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Capítulo 1 - Introdução
1
Sistema financeiro
2
Mercado financeiro
É o “local” de encontro das intenções dos agentes económicos
excedentários de fundos (poupança) e deficitários de fundos
(financiamento). Essas intenções materializam-se na transação de
instrumentos financeiros, disponibilizados pelas instituições financeiras.
Instrumento financeiro
Qualquer contrato que dê origem, simultaneamente, a um ativo
financeiro de uma parte e a um passivo financeiro ou instrumento de
capital de outra parte (RGICSF, art. 199-A/3º). São, pelo menos,
instrumentos financeiros os definidos na secção C do Anexo 1 da
DMIF (Diretiva 2004/39/CE, de 21 de Abril de 2004).
3
Instrumentos financeiros (Anexo C, secção 1, DMIF)
4
Conceito de Valor Mobiliário
- Valores mobiliários são documentos emitidos por empresas ou
outras entidades, em grande quantidade, que representam direitos e
deveres, podendo ser comprados e vendidos, nomeadamente em
mercado organizado.
- A DMIF, no artigo 4º, define valor mobiliário da seguinte forma:
5
Instrumento do mercado monetário (artigo 4º da DMIF)
6
Financiamento da Economia
7
Financiamento interno
Quando se baseia em fundos gerados no interior da instituição cujas
atividades estão a ser financiadas (ex: empresa utiliza lucros não
distribuídos para adquirir equipamento).
Financiamento externo
Quando se recorre a fundos que vêm de fora da instituição financiada.
O financiamento externo é indireto se os fundos forem canalizados
através de intermediários financeiros. E é direto se não houver recurso
a intermediários financeiros, o que implica uma relação direta, através
dos mercados, entre quem fornece e quem recebe os fundos.
8
FONTE: Lagoa et al., 2009. 9
Financiamento externo indireto não monetário
Quando envolve instituições financeiras não monetárias. Por exemplo,
sociedade gestoras de fundos de investimento mobiliário (SGFIM),
sociedades gestoras de fundos de pensões (SGFP) ou companhias de
seguros. Estas instituições designam-se habitualmente por investidores
institucionais.
Desintermediação financeira
Está associada ao financiamento externo direto (ausência de intermediário
financeiro), e consiste na captação direta de fundos junto dos aforradores,
através da emissão de produtos financeiros.
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Segmentação dos mercados financeiros
Pode ser classificada segundo vários critérios:
2- Prazo das operações: 2.1. Mercado Monetário (emissões de curto prazo, ex: BT
são emitidos por prazo inferior a 1 ano); 2.2 Mercado de Capitais (emissões de
médio e longo prazo, ex: ações são emitidas por prazo superior a 1 ano).
3- Fase da vida dos produtos financeiros: 3.1. Mercado Primário (onde os produtos
têm origem, emissão e subscrição, captação de fundos para o emitente; 3.2.
Mercado Secundário (onde produtos financeiros já existentes são transacionados,
não existe canalização de fundos para o emitente).
4- Organização dos Mercados: 4.1. Mercados organizados (MR, SNM e IS), 4.2.
Mercados não organizados (mercado de balcão ou “over the counter”).
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Autoridades de supervisão nacionais no contexto europeu
SESF (Sistema Europeu de Supervisão Financeira) - Sistema
descentralizado e multiestratificado de autoridades micro e
macroprudenciais, a fim de garantir a consistência e coerência da
supervisão financeira na UE. integram o SESF:
a. Supervisão microprudencial:
1- ESA (Autoridades Europeias de Supervisão) – Integra a EBA (Autoridade
Bancária Europeia, Regulamento (UE) n.º 1093/2010), a EIOPA (Autoridade
Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Reforma,
Regulamento (UE) n.º 1094/2010) e a ESMA (Autoridade Europeia dos
Valores Mobiliários e dos Mercados, Regulamento (UE) n.º 1095/2010).
2- Comité Conjunto das ESA - Garante a coerência intersetorial da
supervisão.
3- Autoridades nacionais (em Portugal temos o BdP, a CMVM e a ASSFP).
b. Supervisão macroprudencial:
1- ESRB (Comité Europeu do Risco Sistémico, Regulamento (UE) n.º
1092/2010) - O BCE assegura o secretariado do ESRB e o Presidente do
BCE é o Presidente do ESRB. Tem sede em Frankfurt, e a sua missão
consiste em prevenir e atenuar os riscos sistémicos para a estabilidade
financeira na União Europeia, tendo em conta a evolução macroeconómica.
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Rendibilidade de um ativo financeiro
20
Exemplo
- Suponha que a probabilidade de incumprimento de um certo grupo de clientes
é de 10%, e que a taxa de recuperação do crédito vencido desse grupo é de
50%. Qual o spread que o banco deve cobrar nos empréstimos feitos a 1 ano a
este tipo de clientes se assumirmos que a prime rate (taxa de juro ativa para os
melhores clientes) praticada pelo banco é de 6%? E qual a taxa final que o
cliente paga?
21
Binómio rendibilidade/risco (1)
22
Binómio rendibilidade/risco (2)
23
Binómio rendibilidade/risco (3)
24
Binómio rendibilidade/risco (4)
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Binómio rendibilidade/risco (5)
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Binómio rendibilidade/risco (6)
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Binómio rendibilidade/risco (7)
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Binómio rendibilidade/risco (8)
29
Mercados Financeiros
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Elementos caraterizadores de um produto financeiro
Direitos transmitidos – os detentores podem ter direito de propriedade (ex: ações),
direito de crédito (ex: obrigações).
Emitente – agente deficitário que pretende captar recursos disponíveis.
Maturidade – determinação do tempo de vida do produto (curto prazo, se inferior a
1 ano; médio e longo prazo, se superior a 1 ano).
Tipo de rendimento – Fixo (se à partida estão determinados os fluxos financeiros
até à maturidade, ex: obrigações); Variável (não há estabelecimento prévio dos
fluxos financeiros, ex: ações); Misto (se há componente fixa e componente variável,
ex: obrigações participantes).
Valor nominal – valor facial do produto financeiro.
Moeda de denominação – moeda dos fluxos financeiros.
Forma de representação – titulados (existência física) ou escriturais (registo
informático).
Forma de transmissão (titulados) – nominativos (consta o nome do detentor); ao
portador (não menciona o titular, sendo livre a transmissão).
Fungibilidade – fungíveis (numeração diferenciada mas perfeitamente substituíveis
entre si, atribuem os mesmos direitos aos detentores); não fungíveis (a numeração é
mecanismo de controlo e de diferenciação, ex: obrigação pode ter maturidade
diferente consoante a numeração).
Liquidez e convertibilidade – liquidez é a rapidez e custo de “transformação” do
produto em dinheiro vivo; convertibilidade é o inverso.
Fiscalidade – impostos sobre a remuneração e sobre ganhos de capital.
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Emissão e subscrição de produtos financeiros
Oferta pública - i) considera-se pública a oferta relativa a valores mobiliários dirigida
a destinatários indeterminados; ii) a oferta que seja precedida ou acompanhada de
prospeção ou de recolha de intenções de investimento junto de destinatários
indeterminados ou de promoção publicitária; iii) a oferta dirigida a, pelo menos, 150
pessoas que sejam investidores não qualificados com residência ou
estabelecimento em Portugal. (o art. 111º do Cód.VM indica as exceções, ex: as
ofertas públicas de distribuição de valores mobiliários não representativos de capital
social emitidos por um Estado membro ou por uma das suas autoridades regionais
ou locais).
- Exemplo de prospeto:
http://web3.cmvm.pt/sdi2004/emitentes/docs/fsd27155.pdf
35
Mercado e Produtos Financeiros I
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Mercado Monetário
- O Mercado Monetário é constituído pelo Mercado de Operações de
Intervenção (MOI) e pelo Mercado Monetário Interbancário (MMI).
- As reservas legais são determinadas por lei, estando cada OIFM obrigada a
possuir junto do Banco Central um montante de y% (p.e. 2%) do valor da base
de incidência.
- No entanto, sempre que são criados novos depósitos, os bancos têm que
aumentar as suas reservas legais. Por outro lado, a criação de mais depósitos
aumenta a quantidade de notas e moedas que são solicitadas aos bancos (p.e.
mais levantamentos nas caixas ATM), e por isso os bancos vão ter que pedir ao
Banco Central a conversão de uma maior quantidade de depósitos em notas e
moedas (só o Banco Central pode criar notas e moedas).
- O mercado monetário (MOI e MMI) é uma fonte para o aumento das reservas.
41
O multiplicador monetário
42
Exemplo
- Suponha que as reservas totais do sistema bancário são de 1.000 u.m. e que
os depósitos do setor não monetário da economia totalizam 20.000 u.m.
Se o coeficiente de preferência por liquidez for de 4%, qual o aumento esperado
da massa monetária da economia se o Banco Central decidir injetar 500 u.m. de
reservas no sistema bancário?
r = 1.000/20.000 = 0,05
43
MOI – facilidades permanentes
- Na zona euro existem dois tipos de operações no MOI: as facilidades
permanentes de absorção e cedência de liquidez overnight pelo BCE; e as
operações de open market de absorção ou cedência de liquidez.
- Facilidades permanentes:
a) de depósito ou absorção - o BCE disponibiliza-se a receber por um dia
qualquer quantidade de reservas que as OIFM queiram depositar junto do BCE,
remunerando esse depósito à “taxa de juro de facilidade de depósito” (RD);
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MMI – segmento overnight
a) Em cada dia existem bancos com posições excedentárias (disponíveis para
emprestar a outros bancos) e deficitárias (com necessidade) de reservas. Neste
mercado encontram-se as intenções de compra e de venda de reservas.
b) A maioria dos empréstimos no MMI é efetuada no segmento de empréstimos
overnight (um dia). Mas também há empréstimos para prazos entre 1 dia e 1
ano.
49
FONTE: Lagoa et al., 2009.
Equilíbrio após ajustamento 1 no MMI - overnight
50
Ajustamento 2 para o equilíbrio no MMI - overnight
- 2º caso. Supor que
51
FONTE: Lagoa et al., 2009.
Equilíbrio após ajustamento 2 no MMI - overnight
52
FONTE: Lagoa et al., 2009.
As taxas diretoras do BCE e a taxa EONIA
53
FONTE: Lagoa et al., 2009.
Efeito do aumento das taxas diretoras do BCE
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FONTE: Lagoa et al., 2009.
MMI – taxa de equilíbrio em segmentos de prazos mais alargados
- Consideremos, por exemplo, um banco excedentário que quer aplicar as
reservas no MMI. Para determinar o juro a cobrar, o banco analisa as
alternativas de investimento. Uma alternativa evidente a um empréstimo a 6
meses, é colocar as reservas a render no segmento overnight durante esses
6 meses.
- A remuneração esperada desse investimento é dada pela média geométrica
das taxas overnight que vigoram ao longo dos 6 meses:
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Produtos financeiros do mercado monetário (2)
Regras dos Leilões de BT para apuramento da taxa e montante a distribuir
pelos EBT:
i) As taxas são determinadas tendo em conta a imposição pelo Estado de
uma taxa máxima de colocação (taxa de intervenção). O objetivo do Estado é
emitir a taxas baixas (para pagar menos juros). O objetivo dos EBT é
subscrever a taxas elevadas (para receber mais juros);
ii) Cada EBT pode apresentar várias propostas de subscrição;
iii) Depois de recebidas as propostas, são eliminadas as que apresentam
taxas pretendidas superiores à taxa de intervenção;
iv) As restantes propostas são ordenadas por ordem crescente da taxa
pretendida, sendo atribuídos BT às propostas associadas às taxas de juro
mais baixas, até ao limite do montante da emissão.
v) Daqui resulta que numa mesma emissão são atribuídos BT a taxas de juro
diferenciadas, consoante as propostas.
vi) A taxa média ponderada da emissão é um indicador relevante porque
mede o custo médio de financiamento do Estado na emissão em causa. Esta
taxa também pode ser vista como o preço que o mercado exige para aplicar
fundos em “ativos sem risco”.
vii) Note-se que a taxa que se forma em leilão não pode diferir muito das
taxas de prazos homólogos praticadas no mercado monetário interbancário.
Se assim fosse, os EBT (que têm acesso ao MMI) preferiam aplicações
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alternativas às taxas do MMI.
Exemplo Leilão BT
i) Qual o montante colocado em cada Banco, ii) a taxa média paga pelo
Estado e iii) a taxa média que cada cedente de fundos obteve, iv) o valor de
aquisição pago pelo Banco D? 58
Resolução (1)
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Resolução (2)
61
Resolução (4)
62
Produtos financeiros do mercado monetário (3)
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Produtos financeiros do mercado monetário (4)
- Acordo de recompra/Repo: consiste na venda de um título (normalmente
de dívida pública) e sua recompra a um preço combinado em data futura já
acordada, em que os preços de venda e recompra são definidos à partida.
(O/N repo – operação de recompra com prazo de um dia; Term repo –
operação de recompra com prazo livremente acordado entre as partes;
Reverse repo – é o simétrico do contrato repo, sendo o dealer o comprador e
o investidor o vendedor; Retail repo – quando as partes envolvidas são uma
empresa e um banco).
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Conceito e Classificação de Ações
- Ações: Valor mobiliário (negociável) representativo de parte do capital social de
uma sociedade anónima, com prazo indeterminado.
Classificação:
a) Quanto aos direitos do titular:
- Ações Ordinárias: conferem ao seu titular os direitos comuns fixados no pacto
social da empresa: i) recebimento de dividendo, ii) informação, iii) participação e
voto nas assembleias gerais, influenciando assim a gestão da sociedade iv)
atribuição de novas ações em casos de aumento de capital por incorporação de
reservas, v) prioridade na subscrição de novas ações em caso de aumentos de
capital por entrada em dinheiro.
- Ações Preferenciais: conferem ao titular prioridade em termos de distribuição
de resultados e partilha dos ativos da sociedade (em caso de liquidação), mas
atribuem direitos de voto limitados.
-b) Análise Técnica: abordagem que permite estimar o preço das ações
(determinar tendências) de uma empresa com base em técnicas gráficas e
analíticas (estatísticas) apoiadas nos movimentos históricos dos preços dos
ativos financeiros. Parte do princípio que os preços seguem tendências de forma
recorrente porque considera que os investidores tendem a reagir da mesma
forma quando determinadas condições de mercado se repetem. Baseia-se no
comportamento dos investidores a negociar em mercado.
Fazemos uma breve referência a algumas ferramentas da análise técnica.
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Dividend Discount Model (DDM)
- Dividend Discount Model para n períodos (DDM): o valor atual da ação (P0)
é dado pelo somatório dos dividendos (D) esperados atualizados (à taxa r),
acrescidos do preço de venda atualizado da ação esperado no momento n:
- A taxa de atualização (r) pode ser vista como o retorno exigido pelos
investidores para os ativos com o mesmo grau de risco da ação (custo de
oportunidade do capital).
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Modelo de Gordon
- Modelo de Gordon: assume que os dividendos pagos pela empresa crescem à
taxa g, constante.
EXEMPLO - Assuma que uma determinada ação está cotada na bolsa ao preço
de 6€ no momento 0, após pagamento de dividendo nesse mesmo momento 0,
de 0,2€ por ação, que se espera que cresça anualmente à taxa constante de 3%.
Se a taxa de retorno exigida para o capital investido for de 7%, qual a decisão a
tomar em relação ao investimento: deve-se comprar a ação ou não?
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Modelo-H
- Modelo H: este é um caso particular do modelo de crescimento de duas fases.
Nesse modelo, a taxa de crescimento dos dividendos na fase A (crescimento
elevado) é constante e depois passa-se bruscamente para uma taxa de
crescimento na fase B (crescimento mais moderado). O modelo H inova
porquanto considera que a taxa de crescimento dos dividendos da fase A para a
B diminui de forma suave, linearmente.
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Exercício – Modelo H
EXERCÍCIO - A cotação da ação de uma empresa é de 57€ e o dividendo atual é
1,37€. A taxa inicial de crescimento dos dividendos é 26%, decaindo linearmente
durante um período de 12 anos até atingir a taxa de crescimento perpétua de 6%.
A taxa de retorno exigida pelos acionistas é 10%:
RESOLUÇÃO
1-
2- Não havendo fase de crescimento elevado (fase A), temos H=0 e gA=0, e
portanto a estimativa do valor da ação corresponde apenas ao 1º termo da
expressão anterior, 36,31€.
3- 73,30€ é quase 30% mais do que o preço de mercado das ações (57€), logo
as ações estão subvalorizadas no mercado. 73
Cálculo da taxa de crescimento dos dividendos (g)
- Se considerarmos que a taxa de crescimento sustentável dos dividendos é
obtida pelo produto entre a taxa de retenção de lucros e o retorno proporcionado
pelos lucros retidos, então g é dado por:
76
Exercício - g
EXERCÍCIO: A empresa ABC tem um ROA de 10%, uma taxa de retenção dos
lucros de 30% e um multiplicador dos capitais próprios de 1,25.
Por seu turno, a empresa XYZ tem também um ROA de 10%, uma taxa de
retenção de 2/3 e um multiplicador dos capitais próprios de 2.
RESOLUÇÃO:
1- Para a empresa ABC: g = 0,30 x 10% x 1,25 = 3,75%.
Para a empresa XYZ: g = 2/3 x 10% x 2 = 13,33%.
77
Cálculo da taxa de retorno exigida pelos acionistas (R)
78
Cálculo da taxa de retorno exigida pelos acionistas (2)
- Pressupostos do CAPM:
E(R) = 0,02 + 2 x (0,05 – 0,02) = 8%. Note-se que como as ações têm um risco
maior que o do mercado, os acionistas esperam um retorno do investimento
superior ao do mercado.
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Exercícios adicionais (1)
1.1. - Suponha que as ações duma empresa estão cotadas e apresentam um beta de
1,15 face ao mercado. Considere um prémio de risco de mercado de 6% e uma taxa
de juro do ativo sem risco de 1%. Usando o CAPM, qual seria a taxa de retorno
requerida pelo acionista?
1.2. - Suponha que a empresa paga daqui a 1 ano um dividendo de 0,3€, e apresenta
uma taxa de crescimento dos dividendos de 5%/ano. Qual o valor atual de cada ação
da empresa?
RESOLUÇÃO:
O crescimento dos lucros pode aumentar, manter ou diminuir a riqueza dos acionistas,
dependendo desse crescimento resultar de uma taxa de retorno dos lucros superior,
igual ou inferior ao custo do capital.
Supor que uma empresa com 10% de taxa de retorno exigida pelos acionistas lucra
1€ por ação. Suponha que a empresa tem que decidir se distribui esse lucro aos
acionistas (pagando 1€ por ação em dividendos) (opção 1); ou se reinveste por 1 ano
esse lucro a uma taxa de retorno de 10% e no final do ano distribui o valor obtido em
dividendos (opção 2). O resultado é o seguinte:
Se o preço de mercado da ação refletir o seu valor (P0 = V0) então o PVGO é dado
por:
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Exercício PVGO
1 - Suponha que uma empresa espera ter um lucro médio por ação de 0,79€ se
distribuir todos os lucros como dividendos. O custo de oportunidade do capital é
9,25% e o preço de mercado atual é 18,39€.
RESOLUÇÃO
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Exercícios adicionais (2)
3 - Suponha que uma empresa tem um beta = 1,1. A taxa de juro sem risco é de 5,6%
e o prémio de risco das ações é de 6%. O dividendo atual é de 2€, e espera-se que
cresça indefinidamente à taxa de 5% ao ano. A cotação de mercado das ações é 40€:
RESOLUÇÃO:
3.1. – Usando o CAPM, a taxa de retorno exigida pelos acionistas é: E(R) = 0,056 +
1,1 x 0,06 = 12,2%. O valor de cada ação, usando o modelo de Gordon é: V0 = (2€ x
1,05)/(0,122 – 0,05) = 29,17€.
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Exercícios adicionais (3)
O modelo de crescimento de duas fases é útil para avaliar empresas que não pagam
dividendos durante um certo período de tempo. Ou seja, na 1ª fase do modelo o
dividendo é 0 e na 2ª fase existe um dividendo que cresce a uma determinada taxa.
EXERCÍCIO: Suponha que uma empresa não paga dividendos, e espera-se que
assim se mantenha nos próximos anos. Se a empresa começar a pagar um dividendo
daqui a 5 anos, no valor de 1€, e se se esperar que o dividendo cresça à taxa de 5%
ao ano daí em diante: qual será o valor da ação da empresa se o custo do capital for
de 11%?
SOLUÇÃO:
86
Taxa de retorno exigida, implícita no preço
Considerando que o mercado é eficiente, o modelo de Gordon pode ser usado para
determinar a taxa de retorno exigida pelo acionista (r) implícita no preço de mercado:
A taxa r é composta por duas partes: 1) os ganhos com os dividendos (dividend yield),
D1/P0; e 2) os ganhos de capital, g.
Exercício: assuma que o preço das ações de uma empresa é de 56,60€ e reflete o
valor da empresa. Assuma que a empresa estima pagar um dividendo de 2,363€
daqui a 1 ano e que a taxa de crescimento dos dividendos é de 5,5%. Usando o
modelo de Gordon, se as expetativas de ganhos de capital são mais importantes que
as expetativas de ganhos de dividendos na formação da taxa de retorno exigida pelo
acionista.
Substituindo, obtemos:
Como então
RESOLUÇÃO:
1- O PBV é dado por P0/B0 = (ROE – g)/(r - g)
Como ROE = 100.000€/1.000.000€ = 10%; g = b x ROE = 60% x 10% = 6%; r =
12%. Então temos: P0/B0 = (10% - 6%)/(12% - 6%) = 2/3.
91
Price to earnings ratio (PER) (2)
- O PER também costuma calcular-se usando não os resultados por ação do ano
corrente (ano 0), mas os resultados por ação do ano seguinte (ano 1). PER
previsional:
-Caso se espere que os resultados por ação cresçam à taxa constante g (modelo
de Gordon), o PER vem (note que EPS1 é o resultado por ação no ano 1):
RESOLUÇÃO:
1- O PER da empresa A é 37,5/1,5 = 25. Como o PER da empresa B é 22, então
a empresa A está sobreavaliada face à empresa B (a cotação da empresa A
deveria ser mais baixa, de forma a que o PER fosse 22).
2-
93
Price to cash flow
- PCF (price to cash flow ratio): é o rácio entre o preço de mercado da ação e
os cash flows por ação gerados pela atividade da empresa. A interpretação deste
indicador é semelhante ao PER. Tem a vantagem adicional de considerar o
volume dos recursos libertos pela empresa, que podem ser usados no futuro. Em
geral, como os cash flows são mais estáveis que os lucros, este rácio é mais
estável que o PER
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Exercício - PCF
EXERCÍCIO: Suponha que a cotação das ações da empresa A é 17,98€, e a da
empresa B é 15,65€. Suponha ainda que o beta das duas empresas é 1,5 e que
os analistas esperam para os próximos 5 anos uma taxa de crescimento dos
cash flows (CF) de 13,4% para a empresa A, e 10,6% para a empresa B.
Assuma ainda que o CF por ação da empresa A é 1,83€, e o CF por ação da
empresa B é 1,37€.
1- Os dados sugerem que a empresa A está subavaliada face à empresa B?
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Dividend yield
- DY (dividend yield): é o rácio entre o montante dos dividendos por ação (D0) e
o preço de mercado da ação (P0). Indica-nos a taxa de rendibilidade associada
aos dividendos. Quanto maior for o indicador, maior é o retorno para o investidor.
Pode-se comparar este indicador com as taxas de retorno de aplicações
alternativas (de risco semelhante) para o mesmo prazo.
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Exercício - DY
EXERCÍCIO: Suponha que a empresa A está cotada em bolsa a 38,5€ por ação e
o dividendo anual por ação é 0,91€. A taxa de juro do ativo sem risco é 4,9%, o
prémio de risco das ações é 5,5% e o beta da empresa é 1,2.
RESOLUÇÃO:
1- Baseado no CAPM: E(r) = 4,9% + 1,2 x 5,5% = 11,5%.
Calcular:
98
Resolução (1)
a) Capitalização bolsista:
b) PBV:
c) PER:
d) PCF:
99
Resolução (2)
e) Dividend Yield:
f) Payout Ratio:
g) Taxa de Retenção:
100
Aumentos de Capital (1)
Há duas modalidades de aumento de capital social de uma empresa:
101
Aumentos de Capital (2)
a) Aumentos de capital por incorporação de reservas: como não há aumento
do capital próprio e o nº total de ações emitidas vai aumentar, então o preço
teórico das ações após o aumento de capital (P1) tem que ser inferior ao preço
de mercado que vigorava imediatamente antes do aumento de capital (P0). Se
N0 for o nº de ações existentes (antigas) antes do aumento de capital e Ni for o
nº de novas ações emitidas, então para que o capital próprio não se altere, tem
que se verificar:
O preço teórico (P1) do total das ações após o aumento de capital é, assim:
Cada ação antiga confere um direito de incorporação aos acionistas, o que lhes
permite (por via do exercício dos direitos) obterem as novas ações no aumento
de capital. O valor total dos direitos de incorporação é N0 x VDI, sendo VDI o
valor de um direito. O valor total dos direitos pode ser determinado considerando
que para um investidor deve ser indiferente comprar os direitos em mercado e
exercê-los (a preço zero) ou ir ao mercado e comprar as ações:
102
Aumentos de Capital (3)
O fator de incorporação (FI) define-se como o rácio entre o nº de ações novas e
o nº de ações antigas e indica o nº de ações novas a receber por cada ação
antiga detida:
103
Aumentos de Capital (4)
Cada ação antiga confere um direito de subscrição aos acionistas, o que lhes
permite (por via do exercício dos direitos) obterem novas ações no aumento de
capital. O valor total dos direitos de subscrição é N0 x VDS, sendo VDS o valor
de um direito. Para um investidor, deve ser indiferente comprar os direitos em
mercado e exercê-los (ao preço Ps) ou comprar as ações em mercado ao preço
P1 (se assim não fosse havia possibilidades de arbitragem):
Note-se que VDS é apenas um preço teórico. Na prática, quando os direitos são
admitidos à negociação, o seu preço de mercado variará de acordo com as
intenções de compra e de venda.
104
Aumentos de Capital (5)
Finalmente, é possível fazer um aumento de capital conjugando as duas
modalidades: parte do aumento é por incorporação e outra parte por subscrição
de novas ações. Neste caso o preço teórico das ações após o aumento de capital
seria:
EXERCÍCIO:
Supor que uma empresa faz um aumento de capital simultâneo de 2.000.000 de
ações para 6.000.000 de ações. 1.000.000 de ações é por incorporação de
reservas e 3.000.000 é por subscrição de novas ações, sendo o preço de
subscrição de 1,2€ por ação. Se a cotação das ações em bolsa antes do
aumento de capital fosse de 1,9€, qual seria o preço teórico das ações após o
aumento de capital (P1), e o valor dos direitos de incorporação (VDI) e de
subscrição (VDS)?
105
Resolução
N0 = 2.000.000
Ni = 1.000.000
Ns = 3.000.000
P0 = 1,9€
Ps = 1,2€
FI = ½
FS = 1,5
106
Análise Técnica (1)
Teoria Dow (de Charles Dow) – identifica as tendências de oscilação do mercado
com base na identificação de formações de cotações, de descontinuidades das
mesmas, dos seus níveis máximos e mínimos e dos níveis de suporte e
resistência. Os movimentos de subida pressupõem existência de notícias
positivas, e os de descida pressupõem notícias negativas. Um movimento de alta
de cotações dá-se em quatro fases: 1- fase de acumulação, 2 – fase de subida
sensível, 3 – fase de euforia, 4 – fase de distribuição. Também os movimentos de
descida apresentam quatro fases.
107
FONTE: Bastardo (1999)
Análise Técnica (2)
Sinais de subida ou descida das cotações: existem sinais que são figuras
geométricas bem definidas que se repetem frequentemente e que antecedem
movimentos de subida ou descida das cotações. A teoria Dow identificou vários.
Eis alguns:
108
FONTE: Bastardo (1999)
Análise Técnica (3)
109
FONTE: Bastardo (1999)
Análise Técnica (4)
110
Conceito e caraterização de Obrigações (1)
- Conceito: títulos de crédito negociáveis e indivisíveis, emitidos por uma
empresa ou organismo público, que representam frações iguais de um
empréstimo a médio e longo prazo, e que conferem ao seu titular (o
obrigacionista) o direito de receber juros periodicamente e o reembolso do
seu valor nominal, numa data futura.
111
Conceito e caraterização de Obrigações (2)
112
Classificação das Obrigações
- Quanto à Maturidade: obrigações temporárias (prazo finito), obrigações
perpétuas (prazo infinito).
115
Exemplo
Pergunta: Qual o montante total recebido pelo vendedor e o montante total pago
pelo comprador das obrigações?
116
Resolução
117
Medidas de Rendibilidade das Obrigações (1)
118
Medidas de Rendibilidade das Obrigações (2)
Apesar do indicador anterior considerar as mais-valias obtidas na transação da
obrigação, tem a limitação de associar essas mais-valias ao período de 1 ano
(pressupõe que o investidor vende a obrigação após 1 ano da sua compra). Se o
investidor detiver a obrigação por um período diferente de 1 ano, a mais-valia
efetiva vai divergir da fornecida pelo indicador.
O indicador seguinte contorna essa limitação.
119
Medidas de Rendibilidade das Obrigações (3)
120
Exemplo TJA
a) Obtenha a taxa de juro aparente (current yield) na data de vencimento de um
cupão, calculado à taxa anual nominal bruta de 3%. O valor nominal da obrigação
é de 5€ e a cotação 102%. Considere uma taxa de retenção na fonte para efeito
de imposto sobre o rendimento de 28%.
121
Exemplo TRE
a) Obtenha a taxa de retorno efetiva (TRE) de um investimento em obrigações,
de valor nominal 10€, subscritas ao par e vendidas à cotação de 107%. As
obrigações pagam cupões semestrais à taxa de juro anual nominal bruta de
5,5%, convertível semestralmente. Considere um imposto sobre o rendimento à
taxa liberatória de 28%.
122
Exemplo YTM
a) Obtenha a yield to maturity (YTM) das obrigações de um empréstimo que paga
um cupão semestral à taxa fixa anual nominal de 4,6%, convertível
semestralmente, sabendo que faltam 3 anos para a maturidade, estando já pago
o cupão que se vence na data em análise. O valor nominal de cada obrigação é
5€ e a cotação é 103. O reembolso das obrigações é feito acima do par, com um
prémio de reembolso de 0,5€.
123
Medidas de risco das Obrigações (1)
- Macaulay Duration (duração): é o tempo médio que o investidor demora a
recuperar o investimento, considerando o valor atual dos cash flows futuros. Por
outras palavras, a duration é a média ponderada do período de tempo que
demora até ao pagamento dos cash flows, em que os ponderadores são os cash
flows atualizados. A expressão da duration (D) é:
124
Medidas de risco das Obrigações (2)
- Note-se que quanto maior for a maturidade maior é a duração; e quanto maior
for a taxa de juro, menor peso vão ter os períodos que ficam mais distantes, o
que provoca uma diminuição da duração.
125
Medidas de risco das Obrigações (3)
126
Medidas de risco das Obrigações (4)
- O impacto no preço quando ocorrem variações na yield pode agora ser
medido com mais precisão, tendo em conta simultaneamente a duração e a
convexidade. Esse impacto é dado por:
- Exemplo: Supor uma obrigação de VN=100 emitida hoje, com cupões anuais à
taxa de 5%, com maturidade de 2 anos e com reembolso ao par. Se a yield desta
obrigação for de 6,6651%:
a) Qual o preço atual da obrigação?
b) Qual a Duração da obrigação?
c) Qual a duração modificada?
d) Qual a convexidade?
e) Se a yield subir 1 p.p. (ou 0,01), qual a variação esperada do preço tendo em
conta apenas a Duração modificada?
f) E tendo em conta a duração modificada e a convexidade?
127
Resolução
a)
b)
c)
d)
e)
f)
128
Empréstimo obrigacionista na ótica do emitente
129
Exemplo
- Considere uma emissão de 100.000 obrigações ao par, de valor nominal 10€,
maturidade 5 anos, pagamento semestral de cupões à taxa anual nominal de 6%
convertível semestralmente, e reembolso ao par na maturidade.
130
Curva de Rendimentos (yield curve)
- Curva de rendimentos: é a representação gráfica da estrutura de prazos das
taxas de juro.
- Assume-se aqui que PPV = 1 ano representa o curto prazo e PPV = 2 anos representa o
médio e longo prazo.
- A TEP pretende explicar que a determinação das taxas de juro de longo prazo atuais
dependem das taxas de juro de curto prazo, atuais e esperadas.
- A TEP defende que o rendimento que se obtém com um investimento a 2 anos é igual ao
que se obtém com uma sucessão de dois investimentos a 1 ano.
- Para a TEP, é a atividade dos investidores no mercado obrigacionista que faz com que a
equação tenda a verificar-se. 132
FONTE: Lagoa et al., 2009.
Exemplo
- Suponha que atualmente a YTM das OT a 1 ano é de 2% e que os agentes económicos
esperam que a YTM das OT com PPV = 1 ano suba no próximo ano para 3%.
133
Resolução
i)
134
Teoria das Expetativas Puras (2)
- Vamos supor que estamos na seguinte situação de desequilíbrio, em que a rendibilidade
das obrigações com PPV=1 é superior à rendibilidade das obrigações com PPV=2:
135
FONTE: Lagoa et al., 2009.
Teoria da Preferência pela Liquidez (1)
- A teoria da preferência pela liquidez (TPL) diz que se os agentes económicos forem
avessos ao risco (i.e. só preferem investimentos com risco se o retorno esperado for maior
que o de um investimento sem risco), e tiverem preferência pela liquidez (i.e. os agentes
económicos preferem reaver o dinheiro dos seus investimentos em prazos mais curtos do
que em prazos mais longos, porque assim evitam riscos, p.e. de mercado e de taxa de
juro), então o equilíbrio no mercado obrigacionista de curto e longo prazo é:
136
FONTE: Lagoa et al., 2009.
Teoria da Preferência pela Liquidez (2)
- Para a TPL, os agentes só recorrem a investimentos de prazos longos se forem
compensados com uma remuneração adicional, um prémio de risco.
- Se não fosse assim, não havia acordo quanto à maturidade dos investimentos, porque os
emitentes só desejariam emitir por prazos longos, e os subscritores da emissão só
desejariam subscrever por prazos curtos.
- Por exemplo: supor que o Estado quer financiar uma autoestrada e que a recuperação
desse investimento só é feita ao fim de dois anos, com o recebimento de portagens. O
Estado tem vantagem em emitir OT por 2 anos, porque assim, na maturidade, tem dinheiro
para reembolsar as OT. Além disso, se emitisse por 1 ano corria o risco de pagar uma taxa
de juro superior na emissão a 1 ano subsequente. A TPL diz que se a TEP fosse
verdadeira, o Estado apenas pretenderia emitir OT a 2 anos porque tinha o mesmo custo
que 2 emissões a 1 ano e não corria risco de taxa de juro.
- Por outro lado, a TPL diz que se a TEP fosse verdadeira, os subscritores de OT apenas
pretenderiam subscrever a 1 ano porque ao fim desse ano poderiam fazer outra subscrição
a 1 ano, e o rendimento total que obteriam seria idêntico ao de uma subscrição a 2 anos.
Desta forma teriam sempre acesso ao seu dinheiro ao fim de 1 ano (liquidez) evitando o
risco de mercado de um investimento a 2 anos.
- Quanto maior for o PPV maior é a incerteza na evolução dos preços e das taxas de juro, e
por isso maior é o prémio de risco exigido pelos investidores.
137
FONTE: Lagoa et al., 2009.
Expetativa de evolução das taxas de juro e forma da
yield curve (1)
- Vimos que, para a TEP, se a expetativa dos agentes fosse de subida das taxas de juro,
a yield curve teria inclinação positiva. Para a TPL, a inclinação da yield curve também seria
positiva e seria maior que a inclinação dada pela TEP, devido ao prémio de risco ser
positivo e crescente com o PPV.
- Se a expetativa dos agentes fosse de manutenção das taxas de juro, a yield curve da
TEP seria horizontal, enquanto a yield curve da TPL teria inclinação positiva, devido à
adição de um PR positivo e crescente com PPV.
- Se a expetativa dos agentes fosse de diminuição das taxas de juro, a yield curve da
TEP teria inclinação negativa, enquanto a inclinação da yield curve da TPL poderia ser
negativa, horizontal ou positiva, dependendo do valor do PR.
- A TPL é a teoria mais aceite pelos agentes económicos. Assim, se a yield curve real
estiver associada à TPL e tiver inclinação horizontal ou negativa, podemos deduzir que,
nestas condições, os agentes esperam uma descida futura das taxas de juro do Banco
Central (porque subtraindo o PR à yield curve da TPL obtemos a yield curve da TEP, que
apresenta inclinação negativa nestas condições).
138
FONTE: Lagoa et al., 2009.
Expetativa de evolução das taxas de juro e forma da
yield curve (2)
139
FONTE: Lagoa et al., 2009.
Expetativa de evolução das taxas de juro e forma da
yield curve (3)
140
FONTE: Lagoa et al., 2009.
Teoria da Segmentação do Mercado
- A TEP e a TPL assumem que as obrigações de diferentes maturidades são substituíveis. A
teoria da segmentação do mercado (TSM), pelo contrário, assume que existem investidores
que só estão interessados em investir em obrigações de determinadas maturidades (p.e.,
os fundos de pensões por terem responsabilidades de médio/longo prazo desejam investir
sobretudo em obrigações de maturidades elevadas), e não estão dispostos a substituir
essas obrigações.
- Desta forma, o preço das obrigações de cada maturidade (e as yields) é determinado pela
procura e oferta de obrigações dessa maturidade, de forma independente do preço das
obrigações de outras maturidades.
- Consequentemente, a yield curve associada à TSM não tem uma forma previsível à
partida.
141
Financiamento por Ações vs. Obrigações
- Vantagens do financiamento por ações:
i) o montante obtido com a emissão de ações não tem de ser devolvido,
enquanto que o valor obtido com emissão de obrigações tem que normalmente
ser devolvido;
ii) as ações permitem flexibilidade em relação às datas e montantes de
pagamento de rendimentos (dividendos), enquanto as obrigações sujeitam
normalmente as empresas a pagamentos de rendimentos (juros) em datas e
montantes pré-definidos.
142
Financiamento Direto vs. Crédito Bancário
- Vantagens do financiamento direto (ações/obrigações):
i) o custo do crédito bancário é normalmente superior ao custo de emissão de
ações ou obrigações (comparativamente com as obrigações, os bancos exigem
uma taxa de juro superior para remunerarem a sua intermediação financeira);
ii) os bancos dificultam a concessão de crédito por prazos longos, devido ao
risco. As obrigações (e as ações) podem ser emitidas por prazos longos;
iii) Os bancos dificultam a concessão de crédito a uma só empresa em
montantes muito elevados, preferindo emprestar montantes menores a muitas
empresas para diversificar o risco. As emissões de ações ou obrigações podem
envolver montante elevados.
143
Gestão da Dívida Pública
- Órgãos de gestão da dívida pública: IGCP, E.P.E. (Agência de Gestão da
Tesouraria e da Dívida Pública) - entidade pública a quem compete, nos termos
do Decreto-Lei n.º 200/2012 de 27 de agosto, gerir, de forma integrada, a
tesouraria, o financiamento e a dívida pública direta do Estado, a dívida das
entidades do setor público empresarial cujo financiamento seja assegurado
através do Orçamento do Estado e ainda coordenar o financiamento dos fundos e
serviços dotados de autonomia administrativa e financeira.
13 180
25 576 8 449
147
Certificados de Aforro
- Os certificados de aforro são instrumentos de dívida pública criados com o
objetivo de captar a poupança das famílias. São direcionados para o retalho, isto
é, são colocados diretamente juntos dos aforradores, e têm montantes mínimos
de subscrição reduzidos. Só podem ser emitidos a favor de particulares e não
são transmissíveis exceto em caso de falecimento do titular.
149
Títulos de Participação
- Os títulos de participação são valores mobiliários tendencialmente perpétuos
que conferem o direito a uma remuneração com duas componentes: uma fixa e
outra variável (dependendo dos resultados do emitente). Os títulos de
participação podem ser emitidos por empresas públicas e por sociedades
anónimas pertencentes maioritariamente ao Estado. Só são reembolsáveis se as
entidades que os emitiram o decidirem, mas nunca antes de terem decorrido 10
anos desde a sua emissão, ou se essas entidades entrarem em falência.
150
Titularização de Créditos (1)
- Conceito: titularização de créditos (securitization) consiste na agregação de
créditos com vista à sua alienação por parte do seu detentor inicial (originador)
para a esfera da propriedade de uma entidade adquirente (o Special Purpose
Vehicle – SPV), a qual procede à emissão de valores mobiliários de dívida
(unidades de titularização), colocados junto de investidores para financiar a
aquisição dos créditos.
152
Mercados Financeiros
153
Mercados Secundários em Portugal
155
História da Bolsa Portuguesa (1)
Das origens ao final do século XIX
- Em Portugal, as referências mais remotas relativas ao aparecimento das bolsas
centram-se na Idade Média. O desenvolvimento do comércio originou um maior
contacto entre os comerciantes e a presença frequente de negociantes
estrangeiros atraía os corretores que, pelo facto de falarem várias línguas,
facilitavam as transações de mercadorias. Em 1495 surge a primeira tentativa de
regular a atividade dos corretores de Lisboa, e na segunda metade do século
XVIII surgem as primeiras emissões de ações e os títulos de dívida pública
moderna.
157
História da Bolsa Portuguesa (3)
158
História da Bolsa Portuguesa (4)
Do 25 de Abril de 1974 aos dias de Hoje
- A tomada do poder político pelos militares em 25 de Abril de 1974 constitui um rude golpe
para as Bolsas de Valores de Lisboa e do Porto. Estas encerram de imediato, sendo que a
primeira só reabre em 12 de Janeiro de 1976 para a realização de transações com
obrigações, e em 28 de Fevereiro de 1977, para os negócios com ações. A BVP reabre em
2 de Janeiro de 1981.
160
História da Bolsa Portuguesa (6)
- Em 2 de Outubro de 2000 dá-se início à negociação de warrants autónomos na BVLP. Em
6 de Fevereiro de 2002, a BVLP altera a designação para Euronext Lisbon, após a fusão
com a Euronext N.V. Novos instrumentos financeiros passam a ser transacionados na
bolsa, como os certificados.
- A partir de 2002 os membros da Euronext Lisbon passam a ter acesso à negociação dos
produtos do mercado a contado admitidos à negociação nos mercados do grupo Euronext
(Paris, Amesterdão e Bruxelas). Após a aquisição do mercado de derivados londrino
(LIFFE) o grupo Euronext torna-se no primeiro mercado de bolsa pan-europeu e um dos
maiores mercados bolsistas mundiais, com mais de 1300 emitentes e uma capitalização
bolsista total de 2,2 biliões de euros.
- Em Abril de 2007 dá-se a fusão entre o NYSE Group Inc. e Euronext N.V. formando-se o
maior grupo bolsista transatlântico. Em 13 de Novembro de 2013, a Intercontinental
Exchange (ICE) adquire o grupo NYSE Euronext e em 20 de Junho de 2014, através de
uma oferta pública de distribuição (IPO), vende a Euronext em mercado, separando-a do
grupo ICE.
- Unidades de Participação: são títulos que representam uma proporção do valor global
de um fundo.
- ETF (Exchange Traded Funds): são títulos que representam uma proporção do valor
global de um fundo que replica, p.e., o comportamento de índices bolsistas.
- Warrants destacados: são títulos ligados a obrigações, que se podem destacar destas e
transacionar em mercado, e conferem ao detentor o direito de subsrever ações a um
determinado preço em determinada data
163
164
Contratos de Liquidez
- O artigo 348º do Cód.VM regula as operações de fomento de mercado (market makers).
As operações de fomento de mercado visam a criação de condições para a comercialização
regular num mercado de uma determinada categoria de valores mobiliários ou de
instrumentos financeiros, nomeadamente o incremento da liquidez.
- As operações de fomento devem ser precedidas de contrato celebrado entre a entidade
gestora do mercado e o intermediário financeiro.
- Quando as atividades de fomento respeitem a valores mobiliários e tal se encontre
previsto na lei, em regulamento ou nas regras do mercado em causa, o contrato referido no
número anterior tem como parte o emitente dos valores mobiliários cuja negociação se
pretende fomentar.
165
Admissão à Negociação (Cap.6, Rulebook1 da Euronext)
- Além dos requisitos gerais de admissão à negociação de valores mobiliários nos
mercados da Euronext, a regra 6702 do Rulebook1 define requisitos específicos para as
ações e outros títulos representativos de capital, dos quais se destaca: i) pelo menos 25%
do capital subscrito deve estar distribuído pelo público; ii) ou então pelo menos 5% do
capital subscrito deve estar distribuído pelo público, sendo que essa percentagem deve
representar pelo menos 5 milhões de euros, calculado com base no preço de subscrição.
- No caso das obrigações: o emitente tem que emitir um valor nominal mínimo à data de
admissão à negociação de: i) 5 milhões de euros, no caso de oferta pública de obrigações;
ii) 200 mil euros para as admissões à negociação sem oferta pública; iii) as PME que
requeiram a admissão à cotação de obrigações por via de oferta pública deverão obter, e
divulgar nos documentos relevantes da oferta, uma notação de risco (em relação ao
emitente ou aos valores mobiliários relevantes a serem oferecidos) emitida por uma agência
de notação de risco devidamente certificada pela ESMA.
- No caso de warrants: i) o emitente tem que ser uma instituição de crédito ou empresa de
investimento; ii) deve estar sujeita a supervisão; iii) tem que celebrar contrato de market
maker, se requisitado; iv) emissão tem que ter uma quantidade mínima, se exigido.
166
Suspensão e Exclusão da Negociação
- Os valores podem ser excluídos de negociação a pedido do emitente ou podem
ser suspensos ou excluídos (cap. 6 do Rulebbok1) por decisão da Euronext
(que tem que comunicar à CMVM, nos termos do artigo 213º do Cód.VM).
Neste último caso, a Euronext avalia, nomeadamente:
i) o incumprimento dos requisitos previstos nas regras de admissão;
ii) emitente deixar de existir (por liquidação ou fusão, p.e.);
iii) se a negociação dos valores prejudicar o normal funcionamento do mercado;
iv) se deixarem de estar disponíveis serviços adequados de compensação e/ou
de liquidação;
v) ocorram factos sobre o emitente que prejudiquem a reputação da Euronext.
167
Sistema e Métodos de Negociação (1)
- Os títulos admitidos à negociação na Euronext são negociados na plataforma
informática UTP (Universal Trading Platform). É possível aos membros do
mercado introduzirem ofertas no sistema (que entram para o “livro de ofertas
central”) entre as 6h15 e as 16h40. Os títulos mais líquidos (com mais de 2.500
ordens de bolsa por ano) negoceiam “em contínuo” e os menos líquidos
negoceiam “por chamada” ou leilão. Realiza-se um negócio quando ofertas de
sentido contrário coincidem no preço.
168
Sistema e Métodos de Negociação (2)
- Negociação por chamada (ou por leilão): apenas se realizam negócios duas
vezes por dia: no leilão das 10h30 e no leilão das 15h00. Isto acontece porque os
títulos menos líquidos não geram ofertas suficientes para a negociação decorrer
continuamente durante a sessão de bolsa.
Durante o horário de utilização da plataforma de negociação, exceto durante os
leilões, as ofertas são automaticamente registadas no livro de ofertas central sem
dar origem a negócios (acumulação de ofertas). A esta fase chama-se a fase de
chamada.
169
Tipos de Ofertas (regra 4203 do Rulebook1 da Euronext)
- Ofertas “ao mercado” ou “ao melhor”: são ofertas para comprar ou vender uma
determinada quantidade de um valor mobiliário, a qual é para ser executada ao melhor
preço a obter quando a oferta atinja o Livro de Ofertas Central.
- Ofertas “limitadas”: são ofertas de compra ou de venda que apenas podem ser
executadas ao limite de preço nelas especificado, ou a um melhor preço. O limite de preço
deve respeitar o limite mínimo de variação de preços definido (tick size).
- Ofertas “stop”: são ofertas que são desencadeadas quando um limite de preço
especificado é alcançado no mercado (o referido limite é alcançado quando o mercado
negociar no limite stop ou acima desse limite, no caso de uma oferta de compra, e no limite
stop ou abaixo desse limite, no caso de uma oferta de venda). No caso de ofertas stop loss,
uma oferta ao mercado pura será automaticamente gerada (para comprar ou vender) e
integrada no Livro de Ofertas Central. No caso de ofertas stop limitadas, será gerada
automaticamente uma oferta limitada (de compra ou venda) e integrada no Livro de Ofertas
Central.
- Ofertas indexadas ou “Pegged orders”: são ofertas com limite para comprar ou vender
uma determinada quantidade de um valor mobiliário a um preço estabelecido para
acompanhar o bid ou o ask em curso no Livro de Ofertas Central. Ao preço associado a
cada oferta “pegged” que seja atualizado será atribuído um novo tempo de entrada com
prioridade de acordo com as regras da Euronext. As ofertas indexadas podem ter um limite
de preço o qual, uma vez atingido, suspenderá temporariamente a indexação até que o bid
ou o ask em curso sejam mais agressivos que o referido preço.
170
Conteúdo das ordens de bolsa
- Uma oferta de bolsa surge quando o intermediário financeiro “insere” na plataforma de
negociação da bolsa uma ordem do cliente (ou própria).
171
Regras da Negociação em Contínuo
- Cada nova oferta que entra no Livro de Ofertas Central (exceto a “oferta-stop”) é
imediatamente verificada para execução contra as ofertas do outro lado do Livro de Ofertas
Central. As ofertas podem ser executadas integralmente, em uma ou mais vezes,
executadas parcialmente ou não ser executadas.
- Como tal, cada nova oferta pode gerar um, vários ou nenhum negócio. As ofertas no Livro
de Ofertas Central são (tipicamente) executadas de acordo com o princípio prioridade
preço/tempo.
- As ofertas, ou parte das mesmas, que não tiverem sido executadas são ordenadas no
Livro de Ofertas Central de acordo com o princípio prioridade preço/tempo.
- Suponha, agora, que em t=1, surge uma nova oferta de compra de 500 ações ao preço de
2,60€. Assim sendo, é efetuado um negócio de 500 ações ao preço de 2,60€, e o livro de
ofertas fica com o seguinte aspeto em t=1 (repare na ordenação das ofertas em função do
preço. As de compra são ordenadas por ordem decrescente do preço e as de venda por
ordem crescente):
173
Exemplo de Negociação em Contínuo (2)
- Supor que em t=2 surge uma nova oferta de venda de 3500 ações ao melhor preço.
Assim, são efetuados 2 negócios após a introdução desta oferta: o primeiro de 1500 ações
ao preço 2,40€ e o segundo de 2000 ações ao preço de 2,35€. O aspeto do livro de ofertas
em t=2 passa a ser:
- Note-se que o spread bid/ask em t=2 é de 0,40€. Finalmente, surge uma nova oferta de
compra em t=3 de 900 ações ao preço de 2,50€. O livro de ofertas fica:
174
Regras da Negociação em Leilão
- No início do leilão, o Livro de Ofertas Central é congelado momentaneamente (não podem
ser introduzidas novas ofertas e as ofertas já inseridas não podem ser canceladas ou
modificadas) enquanto o algoritmo procede ao cruzamento das ofertas para apurar o preço.
- O preço (único) do leilão é apurado de acordo com o princípio da máxima execução. Caso
da aplicação do princípio da máxima execução não se apure um preço único, então aplica-
se o princípio do preço de referência.
Princípio do preço de referência: o preço de leilão será o que se encontrar mais próximo
do preço de referência (que é normalmente o preço do último negócio efetuado).
175
Exemplo de Negociação em Leilão (1)
- Antes do leilão das 11h30 (CET) de 4/09, o preço de referência era de 2,87€, e a situação
do livro de ofertas central era a seguinte, para as ações de uma empresa cotada:
176
Exemplo de Negociação em Leilão (2)
- Aplicação do algoritmo de determinação do preço do leilão:
- A primeira linha do quadro, por exemplo, mostra que ao preço de 4,5€ estão disponíveis
para venda 517 ações, e não está disponível para compra qualquer ação. Se este preço
fosse o escolhido, não seriam efetuados quaisquer negócios.
- Outro exemplo: a última linha do quadro mostra que ao preço de 0,01€ estão disponíveis
para venda 25 ações, e disponíveis para compra 2670 ações (todos os compradores estão
disponíveis para comprar a este preço). Se este preço fosse o escolhido, seriam
executadas 25 ações. De acordo com o 1º critério, este preço seria preferível ao preço 4,5€
porque permitiria executar uma quantidade superior.
- Analisando todos os níveis de preço, verifica-se que o 1º critério não é suficiente para
escolher um preço único. Como se pode verificar no quadro, há seis preços que maximizam
a quantidade executável. É, assim, necessário recorrer ao 2º critério. Entre os preços que
cumprem o 1º critério, o preço que mais se aproxima do preço de referência é o preço
2,87€. É este o preço escolhido para realizar os negócios que resultam do leilão. 177
Sessões especiais do mercado regulamentado
- Os mercados regulamentados funcionam em sessões públicas, que podem ser
normais ou especiais (art. 220º do Cód.VM).
179
Índices Bolsistas
- Índice bolsista: indicador do comportamento global (normalmente dos preços) de um
mercado ou setor. Para representar fielmente o mercado ou o setor, o índice deveria incluir
todos os títulos negociados no mercado ou setor. Mas como comporta custos elevados
manter um índice com tal abrangência, opta-se por considerar apenas um “cabaz” de títulos
representativos do mercado ou setor (ex: PSI20, CAC40, IBEX35).
- Dentro de cada índice, os títulos não têm todos o mesmo peso. Normalmente, os títulos
são ponderados pela respetiva capitalização bolsista (preço x ações admitidas à
negociação). Assim, as empresas mais importantes do mercado ou setor têm um peso mais
elevado no índice (também há índices que apenas consideram a cotação).
- Cálculo e divulgação. O índice é calculado com base nos preços mais recentes de
transações efetuadas nos mercados da Euronext. O valor do índice é divulgado a cada 15
segundos, e o índice é calculado desde a abertura até ao fecho normal dos mercados.
- As ações de uma empresa devem ter um free float velocity de, pelo menos, 25 %. Isto
significa que, o número total de ações transacionadas no mercado deve representar, no
mínimo, 25% do número total de ações cotadas disponíveis para negociação, calculado ao
longo da totalidade dos 12 meses relevantes para a revisão.
181
Mercados Financeiros
Capítulo 6 – Fundos de
Investimento
182
Conceitos/Intervenientes
- Fundo de Investimento: instrumento financeiro que resulta da captação de capital junto
de diversos investidores (participantes), constituindo o conjunto desses montantes um
património autónomo, gerido por especialistas que o aplicam numa diversidade de ativos
(forma de investimento indireto no mercado).
- Sociedade gestora: entidade que faz a gestão da carteira do fundo por conta dos
participantes (o participante não gere o fundo). Pode gerir vários fundos.
183
Vantagens dos fundos de investimento
- Permitem diversificar os riscos do investimento (os fundos investem em ativos
variados);
- Permitem flexibilizar os investimentos através da aplicação/mobilização de liquidez de
forma rápida e previsível;
- Permitem obter serviços profissionais de gestores especializados;
- Permitem ter acesso preferencial a determinados produtos ou negócios, o que se
consegue por via da intervenção da sociedade gestora e dos montantes elevados
envolvidos.
- Permitem obter reduzidos custos de transação pelos avultados volumes de negócios
que se efetuam;
- Permitem eventualmente obter vantagens fiscais (ex: investimento em imóveis);
- Planos poupança: fundos de longo prazo com benefícios fiscais envolvidos e sujeitos a
legislação específica que tenta garantir uma política de investimento estável e um nível de
risco moderado. Os resgates só podem ocorrer em condições específicas (PPR plano
poupança-reforma: resgate permitido apenas em caso de reforma, desemprego de longa
duração, doença prolongada ou incapacidade para o trabalho; PPE plano poupança
educação: resgate apenas permitido 5 anos após investimento, uma vez por ano e
destinando-se ao financiamento de curso superior ou profissional).
185
Principais Comissões
- Comissão de gestão: remuneração pelos serviços de gestão e administração do fundo,
prestados ela sociedade gestora. É normalmente uma percentagem do valor médio diário
do fundo. É calculada diariamente e deduzida ao valor patrimonial do fundo (à UP).
186
Valor da Unidade de Participação/VLGF
ii)
188
Informações Sobre o Fundo
- As instituições financeiras que comercializam fundos têm que ser autorizadas pela
CMVM. No site, a CMVM disponibiliza informações que permitem comparar os fundos,
nomeadamente em termos de comissões e custos cobrados pelas entidades gestoras.
- Estes documentos estão disponíveis junto das entidades gestoras e depositário, e no site
da CMVM 189
Fiscalidade dos Fundos de Investimento
- O Decreto-Lei nº 7/2015, de 13 de janeiro, veio reformar o regime fiscal dos organismos
de investimento coletivo;
- Antes deste diploma entrar em vigor, cabia ao fundo (e não ao participante) suportar os
impostos decorrentes das mais-valias e demais rendimentos obtidos (“tributação à
entrada”), o que tornava o regime fiscal pouco competitivo, nomeadamente face ao
estrangeiro, visto que os participantes estrangeiros acabavam por sofrer uma “dupla
tributação”, já que eram adicionalmente tributados nos países de origem pelas mais-valias
auferidas com os fundos portugueses.
- Com este novo Decreto-Lei, o fundo deixa de ser tributado, passando esse ónus para o
participante (“tributação à saída”).
- É ainda criada uma taxa em sede de Imposto do Selo incidente sobre o valor líquido global
do fundo (0,0025% por trimestre, para os fundos que invistam exclusivamente em
instrumentos do mercado monetário e depósitos; e 0,0125% por trimestre para os outros
fundos).
- É habitual dividir o risco dos fundos em duas componentes: o risco diversificável ou risco
não sistemático, e o risco sistemático.
- Risco diversificável: risco que pode ser reduzido através da diversificação dos ativos em
carteira do fundo, porque está associado às particularidades de uma empresa ou de um
setor específico.
- Risco sistemático: risco que resulta das oscilações da UP provocadas pela evolução do
mercado em geral (influências do sistema macroeconómico), e que não pode ser evitado.
- O beta de um ativo indica quanto risco sistemático o ativo possui face a uma carteira
representativa do mercado. Assim, ativos com beta > 1 contém mais risco sistemático que a
carteira representativa do mercado (“ativos agressivos”); ativos com beta < 1 são menos
arriscados que a carteira representativa do mercado (“ativos conservadores”); ativos com
beta = 1 têm o mesmo risco da carteira do mercado.
- Desta forma, os investidores podem utilizar o beta como referência para o cálculo do
prémio de risco que exigem para investir em determinado ativo.
191
Medidas de Performance dos Fundos
- Comparar rendibilidades de fundos só faz sentido se os fundos tiverem níveis de risco
semelhantes e objetivos de gestão comuns. Por exemplo, não faz muito sentido comparar
diretamente a rendibilidade de um fundo de tesouraria com a rendibilidade de um fundo de
ações. A variância da UP do segundo fundo é muito superior. Assim, distinguimos
rendibilidade de performance, porquanto a performance tem em conta simultaneamente a
rendibilidade e o risco de um fundo. Destacam-se duas medidas de performance: índice de
Sharpe e índice de Treynor.
- O índice de Treynor define-se como o excesso de rendibilidade do fundo face ao ativo sem
risco a dividir pelo beta do fundo (risco sistemático):
- Quanto maior for o índice de Treynor melhor a performance do fundo. Este indicador parte
do pressuposto que qualquer carteira eficientemente diversificada só está sujeita ao risco
sistemático. O risco diversificável é totalmente eliminado.
- O índice de Sharpe define-se como o excesso de rendibilidade do fundo face ao ativo sem
risco a dividir pelo desvio-padrão da UP (risco total):
193
Rendibilidade dos Fundos/ T.A.E.L. (2)
- Do ponto de vista do investidor, temos que levar em conta as comissões de subscrição (cs)
e as comissões de resgate (cr). Se estas comissões forem representadas por uma
percentagem do valor da UP, a TAEL fica:
194
Exemplo
Calcule:
a) A TAEL dos fundos A e B.
b) O índice de Treynor dos fundos A e B.
c) O índice de Sharpe dos fundos A e B.
d) Qual dos fundos apresenta a melhor performance?
195
Resolução
d) O fundo B apresenta melhor performance que o fundo A porque tanto o índice de Treynor
como o índice de Sharpe apresentam valores mais elevados para o fundo B.
196
Mercados Financeiros
197
Conceito, Taxas de Câmbio (1/2)
Mercado cambial – é o segmento do mercado financeiro onde se realizam as operações de
compra e venda de moeda estrangeira (i.e. troca de moeda nacional por moeda
estrangeira). Considerado mundialmente, funciona 24 horas por dia, não tem existência
física e o seu funcionamento processa-se essencialmente através de telefone ou outro
sistema de comunicação (v.g. Reuters). Por exemplo, o mercado cambial euro-dólar é o
mercado onde a “oferta de dólares e procura de euros” encontra a “procura de dólares e
oferta de euros”.
Taxa de câmbio – preço relativo de uma moeda em relação a outra. Existem duas formas
de exprimir a taxa de câmbio: Ao incerto (cotação direta) – quantidade de moeda nacional
(EUR) para adquirir uma unidade de moeda estrangeira (divisa, ex: USD), designamos por
E. Ao certo (cotação indireta) – quantidade de moeda estrangeira necessária para adquirir
uma unidade de moeda nacional. Designamos por X. Verifica-se a seguinte relação: X=1/E.
Exemplo - vamos supor que temos 1.000.000 USD e queremos comprar JPY, e não
encontramos no mercado ninguém que faça a cotação do USD contra o JPY. No entanto, há
no mercado as seguintes cotações: GBP/USD: 1,421 (bid) e 1,422 (ask); GBP/JPY: 156,6
(bid) e 156,9 (ask).
Fazemos o seguinte: i) compramos GBP com os USD. Como 1 GBP = 1,422 USD, então
compramos 1.000.000/1,422 = 703.234,88 GBP.
ii) Vendemos os GBP e compramos JPY. O preço a que o banco compra os GBP em troca
de JPY é 156,6 JPY por 1 GBP. Assim obtemos, 703.234,88 x 156,6 = 110.126.582,28 JPY.
Ou seja, na prática trocámos 1.000.000 USD por 110.126.582,28 JPY, o que significa que se
a troca fosse direta, a nossa taxa de compra de USD contra JPY seria: 1.000.000
USD/110.126.582,28 JPY = 110,1266 (comprámos 110,1266 JPY em troca de 1 USD).
199
Relação entre taxa de câmbio spot e forward.
Regimes de câmbios.
A taxa de câmbio spot (à vista) é a taxa usada em contratos de troca de moedas nos quais
ocorre a troca imediata das moedas. A taxa de câmbio forward é a taxa de câmbio usada em
contratos forward, que fixam hoje (momento 0) a taxa de câmbio a usar numa transação de
uma moeda por outra, numa data futura. Se essa data futura for daqui a 1 ano, temos:
Se um banco, juntando os USD que possui no início do dia com os USD que recebe dos
clientes durante o dia, ficar com um montante de USD superior ao que necessita para
satisfazer os pedidos dos clientes que pretendem comprar USD, então o banco pode tentar
vender esse excesso de USD a outro banco, através do Mercado Cambial Interbancário
(MCI). Pelo contrário, se o banco estiver deficitário de USD, pode recorrer ao MCI para
comprar USD.
Assim, do ponto de vista do sistema bancário como um todo, se num determinado dia
ocorrerem vendas de USD em grande quantidade e compra de USD em pequena quantidade,
então aumenta a abundância de USD no sistema bancário e isso leva a uma queda da
cotação do USD no MCI. Pelo contrário, se a procura de USD no sistema bancário for superior
à oferta, isso conduz a uma apreciação do USD.
Se o BCE quiser provocar uma depreciação do USD face ao EUR (valorização do EUR face
ao USD), pode optar por vender aos bancos quantidades significativas de USD (que tem em
reserva), aumentando a abundância de USD no sistema bancário.
A variável E representa a taxa de câmbio ao incerto (EUR por 1 USD), e a variável QUSD
representa a quantidade de USD. Se a taxa de câmbio aumentar (se E subir, i.e. o EUR
desvalorizar) então os produtos europeus passam a ser mais baratos quando medidos em
USD. Consequentemente, as exportações da zona euro para os EUA tendem a aumentar em
quantidade. Admitindo que esse aumento em quantidade mais do que compensa a perda que
os exportadores europeus têm por receberem menos USD pelos produtos exportados,
podemos dizer que, em geral, as empresas europeias passam a ter em carteira mais USD e,
consequentemente passam a vender mais USD aos bancos, logo a oferta de USD aos bancos
da zona euro aumenta.
Deslocamentos da curva – indicam como se desloca a curva quando uma terceira variável,
que não está representada nos eixos, se altera. Por exemplo, se a indústria têxtil europeia
decidisse fazer uma campanha de marketing muito agressiva nos EUA, seria natural que
mesmo que a taxa de câmbio não se alterasse, as exportações de produtos têxteis para os
EUA aumentassem, fazendo com que os exportadores europeus recebessem mais USD e os
vendessem aos bancos. Ou seja, a oferta de USD aumentaria mesmo que E se mantivesse
inalterado. O gráfico seguinte ilustra essa situação:
Se a taxa de câmbio aumentar (se E subir, i.e. se o EUR desvalorizar) então os produtos dos
EUA passam a ser mais caros quando convertidos em EUR. Consequentemente, as
importações de produtos dos EUA para a zona euro tenderão a diminuir em quantidade. Como
o preço em USD dos produtos se mantém inalterado, então a quantidade de USD que os
importadores necessitam é menor. Logo, a procura de USD junto dos bancos da zona euro
diminui. A taxa de câmbio de equilíbrio determina-se pela interseção das curvas da oferta e da
procura de USD (contra EUR):
Assim, quando são divulgadas notícias positivas sobre as exportações de um país, acontece
frequentemente a moeda desse país apreciar de imediato. Isto acontece porque os
operadores, em reação às notícias positivas sobre as exportações, começam imediatamente a
comprar a moeda desse país e essa procura acrescida de moeda, se for significativa, acaba
por resultar na apreciação da moeda do país.
--------------------
De seguida apresentamos duas teorias que explicitam fatores relevantes que estão por trás da
procura e da oferta de uma moeda no mercado cambial e que por isso contribuem para a
determinação da taxa de câmbio:
- Teoria da paridade dos poderes de compra (PPP – purchasing power parity), baseada na “lei
do preço único” (law of one price).
- Teoria da paridade descoberta das taxas de juro.
Bens não transacionáveis – não podem ser importados nem exportados, não estando por
isso sujeitos a concorrência internacional (ex: corte de cabelo, serviços de restauração,
serviços de saúde, etc.)
A lei do preço único apenas se aplica a bens transacionáveis. Além disso, assume-se que não
existem custos de transação, não existem custos de obtenção de informação sobre os preços,
não existem barreiras ao comércio internacional (ex: impostos alfandegários ou quotas à
importação), as taxas de imposto são iguais nos vários países. Nestas condições, a lei do
preço único diz que: bens idênticos vendidos em países diferentes têm de ter o mesmo preço
quando expressos na mesma moeda.
O fundamento da lei do preço único é o seguinte: se p.ex. o 1º membro < 2º membro, então os
produtores europeus desviam as vendas do bem para os EUA (porque recebem mais).
Consequentemente, a oferta do bem na zona euro diminui e aumenta nos EUA, e por isso o
preço do bem tende a aumentar na zona euro e tende a diminuir nos EUA. Além disso, o facto
de as exportações para os EUA aumentarem faz com que os exportadores europeus
obtenham mais USD e por isso vendam mais USD aos bancos, fazendo cair a variável E.
Os três efeitos (subida do preço doméstico, descida do preço no estrangeiro e descida da taxa
de câmbio) atuam todos no sentido de forçar a que a desigualdade entre os dois membros
passe novamente a ser uma igualdade.
A PPP indica que a taxa de câmbio entre duas moedas ajusta-se de modo a tornar iguais os
níveis de preços dos bens transacionáveis de duas economias, quando expressos na mesma
moeda.
Se, por hipótese, o 1º membro < 2º membro, as exportações do país doméstico para o
estrangeiro passarão a ser muito elevadas, enquanto as importações passarão a ser
reduzidas. No mercado cambial, isso implicará um excesso de moeda estrangeira que
conduzirá à sua depreciação (redução de E) até que os níveis de preços sejam iguais quando
expressos na mesma moeda.
EXERCÍCIO 1 PPP: suponha que o índice de preços esperados dos bens transacionáveis na
zona euro é de 114, e na Suiça é de 107 (índices comparáveis, reportados à mesma base).
Se a taxa de câmbio spot entre o EUR e o CHF for de E=0,95 (ou seja 0,95 EUR por 1 CHF),
qual será a tendência futura do EUR face ao CHF: o EUR tenderá a apreciar ou a depreciar?
FONTE: Lagoa et al. (2009) 211
Exercício 1 PPP - resolução
Como E(spot) < E(PPP), então a teoria PPP indica que E(spot) vai subir no futuro, ou seja, o
EUR vai depreciar face ao franco suiço.
212
Exercício 2 PPP
EXERCÍCIO - Suponha que devido a uma taxa de inflação muito superior na zona euro
quando comparada com a taxa de inflação dos EUA, a indústria exportadora da zona euro
perde competitividade no mercado americano. Qual o efeito esperado sobre a cotação do
Euro face ao Dólar nos mercados cambiais?
213
Versão dinâmica da PPP (1/2)
A versão dinâmica da PPP diz-nos como a taxa de câmbio entre duas moedas se ajusta de
modo a tornar iguais as subidas dos preços dos bens transacionáveis (i.e. a taxa de inflação)
dos dois países quando expressas numa moeda comum.
Suponhamos que a PPP entre dois países se verifica no início do ano 0 e do ano 1:
em que,
A equação sugere que quando se espera uma taxa de inflação dos bens transacionáveis
maior na economia doméstica do que na economia estrangeira, então é de esperar uma
depreciação da moeda doméstica entre o momento 0 e o momento 1.
Ou seja, espera-se que a taxa de câmbio ao incerto (quantidade de EUR por 1 USD) deprecie
2,76% (descida de E). A nova taxa de câmbio será E1=0,8 x (1-2,76%) = 0,7779.
216
Teoria da paridade descoberta das taxas de juro (1/3)
Se existir perfeita mobilidade de capitais, a TPDTJ diz que só estaremos em equilíbrio se se
verificar a seguinte condição:
O 1º membro da equação dá-nos o capital obtido ao fim de 1 ano por um investidor que detém
moeda doméstica e aplique o montante C0 hoje em OT domésticas. O 2º membro dá-nos o
montante que esse investidor obteria, passado 1 ano, se aplicasse hoje o montante C0 em OT
estrangeiras. Para investir nas OT estrangeiras, o investidor teria que converter C0 para a
moeda estrangeira; depois esse capital seria aplicado à taxa de juro das OT estrangeiras e,
passado 1 ano, o capital resultante seria novamente convertido para a moeda doméstica, à
taxa de câmbio spot que vigorasse daqui a 1 ano, que se espera ser E1S,e .
Nesta situação, uma vez que investir em OT domésticas rende menos do que se espera obter
com um investimento em OT estrangeiras, então os detentores de obrigações domésticas vão
vendê-las e com a moeda doméstica resultante dessa venda vão comprar moeda estrangeira
para poderem adquirir OT estrangeiras. Estas operações provocam três efeitos que concorrem
conjuntamente para que a igualdade na expressão acima seja restabelecida:
1) o aumento da oferta de OT domésticas faz cair o seu preço (e aumentar a yield Rdom);
2) o aumento da procura de OT estrangeiras faz subir o seu preço (e diminuir a yield Rfor);
3) o aumento da procura de moeda “for” tende a fazer apreciar a moeda “for” em relação à
moeda “dom” (subida de E0S).
Neste equação, Rdom e Rfor são determinadas pela política monetária do banco central
doméstico e estrangeiro, respetivamente. E1S,e é o valor que se espera que a taxa de câmbio
spot venha a assumir no futuro, e supõe-se poder ser determinado pela teoria PPP, como
vimos anteriormente.
RESOLUÇÃO – De acordo com a TPDTJ, a taxa de câmbio spot atual deveria ser igual a:
Como nos mercados cambiais a taxa de câmbio spot atual é igual a 1, então segundo a
TPDTJ o que tenderá a acontecer é uma diminuição da taxa de câmbio spot atual, visto que
esta tem um valor de 1,2. Ou seja, espera-se uma diminuição de E, o que significa uma
apreciação do EUR face ao USD.
220
Exercício 2 TPDTJ
EXERCÍCIO – Suponha uma situação inicial caraterizada pelas seguintes taxas: REUR = 3%,
RUSA = 3%, E1s,e = 1,1 EUR/USD, E0s = 1,5. Se o BCE subir as suas taxas diretoras em 1 p.p.
e o Banco Central dos EUA subir as suas taxas em 0,5 p.p., qual será o efeito esperado sobre
a taxa de câmbio EUR/USD atual (descida, manutenção ou subida)? Explique porquê.
RESOLUÇÃO – Admitindo perfeita mobilidade de capitais e supondo que a variação das taxas
diretoras dos bancos centrais se repercute totalmente nas taxas de juro das OT, então após a
intervenção dos bancos centrais, a taxa de câmbio spot EUR/USD de equilíbrio deveria ser,
segundo a TPDTJ:
Como nos mercados cambiais a taxa de câmbio spot EUR/USD atual é igual a 1,5, então
segundo a TPDTJ, o que tenderá a acontecer é uma descida de E0s, de 1,5 para 1,095, i.e.
espera-se uma apreciação do EUR face ao USD.
221
Teoria da paridade coberta das taxas de juro (1/2)
A teoria da paridade coberta das taxas de juro sugere que se verifica a seguinte igualdade:
Esta equação mostra que, em geral, a taxa de câmbio forward difere da taxa de câmbio spot.
As duas taxas de câmbio só seriam iguais se as taxas de juro doméstica e estrangeira fossem
iguais.
- Esta diferença explica porque razão a igualdade tem que se verificar no caso da paridade
coberta, e apenas se pode dizer que tende a verificar-se no caso da paridade descoberta. No
caso da paridade descoberta, a teoria diz que se a igualdade não se verificar, tendem a
ocorrer movimentos de capitais de natureza especulativa. No caso da paridade coberta, se a
igualdade não se verificasse, existiriam oportunidades de arbitragem. Enquanto o especulador
espera um ganho sem ter a certeza de o obter, o arbitragista espera um ganho tendo a
“certeza” que o vai obter.
- Segundo, sabendo a E1S,e, e sabendo as taxas de juro Rdom e Rfor (determinadas pela política
monetária dos bancos centrais doméstico e estrangeiro), a equação da paridade descoberta
diz-nos qual tenderá a ser a taxa de câmbio spot no presente, E0S.
- Terceiro, dada a E0S e Rdom e Rfor, a equação da paridade coberta diz-nos qual deve ser a
taxa de câmbio forward, E1fw0.
Se a taxa forward é inferior à taxa spot, então para que a igualdade acima se verifique, o rácio
(1+Rdom)/(1+Rfor) tem que ser superior a 1. Isso significa que a taxa de juro das OT da zona
euro (Rdom) tem que ser superior à taxa de juro das OT dos EUA (Rfor).
225
Exercício 2 TPCTJ
EXERCÍCIO – Suponha que atualmente cada 2 dólares valem 1 euro. Os investidores
esperam que dentro de 1 mês a taxa de câmbio seja de 3 dólares = 1 euro. Que estratégia
recomendaria a um investidor que não dispõe de qualquer capital inicial para investir? Qual
seria o ganho deste investidor se a taxa de juro das OT dos EUA fosse 0,5%/mês e na zona
euro fosse 0,4%/mês?
RESOLUÇÃO – A taxa de câmbio spot EUR/USD atual ao incerto é Es=1/2 e a taxa esperada
é Es,e=1/3. Ou seja, espera-se dentro de 1 mês uma apreciação do EUR face ao USD. Se o
EUR vai valer mais no futuro face ao USD, então o investidor pode pedir USD emprestados
hoje, converter para EUR e aplicar a 1 mês. Daqui a 1 mês, o investidor converte os EUR
recebidos para USD e paga o empréstimo (e os juros) em USD.
226
Mercados Financeiros
Capítulo 8 – Mercado de
Derivados
227
Conceito de derivado
Conceito de derivado: o derivado é um instrumento financeiro e um contrato
que tem por referência um ou vários ativos (o subjacente), variando o valor do
derivado em função do preço daquele
Ativo subjacente – ex. ação de uma empresa, índice de ações ou algo material
como o preço do petróleo, de cereais
228
Vantagens dos derivados
Os derivados favorecem a liquidez e a profundidade dos mercados financeiros
229
Exemplos de Mercados de Derivados
Mercados não europeus:
Mercados europeus:
230
Derivados por ativo subjacente
231
Fonte: www.emeraldinsight.com
Maiores Bolsas de Derivados
232
Fonte: Futures Industry Association
Forwards
Contrato entre duas partes, em que uma das partes se compromete a comprar
(posição longa) e a outra parte se compromete a vender (posição curta) um
determinado ativo, numa data futura determinada e a um preço determinado.
233
Forwards – diagrama de resultados
Como as taxas de juro subiram, o dealer paga à empresa AABB, no vencimento do FRA,
a seguinte quantia:
- Em termos de notação, este FRA define-se como um FRA 3x9, ou seja o contrato vence
daqui a 3 meses, e daqui a 9 meses são pagos os juros associados à Euribor 6m. O prazo
da taxa de juro é (9-3) meses.
- A expressão acima mostra o payoff da parte longa. Para o payoff da parte curta, basta
trocar no numerador (6%-5,5%) por (5,5% - 6%).
236
Exemplo forward cambial
- Suponha que a empresa europeia AABB vai receber USD daqui a 3 meses 12
milhões USD e quer fixar já o preço em EUR para converter esses USD. A
cotação do forward feita pelo dealer é de 0,925€ por cada USD a vender daqui a
3 meses.
Ou seja, com o contrato forward a empresa garante que daqui a 3 meses irá
receber 12.000.000 USD x 0,925€/USD = 11.100.000€.
O mesmo é dizer que a empresa garante um preço de venda de 0,925€ por
cada USD.
Se, por exemplo, daqui a 3 meses a taxa spot do EUR face ao USD for de
0,9€/USD, então a empresa ganhará com a operação, porque venderá os USD
a um preço superior ao preço spot da altura. O ganho será: (0,925 – 0,9) x
12.000.000 = 300.000€.
Se, pelo contrário, a taxa de câmbio spot daqui a 3 meses for superior a
0,925€/USD, então a empresa terá prejuízo com a operação. No entanto, a
empresa teve sempre a vantagem de poder contar com um valor certo em EUR,
que definiu 3 meses antes, eliminando assim a incerteza do cash flow futuro.
237
Exercício Forward
EXERCÍCIO: Suponha que um investidor celebrou, no momento 0, um contrato forward
para a compra de 10.000 ações da EDP ao preço de 3€ por ação. Se até à maturidade do
contrato não houver pagamento de dividendos, e se na maturidade o preço das ações da
EDP for de 3,2€:
RESOLUÇÃO:
1- o payoff do comprador é 10.000 x (3,2€ – 3€) = 2000€
238
Futuros
Contrato entre duas partes, que estabelece a mútua obrigação de compra e venda de
uma determinada quantidade de um ativo (subjacente), num local e numa data futura, a
um preço previamente definido
Posição longa -> compra do contrato; Posição curta -> venda do contrato
No caso dos futuros cambiais, o contrato traduz-se num acordo para comprar ou vender
uma determinada quantidade de uma determinada divisa, a uma taxa de câmbio pré-
determinada, num dado momento futuro
240
Principais tipos de Futuros
Os futuros dividem-se em dois grandes grupos: i) futuros de mercadorias (commodity
futures) p.ex. produtos agrícolas, metais preciosos, petróleo; e ii) futuros financeiros
(financial futures) p.ex. obrigações, ações, divisas.
Futuros de taxas de juro de médio e longo prazo – contratos para comprar ou vender a
um dado preço, numa data futura acordada previamente, uma obrigação de mlp do
Estado
Futuros cambiais - contratos para comprar ou vender a um dado preço, numa data futura
acordada previamente, uma determinada divisa.
241
Principais caraterísticas dos contratos de futuros (1/4)
1- São contratos padronizados (o que lhes confere maior liquidez);
5- A liquidação do contrato pode ser física (caso haja lugar à entrega do ativo
subjacente, na maturidade) ou financeira (faz-se a diferença entre o que se tem a
receber e a pagar, não havendo lugar à entrega do ativo subjacente);
243
Principais caraterísticas dos contratos de futuros (3/4)
9- Margens: montantes fixados pela entidade gestora do mercado que devem ser
depositados em dinheiro ou títulos pelo cliente que transaciona um futuro.
Existem três tipos principais de margens. A margem inicial é o depósito inicial
feito pelo comprador ou vendedor aquando da abertura da conta. A margem de
manutenção é o valor mínimo que a margem pode ter. Margin call é o depósito
adicional que o cliente deve efetuar quando a margem de manutenção é violada.
Esse depósito adicional deve ter um valor que permita que a margem inicial seja
reposta;
244
Exercícios 1 e 2: ativação da margin call
245
Exercícios 1 e 2: resolução
246
Principais caraterísticas dos contratos de futuros (4/4)
13- Posições longas e curtas:
Caraterísticas
Momento inicial – no início do swap não há pagamentos de cash flows de uma parte a
outra, logo o valor do swap no início do contrato é zero. A exceção são os swaps
cambiais, em que uma parte entrega uma quantia (nocional) de determinada moeda à
outra parte, e recebe da outra parte uma quantia (nocional) equivalente noutra moeda; o
valor do swap cambial no início do contrato também é zero.
Cash flows – nas datas de pagamentos dos cash flows (em dinheiro) ambas as partes
fazem pagamentos uma à outra e, normalmente, costuma apurar-se o valor líquido
associado a esses pagamentos (netting), o que significa que apenas uma parte faz um
pagamento (menor) à outra. Nos swaps cambiais não se faz o netting.
Vencimento – na data de vencimento há troca de capital (nocional). É como se cada
parte reembolsasse o empréstimo que a outra lhe fez.
249
Tipos de swaps (1)
Swaps cambiais (currency swaps) – cada parte faz pagamentos de juros à outra parte
numa moeda diferente. Os swaps de taxa de câmbio podem ser perspetivados como dois
empréstimos (ou aplicações) recíprocos, entre duas entidades, de montante equivalente
e de idêntico prazo, todavia expressos em moedas diferentes, cada qual com a sua taxa
de juro específica.
251
Outro exemplo de swap de taxa de câmbio
Plain vanilla swap – é um swap de taxa de juro em que uma parte paga uma taxa de
juro fixa e a outra paga uma taxa de juro variável, ambas na mesma moeda.
253
Exemplo de interest rate swap (IRS)
Note-se que o capital inicial e final
não entram nas trocas de cash
flows. No início do contrato, a GE
teria que pagar 25.000.000 USD ao
JPM, mas também teria de receber
os mesmos 25.000.000 USD. O
mesmo aconteceria no vencimento
do contrato. Assim, fazendo o
netting, os cash flows anulam-se.
Os equity swaps distinguem-se dos swaps cambiais ou dos swaps de taxa de juro em
duas vertentes: i) a parte que faz os pagamentos a taxa fixa pode também ter que fazer
pagamentos variáveis baseados no retorno de uma ação ou de um índice de ações (p.ex.
supor que num equity swap, um investidor paga o retorno do PSI-20 ao dealer e o dealer
paga uma taxa fixa ao investidor. Se o PSI-20 valorizar o investidor tem que pagar ao
dealer, mas se o PSI-20 desvalorizar, é o dealer que paga o retorno do PSI-20 ao
investidor, além do pagamento de taxa fixa que o dealer tem que prestar ao investidor);
ii) os pagamentos não são conhecidos previamente (nos swaps cambiais ou de taxa de
juro, a taxa de juro variável é conhecida no início do período).
Os cash flows do swap são os seguintes: Se, por hipótese, na data de início do
swap, o índice S&P500 TR fosse
3517,76, e em 31/mar seguinte fosse
3579,12 então a valorização do índice
seria 1,74%, e a VAAPX pagaria ao
dealer 100.000.000 x 1,74% =
1.740.000 USD.
Fazendo o netting entre o montante a
receber e a pagar, em 31/mar a
VAAPX teria que pagar 1.740.000 –
1.602.740 = 137.260 USD.
Se em 30/jun o índice desvalorizasse para 3452,78, então desta vez seria o dealer a pagar
a VAAPX o retorno do índice: 100.000.000 x (-3,53%) = 3.530.000 USD, e ainda o
pagamento a taxa fixa de 1.620.548 USD, o que totalizaria 5.150.548 USD pagos por MWD
a VAAPX em 30/jun. 256
Exemplo de equity swap (2/2)
A figura seguinte mostra os cash flows envolvidos na posição longa e no equity swap. Note-
se que a conversão da carteira de ações num ativo a taxa fixa não é perfeita. Só seria caso a
carteira de ações de VAAPX coincidisse exatamente com a carteira do S&P500 TR. Em
alternativa, a VAAPX podia pedir ao dealer um swap com cobertura perfeita, mas neste caso
o dealer provavelmente cobraria um fee mais elevado (p.ex. pagando a VAAPX uma taxa
fixa inferior a 6,5%).
257
Opções
Definição - contrato no qual se consagra o direito (mas não a obrigação) de comprar
(call option) ou de vender (put option) uma dada quantidade (contract size) de um
determinado ativo (ativo subjacente), a um determinado preço (strike price), numa dada
determinada (opção europeia), ou até uma data determinada (opção americana).
Nas opções, o comprador paga para ter uma escolha (e não uma obrigação). O
vendedor é que tem a obrigação de ser a contraparte do comprador caso este deseje
exercer a opção.
258
Opções – diagrama de resultados
Para cada uma das quatro posições básicas, o payoff na maturidade é o seguinte (X é o
strike price ou preço de exercício, e ST é o preço do ativo subjacente na maturidade do
contrato). long call: max (0, ST – X); short call: – max (0, ST – X); long put: max (0, X –
ST); short put: – max (0, X – ST).
Estes diagramas de resultados não consideram o preço (prémio) pago pelo comprador
da opção e recebido pelo vendedor da opção. Para incluir esse prémio basta deslocar
para baixo os diagramas long e deslocar para cima os diagramas short. 259
Principais tipos de Opções (1/3)
1. Stock options (equity options) – opções sobre ações
4. Interest rate options – opções sobre taxas de juro. Conferem o direito de fazer um
pagamento a uma determinada taxa de juro e de receber um pagamento a outra taxa de
juro. A liquidação é financeira.
interest rate call – o comprador tem o direito de fazer um pagamento a uma taxa de juro
conhecida (strike rate) e de receber um pagamento a uma taxa de juro desconhecida
(taxa subjacente). O payoff da call no vencimento é o seguinte (note-se que o payoff não é
logo pago na maturidade da opção, mas sim no final do prazo da taxa subjacente; isto
deve-se ao facto de as opções serem normalmente usadas para cobertura de
empréstimos a taxa variável, em que a taxa é determinada num momento e os juros são
pagos mais tarde):
260
Principais tipos de Opções (2/3)
interest rate put – o comprador tem o direito de fazer um pagamento a uma taxa de juro
desconhecida (ativo subjacente) e de receber um pagamento a uma taxa de juro
conhecida (strike rate). O payoff da put é o seguinte (quem concede empréstimos muitas
vezes usa as interest rate put options para cobrir o risco de queda das taxas de juro
variáveis):
5. Currency options – opções cambiais. Dão o direito de comprar (call) ou vender (put)
uma divisa (ativo subjacente) a uma determinado preço (taxa de câmbio). Muitas
empresas usam estas opções para se protegerem da valorização da divisa.
261
Exemplo de uma opção cambial
- Uma opção com maturidade de 1 ano para comprar 100 ienes a um preço
de exercício de €0,800 (aproximadamente 125 ienes/€) pode custar €0,0440
(prémio da opção);
- Uma opção de venda nos mesmos termos contratuais pode custar €0,0217.
- Vejamos os diagramas de resultados no vencimento:
262
Principais tipos de Opções (3/3)
6. Options on futures – opções sobre futuros. Uma call confere o direito de entrar longo
num contrato de futuros (ativo subjacente) a um determinado preço do futuro (strike price).
Uma put confere o direito de entrar curto no contrato de futuros a um determinado preço.
Muitas destas opções têm a mesma data de vencimento do contrato de futuros
subjacente, pelo que na prática tratam-se de opções sobre o ativo subjacente do futuro.
263
Exercícios opções (1)
1- Suponha que um investidor comprou por 0,40€ uma call option sobre ações da
empresa AB; o preço de exercício da call option é 3€. Se na data de
maturidade do contrato, o preço das ações da empresa AB for de 4€, o
investidor deve exercer a opção?
R: O ativo subjacente é tratado como se fosse uma ação que vale $1241,60. Se
na maturidade a opção estiver in-the-money (i.e., se ST > 1250), o comprador
exerce-a e o vendedor paga 250 x (ST – $1250).
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Exercícios opções (2)
3- Suponha que um dealer disponibiliza um contrato de call options sobre uma
OT com um strike price de 98%. O contrato cobre 5 milhões EUR de valor
nominal da OT e tem liquidação financeira. Suponha que a opção é americana
e que um comprador exerce-a quando o preço de mercado da OT atinge
99,5%. Qual o lucro do comprador?
4- Considere opções sobre a taxa de juro LIBOR a 180 dias. Assuma que o strike
é 5,5% (taxa anual) e que o nocional é 10 milhões EUR. Se na data de
maturidade a LIBOR a 180 dias for de 6%, a call option nessa data estará in-
the-money, at-the-money ou out-of-the-money?
5.1- Suponha que na maturidade o preço de cada USD é superior a 0,9€. Quanto
tem a empresa que pagar pelos 50 milhões de USD?
R: A empresa exerce a opção de compra e paga 0,9€/$ x $50.000.000 =
45.000.000€
5.2- Suponha que na maturidade o preço de cada USD é inferior a 0,9€. Quanto
tem a empresa que pagar pelos 50 milhões de USD?
R: A empresa não exerce a opção de compra, preferindo ir ao mercado cambial
comprar os USD à taxa spot da altura, gastando um valor inferior a
45.000.000€.
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Exercícios opções (4)
6- Determine o payoff da call e da put do seguinte contrato de opções: o ativo
subjacente é um contrato de futuros que vale 110,5% de VN na data de
vencimento da opção; as opções são sobre contratos de futuros de 1 milhão €
do ativo subjacente. O preço de exercício é 110%.
R: A empresa pode comprar call options sobre jet fuel, e assim sabe exatamente
qual é o preço máximo que vai pagar pelo jet fuel daqui a 3 meses. Caso não
haja contratos de opções disponíveis sobre o jet fuel, a empresa pode
alternativamente comprar call option sobre o preço do petróleo. Como a
correlação entre o preço do jet fuel e o preço do petróleo é elevada, a
empresa protege-se indiretamente contra a subida do preço do jet fuel.
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Derivados de Crédito
São contratos financeiros que possibilitam a gestão das exposições aos riscos
de crédito. Proporcionam proteção contra reduções na qualidade de crédito
dos devedores, ou mesmo contra o incumprimento, e permitem que a parte do
risco de crédito associada aos investimentos seja separada, valorizada e
transacionada.
i), ii) e iii) – formas que se enquadram nas variantes unfunded, i.e. sem ativos
de suporte; são tratados como off-balance sheet.
iv) e v) – formas que apresentam ativos de suporte e enquadram-se nas
variantes funded (derivado de crédito incorporado ou embutido); são tratados
como on-balance sheet.
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Derivados de Crédito - Resumo
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FONTE: Ferreira, D. (2011)