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Lei Complementar nº 105 dispõe sobre as regras do sigilo b

As regras do sigilo bancário – LC


105
Olá, Estrategista. Tudo joia?

No Brasil, o sigilo bancário nada mais é que um direito da pessoa, seja física
ou jurídica, e uma obrigação da instituição financeira. Desse modo, a LC
105, que dita as regras do sigilo bancário, dispõe que:

Art. 1o As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações


ativas e passivas e serviços prestados.

Todavia, alguns crimes, por serem tão bem articulados, só podem ser
descobertos a partir do sigilo bancário. Isso porque os autores realizam
todas as operações, como se de fato estivessem ocorrendo. Contudo,
apenas com a análise dos extratos bancários é possível comprovar a
infração.

Dessa maneira, faz-se necessário que existam meios para a quebra do sigilo
bancário. Um desses meios, e o mais conhecido, é por meio de medida
judicial. Entretanto, este não é o único modo. Há também outro meio que
prescinde de autorização judicial para tal fim.

Ficou curioso. Acompanhe esse artigo que iremos falar todos os detalhes
sobre esse assunto.

Para quem não me conhece, me chamo Leandro, sou Auditor-Fiscal da


SEFAZ-SC, aprovado no último concurso na 24º posição. Para quem quiser
trocar uma ideia ou tirar uma dúvida, sinta-se à vontade para me chamar
nas redes sociais (Instagram: https://www.instagram.com/leandro.rms12/).

Para começar, a obrigação de guardar o sigilo bancário é das instituições


financeiras. Mas o que são instituições financeiras? Bancos apenas? Nada
disso, Estrategista. O termo instituição financeira é bastante amplo.
Vejamos.
O que são Instituições Financeiras
De acordo com a LC 105, são consideradas instituições financeiras:

I. os bancos de qualquer espécie;


II. distribuidoras de valores mobiliários;
III. corretoras de câmbio e de valores mobiliários;
IV. sociedades de crédito, financiamento e investimentos;
V. sociedades de crédito imobiliário;
VI. administradoras de cartões de crédito;
VII. sociedades de arrendamento mercantil;
VIII. administradoras de mercado de balcão organizado;
IX. cooperativas de crédito;
X. associações de poupança e empréstimo;
XI. bolsas de valores e de mercadorias e futuros;
XII. entidades de liquidação e compensação;
XIII. outras sociedades que, em razão da natureza de suas operações,
assim venham a ser consideradas pelo Conselho Monetário Nacional.

Adendo: As empresas de fomento comercial ou factoring não são


consideradas instituições financeiras. Entretanto, obedecerão às normas
aplicáveis às instituições financeiras previstas nas regras do sigilo bancário.

Mister salientar que o dever de sigilo é, outrossim, extensivo ao Banco


Central do Brasil, em relação às operações que realizar e às informações
que obtiver no exercício de suas atribuições.

Regras do Sigilo Bancário


Em poucas palavras, sigilo bancário refere-se ao fato de as instituições
financeiras não repassem quaisquer dados de seus clientes a qualquer
pessoa, órgão ou instituição.

Contudo, existem algumas determinadas ações que não são consideradas


violação do dever de sigilo. São elas:

I. a troca de informações entre instituições financeiras, para fins


cadastrais, inclusive por intermédio de centrais de risco;
II. o fornecimento de informações constantes de cadastro de emitentes
de cheques sem provisão de fundos e de devedores inadimplentes, a
entidades de proteção ao crédito;
III. a comunicação, às autoridades competentes, da prática de ilícitos
penais ou administrativos, abrangendo o fornecimento de
informações sobre operações que envolvam recursos provenientes
de qualquer prática criminosa;
IV. a revelação de informações sigilosas com o consentimento
expresso dos interessados;
V. o fornecimento de dados financeiros e de pagamentos, relativos a
operações de crédito e obrigações de pagamento adimplidas ou em
andamento de pessoas naturais ou jurídicas, a gestores de bancos de
dados, para formação de histórico de crédito, nos termos de lei
específica.

Portanto, as ações acima não são consideradas afronta ao dever de sigilo e


podem ser realizadas independentemente de autorização judicial.

Além dessas, o sigilo, inclusive quanto a contas de depósitos, aplicações e


investimentos mantidos em instituições financeiras, não pode ser oposto
ao Banco Central do Brasil.:

I. no desempenho de suas funções de fiscalização, compreendendo a


apuração, a qualquer tempo, de ilícitos praticados por controladores,
administradores, membros de conselhos estatutários, gerentes,
mandatários e prepostos de instituições financeiras;
II. ao proceder a inquérito em instituição financeira submetida a regime
especial.

Outrossim, o sigilo não pode ser aposto à Comissão de Valores Mobiliários,


quando se tratar de fiscalização de operações e serviços no mercado de
valores mobiliários, inclusive nas instituições financeiras que sejam
companhias abertas.

Regras do Sigilo Bancário – Quebra do Sigilo


Como regra, a quebra do sigilo bancário precisa estar vinculada a apuração
de um crime. Não faz sentido alguém ter seu sigilo bancário quebrado sem
motivação, isto é, sem que seja suspeito de estar cometendo alguma
infração.

Dessa maneira, a quebra de sigilo poderá ser decretada, quando necessária


para apuração de ocorrência de qualquer ilícito, em qualquer fase do
inquérito ou do processo judicial, e especialmente nos seguintes crimes:

I. terrorismo;
II. tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;
III. contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado a
sua produção;
IV. extorsão mediante sequestro;
V. contra o sistema financeiro nacional;
VI. em desfavor da Administração Pública;
VII. contra a ordem tributária e a previdência social;
VIII. lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores;
IX. praticado por organização criminosa.

É com base nos Incisos VI e VII acima que iremos ver as hipóteses de
quebra de sigilo bancário que prescindem de autorização judicial. Perceba
que a quebra do sigilo poderá ser realizada em qualquer fase.

Convênio Bacen e CVM


Como vimos nesse artigo, o Banco Central (Bacen) e a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) são partes interessadas e não podem ter o acesso aos
dados bancários das instituições financeiras negado, sob justificativa do
sigilo bancário, quando estiverem exercendo seu poder de fiscalização.

Dessa maneira, o Bacen e a CVM poderão firmar convênios:

 com outros órgãos públicos fiscalizadores de instituições financeiras,


objetivando a realização de fiscalizações conjuntas;
 com bancos centrais ou entidades fiscalizadoras de outros países,
objetivando:
o a fiscalização de filiais e subsidiárias de instituições financeiras
estrangeiras, em funcionamento no Brasil e de filiais e
subsidiárias, no exterior, de instituições financeiras brasileiras;
o a cooperação mútua e o intercâmbio de informações para a
investigação de atividades ou operações que impliquem
aplicação, negociação, ocultação ou transferência de ativos
financeiros e de valores mobiliários relacionados com a prática
de condutas ilícitas.

Outras regras sobre a quebra do sigilo


Uma ressalva que se faz necessário quanto à quebra de sigilo bancário é
quando uma das partes fiscalizadas se trata de um servidor público.

Nesse caso, dependerá de prévia autorização do Poder Judiciário a


prestação de informações e o fornecimento de documentos sigilosos
solicitados por comissão de inquérito administrativo destinada a apurar
responsabilidade de servidor público por infração praticada no exercício de
suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que
se encontre investido. Contudo, o requerimento da quebra do sigilo
independe da existência de processo judicial em curso.

As CPIs e a Quebra do Sigilo Bancário


Dispõe a nossa carta magna que as Comissões Parlamentares de Inquérito
(CPIs), que terão poderes de investigação próprios das autoridades
judiciais, serão criadas para a apuração de fato determinado e por prazo
certo.

Sendo assim, a LC 105 estabelece que o Bacen, a CVM, e as instituições


financeiras fornecerão ao Poder Legislativo FEDERAL as informações e os
documentos sigilosos que, fundamentadamente, se fizerem necessários ao
exercício de suas respectivas competências constitucionais e legais.

Ademais, as comissões parlamentares de inquérito, no exercício de sua


competência constitucional e legal de ampla investigação, obterão as
informações e documentos sigilosos de que
necessitarem, diretamente das instituições financeiras, ou por intermédio
do Banco Central do Brasil ou da Comissão de Valores Mobiliários.

Como pudemos ver, as CPIs independem de autorização judicial para ter


acesso aos dados bancários. Todavia, as solicitações deverão
ser previamente aprovadas pelo Plenário da Câmara dos Deputados,
do Senado Federal, ou do plenário de suas respectivas Comissões
Parlamentares de Inquérito.

O Fisco e a quebra de sigilo bancário


Além das CPIs, os fiscais também podem ter acesso aos dados bancários
independentemente de autorização judicial prévia. Trata-se, por sua vez, de
uma transferência de sigilo da esfera bancária para a fiscal. Portanto, não
há que se falar em quebra de sigilo. Esse é o entendimento sufragado
pelo Pretório Excelso.

Vejamos o que a LC 105 dispõe sobre o assunto.

Art. 6o As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios somente poderão examinar
documentos, livros e registros de instituições financeiras, inclusive os
referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras, quando houver
processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em
curso e tais exames sejam considerados indispensáveis pela
autoridade administrativa competente.

Parágrafo único. O resultado dos exames, as informações e os documentos


a que se refere este artigo serão conservados em sigilo, observada a
legislação tributária.

Finalizando
Vimos, nesse artigo, as regras do sigilo bancário dispostas pela LC 105.
Contudo, a mesma lei ainda dispõe que a quebra de sigilo, fora das
hipóteses autorizadas, constitui crime e sujeita os responsáveis à pena
de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa, aplicando-se, no que couber, o Código
Penal, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.

Além do mais, o servidor público que utilizar ou viabilizar a utilização de


qualquer informação obtida em decorrência da quebra de sigilo responde
pessoal e diretamente pelos danos decorrentes, sem prejuízo da
responsabilidade objetiva da entidade pública, quando comprovado que o
servidor agiu de acordo com orientação oficial.

Por hoje é isso, pessoal.

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