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UNISINOS- Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

Títulos de Crédito, Contratos Empresariais, Sistema Financeiro e Mercado de


Capitais - Horário 42

Prof. Everson da Silva Camargo


e-mail: everson.camargo@gmail.com – escamargo@unisinos.br

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

1 – Mercado Financeiro:

O mercado financeiro, em sentido amplo, abrange o mercado bancário (mercado


financeiro em sentido estrito), o de câmbio e o de capitais (mercado de valores mobiliários).

Podemos verificar em qualquer tipo de sociedade dois tipos distintos de


indivíduos:

a) poupadores: não utilizam a totalidade de sua renda, tendo, portanto,


recursos excedentes;

b) tomadores de recursos: necessitam de mais recursos do que possuem


para o desenvolvimento de uma determinada atividade.

O mercado financeiro em sentido estrito, ou mercado bancário, é aquele em que


as instituições financeiras centralizam a oferta e a procura de recursos, intermediando as
operações de transferência e a alocação deles entre poupadores e tomadores, assumindo os
riscos das operações.

Caracteriza-se, assim, pela chamada intermediação financeira, entendida como a


operação na qual determinada instituição é, simultaneamente, sujeito ativo e passivo:

a) tomando recursos emprestados dos poupadores (operação passiva) e


comprometendo-se a devolvê-los, nas condições contratuais e podendo implicar o pagamento
de juros;

b) emprestando estes recursos para novos tomadores (operação ativa),


tendo direito de cobrá-los acrescidos de juros.

A diferença entre a remuneração cobrada nas operações ativas e o valor devido


pelas operações passivas é denominado spread e, de modo simplista, seria o ganho da
instituição financeira (bancária) pela atividade de intermediação.
2 –Mercado de Capitais:

O mercado de capitais é aquele em que os investidores, poupadores, alocam o


seu excedente de recursos diretamente no tomador, na forma de investimento, para o
desenvolvimento de uma determinada atividade, promovendo a formação do capital, ligando
poupança e investimento, com o intuito de aumentar a eficácia da aplicação econômica dos
recursos disponíveis.

De modo diverso do mercado financeiro em sentido estrito ou mercado bancário,


o mercado de capitais é marcado pela desintermediação financeira, pois nele as operações
são efetuadas diretamente entre poupadores e tomadores.

As instituições financeiras não são partes das operações no âmbito do mercado


de capitais. Elas participam de modo acessório, promovendo este encontro direto entre
poupadores e tomadores, e não captando e emprestando recursos em nome próprio, como
ocorre nas operações de intermediação financeira5.

O que caracteriza a desintermediação financeira no mercado de capitais não é a


ausência de instituições financeiras ou outras instituições autorizadas a funcionar pelo Banco
Central, mas, sim, o papel que desempenham. No mercado de capitais, ou no de valores
mobiliários, estas instituições não captam recursos de terceiros para repassar tais recursos,
ou seja, não executam intermediação financeira.

Entretanto, por questões regulatórias e operacionais, é essencial e obrigatória a


existência e intervenção de instituições financeiras para que as operações no mercado de
capitais se realizem, mas, repita-se, sem que façam intermediação financeira.

Na medida em que o mercado de capitais possibilita a canalização de recursos


para os tomadores ou entes, no jargão econômico, deficitários, por meio da captação direta
da poupança, funciona como ferramenta de promoção do desenvolvimento econômico, que
depende da expansão da capacidade produtiva (vultosos investimentos).

O crescimento econômico está associado a elementos incentivadores de


poupança e sua alocação eficiente em investimentos. O mercado de capitais, ao aproximar
diretamente poupadores e tomadores de recursos, incentiva o aumento da produtividade,
gerando, portanto, desenvolvimento econômico.

O mercado de capitais é um sistema de distribuição de valores mobiliários, que


tem o objetivo de proporcionar liquidez aos títulos de emissão de companhias e viabilizar seu
processo de capitalização.

É constituído pelas:

a) bolsas de valores,

b) sociedades corretoras

c) outras instituições financeiras autorizadas.


No mercado de capitais, os principais títulos negociados são:

a) os representativos do capital de empresas (as ações)

b) de empréstimos tomados, via mercado, por empresas (debêntures, notas e


bônus de subscrição), que permitem a circulação de capital para custear o desenvolvimento
econômico.

O mercado de capitais abrange, ainda:

a) as negociações com direitos e recibos de subscrição de valores mobiliários,

b) certificados de depósitos de ações

c) demais derivativos autorizados à negociação.

Em outras palavras, o mercado de capitais é uma modalidade disponível às


companhias de se financiarem, de financiarem seus projetos sem precisarem recorrer a um
empréstimo bancário.

Chama-se de mercado primário aquele em que ocorrem as captações diretas


da poupança pelos tomadores, por meio, por exemplo, da subscrição de valores mobiliários.

O mercado secundário, por sua vez, é aquele em que os valores mobiliários


são livremente negociados entre os interessados. Tem por função principal conferir liquidez
ao investimento, incentivando, assim, a alocação inicial dos recursos no âmbito do mercado
primário, em face da possibilidade de, posteriormente, realizar a venda dos valores
mobiliários para outros interessados. O mercado secundário é marcado pela existência de
ambientes de negociação para os valores mobiliários subscritos no mercado primário (por
exemplo: bolsas de valores).

3 – Sistema Financeiro Nacional (SFN):

O sistema Financeiro nacional poder ser entendido como o conjunto de


instituições que integram o mercado financeiro, quer regulamentando e fiscalizando seus
participantes (agentes normativos), quer facilitando a transferência de recursos financeiros
entre poupadores e tomadores (instituições financeiras).

A estrutura do Sistema Financeiro Nacional (SFN) foi definida pela Lei nº


4.595/1964, que em seu Art. 1º indicou seus principais integrantes:

a) Conselho Monetário Nacional (CMN);

b) Banco Central do Brasil (Bacen ou BCB;

c) Banco do Brasil S. A. (BB);

d) Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDES);


e) das demais instituições financeiras públicas e privadas.
A estrutura do SFN é a disposição e ordem de seus elementos constitutivos, ou
seja, a ordem, disposição e interação existente entre os participantes ou componentes do
sistema financeiro, sistema que, a seu turno, tem por foco a atividade financeira na
economia.

Em termos funcionais, os integrantes do SFN podem ser agrupados em:

a) órgãos normativos: o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Conselho


Nacional de Seguros Privados (CNSP) e o Conselho Nacional de Previdência Complementar
(CNPC).

São todos órgãos colegiados e integrantes do Poder Executivo da União. Esses


conselhos possuem poder normativo, ou seja, editam normas gerais para os agentes e
participantes do mercado, mas sob os limites da legalidade, ou seja, da lei em sentido estrito
(ato emanado do Poder Legislativo).

O CMN é o órgão normativo do SFN que tem competência sobre os mercados


financeiro e de capitais.

b) entidades supervisoras: têm como atribuição principal editar normas para o


funcionamento e controle dos operadores do SFN dentro de cada um dos segmentos ou
mercados.

São elas: Banco Central do Brasil; Comissão de Valores Mobiliários (CVM);


Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e Superintendência Nacional de Previdência
Complementar (PREVIC).

Trata-se de entidades especializadas que exercem poderes de supervisão e,


também, editam normas que completam as regras baixadas pelos órgãos de supervisão do
SFN.

Na esfera de competência do CMN, há duas entidades supervisoras, o Banco


Central e a CVM.

c) operadores: são pessoas físicas ou jurídicas que atuam profissionalmente no


mercado fazendo com que os recursos financeiros dos poupadores cheguem aos tomadores.

Dessa forma, quando o operador de mercado, para viabilizar esta migração de


recursos, assume obrigações em nome próprio, exerce a intermediação financeira (no caso
do banco: capta recursos financeiros por meio de depósito e os empresta por meio de
mútuo, assim figura como devedor e credor, respectivamente, em cada contrato).

Por outro lado, quando o operador atua sem assumir obrigações em nome
próprio, mas, de alguma forma, possibilitando ou agregando valor à transferência de recursos
entre poupadores e tomadores, não exerce intermediação financeira, porém atua no mercado
e exerce uma atividade regulada e relevante por interferir na poupança popular (por
exemplo: uma corretora de valores representando investidores em negócio de bolsa e a
própria bolsa ao manter sistema de negociação).
Os principais operadores do SFN são:

a) instituições financeiras captadoras de depósito à vista (bancos comerciais,


bancos múltiplos com carteira comercial e cooperativas de crédito);

b) bancos de investimento;

c) corretoras e distribuidoras de valores;

d) corretoras de câmbio;

e) bolsas de valores e mercadorias;

f) Clearing houses (entidades de compensação e liquidação);

g) sociedades seguradoras;

h) sociedades de capitalização;

i) entidades abertas de previdência complementar;

j) entidades fechadas de previdência complementar.

4 – Conselho Monetário Nacional (CMN):

O Conselho Monetário Nacional (CMN) possui ampla atribuição normativa sobre


as diretrizes do mercado financeiro (em sentido amplo, logo englobando o mercado de
capitais), constituindo a autoridade máxima do SFN.

A função do CMN é exclusivamente deliberativa, exercida por meio de


Resoluções.

O órgão não dispõe de atribuições executivas, por isso a divulgação de suas


decisões, manifestadas por meio de resoluções, é feita pelo Banco Central.

No que diz respeito especificamente ao mercado de capitais, o CMN dispõe da


competência a ele atribuída nos termos do Art. 3º da Lei nº 6.385/1976, incluindo:

a) definir a política a ser observada na organização e no funcionamento do


mercado de capitais;

b) regular a utilização do crédito nesse mercado;

c) fixar, a orientação geral a ser observada pela Comissão de Valores Mobiliários


no exercício de suas atribuições;

d) definir as atividades da Comissão de Valores Mobiliários que devem ser


exercidas em coordenação com o Banco Central do Brasil;
e) aprovar o quadro e o regulamento de pessoal da Comissão de Valores
Mobiliários, bem como fixar a retribuição do presidente, diretores, ocupantes de funções de
confiança e demais servidores.

5 – Banco Central do Brasil (Bacen ou BCB):

O Banco Central do Brasil é a autoridade monetária brasileira, e funciona de


acordo com as diretrizes estabelecidas pelo CMN.

Entre as principais funções atribuídas ao Banco Central do Brasil, conforme


previsto no Art. 10 da Lei nº 4.595/65, incluem-se:

a) a emissão de moeda e execução dos serviços do meio circulante;

b) a formulação, execução e acompanhamento das políticas monetária, creditícia


e cambial, a fim de promover a estabilidade interna e externa da moeda;

c) a formulação execução e acompanhamento da política de relações financeiras


com o exterior e administração e guarda das reservas;

d) a supervisão e fiscalização do Sistema Financeiro Nacional, zelando pela


estabilidade das instituições financeiras;

e) o recebimento de depósitos compulsórios dos bancos e concessão de crédito a


eles.

O Banco Central do Brasil exercia ampla competência sobre o mercado de capitais


até 1978, por meio de sua Gerência de Mercado de Capitais (GEMEC). Mesmo após a criação
da Comissão de Valores Mobiliários, parte das atribuições concernentes à regulação do
mercado de capitais ainda era desenvolvida pelo Banco Central do Brasil, existindo ainda, por
longo período, um campo cinzento na delimitação da competência de ambas as autarquias
(como, por exemplo, com relação aos fundos de investimentos, que passaram a ser de
competência exclusiva da CVM apenas em 2002).

Atualmente, o Banco Central do Brasil exerce ainda algumas funções relacionadas


ao mercado de capitais, principalmente no que diz respeito às:

a) corretoras,

b) distribuidoras,

c) instituições de custódia (responsável pela guarda de ativos),

d) compensação (cálculo das obrigações líquidas dos participantes de um sistema


de liquidação)
e) liquidação (conjunto de processos que efetiva a transferência de ativos e
recursos financeiros entre compradores e vendedores).

Estas instituições, por exemplo, devem, entre outras, ser previamente autorizadas
a funcionar pelo Banco Central.

6 – Comissão de Valores Mobiliários (CVM):

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi criada em 1976, pela Lei nº


6.385/76, mas passou a funcionar efetivamente em 1978.

É o órgão regulador do mercado de capitais e, assim como o Banco Central do


Brasil, deve atender às diretrizes determinadas pelo CMN.

A CVM é uma autarquia em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda,


com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de:

a) autoridade administrativa independente;

b) ausência de subordinação hierárquica;

c) mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes; e

d) autonomia financeira e orçamentária.

A CVM é administrada por um Presidente e quatro Diretores, que integram o seu


Colegiado (instância decisória máxima do órgão). Referidos integrantes são nomeados pelo
Presidente da República, depois de aprovados pelo Senado Federal, com mandato de cinco
anos, vedada a recondução. A cada ano um quinto dos membros do Colegiado é renovado.

Estão sujeitos ao poder regulamentar da CVM:

a) as companhias abertas;

b) as corretoras de valores mobiliários;

c) as distribuidoras de valores mobiliários;

d) os administradores de carteiras (conhecidos como gestores), analistas e


consultores de valores mobiliários;

e) os demais intermediários do mercado de capitais (principalmente bancos de


investimentos);

f) as bolsas de valores e de mercadorias;

g) as entidades administradoras de mercado de balcão;


h) as entidades de custódia, compensação e liquidação (também conhecidas
como clearing houses);

i) os fundos de investimento;
j) os investidores de modo geral.

A CVM, no exercício da sua atividade regulatória, dispõe de função normativa,


que nos termos do art. 8º da Lei nº 6.385/76, recai sobre as matérias previstas na referida
lei e na Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976 (“Lei das Sociedades por Ações”).

As principais matérias objeto do poder normativo da CVM são:

a) a definição dos requisitos aplicáveis à obtenção do registro de companhias


abertas;

b) a definição de regras específicas aplicáveis às companhias abertas;

c) a definição dos requisitos aplicáveis à obtenção do registro de ofertas públicas


de valores mobiliários;

d) a definição dos requisitos aplicáveis ao credenciamento de auditores


independentes e administradores de carteiras de valores mobiliários;

e) a definição das regras aplicáveis à organização, funcionamento e operações


das bolsas de valores e de mercadorias;

f) a definição de regras relativas à negociação e intermediação no mercado de


valores mobiliários;

g) a definição de regras relativas à administração de carteiras e a custódia de


valores mobiliários;

h) a definição de regras relativas à constituição e funcionamento de fundos de


investimento;

i) a definição de regras de conduta relativas aos agentes que atuam no mercado


de valores mobiliários.

O poder normativo da CVM está sujeito ao princípio da legalidade, de modo que


as regras por ela estabelecidas não podem extrapolar os limites legais estabelecidos.
Entretanto, devido ao dinamismo e às peculiaridades do mercado de capitais, seu poder
normativo é mais amplo do que o de diversas outras autarquias.

7 – Regulação do Mercado de Capitais:

Juridicamente, a Constituição da República de 1988, especialmente em seu art.


174, embasa a intervenção do Estado no domínio econômico para regular e fiscalizar o
mercado de valores mobiliários, a fim de compatibilizar o princípio da liberdade econômica e
da livre iniciativa com a defesa dos direitos e interesses sociais.
Em termos legais, o poder regulamentar da CVM encontra-se positivado no inciso
I do art. 8º da Lei nº 6.385/76, que prevê a competência da Autarquia para regulamentar,
com observância da política definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), as matérias
expressamente previstas na própria Lei nº 6.385/76 e na lei societária (Lei nº 6.404/1976).

A intervenção do Estado sobre as atividades econômicas, embora dependa


essencialmente de expressa disposição legal, mormente quanto ao estabelecimento de
finalidades e princípios gerais, merece ser disciplinada por meio de normas administrativas
reguladoras, que denotam maior autonomia e agilidade para a regulação da complexa e
dinâmica realidade social subjacente.

O escopo da atividade reguladora vem sempre definido como o atingimento de


um resultado prático que alie a maior satisfação do interesse público substantivo com o
menor sacrifício possível de outros interesses constitucionalmente protegidos, bem como,
secundariamente, com o menor dispêndio de recursos públicos disponíveis.

Dessa forma, infere-se que a Lei nº 6.385, já em 1976, considerando inclusive o


dinamismo próprio do mercado de valores mobiliários e a necessidade de soluções técnicas
permanentemente adaptáveis e flexíveis, sabiamente atribuiu à CVM importante competência
reguladora para disciplinar as atividades por ela fiscalizadas, dotadas de particular
complexidade técnica e constantemente suscetíveis a mudanças econômicas e tecnológicas.

Por oportuno, também não pode deixar de ser registrado que a regulação
exercida pela CVM (art. 8º, § 3º, da Lei nº 6.385, de 1976) conta com a relevante
característica da consensualidade que, além de legitimar ainda mais a atuação do órgão
regulador, amplia o controle de juridicidade que deve ser exercido sobre ele.

Em primeiro lugar, o exercício do poder normativo da CVM objetiva,


primordialmente, a manutenção da eficiência e da confiabilidade do mercado de valores
mobiliários, condições consideradas fundamentais para assegurar o regular desenvolvimento
desse mercado, inclusive em linha com as finalidades expressamente previstas no art. 4º da
lei.

Para tanto, o modelo fundamental de regulação das atividades econômicas no


âmbito do mercado de valores mobiliários baseia-se no princípio da informação completa a
ser prestada pelos agentes do mercado de capitais ao público investidor ( full disclosure).

A opção que se fez, portanto, no Brasil e ao redor do mundo, foi pelo sistema de
disclosure mandatório, sob o fundamento de que a proteção do investidor se dá justamente
pela informação. As forças espontâneas de mercado e a soma dos interesses privados seriam
insuficientes para assegurar a existência de um sistema de informações eficiente, impondo-se
a instituição da obrigatoriedade de fornecimento das informações consideradas necessárias.

Além de permear toda a Lei nº 6.404/76, a política legal de disclosure tem


previsão expressa, dentre outros dispositivos, no art. 4º, VI, e no art. 22, § 1º, da Lei nº
6.385/76, os quais, respectivamente, atribuem à CVM o dever de assegurar o acesso do
público a informações sobre os valores mobiliários negociados e sobre as companhias
emissoras, bem como expedir normas sobre as informações que as companhias devam
divulgar e a periodicidade dessa divulgação.
Afora os registros de emissão e de companhia (arts. 19 e 21 da Lei nº 6.385/76),
a lei também prevê uma série de outros registros para o regular desempenho de
determinadas atividades no âmbito do mercado de valores mobiliários:

a) agente autônomo de investimento (art. 16, III),

b) de administrador de carteira de valores mobiliários (art. 23).

c) prestação de serviço de auditoria independente às companhias abertas e às


instituições, sociedades ou empresas que integram o sistema de distribuição e intermediação
de valores mobiliários (art. 26).

BLOCKCHAIN E DIREITO EMPRESARIAL

1 – Blockchain:

A Blockchain é uma invenção tecnológica que possibilita a criação de um sistema


de registro de dados compartilhados entre usuários que estejam registrados em sua rede.

Assim, pode-se definir o blockchain como uma base distribuída de dados que
mantém uma lista encadeada com todos os registros dos elementos de uma rede, bem como
registros de qualquer criação de novos elementos e modificação destes, impossibilitando
revisão e adulteração dos mesmos.

A tecnologia desenvolvida na blockchain surgiu, inicialmente, para ser um sistema


capaz de registrar e armazenar a escrituração das transações realizadas com a moeda virtual
bitcoin. A segurança e a validade das transações financeiras no mercado tradicional são
garantidas por um terceiro confiável que geralmente é uma instituição bancária.

Para eliminar a necessidade desse agente centralizador, a blockchain surgiu como


uma alternativa segura para a realização de operações financeiras sem custos, sem
burocracia e sem a necessidade de qualquer tipo de intervenção.

Desenvolvida por indivíduo que utilizava o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, a


engenharia operacional conhecida como blockchain (“cadeia de blocos” em tradução literal),
tinha como objetivo precípuo evitar que fossem utilizadas uma mesma quantia de bitcoins
para realização de transações financeiras diversas.

No entanto, a proteção oferecida despertou a atenção do mercado financeiro


paras as inúmeras possibilidades criadas por essa tecnologia de proteção criptográfica.

Em linhas gerais, sem adentrarmos nos detalhes técnicos que são mais facilmente
assimilados pelos cientistas da computação do que pelos operadores do direito, os dados
inseridos na blockchain são registrados e processados através de um sistema de rede
descentralizada conhecido como peer-to-peer (P2P).
Através desse protocolo de rede, vários computadores estão interligados em uma
cadeia que trabalha no processamento das transações com vistas à garantir a integridade e
veracidade destas negociações. Dessa maneira, qualquer transação financeira é visível a
todos os membros da rede bitcoin e uma transação é realizada mediante a transferência de
valor de um terminal de computador ( peer) para outro computador ligado da rede, sendo
considerado um nó qualquer ponto da rede previamente identificado.

Como há vários membros na cadeia de processamento, as tentativas de violação


e ataques de hackers são detectadas de maneira mais rápida por um dos terminais ( peer),
tornando difícil a ocorrência de fraudes nas transferências virtuais de valores monetários.

Cada “bloco” é unidade de registro de informações criptografadas, que, para ser


validada, se conecta com um bloco anterior por ordem cronológica formando uma cadeia
sequencial de registros armazenada em rede que não pode ser quebrada (daí o termo
blockchain).

2 – Bticoins e Moedas Alternativas:

Os bitcoins são moedas virtuais que podem ser utilizadas em qualquer tipo de
transação financeira, sem a necessidade de intermediação de bancos ou de qualquer outra
instituição creditícia. Já existem diversas empresas no Brasil e no mundo que aceitam
pagamentos com essa moeda virtual.

Após a expansão do bitcoin, outras moedas virtuais surgiram, tais moedas apesar
de terem nomenclaturas próprias – podem ser citadas como as mais promissoras do
momento Wings, Gnosis, Zcash – são denominadas de forma genérica como altcoins
(“alternative coins”, ou “moedas alternativas”).

A criação de moedas virtuais virou tendência mundial, alguns governos como o da


Índia e do Japão já estudam a criação de uma moeda virtual emitida pelo Estado.

As moedas virtuais são diferentes das moedas eletrônicas (de curso forçado) em
vários aspectos, sobretudo por não possuírem existência física corpórea, tendo sua existência
apenas no mundo digital através de combinações binárias.

As moedas eletrônicas, por sua vez, podem ser materializadas em dinheiro físico,
sendo virtuais durante o período que for conveniente ao seu proprietário.

Em primeiro lugar, deve ser levada em consideração a disposição constitucional


acerca da emissão de moedas. O artigo 22, VI e VII da CF11 estabelece como competência
privativa da União legislar sobre sistema monetário, títulos e garantias dos metais, bem
como, legislar sobre política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores.

Já o artigo 21, VII, do texto constitucional estabelece como competência


administrativa exclusiva da União a emissão de moeda. A constituição estabelece ainda como
órgão autorizado a exercer essa competência o Banco Central do Brasil (artigo 164 da CF).

Dito isto, é importante esclarecer a maneira como os bitcoins são introduzidos na


economia.
Existem três formas para a aquisição de bitcoins:

a) compra em em casas de câmbios ou caixas eletrônicos especializados;

b) rcebimento pela prestação de um serviço ou venda de um produto;

c) processo de mineração.

O sistema de mineração é um dos pilares de sustentação da segurança na


blockchain. Para minerar bitcoins é necessário fazer o download de um software específico
que integra aquele dispositivo eletrônico (computador) ao sistema peer-to-peer da
blockchain.

Após a instalação desse programa, o usuário se torna um dos vários nós da


“cadeia de blocos”, tendo como função controlar em tempo real as transações realizadas para
validar as informações, garantindo, assim, a segurança das operações praticadas, bem como
impedindo a ocorrência de fraudes.

São os mineradores que permitem a realização de transações financeiras seguras


sem a necessidade de órgão centralizador. A remuneração é feita com uma pequena tarifa
descontada dos usuários que realizam a transação.

O ‘garimpo’ se dá de forma que a quantidade de fundos disponibilizada é ajustada


em uma crescente previsível e controlada – apenas 21 milhões de bitcoins serão criadas, com
uma escala pré-definida sobre a liberação delas até 2040 – tudo isso para evitar a versão
digital do “basta imprimir mais dinheiro”.

Os mineradores são responsáveis por adicionar ‘blocos’ de transações na rede,


ganhando por isso uma recompensa em bitcoins. Tecnicamente, qualquer um pode se tornar
um minerador e ganhar bitcoins, mas com o tempo os problemas se tornam mais difíceis e
apenas equipamentos especializados e de alta capacidade podem ajudar a resolvê-los.
Supercomputadores são usados para isso, e assumem o posto de perfuradoras digitais.

Hoje em dia, o equipamento para mineração já evoluiu para caros sistemas


computacionais adaptados para competir por novas bitcoins, e já é bem difícil que um novato
entre no jogo. Da escassez nasce o valor do Bitcoin – assim como o ouro, a demanda é
limitada e o esforço para consegui-lo é cada vez maior.

Os bitcoins não são injetados na economia como moedas, de certa forma eles são
aceitos no mercado como “títulos representativos de valor”.

3 – Smart Contracts:

Smart contracts ou “contratos inteligentes” são quaisquer tipos de contratos


capazes de se autoexecutarem, ou seja, de se cumprirem de forma automática.
O conceito de smart contracts foi desenvolvido pelo cientista da computação Nick
Szabo com o propósito de superar as inúmeras instabilidades presentes nos contratos
tradicionais, permitindo que, uma vez assinados, se executem de forma automática, sem a
necessidade de intervenção de terceiros estranhos à relação contratual.

Os smart contracts foram criados através de um código de programação que


pode ser executado diretamente por um computador, abandonando aquela ideia do contrato
como um documento impresso.

Atentos a esses novos rumos da tecnologia, muitos cientistas da computação e


entusiastas do direito eletrônico acreditam que os “contratos de papel” serão extintos e
substituídos pelos smart contracts.

Os contratos inteligentes permitem aos que aderem esse modelo negocial trocar
dinheiro, propriedades, compartilhamentos ou outra coisa qualquer que seja livre de conflito
sem intervenção de nenhum intermediário.

Para seu funcionamento, as partes devem acordar as condições que deverão ser
adimplidas para a realização do negócio. As regras definidas serão inseridas no sistema
operacional e deverão ser programadas em um código autoexecutável que, após a
“assinatura” e cumprimento das disposições contratuais, cumprir-se-á de forma irreversível e
automática.

Dentre as principais características dos smart contracts podemos destacar:

a) são contratos autoexecutáveis: pois não dependem da intervenção das partes.


Assim, quando os termos fixados no contrato são alcançados a ação seguinte é liberada
automaticamente;

b) são também seguros e imutáveis: há uma segurança e imutabilidade de todas


as ações do contrato, sendo imodificáveis as cláusulas fixadas pelas partes;

c) transparência: onde cada um que participa deste tipo de contrato pode


acompanhar em qual estágio se encontra a transação, assim como todas as ações que foram
realizadas neste percurso.

Portanto, resta evidente que os contratos inteligentes possuem atributos deveras


atrativos, que abrem as portas para sua utilização em toda a cadeia de produção de bens e
serviços. Entretanto, além das dificuldades técnicas para a implementação em larga escala
desse novo modelo contratual, também devemos estar atentos aos inúmeros aspectos legais
que precisam ser enfrentados.

Os contratos inteligentes dão mais autonomia às partes, pois não há a


necessidade de se confiar em alguém para que faça o papel de intermediador, como por
exemplo corretor, advogado, dentre outros.

Atualmente, para que as transações sejam revestidas de publicidade, é


necessário pagar emolumentos para que um notário conceda fé pública ao documento.
Porém, apesar de toda a burocracia que reveste os cartórios e toda a proteção que os selos
oficiais concedem aos documentos, ainda há um grande número de casos de falsificações.
Nos registros feitos na blockchain, o risco de que os dados sejam manipulados
por um terceiro mal-intencionado é praticamente inexistente, uma vez que a execução das
disposições contratuais é gerenciada automaticamente pela rede.

Cumpre salientar que, além da segurança contra falsificações, a blockchain


também é um eficaz sistema de armazenamento para os smart contracts, na medida em que
faz uso de uma plataforma descentralizada, capaz de executar os contratos inteligentes.

A plataforma responsável por essa verdadeira façanha é a Ethereum, que utiliza a


tecnologia blokchain para armazenar registros de transações em um arquivo. Essas
transações são verificadas e validadas pelo próprio usuário através do processo de
criptografia em cadeia.

As grandes corporações, atentas as inúmeras vantagens que os smart contracts


podem proporcionar, têm promovido iniciativas no sentido de garantir uma ampliação deste
novo modelo contratual no mercado.

No Brasil, não existe legislação específica que regulamente a celebração de


contratos através de meio eletrônico ou virtual. Nesse sentido, considerando que não há
regramentos específicos no Código Civil brasileiro, tem-se que os contratos eletrônicos são
classificados como atípicos, nos moldes do art. 425.

Portanto, diante da falta de legislação específica sobre o assunto, são aplicadas


as regras gerais que regem os contratos do diploma civilista. Todavia, os smart contracts
tendem a ser cada vez mais utilizados, visto que garantem mais celeridade, economia e
segurança nas transações cíveis e comerciais.

Assim, acredita-se que o uso de recursos tecnológicos como smarts contracts,


blockchain, dará início a uma nova era de contratos, tornando-os mais inteligentes e
dinâmicos. A legislação, consequentemente, precisa ser adaptada para atender as
peculiaridades dessa nova modalidade contratual.

FINTECHS

1 – O que é Fintech?

O nome fintech vem da junção de duas palavras em inglês: financial (finanças) e


technology (tecnologia).

Fintechs são negócios que, geralmente, começam como startups e objetivam


inovar e melhorar o sistema financeiro nacional.

As Fintechs funcionam por intermédio de plataformas tecnológicas e oferecem


soluções para otimizar e facilitar o acesso ao crédito ou até transações simples que, antes,
precisaria de um Banco para ser concretizada.

São exemplos de fintechs: o Nubank, Bidu, GuiaBolso e o PicPay.


É importante ressaltar que uma fintech não é um Banco.

As fintechs são empreendimentos financeiros que atuam nesse mercado no


seguimento de pagamentos e concessão de crédito, oferecendo agilidade, custos baixos,
mais acessibilidade, segurança, personalização e conveniência, ou seja, o foco dela é resolver
um problema do sistema financeiro visando sempre a melhor experiencia do cliente.

Elas, normalmente, precisam de uma instituição financeira para validar e/ou


intermediar algumas transações (Ex: O Nubank utiliza o Banco Bradesco como emissor de
pagamentos de boletos e o Neon tem parceria com o Banco Votorantim).

2 – Espécies de Fintechs:

As fintechs, por serem ligadas ao setor financeiro, que é uma das áreas mais
reguladas no Brasil, não escaparam dessa regulação, pois se trata de um setor que enfrenta
bastante burocracia para poder operar.

2.1 - Empresa Simples de Crédito (ESC):

Essa modalidade de empresa de crédito surgiu com a chegada da Lei


Complementar 167/2019 e tem como principal objetivo fomentar o desenvolvimento local.

Resumidamente, as características e requisitos das ESC são:

a) Destina-se às operações de empréstimos, financiamento e de desconto de


títulos de crédito;

b) Só pode atuar no âmbito municipal e distrital;

c) Deve adotar a forma de EIRELI (empresa individual de responsabilidade


limitada), LTDA (sociedade de responsabilidade limitada) ou EI (empresário individual);

d) Deve ser constituída exclusivamente por pessoas naturais (pessoas físicas);

e) Não há exigência de capital social mínimo;

f) A concessão de crédito somente pode ocorrer para microempreendedores


individuais - MEI, microempresas - ME e empresas de pequeno porte – EPP;

g) A lei não prevê a necessidade de autorização do BACEN para o seu


funcionamento.

2.2 - Sociedade de Crédito ao Microempreendedor e Empresa de Pequeno Porte (SCMEPP):


Essa sociedade de crédito nasceu com o advento da Lei nº 10.194/2000. Possui,
também, regulamentação do Banco Central do Brasil - Resolução nº 4.721/2019 e Circular
3.962/2019:

a) Destina-se às operações de financiamentos a pessoas físicas, a microempresas


e a empresas de pequeno porte;

b) Só pode ser constituída como Sociedade Anônima ou como Sociedade


Limitada;

c) O capital social mínimo é de R$1.000.000,00;

d) A constituição, organização e funcionamento dessas empresas são


disciplinados pelo Conselho Monetário Nacional;

e) Precisa de autorização do BACEN para funcionar;

f) Podem utilizar bens como garantia para a operação (alienação fiduciária);

g) São proibidas de captar recursos junto ao público e emitir títulos e valores


mobiliários.

2.3 - Sociedade de Crédito Direto (SCD):

Esta modalidade de Fintech é uma Instituição Financeira e é regulamentada pela


Resolução nº 4.656/2018 e pela Circular 3.898/2018, ambas do Banco Central do Brasil.

a) Destina-se às operações de empréstimo e de financiamento entre pessoas


(P2P) e análise e cobrança de crédito;

b) As operações devem ser feitas obrigatoriamente por meio de plataforma


eletrônica;

c) Pode emitir de moeda eletrônica;

d) Deverá obrigatoriamente operar com recursos próprios;

e) Só pode oferecer seus serviços para outras instituições financeiras, fundos de


investimento em direitos creditórios e companhias securitizadoras;

f) Deve ser constituída obrigatoriamente como Sociedade Anônima;

g) O capital social mínimo é de R$1.000.000,00;

h) A constituição, organização e funcionamento dessas empresas são


disciplinados pelo Conselho Monetário Nacional;

i) Precisa de autorização do BACEN para funcionar;


j) Deve possuir governança corporativa sólida e estruturada;

k) Só pode intermediar operações de empréstimos entre pessoas (P2P), com


limite de R$ 15.000,00 por operação e não deve envolver capital próprio nas operações.

2.4 - Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP):

Esta modalidade de Fintech também é regida pela Resolução nº 4.656/2018 e


pela Circular 3.898/2018, ambas do Banco Central do Brasil.

Basicamente, o BACEN apresenta mais regras à SEP, como modo de formalização


e operação, cláusulas obrigatórias nos contratos. Já em relação à SCD, a Resolução do
BACEN só dispõe sobre o conceito e as vedações:

a) Não poderá operar com recursos próprios, pode apenas fazer a intermediação
entre credor e devedor;

b) Não pode prestar garantias de adimplemento da dívida ao credor;

c) Não pode adquirir direitos creditórios.

Importante enfatizar que o BACEN exige que as fintechs (SEP e SCD), assim
como as Instituições Financeiras, tenham um plano de Governança Corporativa robusto,
transparecendo a confiança da empresa e, também, demonstrando responsabilidade,
prestação de contas e equidade.

Políticas fundamentais que devem fazer parte do plano de Governança são:

a) prevenção a práticas de corrupção e lavagem de dinheiro;

b) código de ética e de conduta;

c) prevenção a conflitos, entre outros.

Por fim, o Banco Central já publicou Resoluções – 4.658/2018 e 4.752/2019 –


quanto à segurança e tratamento de dados que devem caminhar em conformidade com a
LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados.

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