisprudência, já
que em caso de incumprimento numa das prestações, os bancos entendiam que
importava a perda de benefício do prazo em relação às prestações
remanescentes, incluindo assim, nesse montante, os juros remuneratórios
devidos pelas prestações vincendas. No entanto, não o pode fazer, já que esse
acórdão uniformizador veio uniformizar a jurisprudência neste sentido: os
bancos podem exigir as prestações vincendas, mas não podem cobrar os juros
remuneratórios, uma vez que se o banco está a pedir a totalidade do montante
emprestado naquele dia, ele não irá ficar sem o mesmo durante o período
inicialmente acordado.

Os mútuos podem ser:

52
Clausula fixada no contrato em caso de incumprimento, fixada em taxa de percentagem

55
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

 Caucionado – é aquele em que o mutuante, além de. ter mutuado o capital, pede
garantias do bom pagamento. Assim, tem garantias de bom cumprimento. Regra
dos créditos.
 A descoberto – não tem garantias de bom cumprimento.
Ex: overdraft – é uma modalidade de crédito a descoberto
 Simples – é um mútuo em que o mutuante é uma instituição de crédito.
Ex: sociedade pede 3.000 euros e o banco empresta
 Sindicados - em que os mutuantes são várias instituições de crédito em
consórcio.
Ex: sociedade pede 10.000.000 euros ao banco. Banco se emprestar
arrisca-se sozinho a um risco de default, fazendo com que este não possa
emprestar a ninguém. No entanto, pode ser um negócio extremamente
lucrativo. O que fazer? Empresta o montante juntamente com outros
bancos

Ex: celebro um ct de crédito de mútuo em que peço ao banco 100.000. eu não


posso enquanto contraente do contrato, resolver esse contrato? Sim, desde que
tenha uma justa causa, i.e., um motivo legalmente atendido para resolver o
contrato. Qual a consequência do mesmo? A restituição de tudo o que está
prestado. No entanto, houve quem entendesse que não, tendo o tribunal de
proferir sentença.

Tipos de taxa de juros indexada ao contrato:


 Fixa
 Variada
Existem RJ que apenas se aplicam quando está em causa uma taxa variável. Existem
bancos em que, no inicio, (p.ex. banco inter), fixavam taxa fixa de 30 anos; atualmente
podem fazê-lo mas, geralmente, o período de tempo é bem mais reduzido.

LIMITES PARA A FIXAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS:


Em relação aos juros há uma discussão no direito da banca relativamente ao facto de os
bancos serem ou não livres de fixar taxas de juros remuneratórios. Os bancos têm taxas
liberalizadas, i.e., os bancos fixam-na como bem entenderem; tendo como único

56
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

“entrave” a questão de concorrência, ou seja, se um banco não aumenta, o outro banco


também não o faz, para poder fazer frente.
Art. 100º, nº2 CCom + art. 509º-A CC + art. 1146º CC

Aviso 3/88 do banco de Portugal foi um aviso que à data limitou/fixou um limite de
taxa de juro, em que o banco poderiam liberar a taxa de juro, sendo inultrapassável.
Assim, as instituições de crédito não eram livres, eram limitadas por este aviso. No
entanto, este aviso do banco de Portugal não é legislador, tendo sido revogado pelo
aviso 3/93.

O aviso do Banco de Portugal nº3/93, que revogou o aviso 3/88, no seu art. 2º, veio
instituir a liberdade das instituições de fixarem as taxas de juro, salvo nos casos em que
as taxas de juro sejam fixadas por diploma legal. Ora, isto daria aparentemente a ideia
de que o aviso 3/93 veio operar uma liberalização absoluta das taxas de juros bancárias,
o que não é verdade.
Ex: crédito ao consumo institui uma taxa de juro máxima, mas até lá tem a
liberdade de a fixar, não pode é ultrapassar esse valor
Ex2: crédito à habitação não tem qualquer norma a instituir a taxa de juro, o que
significa que esta pode ser fixada conforme os bancos entenderem.
Assim, se os bancos decidissem instituir a taxa em 20%. Podem fazê-lo? Podem subir à
vontade? Não há limite? Maior parte da doutrina entende que há liberalização, não
havendo limite. Outra parte da doutrina (como a Dra Maria Emília, e o Dr. Pais
Vasconcelos) aplica o art. 559ºA CC, já que este manda aplicar o art. 1146º CC, nº1 a
todos os juros de crédito, o que significa que os juros devidos por um contrato de mútuo
podem ir até à taxa legal + 3% se for caucionado (com garantias); ou taxa legal + 5% se
for a descoberto. A taxa de juro para os bancos (que tem uma atividade comercial) é
fixada de 6 em 6 meses, estando atualmente fixada em 10,5%, o que significa que, sem
garantia, poderia ir até aos 13,5% e se garantia 15,5%. Se a taxa de juros exceder
aqueles limites, reduz-se automaticamente até um montante máximo determinado (art.
1146º, nº3)..
Art. 100º, nº2 CCom – posso aplicar o CC por aplicação desta norma, o que leva a
entender que o aviso do Banco de Portugal pode liberalizar as taxas de juro até ao limite
imposto pelo CC.
Posição da Dr. Maria Emília:
57
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Os limites encontram-se no regime geral do mútuo (aplicável aos juros


comerciais por força do artigo 102 §2 do Código Comercial – não esqueçamos
que os atos bancários são atos comerciais), mais precisamente no artigo 1146.o,
n.o 1, onde se estabelece que é havido como usurário o contrato de mútuo em
que sejam estipulados juros anuais que excedam os juros legais, acrescidos de
3% ou 5%, conforme exista ou não garantia real.

E no n.o 3 do mesmo preceito, refere que se a taxa de juros estipulada exceder o


montante máximo fixado considera-se reduzida a esses máximos, ainda que seja
outra a vontade dos contraentes.

O artigo 559.o-A do Código Civil veio alargar a proibição do artigo 1146.o a


toda a estipulação de juros ou quaisquer outras vantagens em negócios ou atos
de concessão, outorga, renovação, desconto ou prorrogação do prazo de
pagamento de um crédito e em outros análogos.

Podemos afirmar que estamos perante um caso de nulidade parcial em que a lei
determina a redução automática, sem que se possa provar que o contrato não
teria sido concluído sem a parte viciada. Consequentemente, é de conhecimento
oficioso pelo tribunal e pode ser invocada a todo o tempo.
O mutuário pode ainda exigir a restituição dos juros já pagos, nos termos do
artigo 289º. Mais, tudo isto nunca afastaria a aplicação do regime constante dos
artigos 282.o a 284.o do Código Civil, quanto ao regime da usura.

Juros Remuneratórios (Acórdão Uniformizador do STJ de 25/03/2009, relatado por


Cardoso de Albuquerque)

“No contrato de mútuo oneroso liquidável em prestações, o vencimento imediato destas


ao abrigo de cláusula de redacção conforme ao art.o 781o do Código Civil não implica a
obrigação de pagamento dos juros remuneratórios nelas incorporados”.

ABERTURA DE CRÉDITO53
O banco obriga-se a disponibilizar ao cliente certa quantia em dinheiro (linha de
crédito) durante um certo período mais ou menos alargado, sendo que o cliente se

53
Também chamada de linha de crédito ou conta corrente

58
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

obriga a restituir ao banco as quantias utilizadas nessa linha de crédito, acrescida do


pagamento de juros e comissões.
Empresa pedir um determinado montante ao banco e o banco lhe concede um plafom
em crédito.

Modalidades:
 Simples - a única ou várias utilizações vão esgotando a linha de crédito
estabelecida (plafond), servindo os reembolsos efetuados somente para ir
saldando os montantes em dívida.
Ex: plafom de EUR 90.000 para a pessoa gastar. A empresa tem um saldo de
90.000, utilizou 30.000, devolveu 30.000, utilizou 40.000, devolveu 20.000,
devolveu 40.000. Depois precisava de mais. Quanto utilizo? Nenhum. Porque
apesar de ter indo devolver os montantes que foi gastando, a soma dos mesmos
dá o valor que a empresa tinha como plafom inicial.

 Revolving credict/ em conta corrente54 – é a mais usual – o crédito utilizado vai


se renovando sucessivamente, i.e., permite ao creditado realizar novas
utilizações à medida que vai procedendo a reembolsos, sem no entanto exceder o
plafond e haver necessidade de novo consentimento do banco. Nesta
modalidade, só é exigível o saldo final da conta corrente quando ela for
encerrada. Em que posso fazer as retiradas que quiser, mas tenho sempre de
repor, porque o plafom inicial tem de ser sempre respeitado, não pode exceder
esse valor. Este acaba por ser muito utilizado pelas empresas para a sua liquidez.

ANTECIPAÇÃO DE CRÉDITO:
Também designado por empréstimo sobre penhor, é o contrato pelo qual o banco
concede ao cliente um crédito contra o penhor equivalente de títulos, mercadorias ou
outros bens.
Atividade prestamista – ex: casas de penhor
O banco (art. 4º LB) pode desempenhar atividade prestamista, nomeadamente através
do contrato de antecipação e crédito, que é um contrato misto entre o contrato de mutuo
e o penhor, com uma nota: no banco não se entrega os anéis, mas sim títulos de credito.

54
Posso fazer as retiradas que quiser, mas tenho sempre de repor, uma vez que o plafom inicial tem
sempre de ser respeitado, não podendo ser excedido.

59
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

A atividade prestamista é um contrato legalmente previsto (art. 402º CCom), formal,


tendo de ser reduzido à forma escrita, regulado pelo DL 365/99 (art. 11º).
Ratio de equilíbrio entre o bem dado em garantia e o capital em dívida.
Ex: vamos pedir ao banco 10.000 euros, e entregamos 5 letras de 2.000 cada. No
contrato de mutuo já restituímos 2.000, então já podemos pedir a restituição de
uma letra.

Usualmente, tem por garantia títulos de crédito (letras de câmbio). Tem de possuir
forma escrita (art. 11º DL 365/99 de 17/04)

CRÉDITO DOCUMENTÁRIO/CONTRA DOCUMENTOS55:


Convenção pela qual um banco (emitente), a pedido de um cliente (ordenante), se
obriga (carta de crédito) a pagar ou mandar pagar uma certa quantia pecuniária a um
terceiro (beneficiário) contra a apresentação de certos documentos. Consiste em colocar
um terceiro que faz o controlo da transferência entre as partes, de maneira que ambas
cumpram.
Acaba por ter grande relevância na contratação mercantil internacional, tornando-se um
importante método de pagamento ou de garantia para empresários sediados em países
diferentes. É um contrato atípico e inominado.
Ex: A entrega telemóvel ao terceiro. B entrega dinheiro ao terceiro. Terceiro
entrega o telemóvel a B, e o dinheiro a A.

Tem por base um contrato de compra e venda onde as partes recorrem ao crédito
documentário como forma de pagamento/garantia. Implica a existência de 3 relações
jurídicas:
 Relação entre banco (emitente/mandatário) e cliente (ordenante/mandante): contrato
de mandato
 Relação entre cliente (importador/comprador) e terceiro beneficiário
(exportador/vendedor)
 Relação entre banco e terceiro beneficiário.

Ex: A é vendedor/exportador

55
Pode ser um contrato “puro e duro”, mas também pode ser um contrato de crédito, na medida em
que o comprador não tem dinheiro suficiente para efetuar o pagamento.

60
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

B é comprado/ importador
No âmbito da compra e venda internacional, as partes contratualizaram que o
preço a pagar era X, e que o vendedor tinha de entregar a coisa comprada, junto
com os docs56 1,2,3 e 4.
O comprador terá de ir ter com o Banco X e faz com ele um contrato de
mandato, sendo que este deverá pagar a A o montante se este lhe entregar os
respetivos documentos (1,2,3, e 4).
Assim, o banco passa a ser o mandante e B o mandatário. Banco passa a ser
emitente, emitindo uma carta de crédito e dirige-a ao A, dizendo que tem X
euros para entregar se me entregares os documentos 1,2,3 e 4 (docs indicados
por B, enquanto mandatário, ao mandante).
E SE,
O mandatário diz ao mandante para apenas recolher os docs 1,2 e 3. De quem é a
responsabilidade? B, mandatário
E se o mandatário diz ao mandante para recolher os docs 1,2,3 e 4, mas este
apenas pede ao A os docs 1,2 e 3? Responsabilidade é do banco.

A única legislação que regula esta matéria é a lex mercatória, emitida pela Camara de
comercio internacional (CCI), com a designação UCP600. Ainda não foi traduzida
fielmente para português.

Em suma:
 No contrato de compra e venda, as partes definem uma cláusula em que o
pagamento será efetuado por terceira entidade (banco) mediante a entrega
pelo vendedor/beneficiária de uma lista de documentos.

 No contrato de mandato entre o Banco e o Cliente/Comprador é dada a


instrução ao banco para pagar ao vendedor/beneficiário a quantia
acordada/preço mediante a apresentação de certos documentos (em execução
do Mandato é emitida a Carta de Crédito)

 O Banco notifica o vendedor da Carta de Crédito, onde constam os


documentos que devem ser apresentados para que ele pague
56
A este respeito ressalva-se que não devemos apenas colocar o título do mesmo, como mencionar uma
breve descrição do seu teor.

61
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

 Se da compra e venda resultam 10 documentos e do Mandato apenas


resultam 9, se o vendedor apresenta os 9 e não os 10, o Banco paga, e paga
bem!

 O Banco só tem de cumprir o Mandato

 Documentos: UCP600 (artigos 16.o a 20.o)

31/03/2023

Na compra e venda internacional base normalmente essa compra e venda é negociada


pelas partes (não costuma ter intervenção de advogados) e nessa compra e venda
costuma utilizar-se os incoterms. Os incoterms são estabelecidos na relação jurídica
base. O crédito documentário aparece como forma de executar as obrigações.
O crédito documentário pode servir como um contrato de crédito apenas na medida em
que importador não tem na conta o valor a pagar pela mercadoria. Neste caso, o
importador pede o financiamento. Se ele tiver o dinheiro na conta funciona apenas como
contrato de pagamento, o banco paga com o dinheiro que ele tem na conta. Mas o
contrato de crédito documentário pode ainda funcionar como garantia como bom
cumprimento, ou seja, o vendedor sabe que vai ter um credito documentário como
contrato de garantia e, por isso, sabe que vai haver o bom cumprimento.
Que modalidade de mandato tem de existir no crédito documentário para que este seja
um contrato de garantia? O mandato precisa de ser irrevogável. A ordem que o
comprador dá ao banco tem de ser irrevogável. Ele diz “se ele te entrega os
documentos, tu obrigatoriamente tens que pagar”. O banco tem de pagar, sob pena de
ser responsabilizado.
Se o mandato for revogável ele é apenas um contrato de pagamento, não funciona como
garantia.

Crédito à habitação57 58:


A UE em 2003 apercebeu-se que no mercado único havia concorrência desleal.
Apercebeu-se que, por exemplo, as condições de crédito na Alemanha eram melhores
57
IMPRIMIR A RECOMENDAÇÃO DO BANCO DE PORTUGAL SOBRE O CRÉDITO À HABITAÇÃO –
PODEMOS LEVAR PARA O EXAME
58
Regime jurídico do crédito à habitação - DL nº74-A/20 de 23 de junho

62
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

do que em Portugal. Ao aperceber-se disso, desde 2003, a UE entendeu que tinha que
haver igualdade para todos os cidadãos da UE, sentindo necessidade de começar um
processo de análise e avaliação, por comparação, das legislações dos EM sobre o crédito
para aquisição de imóveis destinados à habitação.
Neste seguimento, em 18/12/2007, a Comissão Europeia apresentou um Livro Branco
sobre a integração dos mercados de crédito hipotecário da União Europeia59.

Nesse mesmo Documento, enquadrava-se a importância da questão, referindo-se que


“para a maioria dos cidadãos europeus, o crédito hipotecário é o maior investimento
financeiro de toda uma vida. Os mercados de crédito hipotecário representam uma parte
significativa da economia europeia, atingindo os saldos em dívida dos créditos
hipotecários à habitação quase 47% do PIB da UE”.

Assim, atendendo a esta inegável importância, consagrou-se um «pacote» equilibrado


de medidas/ objetivos destinadas a melhorar a eficiência e a competitividade dos
mercados hipotecários de habitação da UE, medidas essas que se podem traduzir em:

 facilitar a oferta e o financiamento transfronteiras dos créditos hipotecários;

 aumentar a diversidade dos produtos;

 promover a confiança dos consumidores;

 promover a mobilidade dos clientes

Tudo para tornar os mercados de crédito hipotecário da UE mais eficientes e mais


competitivos.

Assim, podemos, por exemplo, recorrer ao crédito num banco espanhol, porque as
condições são as mesmas, não temos que ficar cingidos aqui.
Agora os bancos dão o mesmo documento, pelo que facilmente se consegue comparar.
Em 2014 surge uma diretiva (Diretiva 2014/17) para uniformizar a legislação do crédito
a habitação. Essa diretiva foi transposta para ordenamento jurídico português e ela não
fala apenas sobre o crédito de habitação fala também de intermediários de crédito.
DL 81-C/2017 – refere-se aos intermediários de crédito

59
Vêr documento anexo à aula

63
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

DL 74-A/2017 - Regime geral de crédito para aquisição de imóvel com garantia


No crédito a habitação tem que se ter regras que protejam os mutuários.

Como facilitar a oferta e o financiamento transfronteiras do crédito hipotecário?

Os prestadores de serviços financeiros podem propor crédito hipotecário além-fronteiras


de diversos modos: implantação local (por exemplo, através de agências, filiais, fusões e
aquisições); canais de distribuição directos (por exemplo, por telefone ou pela Internet);
ou intermediários locais (por exemplo, corretores). Os prestadores de serviços
financeiros podem também lançar-se na actividade do crédito hipotecário transfronteiras
comprando carteiras de créditos hipotecários a um mutuante deste tipo de crédito noutro
Estado- Membro.

Como aumentar a diversidade dos produtos?

Suprimindo os obstáculos à distribuição e venda dos produtos, sobretudo os produtos


hipotecários novos e inovadores, sem descurar o nível de proteção dos consumidores e
uma estabilidade financeira adequada.

Como aumentar a confiança dos consumidores?

Para poderem escolher acertadamente, os consumidores precisam de informações claras,


corretas, completas e comparáveis sobre os diferentes produtos hipotecários. A
Comissão considera fundamental que os mutuantes de crédito hipotecário emprestem de
forma responsável, nomeadamente graças a uma avaliação cuidadosa da capacidade de
pagamento das mensalidades pelos mutuários.

Estes, podem fazê-lo de diversas formas, por exemplo, consultando uma base de dados.
A concessão de empréstimos de forma irresponsável e a venda de produtos inadequados
por mutuantes hipotecários ou mediadores de crédito pouco escrupulosos podem ter
repercussões negativas na economia em geral.

E como facilitar a mobilidade dos clientes?

64
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Garantindo que os consumidores que procuram mudar de mutuantes hipotecários não


sejam impedidos ou dissuadidos de o fazer pela presença de entraves jurídicos ou
económicos injustificáveis.

Sobre isto, existiam práticas que se tornaram posteriormente ilegais ou com fortes
restrições. Veja-se:

Práticas como:

 Parca ou fraca informação;

 Aumento dos custos ligados à mudança de mutuário;

 Venda subordinada, como por exemplo, obrigar o consumidor, ao contrair um


empréstimo

hipotecário, a abrir uma conta à ordem ou a subscrever um seguro na mesma


empresa;

 Obrigar o consumidor a transferir o salário para a conta à ordem ligada ao


crédito hipotecário;

Tudo isto são exemplo de práticas que até 2017 eram permitidas e afetavam de forma
grave a mobilidade do cliente, diminuindo a concorrência nos mercados, ao nível dos
preços e dos produtos, relativamente aos produtos de venda subordinada e àqueles a que
estão ligados, e desincentivavam a entrada no mercado de novos operadores,
nomeadamente os especializados no fornecimento do produto cuja venda estava já
subordinada.

Eram práticas que vinculavam, de facto, os clientes a determinado prestador de serviços


financeiros, restringindo assim a sua mobilidade e enfraquecendo a concorrência.

Isso veio a alterar-se com as novas regras, mas serão eficazes?

Assim, a Comissão, propôs-se efetuar o seguinte:

1. Avaliar as legislações nacionais em questões principais como :

65
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

a) Informação pré-contratual e contratual (necessidade de garantir acesso a


informações estruturadas de forma a permitir a comparação das diferentes
propostas, antes da celebração dos contratos e a necessidade de informações
completas, acompanhadas de quadros e exemplos concretos e redigidas em
linguagem simples, com um mínimo de termos técnicos. Estas informações
deveriam ser fornecidas com uma antecedência suficiente em relação à
celebração do contrato, para isso muito contribuirá a uniformização das fichas de
informação normalizada – (a FINE ou FEIN)).

b) Calculo da taxa anual efetiva global (TAEG) (eliminar-se a coexistência de


diferentes métodos de cálculo e bases dos custos para dessa forma não limitar a
comparabilidade efetiva, para o consumidor, de diferentes produtos,
nomeadamente transfronteiras, e não induzir assim os consumidores em erro);

d) Concessão responsável de empréstimos (aconselhamento objetivo e rigoroso e


avaliação de solvabilidade dos mutuários); e

e) Reembolso antecipado (que constitui uma das questões mais importantes para a
integração dos mercados de crédito hipotecário da EU, sendo que se procurará
um consenso quanto a um regime europeu adequado de reembolso antecipado).

Para auxiliar nestas tarefas, a Comissão criou um Grupo de peritos do historial


creditício.

GRUPO DE PERITOS DO HISTORIAL CREDITÍCO:

• Criado por Decisão da Comissão de 13 de junho de 2008 (ver documento anexo a


aula)

Missão:

1. Identificar os obstáculos jurídicos, regulamentares, administrativos e de qualquer


outra natureza ao acesso e intercâmbio de dados sobre o crédito;

2. Analisar os possíveis impactos da coexistência de várias abordagens em matéria


de organização e funcionamento dos registos de crédito na Comunidade e
identificará as suas consequências do ponto de vista económico;
66
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

3. Analisar também a situação existente do ponto de vista da proteção do


consumidor (incluindo a proteção dos dados);

4. Apresentar propostas sobre a forma como poderão ser eliminados os obstáculos


identificados;

5. Identificar soluções que maximizem a circulação de dados sobre o crédito sem


deixar de assegurar um elevado nível de proteção do consumidor.

A ideia seria, portanto, avançar com harmonização do sector do crédito concedido a


consumidores para aquisição de imóveis na União Europeia, mas antes deveria
constatar-se as diferenças existentes a nível de legislações nacionais dos Estados-
Membros;

As diferenças que se vieram a apurar residiam nas regras de concessão, de avaliação de


solvabilidade dos mutuários, de fiscalização e supervisão dos intermediários de crédito e
consultoria, regras de celebração dos contratos, de constituição de garantias, etc...

Tudo isto gerava entraves à atividade transfronteiriça neste sector, o que levava à
redução da concorrência e opções de escolha do consumidor, elevando até os custos na
celebração dos contratos o que levava a um impedimento na realização de negócios.

E constituindo o Tratado da UE a base da realização do mercado único e da abolição


dos obstáculos à livre circulação de mercadorias, de pessoas, de serviços e de capitais,
os dados existentes e recolhidos mostraram, todavia, que o mercado único do crédito
hipotecário à habitação está longe de estar integrado.

É nesta sequencia que nasce a diretiva 2014/17/UE:

Determinou um quadro comum aplicável a determinados aspetos das disposições legais,


regulamentares e administrativas dos Estados-Membros em matéria de contratos de
crédito aos consumidores garantido por hipoteca ou outro direito para imóveis de
habitação;

 Não obstou a que, no geral, os Estados-Membros mantenham ou introduzam


disposições mais restritivas para a proteção dos consumidores;

67
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

 Mas não permitiu que mantivessem ou introduzissem no respetivo direito


interno disposições divergentes das constantes do artigo 14.o , n.o 2, e do Anexo
II, Parte A, relativas a informação pré-contratual normalizada através de uma
Ficha de Informação Normalizada Europeia (FINE), e do 17.o , n. os 1 a 5, 7 e 8,
e do Anexo I relativas a uma norma comum coerente ao nível da União para o
cálculo da taxa anual de encargos efetiva global (TAEG). Ou seja, todos os
direitos internos nacionais devem cumprir rigorosamente com o estipulados
neste dois pontos.

No que concerne à informação pré-contratual, vejamos o que disse a Diretiva:

 O mutuante e, se for o caso, o intermediário de crédito ou o representante


nomeado devem prestar ao consumidor a informação personalizada necessária
para permitir que este compare os produtos de crédito disponíveis no mercado,
possa avaliar as suas implicações e tomar uma decisão esclarecida e informada
quanto à celebração do contrato de crédito;

  Estas informações devem ser prestadas em tempo útil, ou seja, antes de o


consumidor ficar vinculado por uma proposta contratual ou por um contrato de
crédito;

 a informação deve ser prestada, em papel ou noutro suporte duradouro, através


da FINE;

  Fixação de um prazo de, pelo menos, sete dias durante o qual o consumidor terá
tempo suficiente para comparar propostas, avaliar as suas implicações e tomar
uma decisão informada;

 Estabeleceu a Diretiva que esse prazo constituir um período de reflexão antes da


celebração do contrato de crédito, um período para o exercício do direito de
resolução após a celebração do contrato ou da conjugação de ambos

12/04/2022
DL 74-A/2017 de 23 de Junho que entrou em vigor a 01/01/2018 – crédito à
habitação

68
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Veio introduzir maiores medidas de proteção do consumidor, sendo certo que se aplica a
créditos celebrados antes da sua entrada em vigor. Não possui normas transitórias, o
que significa que lhe é aplicável o art. 12º, nº2, 2º parte CC, aplicando-se
retroativamente em grau mínimo60 já que estabelece alterações na RJ entre consumidor e
bancos.
Este DL já teve 4 alterações. Note-se que a “alteração” em Novembro de 2022 apenas
veio mitigar a subida de taxa de juros do crédito à habitação, não tendo trazido
alterações ao DL 74-A/2017, o que significa que não conta como uma 5º alteração.
 Alteração em 2018 – lei 32/2018 – aditou o art. 21º-A que veio dizer que as
taxas de juro não devem ser espelhadas.

 Alteração em 2019 – lei 13/2019 – alterou o art. 25º, nº2, al a) – estava


estabelecido como condição resolutiva ao crédito à habitação, de um imóvel com
garantia de hipoteca, se o mutuário se arrenda o imóvel a um terceiro, salvo se o
tivesse feito em consequência de ter ficado desempregado um membro do seu
agregado familiar, ou um dos mutuários tivesse sido deslocado para mais de 50
km. Esta alteração veio revogar estas condições, sendo que passou a ser
permitido ao mutuário arrendá-lo. Foi feita esta alteração para ajudar o mutuário
a suportar o seu crédito à habitação, e para haver mais imóveis no mercado.

 Alteração em 2021 – lei 57/2020 – além da proibição da exigência de abertura


de conta para a conceção de créditos à habitação (art. 11º), trouxe a obrigação do
mutuário(banco) de quando recebe integralmente o valor do crédito à habitação
tem de emitir um distrate, dizendo que o crédito está totalmente liquidado,
devendo ser cancelado a hipoteca (art. 22º, nº4).

 Alteração em 2023 – lei 20º-B/2023, entrada em vigor no dia 23 de março –


além dos regimes de bonificação, trouxe uma introdução no art. 13º, nº10,
impondo que a FINE, tratando-se de habitação própria permanente, tenha de
conter informações com a taxa variável, fixa e mista.

Tais alterações prendem-se com a existência de um direito constitucionalmente previsto


e fundamental: o Direito à Habitação.
60
Os efeitos desses contratos que se irão produzir após 01/01/2018 é lhes aplicável este DL

69
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Na última alteração, o pacote de medidas trazia um apoio de até EUR 200,00 aos
arrendatários. Em relação ao crédito habitação, foi bonificado as taxas de juro, o que
significa que poderá haver uma bonificação nas taxas de juro a aplicar, que não
ilimitada, i.e., não pode ir além do 1,5%.
Críticas: se olharmos para a lei, vamos nos aperceber que as pessoas
ilegíveis para obter estes benefícios e a s condições que têm de se
verificar para os obter são tão difíceis de alcançar que, apesar de serem
boas medidas políticas, acabam por ser de muito difícil prática.
DL 20-B/2023 de 22 de março
Tudo o que não estiver especificado DL 74-A/2017 de 23 de Junho, aplicamos as
normas previstas para o crédito ao consumo DL 133/2009, este é supletivo.
Antes deste DL, havia vários regimes jurídicos. Este DL veio a juntar todos estes, e
derrogar alguns rj anteriores. No entanto, apesar de vir a revogar os créditos
bonificados, as pessoas não perderam os créditos bonificados, apenas decidiram de
haver novas pessoas a usufruir destes (fenómeno da sobre vigência da lei).

Questão de aplicação da lei no tempo: este Decreto-Lei abrange, aplicando-se, aos


contratos de crédito concedidos a consumidores para aquisição de imóveis destinados a
habitação cuja garantia é uma hipoteca ou outro direito sobre coisa imóvel, celebrados
antes de 1 de janeiro de 2018?

O Decreto –Lei não contém nenhuma disposição transitória de carácter formal ou


material que resolva a questão, pelo que se aplicará supletivamente o art. 12.o do
Código Civil e, de acordo com o n.o 2 deste preceito, a resposta é afirmativa, as novas
regras sobre relações obrigacionais aplicar-se-ão a todos os contratos celebrados
anteriormente àquela data que se mantenham em vigor.

(Art. 12.o, n.o 2.o, 2.a parte, a contrario sensu, retroatividade in mitius) .

Regime Supletivo

O Decreto-Lei n.o 133/2009, de 2 de junho servirá de disciplina supletiva, pois entre


ambos os regimes existem semelhanças, em particular no que respeita à previsão de
regras sobre publicidade, deveres de assistência ao consumidor, acesso não

70
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

discriminatório a base de dados para avaliação da solvabilidade do consumidor, vendas


associadas e informação a prestar durante a vigência do contrato de crédito.

Resolução Extrajudicial de Litígios

Sem prejuízo do direito de recurso aos tribunais, passou a prever-se a obrigação de


disponibilização de meios de resolução extrajudicial de litígios, quer para o crédito
hipotecário, quer para o demais crédito aos consumidores, através da adesão dos
mutuantes a, pelo menos, duas entidades habilitadas a realizar arbitragens.
Exemplos: Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo de Lisboa (CACCL); Centro
de Informação de Consumo e Arbitragem do Porto (CICAP); Centro Nacional de
Informação e Arbitragem de Conflitos de Consumo (CNIACC); Centro de Arbitragem
da Universidade Católica Portuguesa (CAUCP), entre outros....

Art. 2º - âmbito da aplicação – apesar de chamarmos de regime do crédito à habitação,


ele na verdade chama-se regime dos contratos de credito relativos a imóveis, já que se
aplica ao credito formulado para a construção ou para aquisição de um imóvel destinado
a habitação (inclusive o arrendamento e o lising imobiliário 61 para efeitos de aquisição
de habitação). no entanto, há ainda um outro requisito: este imóvel tem de ter associado
uma garantia: a hipoteca.

Este regime so se aplica se estiver em causa uma RJ entre crédito e o consumidor (art.
4º, nº1, al d) “Pessoa singular que, nos negócios jurídicos abrangidos pelo presente
decreto- lei, atua com objetivos alheios à sua atividade comercial ou profissional”).

Ex: uma imobiliária que adquire imóvel para depois o vender, não se aplica este
DL

Art. 5º - É regulamentado pelo aviso 5/2017 do Banco de Portugal. Este art. 5º veio
proibir a parte variável de certos objetivos que trabalhadores dos bancos tinham de
alcançar (p.ex. trabalhadores do banco quanto mais créditos à habitação tivessem, mais
prémio ganharam). Assim, na dúvida se o banco deve ou não conceder um crédito à
habitação, neste momento, não se concede o crédito. No entanto, antes, como não

61
Uma vez que o legislador não quis desfavorecer uma pessoa que pretende obter habitação, em prol
do tipo de financiamento a que esta recorre.

71
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

existia esta atuação, eram concedidos vários créditos, mesmo estando na dúvida. A
concessão de crédito não pode assim entrar na politica remuneratória, de modo a
impedir um conflito de interesses. Em boa verdade, na prática, esta medida acabou por
não ter grandes efeitos, sendo que a pressão continua a existir.

Art. 6º - tem de ser analisado à luz da altura em que foi emitido (entrou em vigor em
2018). Só pode estar localizado no setor do banco destinado à concessão do crédito à
habitação, pessoas que sejam capazes de cumprir e explicar de forma clara todas as
informações deste DL. Tem de ser uma pessoa que esteja “dentro” da temática que está
a abordar. Assim, este art. veio impor que nestes setores só podem conter funcionários
que cumpram com determinados requisitos (nº3). Vale ressalvar que a al. c) do nº3
desta norma deixou de ser aplicável a partir de 21 de março de 2019, sendo que a pessoa
para continua a trabalhar neste setor tem de se formar. Portaria 385C/2017 veio definir
os conteúdos mínimos que estes funcionários tinham de ter para conceder créditos à
habitação62.

Práticas comerciais que devem ser feitas: especificação de prática desleal ou enganosa,
proibidas – a prof não vai perguntar, só para sabermos.

Práticas Comerciais

O novo regime (especial) não afastou a aplicabilidade do regime regra no que respeita a
práticas comerciais, regulado pelo decreto- Lei 57/2008, de 26 de março, que estabelece
o regime jurídico aplicável às práticas comerciais desleais das empresas nas relações
com os consumidores, ocorridas antes, durante ou após uma transação comercial
relativa a um bem ou serviço.

Neste Decreto-Lei 57/2008 refere-se que são proibidas as práticas comercias desleais e
define quais as práticas desleais em geral (art. 5.o), práticas desleais em especial (art.
6.o), ações enganosas (art. 7.o), ações consideradas enganosas em qualquer
circunstância (art. 8.o), omissões enganosas (art. 9.o), práticas comerciais agressivas
(art.11.o) e práticas comerciais agressivas em qualquer circunstância (art.12.o).

62
“a) noções fundamentais de economia e finanças; b) características dos produtos de crédito em geral
e de crédito hipotecário em especial; c) noções gerais do processo de aquisição de imóveis e de registo
predial; d) deveres a observar pelas instituições de crédito na comercialização de contratos de crédito
hipotecário; e e) deveres observado pelas instituições de crédito na vigência de contratos de crédito
hipotecário”

72
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

A acrescer à disciplina deste Decreto-lei, existe o artigo 9.o do decreto -Lei n.o
74-A/2017 que estipula que as comunicações comerciais e de publicidade sobre
contratos de crédito devem ser leais, claras e não enganosas, sendo proibida, em
forma de comunicação que possa criar falsas expecativas nos consumidores quanto à
disponibilização ou ao custo de um crédito.

Art. 4º al. w) e a al v) remeter para o art. 11º:

 tying – vendas associadas obrigatórias é proibido; - al. w) do art. 4

ex: conceder crédito, apenas se a pessoas adquirir outros serviços

 bundling - vendas associadas facultativas – é permitido – al. v) do art. 4º

ex: conceder crédito, mas se adquirir outro serviço tem uma bonificação
de x % - é uma espécie de sedução ue o banco faz, em que o consumidor
deve adquirir determinados serviços, em troca de descontos.

Art. 11º - versão original previa que o banco pudesse exigir a abertura de uma conta,
bem como seguro, para que pudesse conceder crédito à habitação (ex: vou ao
SANTANDER adquirir um crédito, mas a minha conta é no BPI. Eles exigem que eu
abra conta para me fornecer o crédito). Com a lei 57/2020 houve a proibição disto. Era
uma espécie de exceção ao tying. Após esta alteração, o que acontece é que o banco não
obriga, mas concede determinadas bonificações se o cliente abrir conta.

Atualmente, quando o banco exige que a pessoa celebre um contrato de seguro, o banco
não pode exigir que este contrato de seguro e multirriscos seja celebrado na sua
seguradora parceira, mas se fizerem ali, o banco dá um benefício, e isto mantém-se
assim. O banco pode exigir que se faça um contrato de seguro, não pode é exigir que
seja na sua segura, mas se for, dá, p.ex., nas condições de crédito (bundling).

Art. 8º - o banco tem dever de informação durante todas as fases do processo, é


transversal ao contrato. Deve ser verdadeiro, concreta, atualizada, objetiva, adequada
aos conhecimentos do consumidor individualmente considerado, e, é nesta ultima que
podemos “atacar”, porque o que acontece é que o banco fornece uma informação

73
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

standardizada, i.e., é sempre a mesmo, independentemente se está perante um médico,


advogado, agricultor, etc..

Art. 10º - a publicidade ou qualquer comunicação comercial por meio da qual o


mutuante se propõe a conceder crédito deve indicar a TAEG do contrato de crédito a
que refere e esta comunicação não se considera cumprida quando a indicação da TAEG,
pelo seu tratamento gráfico ou audiovisual, não seja legível ou percetível pelo
consumidor. As informações devem especificar e destacar, de modo claro e conciso, os
elementos constantes do art. 10º, nº5 dos quais se destaca:

 montante total do crédito - a TAEG, que deve ser indicada na publicidade de


modo pelo menos tão destacado como o de qualquer taxa de juro. A TAEG, nos
termos do art. 15º é calculada com base no custo total do crédito para o
consumidor, sendo igualmente incluídos no cálculo da TAEG, exceto se não for
obrigatória a abertura e manutenção de uma conta específica para a obtenção do
crédito, ou para a sua obtenção nos termos e condições comercializados:

a) os custos de abertura e manutenção de uma conta específica;


b) os custos de utilização de um meio de pagamento, tanto para
operações de pagamento como para a utilização do crédito nessa
conta;
c) outros custos relativos a operações de pagamento;

 a duração do contrato de crédito;


 MTIC, que é o montante total imputado ao consumidor;
 O montante e o nº das prestações;

Deve inclusive dar-se exemplos concretos representativos das informações prestadas


para melhor compreensão dos consumidores. O legislador reconhece ainda que as
informações devam ser facilmente legíveis ou claramente percetíveis, mas que isso
variará conforme o meio utilizado para a publicidade.

Art. 9º - ficha de informação normalizada: duração do contrato (maturidade do


contrato), montante das prestações, montantes totais de crédito, a TAEG 63 (principal
63
Taxa anual de encargos efetiva global, vem expressa em % e exprime o custo total do crédito. Se for
bem calculada, confere-nos uma forma de percebermos qual o crédito mais barato.

74
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

taxa de qualquer contrato, mas em especial no crédito à habitação), o MTIC64 é o


montante total imputado ao consumidor, aparece em EUR, e exprime o custo que vamos
ter com aquele crédito, quando cumprido até ao fim.

Art. 12º - informação pré-contratual personalizada clara, verdadeira, completa,


compreensível e legível sobre os contratos de crédito, cujos elementos mínimos a incluir
constam do nº3 do art. 12º. A informação deve ser disponibilizada em suporte papel ou
outro suporte duradouro, mediante solicitação dos consumidores nos balcões dos
mutuantes e, se for o caso, dos intermediários de crédito vinculados.

Art. 13º- já no que diz respeito à informação pré contratual personalizada, dispõe o
artigo 13º que os mutuantes ou intermediários de crédito disponibilizam aos
consumidores a ficha de informação normalizada elaborada com base na informação por
estes apresentada, com a simulação das condições do contrato de crédito, que pode ser
realizada aos balcões do mutuante ou de todo intermediário de crédito, através dos seus
sítios na Internet ou por qualquer outro meio de comunicação à distância.

Em simultâneo com a comunicação da aprovação do contrato de crédito, os mutuantes


devem entregar aos consumidores uma ficha de informação normalizada que incorpore
as condições do contrato de crédito aprovadas, acompanhada da minuta de contrato de
crédito.

FINE65 + MINUTA

Ex: A e B vão casar e querem comprar um imóvel. Vão pedir simulações para o
crédito à habitação. Atualmente, podem pedir simulações até em créditos que
não são portugueses. Quais as variáveis que têm de fornecer: são os dois
trabalhadores; crédito a 30 anos; idade de ambos, EUR 400.000, taxa variável.
Vão ao banco I que tem de lhes fornecer o FINE (ficha informação normalizada
europeia66 67) e a minuta do contrato de crédito que poderá vir a ser celebrado.
64
É o montante total imputado ao consumidor, aparece em EUR, e exprime o custo que vamos ter com
aquele crédito, quando cumprido até ao fim.

65
Ficha de informação normalizada europeia (FINE)
66
Anexo I do DL e uma instrução do Banco de Portugal 19/2017

67
Ex: Lituânia possui condições mais favoráveis que Portugal, e podemos recorrer a este para fazer
crédito à habitação

75
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Neste banco I a TAEG a 10%. No banco II, TAEG de 11%. Banco III, TAEG de
13%. Depois de apreciarem as propostas, A e B decidiram recorrer novamente
ao Banco I, passados 25 dias, que lhes indicou que a taxa seria a 10,9%.

Assim, este DL veio trazer a ideia de que, a partir do momento em que o banco emite o
seu FIDE, este fica vinculado a esta durante 30 dias, permitindo que a pessoa com
alguma calma e tranquilidade escolha o seu crédito.

Quando é emitida a aprovação do crédito, as pessoas não podem celebrar a escritura


pública decorridos 7 dias. Este prazo foi estipulado pelo legislador, como período de
reflexão, para evitar precipitações, e é imperativo, não podendo ser derrogado, mesmo
que por acordo entre as partes.

Nos casos em que, nos termos da proposta contratual a apresentar ao consumidor, o


crédito deva ser garantido por fiança (além da hipoteca), o mutuante deve entregar
simultaneamente a cópia da FINE e da minuta do contrato ao fiador e prestar-lhe as
explicações adequadas, assegurando-lhe um período mínimo de reflexão igual ao do
mutuário, antes da celebração do contrato de crédito. Qualquer informação adicional
que os mutuantes ou, se for caso disso, os intermediários de crédito que tende a prestar
ao consumidor deve ser dado em documento separado, anexo à FINE.

DL 90-C/2022 – prevê o programa porta 65 arrendamento por jovens. Aumenta o leque


de jovens elegíveis, aumentando a idade do jovem, aliviando as burocracias do
processo.

14/04/2022

Art. 16º- avaliação de solvabilidade do consumidor, com base nas atuais condições
financeiras, e não com base em futuras. Tem de ser feita sem análise da fotologia. O
avaliador não pode avaliar o imóvel com a perspetiva que ele se vai valorizar no futuro.
Tem de avaliar no momento, salvo se se tratar de um crédito à construção e, aí, podem
me financiar a mais (é concedido por traches/aos bocados).

Art. 28+ art. 28º-A

76
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Art. 27º - ao contrário do que sucede num contrato de cv por prestações (art. 974º CC).
Tanto a resolução do ct de arrendamento por incumprimento do pagamento por rendas,
como o credito à habitação são formas de resolução mais apertadas, sendo mais difícil
resolver o contrato por incumprimento para qualquer uma das partes, uma vez que aqui
está em causa um direito à habitação. O direito à habitação tem de ser assegurado pelo
estado social de direito. Nestas normas há um especial cuidado legislativo em não
possibilitar uma resolução por incumprimento. Não é com um simples incumprimento
que se pode resolver este tipo de contratos. Regras especiais:

 Para que o mutuante possa resolver o CT de crédito à habitação por falta de


pagamento das prestações, tem de estar em incumprimento 3 prestações mensais
totais sucessivos. Não conta o incumprimento parcial, nem o incumprimento
interpolado. Se acontecerem 3 seguidas e inteiras, tem de interpelar admonitória
(art. 408º CC), pedindo ao mutuário para regular as prestações em falta,
juntamente com os juros de mora e, nessa interpelação, além do prazo
admonitório tem de deixar claro qual a consequência contratual do
incumprimento naquele prazo. Se não houver a regularização dá lugar à
resolução do contrato. Não basta dizer o prazo. Isto não permitirá ao banco
resolver o contrato, já que não informou o mutuário da consequência. Art. 27º do
DL 74-A.
 Depois de título executivo, o banco recorre à execução – art. 703º, al. b) CPC.

Retoma do contrato – no prazo dos embargos do executado, pode ser pago as


prestações em atraso com juros, retomando o contrato tal e qual como estava
inscrito inicialmente, sendo que este renasce.

Para regularizarmos temos de regularizar a prestação e os juros, porque só assim


é que retoma o contrato.

O mesmo acontece no contrato de arrendamento, o que significa que apenas se


aplica para contratos com fins habitacionais.

Art. 23º - possibilidade de haver o reembolso antecipado da quantia. Amortização total.


Há lugar a pagamento de comissões máximas (penalizações/taxas de amortização
antecipada) – art. 23º, l. a) e b) – não podem ser superiores nunca, mas os bancos podem

77
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

fixar taxas inferiores. Se o contrato for taxa variável é 0,5% e a taxa fixa 2%. Este ano,
por causa do DL 80-A/2022, veio suspender a aplicação deste art. 23º - cobrança de
taxas. Se porventura não existisse este DL, existem 3 situações em que a amortização
não há lugar a penalizações: amortização do crédito por morte; amortização devida a
desemprego; ou amortização devida a deslocação profissional.

Amortização total do crédito pode tb ocorrer quando há uma transferência do crédito


habitação de uma instituição para outra, mas, nesta situação, dá sempre lugar a
pagamento de comissões. Acionar o protocolo interbancário. Não do banco de onde vão
sair, mas do banco de onde vão entrar, já que o primeiro não tem qualquer interesse em
agilizar o processo. Uma das coisas que pode ser importante nesta troca é a questão dos
seguros, já que cada crédito a habitação tenha um seguro de vida, o que significa que
com a transferência do primeiro, tb implica a necessidade de transferência do segundo.
Assim, quando há uma transferência de credito habitação, os seguros mantêm-se
válidos, mas troca o beneficiário (o banco), não sendo preciso fazer um novo contrato
de seguro.

Resolução do Banco de Portugal (complain or explain):

O banco de Portugal emitiu uma recomendação, dirigida aos contratos de crédito


celebrados com consumidores a partir de 1/07/2018, designadamente crédito à
habitação, crédito com garantia hipotecária ou equivalente e crédito ao consumo. A
finalidade é promover a adoção pelo sistema financeiro português de critérios de
concessão de crédito prudentes para garantir, por um lado, a sua resiliência, reforçando
a capacidade para absorver potenciais choques adversos e, por outro, que as famílias
obtenham financiamento sustentável, minimizando o risco de incumprimento.

Aquela medida introduziu:

 limites de maturidade tem haver com a recomendação do BP sobre o nº de


anos máximo para conceder crédito. É calculado com base no mínimo entre o
seu preço de aquisição e o seu valor de avaliação.

Ex: antes podia haver crédito até 40 anos, sendo que é o expectável que até 2030
vai passar a ser 30 anos, sendo que, neste momento, fizeram a redução por
setores de idade, sendo que, quem tem até 30 anos ainda pode fazer o crédito de
78
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

40 anos; se tivermos 30 a 35 anos o crédito pode ser até 37 anos; se tivermos


mais de 35 temos até 35 anos.

Contudo, vale ressalvar que estes critérios não são obrigatórios, são
recomendados, o que significa que os bancos podem impor mais anos.

 LVT– para a HPP o LTV recomendado é de 90%. O montante que vamos pedir
emprestado vs valor de mercado ou valor de avaliação consoante o inferior (ex:
valor de mercado 100, valor do perito é 110. Qual é o menor? O do mercado.
Quanto é que me vão financiar? 90% do menor dos dois, ou seja, 90).

O lising imobiliário é feito a 100%.

O crédito à construção tb é uma exceção, sendo financiada a 100%, já que é


concedida por traches.

 DSTI/limites ao rácio entre o montante total das prestações mensais


associadas a todos os empréstimos detidos pelo mutuário e o seu rendimento
mensal líquido de impostos e contribuições obrigatórias à segurança social -
Outra inovação é a taxa de esforço total (total dos rendimentos do agregado com
a despesa total, com prestações por crédito) que passou a não poder ultrapassar
os 50. Em 5% pode ultrapassar até aos 60%, mas o ideal é que a DSTI se situe
nos 50%. No entanto, mais uma vez, os bancos podem conceder créditos, de
modo a ultrapassar o DSTI.

79
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Avaliação do imóvel – art. 18º Lei do crédito à habitação - os mutuantes devem


proceder à avaliação dos imóveis através de perito avaliador independente,
habilitado para o efeito através de registo na CMVM.

O consumidor pode apresentar ao mutuante uma reclamação escrita relativamente


aos resultados e fundamentação da avaliação, a qual deve ser objeto de resposta
fundamentada por parte do mutuante, ou pode ainda requerer ao mutuante a
realização de uma segunda avaliação ao imóvel, mas se a reavaliação do imóvel
ocorre por iniciativa do mutuante, em cumprimento de normas legais e
regulamentares, está vedada a cobrança de qualquer encargo ou despesa ao
consumidor.

As moratórias não vão sair.

LEI 80-A/2022 de 25/10

Esta lei contém medidas destinadas a mitigar os efeitos do incremento dos indexados de
referência de contratos de crédito para aquisição ou construção de habitação própria
permanente.

De entre os mecanismos neste último diploma previstos, a concessão de crédito aos


consumidores, em particular no crédito à habitação, incluem, designadamente, a

80
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

avaliação da solvabilidade dos propostos mutuários, contemplando cenários mais


gravosos em termos de taxa de esforço mensal.

Mas, não obstante este facto, é preciso atender à realidade efetivamente sentida pelas
famílias, especialmente num dos principais encargos do orçamento familiar, prevenindo
a materialização de eventuais riscos, daí que o Governo tenha criado este conjunto de
medidas, através do Decreto-Lei 80-A/2022, que entraram em vigor a 26 de novembro
de 2022 e vigorarão até 31/12/2023.

A variação dos indexantes de referência tem impacto tanto nos contratos de crédito em
execução como em novos contratos, na medida em que ambos refletem a tendência,
positiva ou negativa, de evolução dos indexantes de referência.

Daí que este Decreto-Lei se aplique aos contratos que estejam a produzir efeitos à data
da entrada em vigor do referido diploma legal.

Veja-se o art. 11.o, n.o 2, que dispõe: “As instituições procedem, no prazo de 45 dias
contados da entrada em vigor do presente decreto-lei, à aplicação do disposto no artigo
5.o relativamente a mutuários que se encontrem, à data da entrada em vigor do presente
decreto-lei, nas condições previstas no artigo 3.o “.

Este DL não alterou o crédito à habitação, é um diploma paralelo e, só tem como


finalidade atenuar os efeitos negativos que as subidas das taxas de juros tiveram nos
orçamentos familiares. Só se aplica a créditos à habitação para HPP; só se aplica a
contratos de crédito com taxa variável, e que não seja de valor superior a EUR 300.000.

Crítica à lei – pode ser altamente discriminatória, na medida em que no centro


do Porto dificilmente existem imóveis por EUR 300.000, i.e., casas sem
condições nenhumas são muito valorizadas pela sua localização. Todavia,
existem zonas do país, como p.ex. na zona interior, em que imóveis de EUR
300.000 são luxuosas.

Concedeu uma proteção discriminatória à população.

81
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Esta lei tem de ser lida com o DL 227/2012 – PARI e PERSI – quando alguém entra em
incumprimento do contrato, o banco tem de o sinalizar e tentar recuperar aquela pessoa
antes de passar para o contencioso, ou seja, é a tentativa de renegociar. São créditos em
que gouve incumprimento, visando-se a renegociação.

A lei 80/2022 diz que se em virtude do aumento da taxa de juro, uma pessoa atingir uma
taxa de esforço de 23%, teve um aumento significativo da tx de juro, ou se atingir de
50% tem uma taxa de esforço significativa, o que significa que em qualquer um destes
cenários, se tiver HPP, pode lhe ser aplicável as medidas deste DL. Apesar de levar a
uma situação de incumprimento, não significa que já haja. Assim, se antes de estar
numa situação de incumprimento, a pessoa adotar uma das medidas do DL, há uma
renegociação regular. Ao contrário do que acontece com quem já está em
incumprimento, quando recorrer à renegociação. Ambas as negociações têm de ser
enviadas para a CRS. No entanto enquanto aquela que é feita antes do incumprimento
vai com o carimbo verde, a que é feita depois do incumprimento, vai com carimbo
preto.

Que tipo de medidas são estas?

 Eventualidade de se poder celebrar um novo ct para renegociar a divida em


atraso;
 Se tivermos vários contratos, consolidá-los num só;
 renegociar o aumento do período de maturidade;
 estipular ou renegociar uma carência de período de capital ou de juros, ou de
ambos; ou ainda deferir uma parte do capital para o lising68.

Ao renegociar o crédito podemos ter um problema ao ter de mexer no registo, p.ex., ao


termos de aumentar o prazo da hipoteca. Neste caso, se o fizermos, o banco não pode
cobrar emolumentos do registo predial e de isenções de imposto de selo, está isento.

Quando se considera existir um agravamento significativo da taxa de esforço?

68
Podemos pedir ao banco, mesmo que não estejamos numa das situações, podemos pedir para
aumentar o período de maturidade, sendo que os bancos fazem uma nova calendarização para estender
o pagamento para mais tempo. Todavia, mais tarde, podemos pedir a retoma do prazo inicial. Ressalvar
que tal ato só pode ser feito uma vez ao abrigo deste DL

82
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

• Quanto a taxa de esforço atinja 36%: Na sequência de um aumento de


5 pontos percentuais face à taxa de esforço no período homólogo ou,
para contratos celebrados nos últimos 12 meses, face à data da sua
celebração; ou
Em consequência de um aumento igual ou superior do indexante de
referência do contrato em causa face ao valor considerado para efeitos da
projeção do impacto do aumento futuro desse indexante, realizada nos
termos do artigo 16.o do Decreto-Lei n.o 74-A/2017, de 23 de junho, na
sua redação atual;

OU

• Quando a taxa de esforço já fosse superior a 36 % no período


homólogo e se verifique um aumento da taxa de esforço ou do indexante
de referência do contrato nos termos previstos nas subalíneas i) ou ii) da
alínea anterior.

Quando se considera existir uma taxa de esforço significativa?

 Quando a taxa de esforço dos mutuários corresponda a, pelo menos, 50 %.

 Por taxa de esforço deve entender-se: o rácio entre o montante da prestação


mensal calculada com todos os empréstimos dos mutuários e os seus
rendimentos mensais;

 O cálculo dos rendimentos para efeitos do Decreto-Lei 80-A/2022 é feito de


acordo com o art. 3.o, n.o 3, al. b), i), ii) e iii).

 As instituições averiguam a existência de indícios de agravamento significativo


da taxa de esforço ou de verificação de taxa de esforço significativa com, pelo
menos, 60 dias de antecedência relativamente à seguinte refixação da taxa de
juro.

 Toda a documentação para apuramento dos rendimentos deve ser solicitada


pelas instituições aos mutuários que têm 10 dias para a fornecer – dever de
colaboração.

83
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

O que fazer se as instituições detetarem indícios de agravamento significativo da


taxa de esforço ou de verificação de uma taxa de esforço significativa do
mutuários?

Devem aplicar o disposto nos capítulos I e II do Decreto-Lei n.o 227/2012, de 25 de


outubro, designadamente:

Desencadear os procedimentos necessários à prevenção do incumprimento de


obrigações decorrentes desses contratos por parte dos clientes bancários e, em caso de
incumprimento de obrigações decorrentes de contratos de crédito, providenciar pelo
célere andamento do procedimento previsto nos artigos 12.o a 21.o do Decreto-Lei
227/2012 (curiosamente não está no Capítulo I nem II do decreto-lei 227/2012, mas
antes na secção I do capítulo III e que consiste no PERSI - Procedimento extrajudicial
de regularização de situações de incumprimento), de modo a promover, sempre que
possível, a regularização, em sede extrajudicial, das situações de incumprimento, tendo
os mutuários direito a obter, de forma gratuita, informação, aconselhamento e
acompanhamento por parte das entidades reconhecidas para esse efeito, no âmbito da
rede extrajudicial de apoio a clientes bancários, sendo que as instituições estão
obrigadas a prestar informação aos clientes bancários sobre as entidades referidas no
número anterior, designadamente quanto às suas atribuições e elementos de contacto.

Nota: as instituições devem adotar o mesmo procedimento se o mutuário lhes transmitir


factos que indiciem uma degradação da sua capacidade financeira.

Em concreto, para as instituições, em que consistem essas medidas e


procedimentos?

Resumidamente:
• As instituições devem elaborar e implementar um Plano de Ação para o Risco de
Incumprimento (PARI),que devem disponibilizar aos seus trabalhadores em moldes que
permitam a sua consulta imediata e permanente, onde se especifique, entre outros:

I. Os procedimentos adotados para o acompanhamento permanente e sistemático


da execução dos contratos de crédito;

84
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

II. Os factos que, no âmbito dos procedimentos aludidos, são considerados como
indícios da degradação da capacidade financeira do cliente bancário para
cumprir as obrigações decorrentes do contrato de crédito;

III. Os procedimentos a adotar pelos seus trabalhadores envolvidos no atendimento


ao público, presencialmente ou através de meios de comunicação à distância,
quando, por comunicação do próprio cliente bancário, tomem conhecimento de
factos que indiciem o risco de incumprimento de obrigações decorrentes de
contratos de crédito;

IV. As soluções suscetíveis de serem propostas aos clientes bancários em risco de


incumprimento;

V. Os prestadores de serviços de gestão do incumprimento responsáveis pelo


desenvolvimento de procedimentos e ações previstos no

PARI, caso existam, detalhando os serviços contratados e os mecanismos


previstos para a sua articulação com as estruturas ou com outras entidades
potencialmente envolvidas nesses procedimentos e ações.

Que tipo de propostas podem as instituições apresentar aos mutuários?

Podem incluir, nomeadamente, as seguintes soluções:

a) A celebração de um novo contrato de crédito tendo como


finalidade o refinanciamento da dívida do contrato de crédito
existente;

b) A alteração de uma ou mais das seguintes condições do contrato


de crédito, incluindo através:

I. Do alargamento do prazo de amortização;

II. Da fixação de um período de carência de reembolso do capital ou de


reembolso do capital e de pagamento de juros; iii) Do diferimento de
parte do capital para uma prestação em data futura;

85
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Da redução da taxa de juro aplicável ao contrato durante um


determinado período temporal;

III. A consolidação de vários contratos de crédito.

Além destas propostas, podem ainda ao mutuário o alargamento do prazo de


amortização do contrato de crédito com opção de retoma do prazo contratualizado antes
do alargamento (sendo que aqui, o mutuário deve efetuar esse pedido durante o período
de aplicação do alargamento do prazo de amortização), acompanhando a proposta de
um calendário de amortização ajustado e indicando o impacto financeiro decorrente
desse alargamento.

Nota: Se o mutuário exercer o direito de retoma do prazo inicialmente contratualizado


antes do alargamento, não poderá beneficiar novamente do alargamento do prazo com
opção de retoma.

 A instituição de crédito não está obrigada a apresentar propostas caso o cliente


não colabore, nomeadamente no que respeita à prestação de informações ou à
disponibilização de documentos solicitados que permitam à instituição de
crédito dispor de um conhecimento efetivo da situação financeira do cliente
bancário.

 A instituição de crédito acompanha a eficácia das soluções acordadas com os


clientes bancários, avaliando regularmente a adequação dessas soluções à
capacidade financeira, objetivos e necessidades dos clientes bancários e
propondo, sempre que tal se revele adequado, outras soluções.

 A ou as propostas devem ser apresentadas e comunicadas em suporte duradouro


pela instituição no prazo máximo de 15 dias após a constatação da degradação
da situação financeira do mutuário ou o agravamento da significativo da taxa de
esforço ou da constatação de taxa de esforço significativa.

Independentemente do valor em dívida, até 31 de dezembro de 2023 não é devida a


comissão de reembolso antecipado prevista na alínea a) do n.o 5 do artigo 23.o do
Decreto-Lei n.o 74-A/2017, de 23 de junho, na sua redação atual, que refere que “o

86
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

valor da comissão a pagar pelo consumidor nos casos de reembolso antecipado parcial
ou total, consta clara e expressamente do contrato e não pode ser superior a:

 0,5 /prct. a aplicar sobre o capital que é reembolsado, no caso de o reembolso


ocorrer num período em que é aplicável o regime de taxa variável;

Ou seja, não é devido o valor da comissão a pagar pelo consumidor nos casos de
reembolso antecipado parcial ou total nos contratos de crédito para aquisição ou
construção de habitação própria permanente, onde seja aplicável o regime de taxa
variável.

Os atos decorrentes do cumprimento das medidas propostas e aceites enunciadas


anteriormente estão isentos do pagamento de taxas emolumentares, nomeadamente em
matéria de registo predial – aqui tem impactos nomeadamente quando é necessário
proceder a ajustes na hipoteca associada ao crédito, mas não só.

O incumprimento, pelas instituições, dos deveres referidos até aqui ou na respetiva


regulamentação, constitui contraordenação punível nos termos do artigo 210.o do
Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras.

19/04/2022

CONTRATOS DE GARANTIA:

Tipos de contratos de garantia: garantias aparentes 69, aval, Fiança “omnibus”, Mandato
de crédito, Garantia bancária autónoma, Garantia financeira.

 GARANTIAS APARENTES70:

Estas garantias são aparentes porque são convenções que as partes estipulam entre elas,
não há um património especifico que respinda, nem um património que rtesponda.
Produz efeitos inter partes.
69
Clausulas pari passu, cross default e negativa pledge
70
Diferente do direito civil em que a principal garantia é o património do devedor. Podem ser
patrimoniais ou pessoais. Garantias especiais pessoais, para além do património do devedor, o credor
tem o património de uma terceira pessoa que dá garantias a que se o devedor não cumpir, este cumpre
(ex: fiança).

87
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Garantias covenants e cartas de conforte.

Garantias covenants – são clausulas insertas em contratos de financiamento,


normalmente de montantes avultados, que permitem ao credor regular, em geral, a
forma como serão dirigidos os assuntos da sociedade devedora, bem como ficar numa
posição de extremo poder no que diz respeito a possíveis incumprimentos. São clausulas
contratuais estipuladas por uma das partes no contrato, normalmente o credor.

Não esquecer que estamos aqui a falar de contratos de adesão, onde estão as covenants,
que são clausulas contratuais elaboradas pelo banco, que lhe confere um poder sobre o
outro de lhe impor a renegociação do contrato, com termos mais favoráveis ao credor.

Uti8lizando este tipo de clausulas contratuais, permite-se que o credor possa definir
momento em que impõe a renegociação do contrato de financiamento de modo a ter um
controlo ainda mais intenso sobre a sociedade e estando esta em dificuldade financeira,
o devedor não terá opção senão aceitar os termos da renegociação.

Ex: caso acontece x,y, e z, o banco pode, de imediato, invocar o pagamento


antecipado das prestações. Não ocorre a resolução, porque não interessa ao
credor a resolução do credor, uma vez que esta tem efeitos retroativos, o que
significaria que teria de devolver tudo o prestado, e a ele não lhe interessa isso.
No entanto, exigir já tudo ao devedor que já está frágil, acaba por ser injusto.
Assim, o banco pode alegar antes a renegociação do contrato, com base nos seus
próprios interesses.

Podem ser, a grosso modo, positivas (impondo imposições ao devedor –


comportamentos positivos de fazer algo) ou negativas (impondo proibições ao devedor).

Com base no tipo de covenants, podemos ter:

 Reporting inconvents – obrigam o devedor a reportar certas informações da


empresa, i.e., o devedor fica obrigado periodicamente a prestar informações
sobre a empresa ao credor, de modo que este esteja sempre informado.
 Financial covenants - Clausulas que visam garantir a solvência da empresa, i.e.,
a reporte de operações financeiras.

88
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

 Disposal of acets covers – clausulas sobre a disposição de bens da empresa –


proibindo a empresa de alienar bens, enquanto o contrato se mantém.
 As mais comuns são as event of default, que geram o vencimento da obrigação
em caso de incumprimento. Consiste em colocar qualquer tipo de conhecimento
de que aquele devedor pode entrar em default. A mais conhecida é a cross
default (incumprimento cruzado71), que consiste na estipulação de uma clausula
no contrato em que, no caso de incumprimento, há o pagamento antecipado, i.e.,
implica a perda do benefício do prazo.

Ex: A tinha contraído créditos com o banco Y, do automóvel, com o banco W,


de eletrodomésticos, e com o banco Z, de crédito à habitação. No caso de
situação financeira carente, qual o crédito que há tendência para se deixar de
pagar? Os eletrodomésticos. E depois? O automóvel. E por ultimo? O credito à
habitação. Assim, quando for altura de penhorar, o banco cujo credito à
habitação havia sido adquirido, poderá já não ter nada para penhorar. Assim, a
estipulação no contrato da clausula cross default, basicamente, implica a ideia de
que, se incumprires em qualquer outro crédito que tenhas, isso implicará uma
espécie de incumprimento no meu e, portanto, o teu incumprimento noutros
créditos vai fazer com que eu possa pedir o pagamento antecipado.

Ressalvar que um contrato pode ter varias covenants, desde que estas sejam compatíveis
entre si.

Diz-se que estamos perante aparentes, na medida em que a sua eficácia apenas produz
efeitos inter partes, nada acrescentando às tradicionais garantias legalmente existente e à
garantia geral, sendo ineficazes em relação aos restantes credores.

Menezes Leitão refere que se tratam de garantias especiais atípicas e Menezes cordeiro
refere que são acordos de defesa da garantia geral.

Mas importa saber também onde se inserem as cláusulas de garantia e/ou


segurança: será que estamos perante uma cláusula de exigibilidade antecipada ou,
por outro lado, perante uma cláusula resolutiva expressa? Há quem defenda que as
71
Apenas tem eficácia entre as partes do contrato

89
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

cláusulas cross default constituem uma concretização convencional da perda de


benefício do prazo, aplicando, por interpretação extensiva, o n.º 1 do artigo 780.º.
(Menezes Cordeiro) Nós entendemos também que não deve ser de considerar uma
cláusula resolutiva expressa, nos termos do artigo 432.º CC, precisamente devido aos
efeitos contratuais que tal cláusula resolutiva implicaria, isto é, a extinção do contrato
com efeitos retroativos, o que não é seguramente o interesse do credor nestes contratos
quando decide acionar a cláusula. Contudo, é certo que no âmbito do direito dos
contratos, os casos de incumprimento de uma obrigação tenham como habitual
consequência a resolução desse contrato. Mas a realidade específica destes contratos
(com credores e devedores fortes) aponta-nos para a certeza de que seguramente não
será interesse do credor a resolução do contrato aquando da verificação de um
incumprimento.

Estas cláusulas de garantia e/ou segurança, não serão mais do que cláusulas de apoio ao
credor para assegurar o cumprimento do contrato pelo devedor, na medida em que o
compelem a atuar, ou não, de certa forma. A existir violação dessas cláusulas, o normal
é o credor optar não por resolver o contrato, mas sim renegociá-lo, com condições muito
mais favoráveis para si. Cláusulas que permitem antecipar cenários de incumprimento e
atuar de forma preventiva, renegociando os créditos.

Pari Passu/ Equal Raking - o devedor assegura ao credor que o seu crédito estará
sempre numa posição de igualdade relativamente aos outros credores, comprometendo-
se a conceder garantia idêntica, ao credor beneficiário da clausula, àquelas garantias que
vier a conceder a outros credores. Tal cláusula possui um efeito meramente
obrigacional.

Ex: Se porventura, um dos bancos pedir um reforço de garantia, terá de dar ao


banco que tem a clausula pari passu a mesma garantia.

Negative Pledge – clausula em que o devedor se obriga ou se compromete a não onerar


ou vender nenhum imóvel seu, sem prévio consentimento do credor que possui a
clausula. Desta forma, não pode o devedor conceder garantias reais ou pessoais a favor
de terceiros credores, embora seja permitida a negociação de exeções. Também se
compromete o devedor a não recorrer a qualquer outro mecanismo que crie, de jure ou
de facto, preferências a favor de outros credores. O que o beneficiário da clausula

90
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

pretende é evitar cenários de insuficiência dos bens que constituem a sua garantia.
Aparece por vezes articulada com a clausula cross default.

Como é que o nosso ordenamento jurídico trata as covenants?

A mais discutida é a cross default. Como não são verdadeiras garantias, também podem
ser designadas por clausulas de segurança.

Desde que não viole a lei, pode se aplicar. No entanto, tem de haver uma certa
razoabilidade e equilíbrio, que não pode ser tal que choque com os princípios da boa fé.
Assim, a jurisprudência entende que quando se usa uma clausula cross default, deve se
ter em atenção o princípio da boa fé, já que não é por ter dificuldades noutro crédito,
que terei neste crédito. Assim, a jurisprudência entende que estas são nulas.

Cross Default (ou incumprimento cruzado): cláusula inserta num contrato que
determina que, a ocorrência de um event of default (incumprimento da obrigação
principal mas não apenas) num outro contrato que o devedor possua, implica o
vencimento imediato e antecipado das prestações desse contrato. É uma cláusula que
pode determinar um efeito-dominó – knock-on ou domino effect nas relações jurídicas
contratuais do devedor. O que pode determinar o accionamento desta cláusula não é
apenas o incumprimento contratual do devedor mas também incumprimentos de
contratos por parte de sociedades detidas pelo devedor. Tem um efeito compulsivo, que
reforça a posição do credor. Como CCG, configuração com que se apresenta por os
bancos usarem contratos de adesão, deve obedecer ao regime jurídico das CCG. Na
realidade, o que se pretende é que o devedor seja compelido a uma renegociação
contratual com termos mais protetores do credor. O nosso ordenamento jurídico admite
a possibilidade do vencimento antecipado da dívida, em algumas circunstâncias
específicas, bem como considera que o benefício do prazo é matéria não subtraída à
autonomia ou liberdade contratual das partes.

Vale destacar o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, datado de 27/09/2017,


relatado por Inês Moura (Proc. N.º 1897/14.2T2AGD-A.P1)

CARTAS DE CONFORTO

91
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

As cartas de conforto são uma figura que derivam do gentleman agreedmant que
surgiram como pactos anticoncorrenciais tendentes à regularização a comercialização de
certos produtos, chegando até mesmo a assumir-se como acordos interestaduais.

Servem para dar conforto, na medida em que, um patrocinador/um padrinho vai dar uma
certa credibilidade à pessoa, para que esta possa adquirir o crédito. Podemos definir
uma carta de conformo como um documento escrito, sob a forma de carta, cujo
conteúdo é composto por declarações de teor variado e onde uma sociedade
(patrocinadora/emitente – sociedade-mãe No entanto, vale ressalvar que esta figura não
é a fiança, ou seja, apesar de existir, no caso de incumprimento, o banco não pode ir
sobre o padrinho. Com a carta do conforto, o banco acaba por se sentir mais confortável
em conceder crédito. Tem 3 níveis: fraca, forte, fortíssima (fiança encapotada – o teor
destas cartas de conforto é dúbio, tem de convencer o banco que aquela pessoa é “boa
para investir”). Normalmente, é o próprio banco que as pede.

O motivo para o seu surgimento prende-se com a circunstância de que em alguns casos
a dificuldade de obter crédito para algumas novas empresas esbarra no facto de a
mesma, porque é ainda nova, tende a não gozar da mesma credibilidade, pelo que carece
do “patrocínio” de outra entidade com maior renome.

Declarações de garantia de pagamento e de assunção de perdas – será uma carta de


conforto? Ou será uma verdadeira assunção de fiança? A doutrina tem admitido que,
com este tipo de declaração, o emitente assume o risco que pode advir do crédito. Isto é
diferente de dizer que, em caso de incumprimento, o emitente vai assumir. A
interpretação da vontade das partes é que vigorará, ou seja, terá de se interpretar qual a
verdadeira vontade do emitente.

 as cartas de conforto distinguem-se das garantias reais, proque não oneram bens
certos e determinados.
 As cartas de conforto distinguem-se da fiança porque não são acessórias de uma
dívida principal.
 As cartas de conforto distinguem-se do aval porque não são apostas a obrigações
cartulares.

92
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Porque é um instrumento informal, evita o pagamento de contribuições fiscais


associadas às garantias tradicionais.

O patrocinador, ou seja a sociedade que detém outra, ao emitir esta carta dirigida ao
Banco, pretende de certa forma dar um voto de confiança à sociedade que controla,
patrocinando o seu bom nome junto da instituição de crédito, todavia, prefere não ter
um compromisso (obrigacional) tão forte como teria se oferecesse uma fiança, um aval
ou uma garantia autónoma.

Quando as declarações foram emitidas por alguém que sabia que estas não eram
verdade, o que é que acontece?

1. Art. 485º, nº2 CC – obrigação de indemnizar pelas informações prestadas, se não


forem corretas
2. Art. 227º CC - culpa in contraendo - se forem prestadas informações na carta de
conformo quando o emitente da mesma sabia e conhecia as dificuldades
financeiras e mesmo assim ignorou tal facto para que o crédito fosse concebido.
3. Art. 334º - quando o emitente da carta induz o banco a conceder crédito e depois
assume um comportamento contrário ao conteúdo da carta, excedendo os limites
da boa fé e dos bons costumes - venire contra factum proprium. Abuso de
direito.

Um dos problemas jurídicos a tratar no âmbito das Cartas de Conforto:

É o de saber se a sua emissão no que respeita às declarações de vontade dela constantes
dará lugar à formação de um contrato ou a um vínculo emergente de uma promessa
unilateral por parte do emitente na medida em que ela aparentemente encerra apenas
declarações deste.

Há quem entenda, por exemplo, Pietro Caliceti, que se trata de uma questão meramente
teórica, pois na realidade o essencial é apenas determinar se as cartas de conforto têm ou
não natureza negocial.

Outros, como André Navarro de Noronha, assume desde logo que as declarações de
Patrocínio, ou pelo menos algumas delas, criam verdadeiros vínculos obrigacionais.

93
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Nós, entendemos que uma carta de conforto deve ser entendida numa perspetiva
negocial, enquanto contrato unilateral atípico com causa de promoção e de garantia de
relações jurídicas externas. É unilateral porque a carta de conforto decorre de um acordo
prévio, tácito ou não, do beneficiário e da pessoa que o emitiu.

Na realidade, da carta de conforto despreende-se a existência de acordo entre emitente e


beneficiário, prévio ou derivado de aceitação posterior, ainda que tácito.

O seu teor é normalmente ambíguo e impreciso (voluntariamente), precisamente para


não se transformarem em garantias comuns típicas, como a fiança, ou atípicas, como a
garantia autónoma. Considerando a sua ambiguidade, assume especial relevo as teorias
da interpretação da declaração negocial, expressas no art. 236.o e ss. do CC;

Vigorará o princípio da falsa demonstratio non nocet, ou seja, mesmo que


implicitamente declarada, deve sempre prevalecer a vontade real do declarante,
conhecida do declaratário72.

Tipos de declarações que podem estar incluídas no conteúdo das Cartas de


Conforto:

 Declarações de garantia de pagamento e de assunção de risco de perdas - Uma


nota particular para este tipo de declarações, porque correntemente se insiste em
que nem neste tipo de declarações o patrocinador garante ele próprio a prestação
em caso de incumprimento por parte da patrocinada, ou seja, não se poderá
interpretar que o emitente declara pagar ele próprio em substituição da
patrocinada em caso de incumprimento desta, antes se referindo que nestas
declarações é apenas assumido pelo emitente que o risco económico da operação
corre por sua conta e não do beneficiário o que parece fazer especialmente
sentido nas situações em que a operação serve também um interesse próprio do
emitente tão ou mais forte do que o interesse da patrocinada na sua execução.

o Fraca: a entidade que a emite e envia apenas informa o destinatário


sobre a relação e participação que tem na sociedade “patrocinada” e até

72
Tipos de declarações que podem estar incluídas no conteúdo das cartas de conforto: declarações de
conhecimento, de participação, sobre estabilidade da participação, de “policy”, sobre situação da
patrocinada em ordem ao cumprimento das suas obrigações, etc.

94
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

que vão orientá-la em termos financeiros – limita-se a informar e assume


um dever de diligência.

o Forte: Na carta segue o mesmo conteúdo que a anterior + obrigação de


desenvolver esforços no sentido de o banco vir a ser pago pela mutuária.
Mas para tal, pode assumir uma obrigação de meios (prova difícil para o
mutuante) ou uma obrigação de resultado, caso em que, se a mutuária
não cumprir a obrigação, o emitente da carta pode ser demandado a título
de responsabilidade contratual se não tiver cumprido com a sua
obrigação (de se esforçar para que a mutuária pague ao mutuante).
Diferenciar esta situação de uma promessa de fiança, em que a
promitente diz que assume as responsabilidades da patrocinada em caso
de alteração significativa da estrutura do capital social.

o Fiança encapotada: esta missiva comporta uma verdadeira obrigação de


pagar em vez e em substituição do devedor principal consubstanciando
uma fiança encapotada e até em alguns casos pode consubstancia um
verdadeiro reconhecimento de dívida (art. 458.o do CC).

FIANÇA “OMBIBUS”/FIANÇA GENERICA

A distinção entre a fiança geral e a fiança “omnibus”/genérica, consiste no facto de a


primeira ser prestada para todos as obrigações do devedor principal, decorrentes de
qualquer causa ou qualquer título, enquanto a fiança genérica, ou omnibus, garante as
obrigações futuras resultantes de certa ou certas relações negociais.

Ex: eu constituo-me fiador de todas as obrigações que A tem – obrigação geral,


já que as obrigações estão constituídas.

Na fiança, a sua validade está dependente da validade da obrigação garantida - art. 632º
CC - atenta a sua natureza acessória.

A fiança é a garantia dada por terceiro através da qual este coloca o seu património à
disposição do credor do afiançado, obrigando-se pessoalmente com todo o seu

95
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

património. A responsabilidade do fiador coincide, em regra, com a do devedor


principal, abrangendo tudo a que este se obrigou, incluindo a prestação, a reparação de
incumprimento culposo e, até, se estabelecida, a clausula penal.

Assumo-me fiadora de todas as obrigações que A venha a contrair – fiança genérica ou


omnibus, ou seja, a lei admite, expressamente, que a fiança possa garantir obrigações
futuras (art. 654º). No entanto, como é que isto se compatibiliza com o art. 200º e 400º
CC? O acórdão uniformizador 4/2001, a fiança omnibus não se pode dizer que se
assume todas as obrigações que se venham a constituir no futuro, tendo de haver
critérios para determinar todas as obrigações. É preciso definir critérios onde seja
possível balizar-se quais as obrigações. Sem qualquer tipo de critérios, a fiança é nula.
Art. 654º CC pode se constituir sobre uma obrigação futura, mas desde que seja
determinável, nomeadamente através de elemtnos que permitam inferir, com segurança,
a origem, prazo, possíveis montantes, e as relações entre os outorgantes, para aferir do
enquadramento do credito na fiança prestada.

MANDATO DE CRÉDITO

Contrato pelo qual alguém encarrega outrem de conceder crédito a um terceiro (art. 629º
CC). Todavia, não se trata de um verdadeiro contrato de mandato, porque não se
aplicam as normas referentes ao contrato de mandato, designadamente as normas dos
arts. 1181º e ss CC, pois não existe qualquer obrigatoriedade de transferência de direitos
adquiridos do mandatário para o mandante.

O mandato de crédito corresponde a uma garantia pessoal na medida em que o


mandante responderá perante o mandatário (mutuante) como fiador do terceiro
(mutuário).

Quando chego à beira do banco, e mandato com a instituição de crédito a possibilidade


de conceder crédito a terceiro. Não é obrigada a conceber, mas e se conceder? A
garantia do credito é o mandante, ope leges, a lei obriga-o a ser fiador. Não tem de ser
expressamente declarada como sucede e se exige na fiança tradicional (art. 628º, nº1
CC).

96
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Art. 629º, nº3 – enquanto o crédito não é concebido, o mandato pode ser denunciado.
Todavia, se já existir despesas, deve o mandante indemnizar o mandatário nos termos
gerais. Trata-se de uma responsabilidade civil por factos lícitos, no âmbito da
responsabilidade civil contratual.

GBA – GARANTIA BANCÁRIA AUTÓNOMA

A garantia autónoma é mais comumente conhecida por GBA, pois o garante costuma
ser um banco. É um negócio atípico e fruto da liberdade contratual. Estabelece-se por
contrato e não unilateralmente.

O garante assume, face ao credor (beneficiário) uma obrigação autónoma relativamente


à obrigação garantida (contrato- base).

O garante terá de realizar o pagamento de uma quantia pecuniária ao credor sem que lhe
possa opor (como acontece na fiança) os meios de defesa decorrentes da relação entre o
credor e o devedor da obrigação garantida ou da relação entre o garante e o devedor.

Típico dos bancos. No entanto, as seguradoras também utilizam este tipo de garantias.

Distinguem-se 3 relações:

 Contrato principal (contrato-base): entre credor (beneficiário) e devedor


(ordenante) da obrigação garantida;
 Contrato entre devedor ordenante e garante, em que este se compromete
(mediante pagamento de comissão) a celebrar um contrato de garantia autónoma
com o credor (beneficiário);
 Contrato de garantia autónoma, entre credor/beneficiário e o banco/garante, de
onde decorre a obrigação autónoma.

CONTRATO DE MANDATO:

Ex: A é devedor da obrigação de um contrato base com B, que é credor, pedindo


uma GBA. Como é que o devedor lhe dá? Procura um banco e com ele
estabelece um contrato de mandato, que se traduz num ato em que o banco vai
fornecer uma garantia por conta do mandatário, assumindo dar garantia ao

97
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

credor. Como é que o banco cumpre o seu contrato de mandato? Fazendo um


contrato de garantia diretamente a favor do credor. Assim, o credor passa a ser
beneficiário da garantia, o banco o garante, e o devedor ordenante. Temos assim
3 relações jurídicas contratuais: a de base (A com B), a do mandante (A com o
banco), e a da garantia propriamente dita (banco com B). Porque é que é
autónoma? Porque o autor não pode invocar os meios de defesa das demais
relações, não podendo ser apostas elementos provenientes das demais. Não é o
critério da autonomacidade que a distingue da fiança, mas sim esta da
subsidiariedade.

No que diz respeito à estrutura da garantia bancária autónoma, mais precisamente no


que diz respeito à qualificação da relação jurídica mantida entre o Banco e o Devedor
garantido, alguma doutrina portuguesa (como Mónica Jardim, que acompanhamos)
assume estarmos perante a presença de um mandato sem representação, nos termos dos
artigos 1178.o e 1180.o do Código Civil ou 231.o e 266.o do Código Comercial,
considerando que a prestação a que o banco se obriga tem por objeto um ato jurídico ou
contrato de garantia propriamente dito e este ato jurídico é realizado por conta e no
interesse do garantido, já que os resultados económicos da emissão da garantia se
refletem sobre o património deste, por força do reembolso a que está obrigado perante o
garante de todas as despesas inerentes à prestação da garantia.

Além disso, a garantia é prestada, ou por imposição do credor na relação garantida ao


devedor garantido como condição para o estabelecimento de relações contratuais entre
ambos, ou porque com a celebração do contrato entre o credor beneficiário e o devedor
garantido foi acordada a obrigação deste último conseguir que um banco assegure o
cumprimento das suas obrigações mediante a emissão de uma garantia bancária
autónoma.

A doutrina entende como negócios abstratos aqueles que são abstraídos de uma causa,
entendendo-se como a função económico social dos mesmos. Assim, os negócios
abstraídos de causa permitem que o mesmo se adapte a múltiplos fins, ocorrendo como
que um isolamento do seu conteúdo relativamente à sua causa.

Por negócios jurídicos causais entendemos aqueles em que a sua validade é


dependente da existência de uma causa no seu conteúdo, reconhecida de forma

98
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

explícita, implícita ou por remissão, ou seja, nos negócios jurídicos causais o seu
conteúdo específico é modelado por uma função económica ou social constante que é a
sua causa.

Alguma doutrina não aceita ou tem renitência em aceitar, invocando a sua natureza
alegadamente abstrata, a garantia bancária autónoma como tipo contratual.

O motivo é o de que aos negócios abstratos é associada à ideia de facilitarem o


enriquecimento sem causa. Por exemplo, no ordenamento jurídico italiano estas reservas
em aceitar este tipo de contratos é justificada porque alegadamente acobertam
deslocações patrimoniais desprovidas de causa, que são proibidas naquele sistema
italiano, e cujo tratamento no ordenamento jurídico português já conhecemos.

Porém a caracterização da garantia bancária autónoma como negócio jurídico


pretensamente abstrato não impediu que os sistemas jurídicos em vigor na Europa lhe
reconheçam a sua validade.

Por exemplo, na Alemanha, maioritariamente a doutrina tem sido favorável à aceitação


de negócios abstratos, sejam eles unilaterais ou bilaterais, com fundamento na
autonomia da vontade e o bankvertrag é aí tido como um contrato abstrato, fundado
neste mesmo princípio.

A doutrina portuguesa tem distinguido com clareza a autonomia da abstração não se


assimilando a abstração à autonomia, considerando a garantia ora em análise como
autónoma, no sentido em que o contrato de garantia propriamente dito é independente
do contrato base, sendo inoponíveis pelo Banco ao beneficiário da garantia as exceções
de que poderia socorrer-se o garantido na relação de base e causal.

A autonomia não se confunde ou não se identifica com a abstração, o contrato de


garantia autónoma bancária é um contrato causal e a sua causa reside na função ou
escopo da garantia que lhe é inerente, expressa no contrato de garantia propriamente
dito.

Não se pode portanto descurar o facto do contrato de garantia propriamente dito ter por
fundamento a relação jurídica de base, o contrato-base, que é assim a sua causa hoc

99
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

sensu, sendo a garantia desprovida de causa e ferida de nulidade caso o contrato-base


não seja efetivamente concluído, seja anulado ou resolvido.

Aliás a garantia bancária autónoma e a fiança têm um traço em comum: ambas estão
vinculadas a uma função de garantia.

3 critérios para distinguir a GBA:

 Critério do tipo de função que a garantia visa:


o advance payment bond73 – usadas normalmente nos casos em que uma
das partes do contrato paga em antecipação parte do preço do contrato,
servindo a garantia para aassegurar que caso a outra parte não cumpra
com as obrigações a que está descrita, de uma forma total ou parcial, a
primeira tem a retorno dos valores que adiantou
o performance bond74 - o banco garante ao beneficiário que a sua
contraparte no contrato-base ou garantido cumprirá correta e
pontualmente as obrigações que assumiu e tem por objeto a
indemnização do dano que resultar do incumprimento da prestação.
Normalmente é fixada num valor entre 5% a 20% da prestação a que o
garantido está obrigado. Às vezes funciona muito como retenção, mas
em relação ao devedor.

Ex: contrato com B a construção de um prédio. Se o prédio não


estiver bem construído.

o payment guarantee75 – pode cobrir o valor total da transação ou então


apenas o valor de uma ou de várias entregas, caso o contrato não seja de
prestação única.

Ex: se não me pagares no dia x, vou acionar a garantia.

o bid bond76 – também são designadas por promessa mediante anuncio


publico. Estas garantias são normalmente associadas a ofertas ou

73
Garantias de restituição ou de reembolso dos pagamentos antecipados
74
Garantias de boa execução do contrato
75
Garantias de pagamento
76
Garantias de oferta

100
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

concursos públicos. São garantias de honorabilidade da proposta ou


garantias de subsistência da oferta.

 Critério do caráter direto (tem um banco, são garantias bancárias de natureza


triangular) ou de caráter indireto (quando tem a intervenção de 2 bancos).
Quando temos um contrato base internacional, normalmente recorre-se a um
banco confirmador quem tem como função notificar que a garantia está emitida;
ou pode assumir a garantia (tendo de haver um contrato entre os dois bancos).
Embora as garantias indiretas tenham quase sempre uma relação quadrangular
não significa que nas garantias diretas não possa também existir uma relação
quadrangular, sendo, porém, a triangularidade o seu traço mais simples e
característico.

A Convenção das Nações Unidas sobre as Garantias Independentes e as Letras


de Crédito Stand-by, no seu artigo 6.o e) prevê esta modalidade de garantia
direta quadrangular, em que o banco intervém como banco confirmador.
Normalmente, este tipo de garantia surge ligada a uma relação de base de
carácter internacional, em que o segundo banco (em regra, um banco do país do
beneficiário da garantia) pode ter 2 papéis: ou de notificar beneficiário sobre a
emissão da garantia a seu favor, ou servir de banco confirmador da garantia
directa prestada pelo Banco do país do garantido, assumindo deste modo uma
obrigação de garantia própria face ao beneficiário, que poderá satisfazer a sua
pretensão de pagamento fazendo a solicitação a qualquer dos bancos, os quais
assumem-se como devedores solidários perante o beneficiário.

 Critério da automacidade da garantia: pode ser simples ou automática/ à


primeira solicitação (of first demand). O pagamento do valor da garantia, que
traduz o cumprimento da prestação a que o banco se vinculou por meio de
contrato garantia, depende de prova que o beneficiário deve fazer do
incumprimento ou cumprimento intempestivo ou defeituoso ou garantido na
relação jurídica resultante do contrato, caso esta prova é documental.

101
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

As garantias automáticas são as conhecidas garantias à primeira solicitação (on


first demand) que incluem uma cláusula pela via da qual o facto constitutivo do
direito do beneficiário e simultâneo da obrigação do Banco de pagar
imediatamente o valor da garantia, é a interpelação feita por aquele beneficiário
a este banco, sendo que o beneficiário não é obrigado a provar o incumprimento
do garantido da relação jurídica de base. Havendo solicitação, o Banco deve
pagar.

Estas podem ser:

 Puras:
 Fundamentadas - nestas não basta a simples solicitação, o pedido de pagamento
deve fazer menção que o garantido não cumpriu com as suas obrigações, mas
sem necessidade de prova
o Motivadas: beneficiário declara a verificação do evento previsto no
contrato de garantia.
o Justificadas: beneficiário deve invocar os motivos da solicitação;
o Documentadas: solicitação deve ser acompanhada de certos documentos
emitidos ou provenientes de um terceiro;

Mas em nenhum existe necessidade de fazer prova aquando da solicitação para


pagamento.

FRAUS OMNIA CORRUMPIT

A ideia de que no âmbito de uma garantia bancária autónoma à primeira solicitação o


banco deve pagar ao beneficiário logo que seja interpelado, sem mais, é errada.

A possibilidade de existir fraude ou de abuso manifesto na solicitação deve desde logo


constituir uma limitação ao princípio do “pediu, pagou”.

Caso ocorra uma situação de fraude ou abuso manifesto na solicitação, cabe ao Banco,
legitimamente, o direito de recusa do pagamento, aliás, mais que um direito é um dever,
se não quiser depois sair prejudicado no seu direito de reembolso sobre o ordenante.

102
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Ao Banco compete o dever jurídico de proteção dos interesses do seu garantido e a isto
acrescem ainda os princípios imperativos dos ordenamentos jurídicos, designadamente o
princípio da boa-fé que em modo algum pode ser preterido dada a independência das
garantias bancárias autónomas.

Todavia, exige-se que exista uma prova líquida da fraude ou do abuso de direito na
solicitação da garantia, não bastam meras desconfianças ou indícios, tem de se tratar de
casos de abuso ou fraude evidente/ notória.

Se existirem dúvidas, isso acarretará a necessidade de diligências probatórias


complementares e obviamente isso não se compadece com a celeridade com que deve
atuar e que constitui a razão de ser da garantia bancária autónoma.

Neste último caso, resta ao garantido desencadear medidas judiciais que evitem o
pagamento da garantia antes da solicitação, mas tal nem sempre se consegue em efeito
útil, tai como providências cautelares.

21/04/2022

Ex:

COMPRA E VENDA ENTRE A (dever de pagar o preço vs direito de ganhar a


coisa) E B (dever de entregar a coisa vs direito de receber o preço)

Vendedor diz que vende, mas que a máquina tem de ser entregue primeiro

B pede a A uma garantia do seu bom cumprimento

A pede um contrato de mandato ao banco, cujo objeto significa que o


mandatário tem a obrigação de praticar um ato jurídico: celebrar o contrato com
B, sendo este a garantia bancária autónoma.

Assim, o banco é o mandatário, A é mandante ou ordenante; B é o beneficiário

Garantia é a payment bond, com base no fim.

Se esta garantia for simples – significa que para o beneficiário acionar o pagamento da
garantia tem de interpelar o pagamento, e para o beneficiário exige-se o ónus de prova

103
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

do exercício probatório. Alem de solicitar o pagamento, tem de fazer junto do banco a


prova do facto constitutivo de receber. Não são muito frequente.

O credor normalmente pede uma garantia automática/first demand , já que estas não
implicam para o beneficiário qualquer exercício autónomo, i.e., não tem que fazer prova
do facto constitutivo de o conceder. São as garantias mais frequentes. No seu texto têm
mesmo uma clausula que diz “on firsrt demand”. As automáticas podem ser:

 Puras – B teria de interpelar o banco para que este lhe pagasse, já que ele é o
beneficiário. Princípio do “pedi, recebi”. Também não são muito frequentes.
 Fundamentadas: não basta a simples interpelação, sendo necessário que o
beneficiário interpelar o banco para pagar a garantia e identifique o motivo ou as
razões pela qual está a pedir essa garantia. Não precisa de provar esse
incumprimento. Não há ónus probatório, nem exercício probatório. Se houver
fraude, ou abuso de direito (exercício de forma ilegítima e contrária aos
princípios da boa fé).
o Motivadas
o Justificadas
o Documentais – são aquelas garantias em que é necessário entregar
documentos, mas não como meio de prova. Interpela o banco para pagar,
e entrega os documentos.

GBA: A FIANÇA COMO FIGURA AFIM

Esta garantia é autónoma, sendo o que a distingue da fiança, cuja uma das
características principais é a acessoriedade. Na garantia autónoma o garante (banco) não
pode opor os meios de defesa da relação base inerentes às demais relações jurídicas,
cada uma delas é autónoma.

Ex: Estava estipulado na relação base que o devedor tinha de pagar, e o credor
entregar a máquina. Na relação base, o credor não pode entregar a máquina. O
devedor tem de pagar? Não, art. 628º CC- execção do não cumprimento do
contrato.

104
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

B vai ao banco e, como era uma garantia automática invoca o pagamento por
parte do banco. O banco recusa-se a fazer o pagamento porque ele não entregou
a máquina. Pode fazê-lo? Não, porque não a garantia é autónoma, não pode opor
os meios de defesa da relação base às demais.

Mas B agiu de boa-fé? Não, então trata-se de uma situação de abuso de direito.

O ordenante está desprotegido numa garantia bancária autónoma.

Procedimento cautelar poderia ser uma forma legal invocada para que o banco não
pagasse aquela garantia, quando o beneficiário fosse. Providencia cautelar inominada
desde que se verifique o perigo in mora, o fundado receio de materialização do
resultado, e o exercício probatório junto do tribunal que existe este receio. Pedimos
juntamente, a dispensa da audição prévia do beneficiário.

QUANDO NÃO HOUVE PROVIDÊNCIA CAUTELAR A TEMPO , E A


GARANTIA FOI PAGA, O QUE É QUE POSSO FAZER?

Providencia cautelar de arresto.

Ação declarativa de condenação.

Apesar das garantias automáticas ocorrem de forma “automática”, todavia, quando


estamos perante fraudes tão evidentes (são factos públicos e notórios), não precisa de
haver prova líquida, o banco tem o dever de recusar o pagamento, sob pena de não ter
direito de reembolso sobre o ordenante.

Quando é evidente? Conceito jurídico indeterminado. O banco tem de ter este “tato” e
perceber quando alguém está a tentar enganar.

Abstração é diferente de autonomia

Há quem entenda que as garantias bancárias são autónomas. Autonomia é que o banco
não possa opor meios de defesa de outras relações. Em Portugal vigora o principio da
causualidade, i.e., os contratos têm de ter um fim. A abstração não é tão comum,
consiste em não ter causa (ex: obrigação cartolar).

105
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Há quem diga que a garantia bancária não é casual. Todavia, a Dra não concorda, já que
a garantia bancária tem o fim de garantir.

Isto leva-nos à fiança à própria solicitação/on first demand. Esta funciona até ao
pagamento como garantia autónoma. Depois de o fiador pagar, os meios de defesa que
este podia invocar da relação fiançada antes do pagamento, passa a poder invocar depois
de pagar. Aqui surge a claussula solve et repete (paga e reclama depois), ou seja,
demonstra os motivos pelo qual pagou indevidamente e pede a restituição – ação de
repetição do indevido – trata-se de uma ação de condenação.

GARANTIA FINANCEIRA – DL 105/2004 DE 08 DE MAIO

 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA – art. 14º e 15

Ex: preciso de 300.000€ e não tenho. O que posso fazer? Posso fazer um
empréstimo, em que vendo determinado bem com a condição de que, mais
tarde,m quem comprou fica obrigado a revender-me. Semelhante com a venda a
retro. A diferença é que nesta ultima trata-se de uma venda sob condição
resolutiva, o direito de num prazo estipulado no contrato resolver a venda, está
relacionado com o direito potestativo que, caso não seja exercido dentro do
prazo, caduca e a venda torna-se definitiva.

Na alienação fiduciária em garantia não é assim. Aqui há uma venda entre A e


B, e quando há o ato de retransmissão para B faz-se uma nova escritura coma, o
que quer dizer que, existem 2 escrituras.

 PENHOR FINANCEIRO – art. 9º a 13º

Ex: tenho dinheiro investido em ações, em unidades de participação noutros fundos,


etc. eu não sou obrigada a resgatar esses produtos financeiros para ter dinheiro.
quando eu vou pedir um crédito, o banco pergunta se eu tenho alguma garantia. Eu
tenho produtos financeiros, assim o banco cria uma garantia de penhor. não basta a
sua constituição, é necessário um desapossamento, i.e., ou entrega-se a um terceiro,
ou a um fiel depositário. No penhor financeiro é necessária uma espécie de
escrituração que se faz nas aplicações.

106
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Eu entrego de penhor as minhas aplicações financeiras. Não cumpro. O que é que o


banco pode fazer? Pode fazer suas as aplicações, é uma exceção ao pacto comissório
(art. 11º) ---- pacto marciano. Mas imaginemos que uma ação disparava e estava
muito mais bem cotada do que quando se constituiu o penhor. Poderia gerar um
enriquecimento sem causa. Assim, o pacto marciano permite que se fique com o
bem, mas as partes devem estipular o critério a utilizar quanto ao bem no momento
do incumprimento. Incumpre, vai se usar o critério estabelecido pelos dois quanto às
aplicações, e o banco deve, p.ex., devolver o excesso.

AVAL77

Garantias mais usadas pelo banco: aval, fiança, garantia bancária autónoma

O banco pede livrança em banco para garantia o bom cumprimento, assinado pelos
acionistas, cônjuge e administradores. O banco faz isto para que haja mistura de
patrimónios.

Pede o aval em título de crédito, normalmente a livrança, mas também pode ser prestado
em folha, apesar de não ser muito frequente.

A livrança é entregue em branco, já que não se sabe se vai haver incumprimento e,


mesmo que haja, não se sabe qual o seu montante. No momento em que se concede a
livrança, anexa-se ao contrato o que está a servir de garantia, tendo este o pacto de
preenchimento. É quase como uma carta branca.

Temos muitas temáticas, desde logo a temática do protesto. O protesto era um


instrumento redigido em que o credor declara que notificou o devedor para pagar e este
não pagou, e, portanto, é por isso que ele está a acionar. Atualmente a doutrina é
unanime que a falta de protesto não é motivo impeditivo para acionar a protesta, já que
o costume nos diz que antes de intentar a ação, o credor notifica o devedor por carta
para este pagar.

O credor é totalmente livre de escolher a data do vencimento do tipo de crédito onde foi
aposto o aval? Isto é extremamente relevante, já que a LUV (art. 70º – o direito da ação

77
Revista de direito comercial – Dra Maria Emília – aval e prescrição

107
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

para cobrança da obrigação inserida no título de crédito caduca se esse direito não for
exercido dentro do prazo de 3 anos a contar da data de vencimento da cobrança).

O banco, se agisse de boa-fé, poderia colocar a data do incumprimento, passando o


prazo a contar desde esta data. No entanto, o que normalmente faz, é colocar a data
indevida. Dra defende que esta escolha de preencher com a data que quiser é um abuso
de direito suprecio (consumição do direito – o direito de preencher consumiu-se).

26/04/2022

AVAL (continuação)

art. 30º lei uniforme das livranças - por referência a uma obrigação posso avalizar a
totalidade da obrigação ou uma parte desta; o normal é que o aval seja dado de forma
total ilimitada. Esta garantia é uma garantia pessoal dada por terceiro, que nada tem
haver com a relação avalizada, sendo normalmente aposta num título de crédito, embora
também possa ser numa folha.

Temos um rj entre A e B - designada por rj cartolar, que , portanto, quando estamos a


olhar para o titulo de crédito onde consta o aval o que temos é uma rj cartolar – credor e
devedor, que , por acaso coincide com o credor e devedor da relação subjacente, e temos
o avalista que garante a relação jurídica cartolar entre A e B. apesar de ser igual, quando
há incumprimento, normalmente o credor aciona o título que tem como características a
lateralidade (é credor e devedor quem consta no título); abstrata (pq não tem que existir
necessariamente uma causa ou motivo para ela ser emitida, por isso é um rj abstrata –
pode não ter motiva), autónoma (o avalista quando for demandado para pagar, não pode
opor ao credor os meios de defessa subjacente a outras rj).

Dois conceitos a dominar: feitos e programados para serem títulos ao portador;

Relações imediatas – credor, devedor, avalista (pessoas originárias)

Se o titulo for transmitido a terceiro, estamos a falar de relações mediatas (não fazia
parte da rj cartolar inicial).

108
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Art. 31º LULL – como se presta o aval (pode ser num título de crédito, numa folha em
branco, etc.). O aval exprime-se pelas palavras “bom para aval”. Esta é a forma mais
frequente. No entanto, esta formula não é absoluta, sendo que pode ser usado de outra
forma.

Art. 32º LULL – “O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por
ele afiançada. A sua obrigação mantém-se78, mesmo no caso de a obrigação que ele
garantiu ser nula por qualquer razão que não seja um vício de forma.
Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra
contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta
em virtude da letra.”

Fiança é uma garantia pessoal, mas tem como característica a acessoriedade, e o aval
não, é abstrato. O que significa que, quando feita uma fiança em que a rj subjacente
padece de uma nulidade, a fiança é também nula. No entanto, se o aval for prestado e a
sua RJ seja nula, o aval mantém-se. Só quando há nulidade por vício de forma é que a
obrigação do aval se “destrói”.

O avalista que pague fica sub-rogado nos direitos do credor. O mesmo acontece com a
fiança.

Se um aval que conste de um título de crédito que já prescreveu, porque foi, p.ex., foi
colocado uma data de vencimento, e o aval não foi acionado nesse tempo 79. Pode um
aval converter-se numa fiança? E se o aval for nulo, pode? Sim, através da teoria da
conversão/redução (art. 293º CC). No entanto nos termos do art. 293º há requisitos
objetivos e subjetivos, é preciso que a materialidade respeite os requisitos objetivos,
substanciais e de forma para que haja uma fiança, e saber se o que queremos encaixa
nisso. Se encaixar, falta a parte subjetiva, que é compreender e fazer ónus de prova da

78
Do avalista
79
Vêr art. 70º LULL + art. 77º LULL

109
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vontade real das partes, i.e. será que elas teriam celebrado a fiança caso o aval fosse
nulo??

Ac. 2019 do STJ – rj subjacente de um aval prescrito é a fiança, sendo necessário haver
prova produzida que havia vontade das partes em que esta conversão ocorresse.

Art. 10 LULL – fala de uma letra em branco (a sua transferência está a ocorrer, quando
ela não está preenchida, nem quanto à data, nem quanto ao montante).

“Se uma letra incompleta no momento de ser passada tiver sido completada
contrariamente aos acordos realizados80, não pode a inobservância desses
acordos ser motivo de oposição ao portador, salvo se este tiver adquirido a
letra de má-fé81 ou, adquirindo-a, tenha cometido uma falta grave.”

Um terceiro que receba o aval como meio de pagamento não pode ficar à mercê de
ilicitudes que foram acionadas previamente e que ele não tem conhecimento. Se
permitíssemos que contra D fosse oponível invalidades e ilicitudes relativas à relação
subjacente, ninguém aderia aos títulos de crédito, já que não saberiam o que estes têm
por base.

PREENCHIMENTO ABUSIDO:

I. Preenchimento feito pelo credor de forma injustificada- quando a causa que


legitimou o credor a preencher a letra ou livrança ainda não existiu, e ele
preencheu (ex: aval entre A, credor, e B, devedor para caso B incumprisse, A
pudesse acionar a ação executiva. B ainda não incumpriu e A preencheu).
II. O credor insere no título incorretas menções, uma errada configuração das
menções. É o que se verifica com a situação da data de vencimento, já que
há quem invoque o preenchimento abusivo porque o credor colocou uma
errada menção lá, e, é aqui que a doutrina e a jurisprudência debatem.

80
Os pactos de preenchimento, que atualmente é “tem liberdade para preencher quando quiser”
81
Ou seja ele sabia que estava a ser contrário aos pactos de preenchimento

110
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Outra errada menção ocorre quando, p.ex, o B incumpriu, A decide acionar a


letra. O montante seria EUR 30.000, e o credor coloca EUR 50.00082.

III. Quando o banco arbitrariamente escolhe a data a colocar. Aqui ninguém diz
que o banco não tem o dever de preencher a livrança. Todavia, não tem o
direito de escolher a data a preencher na livrança.

E se, eu sou sócia-gerente, juntamente com o meu marido de uma sociedade por quotas.
Preciso de financiamento e vou a um banco. O banco pede me uma garantia: o aval. Nós
os dois damos o aval. Decido me divorciar e vou sair da empresa, sendo que de um
montante total de 30.000, só faltava pagar 3.000. Essa empresa acaba por entrar em
falência. O banco passado 8 anos vem sobre mim com esse mesmo aval, no valor de
30.000.

O banco, tem a obrigação de manter atualizada a informação dos seus clientes,


nomeadamente através da certidão permanente ou do CBE.

Quando eu cedo a minha participação social, e renuncio à minha gerência, o meu aval
cessa? E se não cessar, fico obrigada no que faltava pagar ou na totalidade do aval? O
aval mantém-se, já que este tem caráter pessoal. O STJ acórdão uniformizador 4/2013
diz que não é pela simples cessão de quota, que existe denuncia do aval 83. Pode é haver
uma justa causa para a resolução do pacto de preenchimento e que, por consequência,
impede a existência do aval. A dra considera que o avalista deve se manter como
avalista, mas apenas no que lhe diz respeito, sendo que o aval deixa de ser ilimitado e
passa a ser restrito. Assim, afere-se qual o montante à minha saída, e eu fico avalista
apenas desse valor em falta. O banco acaba por pedir um reforço aos restantes gerentes
da empresa, para fazer face à minha saída.

CONTRATO DE CESSÃO FINANCEIRA

82
Ressalvar que o aval não pode ser utilizado para pagamentos às prestações.
83
Muito concebido no revolving

111
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DL 171/95 – fala sobre o contrato de featering e as sociedades de featering. No entanto,


não tem regulamentação jurídica. Então, por extensão, aplicamos o DL e o art. 577º e ss
CC, bem como o art. 30º da lei do contrato de agência.

O contrato de cessão ou tem clausulas resolutivas expressas, ou não tendo, só pode


cessar da mesma forma que cessam os contratos de agência, sendo lhe aplicável por
analogia.

A cessão financeira é uma cessão de créditos, feita mediante remuneração, em que


“recebo já o que iria receber mais à frente”. Tem ainda outras finalidades,
nomeadamente para efeitos de administração e cobrança (em vez de mandar para o
advogado, recorro ao cessionário).

SERVDEBT e ATTICUS são exemplos de cessionários, que celebram um contrato de


locação financeira entre cedente (que poderá ser uma empresa) /aderente/factorizado e
cessionário/factor, em que o objeto são créditos dos devedores cedidos. Aqui aplica-se o
art. 583º CC, tendo de haver notificação, normalmente por parte do cessionário. A
notificação pode ser feita extrajudicialmente ou judicialmente 84. Assim, os cessionários
vão instaurar uma ação executiva para cobrança daqueles créditos, tendo de explicar ao
tribunal porque é que não estando no título, intentou a ação executiva (é o novo
cessionário). A citação pode ser utilizada para dar a informação ao recorrido que o
crédito foi cedido.

Com a transferência do crédito são transferidas as garantias. No entanto, se for uma


reserva de propriedade, tem de se emitir uma declaração para que esta passe para o
cessionário (art. 582º CC).

MODALIDADES DA CESSÃO

 Factoring com recurso/improprio – é mais dispendioso, uma vez que o cedente


transfere os créditos para o cessionário e, ao mesmo tempo, transfere o risco de
incumprimento. Assim, o cedente livra-se dos créditos, não querendo saber se
estes vão ser ou não bem cobrados. O risco é maior, logo é mais caro (o cedente
irá receber menos pelos créditos).

84
No entanto, vale ressalvar que pode ser acordada a notificação “non notificacion”, e aqui não é
necessário haver a notificação. Aqui, normalmente, como garantia, é pedido um aval.

112
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 Factoring próprio/com recurso – É mais barato. Tem uma clausula chamada pro
solvendo. Ou seja, se o cessionário não conseguir cobrar, pode recorrer ao
cedente.
 Internacional – quando tenho que cobrar créditos fora de PT, tenho a barreira da
língua no processo, sendo que, fazer um factoring tem vantagem. Há também
vantagem em obter liquidez, porque o factoring é pago. Também há vantagem
de libertar os recursos da própria empresa, porque não os dedico a efetuar a
cobrança de créditos, sendo lhe aplicável a convenção de Othaw 199885
 Nacional – tudo em Portugal

Quando tenho de cobrar créditos internacionalmente, tenho a barreira da língua, do


processo (qual o tribunal competente). Fazendo um factoring, quem irá fazer isto é o
cessionário. Além mais, a vantagem da questão de liquidez, porque o factoring é pago.
Também há a vantagem de libertar os recursos da própria empresa, porque não os
dedico a efetuar a cobrança de créditos.

Funções do factoring86 pode ser uma ou várias em conjunto. Posso recorrer apenas para
consultaria, nomeadamente um estudo sobre a solvabilidade dos meus devedores. Ou
para garantir o pagamento e cobrar créditos (full factoring, que é sempre próprio – é a
regra no factoring internacional).

A cedência de créditos futuros pode ocorrer, desde que estes sejam determinados.

REVERSE FACTORING/CONFIRMING – enquanto que na cessão de créditos


transfiro créditos que tenho para cobrar aos cessionários, no caso de grandes empresas,
transfere para o factoring e diz “paga me nestas datas”. O banco, naquelas datas, vai
notificar os devedores, sendo uma espécie de secretário.

Os créditos objeto do factoring são créditos a curto prazo, i.e., créditos que se vencem
em 1 ano, classicamente. Isso é que distingue a cessão financeira factoring de forfaiting
(monutarização de créditos), em que estes se vencem a médio ou longo prazo.

85
Também aplicável ao lising internacional.
86
Sociedade financeira

113
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LEASING/LOCAÇÃO FINANCEIRA

DL 149/95- Contrato de leasing

DL 72/95 – Sociedades de leasing

Leasing é uma locação, um contrato mediante a qual uma pessoa (o locador), em troca
de uma remuneração (sendo assim oneroso) vai ceder o gozo temporário de um bem,
que pode ser móvel (locação movel) ou imóvel (locação imobiliária) a outra pessoa (o
locatário). Essa coisa que vai ceder, foi previamente adquirido por ele ao fornecedor de
bens. Temos assim um locador que faz leasing com o locatário, sendo este bem
adquirido ao fornecedor pelo primeiro. Por este contrato o locador adquire um direito
potestativo, em que no final do prazo do contrato o locador pode escolher se adquire o
bem, ou não, para a sua esfera jurídica, tendo de pagar um valor residual. É este direito
potestativo que distingue o leasing do ALD (aluguer de longa duração), já que neste, no
fim, ele é obrigado a comprar.

LEASE BACK/LEASING RESTITUTIVO

O Leasing, neste caso, é celebrado entre o fornecedor e o locador, em que o fornecedor


vende o bem ao locador, e este celebra um contrato de leasing com o fornecedor, sendo
que , no final do tempo acordado, este pode adquirir de volta o bem, pagando o valor
residual (lease back – de volta - restituitivo).

No caso de uma empresa, é uma maneira de rentabilizar.

LEASING OPERACIONAL/ RENTING

Tem capacidade económica financeira, e então paga uma renda fixa. No entanto, não
tem o direito potestativo no final, entre escolher comprar através do pagamento residual
ou entregar o bem. Este não é um leasing.

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No leasing imobiliário quem paga o condomínio é o locador. No entanto, no caso do


leasing automóvel são pagas pelo locatário (art. 9º e 10º DL 149/95 relacionado com os
direitos e deveres dos locadores e locatários).

Art. 17º e 18º - causas de cessação do contrato.

Art. 14º (todas as despesas do bem objeto do lising são por conta do locatário) e 15º (o
risco do perecimento e destruição da coisa é por conta do locatário87.

PROJECT FINANCE

É um contrato de financiamento que se autofinancia, gerando liquidez que irá pagar o


projeto.

Ex: autoestrada A1 é um projecto finance, em que o Estado Portugues


necessitava e não tinha dinheiro, tendo recorrido a financiadores (bancos e
empresa) que injetaram dinheiro no projeto para fazer o troço que,
posteriormente, veio a gerar receita através de portagem. Essa receita serviu para
pagar a estes investidores.

Pode ser em duas modalidades:

 BOO – constrói, explora e fica com ele. Quando está envolvido o estado esta não
é a modalidade aplicável
 BOT – constrói, explora, e passa a propriedade para mim. Antes de transferires
para mim, explora, retirando o capital investido e o lucro. Para gerar receita
suficiente para cobrir o investimento é necessário muitos anos. No entanto, com
o passar dos anos, o bem necessita de manutenção, tendo os investidores de
investir nessa manutenção.

28/04/2023

SERVIÇOS MÍNIMOS BANCÁRIOS:

87
É por isto que o locatário é “obrigado” a fazer seguro, uma vez que, se não tiver dinheiro suficiente
para fazer face ao perecimento ou destruição da coisa, o seguro cobre.

115
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Só aplicável a PS, sendo que permite que esta faça uma atividade de gestão frequente a
um utilizar “normal”. Para poder ter a conta de serviços mínimos só é permitido ter uma
única conta no sistema bancário.

Tendo já uma conta, pedimos a conversão para conta de serviços mínimos, sendo que
esta não deve qualquer custo, nem qualquer restrição no que diz respeito ao tipo de
conta em vigor (inclusive “contas caderneta”).

Um dos requisitos necessários é assinar uma declaração de honra em como não se é


titular de mais nenhuma conta bancária. Enquanto tiver conta de serviços mínimos
bancários não posso abrir mais nenhuma, sob pena de, se o banco descobrir, a
posteriori, converter numa conta normal e cobrar a taxa de tudo o que estava para atrás
até ao momento em que deixei de cumprir os requisitos de serviços mínimos.

Atualmente é possível que, caso haja impossibilidade de conversão, encerrar a conta


existente, e abrir, de imediato, uma conta de serviços mínimos. Além dos serviços
mínimos, é possível contratar-se serviços extra e pagá-los (p.ex. temos 2 transferência
por mês incluídas nos serviços mínimos, podemos contratar um serviço extra de mais 10
transferências ao ano).

Não podemos ter facilidade de descoberto (ex: não é possível fazer overdrafrt).

Débitos diretos, ordem de pagamentos, levantamentos, depósitos, pagamentos de


serviços, consulta de saldos e movimentos estão incluídas nos serviços mínimos de
forma ilimitada.

Os serviços mínimos têm tendência a ser máximos.

O montante máximo que o banco pode cobrar por ano é 1% IAS, i.e., 4,80€. Este é o
máximo, mas pode ser inferior, p.ex. na caixa geral de depósitos cobram 0.

Tem um máximo de 24 transferências ao ano.

DL 27-C/200088, tendo já sofrido algumas alterações.

88
Aviso 1/108 do Banco de Portugal regulamenta o DL, e a instrução de 20/2020 do Banco de Portugal é
o formulário que o banco deve utilizar para divulgação dos serviços mínimos bancários.

116
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Vale ressalvar que a conta de serviços mínimos pode ser atribuída a um titular que,
ainda que seja titular de mais do que uma conta bancária, nessa conta “a mais” seja
cotitular com alguém que tenha 60% de incapacidade ou 65 anos ou mais 89. Nós por
aqui entendemos o fenómeno social a que o legislador não é alheio.

O cartão de serviços mínimos apenas funciona dentro da UE.

03/05/2023

CONTRATO DE CRÉDITO AO CONSUMO

DL 133/2009 DE 2 JUNHO

Por um lado encontramos um profissional (empresário /comerciante) e, por outro o


consumidor, que é alguém que tem um perfil privado de direito civil (b 2 c = business to
consumer). Este regime nasce para proteger o consumidor.

Nota: em certas relações B2B , como por exemplo, nos fornecimentos de água, luz, a
legislação protege o utente, sendo que, protege o consumidor comum e também o
consumidor empresa.

DL 446/85 – clausulas contratuais gerais , artigos 5º e 6º são muito importantes neste


decreto lei e para o direito ao consumidor.

Ver site “datajuris” que só dá para aceder na UPT ou com o VPN UPT

O consumidor, no crédito ao consumo, beneficia de uma proteçao muito grande,


sobretudo no direito à informação. Se por um lado, temos um maior direito a info, por
outro lado, a info excessiva ou densa tecnicamente não é informação, é desinformação.
No crédito ao consumo tem deveres pré contratuais muito extensos, que muitas vezes
não é benéfica, porque o consumidor acaba por não ler os termos e condiçoes.

89
Já que o legislador entende que alguém com 60% de incapacidade ou 65 anos ou mais precisa de um
certo apoio.

117
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Este contrato é ao consumo, por isso é que não se diz que é um contrato de mutuo ou de
crédito

17/05/2023

SIGILO BANCÁRIO

É o mesmo que o sigilo profissional bancário. O banco está adstrito ao dever de não
revelar qualquer tipo de informação sobre a nossa vida, ao abrigo do segredo
profissional. As informações abrangidas pelo banco só pode ser objeto de divulgação,
após pedido do levantamento de sigilo.

Que sujeitos estão obrigados ao sigilo bancário? Todos os funcionários dos bancos,
inclusive os membros dos órgãos de administração e fiscalizaçao do banco, bem como
as pessoas que trabalham no banco de forma indireta ou que lá deixaram de trabalhar,
ou seja, a obrigação de sigilo é na pendencia do contrato de trabalho, bem como após a
cessação. Ex. a funcionária da limpeza, de acordo com o art. 78 lei bancária, também
está abrangida ao sigilo.

Mas se estão vinculadas ao sigilo bancário, como é que as posso responsabilizar pela
quebra do sigilo bancário? Art. 483º C.C. No caso, demando a funcionária equanto
comissária; e de seguida posso demandar a empresa contratada, nos termos do art. 500º
C.C.; e posso demandar, de seguida, o banco nos termos do art. 798º CC a titulo de
responsabilidade contratual. Vejamos que posso demandar os 3 , ou posso demandar so
um , sendo que, nunca é viável se demandar só a funcionaria da limpeza. O melhor será
acionar tudo.

O sigilo bancário não é um direito absoluto, ao invés, é relativo, porque admite


exceções. Há certos tipos de direitos que se sobrepõem ao interesse do sigilo bancário. É
também um direito disponível:

1. Sistema anglosaxonico: a regra é não haver sigilo.


2. Sistema de sigilo quase absoluto: exceções muito raras
118
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

3. Sistema misto: o da europa. Um sistema que começou com sigilo quase


absoluto, mas que, muito amplamente tem cavalgado para o sistema
anglosaxonico. É uma das regras vazias do nosso ordenamento, pois são
muitas as exceções que existem. São poucas as situaçoes em que o sigilo
bancário impera.

Art. 79º Lei bancária + 84º Lei bancária + 210º lei bancária

Sigilo bancário envolve tudo o que estiver relacionado com a minha relação bancária
(ex: extratos, operações feitas, montantes, etc.)

EXCEÇÃO BANCÁRIA AO SIGILO BANCÁRIO:

I. Possibilidade de o próprio titular dar autorização ao banco para revelar essa


informação
II. Existem outras exceções previstas pela lei - art. 79º + aquelas que estão
previstas em legislação avulsa90. As instituições bancárias terem de fornecer
todas as informações necessárias aos supervisores (ex: Banco de Portugal).
Também em processo penal, no âmbito da pratica de crimes, pode ser
relevante o acesso às contas bancárias aos órgãos de polícia criminal (MP,
juiz de instrução e juiz de inquérito).

Se for arrolado um funcionário do banco para depor em processo penal, ele


pode se recusar a prestar ao abrigo do sigilo profissional, já que não tem
autorização para falar. Se a recusa for legítima e feita na 1º instancia, cabe
recurso para a relação, e se for feita na relação, para o STJ. Todavia, se a
recusa for ilegítima, quem decide é o próprio tribunal onde o mesmo se
suscitou (art. 135º CPP91).

No âmbito do processo civil declarativo também existe levantamento do


sigilo bancário (art. 464º CPC), podendo ser arrola um funcionário do banco
(ex: fiz uma transferência mas não há comprovativo, pode o funcionário ser
arrolado).
90
P.ex. quem tem 50.000€ na conta bancária tem automaticamente a sua informação revelada à AT. No
entanto, esta informação é comunicada sem aviso do cliente.
91
Em qualquer tipo de processo remete-se para esta norma, no que respeita ao procedimento de sigilo
bancário. Mesmo que estejamos perante direito civil.

119
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Também há levantamento do sigilo bancário a pedido do agente de


execução, em sede de penhora (há penhoras de saldos de contas bancárias, de
acordo com o CPC). O AE começa por dirigir um pedido ao BP, para este
lhe diga onde a pessoa tem contas bancárias. Posteriormente, o AE dirige
ordem de penhora de saldos de conta bancária para as entidades bancárias.

É evidente que a entidade que mais acesso tem ao nosso segredo bancário é a
AT que tem quase como um livro aberto. No entanto, este “livro aberto” não
é imediato. A LGT possui este procedimento previsto no art. 68º e art. 69º.

Ex: Há tomada de decisão de consultar informação bancária. O


contribuinte tem direito a um aviso prévio. Não sendo emitido esse aviso
prévio, e a AT fazendo na mesma a consulta, nós podemos recorrer deste
procedimento. No entanto, este recurso tem efeitos meramente devolutivos, o
que significa que, caso eu ganhe o recurso, a AT não poderá utilizar aquelas
informações.

Outra exceção está relacionada com as comissões parlamentares que podem


requerer o levantamento do sigilo bancário (art. 79º).

O sigilo introduziu-se de modo a que as pessoas começassem a ter confiança nos


bancos. Todavia, as finanças têm um interesse superior na cobrança de impostos, i.e., a
lei da coletividade sobrepõe-se à individual.

SEGUROS92 93:

Lei aplica-se a todos os contratos de seguro, tendo, posteriormente, algumas


especificidades no final.

92
Lei do contrato de seguros - lei anotada do Pedro Romano Martínez
93
Lei 147/2015- lei relativa à criação de entidades seguradoras (LCS)

120
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Lei 147/2015 (LCS) - lei relativa à criação de entidades seguradoras

 Tomador de seguro - pessoa com a qual a seguradora celebra o contrato de seguro.


Paga o prémio. Pode ser ao mesmo tempo segurado e beneficiário. Pode ser só
tomador. Pode ser tomador e segurado, mas não benefício, dependendo do tipo de
seguro que estamos a falar. Há seguros em que o tomador é tudo.
 Beneficiário - ocorrendo o sinistro recebe o pagamento da seguradora.
 Segurado - pessoa segura; pessoa cujo interesse foi assegurado pelo interesse.

Ex: Celebro um seguro automóvel. Tomador do seguro sou eu. Beneficiário e


segurado são os terceiros.

Ex2: seguro de vida. Tomador: eu. Segurado: eu. Beneficiário: quem vai receber.

Ex3: seguro de saúde. Tomador: eu. Segurado: eu. Beneficiário: eu.

Ex4: seguro de trabalho. Tomador do seguro: entidade patronal. Segurado:


trabalhador. Beneficiário: trabalhador ou terceiros, no caso de morte.

Seguro individual - contrato de seguro que cobre o risco associado a uma pessoa ou a
mais do que uma pessoa, desde que do mesmo agregado familiar, ou unidade de facto,
ou que viva em economia comum.

Seguro de grupo - O tomador de seguro tema associado a si um leque de pessoas, i.e.,


há um número indeterminado de pessoas associado ao tomador do seguro. As pessoas
seguras são as que estão ligadas ao tomador de seguro, e isto é o seguro de grupo, que
pode ser contributivo - quando aquelas pessoas associadas ao tomador contribuem para
o pagamento do prémio;

Não contributivo - quando a única pessoa que assume o pagamento do prémio é o


tomador do seguro, mas as pessoas seguras não contribuem para esse prémio.

Ex: seguro escolar da UP - contributivo

Seguro de crédito da UP- não contributivo

121
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Art. 66º e ss LCS

Apólice - o contrato de seguro pode ser feito verbalmente, ainda que isto não seja
comum. Todavia, enquanto a pessoa não receber a apólice tem livre revogação. A
formalidade de ser redigido a escrito é feito a posteriori e é da obrigação da segurada,
no prazo de 14 dias, tendo de ser enviado ao tomador de seguro. A apólice é, no fundo,
a formalização do que já foi acordado (art. 36º, 37º e 38º.

Em contrapartida da assunção do risco, é necessário o pagamento de um prémio, que


pode ser:

 prémio comercial - o que a seguradora tem de despesa e outros custos


administrativos;
 prémio bruto -prémio comercial + custos com emissão de contrato e certificado
de seguro, etc;
 prémio total - premio bruto com as comissões e impostos. O que nós pagamos é
o prémio total.

O que acontece ao pagamento do meu prédio em caso de venda? O estoro, que,


basicamente, consiste na devolução do prémio que foi pago “a mais”. No entanto este é
calculado de forma proporcional ao tempo em que o seguro foi usufruído, tendo como
base o prémio comercial.

Bónus - quando existe uma ausência de sinistros, a seguradora dá um benefício, um


desconto na renovação do seguro.

Malus - agravamento que o prémio de seguro tem na renovação do contrato derivado do


facto de ocorrer o sinistro. Certificado de tarifação é uma espécie de cadastro de
acidentes, sendo que, se mudar de seguro no caso de um sinistro, a nova seguradora terá
acesso a esta informação.

19/05/2023

SEGURO FINANCEIRO

Qualquer banco hoje em dia tem uma espécie de parceria com as seguradoras. O banco
está legalmente proibido de fazer seguros, mas podem ser intermediários. Atualmente
122
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

temos fórmulas contratuais que a banca celebra e que não passam de seguros, e temos
tipos de seguros que não são mais do que contratos que os bancos fazem, mudando
apenas o nome. Assim, leva a consequências desleais.

Não obstante a que as seguradores e os bancos tenham ratios de solvabilidade existem


regras ao setor segurador que não são extensivas ao banco, nomeadamente a
obrigatoriedade de as seguradoras fazerem provisões técnicas, que implicam que a cada
volume que a seguradora receba de risco, tenha de fazer uma espécie de almofada
financeira, i.e., por cada volume contratual de seguros, a seguradora tem que colocar
uma parte de lado/fazer uma provisão montante financeiro calculado, que não
corresponde ao montante do risco assumido.

No banco também existe um contrato de risco, mas não existe a obrigatoriedade de fazer
esta “almofada” financeira. Ora, se esta exigência existe no seguro e não no banco, isto
leva a concorrências desleais.

Assim, seria essencial olharmos para o que as coisas são, e não ao seu nome, uma vez
que, nestes casos, dá-se nomes diferentes, mas o fundo da questão é o mesmo,
avaliando-se o conteúdo em detrimento do nome.

Isto considerado, atualmente temos a banca a prestar serviços típicos do seguro e vice-
versa, nomeadamente a prestação de garantias. A seguradora está talhada (em troca do
pagamento de um prémio, a seguradora obriga-se a cobrir um determinado risco). Não
cabe à seguradora prestar garantias. Se eu tenho uma RJ com alguém, e esse meu credor
quer uma garantia em como vou cumprir com a obrigação eu posso lhe fornecer um
aval, uma fiança, etc., sendo prestado pelo banco (garante), e não à seguradora, porque
este não é o seu papel. A seguradora tem , atualmente , contratos de seguro, e chama-os
assim, mas na verdade estão a coberto de garantias bancárias.

Art. 161º + art. 162º LGS - normal geral relativa ao Seguro de crédito e Seguro de
caução, que são denominados por seguros financeiros, que têm uma legislação propia.
Portanto, terá de ser conjugado com o DL 183/88 (lei dos seguros financeiros94).

94
Seguro de crédito e seguro de caução

123
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

I. SEGURO DE CAUÇÃO

Ex: eu sou credora, A é minha devedora, de uma compra e venda, em que já houve
entrega da coisa, mas a obrigação pecuniária só seria efetuada daqui a 6 meses, por
estipulação entre as partes. Eu, enquanto credora, tendo receio que ele não pague,
podendo exigir a prestação de uma garantia. A pode me dar uma fiança ou aval. Se este
tipo de obrigação é suscetível de ser garantida por um aval ou fiança é também é
suscetível de ser garantida por um seguro de caução. Assim, a A vai ter com a
seguradora e celebra um seguro de caução. A vai pagar à seguradora um prémio para
cobrir um risco, sendo este o incumprimento definitivo da obrigação ou mora (são os
riscos seguráveis95). Em caso de sinistro (ocorrência do incumprimento da mora), a
seguradora paga ao credor, porque no seguro de caução a diana é tomadora do seguro
(pq é a contraparte da segurada num contrato de seguro), é segurada (porque é no seu
interesse que se estabelece o contrato - é a mora dela que está a ser coberta), mas o
beneficiário é A.

Vejamos, a garantia bancária autónoma (GBA) é igual. Ora, as seguradores não podem
prestar garantia. Todavia, o seguro de caução é isto que faz.

Se A entre em incumprimento, aciona-se a garantia e depois desta pagar, subroga-se na


posição do credor. É a diferença entre a GBA e o seguro de caução.

O prémio por um seguro de caução é normalmente mais caro do que o custo de criação
e manutenção de uma GBA. É uma garantia que sai mais cara. No entanto, é o predileto,
por uma razão de celeridade e porque quando existe uma fiança eu apareço no banco
como um potencial devedor, baixando o meu ranking creditício, o que faz com que se
recorra menos às GBA. Já no que respeita aos seguros de caução não existe esta
informação, não sendo comunicada à central de créditos.

Art. 6º, nº2 - na execução fiscal e no processo de execução o processo suspende-se


apenas com a prestação de caução, e os serviços do estado não a podem rejeitar (ex:
finanças).

95
Art. 162º LGS + art. 6º, nº1 LSF

124
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

SEGURO DE CRÉDITO:

Ex: imaginemos a mesma rj do exemplo anterior, numa rj comercial. Assim, o próprio


credor não pedindo uma garantia ao devedor, procura uma seguradora e celebra um
seguro de crédito. A credora, neste caso, irá pagar um prémio à seguradora para cobrir o
risco de incumprimento da obrigação e+ art. 161º LCS + art. 3º LSF .

O seguro de crédito pode cobrir o risco de defaul, o risco de variações cambiais, risco de
país(p.ex. negoceio com alguém de angola e, de repente, o governo decreta que não
pode sair a moeda do país). Ou seja, neste seguro, os riscos são mais seguráveis do que
o seguro de caução. Aqui, o credor pede que a seguradora cubra estes riscos, sendi que,
se houver sinistro, esta é que é paga. O tomador, o segurado e o beneficiário são o
credor.

Ex2: A investiu num valor mobiliário, quem tem que dar retorno é B, o investidor e o
credor do pagamento, e o devedor são os emitentes. Nesta rj os credores (protection
buyer) foram ter com um vendedor de prestação (protection seller). O risco que ele vai
pedir para cobrir será o risco de default. O vendedor de proteção tem que pagar quando
ocorre um sinistro.

Assim, podemos concluir que não há diferença entre um e outro (credito default swap e
seguro de crédito).

Aqui a única diferença é a nomenclatura. E porque é que não se utiliza a mesma


designação? Por causa das provisões técnicas a que as seguradoras não estão obrigada.
Ora, os swap podem ser de cobertura ou especulação. No entanto, não se vê diferença
nenhuma entre um contrato swap de cobertura de crédito e um seguro de crédito. No
entanto, se o ct de wap tiver finalidade especulativa, já é diferente do contrato de seguro
de crédito, porque não podemos dizer à seguradora “acho que vai cair um meteroro na
empresa X”, não pode haver especulação do ct seguro.

125
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

No seguro de crédito há o principio previsto no art. 5º LSF, que é o principio do


descoberto obrigatório96, que significa que, sem prejuízo da celebração de seguros
complementares, num seguro de crédito base nunca se pode segurar o montante de
100% da obrigação.

ex: exporto para um cliente no canadá, em créditos tenho o valor de 1 milhão e


quero assegurar essas faturas todas, a seguradora vai anvaliar a capacidade do
devedor, e assume o seguro de crédito, mas vai avaliar qual é a % que não vai
cobrir, já que a seguradora não pode cobrir a totalidade da base. Isto porque? Se
o credor soubesse que em caso de sinistro recebia a totalidade do devedor, até
rezava para que ocorresse o incumprimento. Levaria a que o credor perdesse
interesse em saber como o devedor se encontra, em como está a desenvolver a
sua atividade. O maior amigo da seguradora é o credor, porque este é que
mantém a seguradora informada.

Principio tem que ser articulado com o principio do indemnizatório.

Principio do indemnizatório (art. 128º LCS) - A ideia do seguro é indemnizar pelo


dano, colocar na mesma situação que estaria se o dano não tivesse ocorrido. A
seguradora, segundo este princípio, indemniza sempre e só o valor do dano. Situação de
sobre o seguro (temos um capital mais alto do que aquilo que eu poderia vir a sofrer).
Basicamente, a seguradora cobre e indemniza o valor do dano, ou o do capital do
seguro, se este for inferior, de modo a evitar enriquecimentos. Ou seja, se o capital
seguro for superior ao dano, o dano é coberto, se o capital seguro for inferior ao dano, a
seguradora cobre pelo capital seguro e não pelo dano.

Ex. se a obrigação objeto do seguro de crédito é 1 milhao, e o descoberto é 25%,


a seguradora so irá cobrir ate 750.000. Assim, se o dano for de 1milhao e 200
mil, a seguradora so responde ate 750.000, uma vez que este é inferior.

MENÇÕES OBRIGATÓRIAS DE QUALQUER APÓLICE DO SISTEMA


FINANCEIRO:

96
Relação específica com o seguro de crédito

126
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

 Identificação concreta do tomador, do segurado e do beneficiário.


 Identificação concreta das obrigações incluídas no seguro (no caso de seguro do
crédito, a % do descoberto).
 Fundamentação - dizer quais os riscos seguráveis.

Vimos que a mora é um risco segurável. Todavia, na apólice tem de


indicar o prazo constitutivo da mora com o sinistro, i.e., a partir de que
momento é que se considera a morada como sinistro (naturalmente não
será de 1 dia ou 3).

Ex: quanto temos a mora por 60 dias como prazo para ser sinistro,
ao fim de 30 dias temos a ameaça do sinistro, sendo que, podem as
apólices clausular um adiantamento em caso de ameaça de sinistro. Se
depois não chega a haver sinistro tenho que devolver o montante à
seguradora. Se houver sinistro tenho que deduzir o valor já pago como
adiantamento.

Nas clausulas de apólice pode ficar estipulado o prazo para apresentação de sinistro, e o
prazo em que a obrigação da seguradora se vence. O prazo das obrigações gerais é 8
dias para participação do sinistro e o prazo para a seguradora é de 30 dias (são prazos
supletivos, pode ser convencionado o contrário).

Pode haver seguro de caução on first demand, i.e., uma clausula no seguro de caução
que obriga o devedor a pagar à primeira solicitação.

20/05/2023

Exportações

Tanto no seguro de crédito como o de caução existe a modalidade de “à exportação”,


sendo seguros efetuados a empresas portuguesas que tem relaçaoes comerciais com
clientes no exterior e , uma vez que há muitos riscos de não receberem o seu montante,
fazem este tipo de seguro. Este seguro, em alguns momentos tem apoio do estado,
passando a ser seguros de crédito à exportação com apoio do estado.

127
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

O estado faz uma espécie de subsidio da seguradora, para que esta aceite este tipo de
seguros. Isto serve para apoiar o tecido empresarial português na expansão/exportação,
incentivando as empresas PT a continuar a exportação. É como se o estado injetasse
dinheiro na seguradora. O próprio estado dá aumento na cobertura, sendo uma media
governamental que dá apoio às empresas exportadoras.

Ex. quando ocorreu o COVID as empresas podiam ficar desincentivadas a exportar.

* Continuação da penúltima aula

A LCS tem de ser toda imprimida, porque está quase tudo na lei.

COSEGURO: Art. 62º e ss

É idêntico ao mutuo sindicado, porque muitaas vezes as seguradores querem assegurar


determinado risco, mas se esse risco acontecer o prejuízo é imenso. Ex. qual é a
seguradora que segura uma central nuclear sozinha? Nestes casos, fazem consórcio com
outra seguradora, e estas em conjunto, asseguram uma única apólice.

Há sempre uma seguradora que é líder. Não há solidariedade entre as seguradoras, ou


seja, o beneficiário não pode exigir o montante total do sinistro a uma seguradora, ou
seja, o que acontece é que cada uma assume a sua quota parte do risco.

O tomador de seguro paga apenas um único prémio, que depois é distribuído por todas.

RESEGURO: art. 72º e ss

É o seguro da seguradora. A própria seguradora, quando assume riscos, há o risco dela


própria insolver.

Aqui a seguradora não pode simplesmente dizer que já não vai segurar determinados
seguros para eliminar risco. Entao como controla o seu rácio de solvabilidade? Ela faz
um seguro dela mesma, do risco que ela própria assumiu, sendo que o faz junto de uma
resseguradora.
128
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

MODALIDADES DE SEGURO

• SEGURO DE DANOS

(Se falamos de seguro de danos, o principio indemnizatórios é supletivo)

Este seguro é o que respeita a coisas materiais ou imateriais, a créditos e a direitos


patrimoniais. Sempre que aquilo que estou a segurar diz respeito a bens materiais ou
imateriais ou bens patrimoniais.

• SEGURO DE PESSOAS

Seguros cujo objeto está intimamente ligado com a pessoas: danos morais, acidentes
pessoais, integridade física.

SALVADO: Quando a coisa já não pode ser reparada. Por ex. um incendio em minha
casa em que fica totalmente destruída. A minha casa é um salvado.

SOBRESEGURO: Ex. tenho veiculo automóvel que custou 30k, a cada dia que passe
desvaloriza, se tenho sinistro o meu dano nunca vai ser superior a 30k. Imaginemos que
fiz seguro em que o capital de seguro era 50k, no entanto nunca vou receber 50k, porque
o meu carro nunca vale 50k. O capital excede o valor da coisa segurada.

Aliás, devemos anualmente pedir junto da seguradora que atualize o valor do nosso
veiculo automóvel, porque todos os anos desvaloriza.

SUBSEGURO: Quando tenho um capital abaixo do valor da coisa segurada, está


abaixo do que poderá ser o meu hipotético dano.

 SEGURO RESPONSABILIDADE CIVIL:

129
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Este seguro cobre o risco de eu ser responsabilizado pelo pagamento de um dano que eu
causei a outra pessoa. O contrato de seguro é apenas um método de eu transferir para a
seguradora a minha responsabilidade, sendo que, se eu não for civilmente responsável a
seguradora não vai responder. Por isso e que temos ao nosso lado a seguradora quando
estamos em litigio.

Seguro de responsabilidade civil profissional

Há uma atual discussão relativamente ao facto deste seguro quanto aos advogados devia
ou não ter um prazo distinto de prescrição do geral, sendo este é de 20 anos.

Ex: perda de chance - havia um processo em que havia 5 arguidos que foram
condenados a pena de prisão efetiva. Haviam 5 advogados diferentes. Todos
intentaram recurso. 4 dos que intentaram dentro do prazo, conseguiram a
suspensão da pena de prisão. Um deles intentou fora do prazo, não tendo sido
nem sequer julgado ---- responsabilidade civil do advogado, porque perdeu a
chance do seu cliente ter pena suspensa.

Quando é que o responsável é responsável por perda de chance? Temos de fazer um


“mini-julgamento” do que poderia ter acontecido se o advogado tivesse atuado de
diferente forma. Neste exemplo o arguido que foi preso teria 20 anos para intentar uma
ação por danos. Todavia, quem se sente lesado 3 anos é mais do que suficiente.

O regime atual em vigor, o advogado paga a asua quota à AO e com esse pagamento a
OA “oferece” um seguro de responsabilidade civil obrigatória no montante 150.000€.
nas ações de valor superior, o advogado tem de pagar do seu bolos. Como podemos
colocar o advogado com responsabilidade limitada? O advogado deve fazer um seguro
complementar dos 150.000, de modo que o capital objeto do seguro chegue, no mínimo,
aos 100.000. Assim, nas ações superiores até 250.000€ os seguros cobrem, e acima o
advogado pode não se responsabilizar.

O advogado, em todas as suas peças processuais, no todo o lugar que se identifique,


deve colocar “responsabilidade limitada”. Este é um especto formal essencial. Existem
acórdãos em que o juiz decretou que não havia a responsabilidade limitada por não
haver esta menção.

130
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

NOÇÃO DO CONTRATO DE SEGURO

Art. 1º contrato de seguro pode ser feito de forma verbal. Todavia, no art. 31º e 32º
existe a obrigatoriedade do segurador redigir a escrito o que foi falado verbalmente, que
posteriormente deve ser entregue ao tomador do seguro no prazo de 14 dias. No entanto,
porque é que o segurador entrega na hora? Porque desde a celebração do contrato à
entrega da apólice, o tomador do seguro pode revogar o seguro, sendo devolvido o
prémio em caso de pagamento. Se a apólice é entregue no momento, o nosso direito de
revogação “desaparece”.

Mesmo quando o contrato de seguro já terminou, eu posso pedir à seguradora a apólice


que eu tive.

Ex: eu tenho seguro de 1 ano, que termina no dia 25. No dia 24 eu tive um
acidente, atropelando alguém. No dia 25 renovava-se o seguro e eu não paguei.
A pessoa que eu atropelei no dia 24 pede me uma indemnização. Se o sinistro
ocorreu dentro do prazo de cobertura e validade do seguro, aquela seguradora é
responsável.

Outra questão é que quando o seguro é celebrado este apenas começa a produzir efeitos
à 00h00 do dia seguinte.

Ex: celebrei o seguro hoje ao 12h. só começa a produzir efeitos amanhã à 00h.

Se nós não pagarmos no dia o seguro, este cessa, caso a seguradora tenha informado
com 30 dias de antecedência que o seguro se irá vencer no dia X e qual a consequência
do não pagamento. Nem sempre foi assim. Surgiu de modo a desentupir os tribunais, já
que antes tinha de se intentar uma ação para pagamento do prémio.

Com a morte do tomador do seguro o seguro cessa.

Geral - todo o tipo de seguro

Especial - seguro com certas modalidades

As condições particulares são as especificidades típicas de um contrato em concreto.

131
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

PRÉMIO - art. 51º - corresponde ao valor que tem de ser pago pelo período que dura o
seguro. O seguro pode ser por 1 ano e eu acordar que o prémio desse ano seja pago
mensal, trimestral ou anual. O prémio pode ser pago por diversas formas (dinheiro,
cheque, etc,). Todavia, se for pago em dinheiro, o seguro está ativo. Se pagar por
cheque ou transferência o seguro só fica ativo quando houver boa cobrança. O cheque
tem um prazo de pagamento de 8 dias. Assim:

Ex: Eu paguei hoje com cheque, o seguro fica dependente da boa cobrança do
cheque, a seguradora tem 8 dias para apresentar o cheque. Imaginemos que a
seguradora só vai dar entrada do cheque na sexta feira. Tive um acidente na
quarta. Quid Iuris? Se no dia que eu entreguei no cheque e nos 8 dias
subsequentes o cheque teria provimento, a seguradora não tem a mínima
hipótese de não segurar o sinistro.

Art. 61º, nº1 - cessação do seguro na falta de pagamento

Deve ser comunicada qualquer informação que agrave ou diminua o seguro, no prazo de
14 dias desde a data do facto - art. 93º e 94º.

O sinistro tem que ser comunicado, se nada for dito em contrario, no prazo de 8 dias.

Nota:. Hoje existe uma plataforma para indicar o acidente de trabalho. A


participação tem de ser feita no momento do aciedente, nestes casos.

Art. 104º: quando se vence a obrigação da seguradora? Após o apuramento dos factos ,
em 30 dias.

Art. 18º, 21º e 22: o regime jurídico das clausulas ct gerais aplicam se aqui, mas o art.
22º da mais enfase ao dever de informação.

Art. 24º a 26º: deveres de info do tomador do seguro

Proibiçao de praticas discriminatórias, art. 15º/2 LCS: considera proibida a pratica dos
seguros de “em razão por deficiência…” a pessoa tenha um tratamento menos favorável
do que era dada a outra pessoa.

A cessação do contrato de seguro é a caducidade; denuncia ; resolução (ver 100º e ss).

132
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

24/05/2023

DIREITO DE REGRESSO DA SEGURADORA - CONTRATO DE SEGURO


AUTOMÓVEL:

É obrigatório a constituição de seguro automóvel para todos os veículos que circulem.

No art. 15º LS diz que quem são as pessoas seguras pela responsabilidade. A pessoa que
vem logo à cabeça é o condutor, independentemente deste ser ou não a pessoa com
quem se fez o contrato. Quando apreciamos no estatuto da responsabilidade civil temos
de “ver” quem praticou o facto ilícito, independentemente de quem celebrou o contrato
de seguro. Este é quem tem domínio do facto, tendo de ser sobre ela que são analisados
os pressupostos.

Havendo aqui um contrato de seguro, quem vai responder em vez do lesante, vai ser a
seguradora. Daí que, em termos processuais, quando se propõe a ação em tribunal não
se demanda o condutor, mas sim a companhia de seguros, porque é esta que vai pagar,
uma vez que há uma transferência de responsabilidade para esta. Tal ideia vai de acordo
com o principio da proteção do lesado.

ENQUADRAMENTO DO DIREITO DE REGRESSO NO ÂMBITO DA RESP.


CIVIL

A Seguradora não pode em circunstancia alguma dirimir-se de pagar a quantia que o


lesado demanda, salvo quando haja caducidade, prescrição ou qualquer outro vicio do
seguro.

Mas e se o condutor que vai a conduzir provocar o acidente por estar alcoolizado? Ou
roubado o carro? A seguradora cobre sempre - art. 483º 97. A seguradora cobre toda a
responsabilidade provocada pelo veículo, independentemente do seu condutor.

Art. 483º - imaginem que o condutor da viatura estava com uma taxa de álcool no
sangue superior ao legalmente permitido.

97
Ou 503º - a seguradora é sempre responsável.

133
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

Art. 81º Codigo estrada, nº2 - limite de 0,5 para quem conduzir com álcool, salvo nas
situações excecionais (ex: táxis, ubers, condutores de transporte de crianças até aos 16
anos, etc.). Se for superior aplica-se a pena prevista no código penal.

 0 - 0,5 - Permitido
 0,5 - 1,2 - contraordenação ----------- em algumas situações desde 0,2
 + de 1,2 - crime

A seguradora, num caso destes, pode eximir-se ao pagamento? Não pode, uma vez que
se trata de um contrato de seguro válido. Todavia, a lei concede-lhe efetivamente uma
situação de favor (art. 27º LSO): se o condutor tiver culpa no acidente e tiver sido
apanhado com uam taxa superior à legal (0,5 ou 0,2, nos casos excecionais), a
seguradora tem direito de regresso sob o condutor, i.e., a segurado paga e depois vai sob
o responsável pedir a devolução de tudo o que pagou. Foi uma forma que o legislador
encontrou para combater a condução sob a influencia do álcool.

O direito de regresso é um direito que nasce na esfera jurídica da seguradora após ter
pago a indemnização ao lesado, à qual não se pode eximir98.

A questão que se coloca nesta matéria surge porque tivemos uma lei anterior, em que a
al. c) do art. 19º - a seguradora poderia exercer o seu direito de regresso se o condutor
tivesse sob a influencia de álcool. No entanto, isto era encarado como um ónus de prova
para a seguradora em como o acidente tinha ocorrido por influência do álcool, i.e., que a
taxa que o condutor trazia no sangue tinha sido o responsável pelo acidente. Era
necessário provar que a pessoa se não tivesse alcoolizada não tinha causado o acidente.
É necessário provar o que o álcool causou naquela pessoa. Era necessário o nexo causal
entre o acidente e o estado alcoolizado do condutor. Houve várias controvérsias quanto
a esta questão, tendo surgido um Ac. Uniformizador de Jurisprudência que veio dizer
que realmente era necessário se provar o nexo causal.

A lei atual, SORCA, no art. 27º, al. c), começou a prever que satisfeita a indemnização a
empresa de seguros apenas tem direito de regresso quando prove que o condutor tenha
provocado o acidente e tenha conduzido com taxa legal superior à devida. Todavia, a
discussão quanto à letra da lei continuou a dar lugar a diferentes opiniões, sendo que

98
Semelhante à responsabilidade solidária prevista no CC

134
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

alguns defendem que a letra da lei é clara, e outros entendem que estamos perante uma
responsabilidade civil extracontratual e que, portanto, devem se verificar todos os seus
pressupostos, nomeadamente: o nexo causal.

26/05/2023

SEGURO AUTOMÓVEL

SORCA99

Quem é que é obrigado a efetuar o seguro de responsabilidade civil automóvel? O


proprietário, o locatário (condutor habitual) ou o usufrutuário (é aquele que não é
proprietário de raiz, mas usa e usufrui o veículo). Num contrato de compra e venda a
prestações, mas com reserva de propriedade, quem faz o seguro é o adquirente. Há
ainda outras entidades que são obrigadas a fazer este seguro, nomeadamente, as
entidades obrigadas a fazer a desempanagem de veículos ou atividade de fabrico,
reparação, pintura, etc., são obrigados a fazer seguros automóveis. No que diz respeito
ao garagista100, no âmbito da responsabilidade civil pelo risco (objetiva, não existe culpa
- o acidente foi causado pelo condutor do veículo, mas por um motivo que lhe é alheio -
ex: furou um pneu - art. 503º, nº1 CC) . No art. 503º existem 2 pressupostos que têm de
ser verificados, o Antunes varela entendeu que o veículo é uma espécie de long manus
do condutor, já que sem este último ele não anda.

Quem é que tem a direção efetiva do veículo? Aquele que usa diariamente o veículo e
que sabe em que condição este se encontra, nomeadamente, se está em perfeitas
condições para circulação. É aquele que domina a fonte do perigo.

Ex: eu tenho a direção efetiva do veículo. Vou ao mecânico e peço para ele me
fazer a revisão geral. Quando eu entrego o veículo ao mecânico eu perco a
direção efetiva do veículo. Quando o carro me é devolvido, um pneu rebenta em
andamento e eu despisto-me. Quem é que é responsável? O garagista. Cobre
durante o tempo em que o veículo está lá, e durante o lapso de tempo razoável
para que o condutor tenha noção da fonte do perigo.

99
Só o art. 27º é relevante para o exame
100
Garagista = mecânico.

135
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

E qual é esse prazo razoável? Depende.

Ex2: vou mudar os pneus a um mecânico ao lado de minha casa. Depois de


mudar, coloco o carro na garagem durante uma semana. Ao final de uma semana
vou ao Porto, e o meu pneu rebentou. Quem é que é responsável? O garagista,
uma vez que eu não tive tempo de obter a direção efetiva do veículo.

Eu empresto o meu carro a alguém. A partir de quando é que perco a minha direção
efetiva do veículo? Depende. A doutrina nunca se atravessou com “balizas” temporais,
dependendo de caso para caso, e em que moldes se pode sacar a responsabilidade civil.

USUFRUTUÁRIO - o usufruto é impenhorável.

O nosso cliente vai se penhorado, o que é que podemos fazer? Uma penhora
fictícia, uma hipoteca, um usufruto... e o advogado do exequente ao ver isto o
que é que pode fazer? Uma impugnação pauliana.

Ex: Marido e mulher casaram, fizeram uma empresa. Pediram


financiamento ao banco, e deram a casa como hipoteca, e fiadores dos
pais dela. A empresa deles insolveu, eles divorciaram-se. Ele pediu
insolvência pessoa. Ela foi para a suíça. O banco pegou naquele crédito e
cedeu a um cessionário, um estava insolvente, outro estava no
estrangeiro. Viraram-se para os fiadores. Dívida: 170.000€. Fiadores só
tinham a casa. Fizeram um mutuo no valor de 200.000, com clausula
penal de 40.000 com um amigo. Hipoteca para garantir esse mutuo.

Art. 14º SORCA- exclusão do que está coberto no seguro base. O que não está
abrangido pelo seguro base (o que não quer dizer que não possamos fazer a inclusão
destas coberturas por clausulas à parte que acrescem ao valor):

 Danos corporais do condutor responsável pelo acidente - todavia, podemos ao


seguro base fazer uma clausula assessória que cubra;
 Danos materiais do condutor causador do sinistro, do ascendente, do
descendente e do cônjuge.
 Danos materiais de passageiros que estão a ser transportados em contravenção
com as regras da estrada (ex: carrinha de 2 lugares, vão 3, e no acidente o

136
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

computador de um dos passageiros danificou-se. Os danos corporais são


cobertos? Sim. Os danos materiais? Não). No que respeita à pessoa que não teve
culpa no acidente, não se aplica esta exclusão, mesmo que esteja em
contravenção com as regras da estrada. Aqui aplicar-se-ia o art. 570º, em que o
seu ato aumentou o dano provocado.
 Danos materiais de representante da sociedade;
 Danos sofridos no próprio veículo do tomador do seguro, salvo se tiver seguro
contra todos os danos.
 Danos causados nos bens transportados no veículo do seguro quer se verifiquem
durante o transporte, quer operações de carga e descarga.
 Quaisquer danos provocados a terceiros durante operações de cargas e descarga,
e não durante o transporte (ex: carrinha de caixa aberta que leva dois tubos em
cima, e ao fazer uma curva, riscou uma casa e partiu uma janela . está coberto?
Sim. No entanto, se este dano fosse ao carregar os tubos, já estaria coberto).
 Quaisquer danos ocorridos durante provas ou treinos (ex: rally de fafe tem um
seguro específico) - art. 8º.

31/05/2023

ACIDENTES DE VIAÇÃO:

Ocorre um acidente com danos. O que fazer? Art. 36º e 38º SORCA + Portaria
377/2008101 + Portaria 679/2009 102. Quadros que vão dar critérios e valores orientadores
para se apurar/calcular a indemnização a pagar por cada tipo de dano.

Quando existam danos corporais, p.ex. incapacidade, não conseguimos fazer contas se
não existir alta (cura) e a fixação de incapacidades. Enquanto está em tratamento pode
receber valores para tratamentos, valores esses que são provisórios.

Temos de ter acesso ao relatório medico final, em que é mencionado as sequelas


resultantes do acidente e uma espécie de lista que, por referência, à tabela de
incapacidades, os médicos vão fixar, para aquela pessoa: incapacidade temporária
profissional, incapacidade permanente (que pode ser IPP - incapacidade permanente

101
Toda em vigor, salvo anexos e a sua al. e) do art. 4º. Todavia, para efeitos de cálculo não podemos
olhar para os anexos, mas sim para a portaria 679/2009.
102
Todas estas leis são importantes para aceitar e fazer negociações com as seguradoras

137
Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

parcial ou IPA103 - incapacidade permanente absoluta104). É necessário saber se houve


rebate profissional ou esforços acrescidos, o que significa, que a pessoa poderá exercer
aquela profissão que lhe era habitual, mas com um esforço acrescido.

É fixado o dano estético (amputação, queimaduras, etc.), sendo esta classificada de 1 a


7. É ainda necessário verificar o doloris, sendo que entre a 1 a 3 não é valorizável, i.e.,
não é relevante para calculo de indemnização. Por este motivo, a tabela só começa no 4.

Quando uma pessoa é vítima de viação, mas no decorrer do trabalho (acidente intenere).
Qual o seguro que devemos seguir? No caso deve se seguir a legislação e acidentes de
trabalho. Todavia, se houver valores indemnizáveis, podemos complementar os valores
do acidente de trabalho, com o SORCA. Não posso ser indemnizada 2 vezes pelo
mesmo dano, mas o SORCA pode cobrir danos que o acidente de trabalho não cobre.

O acidente ocorre, deve ser pontualmente comunicado à seguradora. Esta tem 2 dias
(úteis) para que a seguradora agende peritagem, e 8 dias uteis para concluí-la. Se eu
requerer os relatórios de peritagem, deve me ser disponibilizado no prazo de 4 dias pela
seguradora.

Depois de agendar a peritagem (no prazo de 2 dias uteis), a seguradora tem 30 dias uteis
para comunicar a assunção do sinistro, ou não. Esta comunicação está prevista no art.
36ºE SORCA e não é só enviar uma carta a dizer “vamos assumir o sinistro”. Este art.
deve ser conjugado com o art. 31º, que estabelece que a comunicação deve vir
acompanhada de uma proposta razoável. O que é uma proposta razoável? Aquela que
não pode ser considerada manifestamente insuficiente (conceito jurídico
indeterminado). Assim, no nº4 do art. 38º entende-se como “manifestamente
insuficiente” como aquela que não gera um desequilíbrio em desfavor do lesado, sob
pena de ser intentada uma ação judicial.

Ex: tenho um acidente. Seguradora propõe 40.000, mas o razoável seria 100.000. se eu
provar que aquela proposta não é razoável, e o juiz deferir. Qual a diferença entre os

103
Ex: pessoa que ficou surda.
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Não confundir com incapacidade para o exercício da profissão habitual. Por vezes a pessoa não fica
com uma IPA ou IPP, mas essa IPP impede que a pessoa exerça a sua profissão habitual, que poderá
haver reconversão (pode fazer outras atividades afins, não perdendo a sua capacidade de trabalho
naquele local) ou sem possibilidade de reconversão.

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Direito da Banca e Seguros | Márcia Durães

dois valores? 60.000. assim, desde a data do acidente à sentença transito em julgado,
vou pedir juros a 4% indemnizatórios e a 8% (sobre os 60.000 - a diferença)105.

Quando temos um sinistro que gera danos diferentes para diferentes pessoas. Caso
envolva filhos é relevante a sua idade, já que há valores até aos 18 anos, e outros para
superior a 18 anos. No caso de dano morte aplicamos o art. 2º portaria 377/2008. No
caso de danos corporais aplicamos o art. 3º da portaria 377/2008.

Quando há dano morte, não podemos confundir o art. 2º com o art. 3º. No dano morte é
indemnizável a violação do direito à vida, sendo que esse montante vai ser distribuídos
pelos herdeiros em partes iguais. Não é um direito próprio dos herdeiros, mas sim do
falecido. Não confundir com a indemnização que os herdeiros têm direito diretamente
pelo dano moral de terem perdido o seu familiar.

Em alguns casos, designadamente: quando a vítima tem menos de 25 anos, e a fixação


de IPA for de 60% ou mais, as fixações devem ser feitas em renda, ou de forma mista
(um montante em capital, e outro em renda). Se for fixada em renda, há possibilidade de
a pessoa pedir para remir, o que significa, que recebe uma parcela (a mais pequena) da
indemnização total fixada à cabeça, e o resto ser diferido em mensalidades. Isto tem
uma logica, porque tratando-se de uma pessoa com menos maturidade pode correr o
risco de gastar todo o valor.

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Isto de modo a doutrinar as seguradoras e para compensar o segurado pelo tempo de espera com o
pagamento da taxa agravada. Se a proposta fosse efetivamente razoável a ação judicial não teria
existido.

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