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Curso – Tronco Comum Page | 1

Nível: 2º Ano
Disciplina: SISTEMA FINANCEIRO

Texto de Apoio – Capítulo IV


Mercado de Crédito: Operações de Financiamento

1. Conceito de Instituições Financeiras


De acordo com Gitman (2010, p.54), instituições Financeiras são intermediárias especializados
que facilitam a transferência de fundos dos poupadores para os que demandam de capital.
Entre os aforradores e os investidores não há relação directa, todas as operações são levadas
a cabo pelos intermediários financeiros. Esta função, materializa-se através da captação de
recursos sob forma de depósitos e na sua cedência através da concessão de crédito.

2. Formas de Instituições Financeiras

 Bancos Comerciais - são instituições que aceitam os depósitos à vista e a prazo e, os


valores depositados são dispostos aos agentes económicos deficitários. Actualmente, os
bancos comerciais estão oferecendo uma gama de serviços e diversidade de meios de
pagamento assim como os de corretagem de acções e serviços de seguros. Exemplos:
BIM, Standard Bank, Barclays Bank, entre outros.

 Bancos de Desenvolvimento - são agentes de financiamento, que apoiam


empreendimentos que contribuem para o desenvolvimento do país, focalizando os seus
serviços no financiamento a infra-estruturas, gestão de fundos e financiamento do sector
produtivo. Seu principal objectivo consiste em aumentar o nível de competitividade do
mercado do país, elevar a geração de emprego e reduzir as desigualdades. Exemplos: BNI
-Banco Nacional de Investimento.

 Caixas Económicas - são instituições que recebem fundos (depósitos a prazo) para os
aplicar em empréstimos as pessoas e empresas que necessitam de recursos financeiros.

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Exercem as mesmas actividades de um banco comercial com a particularidade de serem
normalmente bancos públicos orientados para o desenvolvimento económico e social do
país. Exemplos: Caixa económica de Cabo-verde (em Moçambique não temos um caso
especifico).
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 Associações de Empréstimos ou Crédito - é uma organização de propriedade comum


de todos os associados que captam poupanças a prazo dos seus associados e estes
fundos podem ser emprestados a pessoas singulares ou colectivas contra hipotecas de
casas, ou seja, estão normalmente ligados ao mercado imobiliário.
Estão normalmente ligados ao mercado imobiliário. Ex: POUPEX - Brasil.

 Companhias de Seguro - recebem somas de dinheiro na forma de prémios anuais,


investindo então esses recursos em acções, títulos, imóveis, entre outros, para fazer face
as indemnizações futuras aos beneficiários das partes seguradas. Exemplos: EMOSE,
Impar, Ice Seguros.

 Fundos de Pensão - são instituições que permitem que os vários titulares e funcionários
recebam rendas na fase de aposentadoria, pensões e subsídios em caso de invalidez,
doença, morte, entre outros. Estas instituições aceitam dinheiro dos poupadores e utilizam
esses fundos na compra de acções, títulos de longo prazo, entre outros investimentos.
Exemplo: INSS.

3. Bancos Comerciais

3.1. Papel da Banca no Sistema Financeiro


Os bancos comerciais desempenham um papel crucial no sistema financeiro como
intermediários financeiros garantindo uma maior eficiência no processo de transacção de
recursos financeiros entre os agentes económicos.
As actividades dos bancos não se limitam na intermediação financeira, mas também na
multiplicidade de serviços complementares tais como meios de pagamento, compra e venda de
moeda estrangeira, cobranças de terceiros. Estas funções ajudam o banco a aumentar o seu
volume de negócios e a sua actividade principal contribuindo para a captação de depósitos,
melhoria da qualidade e diversificação dos seus serviços e estreitando as suas relações com o
cliente.

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A inexistência de um sistema bancário bem estruturado não permitiria a circulação da moeda
entre os agentes agentes económicos.

3.2. Serviços bancários


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3.2.1. Contas bancárias
A conta bancária é a conta de depósito mantida em um banco por um depositante através da
qual ele pode movimentar os seus recursos financeiros de forma escritural ou transformando-os
em dinheiro em espécie.
A primeira etapa para abertura de conta é a identificação do depositante que pode ser uma
pessoa singular ou colectiva. Em caso do titular for menor ou pessoa incapaz, deve ser
identificado um responsável que o representa ou assiste.

3.2.2.Tipos de Conta
Existem quatros principais tipos de conta bancária:
 Conta de depósito à vista, é a forma mais comum de conta bancária, onde o dinheiro do
depositante fica a disposição para ser sacado a qualquer momento.

 Conta de depósito à prazo, é o tipo de conta, onde o dinheiro do depositante só pode ser
sacado depois de um prazo fixado, este tipo de conta remunera juros pela aplicação.

 Conta de poupança, permite a aplicação de pequenos valores para gerar rendimentos


mensais para prazos mais longos, tem como principal objectivo a reserva do dinheiro para
consumo futuro.
 Conta-salário, é um tipo de conta especial destinado para pagamento de salários,
aposentadorias, pensões e similares. O instrumento contractual é firmado entre a
instituição financeira e a entidade pagadora.

3.2.3. Cartões bancários


São instrumentos de meio de pagamento que podem ser classificados em três tipos, de acordo
com a função principal que desempenham e a forma como os valores são movimentados.
 Cartão de débito - está associado a uma conta de depósito à vista e permite levantar
dinheiro, fazer pagamentos e realizar transferências bancárias, entre outras operações.
Quando o cartão é utilizado, a conta de depósito associada é debitada pelo valor
correspondente, o que significa que esse valor é subtraído de imediato ao saldo da conta à
ordem e vice-versa.

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 Cartão de crédito - tem associado um limite máximo de crédito (plafond) previamente
estabelecido. Quando o cartão é utilizado, o titular beneficia de um crédito concedido pela
instituição de crédito. A data-limite para o pagamento do montante utilizado é acordada
previamente, entre o cliente e a instituição de crédito. (Veremos no ponto seguinte mais
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detalhes sobre este serviço).
 Cartão pré-pago – tem disponível um montante que foi pago antecipadamente pelo titular à
entidade emitente. Quando é utilizado, o montante disponível reduz-se pelo valor
correspondente. Este cartão permite, na maioria dos casos, efetuar pagamentos e
levantamentos de dinheiro tal como um cartão de débito, desde que tenha saldo
disponível.

3.2.4. Cheques
É uma ordem de pagamento à vista a favor do próprio emitente ou de terceiros por quem tiver
fundos disponíveis num banco e estiver autorizado por ele a emitir cheques.

Os principais elementos do cheque são:


 O sacador: emitente do cheque;

 O sacado: aquele que deve pagar o cheque (banco);

 Favorecido: é aquele a quem deve ser feito o pagamento.

Os cheques podem ser classificados em:


 Nominativos: possuem o nome do favorecido a quem deve ser feito o pagamento;

 Ao Portador: não possui nome do favorecido;

 Cheque cruzado: não pode ser sacado, ou seja, obrigatoriamente deve ser depositado.

 Cheque pré-datado: o cheque deve ser depositado ou sacado numa data futura
referenciado pelo emissor.
 Endossado: quando o favorecido autoriza uma terceira pessoa a levantar o cheque em
seu nome.

3.3. Operações de Financiamento


3.3.1. Descontos de Letras

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São operações de crédito, em que o Banco adquire a propriedade de um título de crédito e
coloca a disposição do seu portador antes da data do vencimento do título o respectivo valor
nominal deduzindo uma importância calculada em função do tempo que decorre até o
vencimento.
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A letra representa um título através do qual uma entidade que compra determinado produto ou
serviço (aceitante/comprador) aceita pagar o valor nele inscrito a instituição que a vendeu
(sacador/vendedor), na data que consta no documento.
A letra pode ser descontada em qualquer data que compreende entre a data de aceitação e o
seu vencimento.

Os principais elementos associados ao desconto da letra são:


 Valor Nominal de Letra (A) – é o valor que se encontra inscrito na letra;
 Taxa de Juro (i) – é a taxa à qual é calculada o juro;
 Número de períodos (n) - período que falta para o vencimento da letra. Por norma,
acrescenta-se dois dias úteis, que é o período de tempo que a lei da ao aceitante para
efectuar o pagamento da letra para além da data de vencimento.
 Juro (A*i*n) - é o custo da letra, ou seja, o valor pago ao banco por este, durante um
determinado período emprestar dinheiro.
 Comissão de cobrança (A*w) – é a comissão que a instituição bancária leva por cobrar o
valor nominal da letra e é calculada com base no valor nominal da letra.
 Imposto selo (y) – é o imposto que incide sobre os juros bancários e o valor da comissão
de cobrança. Este imposto é a favor do Estado.
- Imposto de selo sobre juros – (A*n*i) * y
- Imposto de selo sobre a comissão de cobrança - (A*w) * y
 Portes (P) – são os encargos de comunicação associados ao desconto da letra.

O Produto Liquido de Desconto de uma Letra (PLD) – representa o valor líquido creditado
na conta do sacador quando desconta a letra. Este valor é igual ao valor nominal da letra,
deduzido de todos os encargos associados ao seu desconto.

PLD = A - (A*i*n) - (A*n*i) * y - (A*w) - (A*w) * y - P

Exemplo: A empresa TCGU tem necessidades financeiras de curto prazo e necessita


urgentemente de 90.000 Mts para colmatar essas dificuldades. Como possui uma letra aceite

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por um seu cliente que totaliza em 100.000 Mts , dirige-se ao Banco Y para efectuar o
desconto.
As condições previamente negociadas pelo Banco são:
 Taxa de Juro : 5% ano;
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 Imposto de selo (incide sobre a comissão de cobrança): 4%

 Prazo de Vencimento: 60 dias

 Comissão de cobrança: 0,5%

 Portes – 6 Mts

a) Qual o valor que o banco efectivamente creditou na conta da empresa fruto de desconto
da letra?

Resolução

( ) ( )

( ) ( )

PDL = 98.590,71 Mts

3.3.2. Garantias Bancárias


As Garantias Bancárias são uma modalidade de crédito por assinatura através da qual o Banco
a pedido de seu cliente a favor de outrem, perante o qual o Banco assume a obrigação de, nos
termos do texto da Garantia, satisfazer determinadas obrigações se estas não forem cumpridas
pontual e integralmente pelo seu cliente.
Um exemplo claro de aplicação seria, quando as empresas realizarem importações no mercado
estrangeiro através de operações que envolvem valores avultados e nem sempre existe uma
relação de confiança suficiente para acreditar que o simples envio da mercadoria, e da
respectiva factura, fara com que o cliente nacional pague os montantes em causa, ou vice-
versa.

As Garantias Bancárias têm como principais fases as seguintes:

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 Elaboração do Contracto de Compra e Venda ou prestação de serviços – O
comprador e vendedor celebram um contracto de compra e venda ou prestação de
serviços entre si. O comprador denomina-se ordenador e o vendedor beneficiário. Em
seguida, a empresa compradora informa ao seu banco que pretende abrir uma garantia
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bancária associado ao contracto. Em seguida o banco decide se ira efectuar ou não, caso
a operação seja aceite abre-se um crédito a favor do vendedor estrangeiro recorrendo a
uma entidade bancária no país do vendedor.

 Abertura da Garantia Bancária – Quando a garantia bancária se encontra aberta (de


outro país) embarca a mercadoria para o seu cliente (nacional) e deposita, no seu banco, a
documentação exigida relacionada com a venda, solicitando o pagamento do montante em
causa ao banco do cliente nacional.
 Utilização da Garantia Bancária – O banco notificador (do país vendedor) analisa
detalhadamente toda a documentação enviada e procede o pagamento dos montantes ao
vendedor (seu cliente).
 De imediato o banco envia a documentação para o banco do país comprador, que analisa
toda documentação, e se esta estiver correcta, procede ao débito do valor da operação ao
seu cliente.

3.3.3. Cartões de Crédito


Consiste num crédito emitido pelos bancos que permite ao seu detentor realizar transacções
comerciais sendo que no final de cada mês, o mesmo pode optar por liquidar a divida na
totalidade ou pagar parte desta. No caso de não liquidar o valor total que foi utilizado, serão
calculados juros diários sobre o valor em divida.

Os custos geralmente associados à utilização de um cartão de crédito são:


 Custo de emissão do cartão - geralmente o cartão é válido por dois anos.
 Anuidade do cartão – as instituições de crédito cobram uma anuidade pelo uso do cartão.
 Taxa de juro – incide sobre o valor utilizado e não amortizado na data limite estipulada.
 Imposto – incide sobre o valor dos juros.
 Comissões - são valores determinados pelas instituições financeiras pela utilização do
cartão de crédito.
 Taxa de levantamento - O Cash advance (ou mais conhecido com os levantamentos ATM)
têm um custo (por norma alto) associado, sendo por isso algo a evitar.

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 Juros de mora - sempre que não realizar o pagamento da factura do cartão de crédito
atempadamente, pode pagar os juros de mora associados ao tempo que falhou o
pagamento.

O exemplo abaixo demonstra como calcular o custo efectivo do cartão de crédito.


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A senhora Luana é detentora de um cartão de crédito fornecido pelo Banco Comercial de


Investimentos (BCI, Sarl) com um limite de crédito de 25.000,00 mts. Frequentemente utiliza
este crédito para efectuar pagamento uma vez que pode desfrutar de crédito gratuito durante
30 dias.
A cliente optou pelo pagamento parcial de 50% do valor em divida. Conforme podemos
observar o extrato mensal do mês de Abril.

Abril Montante Utilizado Montante Pago


1 25000
21 5000
23 5000
25 5000

Sabendo que os custos associados ao cartão são:


 Emissão do cartão – 50,00 mts (o cartão é válido para dois anos);

 Anuidade do cartão – 25,00 mts

 Taxa de juro – 13% ano

 Imposto selo – 4%

Calcule os encargos de utilização do cartão de crédito da cliente Luana para o mês de Abril.

Resolução

Abril Montante Utilizado Montante Pago Saldo em dívida


1 25000 (25000)
21 5000 (20000)
23 5000 (15000)

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25 5000 (20000)
30 (Liquidação Parcial da Didiva) 50%*20.000 =
10.000

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No final dos 30 dias, a divida da Sr. Luana não quitada é de 10.000,00 Mts (50% do Saldo em
divida).
Juros = (10.000,00*30 dias*13%)/365 dias = 106,85 Mts
Imposto Selo = 106,85 Mts * 4% = 4,27 Mts
Os custos do crédito da Luana durante o mês de Abril não só são compostos por juro a 13%
mas também por todos os restantes encargos.
Juros 106,85
Imposto Selo 4,27
Anuidade do cartão (proporção mensal) 2,08
Custo de emissão do cartão (proporção mensal) 2,08
TOTAL 115,28

3.3.4. Empréstimos bancários tradicionais


É a modalidade de empréstimo mais frequentemente utilizada pelas organizações para
financiar os seus investimentos.
Esta modalidade de empréstimo tem como principais elementos os seguintes:
 Contracto de empréstimo – assinado entre o banco e o cliente, podendo, em muitos
casos, existir um avalista para garantir o pagamento futuro dos valores emprestados em
caso de inadimplência.

 Tempo – data de início e fim da operação

 Taxa de Juro – Pode ser fixa ou variável. Normalmente as taxas de juro fixas são
negociadas em época que as taxas de juro tendem a aumentar, assim a organização
paga menos juros do que se tivesse optado por taxas variáveis. Se pelo contrário a
tendência das taxas de juro é decrescente, é vantajoso optar por uma taxa de juro
variável.

 Termos de Renda – determina o tipo de amortização de capital que será adoptada, de


uma só vez ou em vários períodos.

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 Garantias – quando há um maior risco associado a não devolução dos fundos
acrescidos os juros e comissões pela empresa, o banco pode exigir uma garantia de
diversas formas, das mais simples as mais complexas dependendo do grau do risco.

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3.3.4.1. Modalidade de Amortização de Empréstimo
A amortização de empréstimo pode ser feita, de diferentes formas, duma só vez, em quotas de
capital constante ou em pagamentos periódicos constantes.
o Amortização de Empréstimo de uma só vez - consiste no pagamento total do capital
emprestado mais os juros, duma só vez, no final do prazo acordado entre as partes.

o Amortização de Empréstimo em Quotas Constantes – consiste no pagamento da parte


do capital em partes constantes, isto é, o reembolso do capital pedido é feito em partes
iguais. Se forem cinco anos o prazo de reembolso do empréstimo de 10.000 contos então
as quotas serão de 2.000 contos em cada ano.

o Amortização com Pagamentos Periódicos Constantes – é um sistema de pagamento


de dívidas em que as prestações periódicas são constantes. Trata-se do sistema francês
(SF) de amortização de empréstimos que consiste no pagamento de prestações
constantes ao longo do prazo do empréstimo, compostas por uma parte de capital e juros.
Assim, ao longo do tempo, tanto o capital em dívida, como os juros vão diminuindo. O
sistema francês, para além do segmento normal, pode comportar prazo de carência ou
prazo de diferimento.

Sistema Frances com prazo de carência


Entende-se como prazo de carência, o intervalo de tempo, após a contratação do
empréstimo, durante o qual o mutuário vai pagando periodicamente os juros devidos, não
efectuando qualquer amortização de capital. Após o pagamento do juro devido no
momento 1, o capital em dívida é D0; o mesmo acontece após o pagamento do juro devido
no momento 2; idem no momento 3, etc…até ao momento k. Aqui (k), após o pagamento
de juro devido, o capital em dívida é D0. Por conseguinte é como se o empréstimo tivesse
sido contraído no momento k, começando as prestações a ser pagas no momento (k+1).

Sistema Frances com prazo de diferimento

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Prazo de diferimento é o intervalo de tempo, após a contratação do empréstimo, durante o
qual mutuário não efectua qualquer pagamento (nem amortização de capital, nem juros).
Como não se amortiza o capital, nem se paga os juros devidos, a dívida vai aumentando
de período para período. Uma vez que há k períodos de diferimento, vai havendo
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sucessivamente juros de juros. Assim, após k períodos de diferimento a dívida é Dk =
(1+i)k.

Exemplo: Uma empresa que pretende comprar um equipamento, que custa a pronto
pagamento 95.000.000,00 Mts, para alargar o seu nível de produção, não tendo recursos
suficientes para o pagamento do referido equipamento, recorreu a um Banco comercial da
praça que cobra sobre os empréstimos 10% de taxa de juro anual, com o prazo de 5 anos e
13,5% acima deste período pelo mesmo montante.
Supondo que a empresa prefere a primeira alternativa.
a) Qual seria o valor a pagar no final de 5 anos?

b) Quanto pagaria periodicamente se acordasse amortização do capital em quotas constantes?

c) Qual seria o pagamento periódico se acordasse pagamentos constantes?

Nota: Construa os quadros que ilustram cada sistema de pagamento.

a) O pagamento único será calculado com base na fórmula do valor futuro de quantias únicas:

Amortização do Capital de uma só vez


Anos Capital Inicial Juros Produzidos (k=10%) Valor a Pagar

1 95.000.000 9.500.000 -

2 104.500.000 10.450.000 -

3 114.950.000 11.495.000 -

4 126.445.000 12.644.500 -

5 139.089.500 13.908.950 152.998.450

Interpretação: Sendo o capital inicial de 95.000.000, capitalizado a juros anuais de 10%, a


empresa tem a pagar no final do quinto ano o valor de 152.998.450.

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b) Pagamento de capital em quotas constantes
Primeiro, deve se calcular a quota anual do capital, que consiste em dividir o valor do
empréstimo em número de anos a pagar a referida dívida.

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Amortização do Capital em Quotas Constantes

Anos Capital Inicial Juros Produzidos (k=10%) Quota do Capital Valor a Pagar

1 95.000.000 9.500.000 19.000.000 28.500.000

2 76.000.000 7.600.000 19.000.000 26.600.000

3 57.000.000 5.700.000 19.000.000 24.700.000

4 38.000.000 3.800.000 19.000.000 22.800.000

5 19.000.000 1.900.000 19.000.000 20.900.000

Total 123.500.000

Interpretação: A empresa paga uma quota constante de capital anualmente de 19.000.000, a


qual é acrescido o valor do juro produzido.
Para o ano um, o capital inicial é de 95.000.000 e produz um juro de 9.500.000
(95.000.000*10%) que é acrescido a quota do capital de 19.000.000, tendo a empresa a pagar
28.500.000;
No ano 2, é descontado do capital inicial, os 19.000.000 pagos, passando a mesma a dever
76.000.000 que produz um juro de 7.600.000 (76.000.000*10%), que é acrescido a quota de
capital de 19.000.000, tendo a empresa a pagar 26.600.000. Assim, sucessivamente, até ao
quinto ano.
Sendo que, no total a empresa pagará 123.500.000 contos.

c) Pagamentos periódicos constantes


Consiste em reembolsos de capital emprestado juntamente com juros periódicos, anualmente.

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Temos que, calcular o valor do pagamento anual constante, neste caso o valor do depósito,
com base na fórmula.

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Amortização de pagamento anual constante

Anos Capital Inicial Juros Produzidos (k=10%) Quota de Capital Pagamento Anual

1 95,000,000.00 9,500,000.00 15,560,760.67 25,060,760.67

2 79,439,239.33 7,943,923.93 17,116,836.74 25,060,760.67

3 62,322,402.59 6,232,240.26 18,828,520.41 25,060,760.67

4 43,493,882.18 4,349,388.22 20,711,372.45 25,060,760.67

5 22,782,509.73 2,278,250.97 22,782,509.70 25,060,760.67

Total 125,303,803.35

Interpretação: a empresa paga anualmente o valor de 25.060.760,67 durante os cinco anos,


que é o valor dos depósitos constantes de uma anuidade (como foi calculado acima). O juro
produzido resulta do capital inicial multiplicado pela taxas de juro, e a quota de capital da
diferença entre o pagamento anual e os juros produzidos.
Por sua vez, o capital inicial do ano subsequente será igual a diferença entre o capital inicial e
a quota de capital. Assim, sucessivamente.

No total, a empresa pagará 125.303.803,35.

3.3.5. Leasing

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O leasing consiste numa locação financeira ou seja um contracto mediante o qual uma entidade
a qual se denomina locador, fica obrigada a conceder a uma outra parte (locatário), o direito a
usufruir temporariamente de um bem (móvel ou imóvel). No final da operação o locatário pode
se for do seu interesse adquirir o bem mediante o pagamento de um valor residual.
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Tem como principais vantagens:


 Financiamento até 100% do bem a adquirir com todos os encargos legais incluído.
 Possibilita maior poder de negociação, como se trata-se de uma venda a pronto
pagamento.
 Isenção de imposto selo na comissão de abertura e juros do leasing.
 Juros geralmente com menores taxas do que outras opções de financiamento.
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3.3.5.1. Modalidades de Leasing

Leasing Financeiro
É a forma mais comum de leasing. Destina-se a financiar essencialmente a aquisição de bens
com a finalidade de locá-lo para outra parte, sendo que os contractos elaborados entre o
locador e locatário tem uma duração muito próxima da vida útil do próprio bem. Ao término do
contrato, a empresa arrendatária poderá adquirir o bem mediante o pagamento de um valor
residual pactuado
entre as partes. Neste tipo de leasing existem três partes: locador, locatário e fornecedor do
bem. Normalmente, a empresa arrendatária assume os custos de manutenção e conservação
do equipamento e, dependendo dos parâmetros da negociação, poderá ser dispensada a
contratação de seguro para o bem, principalmente em casos em que a empresa arrendatária
dispõe de bens similares excedentes aos contratos para reposição em caso de sinistro.

Leasing Operacional
Esta modalidade de leasing normalmente envolve a locação de objetos móveis, e o bem é
cedido por períodos curtos de tempo, sendo que na maior parte dos casos, o locatário não
adquire o bem no final do contracto, tendo em conta que o valor ainda é elevado e a empresa
não necessita permanentemente do equipamento. O contrato pode ser rescindido a qualquer
momento por ambas as partes, às vezes, mediante um aviso prévio de 30 dias. O locador do
ativo, em geral, assume o compromisso de prestar assistência técnica para a manutenção do
equipamento.

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Leasing Específico (lease-back)

Nesta modalidade de leasing, o locatário é detentor de um determinado imobilizado, que


vende ao locador por um dado valor. Efectuada a operação, o locatário fica a pagar ao
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locador uma determinada prestação durante um período pré-estabelecido podendo, no
final da operação, exercer a operação de compra e venda.

3.4. Riscos Financeiros e Bancários


O risco financeiro consiste nas possíveis perdas que as instituições financeiras podem
incorrem dentro dos mercados financeiros. Na literatura existem vários critérios de
classificação dos riscos financeiros sendo que a mais comum distingue os riscos financeiros
como de: crédito, liquidez, operacional, taxa de juro e cambial.
Porém, antes de abordarmos sobre os principais riscos financeiras, importa falar sobre a
Solvabilidade Financeira das IFs.

Solidez Financeira
A solvabilidade do banco pode ser medida pelo rácio de solvabilidade ponderado (RSP),
permite saber se o capital está adequado à actividade desenvolvida pelo banco. Este rácio
indica a proporção relativa dos activos da IF financiados por capitais próprios versus
financiados por capitais alheios. Quanto mais elevado este rácio, maior a estabilidade
financeira da empresa. Quanto mais baixo, maior a vulnerabilidade.
As IFs são obrigadas a publicar no relatório de contas o desdobramento detalhado das
rubricas que constituem o cálculo do RSP. Normalmente, o rácio de solvabilidade encontra-se
em níveis de 8% (média mundialmente utilizada), porém Moçambique registou um aumento do
mesmo recentemente para 12%.

Solvabilidade = Capitais Próprios / Passivo

Risco Cambial
O risco cambial consiste na possibilidade de perda ou ganho em operações cambiais resultante
de variações adversas das taxas de câmbio entre moedas de países.
Algumas medidas podem afetar diretamente as empresas que operam com o risco cambial
são:

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a) Desvalorização da moeda - torna a moeda nacional mais barata face às restantes. Tem
um efeito benéfico sobre as exportações e consequentemente, tem um efeito nefasto
sobre as importações.
b) Valorização da moeda - As exportações perdem competitividade no mercado
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concorrencial, tornando as importações mais baratas.

O risco cambial pode ser explicado através da exposição das instituições financeiras em
moedas estrangeiras, medida pela posição líquida, e pode ser representada pela seguinte
fórmula:

Uma exposição liquida positiva ou exposição liquida activa, significa que o banco esta
comprado numa determina moeda e corre o risco cambial perder valor caso ocorra
desvalorização desta moeda.
Por outro lado, uma exposição liquida negativa ou exposição liquida passiva, significa que
o banco esta vendido numa determinada moeda e pode perder recursos em caso de
valorização desta moeda.

Risco de Taxa de Juro


O risco de taxa de juro também denominado risco de variação da taxa de juro é o risco que
resulta das variações de valor nos instrumentos financeiros induzidas por variações das taxas
de juro. A base do risco da taxa de juro resulta da refixação da taxa (repricing risk), ou seja
desfasamento entre os prazos de captação de recursos e os prazos de aplicação de recursos
numa instituição financeira. Atendendo que os recursos ofertados pelos agentes económicos
excedentários não são iguais aos desejados pelos agentes económicos deficitários e muito
menos os prazos das operações são coincidentes. Quando, a instituição financeira possui uma
carteira de activos com prazos mais longos comparativamente aos seus passivos, o que
obrigará a instituição financeira a renovar as operações passivas à taxas de juros mais
elevadas causando prejuízo as operações. Por outro lado, se uma instituição financeira possui
uma carteira de activos com prazos mais curtos do que os passivos, pode incorrer perdas em
caso de redução das taxas de juro, visto que a captação será remunerada a longo prazo pela
taxa fixada enquanto a aplicação tendera a ser renovada a taxas de juros mais baixas.

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Risco de Crédito ou Risco Default ou Risco de Inadimplência
O risco de crédito esta associado a possibilidade de ocorrência de perdas financeiras
decorrentes da inadimplência dos clientes no pagamento do principal e dos juros. Tal como em Page | 17
qualquer situação em que se adquire um produto ou serviço sem pagar imediatamente, há um
risco. Por exemplo, as empresas de telefonia móvel para clientes pós-pago, as empresas de
fornecimento de energia e água aceitam o risco de crédito a todos os seus assinantes.
Nas instituições financeiras existe um risco de crédito porque os valores prometidos em uma
data futura podem não ser pagos integralmente, conforme contratado.

Cálculo do Risco de Crédito


Rácio de Crédito Vencido

Representa a % do crédito concedido e que esta por regularizar; permite aferir a política de
crédito seguida pelo banco.

Rácio de Cobertura por Provisões

Avalia o grau de cobertura dos créditos vencidos por provisões.

Uma das ferramentas usadas pelos bancos para gestão do crédito, esta no acompanhamento
dos clientes e na informação do mesmo que influenciam a tomada de decisão sobre conceder
ou não crédito a um cliente. Quando os bancos atribuem um risco elevado a um determinado
cliente, os mesmos atribuem taxas de juro elevadas, exigem maiores garantias ou restringem o
volume do crédito.
O risco de crédito é considerado o risco mais importante no setor bancário. A sua gestão exige
estratégias de maximização de resultados face a exposição dos riscos assumidos nas
operações de crédito concedidas, respeitando sempre as exigências regulamentares dos

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supervisores.

Há vários métodos de análise e avaliação do risco de crédito, dentre eles:


 Método de análise da ficha de crédito - consiste na atribuição de valores aos parâmetros
como: Carácter do cliente, Capacidade de gestão, Valor do património, Garantias de Page | 18
crédito, envolvente contextual, entre outros, para emitir um parecer sobre determinada
operação de concessão de crédito. A cada factor emite-se um valor subjectivo - "positivo"
ou "negativo". Se, no final, o número de factores com classificações positivas for superior
ao dos negativos, então o parecer tenderá a ser favorável à concessão de crédito.
 Método do credit scoring - consiste num tipo de análise utilizado para a avaliação da
qualidade de crédito de clientes, através da ponderação de vários factores - idade,
profissão, renda, actividade profissional, património, tipo de residência, classifica os
clientes em duas categorias:
 Bons pagadores - os que, potencialmente, têm condições para honrar as obrigações o
empréstimo obtido.
 Maus pagadores - os que, potencialmente, não reúnem as condições para cumprir as
obrigações do crédito.
 Método do risk rating - trata-se de uma metodologia que avalia uma série de factores,
atribuindo uma nota a cada um deles e, posteriormente, uma nota final ao conjunto destes
factores analisados. Com base nesta nota final é atribuído um risk rating, ou seja, uma
classificação para o risco, que determina o valor (risco de crédito) que a instituição
financeira dará ao tomador do crédito. Podem ser utilizadas escalas de 1 a 10, de 1 a 4, de
A a E, combinações de letras e números.

Vide anexo a Classificação do Risco de Crédito em Moçambique.

Risco de Liquidez

O risco de liquidez está relacionado com a disponibilidade imediata de caixa diante de


demandas por parte dos depositantes e aplicadores (titulares de passivos) de uma instituição
financeira. Representa a possibilidade de uma incapacidade para cumprir os compromissos
assumidos por parte da Instituição Financeira. Ou seja, em tal situação, as reservas e
disponibilidades de uma instituição tornam-se insuficientes para honrar as suas obrigações no
momento em que ocorrem.

Quando os recursos de caixa disponíveis de um banco são minimizados por não produzirem

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retornos de juros, o risco de liquidez aumenta pela possibilidade de retiradas imprevistas dos
depositantes do banco.
O risco mais comum de liquidez ocorre quando os depositantes de determinada instituição
tomam a iniciativa de transformar os seus depósitos em dinheiro vivo.
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O risco de liquidez pode ser determinado através da posição de liquidez do banco, dado pela
seguinte fórmula:

Posição de Liquidez = Activos Líquidos Disponíveis – Passivos Exigíveis de Curto Prazo

Ou pelo rácio de liquidez:

Rácio de Liquidez = (Activos Líquidos Disponíveis / Passivos Exigíveis de Curto Prazo)

Exemplo:
O Banco Omega apresenta 1000 u.m. em Activos de Curto Prazo e 2500 u.m. em Passivos
Exigíveis de Curto Prazo. Se as taxas de juro de referência aumentarem 1% qual o impacto na
margem financeira?
MF = TJ x Posição de Liquidez = 1% x (1000-2500) = -15

 Um banco com um GAP negativo beneficia duma descida nas taxas de juro, mas
prejudicado por uma subida nas taxas de juro.
 Um banco com um GAP positivo prejudicado por um declínio nas taxas de juro, mas
favorecido por uma subida nas taxas de juro.
 Um banco com um GAP nulo esta defendido em relação a quaisquer alterações que
venham a ocorrer nas taxas de juro.

Risco Operacional
O risco operacional materializa-se pela ocorrência de perdas resultantes das falhas ou
inadequações de processos internos, pessoas, sistemas ou eventos externos que contribuam
para que o banco perca dinheiro.

Tipos de Risco Operacional

Tipos de Eventos Exemplos

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Fraudes Internas Roubos de Empregados

Fraudes Externas Roubo por desconhecidos, Falsifição, Cheque sem fundos

Ambiente de Trabalho Reclamações por descriminação, Questões de Saúde


Laboral Page | 20
Clientes, Produtos e Práticas de Uso de informação confidencial, vendas de produtos
Negócio não autorizados

Danos á Activos Físicos Vandalismo, terramotos, incêndios

Falhas de Sistema Falhas de hardware, software, problemas nas


telecomunicações.
Gestão de Processos Documentação legal incompleta

As principais formas de minimizar os riscos operacionais usadas pelas instituições financeiras


são:
 Definição clara e objectiva das responsabilidades das actividades da empresa e
comunicação a toda a instituição;
 Controles internos relevantes que cubram todas as actividades da organização;
 A alta Administração e o Conselho Fiscal devem oferecer solução rápidas as deficiências
identificadas.

Apesar do risco não ser susceptível de eliminação total, é importante que as instituições
financeiras tenham uma boa gestão dos riscos, avaliando a potencial perda possível
associada a um evento, a sua probabilidade de ocorrência e definição de estratégias que os
minimizem.

Bons Estudos!

FIM

O grupo da Disciplina

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