Você está na página 1de 17

AULA 2

ADMINISTRAÇÃO
DE CARTEIRAS

Profª Ana Paula Mussi Szabo Cherobim


INTRODUÇÃO

As carteiras de investimento, conceituadas no capítulo anterior, investem


em produtos financeiros. Existem inúmeros produtos financeiros, e o mercado
cria novos produtos a cada instante. No entanto, algumas classificações básicas
nos permitem organizar esses produtos: quanto à forma de remuneração, ao
risco envolvido, quanto ao agente emissor, entre outras.

TEMA 1 – O QUE SÃO PRODUTOS FINANCEIROS?

Produtos financeiros são todas as oportunidades de investimento para o


agente superavitário fazer a aplicação de recursos excedentes de modo a
satisfazer uma das características da moeda: transação, precaução ou
especulação. Sob a ótica do agente deficitário, são todas as oportunidades de
captação de recursos financeiros.

1.1 Produtos financeiros e as características da moeda

Por que estudar a Teoria da Moeda sobre Administração de Carteiras? As


carteiras de investimento escolhem os produtos financeiros de acordo com os
objetivos do investidor; portanto, é necessário conhecer as funções da moeda e
analisar se os papéis a serem adquiridos permitem atingir aqueles objetivos

• Transação: Dinheiro em espécie e contas correntes bancárias. O objetivo


é efetuar os pagamentos do dia a dia, por isso atendem ao objetivo de
transação. Nesse quesito, prevalece a liquidez dos papéis.
• Precaução: Aplicações financeiras de baixo risco e alta liquidez.
Cadernetas de Poupança, títulos do Tesouro Direto, fundos de
investimento de baixo risco e liquidez diária. Visam formar reserva de
emergência.
• Especulação: O termo pode ter caráter pejorativo, mas a busca por
investimentos de maior retorno deixa de ser uma aposta ou jogo, ao
utilizar as ferramentas de análise risco X retorno. A decisão de
investimento passa a considerar as características do investidor desde
seu apetite ao risco até as suas condições financeiras e ciclo de vida. Com
isso, é possível formar um patrimônio financeiro consistente.

2
Os produtos de investimento de renda fixa e renda variável, incluindo
ações, derivativos e moedas estrangeiras, são oportunidades de investimento
para essa categoria. Os fundos de investimento mais agressivos fazem parte da
estratégia de especulação do investidor. O investimento em imóveis, joias e
outros ativos reais também se caracterizam como especulação, mas não são
nosso objeto de estudo.

TEMA 2 – PRODUTOS FINANCEIROS E LEGISLAÇÃO

Estudamos, no capítulo anterior, sobre o que são carteiras de


investimento, os produtos financeiros de forma genérica e as especificações
legais para um produto financeiro se caracterizar como um valor mobiliário. Ao
longo desse capítulo, vamos especificar cada um desses produtos,
independente de se caracterizarem como valores mobiliários ou não.

2.1 Produtos de renda fixa

Os produtos de renda fixa se caracterizam por apresentar prazo de


vencimento estabelecido, taxa de juros combinada e garantias. O prazo de
vencimento estabelece o dia para liquidação da operação.
A taxa de juros se refere à remuneração, que pode ser pré-fixada quando
a taxa de juros é previamente estabelecida; ou, quando a taxa de juros da
operação é vinculada a algum indicador (IPCA, CDI, SELIC, a remuneração é
pós-fixada.
As garantias são estabelecidas em contrato. Podem ser fidejussórias,
vinculadas a outros ativos e depósitos em garantia e ainda ao FGC – Fundo
Garantidor de Crédito, criado em 1995, para dar mais segurança ao investidor
em papéis emitidos pelos bancos 1.

2.1.1 Caderneta de Poupança

É a forma mais tradicional para guardar dinheiro no Brasil. A rentabilidade


é baixa comparada a outras formas de aplicação, mas é segura, fácil de operar,
e está disponível em todos as instituições financeiras tradicionais. É
recomendada para as pessoas com poucos recursos disponíveis e sem

1
Para maiores informações, consulte o site disponível: <https://www.fgc.org.br/>. Acesso em:
30 set. 2022.
3
conhecimento do mercado financeiro. O PIX, inovação financeira criada pelo
Banco Central do Brasil em 19 de fevereiro de 2020, aumentou ainda mais a
facilidade de uso e a liquidez das contas de poupança, aumentando sua
utilização como conta corrente bancária.

2.1.2 Títulos Públicos

São papéis emitidos pelo Governo Federal com vistas a captar recursos
para a execução da política monetária, financiamento da dívida pública e de
alguns objetivos de política econômica. O investimento em títulos públicos está
acessível ao pequeno investidor, por meio do site do Tesouro Direto. As
tesourarias dos bancos operam diariamente com títulos de públicos, em especial
nas operações compromissadas.

2.2 Produtos de emissão de instituições financeiras

Os bancos são grandes intermediadores de papéis. Além de viabilizarem


a transação de papéis de terceiros, podem emitir papéis para captar recursos e
emprestá-los para terceiros.

2.2.1 CBD, RDB

O CDB – Certificado de Depósito Bancário é um título de emitido por


bancos. O investidor “empresta” dinheiro aos bancos e recebe uma remuneração
calculada por meio de taxas de juros pré ou pós-fixadas. O FGC garante o
principal aplicado até R$ 250mil para pessoas físicas, em caso de “quebra” do
banco; tornando atrativas as aplicações em bancos pouco conhecidos, que
oferecem taxas de juros maiores.
Os RDBs – Recibos de Depósitos Bancários são papéis semelhantes,
mas não permitem a negociação antes do vencimento.

2.2.2 Letras Financeiras

São títulos emitidos por bancos, com prazo de vencimento, remuneração


combinada e garantias. Diferem dos CDBs, porque são de médio e longo prazo
e não têm a garantia do FGC. Podem ser consideradas as “debêntures” dos
bancos.

4
2.2.3 Outros

Os bancos podem também emitir papéis de dívida lastreados em suas


operações de crédito.

• LCI – Letras de Crédito Imobiliário: são lastreadas em operações de


crédito imobiliário, garantidas por hipoteca ou alienação fiduciária dos
imóveis financiados.
• LH – Letras Hipotecárias: são lastreadas em operações de crédito
garantidos por hipotecas.
• LCA – Letras de Crédito Agrário: são lastreadas por operações de crédito
ao agronegócio.
• LCI, LH e LCA são protegidos pelo FGC e, em setembro de 2022, estavam
isentas de Imposto de Renda, tornando-se boa alternativa de investimento
para as Carteiras de Investimento.

2.4 Produtos de emissão de empresas

As empresas podem emitir papéis, que, conforme a Lei n. 10.303/2001, já


apresentada no primeiro capítulo dessa obra, são chamados de Valores
Mobiliários. Nesse item, apresentamos as emissões de Renda Fixa: representam
títulos de dívida, têm prazo de vencimento, taxa de juros e garantias
especificados no Prospecto de Emissão.

2.4.1 Debêntures

É o principal papel de dívida emitido por empresas. Visa a captar recursos


para investimentos de longo de prazo e/ou readequar o perfil de endividamento
das empresas. Sua emissão é fiscalizada pela CVM e a comercialização se dá
por meio de corretoras e distribuidoras de valores. A negociação desses papéis
em mercado secundário (depois da emissão e antes do vencimento) vem
expandindo no Brasil, tornando esse investimento mais interessante para as
carteiras de Investimento.
As debêntures só podem ser emitidas por empresas constituídas na forma
de Sociedade Anônima.

5
2.4.2 Notas Promissórias ou Commercial Papers

As Notas Promissórias são semelhantes às Debêntures, mas com prazo


de vencimento menor. Além disso, diferem quanto aos possíveis emissores:
além das sociedades por ações, sociedades limitadas e cooperativas do
agronegócio podem emitir a Nota Promissória, também conhecida por
Commercial Papers.
Essa é uma boa alternativa para investidores que não precisam de
liquidez, porque o mercado secundário desses papéis ainda é incipiente no
Brasil. Isso dificulta sua aquisição por Administradores Profissionais de
Carteiras.

2.4.3 CRI – Certificados de Recebíveis Imobiliários

São títulos de crédito emitidos por Companhias Securitizadoras de


Recebíveis Imobiliárias, que não são instituições financeiras. Essas empresas
são constituídas na forma de sociedade por ações, adquirem recebíveis
imobiliários (por exemplo, contratos de aluguel de imóveis industriais e
comerciais) e os transformam em títulos negociados no mercado. São
considerados Valores Mobiliários.
Diferem dos LCI quanto ao emissor: estes são de emissão de instituição
financeira; os CRI são emitidos por Securitizadoras; os CRIs não são protegidos
pelo FGC; além das diferenças nos contratos de emissão.

2.4.4 CRA - Certificados de Recebíveis do Agronegócio

Semelhantes ao CRI, são títulos de crédito emitidos por Companhias


Securitizadoras, mas os recebíveis securitizados se relacionam ao Agronegócio.

TEMA 3 – PRODUTOS DE RENDA VARIÁVEL

Considera-se produto de renda variável todo aquele sem remuneração


previamente estabelecida. A promessa é de retorno caso o empreendimento
tenha sucesso.
A renda variável atende à função de especulação da moeda, pois visa a
entregar altos retornos ao investidor, mas se reveste de riscos. Relacionamos, a

6
seguir, os principais títulos, papéis e aplicações caracterizados como renda
variável.

3.1 Ações

É a vedete das aplicações de renda variável. Pode ser entendida como a


menor parcela do capital social de uma empresa, constituída na forma de
sociedade por ações. As ações estão presente em praticamente todas as
Carteiras de Investimento de perfil mais arrojado.
As possibilidades de ganho são de duas fontes principais: você se torna
sócia da empresa, podendo vender suas ações por um preço maior do que o de
aquisição, realizando ganhos de capital. E como sócio você tem direito a receber
parte dos lucros na forma de dividendos, juros sobre capital próprio, distribuição
de direitos de subscrição e bonificações. O risco está na possibilidade de perda,
caso a empresa não tenha lucros e as ações se desvalorizem no mercado.

3.2 Ouro e moedas

Conforme já explicado no primeiro capítulo, ouro e moedas estrangeiras


têm possibilidade de aumentar ou diminuir de valor, caracterizando-se como
renda variável. Para fazer parte de Carteiras de Investimento, esses dois ativos
“se transformam” em títulos financeiros, chamados de derivativos. Tornam-se
lastro para contrato de opções e contratos futuros.

3.3 Contratos de Investimento Coletivo – Equity Crowdfunding

O contrato de investimento coletivo é uma forma de captar recursos de


vários investidores para financiar determinado empreendimento. O
empreendedor se compromete a dividir os lucros com os investidores.
Considerados um tipo de valor mobiliário, são regulados e fiscalizados pela CVM.
As plataformas de Equity Crowdfunding são o tipo de investimento coletivo
mais conhecido atualmente. Diferentes investidores aportam recursos em
projetos de menor porte, ou seja, aquelas empresas sem capacidade para emitir
ações em bolsas de valores. Esse aporte é feito por meio das Plataformas de
Investimento, registradas na CVM. Caso a empresa tenha sucesso, o investidor
passa a ser acionista dessa empresa, ou vende suas cotas. É um investimento
de risco, pode fazer parte de Carteiras de Investimento individuais.
7
É importante distinguir o Equity Crowdfunding das outras formas de
investimento coletivo. Existe o Debt Crowdfunding, no qual o investidor empresta
dinheiro para pequenas empresas e recebe de volta parcelas de amortização de
capital mais juros, como uma operação de renda fixa. Existe também a “vaquinha
virtual”, mas, apesar de seguir a lógica da arrecadação de recursos entre muitas
pessoas físicas, usar o software das plataformas não se caracteriza como
investimento, porque seu objetivo é social: auxiliar alguém em dificuldades
financeiras. Essas inovações financeiras estão em constante evolução, sendo
importante se manter informado sobre suas alterações tecnológicas e legais.

3.4 Private Equity

O investimento em empresas novas com grande potencial de valorização,


conhecidas como start ups, reveste-se de algumas características inovadoras. o
investidor pode aportar recursos ainda na fase de criação da empresa
(“investidor anjo” ou angel capital), pode aportar recursos na fase pré-
operacional (“capital semente” ou seed capital), e também pode aportar recursos
quando a empresa já existe e sinaliza grande potencial de crescimento (private
equity). A principal característica financeira do investimento é o alto potencial de
valorização, e o diferencial do negócio é a possibilidade de o investidor fazer
parte da gestão da empresa.
Os FIP (Fundos de Investimento em Participação) são a forma mais usual
para aportar recursos nessas empresas na fase private equity. As cotas dos FIPs
podem fazer parte das Carteiras de Investimento.

3.5 Outros

Com vistas a facilitar a captação de recursos para atividades relacionadas


à cultura e outras inciativas das diferentes esferas governamentais, a CVM
normatiza a emissão de alguns papéis, normalmente criados por lei. Citamos
alguns a seguir, destacando sua característica de Renda Variável, ou seja, não
há garantia de retorno.

• CPAC – Certificado de Potencial Adicional de Construção: são emitidos


por prefeituras, com o objetivo de captar recursos para o município,
mediante a cessão de direitos de construção em espaços e com
características que extrapolam a Lei de Zoneamento do município.
8
• CAV – Certificado de Investimento Audiovisual: são emitidos por
produtores independentes para financiar diferentes produções
audiovisuais, como filmes de curta e longa metragem e outros. São
autorizados por meio da Lei n. 8.685, de 20 de julho de 1993.

Podemos resumir os produtos financeiros em produtos de Renda Fixa e


Variável, de emissão de instituições financeiras, empresas e outras
organizações. Para o administrador de carteiras, é importante conhecer todos os
tipos de papéis e também pesquisar entre as instituições financeiras, empresas
e outros emissores as alternativas de aplicação em cada tipo de papel.
Apresentamos a seguir os fundos de investimento. Cada fundo pode ser
entendido como uma Carteira de Investimento, reunindo papéis de acordo com
sua política de investimento; mas também a aquisição de cotas desses fundos
pode é uma alternativa de investimento.

TEMA 4 – FUNDOS DE INVESTIMENTO

Fundos de Investimento é a reunião de recursos financeiros para serem


aplicados em um conjunto de papéis do mercado, formando uma carteira de
investimentos com características previamente definidas. O objetivo é
proporcionar rentabilidade aos participantes do fundo a partir da somatória das
rentabilidades de cada um dos papéis que compõem o fundo (Lemes Jr.; Rigo,
Cherobim, 2022, p. 273).

4.1 Conceitos

Os fundos de investimento são pessoas jurídicas constituídas para investir


em produtos financeiros. Apresentam CNPJ, ou seja, podem ser considerados
uma organização independente. A seguir, apresentamos alguns conceitos
tradicionais e, ao longo desse item, procuramos mostrar na prática como
entender esses fundos.
A CVM conceitua Fundos de Investimentos como condomínios
constituídos com o objetivo de promover a aplicação coletiva dos recursos de
seus participantes. Constituem-se um mecanismo organizado, com a finalidade
de captar e investir recursos no mercado financeiro, transformando-se numa
forma coletiva de investimento, com vantagens, sobretudo, para o pequeno
investidor individual (CVM, 2019 p. 78).
9
Oliveira Filho, em livro específico sobre fundos e sua avaliação, simplifica
o conceito, afirmando: “Os fundos de investimentos aplicam seus recursos em
ativos financeiros cuja emissão ou negociação tenham sido objeto de registro ou
de autorização pela CVM” (Oliveira Filho, 2019, p. 19).
A indústria de fundos de investimento no Brasil é ampla e diversificada.
Em julho de 2022, essa indústria reunia R$ 7.200.456,2 milhões de reais,
distribuídos entre 27.972 fundos 2.
Ao longo desse capítulo, se você refletir sobre os conceitos, classificação
e tipos de fundos, vai entender que fundos na prática são Carteiras de
Investimento administradas por profissionais do mercado e delimitadas por
parâmetros dos órgãos reguladores.

4.2 Elementos de um fundo de investimento

Os órgãos reguladores, estudados no primeiro capítulo desse livro,


estabelecem parâmetros para a organização dos fundos de investimento.
Apresentamos, a seguir, esses elementos, os quais devem ser analisados pelo
investidor na escolha do fundo, e pelo profissional de mercado na constituição
do fundo.

• Prospecto: é o documento que reúne todas as informações de política de


investimento do fundo, rentabilidade alvo, perfil da carteira de
investimentos. É uma síntese do contrato social registrado em cartório.
• Lâmina: é o documento resumido que apresenta algumas características
básicas do fundo, entre elas a rentabilidade histórica do fundo e o valor
das cotas.
• Administrador: é a instituição financeira que organiza a oferta do fundo,
cria a pessoa jurídica titular do fundo, responde aos órgãos de fiscalização
sobre a política de investimento e, entre outras funções, calcula
diariamente o valor da cota do fundo. O administrador faz a “burocracia”
do fundo.

2
Para atualizar essas informações consulte o relatório Consolidado histórico de Fundos de
Investimento, disponível em: < https://www.anbima.com.br/pt_br/informar/estatisticas/fundos-de-
investimento/fi-consolidado-historico.htm>. Acesso em: 22 set. 2022.
10
• Gestor: é a pessoa física ou jurídica que faz as aplicações e os resgates
dos papéis do fundo, seguindo os parâmetros estabelecidos no prospecto.
Há de ser registrada na CVM.
• Custodiante: empresa autorizada pelo Bacen para guardar os títulos da
carteira do fundo. Essa guarda não é mais de papéis físicos, mas de
registros informacionais, em que constam os números dos papéis, prazos,
datas e valores escriturais pertencentes ao CNPJ do fundo. Quando um
papel é vendido, a titularidade desse papel é transferida para outro CNPJ
ou CPF, cuja transferência está sob responsabilidade das centrais de
custódia.
• Cotista: é o investidor que aplica recursos no fundo, em que o montante
é convertido em cotas (pequena fração da carteira). A vantagem é poder
aplicar em vários papéis simultaneamente. Além de contar com a seleção
de carteira mais técnica por parte do gestor, aumentam as possibilidades
de diversificação, porquanto individualmente o investidor não teria capital
suficiente para adquirir grande variedade de papéis.
• Patrimônio: é o montante de recursos aplicado em papéis da carteira de
investimentos do fundo. O valor do patrimônio é calculado diariamente
pelo administrador, de acordo com o valor de mercado de cada um dos
papéis do fundo.

4.3 Classificação

Os fundos podem ser classificados conforme a composição de sua


carteira, seus objetivos, ou, ainda, conforme a sua forma de operação e gestão
de risco. A CVM classifica os fundos a partir da composição da carteira, e a
Anbima parte da classificação da CVM e faz o detalhamento de risco.
A classificação dos fundos de investimento nos ajuda a compreender os
tipos de fundos. Uma vez definido qual é o tipo de fundo, o gestor é obrigado a
seguir as exigências daquele fundo. Por exemplo, um Fundo de Investimento em
Ações precisa, necessariamente manter 67% do patrimônio do fundo em ações;
o restante da carteira pode estar aplicado em outros papéis, por exemplo Títulos
Públicos.

11
4.3.1 Classificação dos fundos conforme instrução CVM 555/2014, com
base na composição de sua carteira

A composição da carteira se refere ao tipo de papéis o fundo compra para


investir os seus recursos. Os principais são: Renda Fixa, Ações, Multimercado e
Cambial.

4.3.1.1 Fundos regidos pela Instrução CVM 555

• Fundo de Renda Fixa: deve investir ao menos 80% dos recursos em


papéis de renda fixa. Pode ser RF simples (95% em títulos públicos), RF
curto prazo (carteira com prazo médio máximo de 60 dias), RF
referenciado (95% dos papéis com rentabilidade indexada a determinado
índice CDI, SELIC e 80% dos recursos aplicados em títulos públicos ou
ativos de renda fixa, com baixo risco de crédito).

Aqui, cabe um alerta: esses fundos precisam ter taxas de administração


muito baixas, especialmente quando as taxas de juros estão baixas; isso porque
a baixa rentabilidade dos papéis pode não compensar altas taxas de
administração cobradas.

• Fundos Multimercado: devem investir em ativos de diferentes mercados,


de forma a diversificar o risco e, ainda assim, manter elevada
rentabilidade. Podem investir em ativos de renda fixa, ações, câmbio e
derivativos.
• Fundos de Ação: devem investir no mínimo 67% do seu patrimônio em
ações de empresas listadas em bolsa ou no mercado de ações. Existem
os fundos de ação com os papéis da carteira negociados pelos gestores,
de acordo com a política de investimento do fundo. O investidor compra
cotas, por intermédio da corretora. Caso esses fundos invistam em ações
especificas, por exemplo, ações de empresas negociadas em balcão,
essa especificidade deve vir no nome do fundo.
• Fundo de Investimento Imobiliário (FII): investem em projetos
imobiliários comerciais e industriais, por exemplo, edifícios garagem,
shopping centers, edifícios de escritórios. Podem também investir em
papéis relacionados ao mercado imobiliário. As cotas dos fundos
valorizam, a depender da valorização do ativo real imóvel vinculado, e
12
também distribuem dividendos, relacionados ao rendimento dos imóveis,
por exemplo, aluguel das salas comerciais.

Cabe destacar ser esse um fundo de renda variável, mesmo quando


distribui rendimentos mensalmente. Não existe o resgate das cotas do fundo;
quando o investidor quer se desfazer do investimento, vende para outro
investidor suas cotas, tal qual ocorre com o investimento em ações.
• Fundo de Índices (ETF – Exchange Traded Fund): esses são papéis
negociados em bolsa que correspondem a um fundo porque estão
vinculados ao desempenho de determinado índice ou a um conjunto
específico de empresas listadas em bolsa. Por exemplo, AGRI11 é um
ETF administrado pela corretora do Banco do Brasil e vinculado a
empresas do agronegócio, listadas em bolsa.
• Fundo de Investimento em Participações (FIP): também conhecidos
por Fundos de Private Equity, investem em ações, debêntures e outros
títulos de companhias registradas na CVM, diferenciam-se dos fundos de
ação, porque sua participação no capital das empresas investidas é
grande e garante o poder de interferir nas decisões das empresas
investidas.

4.3.1.2 Outros fundos de investimento

Existem outros tipos de fundo com investimento, por exemplo os fundos


de previdência, ou os fundos com políticas de investimento em ativos bem
específicos, por exemplo os fundos de privatização. Vamos destacar aqui os
fundos de previdência, para auxiliar você a pensar na sua formação de poupança
para aposentadoria.
• Fundos de Previdência Abertos: diferenciam-se dos fundos tradicionais,
porque seu objetivo é possibilitar aos investidores fazer retiradas
periódicas, uma única retirada em sua aposentadoria. Ou seja, são fundos
de caráter previdenciário. Os fundos abertos podem receber aportes de
qualquer pessoa física, e, em algumas situações, empresas fazem
contribuições aos fundos de previdência, proporcionais a de seus
funcionários, como forme de incentivos funcionais. A supervisão desses

13
fundos não está sob a égide da CVM, mas da SUSEP – Superintendência
de Seguros Privados, por isso não aparecem nas classificações CVM 3.
• Fundos de Previdência Fechados: conhecidos como fundos de pensão,
são fundos organizados por empresas para proporcionar complemento à
aposentadoria de seus funcionários. Também são fundos de caráter
previdenciário. O maior fundo de pensão do Brasil é o Previ, dos
funcionários do Banco do Brasil. Esses fundos são supervisionados pelo
Conselho Nacional de Previdência Complementar e fiscalizados pela
PREVIC 4 .

4.3.2 Classificação dos fundos conforme a possibilidade de aporte

O administrador de Carteiras e o investidor individual não têm acesso a


todos os tipos de fundo. Conforme a política do fundo de investimento, pode
existir um limite de Patrimônio Líquido, para facilitar a gestão do fundo.

• Fundos Abertos: são aqueles com capacidade para receber novos


aportes de recursos de novos e de antigos cotistas.
• Fundos Fechados: em função do aumento no patrimônio do fundo, ele
fecha para aportes, porque atingiu o limite de sua capacidade de absorção
de mais recursos e aplicação, conforme sua política. Em outras palavras,
o fundo atingiu sua “capacity”. Por exemplo, um fundo de ações, com
política de investimento em empresas de pequeno porte, “small caps”,
está com um volume de recursos financeiros tão grande que não
consegue mais achar boas oportunidades de investimento em ações de
empresas de pequeno porte.

Atenção: não confundir com os fundos de previdência fechados e


abertos, explicados no item anterior.

4.3.2 Tipos de fundos conforme suas características operacionais

Essa é mais uma característica a limitar o investimento, compra de cotas,


de um fundo.

3
Mais informações: Disponível em: <www.susep.gov.br>. Acesso em: 30 set. 2022.
4
Disponível em: <https://www.gov.br/economia/pt-br/orgaos/entidades-
vinculadas/autarquias/previc/acesso-a-informacao/institucional/a-previc>. Acesso em: 22 set.
2022.
14
• Fundo Master: são fundos fechados para aplicação direta dos cotistas.
São criados pelas instituições financeiras para “alimentar” os fundos de
investimento em cotas de participação. Desse modo, a instituição cria um
fundo de gestão ativa, com boa diversidade de títulos na carteira e os seus
FICs “compram” parte das cotas do fundo principal.
• Fundos em Cotas de Investimento: investem em cotas de outros fundos
e podem atender diferentes perfis de clientes das instituições financeiras.
Como não é permitido criar diferentes condições de operação para um
mesmo fundo, os FICs equalizam as condições de taxa de administração,
valor mínimo de aplicação, valor mínimo de permanência, condições de
resgate e outras características.

Como já destacamos, os fundos são carteiras de investimento


sistematizadas por classificações dos órgãos reguladores e gerenciadas de
forma profissional pelos administradores e gestores do fundo. Podem se
constituir como boa alternativa de investimento para quem não tem
conhecimento, tempo e/ou interesse de estudar todos os ativos financeiros. Por
outro lado, os fundos constituem oportunidades de trabalho para os profissionais
de mercado.

TEMA 5 – PRÁTICAS: ESCOLHENDO PRODUTOS PARA A COMPOSIÇÃO DE


UMA CARTEIRA DE INVESTIMENTOS

Vamos auxiliar Anaximandro a montar sua carteira de investimento. Ele


está em busca de novas alternativas de investimento. Ele é um adulto jovem,
está na faixa dos quarenta anos de idade. Trabalha em regime CLT para uma
grande empresa. É o responsável financeiro por sua família. Sua esposa, Hanna,
tem atividade profissional remunerada e assume pequena parte das despesas
familiares. Eles têm dois filhos estudando em colégio particular, o plano de saúde
é pago pela empresa e sua residência é simples, mas está quitada.
O patrimônio da família é composto pela residência, por um automóvel
financiado e pela antiga casa de seus pais, recebida em herança e atualmente
alugada para um escritório de contabilidade. As receitas da família, incluindo o
aluguel recebido, totalizam aproximadamente R$ 16.000,00.
As despesas fixas (escola, despesas de moradia, prestação do
automóvel, lazer e cursos) somam R$ 7.000. As despesas variáveis (presentes,

15
viagens, remédios eventuais, vestimenta e outros) variam entre R$ 3.000 e R$
5.000).
Você deve auxiliar Anaximandro a estabelecer uma estratégia de
investimentos:

a) Qual valor pode ser destinado mensalmente para a formação de


poupança e investimento?
b) Considerando a atual fase de vida é importante ter uma reserva para
emergências? Por quê?
c) Considerando a inexperiência com investimentos financeiros do
Epaminondas, ele decidiu aplicar em produtos de renda fixa, tradicionais.
Indique alguns produtos financeiros para ele aplicar.
d) Faça uma busca simples na internet para identificar as taxas de juros
pagas nessas aplicações.
Algumas orientações gerais para delimitar sua escolha:
1. Você pode usar uma ferramenta de busca (você será assediado por
inúmeras propagandas, mantenha o foco e pesquisa as taxas, para os
valores disponíveis);
2. Se preferir, você pode acessar o site do seu banco ou corretora e para
escolher os produtos; dessa forma, você pode usar essa pesquisa para
seus investimentos pessoais;
3. Nessa fase do trabalho, Anaximandro irá investir apenas em um produto
de renda fixa. Nas próximas etapas vamos sofisticar essa carteira de
investimentos;
4. Considere indiferente a escolha da corretora ou do banco intermediário.
Ou seja, o foco da sua análise é o produto financeiro e não os custos da
instituição ou a facilidade de uso do site ou do aplicativo;
5. Não existem benefícios de reciprocidade; por exemplo, associar-se a
determinada instituição financeira e receber benefícios como Passe Livre
em salas VIP de aeroportos, bônus em compras, dias sem juros no
cheque especial.

16
REFERÊNCIAS

CVM. Comissão de Valores Mobiliários. Mercado de Valores Mobiliários


Brasileiro. 4. ed. Rio de Janeiro: CVM, 2019. Disponível em:
<https://www.investidor.gov.br/portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/
publicacao/Livro/livro_TOP_mercado_de_valores_mobiliarios_brasileiro_4ed.pd
f>. Acesso em: 22 set. 2022.

LEMES JR., A. C.; RIGO, C. M.; CHEROBIM, A. P. M. S. Fundamentos de


Finanças Empresariais: técnicas e práticas essenciais. 2. ed. Barueri: Atlas,
2022.

OLIVEIRA FILHO, B. G. Gestão de Fundos de Investimento. São Paulo: Saint


Paul, 2019.

17

Você também pode gostar