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Regime Jurídico
Mercado de Capitais
Regime Jurídico
ISBN 85-7674-
1. 2. I. Título
Editor
Vinicíus Vieira
Produção editorial
José Ubiratan Ferraz Bueno
Diagramação
Victor Guimarães Sylvio
Revisão gramatical
Ronaldo Santos Soares
Capa
Anderson dos Santos Pinto
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou
processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográfi-
cos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão
de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições apli-
cam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é
punível como crime (art. 184 e parágrafos do Código Penal), com pena de prisão e multa, busca e apre-
ensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
10.1. Introdução......................................................................................689
10.2. Manipulação do mercado, criação de condições artificiais,
operações fraudulentas e práticas não equitativas...............................691
10.2.1. O ilícito penal..............................................................................691
10.2.2. Os ilícitos administrativos............................................................700
a. Criação de condições artificiais de demanda, oferta ou preço
de valores mobiliários.........................................................................701
b. Manipulação de preços........................................................................704
c. Operação fraudulenta...........................................................................705
d. Prática não equitativa...........................................................................707
10.3. Uso indevido de informação privilegiada (Insider Trading)............708
10.4. Exercício irregular de cargo, profissão ou atividade.........................725
Bibliografia, 821
Prefácio à 4ª edição
A terceira edição da presente obra, publicada em 2011, esgotou-se
há alguns anos. Esta quarta edição vem, pois, com certo atraso, pelo
qual pedimos antecipadas desculpas aos leitores.
Entre 2011 e o corrente ano, aconteceram alguns fatos que deve-
mos registrar. Em primeiro lugar, o falecimento, no começo de 2015,
de nossa querida colega de escritório e coautora Ariádna B. Gaal.
Sua ausência é sempre muito sentida por nós. Após o falecimento do
principal sócio da Editora Renovar, nosso amigo Lima, sai a presente
edição pela Quartier Latin, capitaneada pelo caro Vinicius, que tem
publicado ultimamente os trabalhos de nossa autoria.
A presente edição vem com algumas modificações e atualizações
com relação às anteriores.
Em primeiro lugar, acrescentamos as contribuições doutrinárias
e decisões da CVM mais relevantes no período.
No Capítulo 3, sobre os valores mobiliários, mencionamos as
mudanças na regulamentação administrativa referente aos contratos de
investimento coletivo. As maiores inovações tratam da nova disciplina
aplicável aos fundos de investimento mediante Instruções emitidas pela
CVM. Nos termos da nova regulamentação, dentre outras alterações,
modifica-se o regime da responsabilidade dos prestadores de serviços
contratados pelo administrador, bem como torna-se mais rigorosa a
classificação de investidores qualificados. Ademais, as modalidades
de fundos de investimento, antes divididas em sete, são condensadas
em três: de renda fixa; de ações; cambial e multimercado. Por fim, os
contratos de investimento coletivo para financiamento de empreen-
dimentos hoteleiros (condo-hotéis) e determinadas modalidades de
tokens foram recentemente incluídas na categoria de valores mobiliários
e são objeto de nossa análise.
No Capítulo 4, foi inserida breve análise sobre o Parecer de
Orientação CVM nº 33/2005, que definiu os requisitos que devem
Os Autores
Introdução
Na Primeira Parte de seu instigante conto, particularmente para
nós, advogados, intitulado “A Pane”, Friedrich Dürrenmatt pergunta:
Existem ainda histórias possíveis, histórias para escritores?
Parafraseando o escritor suíço, poderíamos, em tempos de ace-
lerada “inflação doutrinária” em nosso país, indagar se ainda há livros
jurídicos que efetivamente valham a pena escrever.
Tratando-se do tema aqui versado, acreditamos que a resposta é
positiva, pois praticamente ainda inexistem, entre nós, livros jurídicos
que busquem analisar, de forma abrangente e sistemática, o conjunto
de normas legais e administrativas que disciplinam o mercado de
capitais brasileiro.
Isto a despeito da crescente relevância deste setor da atividade
econômica, particularmente nos últimos anos, em que o mercado
de capitais, entre nós, apresentou notável evolução, contribuindo
fortemente para o processo de capitalização das empresas produtivas
nacionais, que é sua finalidade última.
Com efeito, examinando, ainda que sumariamente, os indicadores
econômicos pertinentes, constatamos que, no ano de 2007, o volume
de recursos captados em ofertas primárias (59 registros) e secundárias
(103 registros) de ações foi de, respectivamente, R$ 33.135.835.406,02
e R$ 34.121.298.031,60, ou seja, situou-se tal volume na faixa de
67 bilhões de reais. Em anos anteriores temos: em 2006, em ofertas
primárias (29 registros) e secundárias (30 registros) de ações, respec-
tivamente R$ 14.223.018.209,23 e 12.760.893.011,25, totalizando
quase 27 bilhões de reais; em 2005, em ofertas primárias (13 regis-
tros) R$ 4.364.528.761,71 e em ofertas secundárias (15 registros) R$
6.634.591.024,44, totalizando quase 11 bilhões de reais; em 2004,
em ofertas primárias (9 registros) R$ 4.469.902.764,80 e em ofertas
secundárias (12 registros) R$ 4.682.650.177,38, totalizando pouco
23 O parágrafo primeiro do art. 170 da Lei das S.A. dispõe que “o preço de emissão
deverá ser fixado, sem diluição injustificada da participação dos antigos
acionistas, ainda que tenham direito de preferência para subscrevê-las, tendo
em vista, alternativa ou conjuntamente: I – a perspectiva de rentabilidade da
companhia; II – o valor do patrimônio líquido da ação; III – a cotação de suas
ações em Bolsa de Valores ou no mercado de balcão organizado, admitido
ágio ou deságio em função das condições do mercado”.
2.1. Princípios
Embora não exista, quer na literatura jurídica, quer na literatura
econômica, uma definição uniforme do que se deve entender por
“regulação”, podemos utilizar o termo como constituindo o emprego
dos instrumentos legais necessários à implementação de objetivos de
política econômica ou social1.
A regulação de determinada atividade importa o estabelecimento
de limites à atuação dos agentes econômicos, que inexistem quando o
mercado é inteiramente livre. Com efeito, num modelo puro de econo-
mia de livre mercado, a ordem jurídica não estabelece uma regulação
da conduta dos participantes, restringindo-se a disciplinar os direitos
de propriedade e as relações contratuais, sem, contudo, limitar o direito
do proprietário de usar o bem, ou estabelecer exigências com relação
ao conteúdo dos contratos (preços mínimos ou cláusulas obrigatórias).
Assim, as normas poderão ser tidas como reguladoras na medida
em que limitem a liberdade dos participantes do mercado, quer quanto
à conduta, quer quanto aos bens negociados. A regulação pode ocorrer
de modo voluntário ou contratual, quando é usualmente denominada
“autorregulação”, uma vez que estabelecida pelos próprios agentes
econômicos; ou de modo jurídico, quando contida em normas legais
ou regulatórias, que caracterizam uma intervenção do Estado na eco-
nomia, não como empresário, mas como agente regulador2.
A regulação econômica voltou-se, originalmente, para a disci-
plina da prestação de serviços públicos por particulares, passando a
alcançar, em momento posterior, tanto em nosso sistema legal como
no Direito Comparado, outros mercados, tais como os de petróleo,
9 Exemplo típico foi o que ocorreu, entre nós, por ocasião do ‘caso Vale’, em
1980, quando o governo, em pleno regime castrense, resolveu promover
a venda de lotes substanciais de ações da companhia, à época ainda uma
sociedade de economia mista, sem obedecer a regulamentação da CVM
sobre “block trading”. A propósito: FÁBIO KONDER COMPARATO. Novos
Ensaios e Pareceres de Direito Empresarial. Rio de Janeiro: Forense, 1981, p.
290. NELSON EIZIRIK. “O Estado como acionista controlador de companhias
integrantes do mercado acionário – o ‘caso Vale’”. In: Questões de Direito
Societário e Mercado de Capitais. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 34.
10 Constituiu evidente exemplo de “captura” de regulação favorável pelo governo
a revogação do artigo 254 da Lei nº 6.404/1976 pela Lei nº 9.457/1997, medida
que lhe permitiu apropriar-se de toda a mais-valia decorrente da alienação
do controle de diversas empresas estatais, particularmente da Telebras, no
curso do programa de privatização, sem necessitar dividi-la com os acionistas
minoritários (NELSON EIZIRIK. Reforma das S.A. e do Mercado de Capitais.
2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 25).
11 Estamos fazendo uma analogia à situação descrita por DANIEL K. GOLDBERG,
por ele denominada “populismo antitruste”, tomando de empréstimo a ex-
pressão e adaptando-a à regulação do mercado de capitais (“O controle de
estruturas no Brasil: reflexões sobre o estudo de José Tavares”. In: JOÃO PAULO
DOS REIS VELLOSO (coord.). Por uma Moderna Política de Competição. Rio
de Janeiro: José Olympio, 2006, p. 66).
2.2. Objetivos
Os objetivos da regulação, orientados pelo interesse público,
são os seguintes: proteger os investidores; promover a eficiência do
mercado; criar e manter instituições confiáveis e competitivas; evitar
a concentração de poder econômico; e impedir a criação de situações
de conflitos de interesse.
O objetivo mais apontado como o fundamental na regulação do
mercado de capitais é o da proteção aos investidores. Com efeito, em
praticamente todas as legislações, o objetivo essencial da regulação do
mercado de capitais consiste na tutela dos investidores, aqueles que
aplicam seus recursos financeiros nos valores mobiliários emitidos
publicamente e negociados no mercado.
Nesse sentido, a regulação deve promover a confiança dos investi-
dores nas entidades que emitem publicamente seus valores mobiliários,
assim como naquelas que os intermedeiam ou propiciam os locais ou
mecanismos de negociação, de custódia, compensação e liquidação das
operações. Ou seja, os investidores devem poder acreditar que os seus
retornos em aplicações no mercado estarão razoavelmente relacionados
aos riscos dos investimentos; que as instituições atuantes apresentam
integridade financeira; e que as informações providas pelas emissoras
de valores mobiliários são verazes e fidedignas.
Assim, a regulação pode reduzir os riscos dos investidores, na
medida em que obriga os emissores dos valores mobiliários a divul-
1 DAVID L. RATNER. Securities Regulation in a nutshell, 6th. ed. St. Paul: West
Publishing, 1998, pp. 1-3.
2 A possibilidade de circularem em série revela a natureza de bem fungível
dos valores mobiliários. Confira-se, a respeito, NELSON EIZIRIK. Reforma das
S.A. e do Mercado de Capitais, 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 140.
Sobre a fungibilidade dos valores mobiliários, confira-se MIRIAN IZQUIERDO.
test to determine whether the oil leasehold interests were included within the
specifically designated instruments. Obviously, the list of specific instruments did
not include divided interests in oil and gas. He therefore proceeded to the second
test by considering the terms of a more variable character, specifically ‘investment
contract’. Noting that the leasehold interests were sold on the condition that the
purchasers would share in any appreciation in value of their lease interests if oil
were discovered on adjacent land, Justice Jackson concluded that these leaseholds
constituted ‘investment contracts’, and therefore were ‘securities’ ”.
15 Segundo Leães, nesta oportunidade, o juiz Murphy procurou conceituar
‘investment contract’, tendo assim se manifestado: “Essa definição foi aplicada
iterativamente pelos tribunais estaduais a uma série de situações, cujos
traços comuns são a aplicação pelos indivíduos de recursos poupados
em empreendimentos comuns, com a esperança de colher lucro com
esforços desenvolvidos exclusivamente pelo lançador ou por terceiros,
nunca deles próprios. Ao incluir o contrato de investimento na definição de
involved in some common venture without mandating that other investors also be
involved in that venture” (DAVID L. RATNER, Securities Regulation in a nutshell,
6th. ed. St. Paul: West Publishing, 1998, p. 235).
34 LARRY D. SODERQUIST, THERESA A. GABALDON. Securities Regulation. New
York: Foundation Press, 1999, p. 139.
35 United Housing Foundation, Inc. v. Forman (United States Supreme Court, 1975),
reproduzido em LARRY D. SODERQUIST, THERESA A. GABALDON. Securities
Regulation. New York: Foundation Press, 1999, p. 131 et seg.
36 Vide International Brotherhood of Teamsters v. Daniel, discutido anteriormente.
No caso Black v. Payne (United States Court of Appeals, Ninth Circuit, 1979),
o Nono Circuito entendeu que a contribuição de empregado ao Public
Employees Retirement System (PERS) não está abrangida no conceito de security,
pois não apresenta o requisito “reasonable expectation of profits” derivada dos
esforços de outrem. A Corte sustentou que a falta de razoáveis expectativas
de lucros advém do fato de esta contribuição ser compulsória, estatutária
e não possuir o elemento de risco econômico comumente associado ao
investimento. Sobre “hopes of favorable return”, ver LARRY D. SODERQUIST.
Securities Regulation. New York: Foundation Press, 1999, p. 204.
37 SEC v. ETS Payphones, Inc. (United States Court of Appeals, Eleventh Circuit,
2002), reproduzido pelo “Annual Review of Federal Securities Regulation”,
The Business Lawyer. Chicago: Section of Business Law of the American Bar
Association, v. 58, n. 2, fev. 2003, pp. 909-910.
38 LARRY D. SODERQUIST, THERESA A. GABALDON. Securities Law. New York:
Foundation Press, 1998, p. 6.
39 Os principais casos em que a questão foi discutida foram: SEC v. Glenn W.
Turner; SEC v. Koscot; e SEC v. Aqua-Sonic. Sobre os casos Turner e Koscot,
approach of the Second Circuit”. Sobre cada um destes testes, ver LOUIS LOSS.
Fundamentals of Securities Regulation. Boston: Little, Brown and Company,
1988, pp. 165 et seg.
45 A Section 3(a)(12) do Securities Exchange Act também trata das “exempted
securities”.
46 Vide, e.g., Securities Act, §§ 12(1) e 17(c).
47 Vide, e.g., Securities Act, §§ 12(a) e 15(a)(1); DAVID L. RATNER. Securities
Regulation in a nutshell, 6th. ed. St. Paul: West Publishing, 1998, p. 29.
48 O rol de “exempted securities” previsto no Securities Act e no Securities Exchange
Act sofreu alterações, conforme anota DAVID L. RATNER. Securities Regulation
in a nutshell, 6th. ed. St. Paul: West Publishing, 1998, p. 31.
53 Marine Bank v. Weaver (United States Supreme Court, 1982), comentado por
LARRY D. SODERQUIST, THERESA A. GABALDON. Securities Law. New York:
Foundation Press, 1998, p. 7.
54 LARRY D. SODERQUIST, THERESA A. GABALDON. Securities Law. New York:
Foundation Press, 1998, p. 7: “Marine Bank involved the question of whether a
certificate of deposit issued by a national bank was a security. The Court quoted the
‘unless the context otherwise requires’ language and explained why in that instance
the context ‘otherwise required’: in large measure because a national bank is subject
to comprehensive regulation designed to protect depositors, and, perhaps more
important, their certificates of deposit are federally insured.”
59 Reves v. Ernst & Young (United States Supreme Court, 1990), citado por DAVID L.
RATNER. Securities Regulation in a nutshell, 6th. ed. St. Paul: West Publishing,
1998, p. 23. Ver também LARRY D. SODERQUIST, THERESA A. GABALDON.
Securities Law. New York: Foundation Press, 1998, p. 9: “In Reves v. Ernst & Young
the Supreme Court had to decide whether promissory notes issued by the Farmer’s
Cooperative of Arkansas and Oklahoma were securities. The notes were payable on
demand, were uncollateralized and uninsured, and paid a variable interest rate. At
the outset of its decision, the Court took pains to indicated that in Landreth it had not
rejected in general the economic reality approach it had used in Marine Bank and
preceding cases. ‘While common stock [as was involved in Landreth] is, the Court
said, ‘the quintessence of a security, the same simply cannot be said of notes, which
are used in a variety of settings, not all of which involve investments’”.
60 LARRY D. SODERQUIST, THERESA A. GABALDON. Securities Law. New York:
Foundation Press, 1998, p. 9.
61 LARRY D. SODERQUIST, THERESA A. GABALDON. Securities Law. New York:
Foundation Press, 1998, pp. 9-10: “[A] note is presumed to be a ‘security’, and
that presumption may be rebutted only by a showing that a note bears a strong
resemblance (in terms of four factors) to one of the categories of instrument is not
sufficiently similar to an item on the list, the decision whether another category
should be added is to be made by examining the same factors. The categories of
instrument, listed by the Second Circuit as being notes that are not securities, are
the following: [T]he note delivered in consumer financing, the note secured by a
mortgage on a home, the short-term note secured by a lien on a small business
or some of its assets, the note evidencing a ‘character’ loan to a bank customer,
short-term notes secured by an assignment of accounts receivable, or a note which
simply formalizes an open-accounts debt incurred in the ordinary course of business
(particularly if, as in the case of the customer of a broker, it is collateralized)”.
62 DAVID L. RATNER. Securities Regulation in a nutshell, 6th. ed. St. Paul: West
Publishing, 1998, pp. 9-10; LEWIS D. SOLOMON, DANIEL FESSLER, ARTHUR
E. WILMARTH, JR. Corporations and alternative business vehicles. 5th. ed.
Santa Monica: Casenotes Publishing Company, 2000, pp. 5-3: “This general
presumption [that a note is presumed to be a ‘security’ under the 1933 Act] can
be rebutted by showing that as instrument designated as a ‘note’ bears a ‘family
resemblance’ to debt instruments that have been excluded from the definition of
‘security’ based on one or more of the following four factors: (1) the instrument
is not sold for the purpose of raising money to finance the seller’s business or
investments (2) the instrument is not sold according to a plan of distribution that
contemplates widespread trading of such instruments for speculation or investment,
(3) the investing public would not reasonably expect the instrument to be treated as
a security under the 1933 Act, or (4) the instrument is subject to separate regulatory
scheme that significantly reduces the risk of the instrument and therefore makes
unnecessary the protection of the 1933 Act.”
63 LARRY D. SODERQUIST, THERESA A. GABALDON. Securities Law. New York:
Foundation Press, 1998, p. 10: “[E.g., is the seller’s purpose the raising of money
and is the buyer primarily interested in making a profit on the note or, on the other
hand, is the note being used to facilitate the purchase and sale of a minor asset or
consumer good?]”.
64 O Tribunal observou que LARRY D. SODERQUIST, THERESA A. GABALDON.
Securities Law. New York: Foundation Press, 1998, p. 10: “[The Court noting
that ‘Common trading’ does not require actual trading in the financial markets]”.
acabam por ser tidos como tais; (c) os requisitos da “Howey definition”,
por sua vez, não precisam estar todos presentes para que determinado
título seja entendido como “valor mobiliário”; (d) alguns títulos foram
expressamente excluídos do âmbito dos valores mobiliários; (e) alguns
instrumentos, por apresentarem semelhanças relevantes com as “exempted
securities”, não recebem o tratamento de “valores mobiliários”; (f ) não é
necessário haver, mais uma vez, o preenchimento de todos os parâmetros
tradicionalmente utilizados pelos tribunais para identificar uma “family
resemblance” capaz de excluir determinado título do campo das securities.
Diante deste panorama de absoluta imprecisão que envolve o con-
ceito de “valores mobiliários” no Direito norte-americano, a doutrina
acaba por comparar o Securities Act a um quebra-cabeças, cujas peças
aparentemente encaixam-se de diferentes formas, sendo somente uma
delas, no entanto, a correta68.
Em resumo, verifica-se se o instrumento ofertado tem a deno-
minação de um dos valores mobiliários listados na legislação sobre a
matéria; em caso positivo, é preciso analisá-lo, contextualmente, ou
seja, tendo em vista a realidade econômica subjacente, vis-à-vis os
requisitos do “Howey test”; em caso negativo, é necessário examinar se o
intrumento constitui um dos títulos que estão expressamente excluídos
do âmbito dos valores mobiliários ou se guardam semelhança com
uma das “exempted securities”, capaz de afastá-los do regime jurídico
conferido aos valores mobiliários.
Na realidade, não se pode dizer de antemão, considerando-se ape-
nas sua denominação, se um determinado empreendimento constitui
um valor mobiliário; é fundamental que seja avaliada, em cada situação
concreta, a substância ou a realidade econômica do negócio ofertado,
verificando-se se foram atendidos os requisitos do “Howey test” e, ainda,
outros fatores, tais como a quem é destinado o negócio e se existem leis
que protejam de maneira adequada os investidores em questão.
76 A propósito dos “contratos de boi gordo”, ver item 3.8 deste capítulo.
77 A respeito de cotas de fundos de investimentos e de derivativos, ver,
respectivamente, itens 4 e 5 deste capítulo.
78 O Colegiado da CVM, no julgamento do Processo CVM nº RJ 2003/0499,
Rel. Dir. Luiz Antonio de Sampaio Campos, j. 28.08.2003, já se manifestou
favoravelmente ao entendimento de que a lista de valores mobiliários contida
no artigo 2º da Lei nº 6.385/1976 é exemplificativa. Confira-se: “Esse novo
3.3. Ação
3.3.1. Conceito
A ação constitui um título de participação no capital social da
sociedade anônima emissora, que confere ao seu titular o status socii, ou
seja, o direito de participar da sociedade, como acionista. Representa
os direitos e as obrigações que o acionista adquire, na qualidade de
sócio da companhia, em função de sua participação no capital social83.
88 MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A nova Lei das S.A. São Paulo:
Saraiva, 2002, p. 110.
89 THEREZA MARIA SARFERT. “Técnicas de Privatização: a experiência brasileira”,
Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, v. 117. São
Paulo: Malheiros, jan.-mar. 2000, p. 244.
90 “Art. 8º. Sempre que houver razões que o justifiquem, a União deterá, direta
ou indiretamente, ações de classe especial do capital social de empresas
privatizadas, que lhe confiram poder de veto em determinadas matérias, as
quais deverão ser caracterizadas nos estatutos sociais das empresas, de acordo
com o estabelecido no art. 6º, inciso XIII e §§ 1º e 2º desta lei.”
91 LUIZ LEONARDO CANTIDIANO. Reforma da Lei das S.A. Comentada. Rio
de Janeiro: Renovar, 2002, pp. 88-89.
3.4. Debêntures93
3.4.1. Conceito
As debêntures constituem valores mobiliários (artigo 2º, inciso I,
da Lei nº 6.385/1976, com a redação dada pela Lei nº 10.303/2001)
que conferem aos seus titulares um direito de crédito contra a compa-
nhia emissora, nas condições estabelecidas na escritura de emissão e
no certificado, se houver (artigo 52 da Lei nº 6.404/1976, com redação
dada pela Lei nº 10.303/2001).
Assim, a configuração da debênture como um título de crédito
decorre dos próprios termos da lei. A palavra “debênture”, ainda que
decorrente de prática financeira inglesa, é de procedência latina, desig-
nando o debere, a dívida pecuniária; trata-se, a debênture, de documento
comprobatório de uma dívida da companhia. A debênture, dessa forma,
designa o direito de crédito de seu titular contra a companhia emissora,
em razão de um empréstimo por ela contraído94.
A finalidade econômica da debênture consiste em possibilitar o
financiamento da companhia emissora, mediante empréstimo contraí-
do junto a restrito círculo de pessoas (quando se trata de uma emissão
privada) ou mediante apelo à poupança popular (no caso de emissão
pública colocada no mercado de capitais). É uma forma de a companhia
contrair um empréstimo junto ao público, quando necessita de recursos
e não deseja recorrer às instituições financeiras, nem aumentar o seu
capital social, com a consequente emissão de novas ações.
3.4.2. Espécies
De acordo com a garantia oferecida aos seus titulares, as debêntu-
res podem ser de quatro espécies (artigo 58 da Lei das S.A.): (a) com
garantia real; (b) com garantia flutuante, que confere aos debenturistas
preferência sobre os credores quirografários, na hipótese de falência
da sociedade emissora; (c) quirografária ou sem preferência, quando
o debenturista concorre na massa falida com os demais credores sem
garantia; e (d) subordinada aos demais credores da companhia ou sub-
quirografárias, cujo titular tem preferência somente sobre os acionistas
da companhia emissora, no caso de falência.
3.4.3. Formas
Com a proibição da emissão de quaisquer títulos ao portador ou
endossáveis, mediante a edição da Lei nº 8.021/1990, as debêntures
podem ser nominativas (artigo 63, caput e parágrafos, da Lei das
S.A., com as redações dadas, respectivamente, pela Lei nº 9.457, de
05.05.1997, e pela Lei nº 10.303/2001) ou escriturais (parte final do
caput do artigo 63, que remete às Seções V a VII do Capítulo III e
parte final do artigo 74, todos da Lei nº 6.404/197699).
101 Ressalte-se que a Lei nº 12.431/2011 não manteve o antigo § 3º do artigo 59 da Lei
das S.A., que vedava a emissão de novas debêntures antes de colocadas todas
as das séries de emissão anterior ou canceladas as séries não colocadas, bem
como proibia a negociação de nova série da mesma emissão antes de colocada
a anterior ou cancelado o saldo não colocado. Por este motivo, entende-se ser
permitida a realização de emissões de debêntures concomitantes.
102 A Lei nº 12.431/2011, dentre outras providências, deu nova redação aos §§
1º e 2º do art. 59 da Lei das S.A., conferindo maiores poderes ao Conselho
de Administração. Após a mudança, o órgão passa a poder decidir sobre a
emissão de debêntures não conversíveis em ações, inclusive as que possuem
garantias. Além disso, o estatuto poderá prever a competência do Conselho
para deliberar sobre a emissão de debêntures conversíveis em ações.
103 A Lei nº 12.431/2011 alterou a redação do art. 66, §3º, alínea “a” da Lei das S.A.,
para determinar que a CVM poderá permitir que um mesmo agente fiduciário
exerça esta função em diferentes emissões de uma mesma companhia: “§3º – Não
pode ser agente fiduciário: a) pessoa que já exerça a função em outra emissão da
mesma companhia, a menos que autorizado, nos termos das normas expedidas
pela Comissão de Valores Mobiliários” (grifamos). Nos termos Instrução CVM
nº 583/2016, pode o mesmo agente fiduciário atuar em mais de uma emissão
do mesmo emissor, sociedade coligada, controlada, controladora ou integrante
do mesmo grupo, desde que assegure tratamento equitativo a todos os titulares
de valores mobiliários. Além disso, essa informação deve ser divulgada, com
destaque, na escritura de emissão, no termo de securitização de direitos
creditórios ou no instrumento, equivalente e no prospecto da oferta, juntamente
com os dados especificados no Anexo 15, art. 1º, inciso XI da Instrução.
a) Introdução
116 Neste sentido, confira-se FELIX RUIZ ALONSO. “Os Fundos de Investimento”,
Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, n. 1. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1971, p. 62.
117 Sobre as vantagens dos fundos como forma de investimentos, confira-se
MARIA JOÃO ROMÃO CARREIRO VAZ TOMÉ. “Notas sobre os aspectos
financeiros e civis dos fundos de investimento mobiliário aberto”. In.: Direito
dos Valores Mobiliários, v. I. Coimbra: Coimbra Editora, 1999, pp. 12-15.
118 Por exemplo, no caso dos fundos abertos, como esclarecido no 3.6.1 deste
capítulo, o resgate das cotas dos fundos poderá ser solicitado a qualquer
momento.
126 Tal dever corporifica o que se denomina de regra de suitability, que impõe
aos intermediários a obrigação de verificar a adequação existente entre
a qualificação do investidor (medida pelo seu nível de experiência e as
características de seu conjunto de ativos), assim como o grau dos riscos
assumidos nas operações.
127 Conforme será analisado no item 3.6.1.c) deste capítulo.
128 A elaboração das demonstrações contábeis dos fundos de investimento deve
ser feita com observância às regras fixadas pela Instrução CVM nº 438/2006.
d) Cotas
As cotas são representativas de frações ideais do patrimônio do
fundo, adotando as formas escriturais e nominativas. O valor das cotas
varia de acordo com a valorização do patrimônio do fundo135 (artigo
11 da Instrução CVM nº 555/2014).
e) A assembleia de cotistas
A instituição administradora possui apenas as atribuições normais
de gestão sobre o patrimônio do fundo, não tendo poderes absolutos
para, independentemente de consulta aos cotistas, decidir sobre ques-
tões que modifiquem a própria estrutura do fundo, afetando direitos
fundamentais dos cotistas, como, por exemplo, a alteração no regula-
mento e a transformação, fusão, incorporação, cisão ou liquidação do
fundo. Os próprios cotistas têm poderes para assegurar que o fundo
atinja seus objetivos e seja satisfatoriamente administrado.
A carteira dos fundos deve obedecer aos limites por emissor (ar-
tigo 102) e aos limites por ativo financeiro (artigo 103) fixados pela
Instrução CVM nº 555/2014142.
142 Antes mesmo das alterações promovidas pela Instrução CVM nº 450/2007
na regulamentação de fundos de investimento, a CVM já entendia que tais
limites não eram aplicáveis aos fundos exclusivos, conforme se verifica da
decisão proferida nos autos do já citado Processo Administrativo Sancionador
CVM nº RJ 2005/9245: “É preciso, então, saber se apesar dessa omissão
da Instrução, que não excepciona genericamente os fundos exclusivos da
incidência das regras relativas a limites de concentração e diversificação,
tais regras são aplicáveis àqueles fundos. A resposta, a meu ver, é negativa.
Com efeito, me parece bastante claro que as regras de diversificação e os
limites de concentração são normas de natureza prudencial, que visam a
diminuir os riscos dos fundos de investimento. Tais regras simplesmente não
existem quando se trata de carteiras administradas. Em outras palavras: se
um investidor entregar recursos a um gestor, na forma da Instrução 306/99,
e determinar, ou permitir, que a gestão se dê de maneira concentrada em
um único ativo, ou em ativos de emissão em só emissor, isto é perfeitamente
legal e admitido. A razão dessa admissão parece repousar no fato de que, ao
contrário do que ocorre geralmente com fundos de investimento, o investidor
contrata diretamente com o administrador de carteira, em uma relação
contratual específica, sobre a qual não deve interferir o Estado, inclusive
porque, para poder arcar com os custos dessa gestão sob medida, o investidor
provavelmente tem recursos significativos, capacidade de negociação e
discernimento quanto aos riscos envolvidos.”
156 NELSON EIZIRIK. Temas de direito societário. Rio de Janeiro: Renovar, 2005,
p. 427.
157 Confira-se NELSON EIZIRIK. Temas de direito societário. Rio de Janeiro:
Renovar, 2005, p. 553.
3.7. Derivativos
A noção de “derivativo” não é jurídica; trata-se de termo tradu-
zido literalmente do inglês (derivative) de uso corrente na prática
dos negócios desenvolvidos em mercados futuros. Os derivativos são,
genericamente, instrumentos financeiros cujo valor é derivado, resul-
tante de outro instrumento ou ativo financeiro, como a taxa de juros,
índice de um mercado, contrato de opções etc.159
162 RACHEL SZTAJN. Futuros e “swaps” – uma visão jurídica. São Paulo: Cultural
Paulista, 1999, p. 215.
163 Confira-se, MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A nova Lei das S.A.
São Paulo: Saraiva, 2002, pp. 486-487.
164 MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A nova Lei das S.A. São Paulo:
Saraiva, 2002, p. 483.
165 Sobre derivativos, ver MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A nova
Lei das S.A. São Paulo: Saraiva, 2002, pp. 483-487; e ARI CORDEIRO FILHO.
Swaps. Aspectos Jurídicos, Operacionais e Administrativos. Rio de Janeiro:
Forense, 2000. Ver, também, o Capítulo 6, sobre as Bolsas de Valores.
mas apenas esclarecia que a CVM podia exercer sua fiscalização sobre
os contratos derivativos, enquanto não promulgasse normas próprias,
“provisoriamente” com base nas normas anteriormente editadas pelo
CMN e pelo Bacen sobre a matéria.
Cabe ressaltar que, não obstante a solução dada pela Lei nº
10.303/2001, de incluir os derivativos no rol de valores mobiliários
e, via de consequência, de estender a eles a competência da CVM, os
derivativos apresentam características muito peculiares que os afastam
dos títulos tradicionalmente compreendidos na categoria dos valores
mobiliários.
De fato, a noção de valores mobiliários sempre esteve atrelada a
títulos que corporificam investimentos de risco, nos quais o retorno
dos investidores está diretamente vinculado ao sucesso de determinado
empreendimento, no qual eles têm pouca ou nenhuma ingerência.
Ademais, sempre se considerou que os valores mobiliários, após
serem ofertados publicamente aos investidores, poderiam ser nego-
ciados no mercado secundário, tendo em vista a sua aptidão para
circularem publicamente em massa, devido à sua natureza fungível.
Os instrumentos derivativos, por sua vez, têm a função precípua
de, conforme referido, criarem novas maneiras de transferência e alo-
cação de riscos entre os participantes do mercado.
Ou seja, os títulos tradicionalmente considerados como valores
mobiliários e os derivativos visam a atender diferentes funções eco-
nômicas, pois, enquanto aqueles voltam-se à captação de poupança
popular, os derivativos cuidam da transferência de risco166.
A distinção existente entre a finalidade econômica dos valores
mobiliários e dos derivativos é acentuada pelo fato de que dentro
desta rubrica genérica denominada “derivativos” são incluídos vários
institutos cujas estruturas são absolutamente diversas, tanto sob a ótica
185 “Art. 43. As instituições financeiras, nas condições estabelecidas pelo Conselho
Monetário Nacional, podem emitir título representativo das Cédulas de
Crédito Bancário por elas mantidas em depósito, do qual constarão: I – o
local e a data da emissão; II – o nome e a qualificação do depositante das
Cédulas de Crédito Bancário; III – a denominação ‘Certificado de Cédulas de
Crédito Bancário’; IV – a especificação das cédulas depositadas, o nome dos
seus emitentes e o valor, o lugar e a data do pagamento do crédito por elas
incorporado; V – o nome da instituição emitente; VI – a declaração de que a
instituição financeira, na qualidade e com as responsabilidades de depositária
e mandatária do titular do certificado, promoverá a cobrança das Cédulas de
Crédito Bancário, e de que as cédulas depositadas, assim como o produto da
cobrança do seu principal e encargos, somente serão entregues ao titular do
certificado, contra apresentação deste; VII – o lugar da entrega do objeto do
depósito; e VIII – a remuneração devida à instituição financeira pelo depósito
das cédulas objeto da emissão do certificado, se convencionada.”
186 A respeito da evolução do conceito de valores mobiliários, ver item 3.2 deste
capítulo.
187 NELSON EIZIRIK. Reforma das S.A. e do Mercado de Capitais. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 1998, p. 160.
188 O Colegiado da CVM, em decisão datada de 22.01.2008, entendeu
que a distribuição de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs), preenchidos
determinados requisitos, pode estar sujeita ao registro prévio perante a
Autarquia. Em resposta a um pedido de dispensa de registro formulado por
instituição bancária para a colocação, perante fundos de investimento, de
CCBs emitidas por sociedade limitada, o Colegiado da CVM decidiu, por
unanimidade, que as CCBs poderão ser consideradas valores mobiliários,
e, portanto, sujeitas ao poder regulatório da Autarquia, se: (a) ocorrer a sua
distribuição mediante oferta púbica, e (b) for excluída a responsabilidade
da instituição financeira pelo pagamento do crédito representado no
título (Processo CVM nº RJ 2007/11593, Rel. Dir. Marcos Barbosa Pinto, j.
22.01.2008). Em sentido favorável à regulação das CCBs pela CVM, conferir
ARY OSWALDO MATTOS FILHO. “CCB é valor mobiliário?”. Revista Capital
Aberto, n. 56. São Paulo: Editora Capital Aberto, abr. 2008. Em sentido
contrário: NELSON EIZIRIK. “A polêmica sobre a cédula de crédito bancário”.
Valor Econômico. São Paulo, fev. 2008; GUSTAVO ALBERTO VILLELA FILHO.
“A exigência de registro prévio de CCBs na CVM”. Valor Econômico. São Paulo,
mar. 2008; BRUNO DE ALMEIDA CHAVES, JULIANO BATTELLA GOTLIB.
“Problema para os bancos”. Revista Capital Aberto. São Paulo: Editora Capital
Aberto, maio 2008, n. 57.
189 RICHARD W. JENNINGS, HAROLD MARSH, JR., JOHN C. COFFEE, JR. Securities
Regulation – Cases and Materials, 17th edition. New York: The Foundation
Press, 1992, p. 312.
ciando uma onda de pedidos de dispensa dos registros por parte dos
condo-hotéis.
Após algumas suspensões de ofertas de condo-hotéis por inob-
servância ao registro obrigatório, a CVM afinal editou a Deliberação
CVM nº 734/2015, posteriormente alterada pela Deliberação CVM
nº 752/2016 a fim de regulamentar a oferta deste tipo de contrato de
investimento coletivo. A norma vigeu por pouco tempo, até a edição
da Instrução CVM nº 602, de 27 de agosto de 2018.
A Instrução CVM nº 602/2018 define como contrato de inves-
timento coletivo hoteleiro o conjunto de instrumentos contratuais
ofertados publicamente, que contenha promessa de remuneração
vinculada à participação em resultado de empreendimento hoteleiro
organizado por meio de condomínio edilício.
A definição do que seja ofertante também foi modificada, passan-
do a ser caracterizado como “a sociedade incorporadora ou qualquer
outra pessoa que realize esforços de distribuição pública de CIC ho-
teleiro”. A nova classificação deixou de fora as operadoras hoteleiras,
reconhecendo que elas não costumam ser as responsáveis pela venda
dos títulos, isto é, não são os ofertantes na relação com os investidores.
Mesmo assim, a operadora hoteleira precisa declarar que são verdadei-
ras as informações do prospecto e estudo de viabilidade econômica e
financeira do empreendimento hoteleiro (artigo 6º, inciso VI).
Em regra, as ofertas de CICs hoteleiros precisam ser registradas
previamente na CVM, mas a Instrução retirou algumas formalidades
do pedido de registro, a fim de deixá-lo mais ágil e ampliar o acesso
do público às ofertas. Por exemplo, o pedido não mais precisa, obri-
gatoriamente, ser instruído com o material publicitário a ser usado.
Essa é uma inovação benéfica, porque, ao longo das ofertas públicas,
o material publicitário poderia ser modificado várias vezes, ou nem
mesmo estar pronto quanto do protocolo do pedido de registro. Por
outro lado, a Instrução exige que o material publicitário diga expressa-
mente que a oferta pública do CIC hoteleiro não consiste na aquisição
3.8.9.Tokens
Com a maior frequência de operações conhecidas como Initial
Coin Offerings (ICOs) no mercado, a CVM mostrou-se atenta a esse
tipo de transação, principalmente por conta dos ativos que nelas são
oferecidos, a fim de verificar se se tratavam de valores mobiliários – em
caso positivo, a ela caberia a sua fiscalização196.
Não há definição pacífica do que seja a Initial Coin Offering ou
Oferta Inicial de Moedas, mas, em geral, trata-se da captação de re-
cursos oferecendo-se ao investidor, em troca, um token. Comumente,
esses tokens são criptomoedas desenvolvidas pelo emissor, mas podem
ser de diversos outros tipos, como um ativo que conceda acesso do
investidor ao projeto desenvolvido ou acesso ao serviço oferecido197.
Os tokens ou criptomoedas oferecidos por meio dos IPOs podem ou
não se encaixar na definição de valor mobiliário, “a depender do contexto
econômico de sua emissão e dos direitos conferidos aos investidores”198,
estando ou não sujeitas à legislação e à regulamentação próprias do mer-
cado de valores mobiliários, bem como à fiscalização pela CVM.
Como dito, normalmente o ICO busca financiamento para o de-
senvolvimento de novas criptomoedas desenvolvidas pelo emissor. Por
meio dele, a startup ou empresa crescente, que pretende desenvolver e
colocar em ciculação uma nova criptomoeda, oferece um meio de troca
aos investidores que nela aportam dinheiro. Significa dizer que, em um
ICO, a criptomoeda criada é oferecida aos investidores interessados no
projeto em troca de dinheiro ou outras criptomoedas199 (geralmente
201 Comissão de Valores Mobiliários. Initial Coin Offering (ICO). Disponível em:
<http://www.cvm.gov.br/noticias/arquivos/2017/20171116-1.html>. Acesso
em: 31 out. 2018.
202 DAVID SCHECHTMAN. Necessidade de Registro de ICO: criptomoedas são
valores mobiliários?. Disponível em: <https://papers.ssrn.com/sol3/papers.
cfm?abstract_id=3203911>. Acesso em: 31 out. 2018
203 Mercado Bitcoin. Gráficos. Disponível em: <https://www.mercadobitcoin.
com.br/graficos>. Acesso em: 01 nov. 2018.
204 Memorando nº 17/2017-CVM/SRE.
206 Comissão de Valores Mobiliários. Initial Coin Offering (ICO). Disponível em:
<http://www.cvm.gov.br/noticias/arquivos/2017/20171116-1.html>. Acesso
em: 31 out. 2018.
26 Trata-se do caso Hill York Corp. v. American International Franchises, Inc., citado
por RICHARD W. JENNINGS, HAROLD MARSH, JR., JOHN C. COFFEE, JR.
Securities Regulation – Cases and Materials 17th edition. New York: The
Foundation Press, 1992, p. 335.
27 “(a) Exemption. Offers and sales of securities by an issuer that satisfy the conditions
in paragraph (b) or (c) of this section shall be deemed to be transactions not
involving any public offering within the meaning of section 4(a)(2) of the Act.
(b) Conditions to be met. [...] (2) Specific conditions. (i) Limitation on number of
purchasers. There are no more than or the issuer reasonably believes that there are
no more than 35 purchasers of securities from the issuer in any offering under this
section” (grifamos).
42 DAVID L. RATNER. Securities Regulation in a nutshell, 6th. ed. St. Paul: West
Publishing, 1998, p. 263: “The vast bulk of these offerings, however, consists of
‘private placements’ of large blocks of securities with institutional investors [...]. The
SEC has generally raised no objections to the consummation of these transactions
in reliance on the § 4(2) exemption, since the purchasers are customarily in
a position to insist upon the issuer providing them with information more
extensive than that contained in a registration statement and to give them other
protections not available to purchases in a registered public offering” (grifamos).
conveniada.
A adoção do procedimento simplificado constitui uma escolha
do ofertante, que pode sempre optar por pedir o registro diretamente
à CVM, seguindo os prazos do procedimento ordinário. Note-se que
o procedimento simplificado somente pode ser adotado em ofertas
que tenham por objeto valores de emissão de companhia aberta,
fundo de investimento ou companhia estrangeira patrocinadora de
programas de BDR. Porém, caso se trate da primeira oferta pública
de distribuição de ações, BDRs ou valores mobiliários conversíveis em
ações de quaisquer das entidades supracitadas, é vedada a adoção do
Procedimento Simplificado, sendo obrigatória a modalidade ordinária
do pedido de registro.
O convênio regulado pela Instrução CVM nº 471/2008 pode
ser celebrado com qualquer entidade autorreguladora que, a juízo da
CVM, consiga comprovar ter estrutura adequada e capacidade técnica
para o cumprimento das obrigações previstas na referida Instrução.
Neste sentido, a CVM mantém convênio com a Associação
Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais –
Anbima, o qual estabelece como deverá ser realizada a análise prévia,
impõe aos responsáveis por esta a observância de Código de Conduta
10 Lei das S.A., artigo 278, § 1º e Instrução CVM nº 400/2003, artigo 34, § 3º.
11 Instrução CVM nº 400/2003, artigo 34, § 1º.
24 O Código Civil prevê, em seu art. 478, nos contratos de execução continuada
ou diferida, a resolução por onerosidade excessiva, se a prestação de uma das
partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra,
em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis. A Instrução
CVM nº 400/2003, em seu art. 25, algo confusamente, assim dispõe: “Art.
25 Havendo, a Juízo da CVM, alteração substancial, posterior e imprevisível
nas circunstâncias de fato existentes quando da apresentação do pedido
de registro de distribuição, ou que o fundamentem, acarretando aumento
relevante dos riscos assumidos pelo ofertante e inerentes à própria oferta, a
CVM poderá acolher pleito de modificação ou revogação da oferta.”
25 “Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação
de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem
para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis,
poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que
a decretar retroagirão à data da citação.”
55 O artigo 170, § 1º, da Lei das S.A., estabelece que o preço das ações emitidas
em aumento de capital das sociedades anônimas, a fim de evitar a diluição
injustificada da participação dos acionistas que não exercerem o aumento
de capital, deve ser obrigatoriamente fixado com base em um dos seguintes
critérios: (a) a perspectiva de rentabilidade da companhia; (b) o valor do
patrimônio líquido da ação; e (c) a cotação de suas ações em Bolsa de Valores
ou no mercado de balcão organizado, admitido ágio ou deságio em função
das condições do mercado.
59 A denominação deriva do fato de que tal opção foi utilizada pela primeira vez
no mercado norte-americano na oferta pública de ações emitidas por uma
companhia denominada Green Shoe Company.
6.1. Introdução
O mercado primário caracteriza-se pela negociação de valores
mobiliários provenientes de novas emissões entre a companhia e os
subscritores, com a intermediação do underwriter. Ou seja, fazem parte
do mercado primário as negociações ocorridas no momento em que a
companhia está ofertando novos valores mobiliários aos investidores,
com objetivo de obter recursos para seus projetos de desenvolvimento
ou necessidades de caixa.
Assim, o mercado primário viabiliza o atendimento a uma das
funções básicas do mercado de capitais, qual seja, oferecer às compa-
nhias uma fonte de acesso a recursos possivelmente mais baratos do
que os que poderiam ser obtidos por meio de empréstimos e outras
operações bancárias.
No entanto, a existência do mercado primário seria extremamente
prejudicada se, após subscreverem os novos valores mobiliários emiti-
dos, os investidores não tivessem condições de negociá-los com tercei-
ros. Portanto, o mercado secundário tem a função de conferir liquidez
aos valores mobiliários emitidos no mercado primário, permitindo que
os investidores transfiram, entre si, os títulos previamente adquiridos.
No mercado secundário, os valores mobiliários poderiam, em tese,
ser negociados diretamente entre os investidores ou por intermédio de
instituições financeiras que os representem. No entanto, a negociação
direta normalmente acarreta inúmeras dificuldades, tais como a de se
encontrar outros investidores interessados em negociar com determi-
nado valor mobiliário, a de se estabelecer o valor da operação e de se
assegurar formas eficientes e seguras de se garantir a sua liquidação.
As Bolsas e entidades de mercado de balcão organizado exercem
esse papel de facilitar as negociações no mercado secundário, pois têm a
função primordial de organizar, manter e fiscalizar um local ou sistema
adequado e seguro para a realização de operações de compra e venda de
a) Conceito e características
Tradicionalmente, as bolsas de valores e de mercadorias e futuros
sempre foram organizadas, no Brasil e no exterior, sob a forma de as-
sociação de seus corretores membros, os quais detinham a totalidade
dos títulos emitidos pela bolsa da qual faziam parte, além do direito
exclusivo de negociar em seu recinto.
No entanto, a partir do início da década de 1990, verificou-se
crescente tendência no sentido de as associações de corretores mem-
bros serem convertidas em sociedades empresariais, visando, portanto,
ao lucro e adotando o tipo societário de sociedades anônimas. Este
processo de transformação de associações integradas exclusivamente
pelos membros registrados nas bolsas para estruturas corporativas
com capital detido por acionistas foi denominado desmutualização.
No sistema tradicional de associação, os próprios membros
(corretores) são tidos como os “donos” da bolsa, ou seja, eles detêm os
b) Causas da desmutualização
As razões que levaram as bolsas de valores e de mercadorias e
futuros a seguirem o processo de desmutualização estão relacionadas,
essencialmente, ao crescimento significativo da competição global,
verificado, a partir da década de 1990, no mercado de valores mobiliá-
rios, em decorrência de inúmeros fatores, dentre os quais os principais
foram o desenvolvimento tecnológico e a “globalização”.
O desenvolvimento de inovações tecnológicas permitiu a substi-
tuição da estrutura tradicional de negociação, qual seja, o denominado
“pregão”, pelas transações eletrônicas, via computador, que dispensam
a necessidade de deslocamento das partes até o recinto físico onde
eram realizadas as operações.
Com o desenvolvimento das aludidas inovações tecnológicas,
surgiram no mercado sistemas eletrônicos de negociação, dentre os
isso, cada uma das partes abre mão de oscilações potencialmente vantajosas,
a fim de se proteger contra aquelas que lhe seriam prejudiciais.” (OTAVIO
YAZBEK. Regulação do mercado financeiro e de capitais. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2007, p.110)
40 Conforme antes referido, é necessário para esse tipo de negociação que se-
jam depositadas margens de garantia, apenas como uma forma de proteger
o mercado contra a eventual inadimplência dos participantes.
a) Opções de compra
As opções de compra garantem aos seus titulares o direito de
comprar determinado ativo, a um preço de exercício preestabelecido.
Tal direito poderá ou não ser exercido até a data de vencimento, de
acordo com a conveniência de seu titular.
O comprador de uma opção de compra paga à vista para o lan-
çador o chamado prêmio, adquirindo o direito de comprar, no futuro,
até a data de vencimento da opção, o ativo-objeto, pelo preço de
exercício fixado.
O lançador, ou seja, o vendedor da opção de compra, recebe à
vista o prêmio correspondente à venda da opção e assume a obrigação
de vender o ativo-objeto pelo preço de exercício fixado, desde que o
comprador exerça o seu direito de compra até a data de vencimento
da opção. Neste caso, o lançador tem o direito de receber o pagamento
do preço de exercício e o titular a receber a totalidade do ativo.
Registre-se que a obrigação de entrega do ativo pelo lançador
estará garantida por um depósito do próprio ativo ou pelo depósito
de margens de garantia, dentro dos parâmetros requeridos pela bolsa,
perante as entidades de compensação e liquidação.
Na hipótese de o comprador da opção não exercer seu direito de
compra (o que deverá ocorrer caso o preço do ativo no mercado à vista
fique abaixo do preço de exercício fixado), ele perde o prêmio ante-
riormente pago, ficando o vendedor da opção com esta importância,
sem qualquer compromisso adicional.
O lançador de uma opção de compra espera que, na data de ven-
cimento da opção, o preço do ativo a que se refere a opção seja menor
no mercado à vista do que aquele estabelecido no contrato (diz-se
comumente que, neste caso, a opção está “fora do dinheiro”), para que,
diante desse quadro, o comprador da opção não exerça seu direito e
ele realize um lucro com a operação decorrente do recebimento do
prêmio pago pelo comprador.
b) Opções de venda
Uma opção de venda, por sua vez, garante a seu titular o direito
de vender ao lançador determinado ativo a um preço de exercício
preestabelecido.
Assim, nas opções de venda, cabe ao comprador da opção pagar à
vista o prêmio, adquirindo o direito de vender, na data de vencimento
fixada, o ativo-objeto pelo preço de exercício. Ao vendedor da opção,
por outro lado, cumpre receber o prêmio e obrigar-se a comprar o
ativo-objeto, pelo preço de exercício fixado, na data de vencimento,
se o comprador das opções de venda optar por vendê-lo.
O lançador de uma opção de venda, ou seja, o investidor que vende
tal opção, assume, portanto, a obrigação de, na hipótese de exercício
da opção, pagar o preço de exercício para receber, em contrapartida,
o ativo objeto.
Imaginemos que, na data de vencimento da opção de venda, o
preço do ativo-objeto esteja inferior no mercado à vista do que o preço
de exercício da opção. Nesse caso, o lançador deverá ser designado para
atender ao pedido de exercício, sendo, então, obrigado a comprar o
ativo por tal preço. Ou seja, o lançador poderá ser obrigado a comprar
as ações do titular a um valor superior ao preço de mercado de tais
ações naquele momento.
Por outro lado, se o preço do ativo no mercado à vista estiver
superior ao preço de exercício da opção de venda, o titular das opções
provavelmente não irá exercer seu direito. Isto porque, se tal direito fos-
se exercido, o titular venderia suas ações ao lançador a um preço menor
48 CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA. Instituições de Direito Civil, 18a ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1997, p. 251.
49 LUIZ CARLOS STURZENEGGER. “A Doutrina do ‘Patrimônio de Afetação’ e
o Novo Sistema de Pagamentos Brasileiro”. Revista de Direito Bancário, do
Mercado de Capitais e da Arbitragem. São Paulo: Revista dos Tribunais, n.
11, jan.-mar. 2001, p. 239.
54 ARY OSWALDO MATTOS FILHO. “Natureza Jurídica das atividades das Bolsas
de valores”. Revista dos Tribunais. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 603,
1986, pp. 27-28.
55 ARY OSWALDO MATTOS FILHO. “Natureza Jurídica das atividades das Bolsas
de valores”. Revista dos Tribunais. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 603,
1986, p. 12.
58 Após a integração das atividades da Bovespa e da BM&F (ver item 6.5.3 deste
Capítulo) a Bovespa Supervisão de Mercado passou a ser denomidada BM&F-
Bovespa Supervisão de Mercados – BSM.
61 NELSON EIZIRIK. A Lei das S/A Comentada, vol. IV – 2ª edição revista e am-
pliada – artigos 206 a 300. São Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 131.
62 BM&FBOVESPA. Protocolo e justificação da incorporação da CETIP S.A. –
Mercados organizados pela BM&FBOVESPA S.A. – Bolsa de Valores, Merca-
dorias e Futuros. Disponível em: <http://ri.bmfbovespa.com.br/ptb/3227/
ANEXO%20II.1%20Protocolo%20e%20Justificacao_versao%20para%20
assinatura.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2017.
63 CAROLINA MANDL. Agora B3, Bolsa inicia nova fase com longa integração.
Disponível em: <http://www.valor.com.br/financas/4921524/agora-b3-Bol-
sa-inicia-nova-fase-com-longa-integracao>. Acesso em: 6 jun. 2017.
65 MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A Nova Lei das S/A. São Paulo:
Saraiva, 2002, p. 132.
66 Nesse sentido, o artigo 24 da Lei dispõe que “Para fins do depósito centraliza-
do, os ativos financeiros e valores mobiliários, em forma física ou eletrônica,
serão transferidos no regime de titularidade fiduciária para o depositário
central.”
67 A transferência de valores mobiliários para o depositário central, uma vez
realizada, é considerada definitiva e irrevogável, conforme estabelece o artigo
37 da Instrução CVM nº 541/2013.
trole. Por outro lado, foram rejeitados três dos quatro pontos votados
em separado: a obrigação de divulgação de relatório socioambiental;
o quórum de 50% para saída do segmento; e a OPA por aquisição de
participação relevante (20% a 30%, a critério da companhia).
Com relação às ações em circulação, a atualização não altera a
regra geral do percentual de 25% do capital social de free-float. Ago-
ra, no entanto, é possível sustentar um percentual correspondente a
15% do capital social, desde que o volume financeiro médio diário de
negociação das ações da companhia se mantenha igual ou superior
a R$25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de reais), considerados os
negócios realizados nos últimos 12 meses (artigo 10 do Regulamen-
to). Além disso, na hipótese de ingresso no segmento concomitante
à realização de oferta pública de distribuição de ações, a companhia
pode manter, nos primeiros 18 meses, ações em circulação em per-
centual de, no mínimo, 15% do capital social, apenas caso o volume
financeiro das ações em circulação da respectiva oferta seja superior a
R$3.000.000.000,00 (três bilhões de reais).
Em matéria de dispersão acionária, a novidade trazida é a ressalva
destinada às ofertas públicas de distribuição de ações com esforços
restritos. Especificamente nestas operações, as companhias não preci-
sam envidar melhores esforços para atingir dispersão acionária (artigo
12 do Regulamento).
O Conselho de Administração passa a ser obrigatoriamente
composto por 20% de conselheiros independentes ou dois membros,
sempre arredondando o número para cima. É sutil a alteração, que
apenas elimina a possibilidade de arredondá-lo para menos. Houve
também a supressão do número mínimo de membros e da obrigatorie-
dade de assinatura do termo de anuência como condição para a tomada
de posse de cargo no Conselho de Administração ou Diretoria. Já os
critérios determinantes da independência dos conselheiros ficaram
mais detalhados no novo regulamento, passando a não considerar
independente também aquele cujo exercício de voto nas reuniões do
conselho seja vinculado por acordo de acionistas que tenha por ob-
jeto matérias relacionadas à companhia. Além disso, outros critérios
foram flexibilizados, devendo passar por uma análise subjetiva que
determinará a independência ou não. Por exemplo, antes, o conselheiro
que recebesse outra remuneração da companhia que não decorrente
de participação no capital social não era considerado independente.
Agora, porém, esta circunstância passa por uma análise a fim de se
verificar se implica na perda da independência ou não (artigo 16, § 2º,
do Regulamento). Por fim, nas companhias com acionista controla-
dor, os conselheiros eleitos em votação em separado são considerados
independentes.
Na hipótese de saída voluntária do Novo Mercado, deve esta
ser precedida por Oferta Pública de Aquisição, por preço justo, com
observância da regulamentação editada pela CVM referente a OPA
para cancelamento de registro. É preciso também que 33% das ações
em circulação, ou percentual maior definido no estatuto social, aceitem
a oferta pública ou concordem expressamente com a saída sem efetuar
a venda das ações. No regime anterior, não havia quórum estabelecido,
mas a saída deveria ser previamente aprovada em Assembleia Geral
de acionistas e a oferta pública deveria ser por valor econômico.
Outra regra acrescentada pelo Regulamento determina que, em
caso de reorganização societária que envolva a transferência da base
acionária da companhia, as sociedades resultantes devem pleitear o
ingresso no segmento do Novo Mercado em até 120 (cento e vinte) dias
da data da Assembleia Geral que deliberou a referida reorganização.
A atualização também trouxe novas disposições sobre fiscalização
e controle. As companhias listadas no Novo Mercado devem instalar
comitê de auditoria, estatutário ou não, incumbido de atuar como
órgão de assessoramento vinculado ao Conselho de Administração.
Do mesmo modo, determina-se a constituição de auditoria interna,
com o fim de aferir qualidade e efetividade dos processos de geren-
ciamento de riscos, controle e governança, com atribuições aprovadas
Auditores 384
8 MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A nova Lei das S.A.. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 447.
9 JULIAN FONSECA PEÑA CHEDIAK. “A Reforma do Mercado de Valores Mobiliários”.
In: JORGE LOBO (org.). Reforma da Lei das Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro:
Forense, 2002, pp. 528-529.
10 Nesse sentido: “A intervenção do Estado na ordem econômica por via normativa
há de ser rápida, eficaz, ágil e abarcar todos os aspectos que sejam necessários.
17 SÉRGIO GUERRA. Controle Judicial dos Atos Regulatórios. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2005, p. 123.
18 LEOPOLDO UBIRATAN CARREIRO PAGOTTO. “Fundamento Constitucional da
Atividade Normativa das Autarquias no Direito Brasileiro”. In: MARIA SYLVIA
ZANELLA DI PIETRO (org.). Direito Regulatório: Temas Polêmicos. Belo Horizonte:
Fórum, 2003, pp. 235-294.
19 Sobre o assunto, ver NELSON EIZIRIK. “O Colegiado da CVM e o CRSFN como juízes
administrativos: reflexões e revisão”. Revista de Direito Bancário e do Mercado
de Capitais, n. 34, out.-dez. 2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, pp. 32 et seg.
ser utilizado, tão-somente, nos estritos limites conferidos pela legislação. Assim,
entendo que nada que não se relacione com a legalidade ou ilegalidade das
deliberações a serem tomadas em assembleia de acionistas deve ser objeto de
análise pela CVM neste procedimento” (trecho extraído do voto do Diretor Pedro
Marcílio). No mesmo sentido o Processo CVM nº 19957.004743/2016-53, Rel. SEP,
j. 31.07.2016; Processo CVM nº 19957.002527/2016-73, Rel. SEP, j. 26.04.2016; e
Processos CVM nos RJ2012/14312 e RJ2012/14317, j. 30.11.2012.
25 Isso é o que consta da decisão da CVM no Processo nº RJ 2007/8844, Rel.
SEP, j. 23.07.2007, em que alguns acionistas recorreram da decisão da SEP de
indeferir o pedido de interrupção do prazo de convocação da assembleia geral:
“Adicionalmente, o Colegiado entendeu que qualquer conclusão quanto a
eventual conflito de interesses ou benefício particular do acionista controlador,
assim como quanto ao exercício abusivo de poder de controle, somente poderá
se dar a posteriori à deliberação, uma vez que, como já decidido em 18.04.2007,
no Processo RJ2007/3453, o art. 124, § 5º da Lei 6.404/76 fala das ‘propostas a
serem submetidas à assembleia’, mas não das deliberações ou votos. Finalmente, o
Colegiado salientou que a conduta do acionista controlador pode ser examinada
em processo administrativo sancionador, após investigação apropriada,
incompatível com o prazo e a natureza cautelar do pedido de interrupção do
curso do prazo de antecedência de AGE” (grifamos). O precedente citado por essa
decisão também estabelece: “A CVM deve, portanto, pressupor a validade dos
atos societários da acionista controladora na análise da legalidade das propostas
a serem submetidas às assembleias de acionistas da Companhia, a não ser que
haja decisão judicial que determine de forma provisória ou definitiva que esses
atos societários são ilegais; alguns dos argumentos apresentados não foram
comprovados documentalmente, necessitando de provas adicionais, e, portanto,
não podem ser analisados no âmbito do processo estabelecido pelo art. 124, §
5º, II da Lei 6.404/76” (Processo CVM nº RJ 2007/3453, Rel. Dir. Sergio Weguelin,
j. 18.04.2007 – grifamos). Da mesma forma, o Processo CVM nº RJ2014/3059, Rel.
SEP, j. 25.03.2014; Processo CVM nº 19957.002527/2016-73, Rel. SEP, j. 26.04.2016;
e Processo CVM nº 19957.003229/2017-81, Rel. SEP, j. 12.04.2017.
26 Inclusive, já entendeu o Colegiado, no julgamento do Processo CVM nº RJ
2002/5907, Rel. Dir. Luiz Antonio Sampaio Campos, j. 13.08.2002, que: “Quando
a companhia convoca uma assembleia para determinada data, parece-me
que esta data, em regra, não é escolhida caprichosamente. Há, certamente,
toda uma previsão e um custo relacionado, quando mais não seja de recursos
humanos, logística e publicação. O simples adiamento da assembleia representa,
inegavelmente, um custo para a companhia”.
39 A CVM pode atuar como amicus curiae “nos processos judiciais, de caráter
individual, nos quais devam ser apreciadas questões de direito societário sujeitas,
no plano administrativo, à competência fiscalizadora dessa autarquia” (ATHOS
GUSMÃO CARNEIRO. Intervenção de Terceiros. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 182).
40 A atuação da CVM como amicus curiae, ao contribuir com conhecimento
especializado para o julgamento de demandas relacionadas ao mercado de
capitais, exerce um papel de grande relevância para o Poder Judiciário. A
manifestação da CVM auxilia não só o juiz em sua decisão, mas o mercado como
um todo. Segundo afirmou o desembargador do Tribunal de Justiça do Estado
do Rio de Janeiro, Antônio Carlos Esteves Torres, a norma que prevê a intimação
judicial da Procuradoria Especializada da CVM atende ao propósito de auxiliar na
prestação do serviço jurisdicional, possibilitando que se decida o caso concreto
levando-se em consideração também os interesses do mercado (ANDRÉA
HÁFEZ. Amigo da Corte. Disponível em: <http://www.portaldoinvestidor.gov.
br/portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/entrevistas/Arquivos/
Amigo_da_Corte.PDF>. Acesso em: 29 jun. 2017).
41 “Art. 31. Nos processos judiciários que tenham por objetivo matéria incluída na
competência da Comissão de Valores Mobiliários, será esta sempre intimada
para, querendo, oferecer parecer ou prestar esclarecimentos, no prazo de quinze
dias a contar da intimação. § 1º A intimação far-se-á, logo após a contestação, por
mandado ou por carta com aviso de recebimento, conforme a Comissão tenha,
ou não, sede ou representação na comarca em que tenha sido proposta a ação.”
45 A propósito, decidiu-se que: “Por isso, nos processos judiciais que tenham por
objeto matéria incluída na competência da Comissão de Valores Mobiliários, será
esta sempre intimada para, querendo, oferecer parecer ou prestar esclarecimentos,
no prazo de 15 dias a contar da intimação, que deverá ocorrer logo após a
contestação, conforme determina o art. 31 da citada lei. Assim, tenho que melhor
solução não há senão a de anular o processo, por total afronta a dispositivo de lei
federal. Mercê de tais considerações, hei por bem instalar preliminar, de ofício,
anulando o processo a partir da f. 250, determinando seja intimada a Comissão
de Valores Mobiliários, para o regular prosseguimento do feito” (TAMG, Apelação
Cível nº 414.706-4, Rel. Juiz Domingos Coelho, j. 10.12.2003).
46 DANILO ALVES CORRÊA FILHO. “Direito de Recesso. Inaplicabilidade do art. 37
da Lei das S.A. (Amicus curiae – Consoante disposto no art. 31 da Lei 6.385/76)”.
Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais, n. 31, jan.-mar. 2006. São
Paulo: Revista dos Tribunais, p. 161.
47 Como observado a respeito por Paulo Cezar Aragão, “creio, francamente, que
os memoriais em que a autarquia age como amicus curiae representam, a longo
prazo, uma das mais eficazes formas pelas quais a atividade didática da CVM se
irá desenvolvendo no curso do tempo. Por isso mesmo, a apresentação didática
dos conceitos como a orientação do órgão máximo da CVM têm, a meu ver, uma
importância fundamental” (PAULO CEZAR ARAGÃO. “A CVM em juízo: limites e
possibilidades”. Revista de direito bancário e do mercado de capitais, v. 9, n. 34,
out.-dez. 2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 47).
48 “Art. 12. Quando o inquérito, instaurado de acordo com o § 2º do art. 9º, concluir
pela ocorrência de crime de ação pública, a Comissão de Valores Mobiliários
oficiará ao Ministério Público, para a propositura da ação penal.”
49 “Art. 28. Quando, no exercício de suas atribuições legais, o Banco Central do Brasil
ou a Comissão de Valores Mobiliários – CVM, verificar a ocorrência de crime
previsto nesta lei, disso deverá informar ao Ministério Público Federal, enviando-
lhe os documentos necessários à comprovação do fato.”
50 “Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério
Público Federal, perante a Justiça Federal. Parágrafo único. Sem prejuízo do
disposto no art. 268 do Código de Processo Penal, aprovado pelo Decreto-lei nº
3.689, de 3 de outubro de 1941, será admitida a assistência da Comissão de Valores
Mobiliários – CVM, quando o crime tiver sido praticado no âmbito de atividade
sujeita à disciplina e à fiscalização dessa Autarquia, e do Banco Central do Brasil
quando, fora daquela hipótese, houver sido cometido na órbita de atividade
sujeita à sua disciplina e fiscalização.”
Inquérito. Por fim, deve-se esclarecer que a criação da SPS não subtrai
a competência das demais Superintendências para oferecerem termo
de acusação, quando se revelarem suficientes os elementos destinados
à configuração da autoria e da materialidade.
Com a implementação da SPS – também informalmente de-
nominada “superintendência de enforcement” – objetivou a CVM a
consecução de um duplo objetivo. O primeiro, relacionado à redução
dos prazos de tramitação dos processos em andamento; o segundo,
voltado ao aprimoramento da fiscalização71.
Com efeito, um dos mais importantes elementos constitutivos
do modelo teórico acusatório, por ser pressuposto de todos os outros,
é o da separação entre juiz e acusação, que comporta não só a dife-
renciação entre os sujeitos que desenvolvem funções judicantes e os
que desenvolvem funções de postulação, como também a garantia do
distanciamento do juiz em relação às partes em causa72.
Conforme a orientação adotada pela CVM73, são reconhecidas
duas fases no processo administrativo sancionador: a primeira, de in-
vestigação, e a segunda, de contraditório, que se inicia com a intimação
dos indiciados para a apresentação de defesa, na qual já existe uma
efetiva acusação de prática de atos ilícitos.
A instauração de processo administrativo sancionador, por parte
da CVM, constituindo um ato administrativo, deve ser devidamente
motivada; há de ficar evidenciada a existência de fatos sobre os quais
haja indícios de ilegalidade e que sirvam de fundamento à sua ins-
tauração74.
71 Ver, a propósito, “Nova área na CVM quer tornar processos mais ágeis”, reportagem
de Catherine Vieira veiculada no jornal “Valor Econômico”, edição de 20.05.2008,
p. b2.
72 LUIGI FERRAJOLI. Direito e Razão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 522.
73 Parecer de Orientação CVM nº 6, de 28.04.1980, do Dr. Paulo Cezar Aragão,
então, Superintendente Jurídico da CVM.
74 Consoante a doutrina, a acusação não pode ser hipotética quanto à configuração
típica do fato que se imputa ao Réu e “muito menos pode alguém ser submetido
às agruras de um processo a título de precipitação do órgão acusador, ansioso em
demonstrar a sua tese” (MIGUEL REALE JÚNIOR. Direito Penal Aplicado, v. 3. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, pp. 5-20).
75 Nesse sentido, o voto do Ministro Celso de Mello, nos autos do Habeas Corpus nº
86.879-7, 2ª Turma do STF, j. 21.02.2006: “Na realidade, os princípios democráticos
que informam o modelo constitucional consagrado na Carta Política de 1988
repelem qualquer ato estatal que transgrida o dogma de que não haverá culpa
penal por presunções nem responsabilidade criminal por mera suspeita. Meras
conjecturas sequer podem confiar suporte material a qualquer acusação estatal.
É que, sem base probatória consistente, dados conjecturais não se revestem, em
sede penal, de idoneidade jurídica, quer para efeito de formulação de imputação
penal, quer para fins de prolação de juízo condenatório”.
crime85. Vale notar, nesse sentido, que é inadmissível – tal como ocorre
no âmbito do direito penal – a imputação da prática de ilícitos com
base em acusações vagas, sob pena de caracterizar-se o cerceamento
ao direito de defesa. A acusação deverá conter a conclusão do órgão de
instrução, devidamente justificada, ou seja, fundamentada e motivada
com a indicação das normas aplicáveis e explicitações das razões de
seu convencimento.
Antes da intimação dos acusados para a apresentação das res-
pectivas defesas, a Procuradoria Federal Especializada da CVM
(PFE-CVM) emitirá parecer sobre o termo de acusação, analisando,
objetivamente, a presença dos requisitos enumerados nos artigos 5º
e 6º da Instrução CVM nº 607/2019 e a adequação do rito adotado
para o processo administrativo sancionador. Caso constatada, pela
Procuradoria, a ausência de alguns requisitos necessários à formulação
de acusação ou a inadequação do procedimento, a Superintendência
que a tiver oferecido poderá efetuar ajustes na peça acusatória, adequar
o rito do processo administrativo ou arquivá-lo86.
Após concluído o Inquérito ou oferecido o termo de acusação,
os autos seguirão para a Coordenação de Controle de Processo Ad-
ministrativo – CCP – que encaminhará a citação aos acusados para
que apresentem suas defesas por escrito dentro de 30 dias87. Dessa
100 NELSON EIZIRIK. Reforma das S.A. e do Mercado de Capitais, 2a ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 1998, pp. 179-180; FÁBIO MEDINA OSÓRIO. Direito Administrativo
Sancionador. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 268.
101 A respeito, observa Daniel Ferreira que: “Referido princípio é reflexo imediato
de outro – o da legalidade —, que, em nível sancionador (inclusive penal), veda
a imposição de qualquer consequência jurídica restritiva de direitos de natureza
repressiva (sanção ou pena) em decorrência de um ilícito (infração ou crime)
até então – à época do seu cometimento – não reconhecido como tal. Da forma
simples como prescreveu nosso legislador constituinte originário, ‘não há crime
sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal’. Ocorre que
– como muito bem anotado por Carlos Ari Sundfeld —, ampliando o alcance de tal
vetor, ‘não basta a sanção estar na lei: mister haver sido criada antes da ocorrência
concreta do comportamento a punir. Sanção administrativa alguma incide em
fato anterior à vigência da lei que a estabeleceu’. Assim, ‘não há possibilidade
de punição sem prévia previsão normativa da infração’, ou, dito de outro modo,
‘a lei há de ser anterior à prática da infração para que se possa punir o infrator’”
(DANIEL FERREIRA. Sanções Administrativas. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 137).
102 Ao justificar o referido princípio, já afirmava Hobbes que “se a pena supõe um fato
considerado pela lei como sendo uma transgressão, o dano infligido por um fato
cometido antes de existir uma lei que o proíba não é um fato punível, mas um ato
de hostilidade, pois antes da lei não existe transgressão da lei; por isso nenhuma
lei elaborada depois de realizar-se uma ação pode dela fazer um delito” (LUIGI
FERRAJOLI. Direito e Razão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 351).
da lex gravior, que é aquela que cria ilícito até então inexistente ou que
agrava as consequências punitivas do fato.
Se a lei nova impõe sanções mais severas (inovatio legis in pejus),
esta somente poderá ser aplicada às infrações ocorridas após a data
em que entrar em vigor.
O artigo 5º, inciso XL da Constituição Federal, ao estatuir que
“a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”, estabelece o
princípio de que a aplicação da norma com caráter retroativo somente
pode ocorrer em benefício do acusado (novatio legis in mellius).
Ademais, de acordo com o Código Penal, em seu artigo 2º, pa-
rágrafo único103, a lei posterior que se revele mais favorável ao agente
será aplicável ao fato não definitivamente julgado, de acordo com o
princípio da novatio legis in mellius.
Em virtude do princípio da novatio legis in mellius, deverão ser admi-
tidos todos os meios de defesa para que os efeitos jurídicos da nova ordem
vigente também venham a alcançar processos sancionadores pendentes
de decisão definitiva ou de eventuais sanções anteriormente impostas.
Isto porque, não se justifica o exercício do poder punitivo, por parte da
Administração Pública, quando o legislador passa a não mais valorar ou
ainda a conferir valoração menos relevante a condutas antes consideradas
ilícitas ou passíveis da aplicação de penalidades mais gravosas.
Assim, se a norma incriminadora for revogada após a ocorrência
do fato considerado ilícito administrativo, mas antes da instauração
de inquérito para sua apreciação, extingue-se a punibilidade do agente
(abolitio criminis).
Deve, igualmente, ficar impune a conduta cuja norma tipificadora,
vigente ao tempo de sua ocorrência, foi revogada antes da decisão final
103 Código Penal, artigo 2º: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixe
de considerar crime, cessando em virtude dele a execução e os efeitos penais da
sentença condenatória. Parágrafo único – A lei posterior, que de qualquer modo
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado”.
104 Nesse sentido, a decisão do CRSFN, nos autos do Recurso nº 1814, julgado na
140ª Sessão, em 10.10.1996. As decisões mais recentes, mencionam a doutrina
ao examinarem a aplicação das leis no tempo, como, por exemplo, no Recurso
11753-CS, 318ª sessão, Rel. Cons. Felisberto Bonfim Pereira: “Por essa razão as
posteriores gradações (substancialmente mais gravosas) inseridas na Resolução
CMN no 3.192/04 não podem seu utilizadas como parâmetro válido para a fixação
da multa referente à conduta da ora defendente. Para a determinação de qual
regime normativo seria aplicável [...] esclarecedoras as seguintes considerações:
‘Vê-se que da sucessão das leis no tempo ressaem, didaticamente, as hipóteses
de que a lei posterior (lei nova) incrimina fato não previsto na anterior – vale o
princípio da irretroatividade; a lei posterior desincrimina fato anteriormente
punível – vale o princípio da retroatividade favorável (abolitio criminis); a lei
posterior pune o mesmo fato mais gravemente que a anterior – vale o princípio
da ultratividade; a lei posterior beneficie de qualquer forma o agente – vale o
princípio da retroatividade favorável. Para a determinação da lei penal mais
favorável, deve-se realizar um exame cuidadoso do efeito da aplicação das
leis – anterior e posterior – e utilizar-se da que se apresente, in concreto, como
a mais benigna ao réu. Acentua-se que esse caráter deve ser considerado em
relação ao agente e à situação judicial concreta em que se encontre. [...] Também
para a lei intermediária – em vigor depois da prática do fato e revogada antes de
seu julgamento final – permanece válido o postulado da retroatividade da lex
mitior e da não-retroatividade da lex gravior’. (grifou-se) Neste mesmo sentido,
GILMAR FERREIRA MENDES/INOCÊNCIO MÁRTIRES COELHO/PAULO GUSTAVO
GONET BRANCO [...] ‘Se, entre as leis que se sucedem, surge uma intermediária
mais benigna, embora não seja a do tempo do crime nem daquele em que a lei
vai ser aplicada, essa lei intermediária mais benévola deve ser aplicada’.”
105 A respeito, os comentários de Silvânio Covas e Adriana Cardinali, com fundamento
na jurisprudência do CRSFN: “Ao longo de seu funcionamento, o CRSFN tem
109 Nesse sentido, Hely Lopes Meirelles: “Se em um processo administrativo punitivo
[...] os motivos fundamentadores da sanção aplicada inexistem ou não resultam das
provas dos autos ou não correspondem exatamente ao apurado na instrução ou
não coincidem com os pressupostos de direito que ensejar a punição, a penalidade
aplicada é nula por inexistência ou falsidade de motivos” (HELY LOPES MEIRELLES.
Estudos e Pareceres de Direito Público, v. IV. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1981, pp. 136-138).
110 A respeito da analogia, explica Ferrajoli que para sua proibição há que se distinguir,
previamente, dentre as leis aplicáveis, aquelas que se demonstrem favoráveis ou
contrárias ao réu: “a analogia encontra-se excluída se é in malam partem, enquanto
é admitida caso seja in bonam partem, ao estar sua proibição dirigida, conforme o
critério geral do favor do rei, a impedir não a restrição, mas somente a extensão
por obra da discricionariedade judicial do âmbito legal da punibilidade. Disso
segue-se, em termos mais gerais, o dever de interpretação restritiva e a proibição
da interpretação extensiva das leis penais. ‘Não está permitido estender as leis
penais’, escreveu Francis Bacon ‘a delitos não contemplados expressamente’ e ‘é
cruel atormentar o texto das leis para que estas atormentem os cidadãos’” (LUIGI
FERRAJOLI. Direito e Razão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 522).
111 DAMÁSIO DE JESUS. Direito Penal, v. 1. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 44.
112 NELSON EIZIRIK. Reforma das S.A. e do Mercado de Capitais, 2a ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 1998, p. 184.
117 LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, PAULO JOSÉ DA COSTA JR. Direito Penal na
Constituição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, pp. 76-77.
118 LUIGI FERRAJOLI. Direito e Razão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 447.
119 O erro sobre a ilicitude do fato constituiu a fundamentação para a absolvição dos
acusados nos autos Processo Administrativo Sancionador CVM nº RJ 2003/6894,
julgado em 08.11.2005, no qual se discutia a possibilidade de aplicação à hipótese
das normas que vedam a marcação a mercado: “seria impossível exigir de qualquer
agente de mercado que, lendo esse conjunto de regras, revogadas e editadas, as
interpretasse no sentido de que era proibido, após a edição da Circular 3.086/02,
avaliar as LFT’s pela curva do papel. Por isto, ainda que se entenda – e não é o meu
caso – que a Circular 3.086/02 quis manter a proibição de marcação pela curva
exatamente como ‘esclarecida’ pela Carta-Circular 2.929/00, seria o caso de
aplicar-se, neste processo administrativo, a regra do art. 21 do Código Penal. Tal
norma, aplicável aos processos punitivos de condutas criminosas (portanto mais
graves), estabelece desde a reforma de 1984, expressamente, a vigência entre
nós da hipótese de erro sobre a ilicitude do fato, também chamado de erro de
proibição” (voto do Presidente Marcelo Fernandez Trindade).
120 “Art. 21 O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se
inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço”.
121 Como bem explica, a respeito, Francisco de Assis Toledo: “[A] lei, em sentido
jurídico, é a norma escrita editada pelos órgãos competentes do Estado. Ilicitude
de um fato é a correlação que se estabelece entre esse fato e a totalidade do
ordenamento jurídico vigente. Se tomarmos, de um lado, a totalidade das leis
vigentes e, de outro, um fato da vida real, não será preciso muito esforço para
perceber que a eventual ilicitude desse fato não está no fato em si, nem na lei,
mas entre ambos, isto é na mútua contrariedade que se estabelece entre o fato
concreto, real e o ordenamento jurídico no seu todo. Assim, pode-se conhecer
perfeitamente a lei e não a ilicitude de um fato o que bem revela a nítida distinção
dos conceitos em exame” (FRANCISCO DE ASSIS TOLEDO. Princípios Básicos do
Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 1987, pp. 250-251).
122 A propósito, a decisão do Superior Tribunal de Justiça: “RHC – Penal – Processual
Penal – Erro sobre a ilicitude do fato – Denúncia – Crimes Societários – A infração
penal, por ser conduta proibida, implica reprovação ao agente. Ocorre, pois,
culpabilidade, no sentido de censura ao sujeito ativo. O erro sobre a ilicitude do
fato, se inevitável, exclui a punibilidade. Evidente, as circunstâncias não acarretam
a mencionada censura. Não se confunde com o desconhecimento da Lei. Este é
irrelevante. A consciência da ilicitude resulta da apreensão do sentido axiológico
das normas de cultura, independentemente de leitura do texto legal, a denúncia
deve descrever o fato imputado de modo a ensejar individualização da conduta a
fim de possibilitar, no sentido material, o contraditório e o exercício da plenitude
de defesa. A exigência alcança também o chamado crime societário e os delitos de
concurso de pessoas.” (Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 4722-SP, Relator
para o Acórdão Min. Vicente Cernicchiaro, DJ 30.09.1996, p. 36.651).
134 De acordo com Sérgio Ferraz e Adilson de Abreu Dallari: “cabe recordar que a
presunção de inocência é garantia constitucional (art. 5º, LVII). Não importa se a
parte interessada tem uma, cinco ou cem condenações em curso. A presunção
de inocência só cede passo com a sentença judicial condenatória transitada em
julgado. Condenações, ainda que várias, em tramitação podem ser revertidas por
uma única, última e definitiva oportunidade, em grau de embargos em recurso
extraordinário no Supremo Tribunal Federal, após cinco ou seis considerações
anteriores no mesmo processo. Por isso que somente o trânsito em julgado cassa
a referida presunção com todas as consequências daí provenientes. É mau juízo
e precipitado comportamento sustentar o contrário” (SÉRGIO FERRAZ, ADILSON
DALLARI. Processo Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2007, pp. 157-158).
135 NELSON EIZIRIK. Reforma das S.A. e do Mercado de Capitais, 2a ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 1998, p. 203.
136 No processo CVM nº RJ2001/0134, Rel. Dir. Luiz Antonio de Sampaio Campos, j.
30.08.2002, menciona-se parecer da Procuradoria Federal especializada da CVM,
endossado pelo Procurador Chefe, com idêntico entendimento. Nesse mesmo
caso, o Diretor Relator proferiu voto no sentido de que a prerrogativa da presunção
de inocência tem plena e irrestrita aplicabilidade em processo administrativo
sancionador.
137 A aplicação do princípio da presunção de inocência pode ser encontrado no
PAS CVM nº RJ2014/10082, Rel. Dir. Gustavo Borba, j. 07.03.2016; PAS CVM nº
RJ2015/2666, Rel. Dir. Roberto Tadeu, j. 13.09.2016; e PAS CVM nº 2011/3823, Dir.
Rel. Pablo Renteria, j. 09.12.2015. No tocante à aplicação do princípio da presunção
de inocência na análise do pedido de registro de profissionais na CVM, não há
entendimento uniforme no âmbito da própria autarquia. No Processo CVM nº
RJ2002/4677, Rel. Dir. Sergio Weguelin, j. 24.05.2005, o Colegiado manifestou-se
no sentido da manutenção do registro de administrador de carteira demandado
pelo Requerente “até uma eventual confirmação da decisão de inabilitação pelo
CRSFN”. Já em hipótese praticamente idêntica (Processo CVM nº RJ2001/8273, j.
04.10.2005) envolvendo o cadastramento de agente autônomo, o voto vencedor
foi no sentido de consagrar a tese da discricionariedade conferida à autarquia para
a determinação dos requisitos necessários ao exercício das atividades dos referidos
agentes. Em processos mais recentes, observa-se tendência à admissibilidade
do descredenciamento antes do trânsito em julgado de decisão condenatória,
em contrariedade ao princípio da presunção de inocência. No Processo CVM
nº RJ2013/7556, Rel. SIN, j. 15.04.2014, a Superintendência de Relações com
Investidores Institucionais (SIN), após ter sua decisão de descredenciamento de
administrador de carteiras recorrida, exarou parecer declarando: “Ressaltamos
ainda que a descaracterização da reputação ilibada por parte de um administrador
de carteiras de valores mobiliários não depende do trânsito em julgado das
decisões tomadas como fundamento, razão pela qual se pode dizer que
considerá-las não ofenderia o princípio da presunção da inocência, tampouco,
o da legalidade ou da ampla defesa.”. No PA RJ 2009/12425, Rel. Dir. Alexsandro
Broedel, j. 09.11.2010, ficou consignado: “Inicialmente, afasto o argumento
apresentado pelo recorrente de que é necessário trânsito em julgado de sentença
condenatória para caracterização de perda da ilibada reputação. Conforme
disposto nas páginas precedentes não se pode confundir reputação ilibada com
primariedade. Quisesse o legislador usar o critério de primariedade como requisito
para o exercício da função de gestor de carteiras (bem como para membro de
conselho de administração conforme disposto na Lei 6.404/76 e em outras
situações supramencionadas) ele o teria usado no texto da norma. [...] E por isso
mesmo, embora condenações já revertidas em instância administrativa superior
ou ainda pendentes de recurso administrativo não constituam antecedentes,
elas, por outro lado, são dados válidos e até mesmo incontornáveis para apreciar
a reputação ilibada do sujeito em evidência.”. No PA RJ2007/11399, Rel. Dir. Eli
Loria, j. 03.07.2008, o Colegiado se manifestou no mesmo sentido: “Para dirimir-
se a dúvida da SIN, é imprescindível buscar-se também o alcance do art. 5º, LVII,
da Constituição Federal: ‘ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória’ [...] Quanto ao princípio constitucional da
presunção de inocência, de que trata o art. 5º, LVII, entendo que o mesmo somente
abrange a esfera penal, sentença penal condenatória, e não julgado administrativo,
e, além disso, entendo não ser tal princípio aplicável ao exame de vida pregressa.
Assim, no meu entender, para aferir-se o preenchimento do requisito “ilibada
reputação”, as condenações anteriores deverão ser consideradas, mesmo sem ter
havido trânsito em julgado na esfera administrativa. A necessidade de proteção
da poupança popular faz necessário o exame da natureza das infrações indicadas
e as circunstâncias do caso, a gravidade e a época dos fatos, a punição aplicada
e o histórico do peticionário junto aos órgãos reguladores do Sistema Financeiro
Nacional, Bacen, CVM, SUSEP e SPC, não se confundindo com o exame da culpa
no que se refere aos ilícitos administrativos indicados.”
138 A prova incumbe ao acusador; havendo dúvida, a decisão deve ser pró-
administrado, como pondera Fábio Medina Osório, citado por Silvânio Covas e
Adriana Laporta Cardinali, com apoio em extensa jurisprudência do CRSFN: “A
própria questão da dúvida é, no fundo, um problema de correta distribuição do
ônus probatório. Quem não satisfaz seu ônus probante deve suportar as respectivas
consequências. Ao julgador jamais é lícito invocar a ‘dúvida’ para eximir-se da
obrigação de decidir. [...] a regra do ‘in dubio pro reo’ se aplica em geral, somente
em relação ao fato típico, cuja prova incumbe ao acusador. As causas justificatórias
ou eximentes devem ser provadas pela defesa [...]” (O Conselho de Recursos do
Sistema Financeiro Nacional: Atribuições e Jurisprudência. São Paulo: Quartier
Latin, 2008, pp 121 et seg.).
da correta tipificação dos fatos que lhe são imputados, da sua perfeita
identificação e, ainda, da individualização da sua conduta141.
Em relação especificamente à materialidade, a peça acusatória
deve fundamentar-se em fato provado e indiscutível, não se admitindo
aquela alicerçada em meras conjecturas ou suposições.
A acusação não pode ser uma hipótese no que tange à caracte-
rização do fato típico. Ou seja, constatado o ilícito, a lei admite que
alguém seja tido como seu provável autor, com base em circunstâncias
de fato que levem razoavelmente a essa presunção. Porém, presumir a
existência do ilícito para acusar alguém de o haver praticado consti-
tui procedimento que repugna ao mais elementar senso de justiça142.
Ademais, ninguém pode ser submetido às agruras de um processo por
precipitação do órgão acusador, ansioso em demonstrar a sua tese143.
Na medida, portanto, que as limitações à atividade persecutória do
Estado traduzem garantia conferida pela ordem jurídica à preservação,
pelo suspeito, pelo indiciado ou pelo acusado, do estado de liberdade
e da dignidade que lhes são constitucionalmente assegurados, é inad-
missível a instauração de quaisquer procedimentos quando ausentes
tais pressupostos, isto é, autoria e materialidade.
outro lado e igualmente, não se tem prova – mesmo indiciária – da autoria deste
ilícito do qual não se sabe sequer se ocorreu. A questão é, portanto, do ponto
de vista material e processual, absolutamente gasosa, no sentido de não ter
qualquer concretude, mas apenas, com o devido respeito, conjecturas. A mera
plausibilidade teórica de que determinada situação ocorra ou tenha ocorrido não
autoriza nem acusação, que dirá condenação. [...] Felizmente isso não é verdade,
pelo menos à luz do processo administrativo, porque aqui se cuida essencialmente
de um processo de natureza disciplinar e, como já assentado em toda e qualquer
doutrina em que se cuidou do assunto, nesse tipo de processo é fundamental a
existência de provas” (Voto nos Autos do Processo Administrativo Sancionador
CVM nº RJ 2002/2405, Rel. Dir. Luiz Antonio de Sampaio Campos, j. 09.10.2003).
147 JOSÉ ARMANDO DA COSTA. Teoria e Prática do Direito Disciplinar. Rio de Janeiro:
Forense, 1982, p. 348.
148 Nesse sentido, a própria CVM já decidiu que somente nas hipóteses em que os
indícios são “convergentes e unívocos” poderá ser a eles atribuído valor probatório
suficiente a ensejar a condenação: “Os indícios possuem valor probatório
suficiente para ensejar condenação. Exige-se, todavia, que tais indícios sejam
convergentes e unívocos. A existência de contra-indícios suficientes para inspirar
dúvida nos julgadores deve conduzir à absolvição, em homenagem ao princípio
da presunção de inocência” (Processo Administrativo Sancionador CVM nº 06/95,
Rel. Dir. Norma Jonssen Parente, j. 05.05.2005, grifamos).
149 NELSON EIZIRIK. Reforma das S.A. e do Mercado de Capitais, 2a ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 1998, p. 205.
150 Esclarecem Silvânio Covas e Adriana Laporta Cardinali, com fundamento em Egon
Bockman Moreira, que a prova obtida por meio ilícito poderá ser aproveitada
desde que o ilícito praticado para obtê-la não seja gravíssimo: “Uma vez existente
a prova e sendo juntada aos autos do processo, caberá ao órgão julgador avaliar
– de forma fundamentada – se, frente às peculiaridades do caso concreto, ela
merece ser aproveitada. Caso seja fruto de ilícito gravíssimo, deve ser descartada
e presta-se unicamente à responsabilização do autor. Caso não o seja, e com
base nos princípios da proporcionalidade, razoabilidade e finalidade, deverá o
julgador decidir se a prova obtida por meio ilícito trará ao processo o excelente
atendimento ao interesse público posto em jogo” (O Conselho de Recursos do
Sistema Financeiro Nacional: Atribuições e Jurisprudência. São Paulo: Quartier
Latin, 2008, p 147).
151 Artigo 30, Lei nº 9.784/1999.
152 LUIZ FUX. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2005, pp.
699-700.
153 A respeito, observa Cretella Jr., que: “o regime jurídico do non bis in idem em
virtude do qual ninguém pode ser processado e punido duas vezes pela mesma
infração, encontra plena aplicação em matéria disciplinar, considerando-se ambos
os campos como absolutamente distintos. Isto é [o administrador] que cometeu a
mesma falta ou crime não pode sofrer duas penas disciplinares ou duas criminais,
o que não significa que não possa sofrer acumuladamente, uma pena disciplinar
e outra pena criminal, respondendo também a dois processos distintos” (JOSÉ
CRETELLA JÚNIOR. Prática do Processo Administrativo. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1989, p. 76).
154 O absurdo da dupla apenação chega ao seu paroxismo no exemplo clássico da
Rainha de Copas, ao ordenar a punição de Alice: “Cortem-lhe a cabeça! Cortem
de novo!” (LEWIS CARROLL. “Alice no País das Maravilhas”, apud NELSON EIZIRIK.
Reforma das S.A. e do Mercado de Capitais, 2a ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1998,
p. 206).
155 JOSÉ CRETELLA JÚNIOR. Prática do Processo Administrativo. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1989, p. 76. Em sentido contrário, o artigo 31 da Lei nº 40/2015 da
Espanha consagra a impossibilidade de a Administração Pública sancionar atos
ilícitos que tenham sido objeto de penalização na esfera criminal.
156 O contrário – isto é, a decisão administrativa vincular a decisão penal – também
pode ocorrer: “Penal – Processual Penal. Habeas Corpus. Crime contra o sistema
financeiro nacional. Representação. Denúncia. Processo Administrativo.
Arquivamento. Ação Penal: trancamento: falta de justa causa. I – No caso, tendo a
denúncia se fundado exclusivamente em representação do Banco Central, não há
como dar curso à persecução criminal que acusa o paciente de realizar atividade
privativa de instituição financeira, se a decisão proferida na esfera administrativa
afirma que ele não pratica tal atividade. Inocorrência, portanto, de justa causa
para o prosseguimento da ação penal contra o paciente. II. – HC deferido” (STF,
HC 83.674, Rel. Min. Carlos Velloso, j. 16.03.2004).
7.7.11. Prescrição
A existência da prescrição, como princípio fundamental em ma-
téria de direito administrativo sancionador, decorre de três elementos
essenciais:
166 NELSON EIZIRIK. Reforma das S.A. e do Mercado de Capitais, 2a ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 1998, pp. 211-212.
167 A respeito, observa Heraldo Garcia Vitta que: “De fato, assim como o Estado deve
punir a pessoa infratora, terá o dever de ofício, de reconhecer o prazo prescricional
da ação punitiva. Isto porque ambas as situações estão teleologicamente implicadas
e estão na mesma linha de raciocínio lógico. A finalidade das penas é prevenir
as pessoas a não cometerem ilícitos; se passar o lapso temporal demarcado por
normas jurídicas para a promoção dos atos tendentes àquela finalidade, deve o
Estado reconhecer o prazo prescricional estabelecido na lei, eis que a imposição
tardia de penalidade não atinge o fim para que ela existe” (HERALDO GARCIA
VITTA. A Sanção no Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 152).
176 De acordo com Nilza Pinto Nogueira: “No entanto, o prazo prescricional de
oito anos, estabelecido pela Lei nº 9.457 estava acima do prazo já consagrado
em relação a este tipo de infração. Tal prazo prescricional, por sua vez, acabou
por acarretar em males semelhantes aos ocorridos no caso de seu próprio
não estabelecimento ou da consideração de uma imprescritibilidade, que é a
letargia por parte da Administração Pública e o dano à imagem daquele que
está sujeito à infração por um lapso de tempo demasiadamente longo” (NILZA
PINTO NOGUEIRA. Da prescrição da puniblidade no processo administrativo:
o caso da Comissão de Valores Mobiliários – CVM, maio de 2005. Monografia
apresentada ao Instituto de Economia da UFRJ, orientada pelo Prof. Alexandre
Santos Aragão. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/menu/
acesso_informacao/serieshist/trabacademicos/anexos/Nilza_Pinto_Nogueira-
proc-adm.pdf>. Acesso em: 07.07.2017, p. 27).
177 A Lei nº 6.838/1980, ressalte-se, até então utilizada para fundamentar as alega
ções de prescrição das infrações ocorridas no âmbito do mercado de capitais,
estabelece o prazo prescricional de 5 (cinco) anos para as faltas cometidas por
profissional liberal.
178 Lei nº 9.873/1999 (sem as alterações introduzidas pela Lei nº 11.941/2009): “Art.
1º – Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal,
direta e indireta, no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração
à legislação em vigor, contados da data da prática do ato ou, no caso de infração
permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado. § 1º Incide a prescrição
no procedimento administrativo paralisado por mais de três anos, pendente de
julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante
requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade
funcional decorrente da paralisação, se for o caso. § 2º Quando o fato objeto da
ação punitiva da Administração também constituir crime, a prescrição reger-se-á
pelo prazo previsto na lei penal. Art. 2º – Interrompe-se a prescrição: I – pela
citação do indiciado ou acusado, inclusive por meio de edital; II – por qualquer
ato inequívoco, que importe apuração do fato; III – pela decisão condenatória
recorrível. Art. 3º – Suspende-se a prescrição durante a vigência: I – dos
compromissos de cessação ou de desempenho, respectivamente, previstos nos
arts. 53 e 58 da Lei nº 8.884, de 11 de junho de 1994; II – do termo de compromisso
de que trata o § 5º do art. 11 da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, com a
redação dada pela Lei nº 9.457, de 5 de maio de 1997. Art. 4º – Ressalvadas as
hipóteses de interrupção previstas no art. 2º, para as infrações ocorridas há mais
de três nos, contados do dia 1º de julho de 1998, a prescrição operará em dois
anos, a partir dessa data. Art. 5º – O disposto nesta Lei não se aplica às infrações
de natureza funcional e aos processos e procedimentos de natureza tributária.
Art. 6º – Ficam convalidados os atos praticados com base na Medida Provisória
nº 1.859-16, de 24 de setembro de 1999.”.
b. Interrupção da prescrição
Administração Pública”, Revista da CVM, n. 28, abr. 1999. Rio de Janeiro: Comissão
de Valores Mobiliários, pp. 20 et seg.).
186 “[O] preceito do inciso II é muito vago, gerando certa insegurança jurídica,
mormente porque pode criar em favor da Administração Pública o entendimento
de que é admissível a imprescritibilidade. Estando a prescrição sujeita a inúmeras
causas interruptivas, ou seja, podendo ser interrompida ‘a cada ato inequívoco
de apuração dos fatos’ poderá o prazo estender-se indefinidamente, por meio de
diligências vazias de objetivos, sem escopo prático significativo. Assim, melhor
seria a determinação exata de quais são os atos administrativos que interrompem o
prazo da prescrição [...]” (SILVÂNIO COVAS. “A prescrição no Conselho de Recursos
do Sistema Financeiro Nacional”. Revista de Direito Bancário e do Mercado de
Capitais, n. 26, out.-dez. 2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, pp. 55 et seg).
187 Ou, como se nota do voto proferido por ocasião do julgamento do Processo
Administrativo Sancionador CVM nº 16/01, Rel. Dir. Norma Jonssen Parente,
j. 03.11.2005: “De fato, cessa a pretensão punitiva desta Autarquia em cinco
anos contados da data do ilícito. Todavia os recorrentes desconsideraram
completamente as hipóteses de interrupção do prazo, alegando erroneamente,
a toda evidência, a preliminar de prescrição supedaneados tão-somente no fato
de já se ter passado mais de cinco anos da época dos fatos. Ora, tal entendimento
não merece prosperar. [...]. O item II, do art. 2º supra, estabelece como causa
à interrupção do prazo prescricional, ‘qualquer ato inequívoco que importe
apuração do fato’, tema sobre o qual já se posicionou o Diretor Luis Antônio
Sampaio Campos, no âmbito do Processo Administrativo Sancionador CVM
nº 12/98, em manifestação que vem sendo adotada por este Colegiado. Vale,
portanto, relembrar: ‘Nesse sentido, parece-me que qualquer ato praticado
pela administração pública, quando tenha por finalidade a apuração ou o
esclarecimento do fato objeto da ação punitiva, insere-se na hipótese prevista no
inciso II, do art. 2º, da Lei nº 9.873/99, desde que seja inequívoco. Dentre esses
fatos, por certo, se enquadram as diligências, a oitiva de pessoas, inclusive como
testemunhas, indiciados ou informantes, a troca ou a solicitação de informações
a outros órgãos ou à Bolsa de Valores, e tudo o mais que leve a apurar um fato, um
ato ilícito e buscar os seus responsáveis’ [...]”. Gustavo Borba, no entanto, discorda
desse entendimento, como expresso em seu voto no PAS CVM nº 12/2013, j.
24.05.2016: “Considero, contudo, não ser essa a melhor interpretação da Lei nº
9.873/99, uma vez que, seguindo esse raciocínio, o prazo para instauração do PAS
a. Advertência
A penalidade de advertência é aplicada nos casos de infrações
leves. A advertência significa uma repreensão ao acusado, por escrito,
e, muito embora constitua uma sanção branda, importa inequivo-
camente em penalidade administrativa, cuja imposição pressupõe a
certeza da culpabilidade do infrator. Daí decorre que não pode ser
utilizada como “válvula de escape” pela CVM quando, embora não
demonstrada a responsabilidade do acusado, tenham restado suspeitas
quanto à ilegalidade ou reprovabilidade de sua conduta.
b. Multa
A pena de multa, que importa em sanção pecuniária, sem ca-
ráter de composição dos prejuízos causados, tem, nos termos do §
1º do artigo 11 Lei nº 6.385/1976, com a redação dada pela Lei nº
13.506/2017 o teto máximo de:
(a) R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais);
(b) o dobro do valor da emissão ou da operação irregular;
(c) três vezes o montante da vantagem econômica ou da perda
evitada em decorrência do ato ilícito; ou
193 O próprio texto do dispositivo impõe a observância de tal princípio: “Art.11 [...] § 1º A
multa deverá observar, para fins de dosimetria, os princípios da proporcionalidade
e da razoabilidade, a capacidade econômica do infrator e os motivos que
justifiquem sua imposição, e não deverá exceder o maior destes valores: [...]”
194 VALDIR SZNICK. Da pena de multa. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de
Direito, 1984, p. 86.
c. Inabilitação temporária
195 De acordo com a doutrina deve-se distinguir entre sanções permanentes e san
ções de efeito permanente: “Sanção permanente é aquela que, voltada ao futuro,
inviabiliza o regular exercício de um direito (cujo implemento pode, ou não,
depender do prévio preenchimento de certos requisitos para tanto, conforme
estatuído em lei). Sanção de efeitos permanentes [...] é aquela que atinge uma
parcela restrita de direitos do sancionado em grau de definitividade sem que,
contudo, genericamente obstaculize seu exercício. A demissão inviabiliza a
manutenção da situação de servidor público, mas não veda o acesso a outro cargo
mediante novo concurso público e após certo lapso temporal; a inutilização de
e. Proibição temporária
O inciso VII do artigo 11 da Lei nº 6.385/1976, com a redação
conferida pela Lei nº 9.457/1997 (mantida pela Lei nº 13.506/2017),
estabelece a penalidade de proibição temporária, até o prazo máximo
de vinte anos, para as entidades integrantes do sistema de distribuição
de valores mobiliários ou outras que dependam de autorização ou
registro na CVM, de praticar determinadas operações ou atividades
no mercado. Seu objetivo é conferir à CVM o poder de sancionar
com a pena de proibição da prática de determinadas atividades, sem
a necessidade de cassar a autorização ou o registro da entidade apena-
produto não autoriza seu reaproveitamento porque não mais existente, porém
não proíbe seja outro, de mesma natureza, comercializado; a cassação de alvará
de licença proíbe a manutenção de dada atividade num específico lugar, contudo
não em todos os outros [...]” (DANIEL FERREIRA. Sanções Administrativas. São
Paulo: Malheiros, 2001, p. 136).
196 STJ, MS 1.119, Rel. Min. Peçanha Martins, j. 18.12.1991.
h. Multas cominatórias
De acordo com o artigo 9º, inciso II, da Lei nº 6.385/1976, com
redação alterada pela Lei nº 10.303/2001, a CVM poderá intimar a
prestar informações, sob pena de multa, as seguintes pessoas: inte-
grantes do sistema de distribuição de valores mobiliários; companhias
abertas e demais emissoras de valores mobiliários e, quando houver
suspeita fundada de atos ilegais, as respectivas sociedades controlado-
ras, controladas, coligadas e sob controle comum; fundos e sociedades
de investimento; auditores independentes; consultores e analistas de
valores mobiliários; e quaisquer outras pessoas, naturais ou jurídicas,
quando da apuração de atos ilegais e práticas não equitativas de ad-
ministradores, membros do conselho fiscal e acionistas de companhias
abertas, dos intermediários e demais participantes do mercado.
Além disso, conforme dispõe o artigo 9º, § 1º, inciso IV da Lei
nº 6.385/1976, com o fim de prevenir ou corrigir situações anormais
203 A Instrução CVM nº 452/2007, em seu artigo 13, § 1º, determinava que o
Superintendente que tivesse aplicado a multa cominatória poderia, de ofício ou
a pedido, conceder efeito suspensivo ao recurso caso houvesse possibilidade de
prejuízo de difícil reparação decorrente da decisão objeto do recurso.
206 JOSÉ CRETELLA JÚNIOR. Prática do Processo Administrativo. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1989, pp. 66-67.
207 Vale observar a respeito, que, como ressaltado por Luigi Ferrajoli, o simples fato
de inexistir qualquer “relação natural” entre a pena e o delito não exime a primeira
de ser adequada ao segundo: “ao contrário, precisamente o caráter convencional
e legal do nexo retributivo que liga a sanção ao ilícito [...] exige que a eleição da
qualidade e da quantidade de uma seja realizada pelo legislador e pelo juiz em
relação à natureza e à gravidade do outro. O princípio da proporcionalidade
expressado na antiga máxima ‘poena debit commensurari delicto’ é, em suma, um
corolário dos princípios da legalidade e da retributividade, que tem nestes seu
fundamento lógico e axiológico [...]” (LUIGI FERRAJOLI. Direito e Razão. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2006, p. 366).
208 MANOEL PEDRO PIMENTEL. Direito Penal Econômico. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1973, p. 95.
209 No mesmo sentido, adverte a doutrina que, na medida em que as imposições
de polícia são sempre restritivas das liberdades, estas hão de se demonstrar
substancialmente apropriadas, isto é, proporcionais aos fins visados. De acordo
com Comparato, três critérios cumulativos para a aferição do poder de polícia
devem ser obrigatoriamente observados: “a) A medida somente é apropriada,
quando ela pode, em regra, alcançar o resultado visado; b) A medida apropriada
somente é necessária, quando não existe outro meio adequado à disposição, o
qual seja menos prejudicial aos atingidos e à coletividade em geral; c) A medida
necessária somente é proporcional, quando não tenha nenhuma outra relação
com o resultado visado” (FÁBIO KONDER COMPARATO. Direito Público: Estudos
e Pareceres. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 214).
210 Como entende Celso Antonio Bandeira de Mello: “as competências administrativas
só podem ser validamente exercidas na extensão e intensidade proporcionais
ao que seja realmente demandado para cumprimento da finalidade de interesse
público a que estão atrelados. Segue-se que os atos cujo conteúdo ultrapassem
o necessário para alcançar o objetivo que justifica o uso de competência ficam
maculados de ilegitimidade, porquanto desbordam de âmbito da competência,
ou seja, superam os limites que naquele caso lhes corresponderiam [...]” (CELSO
ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo. São Paulo:
Malheiros, 2003, p. 101). Ver também JOSÉ FREDERICO MARQUES. Tratado de
Direito Penal, v. III. São Paulo, Saraiva, 1966, p. 105.
211 Veja-se, a propósito, o artigo 29 da Lei 40/2015, da Espanha, que assim dispõe:
“PRINCIPIO DE LA PROPORCIONALIDAD 1. Las sanciones administrativas, sean o no
de naturaleza pecuniaria, en ningún caso podrán implicar, directa o subsidiariamente,
privación de libertad. 2. El establecimiento de sanciones pecuniarias deberá prever que
la comisión de las infracciones tipificadas no resulte más beneficioso para el infractor
que el cumplimiento de las normas infringidas. 3. En la determinación normativa del
régimen sancionador, así como en la imposición de sanciones por las Administraciones
Públicas, se deberá observar la debida idoneidad y necesidad de la sanción a
imponer y su adecuación a la gravedad del hecho constitutivo de la infracción. La
graduación de la sación considerará especialmente los siguientes criterios: a) El grado
de culpabilidad o la existencia de intencionalidad. b) La continuidad o persistencia em
la conducta infractora. c) La naturaleza de los perjuicios causados. d) La reincidencia,
por comisión en el término de un año de más de una infracción de la misma naturaleza,
cuando así haya sido declarado por resolución firme em vía administrativa.” (grifamos)
212 FRITZ FLEINER. Instituciones de Derecho Administrativo. Barcelona: Editorial
Labor, 1933, p. 174.
216 Lei nº 9.784/1999, artigo 50, § 1º: “A motivação deve ser explícita, clara e
congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos
de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que neste caso,
serão parte integrante do ato”.
217 CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO. Direito Administrativo na Constituição
de 1988. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 35.
218 Nesse sentido, destaca a doutrina que: “A quebra do princípio da simetria entre
a imputação e a condenação que constitui apanágio indispensável do direito
de defesa [...] importa em irremediável nulidade [...]. Em consequência, para
que o condenado possa aferir acerca do vínculo temático entre a denunciação
e a condenação, é preciso que fique perfeitamente esclarecida a motivação da
sentença cominatória da pena, o que consiste também em intocável direito do
jurisdicionado [...]” (CARLOS ROBERTO DE SIQUEIRA CASTRO. O Devido Processo
Legal e a Razoabilidade das Leis na Nova Constituição. Rio de Janeiro: Forense,
1989, p. 274). Os tribunais corroboram: “Decisão Administrativa Imotivada
Examinável pelo Poder Judiciário. Ilegalidade do Procedimento [...]. A autoridade
necessita referir não apenas a base legal em que se quer estribada, mas também
os fatos ou circunstâncias sobre os quais se apoia e, quando houver discrição, a
relação de pertinência lógica entre seu sucedâneo fático e a medida tomada, de
maneira a se poder compreender sua idoneidade para lograr a finalidade legal.
A motivação é, pois, a justificativa do ato” (STJ, REsp. nº 2640, Min. Américo Luiz,
j. 03.06.1992).
219 “[Q]uanto ao julgamento, há que estar em perfeita correspondência com as provas
colhidas nos autos e com a fundamentação que precede a sanção aplicada. O
essencial é que a decisão seja motivada com base na acusação, na defesa e na
prova, não sendo lícito à autoridade julgadora argumentar com fatos estranhos ao
processo ou silenciar sobre as razões do acusado, porque equivale a cerceamento
de defesa e conduzirá à nulidade do julgamento que não é discricionário,
mas vinculado ao devido processo legal” (HELY LOPES MEIRELLES). Estudos e
Pareceres de Direito Público, v. IV. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1981, p. 136.
No mesmo sentido, enfatiza a jurisprudência: “Erro de fato. Ato administrativo
a. Introdução
cano, que, por sua vez, também serviu de inspiração para a instituição,
na Legislação Antitruste (Lei nº 8.884/1994), do “Compromisso de
Cessação”222.
Na realidade, tais institutos destinam-se ao mesmo propósito: o
de facultar a celebração de acordo entre o investigado ou o acusado da
prática de algum ilícito e o ente público responsável por sua apuração
e eventual condenação223.
Assim, no curso do procedimento administrativo investigativo ou
sancionador instaurado pela CVM para reprimir eventuais infrações às
normas legais e regulamentares cujo cumprimento cabe-lhe fiscalizar,
o investigado224 ou acusado pode propor à Autarquia a celebração do
Termo de Compromisso, visando a suspender o curso do procedimento.
Para tanto, conforme dispõem os incisos I e II do § 5º do artigo 11 da
Lei nº 6.385/1976, o investigado ou acusado deve comprometer-se a
225 SILVIO RODRIGUES. Direto Civil, v. 2. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 237.
226 MARCOS PAULO DE ALMEIDA SALLES. “Aspectos da Competência do CMN e da
CVM no Mercado de Valores Mobiliários”. Revista de Direito Mercantil, Industrial,
Econômico e Financeiro, n. 108, out.-dez. 1997. São Paulo: Revista dos Tribunais,
p. 114.
227 RODOLFO MANCUSO. Ação Civil Pública. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1999, pp. 114-148. RITA DI TOMASSO. “Inquérito Civil”. Revista de Direito do
Consumidor, v. 16, out.-dez. 1995. São Paulo: Revista dos Tribunais, pp. 103-115.
MARCO ANTONIO MARCONDES PEREIRA. “Transação no curso da ação civil
pública”. Revista de Direito do Consumidor, v. 16, out.-dez. 1995. São Paulo:
Revista dos Tribunais, pp. 116-127.
da prática de atos que poderiam ser tidos como ilícitos pela Autarquia
e/ou indenização das partes eventualmente prejudicadas. Com efeito,
como a atividade regulatória envolve uma ponderação entre custos e
benefícios, caberá à CVM entre as distintas opções – representadas
por um lado, pela aplicação de penalidades decorrentes da atividade
regulatória e, por outro, pelo acordo configurado no Termo de Com-
promisso – privilegiar aquela que se revele mais benéfica ao mercado228
e mais consentânea ao interesse público.
228 De acordo com Marcos Juruena Villela Souto: “Tal ocorre porque a atividade
regulatória envolve uma ponderação entre custos e benefícios de regulação;
tal função envolve poderes quase-legislativos, quase-executivos e quase-
judiciais; nesta última etapa a ponderação deve considerar se da imposição de
uma penalidade resultará a maximização do interesse coletivo representado
pela atividade regulatória, do contrário, tal análise deve recomendar o acordo
substitutivo, se dele resultar maior proveito geral” (MARCOS JURUENA VILLELA
SOUTO. Direito Administrativo Regulatório. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004,
p. 125).
229 JULIO RAMALHO DUBEUX. A Comissão de Valores Mobiliários e os principais
instrumentos regulatórios do mercado de capitais brasileiro. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris, 2006, p. 98.
230 Trecho do voto proferido pelo Rel. Dir. Sergio Weguelin no Processo CVM RJ nº
2001/4652, j. 22.03.2005: “Trata-se, como se disse alhures, de alcançar o máximo
de eficiência na solução de problemas, aferindo, na dosagem necessária para cada
hipótese, as vantagens da flexibilidade negocial com o rigor da coercitividade
estatal. Nesse sentido, cabe também referência à espécie congênere aplicável ao
CADE (Art. 53 da Lei 8.884/94)”.
231 Como se verifica do seguinte trecho do voto proferido pelo Rel. Dir. Sergio
Weguelin: “Vale destacar que o instituto legal do termo de compromisso não
tem outro sentido senão o de dar certa flexibilidade à CVM. Não se trata,
evidentemente, de tolerar o ilícito, mas sim de permitir à entidade reguladora
identificar o momento em que a resposta regulatória já se apresentou suficiente
para o bom desenvolvimento do mercado” (Processo CVM RJ nº 2001/4652, j.
22.03.2005).
232 Tal modificação foi mantida pela Lei nº 13.506/2017: “Art. 11, § 5º A Comissão
de Valores Mobiliários, após análise de conveniência e oportunidade, com
vistas a atender ao interesse público, poderá deixar de instaurar ou suspender,
em qualquer fase que preceda a tomada da decisão de primeira instância, o
procedimento administrativo destinado à apuração de infração prevista nas
normas legais e regulamentares cujo cumprimento lhe caiba fiscalizar, se o
investigado assinar termo de compromisso no qual se obrigue a:[...]” (grifamos).
PFE emitiu parecer dizendo: “De fato, a suposta conduta ilícita atribuída aos
indiciados refere-se a ato praticado e consumado, qual seja, sua atuação como
analistas de mercado de valores mobiliários [...] sem prévio registro junto à CVM,
o que se constitui em pré-requisito obrigatório para o exercício de tal atividade.
Conforme explicita o Termo de Acusação, a suposta conduta ilícita teria sido
praticada pelos indiciados entre agosto de 2006 e fevereiro de 2007.[...] Assim,
os Termos de Compromisso submetidos à análise atendem aos parâmetros
estabelecidos no artigo 11, § 5º, da Lei nº 6.385/76, posto que já cessaram a prática
dos atos supostamente ilícitos[...].” e ainda: “as irregularidades apontadas pela
Comissão de Inquérito caracterizaram-se pela prática de determinados atos que
não possuem natureza continuada, vez que, conforme verificado nos autos, as
operações em análise originaram-se em maio de 1998, não havendo notícia de
reincidência por parte dos indiciados nas condutas investigadas, de forma que
se encontra preenchido o primeiro dos requisitos acima indicados [...]” (Processo
Administrativo Sancionador CVM nº 10/01, Rel. Dir. Wladimir Castelo Branco
Castro, j. 11.05.2004).
238 Como expressamente referido pela CVM: “[P]or não existir indícios da existência
de danos a terceiros, nada obstante a ilicitude das condutas investigadas por esta
CVM [...] não vislumbro necessária a aposição de cláusula de reparação de danos
[...].” (Processo Administrativo Sancionador CVM nº 10/01, Rel. Dir. Wladimir
Castelo Branco Castro, j. 11.05.2004).
e. Procedimento
Objetivando regulamentar de maneira mais clara o instituto do
Termo de Compromisso, a Comissão de Valores Mobiliários expediu
239 Nesse sentido, a CVM vem entendendo que: “a orientação recente do Colegiado
tem sido no sentido de que, além de cessar a prática de atividades ou atos ilícitos,
corrigir as irregularidades e indenizar os prejuízos, requisitos mínimos estabelecidos
em lei para a celebração do Termo de Compromisso, as prestações em termos de
compromisso não destinadas ao reembolso dos prejuízos devem consistir em
pagamento à CVM em valor suficiente para desestimular a prática de infrações
semelhantes pelos indiciados e por terceiros que estejam em posição similar à dos
indiciados” (Análise da proposta de Termo de Compromisso apresentada nos autos
do Processo Administrativo Sancionador CVM nº SP 2005/0128, Rel. Dir. Pedro Oliva
Marcilio de Sousa, realizada em 19.04.2006, grifamos).
240 Recentemente, foi acatado pelo Colegiado da CVM, nos autos do Processo
Administrativo Sancionador CVM RJ2014/10859, analisado em 01.12.2015, o
compromisso assumido pelos então Proponentes de disponibilizarem, para
dois servidores da CVM, Curso de Mestrado Executivo em Gestão Pública, da
Universidade de Columbia. Nos autos do Processo Administrativo Sancionador
CVM nº 12/04,relatado pelo Diretor Pedro Oliva Marcilio de Sousa, foi aceito o
compromisso assumido pelos Proponentes de deixarem de atuar, pelo prazo de
dois anos, na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e na Bolsa de Mercadorias
e Futuros (BM&F).
243 Luiza Rangel de Moraes explica que, no âmbito da SEC, em geral são os seguintes
os objetivos visados nas negociações para o acordo: “amenizar a severidade
das denúncias; reduzir as sanções; diminuir os custos e esforços tendentes
a interromper as práticas que estejam sendo levadas a efeito pelo indiciado;
minimizar os efeitos colaterais decorrentes do acordo; facilitar o uso do acordo
como forma de composição de lide, existente ou provável, ou mesmo de evitar atos
sancionadores decorrentes do poder de polícia dos agentes reguladores” (LUIZA
RANGEL DE MORAES. “Considerações sobre o Consent Decree e sua aplicação
no âmbito da disciplina do Mercado de Valores Mobiliários”. Revista de Direito
Bancário e do Mercado de Capitais, n. 4, jan.-abr. 1999. São Paulo: Revista dos
Tribunais, p. 101).
244 O artigo 86 da Instrução CVM nº 607/2019 incluiu como um dos parâmetros a ser
considerado pelo Colegiado na apreciação da proposta a “colaboração de boa-
fé” dos acusados: “Art. 86 Na deliberação da proposta, o Colegiado considerará,
dentre outros elementos, a oportunidade e a conveniência na celebração do
compromisso, a natureza e a gravidade das infrações objeto do processo, os
antecedentes dos acusados ou investigados ou a colaboração de boa-fé destes,
e a efetiva possibilidade de punição, no caso concreto” (grifamos). Antes dessa
mudança, a Instrução CVM nº 690/2001 previa os demais elementos, exceto esse.
248 NELSON EIZIRIK. Reforma das S.A. e do Mercado de Capitais, 2a ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 1998, pp. 273-274.
249 DAMÁSIO DE JESUS. “Lei Penal Benéfica”. Revista Forense, v. 262, abr.-jun. 1978.
Rio de Janeiro: Forense, p. 113.
250 O artigo 11, § 7º da Lei nº 6.385/1976, com a redação dada pela Lei nº 10.303/2001
dispunha: “O Termo de Compromisso deverá ser publicado no Diário Oficial da
União, discriminando o prazo para cumprimento das obrigações eventualmente
assumidas, e constituirá título executivo extrajudicial”. Após a Lei nº 13.506/2017,
o mesmo dispositivo passou a estabelecer: “O termo de compromisso deverá
ser publicado no sítio eletrônico da Comissão de Valores Mobiliários, com
discriminação do prazo para cumprimento das obrigações eventualmente
assumidas, e constituirá título executivo extrajudicial.”
251 NELSON EIZIRIK. Reforma das S.A. e do Mercado de Capitais, 2a ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 1998, p. 272.
252 O Código de Processo Civil de 1973 dispunha em seu artigo 585: “São títulos
executivos extrajudiciais: [...] II – a escritura pública ou outro documento público
assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por
duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério
Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores.”. O Código
de Processo Civil de 2015 repete as disposições: “Art. 784 São títulos executivos
extrajudiciais: [...] II – a escritura pública ou outro documento público assinado
pelo devedor; III – o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas)
testemunhas; IV – o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público,
pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores
ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal”
253 Nesse sentido, os Processos Administrativos Sancionadores nos RJ2013/6294,
Dir. Rel. Pablo Renteria, j. 21.03.2017, e RJ2008/8046, Rel. Dir. Pablo Renteria, j.
30.10.2018.
254 Assim estabelece a Instrução CVM nº 607/2019: “Art. 90. Caso as obrigações
assumidas pelo compromitente não sejam cumpridas de forma integral e
adequada, o processo será instaurado ou seu curso retomado, conforme o caso,
sem prejuízo das penalidades ou de outras medidas eventualmente cabíveis.”
255 Embora tenha sido alegada, à ocasião da criação do órgão, a extrapolação,
por parte do Executivo, de sua competência, essa alegação veio a ser afastada
pela Procuradoria da Fazenda Nacional, no Parecer PGFN/CRF/Nº 1587/1986,
260 Isso porque, conforme apontado pelo Relatório de Atividades 2014 do Ministério
da Fazenda, o represamento de processos na PGFN aguardando parecer opinativo
era um dos maiores obstáculos enfrentados pelo CRSFN, que atrasava o sorteio e
apreciação pelo Relator.
261 “A Súmula, relacionada a processos e sanções por falha na Declaração de Capitais
Brasileiros no Exterior, foi publicada no Diário Oficial da União de 02/05/2017 com
o seguinte texto: ‘O Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, tendo
em vista o disposto no art. 38 do seu Regimento Interno, aprovado pela Portaria MF
nº 68, de 26 de fevereiro de 2016, na 401ª Sessão de Julgamento, em 18 de abril de
2017, votou e aprovou a seguinte Súmula: Processo Nº 10372.000508/2016-17 –
SÚMULA DO CRSFN – Enunciado nº 1: A irregularidade de declaração intempestiva
de bens e capitais brasileiros no exterior ao Banco Central do Brasil não é
descaracterizada pela boa-fé do declarante, pelo desconhecimento da legislação
à época dos fatos, pela ausência de prejuízos à Administração ou a terceiros,
ou pela a declaração do ativo à autoridade fiscal”. VINÍCIUS VILHENA COTA
MOURA. Eficácia do CRSFN como instância revisora do processo administrativo
sancionador da CVM. 2017. 61f. (Monografia – Direito) – Faculdade de Direito,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. p. 39.
a. O pedido de reconsideração
Das decisões condenatórias proferidas tanto pela CVM como
pelo Banco Central, no julgamento de procedimentos sancionadores,
cabe recurso ao CRSFN.
269 NELSON EIZIRIK. Reforma das S.A. e do Mercado de Capitais, 2a ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 1998, p. 233.
270 ALMIRO COUTO E SILVA. “Princípios da Legalidade da Administração Pública e
da Segurança Jurídica no Estado de Direito Contemporâneo”. Revista de Direito
Público, n. 84, out.-dez. 1987. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 46. WEIDA
ZANCANER. Da Convalidação e da Invalidação dos Atos Administrativos. São
Paulo: Malheiros, 1993, p. 63.
271 São os seguintes os enunciados dos mencionados verbetes: “346 – A Administração
Pública pode declarar a nulidade dos próprios atos”; e “473 – A Administração pode
anular os próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque
deles não se originam direitos, ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos
a apreciação judicial [...]”.
b. O pedido de revisão
Dispõe o artigo 65 da Lei nº 9.784/1999 que o processo admi-
nistrativo que resultar em sanção poderá ser revisto caso venham a
surgir fatos novos ou circunstâncias relevantes que levem à conclusão
quanto à inadequação da penalidade aplicada275.
272 Nesse sentido, determina o artigo 53 da referida Lei que “a Administração deve
anular seus próprios atos quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-
los por motivo de conveniência ou oportunidade”.
273 Confira-se trecho da decisão do Inquérito Administrativo CVM nº 37/88: “De
início, entendo ser plenamente cabível a possibilidade de a CVM, a requerimento
do interessado, reapreciar a decisão adotada em processo disciplinar. No particular
concordo com a procedência dos argumentos expostos pelos requerentes
respaldados, inclusive, em Súmulas do E. STF e, até mesmo, em decisões já
proferidas no âmbito da própria CVM que, ao longo do tempo, vem admitindo,
face à apresentação de pedidos de reconsideração, reexaminar decisões antes
adotadas pela autarquia. A esse respeito, cumpre mencionar no IA CVM nº 23/83,
depois de proferida a decisão tomada na Seção de Julgamento, o Colegiado a
reconsiderou, atendendo argumentos trazidos por um dos apenados [...].”
274 Inquérito Administrativo CVM nº 04/89.
275 Como observa Álvaro Lazzarini ao estudar a questão: “A revisão em matéria
disciplinar é conhecida na doutrina e contemplada, como regra, na generalidade
das leis disciplinares. O Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de São
Paulo a prevê nos artigos 312 e seguintes [...]. No âmbito do ‘Regime Único dos
Servidores Públicos Civis da União’ (Lei Federal nº 8112, de 11 de dezembro de 1990)
o pedido revisional tem tratamento específico nos artigos 174 a 182, prevendo-se
que o processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer tempo, a pedido ou de
ofício, quando aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justificar a
inocência do punido ou a inadequação da penalidade aplicada [...]”. (ÁLVARO
LAZZARINI. “Do Procedimento Administrativo”. Revista de Direito Administrativo,
v. 212, abr.-jun. 1998. Rio de Janeiro: Renovar, pp. 71-87).
278 Conforme explica a doutrina, “fato novo é por exemplo, o depoimento de pessoas
que não deram anteriormente as informações que vieram a ser transmitidas em
momento posterior. O fato novo é o depoimento em si e não o evento que constitui
objeto do relato” (JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO. Processo administrativo
Federal. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007, p. 335).
279 Assim, conforme já observado “a descoberta de determinado documento
já existente à época do fato, mas desconhecido pelas partes, é circunstância
relevante, se necessário, para justificar a injustiça da punição” (JOSÉ DOS SANTOS
CARVALHO FILHO. Processo administrativo Federal. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2007, pp. 335-336).
280 Vale observar, a respeito, que a supra referida Portaria vem sendo alvo de severas
críticas no âmbito do próprio CRSFN, por sua duvidosa constitucionalidade.
c. Recurso voluntário
Nos termos do do Regimento Interno do CRSFN, aprovado
pela Portaria MF nº 68, de 26 de fevereiro de 2016, há apenas uma
modalidade de recurso: o recurso voluntário, oferecido pela parte, em
petição dirigida ao Presidente do Conselho e apresentada perante o
órgão que houver aplicado a penalidade283.
Havendo recurso voluntário, o CRSFN tem, ao apreciá-lo, apenas
duas opções: manter a decisão recorrida ou modificá-la – para absolver
o apenado ou para reduzir as penalidades aplicadas pelo órgão admi-
nistrativo de primeira instância.
A possibilidade de revisão da decisão em casos de erro in judi-
cando foi expressamente prevista pelos artigos 31 e 32 do Regimento
Interno do CRSFN e também contemplada pela Lei nº 9.784/1999,
permitindo os dispositivos legais a anulação do ato decisório, em
casos de ilegalidade, ou mesmo sua revogação, conforme os juízos de
oportunidade e conveniência do órgão julgador284.
É inadmissível, porém, no âmbito do CRSFN, o agravamento
das penalidades aplicadas pelas instâncias de primeiro grau, em razão
da proibição legal de se agravar, em sede recursal, a condenação im-
posta ao réu (Código de Processo Penal, artigo 617). Isso porque, em
283 “A legislação atual dá plenos poderes à Administração para o conserto desse erro,
porquanto ela pode rever seus atos, anulando-os quando ilegais, ou revogando-
os quando oportuno ou conveniente. Semelhante posicionamento advinha de
entendimento sumulado do próprio STF, estando agora agasalhada em nosso
direito positivo, por meio da Lei n. 9.784/99, que cuida das regras a serem
aplicadas nos processos administrativos. O Regimento Interno do CRSFN, nos
arts. 26 e 27, oportuniza a possibilidade de correção de erros materiais, contradi
ções ou dúvidas que tenham ficado no acórdão, por parte de manifestação do
presidente daquele órgão [...]” (Parecer da PFN no Recurso Administrativo 1099,
Sessão 189, j. 28.07.2000).
284 Artigo 52 do Regimento Interno do CRSFN, aprovado pela Portaria MF nº 68 de
2016: “Art. 52. Aplicam-se, subsidiariamente, a Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de
1999, e as disposições de caráter exclusivamente processual do Código de Processo
Penal, e, não existindo estas, as regras do Código de Processo Civil.”
285 SÉRGIO FERRAZ, ADÍLSON ABREU DALLARI. Processo Administrativo. São Paulo:
Malheiros, 2007, p. 196.
286 Revista Trimestral de Jurisprudência, vol. 80, p. 42.
11 MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A nova Lei das S.A. São Paulo:
Saraiva, 2002 p. 4.
12 O § 1º do art. 1.072 do Código Civil estabelece a obrigatoriedade de deliberação
em assembleia geral somente se o número de sócios for superior a dez.
13 A Lei Complementar nº 123, em vigor desde 15 de dezembro de 2006, que
instituiu o Novo Estatuto Nacional da Microempresa e Empresa de Pequeno
Porte, em seu art. 70, desobriga-as de realizarem reuniões e assembleias, que
serão substituídas por deliberações do sócio controlador.
14 ALFREDO LAMY FILHO, JOSÉ LUIZ BULHÕES PEDREIRA. A lei das S.A., 2ª ed,
v. 2. Rio de Janeiro: Renovar, 1996, p. 620.
15 ROBERTA NIOAC PRADO. Oferta Pública de Ações Obrigatória nas S.A. – Tag
Along. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 126. A Exposição de Motivos da Lei
das S.A. Mensagem nº 204, de 1976, do Poder Executivo ao tratar do art. 116,
menciona expressamente que a caracterização do acionista controlador pres-
supõe, além da maioria dos votos, o efetivo exercício do poder de controle.
O Regulamento de Listagem do Novo Mercado da Bovespa define o poder de
controle como aquele efetivamente utilizado de dirigir as atividades sociais
20 Para uma análise da teoria e de suas repercussões entre nós: FÁBIO KONDER
COMPARATO, CALIXTO SALOMÃO FILHO. O Poder de Controle na Sociedade
Anônima. Rio de Janeiro: Forense, 2005, pp. 52 et seg. NELSON EIZIRIK. “Proprie-
dade e Controle na Companhia Aberta – Uma Análise Teórica”. In: Questões de
Direito Societário e Mercado de Capitais. Rio de Janeiro: Forense, 1987, pp. 3-27.
Há incontáveis análises críticas ao trabalho de Berle & Means, notadamente ao
seu caráter ideológico, por tentar caracterizar, com a emergência dos “managers”,
um capitalismo sem proprietários; a mais importante delas foi desenvolvida por
MAURICE ZEITLIN em seu artigo “Corporate Ownership and Control: the Large
Corporation and the Capitalist Class”, American Journal of Sociology. Chicago:
University of Chicago Press, v. 79, n. 5, 1974, também publicado em livro do
mesmo autor intitulado The Large Corporation and Contemporary Classes.
New Jersey: Rutgers University Press, 1989.
21 Ver, a propósito RAFAEL LA PORTA, FLORENCIO LÓPEZ-DE-SILANES, ANDREI
SHLEIFER. “Corporate Ownership around the World”. The Journal of Finance.
Boston: Blackwell Publishing, v. 54, n. 2, abr. 1999, pp. 471-518.
existindo, assim, os elementos exigidos pelo artigo 116 da Lei das S.A.
para a caracterização do acionista controlador.
Em nossa prática de Direito Societário, algumas companhias que
adotam o modelo de controle pulverizado têm introduzido em seus
estatutos, além da restrição ao número máximo de votos por acionista,
dispositivos que visam a impedir ou a dificultar a aquisição do seu
controle acionário, como os seguintes:
(a) obrigatoriedade de divulgação de aquisição acionária,
de modo que todo acionista ou grupo de acionistas que
aumentar a sua participação em 1% do capital social, por
exemplo, deve comunicar tal fato à companhia e ao mer-
cado;
(b) obrigatoriedade de realização de oferta pública (OPA) pelo
acionista ou grupo de acionistas que adquirir participação
acionária superior a determinado percentual, de maneira
que, sempre que o limite de participação estabelecido no
estatuto (por exemplo, 30% do capital) for ultrapassado,
é obrigatória a realização de oferta pública de aquisição
das ações detidas pelos demais acionistas, por preço a ser
fixado conforme as regras do estatuto (valor de mercado,
valor econômico, múltiplos de EBITDA28) acrescido de
prêmio.
O descumprimento de tais obrigações estatutárias sujeita o acio-
nista ou grupo de acionistas infratores a ter suspenso, por deliberação
da assembleia geral, o exercício de determinados direitos conferidos
pelas ações de sua propriedade, inclusive o de voto, conforme permite
o artigo 120 da Lei das S.A.
A conjugação da elevada dispersão acionária com a introdução
de normas estatutárias destinadas a evitar o surgimento de uma nova
controlador, deve haver a prova do dano efetivo por ele causado à sociedade
ou a seus acionistas, devendo a lesão ser concreta e atual, não meramente
possível ou hipotética’ (A Lei das S/A Comentada, vol. II, pág. 246; grifei)”
(Tribunal de Justiça de São Paulo, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresar-
ial, Agravo de Instrumento nº 2105459-64.2017.8.26.0000, Rel. Des. Cesar
Ciampolini, j. 23.08.2017 – grifos no original)
43 Tribunal de Justiça de São Paulo, E.I. 29.481-1, Rel. Marcio Bonilha, j. 28.03.1985,
reproduzido em NELSON EIZIRIK. Sociedades Anônimas – Jurisprudência.
Rio de Janeiro: Renovar, 1996, p. 89.
44 Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Apel. Cív. nº 0055355-
27.1999.8.19.0001 (2001.001.10296), Rel. Des. Mauro Fonseca Pinto Nogueira,
j. 28.08.2001.
45 Os membros do Colegiado da CVM, em alguns processos sancionadores,
analisam os danos concretos ou “potenciais” causados pela conduta do
controlador; em outros, não consideram necessário demonstrar os danos,
passando ao largo da questão. Embora o abuso de poder do controlador seja
invocado em vários processos sancionadores, a jurisprudência administrativa
da CVM sobre a matéria ainda não possibilita a identificação de orientações
consistentes e uniformes.
52 ALFREDO LAMY FILHO, JOSÉ LUIZ BULHÕES PEDREIRA. A lei das S.A., 2ª ed,
v. 2. Rio de Janeiro: Renovar, 1996, pp. 562-563.
9.1. Introdução
Antes de proceder à análise dos deveres e responsabilidades dos
administradores de sociedades anônimas abertas, convém destacar
alguns princípios que norteiam a matéria e que servem como critérios
para a interpretação de questões relacionadas ao assunto1.
A primeira observação a ser feita é que há um interesse público
na atuação da companhia aberta, dada a captação da poupança po-
pular por ela realizada. Assim, as companhias abertas são em grande
parte disciplinadas por normas de ordem pública, inderrogáveis pela
vontade dos acionistas porque destinadas à proteção dos investidores.
Com efeito, os interesses em causa na companhia aberta não
são privativos dos acionistas. Justifica-se, portanto, a existência de
normas específicas quanto aos deveres e à responsabilidade civil dos
administradores de companhias abertas, bem como um sistema de
fiscalização permanente exercido pela CVM, particularmente no que
toca à divulgação de informações sobre tais companhias como forma
de atender ao princípio do disclosure2.
Um segundo aspecto importante reside na verificação da natureza
da relação estabelecida entre os administradores da companhia e a pró-
pria sociedade, uma vez que a natureza deste vínculo vai condicionar a
determinação dos deveres a que os administradores estão submetidos e,
consequentemente, o regime de responsabilidade que lhes é aplicável3.
Durante muito tempo, prevaleceu no Direito Societário a visão
contratualista desta relação, sendo o administrador considerado ora
18 Segundo Antunes Varela, bom pai de família seria “no fundo, o homem médio,
a pessoa normal, que sem grandes rasgos mas também sem defeitos abaixo
do comum, razoavelmente cuida da sua pessoa e das suas coisas e respeita
os interesses legítimos de seu semelhante” (ANTUNES VARELA. Direito das
Obrigações: conceito, estrutura e função da relação obrigacional, fontes
das obrigações, modalidades das obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 1977,
p. 226).
19 FLÁVIA ALMEIDA VIVEIROS DE CASTRO. “O modelo do bom pai de família
e a responsabilidade civil contratual: origens e desdobramentos”. Direito,
Estado e Sociedade, n. 15. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio, ago.-dez. 1999,
p. 18.
20 A finalidade lucrativa da sociedade de economia mista foi discutida no PAS
CVM nº RJ2013/6635, Rel. Dir. Luciana Dias, j. 26.05.2015 (Caso Eletrobras).
CLARK. Corporate Law. Boston: Little, Brown and Company, 1986, pp. 125-
126. ROBERT W. HAMILTON. The Law of Corporations in a nutshell. St. Paul:
West Group, 2000, pp. 451-452. JOSE ORIOL LLEBOT MAJÓ. Los deberes
de los administradores de la sociedad anônima. Madrid: Civitas, 1996,
pp. 55-56. PAULA CRISTINA RAPOSO DOMINGUES CABRIZ SIMÕES. Os
deveres de diligência e de lealdade dos administradores das sociedades
anônimas. Dissertação (Mestrado em Direito – Ciências Jurídico-comerciais)
– Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 1998, pp. 107-125). Embora as
legislações societárias não exijam capacidade técnica dos administradores, a
doutrina vem entendendo que estes deverão possuir capacidade profissional
específica para o desempenho de seus cargos. O administrador não tem
o dever de ser perito em todas as áreas, mas deve ser diligente e obter os
conhecimentos necessários para o correto desempenho de seu cargo. A
respeito, MODESTO CARVALHOSA. Comentários à Lei de Sociedades
Anônimas, 5ª ed., v. 3. São Paulo: Saraiva, 2011; EDUARDO DE SOUSA
CARMO. Relações Jurídicas na Administração da S.A. Rio de Janeiro: Aide,
1988; FRAN MARTINS. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. 4ª ed.
revista e atualizada. Rio de Janeiro: Forense, 2010; FLÁVIA PARENTE. O Dever
de Diligência dos Administradores de Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro:
Renovar, 2005, pp. 102-107.
33 MODESTO CARVALHOSA. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas, 5ª
ed., v. 3. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 314.
34 RENATO VENTURA RIBEIRO. Dever de Diligência dos Administradores de
Sociedades. São Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 204.
35 Sobre a qualificação dos conselheiros, ver OTÁVIO YAZBEK. “Representações
do Dever de Diligência na Doutrina Jurídica Brasileira”. In: Luiz Fernando
Martins Kuyven (Coord.). Temas Essenciais de Direito Empresarial: Estudos
em homenagem a Modesto Carvalhosa. São Paulo: Quatier Latin, 2012, p.
940-961, observa que: “Se por um lado o dever de qualificar-se reside no
núcleo do dever de diligência [...], não há como, nas grandes companhias
38 Nesse sentido, o PAS CVM nº 02/2008, Rel. Dir. Roberto Tadeu, j. 05.03.2015:
“Para se aferir o descumprimento do dever de se informar, o qual está
diretamente relacionado ao dever de diligência de que trata o art. 153
da lei societária, cumpre primeiramente perquirir o grau de informação
exigível dos administradores no processo de obtenção de informações. Em
resposta a essa indagação, Flávia Parente destaca que ‘não se pode exigir dos
administradores a obtenção de todas as informações relevantes a respeito dos
negócios que serão implementados – as informações exigíveis são as razoáveis,
tendo em vista as circunstâncias concretas diante das quais se encontram os
administradores e a própria companhia, quando da tomada de decisão.’.”
39 O dever de obter as informações necessárias, segundo a CVM, não se extingue
com a mera apresentação de laudos ou opiniões especializadas emitidos por
experts. O administrador deve também, sob pena de faltar com a diligência
necessária na busca de informações, supervisionar, investigar e, inclusive,
conferir o trabalho dessas fontes. Nesse sentido, a CVM, no julgamento do
Processo Administrativo Sancionador nº 08/05, Rel. Dir. Eli Loria, j. 12.12.2007,
decidiu que a mera contratação de uma empresa de auditoria renomada não
exime os administradores de responsabilização por infração ao dever de
se informar, sobretudo quando existentes “flagrantes omissões”. Confira-se
trecho do voto do Diretor Relator: “O dever de cuidado exige a desconfiança,
inclusive de laudos técnicos e periciais, desde que fundamentada e nada
mais natural que o administrador exija esclarecimentos e eventuais revisões
de um trabalho contratado quando este apresenta flagrantes omissões”. O
mesmo entendimento foi reiterado pelo Diretor Relator Eli Loria na decisão
do Processo Administrativo Sancionador nº 25/03, j. 25.03.2008: “A decisão
fundada nessas opiniões não exime, de maneira alguma, o administrador
do dever de analisar criticamente as informações a ele fornecidas, a fim de
identificar eventuais problemas [...]. Uma vez detectados sinais de alerta
que levem o administrador a suspeitar de que algo não está correto, incide
sobre ele o dever de investigar esses pontos buscando esclarecimentos
até que esteja seguro de que está lidando com a situação corretamente”.
Além disso, no PAS CVM nº 02/2008, Rel Dir. Roberto Tadeu, j. 05.03.2013,
foi consignado: “Da mesma forma, como dever de investigar, não deve o
administrador se satisfazer com as informações que lhe são fornecidas pela
parte interessada na contratação, deve ele diligenciar no sentido de obter
informações de forma independente.”
42 ROBERT C. CLARK. Corporate Law. Boston: Little, Brown and Company, 1986,
p. 131. FLÁVIA PARENTE. O Dever de Diligência dos Administradores de
Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 122. Neste sentido,
o Corporate Director’s Guidebook, elaborado pela American Bar Association,
expressamente preceitua que: “A director should inquire into potential problems
or issues when alerted by circumstances or events suggesting that board
attention is appropriate: for example, inquiry is warranted when information
provided on an important matter appears materially inaccurate or inadequate or
there is reason to question the veracity of management” (grifamos). AMERICAN
BAR ASSOCIATION. Corporate Director’s Guidebook, 4th ed. The Business
Lawyer. Chicago: Section of Business Law of the American Bar Association,
v. 59, n. 3, may 2004, pp. 1.069-1.070.
43 Nesse sentido, dispõe o Corporate Director’s Guidebook, elaborado pela
American Bar Association: “When directors see ‘red flags’ indicating that the
corporation is or may be experiencing significant problems in a particular area of
business, or may be engaging in unlawful conduct, they should make further inquiry
until they are reasonably satisfied that management is dealing with the situation
appropriately”. A respeito da matéria, o American Law Institute estabelece,
expressamente, que o dever de diligência “includes the obligation to make, or
cause to be made, an inquiry when, but only when, the circumstances would alert
a reasonable director or officer to the need therefor” (AMERICAN LAW INSTITUTE.
Principles of Corporate Governance: Analysis and recommendations, v. I.
St. Paul: American Law Institute Publishers, 1994, pp. 138-139). Salienta ainda
que o dever de investigar “only arises if it is reasonably called for by specific
facts and circumstances” (p. 163). Entre os doutrinadores espanhóis, verifica-se
também essa orientação, como ressalta Majo para quem o dever de investigar
somente surge “cuando las circunstancias (v. gr., la insuficiencia de la información
67 Van Gorkom era o chief executive officer da Trans Union Corporation, uma
sociedade de capital aberto e possuía 75.000 ações da companhia dentre as
20.000.000 em circulação. Discutindo o futuro da companhia, foram aventadas
duas possibilidades: fechar o seu capital mediante uma “leveraged buyout”
(aquisição alavancada) ou vendê-la imediatamente. Van Gorkom, que estava
próximo à idade de se aposentar, declarou que aceitaria US$55 por cada ação sua;
naquele período, a ação estava sendo negociada em um faixa que variava entre
US$24 e US$39. Sem realizar maiores estudos a respeito do valor da companhia e
sem procurar outros possíveis compradores, Van Gorkom contactou Jay Pritzker,
“um renomado especialista em aquisições de companhias e um conhecido seu”
e informou-lhe que seria possível proceder à “leveraged buyout” da Trans Union
por US$55 por ação. Pritzker imediatamente propôs a compra da sociedade.
Assim, Van Gorkom convocou uma reunião de emergência do board of directors,
que aprovou a operação sem formular perguntas ou estender as discussões.
Ver maiores detalhes do caso em FLÁVIA PARENTE. O Dever de Diligência dos
Administradores de Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, pp.
79-84, e também em ROBERT W. HAMILTON. The Law of Corporations in a
nutshell. St. Paul: West Group, 2000, pp. 455-459.
68 Embora muito questionada pelos doutrinadores, Robert Hamilton entende
que o caso Van Gorkom foi corretamente decidido, já que a venda de uma
companhia de capital aberto é a mais importante decisão que pode ser
submetida à apreciação de seus administradores, motivo pelo qual deve
ser precedida de uma investigação minuciosa sobre os termos do negócio
proposto (ROBERT W. HAMILTON. The Law of Corporations in a nutshell.
St. Paul: West Group, 2000, p. 458).
69 Para uma análise da repercussão do caso Van Gorkom na jurisprudência norte-
americana, ver BERNARD S. SHARFMAN. “Being Informed does matter: fine
tuning gross negligence twenty plus years after Van Gorkom”. The Business
Lawyer. Chicago: Section of Business Law of the American Bar Association,
v. 62, nov. 2006, pp. 135-160.
77 Há quem sustente (FRANCO BONELLI et al. Società per azioni. Casi e materiali
di diritto commerciale. Milano: Giuffrè, 1974, p. 720), ainda, que o ato praticado
deve ser considerado como regular de gestão, devendo estar circunscrito no
âmbito do objeto social (intra vires) e, também, consistir numa decisão negocial
razoável. A respeito da má-fé, em contraposição à boa-fé na doutrina norte-
americana, Dennis J. Block assinala que: “The term bad faith has been defined as
not simply bad judgment or negligence...[R]ather it implies the conscious doing of a
wrong because of dishonest purpose or moral obiquity; it is different from the negative
idea of negligence in that it contemplates a state of mind affimatively operating with
furtive design or ill will. By bad faith is meant a transaction that is authorized for some
purpose other than a genuine attempt to advance corporate welfare or is known to
constitute a violation of applicable positive law” (DENNIS J. BLOCK, NANCY E.
BARTON, STEPHEN A. RADIN. The Business Judgment Rule. Fiduciary Duties of
Corporate Directors. New York: Aspen Law & Business, 1998, pp. 80-81).
78 Robert Clark assinala que “virtually all courts agree that directors will not be held
liable of ‘honest mistakes’ of judgment” (ROBERT C. CLARK. Corporate Law.
Boston: Little, Brown and Company, 1986, p. 124). Sobre o erro de julgamento
escusável, Osmar Brina Corrêa-Lima ressalta que: “a business judgment rule foi
desenvolvida pelas cortes como expediente para proteger os administradores
das companhias contra a responsabilidade pessoal por erros de julgamento
em negócios, cometidos de boa-fé. [...] Existe uma multiplicidade de situa
ções em que um administrador, agindo com a maior lisura e boa-fé, pode
tomar a decisão errada, do ponto de vista de política de negócios e, com isso,
causar prejuízos à companhia. [...] O business judgment rule leva em conta é,
precisamente, o erro técnico profissional na aplicação desses princípios. [...]
Errar é humano” (OSMAR BRINA CORRÊA-LIMA. Sociedade Anônima, 3ª ed.
Belo Horizonte: Del Rey, 2005, pp. 203-204).
79 Conforme salienta Clark: “Some say that no challenge to the directors’ judgments
will be considered on the merits unless the judgment in question was tainted by
fraud, conflict of interest, or illegality; others say, unless the alleged defect in the
directors’ judgment rises to the level of fraud; still others, unless it rises to the level
of gross negligence” (ROBERT C. CLARK. Corporate Law. Boston: Little, Brown
and Company, 1986, p. 124). Há ainda quem sustente que a revisão judicial
somente será admitida nas hipóteses em que não houver uma explicação
para amparar a decisão tomada pelos administradores, conforme esclarecem
EDWARD BRODSKY, M. PATRICIA ADAMSKI. Law of Corporate Officers
and Directors: Rights, Duties and Liabilities. St. Paul: West Group, 1999,
p. 26. JOSE ORIOL LLEBOT MAJÓ. Los deberes de los administradores de
la sociedad anônima. Madrid: Civitas, 1996, p. 80, por sua vez, entende
que, quando estiverem presentes os requisitos que permitem a aplicação
da business judgment rule, somente será verificada a infração ao dever de
diligência quando a decisão tomada pelos administradores não puder ser
explicada racional, lógica e coerentemente.
80 O Direito português, no art. 72º do Código das Sociedades Comerciais,
incorporou em seu ordenamento regra semelhante à business judgment rule:
“Artigo 72º. Responsabilidade de membros da administração para com a
sociedade 2 – A responsabilidade é excluída se alguma das pessoas referidas
no número anterior [gerentes e administradores] provar que actuou em
termos informados, livre de qualquer interesse pessoal e segundo critérios
de racionalidade empresarial”.
81 A CVM tem aceito a regra da business judgment rule, conforme se verifica
no Processo Administrativo Sancionador CVM nº RJ 2005/1443, Relatado
por Pedro Oliva Marcilio de Sousa, j. 10.05.2006, no qual consignou-se que
para dela se utilizar o administrador deve seguir os seguintes princípios: “(i)
Decisão informada: A decisão informada é aquela na qual os administradores
basearam-se nas informações razoavelmente necessárias para tomá-la.
Podem os administradores, nesses casos, utilizar, como informações, análises
e memorandos dos diretores e outros funcionários, bem como de terceiros
contratados. Não é necessária a contratação de um banco de investimento
para a avaliação de uma operação; (ii) Decisão refletida: A decisão refletida
94 A CVM já decidiu que não atua com desvio de poder membro do conselho
de administração que se opõe, perante terceiros, a uma decisão tomada
pelos demais conselheiros da companhia, desde que acredite estar agindo
legitimamente conforme o interesse social (Processo Administrativo
Sancionador nº 2007/4476, Rel. Dir. Eli Loria, j. 12.03.2008).
95 A Lei nº 12.353/2010, que dispõe sobre a participação de empregados nos
conselhos de administração das empresas públicas e sociedades de economia
mista, determina, no §2º do art. 2º, que: “O representante dos empregados
está sujeito a todos os critérios e exigências para o cargo de conselheiro de
administração previstos em lei e no estatuto da respectiva empresa.”. Esta
disposição foi reprisada no artigo 19 da Lei nº 13.303/2016, o Estatuto Jurídico
das Empresas Estatais. O art. 6º, por sua vez, estabelece que “Observar-se-á,
quanto aos direitos e deveres dos membros dos conselhos de que trata esta
Lei e ao respectivo funcionamento, o disposto na Lei nº 6.404, de 15 de
dezembro de 1976, no que couber”.
96 FLÁVIA PARENTE. O dever de Diligência dos Administradores de Sociedades
Anônimas. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 141.
seeking equitable relief or other remedies based upon an alleged improper taking
advantage of a business opportunity by a director, the fact that the director did not
employ the procedure described in subsection (a) before taking advantage of the
opportunity shall not create an inference that the opportunity should have been first
presented to the corporation or alter the burden of proof otherwise applicable to
establish that the director breached a duty to the corporation in the circumstances”.
A propósito das corporate opportunies, a legislação espanhola (Real Decreto
Legislativo nº 1/2010, alterado pela Lei nº 31/2014) assim estabelece: “Artículo
229. Deber de evitar situaciones de conflicto de interés. 1. En particular, el deber de
evitar situaciones de conflicto de interés a que se refiere la letra e) del artículo 228
anterior obliga al administrador a abstenerse de: [...] b) Utilizar el nombre de la
sociedad o invocar su condición de administrador para influir indebidamente en la
realización de operaciones privadas. C) Hacer uso de los activos sociales, incluida
la información confidencial de la compañía, com fines privados. d) Aprovecharse
de las oportunidades de negocio de la sociedad. ”
114 ROBERT HAMILTON. The Law of Corporations in a nutshell. St. Paul: West
Group, 2000, pp. 479-481; LEWIS D. SOLOMON, DANIEL FESSLER, ARTHUR
E. WILMARTH, JR. Corporations and alternative business vehicles, 5th ed.
Santa Monica: Casenotes Publishing Company, 2000, pp. 4.27-4.28. ROBERT
C. CLARK. Corporate Law. Boston: Little, Brown and Company, 1986, 225-230.
HENRY WINTHROP BALLANTINE. Ballantine on Corporations. Chicago:
Callaghan, 1946, p. 206.
115 Conforme destacado por FLÁVIA PARENTE. O Dever de Diligência dos
Administradores de Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
taken: determining whether the officer who took the corporate opportunity violated
his fiduciary duties of loyalty, good faith, and fair dealing towards the corporation.
Plaintiff has the burden of proof with respect to the first step; defendant has it with
respect to the second”.
120 ROBERT W. HAMILTON (The Law of Corporations in a nutshell. St. Paul:
West Group, 2000, p. 480) chama a atenção para o fato de que outros fatores
podem ser considerados importantes para se verificar se existe corporate
opportunity, in verbis: “Other factors may also be important in determining whether
an opportunity is a corporate opportunity. For example, weight might be given
to whether or not there were prior negotiations with the corporation about the
opportunity or whether the opportunity was originally offered to the corporation
or to the director as an agent of the corporation. Another factor might be whether
the director learned of the opportunity by reason of his or her position with the
corporation. Another factor is whether the director used corporate facilities or
property to take advantage of the opportunity. Finally, it may be relevant to assess
how substantial was the need of the corporation for the opportunity. These factors
may be considered as sufficient separately or in combination. For example, an
opportunity may be viewed as a corporate opportunity if it was originally offered
to the corporation whether or not the opportunity is within corporation current ‘line
of business’”.
121 Alguns autores brasileiros entendem que o ilícito previsto no art. 155 da Lei
das S.A. é formal, bastando, para caracterizar a antijuridicidade, a utilização
da oportunidade por parte dos administradores, independentemente do
seu resultado, isto é, independentemente da ocorrência de prejuízo para
a companhia. Neste sentido, confira-se Modesto Carvalhosa, in verbis: “A
dispensa da verificação de prejuízo remete à caracterização da antijuridicidade
ao uso da oportunidade e não ao seu resultado. [...] A lei explicita [...] que,
mesmo não decorrendo da prática nenhum prejuízo material para a
companhia, há quebra do dever de lealdade. O ilícito, na espécie, é formal
e decorre objetivamente da ofensa ao direito da companhia, haja ou não
prejuízo para o patrimônio social” (MODESTO CARVALHOSA. Comentários
à Lei de Sociedade Anônimas, 5ª ed., v. 3, São Paulo: Saraiva, 2011, p. 362).
No mesmo sentido, encontram-se EDUARDO DE SOUSA CARMO (Relações
Jurídicas na Administração da S.A. Rio de Janeiro: Aide, 1988, pp. 129-130)
e FRAN MARTINS que ressalta, no entanto, que a ação de responsabilidade
127 A propósito, o PAS CVM nº 29/05, Rel. Dir. Eli Loria, j. 30.09.2008.
128 EDUARDO DE SOUSA CARMO. Relações Jurídicas na Administração da S.A.
Rio de Janeiro: Aide, 1988, p. 130.
129 Neste sentido, confira-se Eduardo Carmo: “[...] Ainda uma vez reafirmou
o legislador a preferência do interesse da pessoa moral sobre o interesse
individual do administrador. A norma, ao intercalar a oração reduzida final (....
para revender com lucro....), parece autorizar o administrador a atravessar os
negócios sociais, quando não puder obter lucro na transação. Não é, porém,
assim. Ao administrador é defeso frustrar os interesses negociais da sociedade
anônima, neles se interpondo, para comprar e revender bens ou direito que
saiba atender aos objetivos empresariais da companhia” (EDUARDO DE
SOUSA CARMO. Relações Jurídicas na Administração da S.A. Rio de Janeiro:
Aide, 1988, pp. 130-131). Modesto Carvalhosa igualmente entende que “[a]
falta de verificação do nexo causal lucro-prejuízo não leva, por outro lado, à
conclusão de que o administrador é livre para adquirir e revender à companhia
bem ou direito, desde que não ocorra vantagem-prejuízo patrimonial nesse
negócio. Em tal hipótese, a proibição poderá ser facilmente capitulável
138 NELSON EIZIRIK. Temas de Direito Societário. Rio de Janeiro: Renovar, 2005,
Capítulo 5.
139 DOMINIQUE SCHMIDT. Les droits de la minorité dans la société anonyme.
Paris: Librairie Sirey, 1970, pp. 48 et seg.
seu interesse se o outro satisfizer o seu” (Parecer elaborado por José Luiz
Bulhões Pedreira acostado nos autos do Inquérito Administrativo CVM nº
TA-RJ2002/1153, julgado em 06.11.2002).
152 Em sentido contrário, o PAS CVM nº RJ2013/11699, Rel. Dir. Ana Novaes,
j. 02.09.2014: “Conforme mencionei no PAS 09/2006, julgado por
unanimidade em 05.03.2013, o conflito de interesses do art. 156 é em relação
à pessoa natural do administrador e ocorre, por exemplo, quando há uma
transação/operação social sendo negociada com a companhia na qual o
administrador: i. seja parte do contrato/operação à época da negociação; ou
ii. tenha consciência acerca de um interesse à época da negociação; ou iii.
sabia que uma parte relacionada dele (p. ex. parente próximo ou sociedade na
qual ele tem interesse) era parte do contrato/operação e tinha um interesse.
46. Nesses casos, tendo em vista o interesse peculiar do administrador na
realização do negócio, há de se pôr em dúvida a sua isenção para avaliar, à
luz do interesse comum dos acionistas, se a transação, ao preço e nos demais
termos submetidos à administração, deve ser aprovada. É por cenários como
esse que a Lei Societária, buscando proteger a integridade da companhia,
requer que o administrador não intervenha nas operações sociais em que
estiver em conflito de interesses, não bastando observar a posteriori a não
ocorrência de dano.”. Esta também é a leitura dada ao artigo nos PAS CVM
nº RJ2013/1840, Rel. Dir. Ana Novaes, j. 15.04.2014.
153 No julgamento do Processo CVM nº RJ 2004/5494, relatado por Wladimir
Castelo Branco Castro, em 16.12.2004, foi firmado o entendimento, extraído
do voto do relator, de que o impedimento imposto ao administrador pelo
artigo 156 é de caráter pessoal: “Da análise do disposto no § 1º do artigo
156 da Lei 6.404/76 acima transcrito, pode-se concluir que no caso dos
administradores é vedada a participação do administrador em qualquer
tratativa ou deliberação referente a uma determinada operação em que figure
como contraparte da companhia ou pela qual seja beneficiado. O disposto
em tal § 1º deve ser lido, a meu juízo, como ‘ainda que o administrador não
participe da deliberação, somente poderá contratar com a companhia...’.
[...] Conclui-se, portanto, que o conflito de interesses é, no caso do art. 156
da Lei 6.404/76, presumido, isto é, independe da análise do caso concreto
a sua aplicação, restando os administradores da companhia impedidos de
participar de qualquer tratativa ou deliberação referente a uma determinada
operação em que figure como contraparte da companhia ou pela qual seja
beneficiado, independentemente se está a se perseguir o interesse social
ou não”. No mesmo sentido, as decisões proferidas pelo Colegiado da CVM
nos autos do Processo Administrativo Sancionador nº 12/01, julgado em
12.01.2006; e no Processo Administrativo Sancionador nº RJ2005/1443,
julgado em 10.05.2006.
154 A respeito, o PAS CVM nº RJ2013/11699, Dir. Rel. Ana Novaes, j. 02.09.2014:
“[...] Para os administradores, vige o conflito formal. Esse tratamento
diferenciado vem do próprio texto legal que, além de vedar a participação
nos atos relativos à operação, determina que o administrador revele o
conflito. Adicionalmente, ao contrário do acionista, que pode agir no interesse
próprio, essa faculdade não é conferida ao administrador, que age, sempre,
no interesse da companhia ou da coletividade de seus acionistas. O § 1º do
art. 156 estabelece a necessidade de comutatividade (condições razoáveis
e equitativas) e liga-a não só às condições de mercado, mas também às
condições em que a companhia contrataria com terceiros. Estabelece,
portanto, critérios semelhantes ao entire fairness (justiça integral) ou o intrinsic
fairness (justiça intrínseca), mencionados quando discuti o padrão de revisão
da conduta do acionista controlador em operações em que tinha interesse”.
155 Conforme expresso no voto da Diretora Ana Novaes no PAS CVM nº
RJ2013/11699, Rel. Dir. Ana Novaes, j. 02.09.2014, na eleição de membros do
Conselho para cargo na diretoria, não há impedimento a que os administradores
votem em si mesmos. Isto porque tal situação não necessariamente denuncia
um benefício particular buscado pelo administrador, cujo cargo presume-se
desempenhado em favor da companhia, e não em benefício próprio.
156 A respeito, confira-se MODESTO CARVALHOSA. Comentários À Lei de
Sociedades Anônimas, 5ª ed., v. 3. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 215.
157 J. C. SAMPAIO DE LACERDA. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas, v.
3. São Paulo: Saraiva, 1978, p. 196; SILVIO HITOSHI YANAGAWA. “Contratos
entre Sociedades e seus administradores. Conflito de Interesses”. Revista de
Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista
de Tribunais, n. 20, 1975, p. 115; J. X. CARVALHO DE MENDONÇA. Tratado
de Direito Comercial Brasileiro, v. IV. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1959,
pp. 64 e 65. A CVM também já decidiu que a demonstração de interesse
pessoal contrário aos interesses da sociedade é indispensável para que se
configure o conflito de interesses (Processo Administrativo Sancionador nº
25/03, Rel. Dir. Eli Loria, j. 25.03.2008). No mesmo sentido, segundo voto
proferido pelo Diretor Eli Loria no Processo Administrativo nº RJ 2007/3453,
Rel. Dir. Sergio Weguelin, j. 18.04.2007, ao impor o dever de atuar sempre no
interesse da companhia, a Lei das S.A. optou por presumir lícita a atuação dos
administradores, a menos que fique comprovado que determinada operação
resultou em benefício pessoal a seu favor. Assim, “o simples fato do negócio
ter sido celebrado entre controladora e controlada, com administradores em
comum, não é suficiente, por si só, para que se comprove a ocorrência de
conflito de interesses do administrador, visto que em nossa legislação não é
vedada a participação do mesmo em atividades negociais de outras empresas,
interpretando-se o art. 156 à luz do art. 245 da Lei das S.A.”.
158 NELSON EIZIRIK. Temas de Direito Societário. Rio de Janeiro: Renovar, 2005,
Capítulo 5.
159 “When a director, directly ou indirectly, has a financial or personal interest in a
contract or transaction to which the corporation is to be a party, or is contemplating
entering into a transaction that involves use of corporate assets or competiton
against the corporation, the director is considered to be ‘interested’ in the matter.
The director should seek approval by disinterested directors of the transaction or
conduct in which he or she is interested and should, subject to any confidentiality
obligations owed to others outside the corporation, first disclosure that interest to
the board members who are to act on the matter, and then describe all material facts
concerning the matter known to the director. After such disclosure, the interested
director should abstain from voting on the matter and, in most situations, after
disclosing the interest, describing the relevant facts and responding to any questions,
leave the meeting while the disinterest directors complete their discussion and vote”
(AMERICAN BAR ASSOCIATION. Corporate Director’s Guidebook, 4th ed.
The Business Lawyer. Chicago: Section of Business Law of the American Bar
Association, v. 59, n. 3, may 2004, p. 1.070).
160 Em pioneiro estudo citado por Clark (ROBERT C. CLARK. Corporate Law.
Boston: Little, Brown and Company, 1986, p. 160). Marsh (HAROLD MARSH
JR. “Are Directors Trustees? Conflict of Interest and Corporate Morality”. The
Business Lawyer. Chicago: Section of Business Law of the American Bar
Association, n. 22, 1966, p. 35) ressalta a propósito do terceiro estágio que:
“no transaction of a corporation with any or all of its directors was automatically
voidable at the suit of a shareholder, wheter there was a disinterested majority of
the board or not; but... the courts would review such contract and subject it to rigid
and careful scrutiny, and would invalidate the contract if was to be unfair to the
corporation”.
161 ROBERT C. CLARK. Corporate Law. Boston: Little, Brown and Company, 1986,
p. 160.
168 Alterada pelas Instruções CVM nos 369/02, 449/07, 547/14, 552/14, 568/15 e
590/17. A Instrução 547/2014 trouxe importantes flexibilizações ao normativo,
permitindo que as informações relevantes sejam comunicadas por meio de
portais de notícia na Internet e não apenas em jornais de grande circulação.
169 Tal obrigação de informar encontra-se prevista no artigo 11 da Instrução CVM
nº 358/2002, com a redação dada pela Instrução CVM nº 449/2007.
170 Para maiores informações a respeito da matéria, consulte item 10.3 desta obra.
171 A Instrução CVM nº 358/2002 estabelece as hipóteses de vedação à negociação
com valores mobiliários de emissão da companhia pelo administrador em
seu artigo 13, caput e §§ 3º e 4º, com a redação dada pela Instrução CVM
nº 369/2002 e pela Instrução CVM nº 568/2015, respectivamente: “Art.
13. Antes da divulgação ao mercado de ato ou fato relevante ocorrido nos
negócios da companhia, é vedada a negociação com valores mobiliários
de sua emissão, ou a eles referenciados, pela própria companhia aberta,
172 A CVM assim entende: “Deve-se notar que o administrador é o responsável pela
divulgação, desde o início, do fato relevante de forma completa. Não obedece
à legislação quem anuncia um fato, mas espera uma ordem da CVM para
divulgar os aspectos relevantes deste fato que já sejam de seu conhecimento.
A iniciativa deve, sempre, partir da administração da companhia. Por isso,
se a legislação ou uma decisão concreta da CVM determinar a divulgação
de uma dada informação específica e essa informação específica não puder
ser considerada completa, em razão de outras informações que sejam de
conhecimento da administração, cabe à companhia complementar as
informações solicitadas de forma a fazer com que sua divulgação satisfaça
a exigência de divulgação completa. Por fim, deve-se notar que, embora a
Instrução 358/02 atribua à administração da companhia aberta a definição do
que seja informação relevante (ao Diretor de Relações com Investidores, mais
precisamente), esse poder conferido à administração não é absoluto. Caso
os investidores alterem seu comportamento (decisão de vender ou comprar
valores mobiliários da companhia ou a expectativa de preço quanto a esses
valores mobiliários) em função de informação relativa à companhia da qual
tenham conhecimento parcial (ou total), mas não divulgada pela companhia,
essa informação deverá ser considerada relevante e a administração, mesmo
que não tenha a mesma opinião que os investidores quanto à relevância da
informação, deverá negá-la ou confirmá-la e, se for o caso, complementá-la”
(Processo Administrativo Sancionador nº 2006/4776, Rel. Dir. Pedro Oliva
Marcilio de Sousa, j. 17.01.2007).
173 A filosofia do disclosure foi adotada pelos norte-americanos, em 1934, com a
criação da Securities and Exchange Commission – SEC e a edição do Securities
Act, conforme relata Louis Loss: “[...] Congress opted for the British disclosure
philosophy over the native merit philosophy of the blue sky laws. [...] Congress was
conscious also of Louis D. Brandeis’s statement seventy years later in Other People’s
Money, strongly urging publicity as a remedy for social and industrial diseases
generally and for excessive underwriter’s charges specifically. ‘Sunlight is said to
be the best of disinfectants; electric light the most efficient policeman. [...] He
cited the Pure Food Law as an example: It does not guarantee quality or prices, but it
does help the consumer to judge quality by requiring the disclosure of ingredients.
[...]. In short, Congress did not take away from the citizen ‘his inalienable right to
make a fool of himself.’ It simply attempted to prevent others from making a
fool of him” (LOUIS LOSS. Fundamentals of Securities Regulation. Boston:
Little, Brown and Company, 1988, pp. 31-33) (grifamos). Desde então, a
filosofia do disclosure, de se levar ao conhecimento do público todos os fatos
relevantes relacionados aos negócios da empresa, foi se impondo como uma
174 Com relação à análise do administrador sobre a relevância dos fatos a serem
divulgados ao mercado e seu impacto sobre a negociação dos valores
mobiliários da companhia, a CVM, no Processo Administrativo Sancionador
nº RJ 2006/4776, Rel. Dir. Pedro Oliva Marcilio de Sousa, j. 17.01.2007,
afirmou que: “Dado que a decisão de publicar o fato relevante se dá, via de
regra, antes que ele seja de conhecimento do público, na maioria das vezes,
o administrador deve fazer juízo de valor sobre a probabilidade de que ele
impacte a decisão de negociar valores mobiliários emitidos pela companhia,
sem, no entanto, poder confirmar, antes da divulgação, se o fato realmente
influenciará a decisão dos investidores. É, por isso, que a análise é sobre a
‘potência’ de impacto e não sobre o real impacto. Para o administrador, é
mais fácil calcular essa probabilidade quando o impacto do ‘fato’ sobre os
negócios da companhia é direto. Por exemplo, a parada extraordinária de
atividade em uma linha industrial da companhia é relevante se essa parada
afetar significativamente as receitas, o resultado ou as demais operações
da companhia. Outro exemplo, o trânsito em julgado de uma decisão
judicial impondo uma perda ou um ganho para a companhia será relevante
se o montante do ganho ou da perda for significativo em comparação ao
patrimônio líquido da companhia. Para completar esses dois primeiros
exemplos, que se referiam, respectivamente, a um fato operacional e a
outro patrimonial, podemos lembrar de um fato financeiro: a obtenção de
um empréstimo pode ser relevante, embora seja, usualmente, um fato do
dia a dia da companhia. Digo isso, pois o empréstimo pode ser a condição
suspensiva para a conclusão de uma aquisição relevante já divulgada pela
companhia ou uma condição necessária ao início da construção de um
projeto industrial substancial também já divulgado pela companhia. Um
empréstimo pode, ainda, ser suficiente para o equacionamento da situação de
liquidez, que poderia levar a companhia à falência ou a requerer recuperação
judicial, e que é de conhecimento dos investidores. [...] Em certas situações,
um fato não é relevante, se olhado isoladamente, ou se forem consideradas,
segregadamente, suas características quantitativas e qualitativas. Por isso, a
administração deve analisar a relevância de um fato a partir do conjunto de
informações de que dispõe e ponderando, de forma agregada, as informa
ções quantitativas e qualitativas. Dessa forma, uma informação não deixará
de ser relevante se a companhia dividir a sua implementação, sua divulgação
9.9.1. Introdução
Para a análise da responsabilidade civil dos administradores de
companhias abertas, é importante, inicialmente, considerar os seguin-
tes princípios que informam o Direito Societário: 1º) por captarem
194 Para Tavares Guerreiro, “[o]s únicos parâmetros admissíveis para a aferição
da regularidade do ato de gestão são exatamente os preceitos da lei e às
disposições do estatuto. Assim sendo, não há sentido para a duplicidade de
condições, confundindo-se o ato irregular de gestão com o ato praticado
com violação da lei ou do estatuto”. Continua o autor, “será ato irregular de
gestão todo aquele que resultar da infração de dever legal do administrador,
qualquer que seja. Assim, exempli gratia, se o diretor contrair obrigação lesiva
ao interesse social, estará, ipso facto, infringindo o dever estatuído no art. 153,
de tal sorte que, comprovada a falta de cuidado e diligência que todo homem
ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios bens,
responderá o diretor pela obrigação contraída, configurando-se, na espécie,
ato irregular de gestão”. Conclui, por fim, o referido autor, pela “equivalência
conceitual entre ato irregular de gestão e atos praticados por administrador
com violação da lei ou do estatuto” (JOSÉ ALEXANDRE TAVARES GUERREIRO.
“Responsabilidades dos administradores de Sociedades Anônimas”. Revista
de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista
dos Tribunais, n. 42 abr.-jun.1981, pp. 73, 74 e 76).
224 A propósito, Nelson Eizirik anota que, “visando a resolver o dilema entre a
responsabilidade absoluta da companhia pelos atos ultra vires praticados por
seus administradores e a sua irresponsabilidade, pode ser adotada a sugestão
de Leães, para quem, dada a circunstância de que a verificação dos poderes
dos diretores não é fácil, nem faz parte dos hábitos do homem comum, a
limitação dos poderes do administrador é somente oponível a terceiros que
dela tenham conhecimento, ou que devessem ter em razão da sua profissão
ou atividade” (NELSON EIZIRIK. Questões de Direito Societário e Mercado
de Capitais. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 107).
225 Neste sentido, Tavares Guerreiro sugere que seja realizada uma “determinação
valorativa, em cada caso concreto, porquanto o erro do terceiro contratante há
que ser avaliado em relação a um padrão médio de pessoa, de conhecimentos
relativos” (JOSÉ ALEXANDRE TAVARES GUERREIRO. “Responsabilidades dos
administradores de Sociedades Anônimas”. Revista de Direito Mercantil,
Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 42,
abr.-jun.1981, p. 75).
226 Sobre as atribuições da Diretoria e do Conselho de Administração, consulte-
se o item 9.2 deste capítulo.
227 JOSÉ ALEXANDRE TAVARES GUERREIRO. “Responsabilidades dos adminis-
tradores de Sociedades Anônimas”. Revista de Direito Mercantil, Industrial,
Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 42, abr.-jun.1981
pp. 78-79.
245 Sobre a legitimidade para propor a ação, ver TIAGO ASFOR ROCHA LIMA.
“A Legitimidade Ativa e Passiva nas Ações de Responsabilidade Civil Contra
Administrador e o Controlador na Lei das S/A”. In: FLAVIO LUIZ YARSHELL,
GUILHERME SETOGUTI J. PEREIRA (Coord.). Processo Societário. São Paulo:
Quartier Latin, 2012, p. 711-724.
que o acionista exerça outros direitos que lhes são inerentes252, tais
como votar, impugnar deliberações sociais e propor ações judiciais em
face dos administradores e controladores da companhia253.
Uma vez reunida a Assembleia Geral, podem ocorrer as seguintes
situações, que serão a seguir examinadas:
i) a Assembleia Geral delibera propor ação de responsabi-
lidade em face do administrador;
ii) a Assembleia Geral delibera propor ação de responsabi-
lidade, mas não ajuíza tal medida no prazo de três meses,
contados da deliberação;
iii) a Assembleia Geral delibera não promover ação de res-
ponsabilidade; e
iv) a Assembleia Geral Ordinária aprova as contas dos ad-
ministradores.
283 Neste sentido, verifica-se a lição de Alberto Xavier, nos seguintes termos: “A
aprovação das contas anuais, sem reservas, além de fixar o lucro líquido do
exercício, tem, pois eficácia liberatória dos administradores, significando
isto que a sociedade renuncia a exigir-lhes responsabilidade pelos
prejuízos causados ao seu patrimônio” (grifamos). (ALBERTO XAVIER.
Administradores de Sociedades. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1979,
pp. 107-108).
284 FRAN MARTINS. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. 4ª ed. revista
e atualizada. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 486.
285 Neste sentido, José Luiz Bulhões Pedreira e Luiz Alberto Colonna Rosman,
in verbis: “A Assembleia geral somente pode deliberar que a companhia
promova a ação se as demonstrações financeiras do exercício em que
ocorreu o ato do administrador tiverem sido aprovadas com reserva,
ou seja, se a Assembleia, embora tenha aprovado as demonstraç ões
financeiras, tenha ressalvado que essa aprovação não implica a aprovação
das contas dos administradores. A anulação da deliberação que aprova
contas dos administradores é requisito para a ação de responsabilidade
do artigo 159. Se a Assembleia aprovou as demonstrações financeiras sem
reservas, ou se, além de aprová-las, aprovou, como item específico, as
contas dos administradores, a companhia está vinculada a seu ato, que
286 A propósito, assinala Robert Clark que “a direct suit is appropriate when the injury
was primarily to the shareholder(s) as such” (ROBERT C. CLARK. Corporate Law.
Boston: Little, Brown and Company, 1986, p. 662).
287 Segundo Modesto Carvalhosa, “a linha divisória ou distintiva entre o objeto
da ação social e o da individual é extremamente tênue”. Propõe, portanto, o
autor, três critérios para distinguí-las: a) o de prejuízo de natureza diversa, em
que não se verifica dano material direto à companhia, como no caso do uso
de informações confidenciais pelos administradores, em que os acionistas
não possuem igualdade de condições em relação aos insiders; b) a do dano
personalizado, em que são encontrados todos os atos ilegais, antiestatutários
e com abuso e desvio de poder, discriminadamente dirigido a determinado
acionista, como a recusa do fornecimento de certidões de que trata o art.
100 da Lei das S.A.; e c) o da existência de relação contratual direta entre
o acionista e o administrador, como na hipótese de abuso na utilização de
procuração outorgada pelo acionista, na forma e para efeitos do art. 126
(MODESTO CARVALHOSA. Comentários à Lei de Sociedade Anônimas, 5ª
ed., v. 3, São Paulo: Saraiva, 2011, pp. 473-474).
288 Guerreiro assim ressalta: “Em relação à sociedade, o acionista é verdadeiro
terceiro, em razão da própria diferenciação ontológica criada pelo direito,
entre a pessoa jurídica e a pessoa de cada sócio. Mas o que se leva em conta,
na ação individual, não é tal circunstância, senão a existência de lesão a direitos
do acionista enquanto partícipe da comunidade acionária” (JOSÉ ALEXANDRE
TAVARES GUERREIRO. “Responsabilidades dos administradores de Sociedades
Anônimas”. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro.
São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 42 abr.-jun.1981, p. 83).
289 A respeito, confira-se a Apelação Cível nº 0103650-17.2007.8.19.0001, 20ª
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Rel. Des. Marco Antonio
Ibrahim, j. 23.03.2011.
290 Terceiros não estão legitimados a propor ação de responsabilidade civil
por danos causados à própria companhia (MODESTO CARVALHOSA.
Comentários à Lei de Sociedade Anônimas, 5ª ed., v. 3, São Paulo: Saraiva,
2011,, p. 386). Algumas legislações admitem a possibilidade de credores
responsabilizarem os administradores por quebra da integridade do
patrimônio social. A respeito do tema, Ascarelli leciona: “As normas ditadas
300 Sobre a legitimidade ativa exclusiva do Ministério Público em ação civil pública
para tutela de investidores do mercado de capitais, confira-se as lições de
MODESTO CARVALHOSA. Comentários à Lei de Sociedade Anônimas, 5ª
ed., v. 3. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 486; RODOLFO DE CAMARGO MAN-
CUSO. “Ação Civil Pública para a tutela dos interesses dos titulares de valores
mobiliários e investidores do mercado. Uma análise da Lei 7.913 de 7.12.89”.
Revista dos Tribunais. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 650, dez. 1989,
pp. 31-39; e MÁRCIO SLERCA JÚNIOR, EDUARDO SLERCA. “Lei 6.404/76 –
Ações Sociais contra o controlador e contra o administrador – Necessidade
de atuação do Ministério Público e temas polêmicos”. Revista do Ministério
Público, n. 20. Rio de Janeiro: Ministério Público. jul.-dez. 2004, pp. 157-174.
De outro lado, Paulo Fernando Campos de Salles Toledo: “Não se pode, no
entanto, afastar de plano a possibilidade de, por aplicação extensiva do art.
5º da Lei 7.347/85 (o recurso a esse diploma é expressamente admitido pelo
art. 3º da Lei 7.913/89), ser a ação proposta por uma das pessoas relacio-
nadas no citado. [...] De qualquer maneira, de se reconhecer a legitimação
concorrente de terceiros, o Ministério Público deverá intervir no feito como
custus legis (art. 5º, § 1º, da Lei 7.347/85)” (PAULO FERNANDO CAMPOS DE
SALLES TOLEDO. “A Lei 7.913, de 7 de dezembro de 1989. A tutela judicial do
mercado de valores mobiliários”. Revista dos Tribunais. São Paulo: Revista
dos Tribunais, v. 667, mai. 1991, p. 72, grifamos).
301 Sobre a atuação da CVM como amicus curiae, confira-se o Capítulo 7 desta
obra.
10.1. Introdução
Os principais ilícitos administrativos e penais contidos na legis-
lação sobre o mercado de capitais são: a manipulação do mercado; a
criação de condições artificiais de demanda, oferta ou preço de valores
mobiliários; as operações fraudulentas; as práticas não equitativas; o
uso indevido de informação privilegiada (insider trading); e o exercício
irregular de cargo, profissão ou atividade.
As condutas tidas como delitivas na esfera do mercado de capitais
podem ensejar a aplicação de sanções administrativas e penais; a legis-
lação é confusa, uma vez que alguns tipos de ilícitos administrativos
estão contidos num único dispositivo penal, o que pode dificultar a
adequada interpretação e aplicação das normas.
Não há, em princípio, uma distinção de essência entre o ilícito
civil, o penal e o administrativo; em todos eles existe o mesmo funda-
mento ético, constituído pela infração a um dever preexistente e pela
imputação do resultado à consciência do agente. Assim, a ilicitude é
uma só, embora as suas consequências, na esfera jurídica, possam ser
diversas.
Em função da intensidade e da natureza do bem jurídico ofendido
é que surgirão as distintas consequências legais. Na esfera do Direito
Civil, o ilícito constitui um atentado contra o direito de outrem, daí
justificando-se a reparação do dano como forma de se restaurar o
equilíbrio da relação originalmente mantida entre as partes. Já na esfera
do direito punitivo – Penal ou Administrativo Sancionador – como o
delito é tido como um fator de ruptura social, justifica-se a aplicação
de medidas repressivas, como meio de se restabelecer o equilíbrio ge-
ral da sociedade1_2. Não há, portanto, distinções ontológicas entre as
condutas ilícitas e, mesmo quando isso ocorre, pode não ser fácil mensurar o dano
causado.” (GABRIELA CORDONIZ; LAURA PATELLA (Coord.). Comentários à Lei do
Mercado de Capitais – Lei 6.385/76. São Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 606)
3 Alterados pela Lei nº 13.506, de 13 de novembro de 2017.
penal19. Temos, pois, tipos mistos alternativos, que são aqueles em que
o legislador incrimina, da mesma forma, alternativamente, hipóteses
diversas, todas atingindo o mesmo bem ou interesse20.
No caso de operações simuladas, verifica-se a presença do disfarce,
do simulacro, do artifício ou fingimento na prática de um ato com a
intenção de enganar, de mostrar como verdadeiro algo que é falso. É
o que ocorre, por exemplo, se duas instituições financeiras combinam
a troca de posições acionárias para gerar uma impressão de liquidez
dos papéis, ou para aumentar-lhes as cotações, gerando um “falso
mercado”; há, no caso, operações simuladas, pretensamente reais, mas
que não ocorrem de acordo com as regras da oferta e procura21.
O crime de manipulação abrange, assim, as condutas que se tra-
duzem em operações aparentemente regulares, mas que, na realidade,
são controladas pelos agentes de forma a violar o livre jogo da oferta
e procura; tais operações criam uma aparência de liquidez ou mesmo
geram cotações que, por serem artificialmente sustentadas, não cor-
respondem à realidade; os negócios têm uma natureza fictícia, que se
pode aferir principalmente pela ausência de intenção real de respeitar
os seus efeitos22.
Também se caracteriza o delito, sob a forma de manobra fraudu-
lenta, quando o agente divulga informações falsas, com o objetivo de
alterar a cotação dos títulos. A propósito, o artigo 379 do Código de
Valores Mobiliários de Portugal, seguindo a orientação da legislação
penal italiana, incrimina quem divulga informações falsas, incomple-
19 MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A nova Lei das S.A. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 537.
20 Em sentido contrário, JOSE CARLOS TORTIMA entende que as “operações
simuladas” nada mais são do que uma espécie do gênero “manobras fraudulentas”,
daí decorrendo que a hipótese não seria de tipo misto alternativo mas sim de
interpretação extensiva (ou analógica) expressamente proposta na lei (Crimes
contra o Sistema Financeiro Nacional. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002, p. 175).
21 MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A nova Lei das S.A. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 536.
22 FREDERICO DE LACERDA DA COSTA PINTO. O Novo Regime dos Crimes e Contra-
Ordenações no Código dos Valores Mobiliários. Porto: Almedina, 2000, p. 89.
negociam entre si, sem efetivas ordens de clientes, visando a criar uma
aparência de liquidez, um falso mercado; a divulgação de informações
falsas ou tendenciosas, com o objetivo de alterar o processo regular
de formação de preços no mercado; e o chamado boiler room, antes
mencionado, mediante o qual também se cria uma aparente liquidez
para os títulos.
b. Manipulação de preços
Já a manipulação de preços no mercado constitui “a utilização de
qualquer processo ou artifício destinado, direta ou indiretamente, a
elevar, manter ou baixar a cotação de um valor mobiliário, induzindo
terceiros à sua compra e venda” (Instrução CVM nº 08/1979, inciso
II, alínea “b”).
O tipo administrativo da manipulação é mais restrito do que o
penal, uma vez que a norma contida na Instrução CVM nº 08/1979
refere-se apenas à manipulação de preços, ou seja, à utilização de ma-
nobras ou artifícios destinados a elevar, manter ou baixar as cotações,
não a outras manobras fraudulentas ou negociações simuladas que
possam criar um “falso mercado” com aparência de liquidez.
Da mesma forma que ocorre com a norma prevista no artigo
27-C da Lei nº 6.385/1976, o preceito visa a proteger o mercado
secundário de valores mobiliários, ou seja, o mercado de bolsa de va-
lores, de mercadorias e de futuros, assim como do mercado de balcão,
nos quais há “cotação” de valores mobiliários, o que não se verifica no
mercado primário.
Ademais, o âmbito de aplicação da norma abrange as operações
com todos os tipos de valores mobiliários, tal como definidos no artigo
2º da Lei nº 6.385/1976, desde que realizadas no mercado secundário.
Os elementos caracterizadores do tipo “manipulação de preços
no mercado” na esfera administrativa são os seguintes:
(a) a utilização de processo ou artifício;
(b) destinado a promover cotações falsas ou enganosas;
c. Operação fraudulenta
A Instrução CVM nº 08/1979 considera como operação frau-
dulenta aquela “em que se utilize ardil ou artifício destinado a induzir
ou manter terceiro em erro, com a finalidade de se obter vantagem
ilícita de natureza patrimonial para as partes na operação, para o in-
termediário ou terceiros”.
a partir da decisão do caso Speed v. Transamérica Corp que uma das finalidades
essenciais das regras sobre insider trading é a de prover os investidores de um
certo grau de igualdade em suas posições negociais para que possam fazer um
juízo informado sobre as transações (ver, a propósito, LUIZ GASTÃO PAES DE
BARROS LEÃES. Mercado de Capitais e “Insider Trading”. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1982, p. 171. FRANCISCO ANTUNES MACIEL MÜSSNICH. “A utilização
desleal de informações privilegiadas – ‘insider trading’ – no Brasil e nos Estados
Unidos”. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, n. 34.
São Paulo: Revista dos Tribunais, jun. 1979.
50 Para uma interessante análise da questão, particularmente no Direito alemão,
vide: ALEXANDRE MESCHKOWSKI. The economics of D&O liability for false
information in german secondary markets, 2006, German Working Papers in Law
and Economics. Disponível em: <http://www.bepress.com/gwp>. Acesso em: 13
jul. 2007.
51 KENNETH E. SCOTT. “Insider Trading, Rule 10b-5, Disclosure, and Corporate
Privacy”. Journal of Legal Studies. Chicago: University of Chicago, n. 9, 1980,
p. 801.
52 Nesse sentido, o artigo 157 da Lei das S.A. impõe aos administradores o dever de
informar os valores mobiliários de emissão da companhia e de sociedades do
mesmo “grupo” de que seja titular, bem como as modificações em suas posições
acionárias; obrigações da mesma natureza estão previstas nos arts. 11 e 12 da
Instrução CVM nº 358/2002.
53 O art. 27-D está assim redigido: “Art. 27-D. Utilizar informação relevante de
que tenha conhecimento, ainda não divulgada ao mercado, que seja capaz de
propiciar, para si ou para outrem, vantagem indevida, mediante negociação, em
nome próprio ou de terceiros, com valores mobiliários: Pena – reclusão, de 1 (um)
a 5 (cinco) anos, e multa de até 3 (três) vezes o montante da vantagem ilícita obtida
em decorrência do crime.”
54 Em 2017, ocorreu a primeira condenação criminal transitada em julgado por uso
indevido de informação privilegiada, após o STF manter a sentença que havia
condenado ex executivos da Sadia à pena de reclusão (ARE 971036, Segunda Turma
do Superior Tribunal de Justiça, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 05.05.2017). Disponível em:
<https://jota.info/justica/stf-mantem-primeira-condenacao-de-insider-trading-
do-pais-11052017>. Acesso em: 31 out. 2017.
59 MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A nova Lei das S.A. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 322. No mesmo sentido, conferir o Voto do Relator Marcelo Fernandez
Trindade no Processo Sancionador CVM nº 04/2004, julgado em 28.06.2006.
60 Nos termos do Caderno CVM nº 11 – Uso de informação privilegiada (insider
trading), “não é necessário que o infrator realize a operação completa, que seria
a venda do ativo antes da divulgação de informação negativa pelo emissor e a
recompra do ativo após a divulgação da informação, por exemplo, para que fique
caracterizado o uso indevido de informação privilegiada. Basta que ele realize
apenas uma das transações com base em informação privilegiada para que fique
configurada a irregularidade.” COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Uso
Indevido de Informação Privilegiada (Insider Trading). Rio de Janeiro: Comissão
de Valores Mobiliários, 2016, p. 20.
68 THOMAS LEE HAZEN. The Law of Securities Regulation, 3rd ed. St. Paul, 1996, pp.
793-806. CARLOS OSÓRIO DE CASTRO. “A Informação no Direito do Mercado
de Valores Mobiliários”. In: Direito dos Valores Mobiliários. Coimbra: Coimbra
Editora, 2003, p. 346.
the insider trading prohibition as involving trading ‘while in knowing possession of’
inside information. An alternative test, adopted in SEC v. Adler (11th Cir. 1998), was that
insider trading was unlawful only if the insider ‘used’ inside information when making
trades. The difference between ‘possession’ and ‘use’ becomes relevant primarily as
defenses against liability. For example, can a defendant who clearly possessed material
nonpublic information when he traded avoid liability by establishing by persuasive
evidence that he had firm plans to enter into the transaction before he learned of the
information? If so, he ‘possessed’ the information when he traded but did not ‘use’ the
information to make the trade. The leading case supporting the SEC’s position is United
States v. teacher (2nd Cir. 1993). However, the Rule [10b5-1] provides for affirmative
defenses including instances in which a person had a binding agreement to buy or
sell or have given instructions to another to execute a trade prior to acquiring inside
information.” (ROBERT. W. HAMILTON. The Law of Corporations in a Nutshell.
5th ed., St. Paul: West Group, 2000, p. 510-511).
80 No mesmo sentido, MARCELO FERNANDEZ TRINDADE. “Mútuo de Ações e
Insider Trading”. In: Rodrigo R. Monteiro de Castro, Walfrido Jorge Warde Jr. e
Carolina Dias Tavares Guerreiro (Coord). Direito Empresarial e Outros Estudos
de Direito em Homenagem ao Professor José Alexandre Tavares Guerreiro. São
Paulo: Quartier Latin, 2013, p. 527.
83 O artigo 27-E está assim redigido: “Art. 27-E. Exercer, ainda que a título gratuito, no
mercado de valores mobiliários, a atividade de administrador de carteira, agente
autônomo de investimento, auditor independente, analista de valores mobiliários,
agente fiduciário ou qualquer outro cargo, profissão, atividade ou função, sem
estar, para esse fim, autorizado ou registrado na autoridade administrativa
competente, quando exigido por lei ou regulamento: Pena – detenção de 6 (seis)
meses a 2 (dois) anos, e multa.”
11.2.5. Intermediação
Nas ofertas públicas de aquisição, o ofertante deve contratar a in-
termediação de sociedade corretora ou distribuidora de títulos e valores
mobiliários ou instituição financeira com carteira de investimentos.
A instituição intermediária atua como parte garantidora do ne-
gócio de oferta pública, devendo assegurar ao mercado a viabilidade
econômica do cumprimento da proposta pública realizada pelo ofer-
tante, evitando, dessa forma, o surgimento de ofertas temerárias ou
meramente especulativas que afetem a imagem da companhia visada
ou o normal funcionamento do mercado e possam causar danos pa-
trimoniais aos eventuais acionistas aceitantes5.
Deve a instituição intermediária, nos termos do § 2º do artigo
7º da Instrução CVM nº 361/2002, tomar todas as cautelas e agir
com elevados padrões de diligência para assegurar que as informações
prestadas pelo ofertante sejam verdadeiras, consistentes, corretas e
suficientes, respondendo pela omissão nesse seu dever.
11.2.6. Avaliação
Nas hipóteses em que a OPA for formulada pela própria com-
panhia, pelo acionista controlador, pelo administrador ou por pessoa
vinculada ao acionista controlador ou ao administrador, deverá ser
elaborado laudo de avaliação da companhia objeto, o qual visa a conferir
aos destinatários da oferta meios suficientes para que possam tomar
uma decisão consciente de aceitarem ou não a proposta formulada.
A obrigatoriedade de apresentação do laudo de avaliação não é
aplicável aos casos de OPA decorrente de alienação de controle, uma
vez que, nesta modalidade de OPA, o preço deve corresponder a um
percentual do preço pago ao acionista controlador, nos termos do
artigo 254-A da Lei das S.A., o qual pode ser verificado, em regra,
pela simples análise do contrato de compra e venda de ações celebrado
entre o antigo e o novo controlador. Apesar de o laudo ser relevante
para a tomada de decisão do investidor, a CVM optou por dispensá-lo
no caso de OPA por alienação de controle, por entender que, neste
caso, o benefício por ele gerado não justifica o custo de sua elaboração.
Entretanto, nos casos de alienação indireta de controle acionário, a
CVM pode, diante do caso concreto, requerer a apresentação de laudo
de avaliação, a fim de verificar a consistência do demonstrativo de
cálculo do preço submetido à autarquia pelo ofertante juntamente
com o pedido de registro da oferta.
O laudo de avaliação deverá observar as disposições constantes do
artigo 8º, bem como do Anexo III da Instrução CVM nº 361/2002,
indicando os critérios de avaliação, os elementos de comparação ado-
tados e o responsável pela sua elaboração.
Os administradores e o acionista controlador devem fornecer
ao avaliador informações verdadeiras, completas, claras, objetivas e
suficientes para a elaboração do laudo. No que se refere às informa-
ções gerenciais, o avaliador somente poderá aceitá-las e utilizá-las na
elaboração do laudo se entender que são consistentes.
(a) o preço por ação que seria devido caso venha a se verificar,
no prazo de 1 (um) ano contado da realização do leilão da
oferta pública, fato que impusesse a realização de oferta
pública obrigatória; ou
(b) o valor a que teriam direito, caso ainda fossem acionistas
e dissentissem de deliberação que aprove qualquer evento
societário que autorize o exercício do direito de recesso,
quando este evento ocorrer dentro do prazo de 1 (um)
ano da data da realização do leilão da oferta pública.
Assim, se, por exemplo, a companhia objeto da OPA for envolvida,
no prazo de 1 (um) ano a partir da realização da oferta, em operação
de alienação de seu controle acionário – que dá ensejo à realização de
OPA obrigatória – ou de incorporação ou fusão – que podem motivar
o exercício do direito de recesso – e o valor a que o acionista mino-
ritário teria direito a receber, em função de tais eventos, for superior
ao preço pago na OPA, o ofertante fica obrigado a pagar a respectiva
diferença aos aceitantes da OPA.
Tal regra visa, evidentemente, a impedir que a OPA seja utiliza-
da como instrumento de fraude ao direito dos minoritários, tendo a
CVM estabelecido a presunção de que, no prazo de 1 (um) ano, seria
razoável supor que o ofertante já teria conhecimento da possibilidade
de realização de evento que dá ensejo à futura OPA obrigatória ou
ao direito de recesso.
Segundo o artigo 10, § 1º, da Instrução, o ofertante somente estará
dispensado do pagamento de tal diferença de preço caso divulgue, no
próprio edital da oferta pública, a informação sobre a futura ocorrência
de operação que dê ensejo à realização da oferta pública obrigatória
ou ao exercício do direito de retirada. Nesta hipótese, não se faz ne-
cessária a proteção conferida ao investidor pela Instrução, uma vez
que, ao aceitar a OPA, ele já tem conhecimento da possibilidade de,
no prazo inferior a 1 (um) ano, vender suas ações em uma nova OPA
ou exercer o direito de recesso.
11.2.8. Publicidade
Uma característica inerente às ofertas públicas de aquisição é a
publicidade, que interessa aos acionistas destinatários, à companhia e ao
mercado de capitais como um todo. Deve ser dada à oferta publicidade
suficiente, mediante a publicação de editais com conteúdo preciso e
completo, para que o conjunto dos possíveis acionistas interessados,
bem como os demais participantes do mercado de valores mobiliários,
possam vir a tomar conhecimento da oferta e de todos os seus termos6.
Somente com a observância do chamado full and fair disclosure,
plenamente consagrado, no que tange às ofertas públicas de aquisição,
estar-se-á dando amparo ao princípio da igualdade entre os acionistas
titulares das ações objeto da OPA.
Para assegurar tal publicidade, o artigo 11 da Instrução CVM
nº 361/2002 exige que o edital de oferta pública seja publicado nos
jornais de grande circulação habitualmente utilizados pela companhia
objeto, observando-se, no caso de ofertas cujo registro seja exigível,
o prazo máximo de 10 (dez) dias contados da data da obtenção do
registro para que seja efetuada a publicação.
O § 2º do artigo 11 determina, ademais, que o edital deverá
também ser encaminhado ao diretor de relações com investidores da
companhia objeto, para que este o divulgue imediatamente ao merca-
do, por meio de sistema eletrônico disponível na página da CVM na
rede mundial de computadores, ficando ainda disponível a eventuais
interessados, no mínimo, na CVM, na bolsa de valores ou na entida-
de do mercado de balcão organizado em que deva ser processada a
oferta, no endereço do ofertante, na sede da instituição intermediária
11.2.9. Leilão
O artigo 12 da Instrução CVM nº 361/2002 traz disposições re-
ferentes ao leilão da oferta, determinando que este deverá ser realizado
na bolsa de valores ou entidade de mercado de balcão organizado em
que as ações objeto da OPA sejam admitidas à negociação.
A realização por meio de leilão tem por objetivo assegurar duas
características básicas do processo de OPA, quais sejam: (a) a possi-
bilidade de o ofertante ir aumentando o valor por ele proposto, caso
constate o desinteresse dos destinatários pelo preço inicial – hipótese
em que os novos preços deverão ser necessariamente estendidos aos
aceitantes dos lances anteriores; e (b) permitir a livre interferência de
terceiros compradores na oferta.
A possibilidade de elevação do preço da oferta pelo ofertante
durante o leilão é benéfica para o mercado e para os investidores,
permitindo que o ofertante acompanhe o nível de adesão e habilitação
dos acionistas e, em função desses fatores, eleve o preço para um pa-
tamar que propicie uma adesão maior, em benefício dos destinatários
da OPA. Exclusivamente na OPA para aquisição de controle, não
poderá haver elevação de preço pelo ofertante durante o leilão, visto
que o § 1º do artigo 261 da Lei Societária determina que é permitido
ao ofertante melhorar a oferta originalmente formulada, desde que o
faça uma única vez, observando-se o percentual mínimo de 5% (cinco
por cento), e no interregno que vai até 10 (dez) dias antes da data da
expiração da oferta7.
autorizado a fazê-lo até o prazo máximo de dez dias antes da data da expiração
da oferta.
O artigo 15, por sua vez, prevê que em qualquer OPA formulada
pela companhia objeto, pelo acionista controlador ou por pessoas a ele
vinculadas, desde que não se trate de OPA por alienação de controle,
caso ocorra a aceitação por titulares de mais de 1/3 (um terço) e menos
de 2/3 (dois terços) das ações em circulação, o ofertante somente po-
derá: (i) adquirir até 1/3 (um terço) das ações em circulação da mesma
espécie e classe, procedendo-se ao rateio entre os aceitantes; ou (ii)
desistir da OPA, desde que tal desistência tenha sido expressamente
manifestada no instrumento de OPA, ficando sujeita apenas à condição
de a oferta não ser aceita por acionistas titulares de pelo menos 2/3
(dois terços) das ações em circulação.
Tal regra complementa aquela prevista no artigo 10, § 2º, da
Instrução CVM nº 361/2002 e também tem por objetivo preservar a
liquidez no mercado das ações emitidas pela companhia objeto, evitan-
do que o acionista minoritário se veja compelido a aceitar a OPA em
virtude do receio de permanecer titular de ações com reduzida liquidez.
Assim, se a OPA for aceita por até 1/3 (um terço) dos titulares
das ações em circulação, presume a CVM que a liquidez das ações
remanescentes não será significativamente afetada e, consequente-
mente, o ofertante está autorizado a comprar as ações pertencentes
aos aceitantes.
No caso de a OPA ser aceita por mais de 1/3 (um terço) das ações
em circulação, como ela resultaria em uma significativa redução de
liquidez, entende a CVM que o ofertante somente poderia comprar
todas as ações ofertadas à venda se a aceitação ultrapassar 2/3 (dois
terços) das ações em circulação, visto que, atingido tal patamar, ficaria
configurado que a oferta é equitativa para os minoritários, tanto que
foi aceita por parcela significativa deles e, além disso, os discordantes
ainda teriam a opção de, pelo prazo de 3 (três) meses, venderem suas
ações ao ofertante, conforme referido no artigo 10, § 2º.
A Instrução estabelece ainda restrições à aquisição e à alienação
de valores mobiliários de emissão da companhia objeto no curso da
8 Em estudo publicado pela então Bovespa, em 2005, estimou-se que tais custos
variam entre R$ 200 mil e R$ 2 milhões, dependendo do porte da companhia.
Apesar disso, alguns estudos defendem que os custos de manutenção do capital
aberto são irrelevantes na decisão de deslistagem. Os verdadeiros motivos para
a decisão de desligamento seriam o baixo free-float, o tamanho reduzido das
companhias e o reduzido número de negócios com as ações, isto é, o insatisfatório
custo-benefício de manter as ações listadas em bolsa, que não traz maiores
vantagens. A propósito ver ANDRÉ ROCHA. O custo de ser uma companhia
aberta é relevante?. Valor Econômico. Disponível em: < http://www.valor.com.
br/valor-investe/o-estrategista/2957362/o-custo-de-ser-uma-companhia-
aberta-e-relevante>; W. J. HORGN; W. EID JR (2005). A Saída: uma análise da
deslistagem na Bovespa. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas. Disponível em:
<https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/15553/A%20
sa%C3%ADda%20uma%20an%C3%A1lise%20da%20deslistagem%20na%20
Bovespa.pdf>; e WILLIAM EID JR. Custos de manter uma Sociedade Anônima
no Brasil. São Paulo: FGV/GVCEF, 2012.
18 A propósito, esclareça-se que, nos termos do artigo 3º, inciso III, da Instrução
CVM nº 361/2002, são consideradas em circulação no mercado todas as ações
do capital da companhia, menos as de propriedade do acionista controlador e
de pessoas a ele vinculadas, as detidas pelos administradores e as mantidas em
tesouraria.
OPA, agora por aumento de participação. E isso pela simples razão de que a todos
os demais acionistas terá sido dada a oportunidade de aceitar a OPA, e vender
[...] suas ações.” (Processo Administrador CVM nº RJ2007/5587, j. 29.05.2007.
Voto proferido pelo Diretor Marcelo Fernandez Trindade). No mesmo sentido o
Processo Administrativo CVM nº RJ 2010/13241, Relator Diretor Otávio Yazbek, j.
em 19.04.2011.
29 Segundo já decidido pela CVM, o prazo de 3 (três) meses estabelecido pela norma
regulamentar deve ser prorrogado caso haja eventual atraso decorrente da atuação
da CVM em autorizar a adoção do procedimento alternativo: “Ao estabelecer o
prazo de 3 meses a contar da aquisição das ações para a venda do excesso, sem
levar em conta o prazo de autorização pela CVM, a Instrução quis, na verdade,
devolver as ações ao mercado o mais rapidamente possível, evitando, assim,
maiores prejuízos para a sua liquidez. Note-se, entretanto, que dentro desse
prazo deve também ser obtida a autorização da CVM. Isto o torna potestativo.
Diante disso, o eventual atraso decorrente da atuação da CVM deve gerar uma
prorrogação do referido prazo.” Processo Administrativo CVM nº RJ 2004/4912,
Rel. Norma Jonssen Parente, j. 16.11.2004.
30 Para Luiz Leonardo Cantidiano, as OPAs para saída de segmento especial de listagem
têm caráter compulsório, por serem fruto de disposição estatutária aprovada em
AGE, e, por isso, não deveriam se submeter ao regramento destinado às OPAs por
aumento de participação, as quais têm caráter voluntário: “[...] é indiscutível, em minha
opinião, que a OPA tem um caráter compulsório, razão pela qual não faz sentido
algum submeter referida oferta às regras de OPA por aumento de participação, a qual
tem um caráter eminentemente voluntário, e resulta (i) de decisão prévia do próprio
controlador de adquirir ações no mercado que não por meio de uma OPA ou (ii) da
decisão do controlador de adquirir mais ações, quando já tiver ultrapassado, em OPAs
anteriores, o limite fixado no artigo 15 da Instrução CVM nº 361/02.” (LUIZ LEONARDO
CANTIDIANO. Oferta Pública para Saída de Nível Diferenciado de Governança
Corporativa. In: RODRIGO ROCHA MONTEIRO DE CASTRO; WALFRIDO JORGE
WARDE JÚNIOR; CAROLINA DIAS TAVARES GUERREIRO (coord.). Direito Empresarial
e Outros Estudos em Homenagem ao Professor José Alexandre Tavares Guerreiro.
São Paulo: Quartier Latin, 2013, pp.171-182.
31 Como já referido no item 6.5.7. do Capítulo 6, após as reformas implementadas
em 2017, a regra geral de manutenção de 25% de ações em circulação admite duas
exceções na regulamentação do Novo Mercado.
32 ROBERTA NIOAC PRADO. Oferta Pública de Ações Obrigatória nas S.A. – Tag
Along. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 119.
33 PAUL L. DAVIES. Gower and Davies’ Principles of Modern Company Law. London:
Sweet & Maxwell, 2003, p. 727.
34 ALAIN VIANDIER. OPA, OPE et autres offres publiques. Paris: Francis Lefebvre,
1999, pp. 374 et seg
35 De acordo com o artigo 5º da Diretiva, “1. Sempre que uma pessoa singular ou
colectiva, na sequência de uma aquisição efectuada por si ou por pessoas que
com ela actuam em concertação, venha a deter valores mobiliários de uma
sociedade a que se refere o nº 1 do artigo 1º que, adicionados a uma eventual
participação que já detenha e à participação detida pelas pessoas que com ela
actuam em concertação, lhe confiram directa ou indirectamente uma determinada
47 MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A nova Lei das S.A. São Paulo: Saraiva,
2002, pp. 403-404.
48 FÁBIO KONDER COMPARATO, CALIXTO SALOMÃO FILHO. O Poder de Controle
na Sociedade Anônima. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 287.
49 FERNANDO ALBINO DE OLIVEIRA. “A alienação do controle societário na Lei
das S.A.”. In: JAIRO SADDI (org.). Fusões e Aquisições: aspectos jurídicos e
econômicos. São Paulo: IOB, 2002, pp. 227-228.
55 FÁBIO ULHOA COELHO. “O direito de saída conjunta (‘tag along’)”. In: JORGE
LOBO (coord.). Reforma da lei das sociedades anônimas: inovações e questões
controvertidas da Lei n.º 10.303/2001. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 481;
MODESTO CARVALHOSA, NELSON EIZIRIK. A nova Lei das S.A. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 398; NELSON CÂNDIDO MOTTA. “Alienação do Poder de Controle
Compartilhado”. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro.
São Paulo: Malheiros, n. 89, jan.-mar. 1993, p. 45.
56 FERNANDO ALBINO DE OLIVEIRA. “A alienação do controle societário na Lei
das S.A.”. In: JAIRO SADDI (org.). Fusões e Aquisições: aspectos jurídicos e
econômicos. São Paulo: IOB, 2002, p. 229.
57 Comissão de Valores Mobiliários, Memo/SER/GER-1/Nº 147/2007, de 16.05.2007.
O entendimento manifestado em tal Memorando foi confirmado pelo Colegiado
da CVM, no julgamento do Processo CVM nº RJ 2007/7230, Rel. Dir. Eli Loria, j.
11.07.2007.
62 ALFREDO LAMY FILHO, JOSÉ LUIZ BULHÕES PEDREIRA. A Lei das S.A., 2ª ed,
v. 2. Rio de Janeiro: Renovar, 1996, p. 620; MODESTO CARVALHOSA, NELSON
EIZIRIK. A nova Lei das S.A. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 405; LUIZ LEONARDO
CANTIDIANO. Reforma da Lei das S.A. Comentada. Rio de Janeiro: Renovar, 2002,
p. 238.
63 Processo CVM nº RJ 2007/14099, Rel Dir. Durval Soledade, j. 29.01.2008.
66 Nesse sentido, ver o voto proferido pelo então Presidente da CVM, o Diretor
Marcelo Fernandez Trindade, no âmbito do Processo Administrativo CVM
nº RJ2007/1996, Rel. Dir. Maria Helena dos Santos Fernandes de Santana, j.
21.03.2007.
67 Conforme entendimento manifestado pelo Colegiado da CVM no Processo
Administrativo CVM nº RJ2007/11573, j. 04.10.2007: “2.6 É claro que, como
ressaltou o ex-presidente da CVM Marcelo Trindade em seu voto no Proc. RJ
2007/1996, julgado em 21 de março de 2007, a área técnica da CVM deve dar
sempre a devida atenção para o disposto no contrato de compra e venda das
ações do controlador, que pode eventualmente discriminar o valor de cada ativo
alienado por via indireta.2.7 Todavia, não é sempre que o contrato discrimina
esses valores e, mesmo quando o faz, não lhe podemos conferir importância
nem credibilidade excessivas. Em muitos casos, os valores que constam do
contrato não são objeto de uma real negociação entre o adquirente e o alienante,
já que, para este último, a distribuição do preço entre os ativos indiretamente
alienados pode ter pouca ou nenhuma relevância. 2.8 Em tais situações, o laudo
de avaliação e também outras proxies, como o valor de mercado da companhia,
podem ser utilizados como meios auxiliares na determinação do preço devido
na oferta, ao lado dos instrumentos contratuais e outros documentos relativos à
negociação havida entre o adquirente e o alienante do controle.”
deverá buscar, por outros meios, evidências que lhe permitam conside-
rar justificada a demonstração do preço da OPA, como, por exemplo,
a apresentação de outros documentos e a oitiva de depoimentos do
vendedor e do comprador.
No entanto, a utilização destes outros meios, além de certamente
retardar o processo de registro da OPA, com evidente prejuízo para
os acionistas minoritários, submeterá o ofertante a elevado grau de
incerteza, na medida em que a CVM poderá considerar que o preço da
oferta não foi devidamente justificado e, consequentemente, recusar-se
a conceder o registro para sua realização68 ou, alternativamente, deter-
minar que ela seja realizada com base na comparação entre preços de
mercado das ações de emissão controladora e o da companhia aberta
por ela indiretamente controlada, se for o caso69.
Portanto, a CVM deve analisar se a oferta pública por alienação
de controle atende aos requisitos legais, regulamentares e estatutários
aplicáveis, especialmente no que se refere às regras que estabelecem
os critérios para fixação do preço das ações e que asseguram o tra-
tamento equitativo aos acionistas minoritários na OPA. Não sendo
atendidos tais requisitos, a Autarquia deverá negar o registro da oferta
70 ROBERTA NIOAC PRADO. Oferta Pública de Ações Obrigatória nas S.A. – Tag
Along. São Paulo: Quartier Latin, 2005, pp. 179-180.
74 Ver Capítulo 8.
75 ROBERTA NIOAC PRADO. Oferta Pública de Ações Obrigatória nas S.A. – Tag
Along. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 65.
76 ROBERTO AMÉRICO BIANCHI. Regimen de la Transparencia en la Oferta Publica.
Buenos Aires: Zavalia, 1993, p. 243.
77 ROBERTO AMÉRICO BIANCHI. Regimen de la Transparencia en la Oferta Publica.
Buenos Aires: Zavalía, 1993, p. 267.
A OPA disciplinada no artigo 257 da Lei das S.A., por sua vez,
tem como pressuposto o apelo ao público que faz aquele que deseja
adquirir o controle de determinada companhia aberta. Tal oferta possui
caráter facultativo e voluntário, uma vez que não decorre de exigência
legal, não sendo vedada a utilização de outros meios para a consecução
do fim colimado, qual seja, a aquisição do controle.
11.7.4. O sigilo
O artigo 260 da Lei das S.A. determina que “até a publicação da
oferta, o ofertante, a instituição financeira intermediária e a Comissão
de Valores Mobiliários devem manter sigilo sobre a oferta projetada,
respondendo o infrator pelos danos que causar”.
Tal previsão está em consonância com o disposto no artigo 155,
§ 4º, da Lei Societária, que, ao contemplar a figura do insider trading,
estabelece a regra de que o administrador deve guardar sigilo sobre
informações não divulgadas ao mercado, sendo-lhe vedado aproveitar-
se dessa informação privilegiada para obtenção de qualquer vantagem,
para si ou para outrem.
A regra de sigilo insculpida no artigo 260 da Lei das S.A. visa
a manter o funcionamento regular do mercado, evitando, assim, o
aparecimento de condições artificiais de demanda, oferta e preço dos
valores mobiliários envolvidos na futura oferta pública. Tal norma
objetiva, ademais, quando for o caso, prevenir eventuais manobras dos
administradores ou dos controladores da companhia visada, no intuito
de frustrar ou desestimular a oferta para manterem suas posições78.
Note-se que, ao lado do dever de sigilo previsto no artigo 260 da
Lei das S.A., que subsiste até o momento da publicação do edital de
porcentagem igual ou superior a cinco por cento e até dez dias antes
do término do prazo da oferta; as novas condições se estenderão aos
acionistas que já tiverem aceito a oferta”.
Faz-se necessário, entretanto, analisar de maneira mais apro-
fundada o § 1º do artigo 261 da Lei Societária para se apurar em
que contexto tal dispositivo se insere e, consequentemente, em que
situações deve ser aplicado.
O dispositivo legal em tela admite a possibilidade de melhoria da
proposta formulada em OPA para aquisição de controle de companhia
aberta, no curso do seu prazo. Assim, pode o ofertante melhorar as
condições de preço e forma de pagamento, desde que o faça uma única
vez, observando-se o percentual mínimo de 5%, e no interregno que
vai até dez dias antes da data da expiração da oferta.
Note-se que o dispositivo que contém a norma relativa à melho-
ria da proposta está inserido, sob a forma de parágrafo, no âmbito do
artigo 261 da Lei das S.A., o qual, por sua vez, conforme textualmente
menciona a Lei Societária, regula o “processamento da oferta”.
O caput do artigo 261 refere-se expressamente à aceitação da
oferta, uma vez que, com esta etapa, inicia-se a fase de “processamento
da oferta”, a qual compreende, ainda, o leilão e a posterior liquidação
financeira da operação.
Ora, os parágrafos de determinado dispositivo legal devem ser
informados pela norma contida no caput do artigo em que se inserem,
não podendo, portanto, restringir ou ampliar a norma do caput80.
Por conseguinte, o § 1º do artigo 261 da Lei das S.A. deve ser
interpretado em consonância ao disposto no caput do mesmo artigo.
Assim, se o caput relaciona-se ao processamento da oferta pública, é
forçoso concluir que as limitações estabelecidas em seu § 1º para que
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