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Informativo 647-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
PODER DE POLÍCIA
 Agência de turismo que faça câmbio é equiparada a instituição financeira e está sujeita à fiscalização do BACEN.

DIREITO CIVIL
RESPONSABILIDADE CIVIL
 O companheiro que, com seu comportamento, assume o risco de transmissão do vírus HIV à parceira, deve pagar
indenização pelos danos morais e materiais a ela causados.

SEGURO
 Súmula 632-STJ

DIREITO DO CONSUMIDOR
CONTRATOS BANCÁRIOS
 É válida a recusa das instituições financeiras de concederem empréstimo consignado nos casos em que a soma da
idade do cliente com o prazo de duração do contrato seja superior a 80 anos.

DIREITO EMPRESARIAL
CHEQUE
 O dever de garantia do emitente do cheque, previsto no art. 15 da Lei nº 7.357/85, não pode ser afastado com
fundamento nos costumes e no princípio da boa-fé objetiva.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


PROCEDIMENTO
 A contagem dos prazos nos ritos regulados pelo ECA ocorre em dias CORRIDOS (não se aplica a regra dos dias úteis
do CPC/2015).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


INTIMAÇÕES
 Na hipótese de duplicidade de intimações, prevalece a intimação eletrônica sobre aquela realizada por meio do
Diário de Justiça.

AÇÃO DE EXIGIR CONTAS


 Termo inicial do prazo de 48 horas, previsto no art. 915, § 2º, do CPC/1973, para a prestação de contas por parte
do réu: data da intimação.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1


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DIREITO PENAL
DOSIMETRIA DA PENA
 Condenações anteriores transitadas em julgado não podem ser utilizadas como personalidade ou conduta social
desfavorável.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


PRISÃO
 A concessão da prisão domiciliar com base no art. 318-A do CPP aplica-se também no caso de execução provisória
da pena.

DIREITO TRIBUTÁRIO
PARCELAMENTO
 É ilegal a cobrança de juros de mora sobre as multas de mora e de ofício perdoadas no pagamento à vista do débito
fiscal de acordo com o art. 1º, § 3º, inciso I da Lei nº 11.941/2009.

CONTRIBUIÇÕES
 ICMS não integra a base de cálculo da CPRB.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PREVIDÊNCIA PRIVADA
 O regulamento aplicável ao participante para fins de cálculo da renda mensal inicial é aquele vigente no momento
da implementação das condições de elegibilidade.

DIREITO ADMINISTRATIVO

PODER DE POLÍCIA
Agência de turismo que faça câmbio é equiparada a instituição financeira
e está sujeita à fiscalização do BACEN

Atenção! Concursos federais


A agência de turismo devidamente credenciada para efetuar operações de câmbio é
equiparada a instituição financeira e subordina-se à regular intervenção fiscalizatória do
Banco Central.
Consideram-se instituições financeiras as pessoas jurídicas públicas ou privadas que tenham
como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos
financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor
de propriedade de terceiros (art. 17 da Lei nº 4.595/64).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.434.625-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/04/2019 (Info 647).
Obs: esse mesmo entendimento pode ser aplicado para a seara dos crimes contra o Sistema
Financeiro Nacional (art. 1º, I, da Lei nº 7.492/86): STJ. 5ª Turma. RHC 9.281/PR, Rel. Min. Gilson
Dipp, DJe 30/10/2000.

Imagine a seguinte situação hipotética:


“Boa Viagem Ltda.” é uma agência de turismo. Ocorre que, além de comercializar passagens aéreas e
pacotes de turismo, ela também faz operações de câmbio, ou seja, compra e vende dólar, euro e outras
moedas estrangeiras.
A referida empresa foi multada pelo Banco Central porque não entregou determinado relatório previsto
em instrução normativa editada pela autarquia.
Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2
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A “Boa Viagem” ajuizou ação pedindo a anulação do auto de infração alegando que é uma agência de
turismo (e não uma instituição financeira). Logo, o Banco Central não teria competência para fiscalizá-la.

A questão chegou até o STJ. O Banco Central tem competência para fiscalizar a “Boa Viagem”?
SIM.

Banco Central
O Banco Central é uma autarquia federal, prevista na Constituição Federal e disciplinada pela Lei nº
4.595/64.
A título de curiosidade, vale ressaltar que muita gente confunde de quem é a atribuição para emitir moeda,
pensando que seria da Casa da Moeda. Trata-se, contudo, de competência do Banco Central, nos termos
do art. 164 da CF/88:
Art. 164. A competência da União para emitir moeda será exercida exclusivamente pelo banco
central.
(...)

Os arts. 9º, 10 e 11 da Lei nº 4.595/64 elencam as atribuições legais do Banco Central.


Uma das principais competências do BACEN está prevista no inciso IX do art. 10:
Art. 10. Compete privativamente ao Banco Central da República do Brasil:
(...)
IX - Exercer a fiscalização das instituições financeiras e aplicar as penalidades previstas.

Desse modo, o BACEN (sigla de Banco Central) possui poder de polícia em relação às atividades
desenvolvidas pelas instituições financeiras.
Outra relevante atribuição do BACEN é a de atuar no mercado de câmbio:
Art. 11. Compete ainda ao Banco Central da República do Brasil;
(...)
III - Atuar no sentido do funcionamento regular do mercado cambial, (...)

O que são instituições financeiras?


O conceito de instituição financeira no Brasil gera algumas discussões. Isso porque a doutrina afirma que
a legislação não forneceu uma definição muito precisa sobre o tema.
Apesar disso, para os fins de fiscalização do Banco Central, o conceito de instituição financeira é fornecido
pelos arts. 17 e 18 da Lei nº 4.595/64:
Art. 17. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas
jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta,
intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional
ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.
Parágrafo único. Para os efeitos desta lei e da legislação em vigor, equiparam-se às instituições
financeiras as pessoas físicas que exerçam qualquer das atividades referidas neste artigo, de forma
permanente ou eventual.

Art. 18. As instituições financeiras somente poderão funcionar no País mediante prévia
autorização do Banco Central da República do Brasil ou decreto do Poder Executivo, quando forem
estrangeiras.
§ 1º Além dos estabelecimentos bancários oficiais ou privados, das sociedades de crédito,
financiamento e investimentos, das caixas econômicas e das cooperativas de crédito ou a seção
de crédito das cooperativas que a tenham, também se subordinam às disposições e disciplina

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desta lei no que for aplicável, as bolsas de valores, companhias de seguros e de capitalização, as
sociedades que efetuam distribuição de prêmios em imóveis, mercadorias ou dinheiro, mediante
sorteio de títulos de sua emissão ou por qualquer forma, e as pessoas físicas ou jurídicas que
exerçam, por conta própria ou de terceiros, atividade relacionada com a compra e venda de ações
e outros quaisquer títulos, realizando nos mercados financeiros e de capitais operações ou
serviços de natureza dos executados pelas instituições financeiras.
(...)

Agências de turismo que façam atividades de câmbio são equiparadas a instituições financeiras
A partir da leitura dos dispositivos acima transcritos, conclui-se que as agências de turismo que atuam no
ramo de operações com moeda estrangeira (câmbio) assumem o status de instituição financeira por
equiparação.
Desse modo, a “Boa Viagem Ltda.”, como foi devidamente autorizada pelo BACEN a efetuar operações de
câmbio, é equiparada a instituição financeira (art. 17), subordinando-se, como consequência, à regular
intervenção fiscalizatória do Banco Central (art. 10, IX e 11, III), com a inerente possibilidade de aplicação
das sanções administrativas legalmente cominadas.
Logo, não há nenhuma irregularidade na conduta do BACEN de fiscalizar as atividades da agência por ela
autorizada a operar no mercado de câmbio.

Em suma:
A agência de turismo devidamente credenciada para efetuar operações de câmbio é equiparada a
instituição financeira e subordina-se à regular intervenção fiscalizatória do Banco Central.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.434.625-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/04/2019 (Info 647).

Conceito de instituição financeira para fins penais


A definição do que seja instituição financeira, para fins de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, é
encontrada no art. 1º da Lei nº 7.492/86.
Neste art. 1º, temos duas espécies de instituição financeira:
1) Instituição financeira em sentido próprio (prevista no caput do art. 1º);
2) Instituição financeira por equiparação (definida no parágrafo único do art. 1º).
Podemos assim resumir o tema:
I – a captação, intermediação ou aplicação de recursos
Instituição financeira em financeiros de terceiros;
SENTIDO PRÓPRIO
é a pessoa jurídica que realiza... II – a custódia, emissão, distribuição, negociação,
intermediação ou administração de valores mobiliários.

I - a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio,


consórcio, capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou
Instituição financeira recursos de terceiros; e
POR EQUIPARAÇÃO é... II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades
próprias de instituição financeira, ainda que de forma
eventual.
O STJ já decidiu, em certa oportunidade, que as empresas que realizam operações de câmbio são
consideradas instituições financeiras também para fins penais:
As pessoas jurídicas que realizam operações de câmbio equiparam-se, pelo art. 1º, inc. I, da Lei nº
7.492/86, e para os efeitos da lei, às instituições financeiras.
STJ. 5ª Turma. RHC 9.281/PR, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 13/09/2000.

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DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL
O companheiro que, com seu comportamento, assume o risco de transmissão do vírus HIV à
parceira, deve pagar indenização pelos danos morais e materiais a ela causados

Importante!!!
O parceiro que suspeita de sua condição soropositiva, por ter adotado comportamento
sabidamente temerário (vida promíscua, utilização de drogas injetáveis, entre outros), e,
mesmo assim, continua normalmente tendo relações sexuais com sua companheira sem
alertá-la para esse fato, assume os riscos de sua conduta e, se ela for contaminada, responde
civilmente pelos danos causados.
A negligência, incúria e imprudência mostram-se evidentes quando o cônjuge/companheiro,
ciente de sua possível contaminação, não realiza o exame de HIV, não informa o parceiro sobre
a probabilidade de estar infectado nem utiliza métodos de prevenção.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.760.943-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/03/2019 (Info 647).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João viviam em união estável com Maria.
Determinado dia, Maria fez um exame de descobriu que estava com o vírus HIV.
Ao contar para João, ele não demonstrou surpresa e afirmou para Maria que provavelmente foi ele quem
passou para ela.
João explicou então para Maria que ele, há aproximadamente 1 ano, começou a desconfiar que tinha o
vírus HIV, mas que decidiu não contar para ela com medo de sua reação. Isso porque ele supostamente
havia contraído a enfermidade por conta de inúmeras relações sexuais mantidas com outras parceiras e
também pelo uso de drogas injetáveis.
Desse modo, João, mesmo desconfiando que era portador do vírus HIV, continuou mantendo relações
sexuais desprotegidas com sua consorte, transmitindo-lhe a doença.
Maria pôs fim ao relacionamento e ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra João.

A pretensão de Maria foi acolhida?


SIM. O STJ afirmou que existe o dever de indenizar neste caso.

A espécie de responsabilidade, neste caso, é subjetiva ou objetiva?


Subjetiva. A responsabilidade civil do cônjuge/companheiro pelo contágio do(a) parceiro(a) com o vírus
HIV é subjetiva, devendo estar presentes os seus pressupostos:
a) conduta (ação ou omissão) do agente;
b) dolo ou culpa;
c) dano;
d) nexo de causalidade.

Sujeito que sabe da sua condição e quer transmitir


Se o transmissor sabe que tem HIV e age de forma voluntária e dirigida ao resultado, ou seja, mantém
relações sexuais querendo transmitir: responderá civil e criminalmente pelo dolo direto de seu desígnio.

Sujeito que desconhece a sua condição


Por outro lado, se o portador não tem consciência de sua condição (soropositivo assintomático), não
apresenta sintomas da síndrome e não se expôs, de alguma forma, ao risco de contaminação: muito
dificilmente poderá ser responsabilizado.
Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5
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É o notório caso do jogador de basquete conhecido como Magic Johnson que, ao ser processado por uma
de suas parceiras sexuais, baseou sua defesa justamente no fato de que, no momento da relação sexual
supostamente causadora do contágio, não sabia que era portador do vírus HIV, tendo sido negado o pleito
indenizatório da autora.

Sujeito que não tinha certeza de ser portador do HIV, mas que suspeitava diante do seu comportamento
sabidamente temerário
O parceiro que suspeita de sua condição soropositiva, por ter adotado comportamento sabidamente
temerário (vida promíscua, utilização de drogas injetáveis, entre outros), deve assumir os riscos de sua
conduta.
Se esse cônjuge ou companheiro, mesmo ciente de sua possível contaminação...
- não realiza o exame de HIV (o Sistema Único de Saúde - SUS disponibiliza teste rápido para a detecção
do vírus nas unidades de saúde do país)
- não informa o(a) parceiro(a) sobre essa possibilidade
- e não utiliza métodos de prevenção...
... isso demonstra sua negligência, incúria e imprudência.

Esse comportamento mostra-se ainda mais grave em se tratando de uma relação conjugal, em que se
espera das pessoas, intimamente ligadas por laços de afeto, um forte vínculo de confiança de um para
com o outro.
Nesse sentido é a opinião da doutrina especializada:
“(...) poder-se-á atribuir responsabilidade ao parceiro sexual que não tem conhecimento de sua
soropositividade se ficar comprovado que tinha uma vida promíscua, ou seja, relacionamento
íntimo com diversos parceiros sexuais ou, ainda, que utilizava drogas injetáveis, visto que, com tal
comportamento de alto risco, poderia ele deduzir a grande probabilidade de estar contaminado
pelo vírus da AIDS e submeter-se aos testes de detecção.
Na hipótese enfocada, ficam demonstradas a negligência e a imprudência desse parceiro, por não
ter-se submetido ao exame de sangue específico, para ter certeza de seu real estado de saúde, de
soronegativo ou soropositivo, mesmo tendo conhecimento de seu comportamento de alto risco,
razão pela qual deverá ser responsabilizado pela transmissão do vírus HIV, sofrendo as
consequências previstas na lei.” (AZEVEDO, Marcos de Almeida Villaça. Aids e responsabilidade
civil. São Paulo: Atlas, 2002, p. 74).

Assim, se um parceiro sexual sabia, ou deveria saber (no caso de pessoa com comportamento de risco),
que estava contaminado pelo vírus HIV e não informou ao outro, antes da relação sexual, ficará
demonstrada sua negligência, e ele deve arcar com a reparação dos danos causados pela contaminação
de seu parceiro (AZEVEDO, op. cit, p. 39).

Comportamento de risco
Para fins de responsabilização, “considera-se comportamento de risco a pluralidade de parceiros sexuais
e a utilização, em grupo, de drogas psicotrópicas injetáveis, e encontram-se em situação de risco as
pessoas que receberam transfusão de sangue ou doações de leite, órgãos e tecidos humanos. Essas
pessoas integram os denominados ‘grupos de risco’, em razão de seu comportamento facilitar a sua
contaminação” (AZEVEDO, op. cit, p. 39).

Voltando ao caso concreto:


O réu agiu com culpa, uma vez que já tinha ciência de que era portador do vírus HIV e, ainda assim, não
se cercou dos cuidados necessários ao manter relações sexuais com a então companheira, transmitindo-
lhe a doença, o que se configura em verdadeira transgressão à confiança e à confidência recíprocas,

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6


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próprias de todo relacionamento afetivo, privando sua convivente do direito de permanecer sadia,
preservando sua integridade física.
Portanto, no presente caso, ainda que João não tivesse como desígnio a efetiva transmissão do vírus HIV,
acabou assumindo o risco de realizá-la, seja porque já era sabedor de sua soropositividade no momento
das relações sexuais com sua companheira - sem lhe informar de sua condição e sem adotar as devidas
precauções -, seja porque adotava comportamento extraconjugal de risco (vida promíscua), devendo ser
responsabilizado por sua conduta.

Valor
No caso concreto, o STJ manteve o valor dos danos morais fixado pelo TJ/MG, que arbitrou o montante
em R$ 120 mil.

Em suma:
O parceiro que suspeita de sua condição soropositiva por ter adotado comportamento sabidamente
temerário (vida promíscua, utilização de drogas injetáveis, entre outros) e, mesmo assim, continua
normalmente tendo relações sexuais com sua companheira sem alertá-la para esse fato, assume os
riscos de sua conduta e, se ela for contaminada, responde civilmente pelos danos causados.
A negligência, incúria e imprudência mostram-se evidentes quando o cônjuge/companheiro, ciente de
sua possível contaminação, não realiza o exame de HIV, não informa o parceiro sobre a probabilidade
de estar infectado nem utiliza métodos de prevenção.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.760.943-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/03/2019 (Info 647).

Responsabilidade penal
No âmbito criminal, qual é, em tese, o crime praticado por um indivíduo que, sabendo ser portador de
HIV, pratica relação sexual com outra pessoa querendo ou assumindo o risco de transmitir o vírus?
Existem três correntes sobre o tema:
1) Perigo de contágio de moléstia grave (art. 131 do CP);
2) Homicídio doloso (art. 121);
3) Lesão corporal qualificada pela enfermidade incurável (art. 129, § 2º, II).

Prevalece a 3ª corrente, ou seja, trata-se de lesão corporal qualificada pela enfermidade incurável.
Existe julgado antigo do STF no qual a maioria dos Ministros afastou a 1ª e a 2ª posições: HC 98.712/RJ.
No mesmo sentido, podemos mencionar a existência de acórdão do STJ que afirmou ser acertado adotar
a 3ª corrente. Veja trechos da ementa:
O STF, no julgamento do HC 98.712/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio (1.ª Turma, DJe de 17/12/2010), firmou a
compreensão de que a conduta de praticar ato sexual com a finalidade de transmitir AIDS não configura
crime doloso contra a vida. Assim não há constrangimento ilegal a ser reparado de ofício, em razão de não
ter sido o caso julgado pelo Tribunal do Júri.
O ato de propagar síndrome da imunodeficiência adquirida não é tratado no Capítulo III, Título I, da Parte
Especial, do Código Penal (art. 130 e seguintes), onde não há menção a enfermidades sem cura. Inclusive,
nos debates havidos no julgamento do HC 98.712/RJ, o eminente Min. Ricardo Lewandowski, ao excluir a
possibilidade de a Suprema Corte, naquele caso, conferir ao delito a classificação de "Perigo de contágio
de moléstia grave" (art. 131, do CP), esclareceu que, “no atual estágio da ciência, a enfermidade é
incurável, quer dizer, ela não é só grave, nos termos do art. 131”.
Na hipótese de transmissão dolosa de doença incurável, a conduta deverá será apenada com mais rigor
do que o ato de contaminar outra pessoa com moléstia grave, conforme previsão clara do art. 129, § 2.º
inciso II, do Código Penal.
STJ. 5ª Turma. HC 160.982/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 17/05/2012.

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SEGURO
Súmula 632-STJ
Correção monetária nos contratos de seguro

Súmula 632-STJ: Nos contratos de seguro regidos pelo Código Civil, a correção monetária
sobre a indenização securitária incide a partir da contratação até o efetivo pagamento.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 08/05/2019, DJe 13/05/2019.

O que é o contrato de seguro?


No contrato de seguro, “o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse
legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados” (art. 757 do CC).
Em outras palavras, no contrato de seguro, uma pessoa física ou jurídica (chamada de “segurada”) paga
uma quantia denominada de “prêmio” para que uma pessoa jurídica (“seguradora”) assuma determinado
risco. Caso o risco se concretize (o que chamamos de “sinistro”), a seguradora deverá fornecer à segurada
uma quantia previamente estipulada (indenização).
Ex.: Pedro celebra um contrato de seguro do seu veículo com a seguradora X e todos os meses paga R$
100,00 como prêmio; se, por exemplo, o carro for roubado (sinistro), a seguradora deverá pagar R$ 30 mil
a título de indenização para o segurado.

Indenização securitária
É o valor pago pela seguradora caso o risco coberto se concretize (sinistro).

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


Em 05/05/2015, João faz um seguro de vida em favor de seu filho Lucas.
A apólice do seguro previa que a seguradora deveria pagar R$ 100 mil ao beneficiário em caso de morte
do segurado. Esses R$ 100 mil são a indenização securitária.
Em 08/08/2018, João faleceu. Isso significa que a seguradora terá que pagar a indenização securitária a Lucas.
Ocorre que a seguradora, alegando descumprimento de certas obrigações contratuais, não efetuou
espontaneamente o pagamento da indenização securitária.
Diante disso, em 02/02/2019, Lucas teve que ajuizar uma ação de cobrança, que foi julgada procedente,
tendo o juiz condenado a seguradora a pagar a indenização securitária.

A seguradora terá que pagar o valor da indenização securitária (R$ 100 mil) acrescida de correção
monetária?
SIM.

Qual é o termo inicial dessa correção monetária? Ela será calculada a partir de quando?
A data da contratação.
Os valores da cobertura do seguro de vida devem ser acrescidos de correção monetária contada a partir
da data em que celebrado o contrato entre as partes (em nosso exemplo, 05/05/2015).

A incidência da correção monetária termina quando?


Somente no dia em que a indenização for efetivamente paga.
Assim, o termo inicial é o dia da contratação e o termo final é o efetivo pagamento.
O objetivo disso é preservar o valor aquisitivo (“poder de compra”) do valor contratado. Nesse sentido:
A correção monetária incide desde a data da celebração do contrato até o dia do efetivo pagamento do
seguro, pois a apólice deve refletir o valor contratado atualizado.
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1328730/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/06/2016.

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O juiz deve condenar a seguradora a pagar também juros de mora? Eles são contados desde quando?
SIM. Nas ações que buscam o pagamento de indenização securitária, os juros de mora devem incidir a
partir da data da citação da seguradora, visto se tratar de eventual ilícito contratual.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1167778/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 07/12/2017.

Por que a súmula fala em “contratos de seguro regidos pelo Código Civil”?
Apenas para deixar claro que não se está tratando aqui da indenização decorrente do seguro DPVAT, que
é regido pela Lei nº 6.194/74. A correção monetária do seguro DPVAT possui regra própria, consagrada
em enunciado do STJ:
Súmula 580-STJ: A correção monetária nas indenizações do seguro DPVAT por morte ou invalidez, prevista
no § 7º do art. 5º da Lei nº 6.194/1974, redação dada pela Lei nº 11.482/2007, incide desde a data do
evento danoso.

DIREITO DO CONSUMIDOR

CONTRATOS BANCÁRIOS
É válida a recusa das instituições financeiras de concederem empréstimo consignado nos casos
em que a soma da idade do cliente com o prazo de duração do contrato seja superior a 80 anos

A instituição financeira se recusa a fazer empréstimo consignado caso a idade do cliente


somada com o prazo do contrato for maior que 80 anos. Ex: cliente tem 78 anos e o contrato
de empréstimo teria prazo de pagamento de 3 anos. Neste caso, a instituição financeira não
aceita celebrar o pacto.
Essa restrição não representa uma discriminação abusiva contra os idosos.
A adoção de critério etário para distinguir o tratamento da população em geral é válida
quando adequadamente justificada e fundamentada no ordenamento jurídico, sempre
atentando-se para a sua razoabilidade diante dos princípios da igualdade e da dignidade da
pessoa humana.
Esse critério de vedação ao crédito consignado para tais hipóteses não representa
discriminação negativa que coloque em desvantagem exagerada a população idosa,
considerando que esta poderá se valer de outras modalidades de crédito bancário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.783.731-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2019 (Info 647).

A situação concreta, com algumas adaptações, foi a seguinte:


A Caixa Econômica Federal possui uma instrução normativa prevendo que ela não irá conceder empréstimo
consignado para o cliente se a sua idade somada com o prazo de empréstimo ultrapassar 80 anos.
Ex: cliente tem 78 anos e o contrato de empréstimo teria prazo de pagamento de 3 anos. Neste caso, a
instituição financeira não aceita celebrar o pacto; por outro lado, se o cliente se comprometer a pagar em
1 ano, o contrato pode ser celebrado nesses termos.
A regra está contida no item 3.6.5.7 do Manual Normativo MN CO 055, versão 143, Confidencial 05, que
trata do Crédito Consignado da Caixa, em vigor desde 18/03/14, com o seguinte teor:
3.6.5.7 Para qualquer contratação ou renovação de quaisquer clientes, a soma da idade do cliente com o
prazo do contrato não pode ser maior que 80 anos.
O Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública contra a CEF alegando que essa restrição seria
discriminatória, violando, portanto, o princípio da igualdade.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9


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O STJ concordou com a tese do MPF? Essa restrição imposta pela instituição financeira é ilegal ou
abusiva de alguma forma?
NÃO. O pedido formulado pelo MPF foi julgado improcedente e o STJ considerou que o critério adotado
pelo banco é válido.

Empréstimo consignado é diferente de um mútuo comum


O empréstimo consignado possui algumas diferenças em relação aos contratos de mútuo convencionais.
Podemos apontar três peculiaridades do empréstimo consignado:
a) sua quitação ocorre por meio de desconto das prestações diretamente da conta corrente do devedor;
b) possui caráter irrevogável, de modo que, após a autorização para o desconto em folha, o consumidor
não poderá requerer sua revogação;
c) sua contratação ocorre de forma facilitada e desburocratizada, pois o cliente não precisa ir
pessoalmente ao banco para contratá-lo, dada sua disponibilização em vários canais (v.g. internet, guichês
eletrônicos) permitindo acesso imediato ao crédito.

Não há violação ao Estatuto do Idoso nem conduta discriminatória


A partir da interpretação sistemática do Estatuto do Idoso, percebe-se que o bem jurídico tutelado é a
dignidade da pessoa idosa, de modo a repudiar as condutas embaraçosas que se utilizam de mecanismos
de constrangimento exclusivamente calcadas na idade avançada do interlocutor.
Ocorre que o STJ entendeu que essa restrição estabelecida pelo banco não representa uma discriminação
abusiva contra os idosos.
A adoção de critério etário para distinguir o tratamento da população em geral é válida quando
adequadamente justificada e fundamentada no ordenamento jurídico, sempre atentando-se para a sua
razoabilidade diante dos princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana. Aliás, o próprio Código
Civil se utiliza de critério positivo de discriminação ao instituir, por exemplo, que é obrigatório o regime
da separação de bens no casamento da pessoa maior de 70 anos (art. 1.641, II).
Esse critério de vedação ao crédito consignado para tais hipóteses não representa discriminação negativa
que coloque os idosos em desvantagem exagerada, considerando que poderão se valer de outras
modalidades de crédito bancário.
A referida norma é baseada em outros fatores justificáveis e razoáveis que servem para limitar o acesso
ao crédito tendo em vista a expectativa de vida da população.
Os elementos admitidos como fator de discriminação, idade do contratante e prazo do contrato, guardam
correspondência lógica abstrata entre o fator colocado na apreciação da questão (discrímen) e a
desigualdade estabelecida nos diversos tratamentos jurídicos, bem como há harmonia nesta
correspondência lógica com os interesses constantes do sistema constitucional e assim positivados
(segurança e higidez do sistema financeiro e de suas instituições individualmente consideradas).

Em suma:
É válida a recusa das instituições financeiras de concederem empréstimo consignado nos casos em que
a soma da idade do cliente com o prazo de duração do contrato seja superior a 80 anos.
O critério de vedação ao crédito consignado - a soma da idade do cliente com o prazo do contrato não
pode ser maior que 80 anos - não representa discriminação negativa que coloque em desvantagem
exagerada a população idosa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.783.731-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2019 (Info 647).

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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DIREITO EMPRESARIAL

CHEQUE
O dever de garantia do emitente do cheque, previsto no art. 15 da Lei nº 7.357/85,
não pode ser afastado com fundamento nos costumes e no princípio da boa-fé objetiva

O emitente garante o pagamento do valor contido no cheque, considerando-se não escrita a


declaração pela qual se exima dessa garantia (art. 15 da Lei nº 7.357/85).
Esse dever de garantia do emitente do cheque não poder ser afastado com fundamento nos
costumes e no princípio da boa-fé objetiva.
Não há lacuna neste caso. Na ausência de lacuna, não cabe ao julgador se valer de um costume
para afastar a aplicação da lei, sob pena de ofensa ao art. 4º da LINDB.
De igual modo, a flexibilização do art. 15 da Lei nº 7.357/85, sob o argumento do princípio da
boa-fé objetiva, não tem o condão de excluir o dever de garantia do emitente do cheque, sob
pena de se comprometer a segurança na tutela do crédito, pilar fundamental das relações
jurídicas dessa natureza.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.787.274-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2019 (Info 647).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Denis estava devendo R$ 60 mil a José.
Denis explicou que estava sem dinheiro para quitar o débito à vista e, portanto, pediu para pagar
parceladamente em seis vezes.
José aceitou, mas pediu, como garantia, que Denis lhe entregasse seis cheques no valor de R$ 10 mil cada um.
Desse modo, a cada mês, José iria descontando os cheques no banco.
O problema é que Denis não tinha cheque nem conta bancária. Ele procurou, então, seu cunhado
(Wagner), explicou a situação e pediu para lhe emprestar os seis cheques assinados. Assim, a cada mês,
Denis deveria depositar R$ 10 mil na conta de Wagner para possibilitar que houvesse fundos quando os
cheques fossem sendo descontados por José.
Wagner emitiu (assinou) os seis cheques e os deu a Denis. Este, por sua vez, entregou para José.

Denis atrasou as duas últimas prestações


A situação estava funcionando bem e José conseguiu sacar os quatro primeiros cheques.
Ocorre que Denis não depositou a quinta parcela na conta corrente de Wagner. O mesmo aconteceu com
a sexta prestação.
Assim, José não conseguiu compensar os dois últimos cheques porque não havia fundos.
Diante disso, José ajuizou ação contra Wagner (o emitente) cobrando o valor do cheque.

Tese de Wagner
Wagner se defendeu dizendo que ele apenas emprestou o cheque para terceiro (Denis) e que nunca teve
qualquer relação jurídica com José (nem o conhecia).
Afirmou que é comum, na prática, o empréstimo de cheques para quem não possui conta bancária,
devendo esse fenômeno ser considerado pelo Direito.
Argumentou, por fim, que, com base no princípio da boa-fé, somente Denis deve ser cobrado pela dívida:
“(...) é prática comum na sociedade brasileira o empréstimo de lâminas de cheque a amigos e familiares,
como expressão da informalidade e da solidariedade que marcam nosso povo, e que os comportamentos
de boa-fé devem ser protegidos e prestigiados pelo Poder Judiciário (...)”.

A tese do emitente foi acolhida pelo STJ?


NÃO.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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Art. 15 da Lei do Cheque prevê a responsabilidade do emitente


Segundo a lei que regulamenta o cheque (Lei nº 7.357/85), o emitente deste título de crédito se
compromete a pagar o valor que está ali previsto, não interessando discutir se a dívida era realmente dele
ou de uma terceira pessoa. Veja a redação da Lei:
Art. 15 O emitente garante o pagamento, considerando-se não escrita a declaração pela qual se
exima dessa garantia.

Costumes contra legem não são admitidos pelo ordenamento jurídico


Não havendo lacuna, não cabe ao julgador se valer de um costume para afastar a aplicação da lei.
Conforme prevê o art. 4º da LINDB, os costumes somente poderão ser utilizados quando a lei for omissa:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.

Neste caso, consoante visto acima, a lei é expressa, não havendo motivo para afastá-la dando prevalência
aos costumes.
Não se admite, portanto, o costume contra legem, ou seja, quando ele é contrário ao texto legal.

Princípio da boa-fé não pode servir para flexibilizar a regra de garantia da lei do cheque
De igual modo, a flexibilização do art. 15 da Lei nº 7.357/85, sob o argumento do princípio da boa-fé
objetiva, não tem o condão de excluir o dever de garantia do emitente do cheque, sob pena de se
comprometer a segurança na tutela do crédito, pilar fundamental das relações jurídicas dessa natureza.

Princípio da literalidade
O cheque, enquanto título de crédito, é regido, dentre outros, pelos princípios da literalidade e da
abstração.
Segundo o princípio da literalidade, “é o teor literal do documento que irá definir os limites para o exercício
dos direitos nele mencionados” (TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. V. 2. 2ª ed. São Paulo:
Atlas, 2011. p. 31-35).
Pelo princípio da abstração, “o título de crédito se desvincula do negócio jurídico que lhe deu origem”, de
modo que “quem recebe o título de crédito, recebe um direito abstrato, isto é, um direito não dependente
do negócio que deu origem ao título” (idem, p. 35).
Ao tratar especificamente do princípio da literalidade, afirma Marlon Tomazette que “o devedor que
verbalmente assumiu a obrigação, mas não a firmou no título, não poderá ser demandado” (p. 31).
Os princípios da literalidade e da abstração até podem ser temperados pelo princípio da boa-fé objetiva,
mas desde que isso não viole os atributos e princípios inerentes aos títulos de crédito.

Em suma:
O emitente garante o pagamento do valor contido no cheque, considerando-se não escrita a declaração
pela qual se exima dessa garantia (art. 15 da Lei nº 7.357/85).
Esse dever de garantia do emitente do cheque não pode ser afastado com fundamento nos costumes e
no princípio da boa-fé objetiva.
Não há lacuna neste caso. Na ausência de lacuna, não cabe ao julgador se valer de um costume para
afastar a aplicação da lei, sob pena de ofensa ao art. 4º da LINDB.
De igual modo, a flexibilização do art. 15 da Lei nº 7.357/85, sob o argumento do princípio da boa-fé
objetiva, não tem o condão de excluir o dever de garantia do emitente do cheque, sob pena de se
comprometer a segurança na tutela do crédito, pilar fundamental das relações jurídicas dessa natureza.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.787.274-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2019 (Info 647).

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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ECA

PROCEDIMENTO
A contagem dos prazos nos ritos regulados pelo ECA ocorre em dias CORRIDOS
(não se aplica a regra dos dias úteis do CPC/2015)

Segundo o texto expresso do ECA, em todos os recursos, salvo os embargos de declaração, o


prazo será decenal (art. 198, II) e a sua contagem ocorrerá de forma corrida, excluído o dia do
começo e incluído o do vencimento, vedado o prazo em dobro para o Ministério Público (art.
152, § 2º).
Desse modo, por força do critério da especialidade, os prazos dos procedimentos regulados
pelo ECA são contados em dias corridos, não havendo que se falar em aplicação subsidiária do
art. 219 do CPC/2015, que prevê o cálculo em dias úteis.
STJ. 6ª Turma. HC 475.610/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/03/2019 (Info 647).

No caso de apuração de ato infracional, aplica-se subsidiariamente o CPP ou o CPC?


Depende. Aplica-se:
• o CPP para o processo de conhecimento (representação, produção de provas, memoriais, sentença);
• o CPC para as regras do sistema recursal (art. 198 do ECA).

Resumindo:
1ª opção: normas do ECA.
Na falta de normas específicas:
• CPP: para regular o processo de conhecimento.
• CPC: para regular o sistema recursal.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João, adolescente, praticou ato infracional equiparado a roubo majorado (art. 157, § 2º, I e II, do CP).
O magistrado proferiu sentença aplicando-lhe medida socioeducativa de internação.
A defesa quer interpor recurso contra essa sentença.

Qual é o recurso cabível?


Apelação.

Qual é o prazo dessa apelação?


10 dias, nos termos do art. 198, II, do ECA:
Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude, inclusive os relativos à
execução das medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei nº 5.869, de 11 de
janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), com as seguintes adaptações:
(...)
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, o prazo para o Ministério Público e
para a defesa será sempre de 10 (dez) dias;

Esse prazo é contado em dias úteis ou corridos?


Dias corridos (contínuos). Não são dias úteis.

Mas o art. 198 do ECA afirma que os recursos afetos à Justiça da Infância e da Juventude são regidos
pelas normas do CPC... Por que não aplicar os dias úteis do art. 219 do CPC/2015?
Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13
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Porque há uma previsão expressa e específica no ECA dizendo que os prazos são contados em dias corridos:
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se subsidiariamente as normas gerais
previstas na legislação processual pertinente.
(...)
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus procedimentos são contados em dias
corridos, excluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em dobro para
a Fazenda Pública e o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 13.509/2017)

Os procedimentos regulados pela Lei nº 8.069/90 estão previstos no Capítulo III. Dentre eles está o da
apuração de ato infracional atribuído a adolescente (Seção V, arts. 171 a 190).
Assim, para análise da tempestividade da apelação, são aplicáveis os arts. 198, II e 152, § 2º, ambos do
ECA.
Como existe norma sobre a contagem do prazo em dias corridos na lei especial, não há lacuna a atrair a
aplicação subsidiária ou supletiva da regra do CPC.
Eventual conflito na interpretação das leis deve ser solucionado por meio de critérios hierárquico,
cronológico ou da especialidade.
O Código de Processo Civil não é norma jurídica superior à Lei nº 8.069/1990. O art. 198 do ECA (redação
dada pela Lei nº 12.594/2012), por sua vez, não prevalece sobre o art. 152, § 2º (incluído pela Lei nº
13.509/2017), dispositivo posterior que regulou inteiramente a contagem dos prazos. Prepondera, assim,
a especialidade, de modo que a regra específica do Estatuto da Criança e do Adolescente impede a
incidência do art. 219 do CPC.

Em suma:
Segundo o texto expresso do ECA, em todos os recursos, salvo os embargos de declaração, o prazo será
decenal (art. 198, II) e a sua contagem ocorrerá de forma corrida, excluído o dia do começo e incluído o
do vencimento, vedado o prazo em dobro para o Ministério Público (art. 152, § 2º).
Desse modo, por força do critério da especialidade, os prazos dos procedimentos regulados pelo ECA
são contados em dias corridos, não havendo que se falar em aplicação subsidiária do art. 219 do
CPC/2015, que prevê o cálculo em dias úteis.
STJ. 6ª Turma. HC 475.610/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/03/2019 (Info 647).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

INTIMAÇÕES
Na hipótese de duplicidade de intimações, prevalece a intimação eletrônica
sobre aquela realizada por meio do Diário de Justiça

Importante!!!
A partir da leitura da Lei nº 11.419/2006 em conjunto com o art. 272 do CPC/2015, conclui-se
que a comunicação dos atos processuais aos advogados ocorre, em regra, mediante a
intimação por via eletrônica, valorizando-se a informatização dos processos judiciais.
Assim, a intimação eletrônica prevalece sobre a publicação no Diário de Justiça no caso de
duplicidade de intimações.
STJ. 2ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 981.940/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
16/05/2017.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14


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STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 903.091-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
16/3/2017 (Info 601).
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1330052/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/03/2019
(Info 647).
Vale ressaltar que a posição acima não é pacífica e que existem precedentes em sentido contrário:
STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 929.175/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 17/08/2017; STJ. 3ª
Turma. AgInt no AREsp 1101413/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/10/2017.

As duas formas mais comuns de intimação atualmente são as seguintes:


a) Diário da Justiça eletrônico;
b) Intimação eletrônica (por meio de portal de intimações).

Diário da Justiça eletrônico (DJe)


É como se fosse o antigo Diário Oficial, no entanto, agora não mais em papel e sim por meio de um site
que divulga as intimações em pdf ou página de internet (html).
Apenas para você entender melhor, é como se fosse o papel, porém agora veiculado na internet. Assim,
todos os dias úteis é publicado um Diário Oficial com os números dos processos e os nomes dos advogados.
Encontra-se previsto no art. 4º da Lei nº 11.419/2006:
Art. 4º Os tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico, disponibilizado em sítio da rede
mundial de computadores, para publicação de atos judiciais e administrativos próprios e dos
órgãos a eles subordinados, bem como comunicações em geral.
(...)
§ 2º A publicação eletrônica na forma deste artigo substitui qualquer outro meio e publicação oficial,
para quaisquer efeitos legais, à exceção dos casos que, por lei, exigem intimação ou vista pessoal.

Exemplo:

Intimação eletrônica (Portal de Intimação eletrônica)


É um sistema criado pelos Tribunais por meio do qual o advogado se cadastra em um site e a partir daí
recebe intimações sobre os processos em que atua.
Foi disciplinado pelo art. 5º da Lei nº 11.419/2006:
Art. 5º As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem
na forma do art. 2º desta Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15


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§ 1º Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando efetivar a consulta


eletrônica ao teor da intimação, certificando-se nos autos a sua realização.
§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo, nos casos em que a consulta se dê em dia não útil, a
intimação será considerada como realizada no primeiro dia útil seguinte.
§ 3º A consulta referida nos §§ 1º e 2º deste artigo deverá ser feita em até 10 (dez) dias corridos
contados da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente
realizada na data do término desse prazo.
§ 4º Em caráter informativo, poderá ser efetivada remessa de correspondência eletrônica,
comunicando o envio da intimação e a abertura automática do prazo processual nos termos do §
3º deste artigo, aos que manifestarem interesse por esse serviço.
§ 5º Nos casos urgentes em que a intimação feita na forma deste artigo possa causar prejuízo a
quaisquer das partes ou nos casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema,
o ato processual deverá ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade, conforme
determinado pelo juiz.
§ 6º As intimações feitas na forma deste artigo, inclusive da Fazenda Pública, serão consideradas
pessoais para todos os efeitos legais.

Exemplo:

Se houver duplicidade de intimações, ou seja, o advogado for intimado tanto pelo DJe como pelo Portal
de Intimação, qual deverá prevalecer? Ex: a decisão foi publicada no Dje do dia 15/02/2018; ocorre que,
depois disso, houve intimação eletrônica em 19/2/2018. Qual deverá ser considerada?
A intimação eletrônica (pelo Portal). Em caso de dupla intimação, deve prevalecer a intimação via portal
eletrônico, pois essa modalidade de intimação dispensa a publicação via DJe, conforme expressamente
previsto no caput do art. 5º da Lei nº 11.419/2006:
Art. 5º As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem
na forma do art. 2º desta Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.

Essa previsão expressa de dispensa de publicação no DJe reforça a conclusão de que a intimação eletrônica
é a que deve prevalecer.
Aliás, essa também foi a opção normativa esposada pelo novo CPC/2015, conforme se verifica nos
seguintes dispositivo legais:
Art. 270. As intimações realizam-se, sempre que possível, por meio eletrônico, na forma da lei.
Art. 272. Quando não realizadas por meio eletrônico, consideram-se feitas as intimações pela publicação
dos atos no órgão oficial.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16


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Assim, não há dúvidas de que a forma preferencial de intimação é o meio eletrônico, admitindo-se,
contudo, outra via de comunicação se tal meio for inviável no caso concreto, notadamente ante a
existência de questões de índole técnicas, quando, por exemplo, o sistema encontrar-se fora do ar.
A importância da intimação eletrônica é tanta que se aplica até mesmo para as autoridades com
prerrogativa de intimação pessoal.

Em suma:
Na hipótese de duplicidade de intimações, prevalece a intimação eletrônica sobre aquela realizada por
meio do DJe.
STJ. 2ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 981.940/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16/05/2017.
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 903.091-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 16/3/2017
(Info 601).
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1330052/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/03/2019 (Info 647).

O entendimento acima explicado é pacífico no STJ?


NÃO. Há polêmica e existem precedentes em sentido contrário:
Mesmo quando há intimação eletrônica e publicação no Diário de Justiça eletrônico, a jurisprudência do
STJ entende que o prazo recursal começa a fluir a partir da data desta última, já que a publicação no Diário
de Justiça eletrônico substitui outros meios de publicação oficial para quaisquer efeitos legais.
STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 929.175/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 17/08/2017.

Ocorrendo a intimação eletrônica e a publicação da decisão no DJEERJ, prevalece esta última, uma vez que
nos termos da legislação citada a publicação em Diário de Justiça eletrônico substitui qualquer outro meio
de publicação oficial para quaisquer efeitos legais.
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1101413/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/10/2017.

AÇÃO DE EXIGIR CONTAS


Termo inicial do prazo de 48 horas, previsto no art. 915, § 2º, do CPC/1973,
para a prestação de contas por parte do réu: data da intimação

O prazo de 48 horas para a apresentação das contas pelo réu, previsto no art. 915, § 2º, do
CPC/1973, deve ser computado a partir da intimação do trânsito em julgado da sentença que
reconheceu o direito do autor de exigir a prestação de contas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.877-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2019 (Info 647).

Ação de exigir contas (ação de prestação de contas)


No CPC 1973, havia a previsão de um procedimento especial chamado de “ação de prestação de contas”.
O CPC 2015 alterou o nome para “ação de exigir contas” (art. 550).

Finalidade da ação
Uma segunda mudança foi quanto à finalidade da ação e a pessoa legitimada para propô-la. Veja:
CPC 1973 CPC 2015
A ação de prestação de contas podia ser proposta
A ação agora somente pode ser proposta na
por dois legitimados:
situação “a”, ou seja, pela pessoa que tem o
a) pela pessoa que tinha o direito de exigir a
direito de exigir a prestação de contas.
prestação de contas (ex.: os sócios que não

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17


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participam da administração de uma sociedade Não há mais duplicidade na legitimação, sendo


podem exigir a prestação de contas do sócio legitimado ativo apenas o sujeito que tem o direito
gerente); de receber as contas e legitimado passivo o sujeito
b) pela pessoa que tinha a obrigação de prestar as que tem o dever de prestá-las (NEVES, Daniel
contas (ex.: o sócio gerente pode ajuizar ação de Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual
prestação de contas em face dos demais sócios Civil. São Paulo: Método, 2014).
para, em juízo, demonstrar como foram utilizados
os recursos).

Vale ressaltar que “dita supressão não significa que tenha desaparecido a ação de dar contas. A
administração de bens ou negócios alheios gera sempre, para o gestor, o dever de prestar contas, de sorte
que este tem, na perspectiva do direito material, não apenas a obrigação, mas também o direito de se
livrar desse dever. Assim, coexistem sempre as duas pretensões, a de exigir e a de dar contas. O que a lei
nova fez foi submeter a procedimento especial apenas a pretensão de exigir contas. A de dar contas, por
isso, será processada sob o procedimento comum.
Para se desincumbir da obrigação de dar contas, o obrigado, quando encontrar resistência da parte
contrária, proporá ação comum, instruindo a petição inicial com o demonstrativo devido e os documentos
justificativos e pedirá ao juiz que, após ouvido o réu, seja afinal declarado por sentença prestadas as contas
que lhe incumbiam.” (THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. II. 50ª ed., São
Paulo: Forense, 2016, p. 96).

Ampliação do prazo de resposta


Uma terceira mudança identificada foi a ampliação do prazo para resposta do réu:
• CPC 1973: depois de citado, o réu tinha o prazo de 5 dias para apresentar a prestação de contas exigida
pelo autor ou contestar a ação.
• CPC 2015: depois de citado, o réu possui agora o prazo de 15 dias para apresentar a prestação de contas
exigida pelo autor ou oferecer contestação.

Duas fases
O procedimento da ação de prestação de contas (ação de exigir contas) tem como característica, em regra,
a existência de duas fases.
1ª fase: nela, o juiz irá decidir se existe ou não a obrigação de o réu prestar contas. Se o julgador decidir
que não, o processo encerra-se nesta fase. Contudo, se decidir que sim, será aberta uma segunda fase.
2ª fase: servirá para que o réu propriamente preste as contas pleiteadas pelo autor e para que o julgador
avalie se aquele o fez corretamente, reconhecendo a existência de saldo credor ou devedor.

Em suma, tem-se que a ação de prestação de contas ocorre em duas fases distintas e sucessivas – na
primeira, discute-se sobre o dever de prestar contas; na segunda, declarado o dever de prestar contas,
serão elas julgadas e apreciadas, se apresentadas (STJ. 3ª Turma. REsp 1.567.768/GO, DJe 30/10/2017).
“É preciso notar, porém, que não se está diante de dois processos distintos, tramitando simultaneamente
nos mesmos autos. O processo, em verdade, é único, embora dividido em duas fases distintas. Há, pois, o
ajuizamento de uma única demanda, contendo um único mérito. A análise deste, porém, é dividida em
dois momentos: o primeiro, dedicado à verificação da existência do direito de exigir a prestação de contas,
o segundo, dirigido à verificação das contas e do saldo eventualmente existente.” (CÂMARA, Alexandre
Freitas. Lições de Direito Processual Civil. São Paulo: Atlas, 21ª ed., 2014, p. 391).

Petição inicial
Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente as razões pelas quais exige as contas, instruindo-
a com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem.
O réu será citado para, no prazo de 15 dias:

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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a) apresentar as contas que foram exigidas; ou


b) contestar a ação.

Posturas que o réu pode adotar


Como mesmo explica Elpídio Donizetti (Curso didático de direito processual civil. 16ª ed., São Paulo: Atlas,
2012, p. 1.222-1.223), o réu, citado para a ação de exigir contas, poderá adotar uma das seguintes atitudes,
ainda na primeira fase do procedimento:
a) apresentar as contas e não contestar: essa postura do réu caracteriza verdadeiro reconhecimento da
procedência da pretensão de exigir contas. O procedimento será abreviado, suprimindo-se uma fase (a
primeira), ficando a lide circunscrita às contas em si. Nessa hipótese, o autor terá o prazo de 5 dias
(CPC/1973) ou 15 dias (CPC/2015) para se manifestar sobre as contas prestadas;
b) apresentar as contas e contestar: não obstante tal opção pareça ilógica, em verdade, pode ocorrer
quando a divergência entre as partes disser respeito não à obrigação de prestar contas, mas ao seu
conteúdo;
c) contestar a obrigação de prestar contas: nessa hipótese, se necessário, o juiz determina a produção de
provas, com designação de audiência de instrução e julgamento e profere sentença, decidindo se o réu
tem ou não a obrigação de prestar contas. Em caso afirmativo, condena-o a prestá-las no prazo de 48
horas (CPC/1973) ou 15 dias (CPC/2015);
d) contestar sem negar a obrigação de prestar contas: nessa hipótese, a contestação limitar-se-á às
matérias processuais que, acaso rejeitadas, redundarão na condenação do réu a prestar as contas no prazo
legal; e
e) manter-se inerte: também nessa hipótese o réu será condenado a prestar contas no prazo legal.

Prazo para cumprir a decisão que determina a prestação de contas


Se o juiz considerar que o autor da ação tem razão, ele irá proferir uma decisão determinando que o réu
preste as contas no prazo legal. Qual é esse prazo?

CPC/1973: 48 horas CPC/2015: 15 dias


Art. 915 (...) Art. 550 (...)
§ 2º Se o réu não contestar a ação ou não negar a § 5º A decisão que julgar procedente o pedido
obrigação de prestar contas, observar-se-á o condenará o réu a prestar as contas no prazo de
disposto no art. 330; a sentença, que julgar 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito
procedente a ação, condenará o réu a prestar as impugnar as que o autor apresentar.
contas no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob
pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor
apresentar.

Qual é o termo inicial desse prazo? Ele é contado da data da intimação do réu acerca da decisão do juiz
ou da data da intimação do trânsito em julgado? É necessário o trânsito em julgado para que comece a
correr o prazo?
SIM. O STJ, ao analisar o tema ainda sob a égide do CPC/1973, decidiu que:
O prazo de 48 horas para a apresentação das contas pelo réu, previsto no art. 915, § 2º, do CPC/1973,
deve ser computado a partir da intimação do trânsito em julgado da sentença que reconheceu o direito
do autor de exigir a prestação de contas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.877-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/04/2019 (Info 647).

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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DIREITO PENAL

DOSIMETRIA DA PENA
Condenações anteriores transitadas em julgado não podem ser
utilizadas como personalidade ou conduta social desfavorável

Importante!!!
Eventuais condenações criminais do réu transitadas em julgado e não utilizadas para
caracterizar a reincidência somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a
título de antecedentes criminais, não se admitindo sua utilização também para desvalorar a
personalidade ou a conduta social do agente.
A conduta social e a personalidade do agente não se confundem com os antecedentes
criminais, porquanto gozam de contornos próprios - referem-se ao modo de ser e agir do autor
do delito -, os quais não podem ser deduzidos, de forma automática, da folha de antecedentes
criminais do réu. Trata-se da atuação do réu na comunidade, no contexto familiar, no trabalho,
na vizinhança (conduta social), do seu temperamento e das características do seu caráter, aos
quais se agregam fatores hereditários e socioambientais, moldados pelas experiências vividas
pelo agente (personalidade social).
Já a circunstância judicial dos antecedentes se presta eminentemente à análise da folha
criminal do réu, momento em que eventual histórico de múltiplas condenações definitivas
pode, a critério do julgador, ser valorado de forma mais enfática, o que, por si só, já demonstra
a desnecessidade de se valorar negativamente outras condenações definitivas nos vetores
personalidade e conduta social.
STJ. 3ª Seção. EAREsp 1.311.636-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/04/2019
(Info 947).

Sistema da relativa indeterminação


A individualização da pena, na concepção jurídica contemporânea, segue o sistema da relativa
indeterminação, segundo o qual a individualização legislativa é suplementada pela judicial.
Ficaram superados os sistemas da absoluta determinação, perfilhado pelo Código Criminal do Império, de
1830, pelo qual ao juiz cumpria aplicar pena previamente prevista pelo legislador, e da absoluta
indeterminação, pelo qual não haveria prévia estipulação de pena pelo legislador, atribuindo-se poderes
quase absolutos ao juiz na fixação da reprimenda (PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro.
Volume 1: Parte Geral, arts. 1º a 120. 12. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2013, págs. 725/727).

Etapas do sistema da relativa indeterminação


No sistema da relativa indeterminação existem três etapas diferentes de individualização da pena:
1) a legislativa, na qual o Poder Legislativo estabelece o preceito secundário do tipo, com o máximo e o
mínimo legal da sanção;
2) a judicial, na qual o Poder Judiciário fixa, dentro dos limites legais, a modalidade e a quantidade da
reprimenda e o regime inicial de cumprimento; e
3) a fase executória, na qual o Poder Executivo, respeitando os direitos fundamentais, implementa as
medidas de ressocialização do sentenciado.

Sistema trifásico
A etapa judicial adotou o sistema trifásico da dosimetria, conforme explicitado no item 51 da Exposição
de Motivos da Parte Geral do Código Penal e delineado no art. 68 do Código Penal.
Assim, a dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20
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1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.

Este critério trifásico, elaborado por Nelson Hungria, foi adotado pelo Código Penal, sendo consagrado
pela jurisprudência pátria: STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1021796/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 19/03/2013.

Primeira fase (circunstâncias judiciais)


Na primeira fase, as chamadas circunstâncias judiciais analisadas pelo juiz são as seguintes:
a) culpabilidade, b) antecedentes, c) conduta social, d) personalidade do agente, e) motivos do crime, f)
circunstâncias do crime, g) consequências do crime, h) comportamento da vítima.

Condenações anteriores não podem ser utilizadas como “conduta social” desfavorável
Imagine a seguinte situação hipotética:
João possui quatro condenações transitadas em julgado.
Ele está agora sendo julgado pela prática do crime 5.
No momento da dosimetria da pena, o juiz aumentou a pena-base com base em duas circunstâncias judiciais:
• Utilizo a condenação do crime 1 como maus antecedentes;
• Os crimes 2 a 4 indicam que sua conduta social é péssima, pois já se viu envolvido em vários outros
episódios que não aqueles valorados no item anterior e que demonstram que o réu não se adéqua às
regras sociais.

A defesa impugnou a decisão afirmando que o magistrado valorou negativamente circunstâncias judiciais
diversas com fundamento na mesma base empírica (registros criminais), conferindo-lhes conceitos
jurídicos assemelhados.

A tese da defesa é aceita pelo STF? Houve erro na dosimetria da pena?


SIM.
A circunstância judicial “conduta social”, prevista no art. 59 do Código Penal, representa o
comportamento do agente no meio familiar, no ambiente de trabalho e no relacionamento com outros
indivíduos.
Os antecedentes sociais do réu não se confundem com os seus antecedentes criminais. São
circunstâncias distintas, com regramentos próprios.
Assim, não se mostra correto o magistrado utilizar as condenações anteriores transitadas em julgado
como “conduta social desfavorável”.
Não é possível a utilização de condenações anteriores com trânsito em julgado como fundamento para
negativar a conduta social.
STF. 2ª Turma. RHC 130132, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/5/2016 (Info 825).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.760.972-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 08/11/2018 (Info 639).

O Min. Teori explicou que, antes da reforma da Parte Geral do Código Penal de 1984, entendia-se que a
análise dos antecedentes abrangia todo o passado do agente, incluindo, além dos registros criminais, o
seu comportamento na sociedade.
Em outras palavras, os antecedentes judiciais e os antecedentes sociais se confundiam na mesma
circunstância. Por essa razão, antes de 1984, era permitida a utilização de condenações com trânsito em
julgado anteriores para negativar a conduta social.
Entretanto, após a aprovação da Lei nº 7.209/84, a conduta social passou a ter significado próprio.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


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A conduta social passou a ser utilizada apenas para avaliar o comportamento do condenado no meio
familiar, no ambiente de trabalho e no relacionamento com outros indivíduos. Ou seja, os antecedentes
sociais do réu não mais se confundem com os seus antecedentes criminais. São circunstâncias diversas.
Assim, a análise da circunstância judicial da conduta social não tem relação com a vida criminal do acusado.
O histórico criminal já é utilizado para aferir os antecedentes (primeira fase de aplicação da pena) ou a
reincidência (segunda fase de aplicação da pena). A conduta social está relacionada com aspectos
extrapenais.

Condenações anteriores também não podem ser utilizadas como “personalidade” desfavorável
Imagine a seguinte situação hipotética:
Pedro possui três condenações transitadas em julgado.
Ele está agora sendo julgado pela prática de um quarto delito (crime 4).
No momento da dosimetria da pena, o juiz aumentou a pena-base com base em duas circunstâncias judiciais:
• Utilizo a condenação do crime 1 como maus antecedentes;
• Os crimes 2 e 3 indicam que a personalidade do réu é voltada para o crime, devendo ser considerada
negativamente.

Houve erro na dosimetria da pena?


SIM.
A existência de condenações definitivas anteriores não se presta a fundamentar a exasperação da pena-
base como personalidade voltada para o crime.
Condenações transitadas em julgado não constituem fundamento idôneo para análise desfavorável da
personalidade do agente.
STJ. 6ª Turma. HC 472.654-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 21/02/2019 (Info 643).

O que é personalidade, para os fins do art. 59 do CP?


Personalidade do agente é a síntese das qualidades morais e sociais do indivíduo. Trata-se de um retrato
psíquico do agente.
A definição de personalidade do agente não encontra enquadramento em um conceito jurídico, em uma
atividade de subsunção, devendo o magistrado voltar seu olhar não apenas à Ciência Jurídica.
STJ. 6ª Turma. HC 420.344/RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 02/08/2018.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 438.168/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 21/06/2018.

Para que o magistrado faça a valoração da personalidade do agente, ele deverá se valer de perícia? É
necessária a realização de um estudo técnico?
NÃO.
A valoração da personalidade do agente na dosimetria da pena envolve o “sentir do julgador”, que tem
contato com as provas, com os meandros do processo. Justamente por isso, não é necessária a realização
de qualquer estudo técnico.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 438.168/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 21/06/2018.

Vale ressaltar, no entanto, que o juiz, para considerar como negativa a personalidade do agente, não pode
fazer considerações vagas e genéricas. É necessário que o julgador aponte elementos concretos extraídos
dos autos.

A valoração negativa da personalidade, embora possa prescindir de laudos técnicos de especialistas da


área de saúde, exige uma análise ampla da índole do réu, do seu comportamento e do seu modo de vida,
a demonstrar real periculosidade e perversidade.
STJ. 6ª Turma. HC 285.186/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 15/12/2016.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


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A consideração desfavorável da personalidade do agente, portanto, deve ser aferida a partir do seu modo
de agir, podendo-se avaliar a insensibilidade acentuada, a maldade, a desonestidade e a perversidade
demonstrada e utilizada pelo criminoso na consecução do delito. Sua aferição somente é possível se
existirem, nos autos, elementos suficientes e que efetivamente possam levar o julgador a uma conclusão
segura sobre a questão (Min. Laurita Vaz).

Circunstâncias judiciais do art. 59 não se confundem entre si


O legislador estabeleceu, no caput do art. 59 do Código Penal, oito vetores a serem considerados na
primeira fase de aplicação da reprimenda, quais sejam: a culpabilidade; os antecedentes; a conduta social;
a personalidade do agente; os motivos; as circunstâncias; as consequências do crime e o comportamento
da vítima.
O objetivo foi prever circunstâncias diversas e com regramentos próprios a serem valoradas pelo julgador
– na mesma fase de dosimetria – de acordo com a situação fática posta em análise. Referidos vetores,
portanto, não se confundem.

Condenações anteriores se enquadram como “maus antecedentes”


As condenações criminais anteriores transitadas em julgado são valoradas como “maus antecedentes”,
conforme jurisprudência consolidada do STJ:
Uma vez existente condenação transitada em julgado por fato anterior ao cometimento do delito sub
examine, mostra-se correta a conclusão pela existência de maus antecedentes.
STJ. 6ª Turma. HC 399.029/PE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018.

O conceito de maus antecedentes, por ser mais amplo do que o da reincidência, abrange as condenações
definitivas, por fato anterior ao delito, transitadas em julgado no curso da ação penal e as atingidas pelo
período depurador, ressalvada casuística constatação de grande período de tempo ou pequena gravidade
do fato prévio.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 924.174/DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/12/2016.

Logo, não é possível que se queira utilizar as condenações anteriores para exasperar a pena com base na
“personalidade do agente”.
A exasperação da pena pela consideração desfavorável do vetor “personalidade” deve ser realizada com
fundamentos próprios e diversos daquela relativa aos “antecedentes”. Isso porque, repita-se, o objetivo
do legislador foi o de prever oito vetores que possuem conceitos diferentes e que não se confundem.
Obs: se você ficou com dúvidas na diferença entre maus antecedentes e reincidência, veja, por favor, os
comentários que fiz para a Súmula 636 do STJ.

Não confundir
• Personalidade: análise da insensibilidade, desonestidade e modo de agir do criminoso.
• Antecedentes: histórico criminal do agente (aqui entram as condenações anteriores definitivas).
• Conduta social: representa o comportamento do agente no meio familiar, no ambiente de trabalho e no
relacionamento com outros indivíduos.

Em suma:
Eventuais condenações criminais do réu transitadas em julgado e não utilizadas para caracterizar a
reincidência somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes
criminais, não se admitindo sua utilização também para desvalorar a personalidade ou a conduta social
do agente.
A conduta social e a personalidade do agente não se confundem com os antecedentes criminais,
porquanto gozam de contornos próprios - referem-se ao modo de ser e agir do autor do delito -, os quais

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


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não podem ser deduzidos, de forma automática, da folha de antecedentes criminais do réu. Trata-se da
atuação do réu na comunidade, no contexto familiar, no trabalho, na vizinhança (conduta social), do
seu temperamento e das características do seu caráter, aos quais se agregam fatores hereditários e
socioambientais, moldados pelas experiências vividas pelo agente (personalidade social).
Já a circunstância judicial dos antecedentes se presta eminentemente à análise da folha criminal do réu,
momento em que eventual histórico de múltiplas condenações definitivas pode, a critério do julgador,
ser valorado de forma mais enfática, o que, por si só, já demonstra a desnecessidade de se valorar
negativamente outras condenações definitivas nos vetores personalidade e conduta social.
STJ. 3ª Seção. EAREsp 1.311.636-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/04/2019 (Info 947).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PRISÃO
A concessão da prisão domiciliar com base no art. 318-A do CPP
aplica-se também no caso de execução provisória da pena

Importante!!!
É possível a concessão de prisão domiciliar, ainda que se trate de execução provisória da pena,
para condenada gestante ou que seja mãe ou responsável por crianças ou pessoas com
deficiência.
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.
STJ. 5ª Turma. HC 487.763-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 02/04/2019 (Info 647).

Prisão domiciliar do CPP x Prisão domiciliar da LEP


O tema “prisão domiciliar” é previsto tanto no CPP como na LEP, tratando-se, contudo, de institutos
diferentes, conforme se passa a demonstrar:
PRISÃO DOMICILIAR DO CPP PRISÃO DOMICILIAR DA LEP
Arts. 317, 318 e 318-A do CPP. Art. 117 da LEP.
O CPP, ao tratar da prisão domiciliar, está se A LEP, ao tratar da prisão domiciliar, está se
referindo à possibilidade de o réu, em vez de ficar referindo à possibilidade de a pessoa já
em prisão preventiva, permanecer recolhido em condenada cumprir a sua pena privativa de
sua residência. liberdade na própria residência.
Trata-se de uma medida cautelar por meio da qual Trata-se, portanto, da execução penal
o réu, em vez de ficar preso na unidade prisional, (cumprimento da pena) na própria residência.
permanece recolhido em sua própria residência.
Continua tendo natureza de prisão, mas uma
prisão “em casa”.
Hipóteses (importante): Hipóteses (importante):
O juiz poderá substituir a prisão preventiva pela O preso que estiver cumprindo pena no regime
domiciliar quando o agente for: aberto poderá ficar em prisão domiciliar quando se
tratar de condenado(a):
I — maior de 80 anos;
I — maior de 70 anos;

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


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II — extremamente debilitado por motivo de II — acometido de doença grave;


doença grave;
III — com filho menor ou deficiente físico ou
III — imprescindível aos cuidados especiais de mental;
pessoa menor de 6 anos de idade ou com
deficiência; IV — gestante.

IV — gestante;

V — mulher com filho de até 12 (doze) anos de


idade incompletos;

VI — homem, caso seja o único responsável pelos


cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos.

Obs.: os magistrados, membros do MP, da


Defensoria e da advocacia têm direito à prisão
cautelar em sala de Estado-Maior. Caso não
exista, devem ficar em prisão domiciliar.
O juiz pode determinar que a pessoa fique usando O juiz pode determinar que a pessoa fique usando
uma monitoração eletrônica. uma monitoração eletrônica.

Prisão domiciliar do CPP


Como vimos no quadro acima, o CPP, ao tratar da prisão domiciliar, prevê a possibilidade de o réu, em vez
de ficar em prisão preventiva, permanecer recolhido em sua residência. Trata-se de uma medida cautelar
na qual, em vez de a pessoa ficar na unidade prisional, ela ficará recolhida em sua própria residência:
Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua residência,
só podendo dela ausentar-se com autorização judicial.

As hipóteses em que a prisão domiciliar é permitida estão elencadas no art. 318 do CPP.

Prisão domiciliar de gestantes e mães de crianças


Os incisos IV e V do art. 318 do CPP preveem que a mulher acusada de um crime terá direito à prisão
domiciliar se estiver gestante ou for mãe de criança:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
(...)
IV - gestante; (Redação dada pela Lei 13.257/2016)
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; (Incluído pela Lei 13.257/2016)

Discussão sobre a obrigatoriedade ou não de o juiz decretar a prisão domiciliar nessas hipóteses
Se você reparar na redação do caput do art. 318 do CPP, ela diz que o juiz PODERÁ substituir a prisão
preventiva pela domiciliar nas hipóteses ali elencadas.
Diante disso, surgiram as seguintes dúvidas:
Se uma mulher grávida estiver em prisão preventiva, o juiz, obrigatoriamente, deverá conceder a ela prisão
domiciliar com base no art. 318, IV, do CPP?
As hipóteses de prisão domiciliar previstas nos incisos IV e V do art. 318 do CPP são consideradas
obrigatórias ou facultativas?

O que o STF decidiu?


REGRA: SIM. As hipóteses são obrigatórias.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25


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Em regra, deve ser concedida prisão domiciliar para todas as mulheres presas que sejam:
- gestantes
- puérperas (que deram à luz há pouco tempo)
- mães de crianças (isto é, mães de menores até 12 anos incompletos) ou
- mães de pessoas com deficiência.

EXCEÇÕES:
Não deve ser autorizada a prisão domiciliar se:
1) a mulher tiver praticado crime mediante violência ou grave ameaça;
2) a mulher tiver praticado crime contra seus descendentes (filhos e/ou netos);
3) em outras situações excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes
que denegarem o benefício.

STF. 2ª Turma. HC 143641/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/2/2018 (Info 891).

O que fez a Lei nº 13.769/2018?


Positivou no CPP o entendimento manifestado pelo STF.
A principal diferença foi que o legislador não incluiu a exceção número 3.
Além disso, na exceção 2 não falou em descendentes, mas sim em filho ou dependente.
Veja o art. 318-A incluído pela Lei nº 13.769/2018 no CPP:
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.

A exceção 3 ainda é possível? O juiz poderá deixar de aplicar a prisão domiciliar em outras situações
excepcionalíssimas?
SIM.
O art. 318-A do CPP, introduzido pela Lei nº 13.769/2018, estabelece um poder-dever para o juiz substituir
a prisão preventiva por domiciliar de gestante, mãe de criança menor de 12 anos e mulher responsável
por pessoa com deficiência, sempre que apresentada prova idônea do requisito estabelecido na norma
(art. 318, parágrafo único), ressalvadas as exceções legais.
A normatização de apenas duas das exceções não afasta a efetividade do que foi decidido pelo STF no HC
143.641/SP, nos pontos não alcançados pela nova lei.
O fato de o legislador não ter inserido outras exceções na lei, não significa que o magistrado esteja proibido
de negar o benefício quando se deparar com casos excepcionais.
Assim, deve prevalecer a interpretação teleológica da lei, assim como a proteção aos valores mais
vulneráveis.
Com efeito, naquilo que a lei não regulou, o precedente do STF deve continuar sendo aplicado, pois uma
interpretação restritiva da norma pode representar, em determinados casos, efetivo risco direto e indireto
à criança ou ao deficiente, cuja proteção deve ser integral e prioritária.
STF. 5ª Turma. HC 470.549/TO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 12/02/2019.

Execução provisória da pena e prisão domiciliar do art. 318-A do CPP


Imagine a seguinte situação hipotética:
Rosângela foi condenada por tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006) a uma pena de 8 anos de
reclusão em regime fechado.
Vale ressaltar que Rosângela respondeu o processo em liberdade e, na sentença, o juiz reconheceu seu
direito de recorrer em liberdade.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26


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A ré interpôs apelação, mas o Tribunal de Justiça manteve a condenação.


Contra esse acórdão, a condenada interpôs, simultaneamente, recursos especial e extraordinário.

Em princípio, Rosângela, que passou todo o processo em liberdade, deverá aguardar o julgamento dos
recursos especial e extraordinário presa? É possível executar provisoriamente a condenação enquanto
se aguarda o julgamento dos recursos especial e extraordinário? É possível que a ré condenada em 2ª
instância seja obrigada a iniciar o cumprimento da pena mesmo sem trânsito em julgado?
SIM. Conforme entendimento atual do STF, é possível iniciar a execução da pena se o réu condenado
somente está esperando o julgamento dos recursos especial e extraordinário. Isso porque tais recursos
não gozam de efeito suspensivo. Nesse sentido:
A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a
recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência.
STF. Plenário. HC 126292/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/02/2016 (Info 814).
STF. Plenário virtual. ARE 964246 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/11/2016 (repercussão geral).

Vamos supor, no entanto, que Rosângela é mãe de uma criança de 3 anos de idade. Neste caso, ela
poderá ficar em prisão domiciliar? É possível aplicar a regra do art. 318-A do CPP para os casos de
execução provisória da pena?
SIM.
É possível a concessão de prisão domiciliar, ainda que se trate de execução provisória da pena, para
condenada gestante ou que seja mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência.
STJ. 5ª Turma. HC 487.763-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 02/04/2019 (Info 647).

Uma interpretação teleológica da Lei que inseriu essas hipóteses de prisão domiciliar, em conjunto com
as disposições da Lei de Execução Penal, e à luz do constitucionalismo fraterno, previsto no art. 3º e no
preâmbulo da Constituição Federal, revela ser possível se inferir que as inovações trazidas pelo novo
regramento podem ser aplicadas também à fase de execução da pena.

DIREITO TRIBUTÁRIO

PARCELAMENTO
É ilegal a cobrança de juros de mora sobre as multas de mora e de ofício perdoadas no
pagamento à vista do débito fiscal de acordo com o art. 1º, § 3º, inciso I da Lei nº 11.941/2009

O art. 1º, § 3º, inciso I, da Lei nº 11.941/2009 expressamente dispõe que o contribuinte optante
pelo pagamento à vista do débito fiscal será beneficiado com redução de 100% do valor das
multas moratória e de ofício.
A fim de estimular a quitação da dívida de uma só vez (“à vista”), o legislador optou por elidir,
de imediato, o ônus da multa que recairia sobre o contribuinte, antes da composição final do
débito.
Procedimento inverso, consistente na apuração do montante total da dívida, mediante o
somatório do valor principal com o das multas para, só então, implementar a redução do
percentual, redundaria, ao final, em juros de mora indevidamente embutidos, subvertendo-se
o propósito desonerador da lei, em especial se considerada a opção pelo pagamento à vista.
Em outras palavras, tal entender conduziria à exigência de juros moratórios sobre multas
totalmente perdoadas, o que se revela desarrazoado.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27


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Assim, é ilegal o art. 16, caput, da Portaria Conjunta PGFN/SRF nº 6/2009, que determina a
incidência dos juros de mora, no pagamento à vista do débito, sobre o somatório do valor
principal com as multas moratória e de ofício.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.573.873-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 25/04/2019 (Info 647).

Lei nº 11.941/2009
A Lei nº 11.941/2009 trata sobre diversos aspectos da legislação tributária federal, ou seja, envolvendo
tributos de competência da União.
O art. 1º trata sobre o parcelamento e o pagamento de dívidas de tributos federais. Veja o que diz um
trecho do caput:
Art. 1º Poderão ser pagos ou parcelados, em até 180 (cento e oitenta) meses, nas condições desta
Lei, os débitos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil e os débitos para com a
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (...)

Desse modo, esse art. 1º prevê a possibilidade de parcelamento, em até 180 parcelas mensais, dos débitos
relacionados com tributos federais.

Perdão das multas moratórias e de ofício no caso de pagamento à vista


O inciso I do § 3º do art. 1º da Lei nº 11.941/2009 estabelece que, se o devedor pagar à vista o débito, ele
terá uma vantagem, qual seja, ficará livre das multas moratórias e de ofício:
Art. 1º (...)
§ 3º (...) os débitos que não foram objeto de parcelamentos anteriores a que se refere este artigo
poderão ser pagos ou parcelados da seguinte forma:
I – pagos a vista, com redução de 100% (cem por cento) das multas de mora e de ofício, de 40%
(quarenta por cento) das isoladas, de 45% (quarenta e cinco por cento) dos juros de mora e de
100% (cem por cento) sobre o valor do encargo legal;

Portaria Conjunta PGFN/SRF nº 6/2009


A Portaria Conjunta PGFN/SRF nº 6/2009 foi editada com o objetivo de regulamentar o pagamento e o
parcelamento de débitos previstos na Lei nº 11.941/2009.
O art. 16 previu que, mesmo se o devedor quitar os débitos à vista, ainda assim terá que pagar juros de
mora.
Assim, com base nessa previsão, mesmo que o devedor decida pagar à vista, o Fisco Federal cobra juros
de mora incidentes sobre as multas de mora e de ofício perdoadas de acordo com o art. 1º, § 3º, inciso I
da Lei nº 11.941/2009.
Exemplo hipotético: João devia R$ 200 mil de tributos federais; suponhamos que as multas de mora e de
ofício corresponderiam a R$ 15 mil; João decidiu pagar à vista o débito, aderindo ao programa da Lei nº
11.941/2009; o Fisco diz então para ele: ok, você não precisa pagar os R$ 15 mil referentes às multas; no
entanto, você terá que pagar os juros de mora que irão incidir sobre R$ 215 mil (200 do principal + 15 das
multas + outras verbas que não interessam agora).

Essa conduta do Fisco Federal é correta? Essa previsão do art. 16 é válida?


NÃO.
O art. 1º, § 3º, I, da Lei nº 11.941/2009 expressamente dispõe que o contribuinte optante pelo pagamento
à vista do débito fiscal será beneficiado com redução de 100% do valor das multas moratória e de ofício.
Desse modo, o Fisco, ao aplicar os juros de mora sobre o valor das multas, faz incidir juros de mora sobre
uma base de cálculo inexistente, considerando que tais valores já foram expressamente perdoados pela Lei.
Isso porque, justamente para estimular a quitação da dívida de uma só vez, o legislador optou por elidir,
de imediato, o ônus da multa que recairia sobre o contribuinte, antes da composição final do débito.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28


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Procedimento inverso, consistente na apuração do montante total da dívida, mediante o somatório do


valor principal com o das multas para, só então, implementar a redução do percentual, redundaria, ao
final, em juros de mora indevidamente embutidos, subvertendo-se o propósito desonerador da lei, em
especial se considerada a opção pelo pagamento à vista.
Em outras palavras, tal entender conduziria à exigência de juros moratórios sobre multas totalmente
perdoadas, o que se revela desarrazoado.
Desse modo, a interpretação efetuada pela União por meio da Portaria Conjunta PGFN/RFB nº 6/2009,
frustra o objetivo da Lei nº 11.941/2009, que é o de incentivar o pagamento dos débitos tributários à vista
ou parceladamente em período mais exíguo (30 meses, ao invés dos 180 meses - art. 3º, § 3º, I e II),
desatendendo o interesse público objetivado.

Em suma:
É ilegal o art. 16, caput, da Portaria Conjunta PGFN/SRF nº 6/2009, que determina a incidência dos juros
de mora, no pagamento à vista do débito, sobre o somatório do valor principal com as multas moratória
e de ofício.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.573.873-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 25/04/2019 (Info 647).

CONTRIBUIÇÕES
ICMS não integra a base de cálculo da CPRB

Os valores de ICMS não integram a base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a


Receita Bruta - CPRB, instituída pela Medida Provisória nº 540/2011, convertida na Lei nº
12.546/2011.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.624.297/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 10/04/2019 (recurso
repetitivo) (Info 647).

Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB)


A Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) é uma contribuição social, de competência da
União, destinada a custear a Previdência Social.
Foi instituída pela MP 540/2011, convertida na Lei nº 12.546/2011.
Inicialmente, esta Contribuição foi prevista para perdurar até 31/12/2014, mas acabou sendo prorrogada
até que, a partir do advento da MP 651/2014, ela se tornou definitiva.

Contextualizando a criação e a finalidade da CPRB


A MP 540/2011 foi editada com o objetivo de estimular o desenvolvimento e promover o reaquecimento
da economia nacional.
Seguindo esse propósito, a MP reduziu encargos sobre a mão de obra, por intermédio de diminuição de
alíquotas, abrangendo empresas de diversos segmentos, como o de tecnologia da informação e
comunicação, navegação, hoteleiro, transporte aéreo, dentre outros.
A Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta - CPRB teve um papel de desoneração tributária, ou
seja, redução da carga tributária, considerando que o objetivo foi o de substituir a incidência de
contribuição sobre a folha de pagamento por uma incidência sobre a receita bruta das empresas, o que,
no fim das contas, reduziria o montante a ser pago.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


A empresa “XX” é contribuinte da CPRB.
O total das receitas auferidas pela empresa no mês foi R$ 100 mil.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 29


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O fisco cobrou a CPRB com base nesse valor (alíquota x 100 mil = tributo devido).
A empresa não concordou e afirmou que dos R$ 100 mil que ela recebeu, ficou apenas com R$ 75 mil,
considerando que R$ 25 mil foram repassados ao Estado-membro a título de pagamento de ICMS.
Em suma, para a empresa, a quantia paga a título de ICMS não pode ser incluída na base de cálculo da CPRB.

A tese da empresa foi acolhida pelo STF?


SIM. O ICMS não deve ser incluído na base de cálculo da CPRB. A tese fixada pelo STJ foi a seguinte:
Os valores de ICMS não integram a base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta
- CPRB, instituída pela Medida Provisória nº 540/2011, convertida na Lei nº 12.546/2011.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.624.297/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 10/04/2019 (recurso
repetitivo) (Info 647).

Mera entrada x receita


Entrada é todo o dinheiro que ingressa nos cofres de uma pessoa. Ocorre que nem toda entrada é uma
receita. Receita é a entrada que passa a pertencer àquela pessoa.
Assim, só se considera receita o ingresso de dinheiro que venha a integrar o patrimônio da entidade que
o recebe.
Se o valor ingressa nos cofres da pessoa, mas com natureza provisória, ele é considerado uma “mera
entrada” (e não uma receita).
Em termos de contabilidade, as receitas devem ser, inclusive, escrituradas separadamente das meras
entradas. Isso porque as meras entradas não pertencem à entidade que as recebe, considerando que
ingressam a título provisório, para saírem, com destinação certa, em breve lapso de tempo.
Nesse sentido: ATALIBA, Geraldo. Estudos e Pareceres de Direito Tributário. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1978, vol. 1, p. 85.
Assim, noção de receita está atrelada ao requisito da definitividade.

Valor do ICMS é uma mera entrada (e não receita)


O valor de ICMS não se incorpora ao patrimônio da empresa, constituindo mero ingresso de caixa, cujo
destino final são os cofres públicos. Logo, trata-se de mera entrada (e não de receita).

RE 574706/PR
Trata-se do mesmo raciocínio adotado pelo STF no julgamento do RE 574706/PR:
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não compõe a base de cálculo para a
incidência da contribuição para o PIS e a COFINS.
STF. Plenário. RE 574706/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/3/2017 (repercussão geral) (Info 857).

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PREVIDÊNCIA PRIVADA
O regulamento aplicável ao participante para fins de cálculo da renda mensal inicial é aquele
vigente no momento da implementação das condições de elegibilidade

O regulamento aplicável ao participante de plano fechado de previdência privada para fins de


cálculo da renda mensal inicial do benefício complementar é aquele vigente no momento da
implementação das condições de elegibilidade, haja vista a natureza civil e estatutária, e não
o da data da adesão, assegurado o direito acumulado.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 30


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Esse entendimento se aplica a quaisquer das modalidades de planos de benefícios, como os


Planos de Benefício Definido (BD), os Planos de Contribuição Definida (CD) e os Planos de
Contribuição Variável (CV).
STJ. 2ª Seção. REsp 1435837/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. p/ Acórdão Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 27/02/2019 (recurso repetitivo) (Info 647).

Para entendermos o julgado, é importante rever (ou aprender) os seguintes conceitos abaixo referidos:

Previdência complementar (previdência privada)


Previdência complementar (previdência privada) é um plano de benefícios feito pela pessoa que deseja
receber, no futuro, aposentadoria paga por uma entidade privada de previdência.
A pessoa paga todos os meses uma prestação e este valor é aplicado por uma pessoa jurídica, que é a
entidade gestora do plano (ex: Bradesco Previdência).
É chamada de “complementar” porque normalmente é feita por alguém que já trabalha na iniciativa
privada ou como servidor público e, portanto, já teria direito à aposentadoria pelo INSS ou pelo regime
próprio. Apesar disso, ela resolve fazer a previdência privada como forma de “complementar” a renda no
momento da aposentadoria.
O plano de previdência complementar é prestado por uma pessoa jurídica chamada de “entidade de
previdência complementar” (entidade de previdência privada).

Entidades de previdência privada


Existem duas espécies de entidade de previdência privada (entidade de previdência complementar): as
entidades de previdência privada abertas e as fechadas.

ABERTAS (EAPC) FECHADAS (EFPC)


As entidades abertas são empresas privadas, As entidades fechadas são pessoas jurídicas,
constituídas sob a forma de sociedade anônima, organizadas sob a forma de fundação ou
que oferecem planos de previdência privada que sociedade civil, mantidas por grandes empresas ou
podem ser contratados por qualquer pessoa física grupos de empresa, para oferecer planos de
ou jurídica. As entidades abertas normalmente previdência privada aos seus funcionários.
fazem parte do mesmo grupo econômico de um Essas entidades são conhecidas como “fundos de
banco ou seguradora. pensão”.
Exs: Bradesco Vida e Previdência S.A., Itaú Vida e Os planos não podem ser comercializados para
Previdência S.A., Mapfre Previdência S.A., Porto quem não é funcionário daquela empresa.
Seguro Vida e Previdência S/A., Sul América Ex: Previbosch (dos funcionários da empresa
Seguros de Pessoas e Previdência S.A. Bosch); Fundação Banrisul de Seguridade Social.
Possuem finalidade de lucro. Não possuem fins lucrativos.
São geridas (administradas) pelos diretores e A gestão é compartilhada entre os representantes
administradores da sociedade anônima. dos participantes e assistidos e os representantes
dos patrocinadores.
Oferecem planos abertos de previdência privada. Oferecem planos fechados de previdência privada.

Participante
Participante é a pessoa física que adere ao plano de previdência complementar oferecido por uma
entidade fechada de previdência complementar (EFPC).
O participante, para poder aderir a esse plano, tem que estar vinculado à entidade patrocinadora (ex: ser
funcionário do patrocinador).

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Regulamento do plano
As regras sobre o plano de previdência privada estão previstas em um ato chamado de “regulamento” ou
“estatuto”.
O regulamento do plano é onde são estipulados os benefícios, os pressupostos para a sua concessão, a
forma de aporte de recursos, a aplicação do patrimônio, os requisitos de elegibilidade e outros aspectos
que formam o conjunto de direitos e obrigações entre as partes (entidade de previdência privada,
patrocinadores, participantes e beneficiários).

Possibilidade de mudanças no regulamento do plano e direito acumulado


A legislação que rege a previdência complementar permite que a entidade fechada de previdência privada
altere os regulamentos dos planos de custeio e de benefícios como forma de manter o equilíbrio atuarial
das reservas e cumprir os compromissos assumidos diante das novas realidades econômicas e de mercado
que vão surgindo ao longo do tempo.
Por isso é que periodicamente há adaptações e revisões dos planos de benefícios. Vale ressaltar que, na
esmagadora maioria dos casos, essas mudanças são para tornar menos vantajosa a situação dos
participantes.
As modificações no regulamento atingem, em princípio, todos os participantes.

Participante que já tinha preenchido os requisitos para obtenção do benefício: direito adquirido
Se, quando o novo regulamento entrou em vigor, o participante já havia completado os requisitos para a
obtenção do benefício, esse novo regulamento não irá lhe alcançar, aplicando o regulamento que estava
em vigor no momento em que ele preencheu os requisitos:
Art. 17 (...)
Parágrafo único. Ao participante que tenha cumprido os requisitos para obtenção dos benefícios
previstos no plano é assegurada a aplicação das disposições regulamentares vigentes na data em
que se tornou elegível a um benefício de aposentadoria.

Neste caso, dizemos que o participante tem direito adquirido de obter o benefício segundo as regras
vigentes na data da implementação dos requisitos.

Participante que não tinha preenchido os requisitos para obtenção do benefício: direito acumulado
Enquanto o participante não preencheu as condições de elegibilidade, não se pode dizer que ele tenha
direito adquirido de ter seus benefícios calculados com base nas regras vigentes no momento em que ele
aderiu ao plano.
Diz-se que o participante possui, neste caso, mera expectativa de direito.
Esse participante, contudo, terá direito a uma “vantagem” chamada de direito acumulado, que deve ser
respeitado pelo plano. Isso está previsto no art. 17 da LC 109/2001:
Art. 17. As alterações processadas nos regulamentos dos planos aplicam-se a todos os
participantes das entidades fechadas, a partir de sua aprovação pelo órgão regulador e
fiscalizador, observado o direito acumulado de cada participante.

O parágrafo único do art. 15 da LC 109/2001 define o que é o direito acumulado:


Art. 15 (...)
Parágrafo único. O direito acumulado corresponde às reservas constituídas pelo participante ou à
reserva matemática, o que lhe for mais favorável.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 32


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Desse modo, mesmo não se aplicando a ele o regulamento antigo (vigente no momento da adesão), ele
terá direito às reservas constituídas ou à reserva matemática (na prática, o cálculo do seu benefício irá
melhorar um pouco).

Natureza da relação jurídica entre participante e entidade de previdência


A relação jurídica estabelecida entre o participante e a entidade fechada de previdência privada é de
índole civil e estatutária e não trabalhista, não se confundindo, portanto, com a relação formada entre o
empregador (patrocinador) e o empregado (participante).

Renda mensal inicial


É o valor que será pago ao segurado a título de benefício previdenciário.

Benefício complementar
É o benefício pago no plano de previdência complementar (previdência privada). Ex: a aposentadoria paga
pelo plano de previdência privada (chamada de complementação de aposentadoria).
Complementação de aposentadoria: é a quantia paga pela entidade de previdência privada como
aposentadoria à pessoa que contratou a previdência complementar. É como se chama a aposentadoria
paga pela previdência privada.
Assim, a complementação de aposentadoria é uma espécie de benefício complementar, existindo outras,
como a pensão por morte, por exemplo.

Momento da implementação das condições de elegibilidade


Data do cumprimento dos requisitos necessários à percepção do benefício.

Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:


A Fundação Banrisul de Seguridade Social é uma entidade fechada de previdência complementar,
instituída em 1963, pelo Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A, com o objetivo de complementar os
benefícios concedidos pela Previdência Social aos seus empregados.
João era funcionário do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (sociedade de economia mista) e, nesta
condição, era participante do plano de previdência complementar oferecido para os funcionários da
empresa (era participante do plano de previdência do Banrisul).
João se tornou funcionário do Banco em 07/07/1970, data em que ingressou no plano de previdência
privada oferecida pela instituição financeira.
Desse modo, 07/07/1970 é a data da adesão de João ao plano.

Mudanças no regulamento do plano


Em 1970, quando João aderiu ao plano, o regulamento do plano previa que o valor da “complementação
de aposentadoria” deveria ser calculado com base na fórmula “XXX”.
Em 1990, contudo, foi aprovado um novo regulamento do plano e o valor da complementação passou a
ser calculado com base na fórmula “YYY”.
Em 10/10/2010, João completou o tempo necessário e pediu o pagamento da complementação de
aposentadoria.

No momento de se calcular a renda mensal inicial da aposentadoria complementar de João (benefício


complementar), deverá ser utilizado o cálculo do regulamento 1, de 1970 (vigente na data da adesão)
ou o regulamento 2, de 1990, ainda em vigor agora, no momento em que o participante implementou
todas as condições?
O regulamento 2.

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 33


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O regulamento aplicável ao participante de plano fechado de previdência privada para fins de cálculo da
renda mensal inicial do benefício complementar é aquele vigente no momento da implementação das
condições de elegibilidade.

Se não preenchidos os requisitos, há mera expectativa de direito


Como vimos acima, enquanto o participante não preencheu as condições de elegibilidade, não se pode
dizer que ele tenha direito adquirido de ter seus benefícios calculados com base nas regras vigentes no
momento em que ele aderiu ao plano. Esse entendimento está positivado no art. 17, parágrafo único
(transcrito acima), e no art. 68, § 1º, da LC 109/2001:
Art. 68 (...)
§ 1º Os benefícios serão considerados direito adquirido do participante quando implementadas
todas as condições estabelecidas para elegibilidade consignadas no regulamento do respectivo
plano.

Veja o que diz a doutrina sobre o tema:


“Inicialmente, vale lembrar que a administração da entidade fechada de previdência
complementar, ao propor uma mudança no regulamento do plano, proposição talvez destinada a
saneá-lo, terá que submeter tal proposta ao crivo do conselho deliberativo da entidade, órgão
colegiado que conta com representantes dos participantes e assistidos e dos patrocinadores.
O próprio art. 17 da LC nº 109/2001, ao estabelecer que as alterações regulamentares poderão
ser promovidas sem a manifestação direta dos participantes e assistidos, fixa expressamente
algumas condições.
A primeira delas é que se excluam dos efeitos dessas alterações os participantes elegíveis à
aposentadoria, os quais já teriam o direito adquirido às regras vigentes (...).
(...)
A segunda condição prevista pelo art. 17 para a alteração de regulamento é que, para os
participantes ativos não protegidos pelo direito adquirido, seja observado o direito acumulado de
cada um, isto é, o direito proporcionalmente adquirido pelo participante até a data da alteração
do regulamento.
A terceira condição consiste na aprovação prévia e expressa dessas mudanças pelo órgão federal
de supervisão das entidades fechadas de previdência complementar, a Previc, pois tal órgão
oficial, por ter a incumbência de ‘proteger os interesses dos participantes e assistidos dos planos
de benefícios’ (art. 3º da LC nº 109/2001), examinará a necessidade e a legalidade das alterações
pretendidas pela entidade fechada de previdência complementar”.” (REIS, Adacir. Curso Básico de
Previdência Complementar. São Paulo: RT, 2014, págs. 70-71)

Direito acumulado X direito adquirido


Importante esclarecer que direito acumulado é um conceito específico da previdência complementar e
que não se confunde com direito adquirido.
Direito acumulado possui uma abrangência restrita, um sentido estritamente financeiro, significando que
o participante tem direito às reservas por ele constituídas ou a reserva matemática, o que lhe for mais
favorável.

Súmula 288 TST


Em 2016, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) alterou a redação da sua Súmula nº 288, passando a
contemplar o entendimento de que a complementação dos proventos de aposentadoria deverá ser regida
pelas normas vigentes na data da implementação dos requisitos para a obtenção do benefício.
Confira a redação atual:

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 34


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COMPLEMENTAÇÃO DOS PROVENTOS DA APOSENTADORIA (nova redação para o item I e acrescidos os


itens III e IV em decorrência do julgamento do processo TST-E-ED-RR-235-20.2010.5.20.0006 pelo Tribunal
Pleno em 12.04.2016) - Res. 207/2016, DEJT divulgado em 18, 19 e 20.04.2016
I - A complementação dos proventos de aposentadoria, instituída, regulamentada e paga diretamente
pelo empregador, sem vínculo com as entidades de previdência privada fechada, é regida pelas normas
em vigor na data de admissão do empregado, ressalvadas as alterações que forem mais benéficas (art.
468 da CLT);
II - Na hipótese de coexistência de dois regulamentos de planos de previdência complementar, instituídos
pelo empregador ou por entidade de previdência privada, a opção do beneficiário por um deles tem efeito
jurídico de renúncia às regras do outro;
III - Após a entrada em vigor das Leis Complementares n.ºs 108 e 109 de 29/5/2001, reger-se-á a
complementação dos proventos de aposentadoria pelas normas vigentes na data da implementação dos
requisitos para obtenção do benefício, ressalvados o direito adquirido do participante que anteriormente
implementara os requisitos para o benefício e o direito acumulado do empregado que até então não
preenchera tais requisitos.
IV - O entendimento da primeira parte do item III aplica-se aos processos em curso no Tribunal Superior
do Trabalho em que, em 12/4/2016, ainda não haja sido proferida decisão de mérito por suas Turmas e
Seções.

Solução válida para quaisquer espécies de planos de previdência privada


Cumpre esclarecer, por fim, que o entendimento acima explicado se aplica a quaisquer das modalidades
de planos de benefícios, como os Planos de Benefício Definido (BD), os Planos de Contribuição Definida
(CD) e os Planos de Contribuição Variável (CV), não havendo razão para tratamento diferenciado.
Conforme explica o Min. Ricardo Villas Bôas Cueva:
(...) Efetivamente, apesar de nos planos BD haver a predeterminação do valor dos benefícios,
sendo variáveis as contribuições, isso não significa que o fator fixo estabelecido de antemão não
possa ser alterado para outro patamar, assegurado o direito acumulado de cada participante, já
que, no regime fechado de previdência privada, o direito adquirido somente se aperfeiçoa no
momento em que o participante cumprir os requisitos para a fruição do benefício previdenciário.
E tal compreensão não modifica a natureza da obrigação, que continua a ser de garantia (de
pagamento do benefício de prestação programada e continuada).”

É que o núcleo de intangibilidade contratual se iguala, na Previdência Complementar Fechada, ao próprio


direito acumulado do participante. É por isso que o resultado deficitário nos planos ou nas entidades
fechadas poderá ser equacionado, “dentre outras formas, por meio do aumento do valor das
contribuições, instituição de contribuição adicional ou redução do valor dos benefícios a conceder,
observadas as normas estabelecidas pelo órgão regulador e fiscalizador” (art. 21, § 1º, da LC 109/2001).

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 35


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EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) A agência de turismo devidamente credenciada para efetuar operações de câmbio é equiparada a
instituição financeira e subordina-se à regular intervenção fiscalizatória do Banco Central. ( )
2) (Juiz Federal TRF2 2018) A competência da União para emitir moeda será exercida exclusivamente pelo
Banco Central e pela Secretaria do Tesouro Nacional. ( )
3) (Juiz Federal TRF3 2018) Cabe ao Conselho Monetário Nacional exercer a competência constitucional
para emitir moeda em nome da União. ( )
4) O parceiro que suspeita de sua condição soropositiva, por ter adotado comportamento sabidamente
temerário (vida promíscua, utilização de drogas injetáveis, entre outros), e mesmo assim continua
normalmente tendo relações sexuais com sua companheira sem alertá-la para esse fato, assume os riscos
de sua conduta e, se ela for contaminada, responde civilmente pelos danos causados. ( )
5) Nos contratos de seguro regidos pelo Código Civil, a correção monetária sobre a indenização securitária
incide a partir da citação. ( )
6) Nas ações que buscam o pagamento de indenização securitária, os juros de mora devem incidir a partir
da data da citação da seguradora, visto se tratar de eventual ilícito contratual. ( )
7) A correção monetária nas indenizações do seguro DPVAT por morte ou invalidez, prevista no § 7º do art.
5º da Lei nº 6.194/1974, redação dada pela Lei nº 11.482/2007, incide desde a data do evento danoso. ( )
8) É prática discriminatória a recusa das instituições financeiras de concederem empréstimo consignado nos
casos em que a soma da idade do cliente com o prazo de duração do contrato seja superior a 80 anos. ( )
9) O dever de garantia do emitente do cheque, previsto no art. 15 da Lei nº 7.357/85, pode ser afastado, a
depender do caso concreto, com fundamento nos costumes e no princípio da boa-fé objetiva. ( )
10) O emitente do cheque garante o pagamento, considerando-se não escrita a declaração pela qual se
exima dessa garantia. ( )
11) Em razão da alteração promovida pelo CPC/2015, os prazos recursais nos procedimentos regulados pelo
ECA são contados em dias úteis. ( )
12) (Procurador ALERJ 2017) A sentença proferida na primeira fase da ação de exigir contas produz efeitos
logo após a sua publicação, pois a respectiva apelação não tem efeito suspensivo. ( )
13) (Juiz TJ/BA 2019 CESPE) Uma condenação transitada em julgado de fato posterior ao narrado na
denúncia, embora não sirva para fins de reincidência, pode servir para valorar negativamente a
personalidade e a conduta social do agente. ( )
14) Eventuais condenações criminais do réu transitadas em julgado e não utilizadas para caracterizar a
reincidência somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes
criminais, não se admitindo sua utilização também para desvalorar a personalidade ou a conduta social
do agente. ( )
15) É possível a concessão de prisão domiciliar, ainda que se trate de execução provisória da pena, para
condenada gestante ou que seja mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência. ( )
16) É ilegal o art. 16, caput, da Portaria Conjunta PGFN/SRF nº 6/2009, que determina a incidência dos juros
de mora, no pagamento à vista do débito, sobre o somatório do valor principal com as multas moratória
e de ofício. ( )
17) Os valores de ICMS não integram a base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta
- CPRB, instituída pela Medida Provisória nº 540/2011, convertida na Lei nº 12.546/2011. ( )
18) O regulamento aplicável ao participante de plano fechado de previdência privada para fins de cálculo da
renda mensal inicial do benefício complementar é aquele vigente no momento da implementação das
condições de elegibilidade, haja vista a natureza civil e estatutária, e não o da data da adesão, assegurado
o direito acumulado. ( )
Gabarito
1. C 2. E 3. E 4. C 5. E 6. C 7. C 8. E 9. E 10. C
11. E 12. E 13. E 14. C 15. C 16. C 17. C 18. C

Informativo 647-STJ (24/05/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 36

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