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CUMPRIMENTO E NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

- O CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

1. Enquadramento e papel do cumprimento

O cumprimento de uma obrigação é a realização das actuações nela previstas. Nos casos base
ele implica a satisfação do interesse do credor, através da prestação do devedor, de modo a
obter a realização do seu escopo.

A obrigação moderna reduz-se a um vínculo abstrato que une o devedor ao credor. Tudo
opera com vista a uma materialização que surgirá apenas no momento do cumprimento.
O credor vive nessa qualidade em função de algo que só no futuro irá receber: a prestação.

Em termos analíticos o cumprimento: é apenas a realização da prestação principal. A obrigação


pode subsistir amparada nos deveres acessórios: culpa post pactum finitum. Não ha extinção
da obrigação.

No caso das obrigações duradouras, o cumprimento não só não implica a extinção da


obrigação como pelo contrário a reforça.

O cumprimento surge fundamentalmente como o escopo final da obrigação.


A função do cumprimento varia consoante o concreto tipo de obrigação.
Por exemplo: nas obrigações simples, o cumprimento é visto como o termo do processo
obrigacional; noutros casos ele é visto como a realização do fim da obrigação; e por fim
noutros, ele dá corpo à própria prestação, verificando-se em contínuo (obrigações
duradouras).

Natureza do cumprimento:
1. Teoria do contrato: o cumprimento pressuporia um contrato entre o credor e o
devedor, a somar à efectiva realização da prestação; teoria demolida por Heinrich
Lehmann, pois nas obrigações que postulem uma simples omissão, não é possível
construir qualquer contrato entre o que cumpre e o que recebe o cumprimento;
2. Teoria do contrato limitado: no direito alemão, os contratos translativos de domínio
são cumpridos através de acordo de transferência (tradição ou transmissão pelo
registo); em certos casos como o contrato promessa, o cumprimento exige um
contrato, mas em regra geral isso não sucede;
3. Teoria do acordo do escopo: o cumprimento ainda que não requerendo propriamente
um contrato exigiria um elemento objetivo (o acordo das partes quanto à afetação da
conduta ao escopo do cumprimento);
4. Teoria da realização finalística da prestação: uma simples conduta não é
cumprimento; sê-lo-á quando o prestador afete essa conduta à realização final da
prestação; não se exige nem um contrato nem um acordo entre as partes: antes um
acto negocial levado a cabo por aquele que cumpre;
5. Teoria da realização real da prestação: no cumprimento assiste-se ao consubstanciar
da conduta prevista na obrigação; o apelo a negócios ou acordos seria ficcioso:
bastaria a realização material da prestação devida para que o cumprimento ficasse
preenchido.

Doutrina tradicional: considerava o cumprimento como um negócio contratual. Fazia-se


resultar o cumprimento de uma actuação daquele que cumpre: nexo contratual. Não vingou
pois o cumprimento entendido como negócio contratual não abarcava as hipóteses de
adimplemento que se traduzissem em meras actuações materiais, nem os tipos de
cumprimento que não requeressem qualquer actuação do credor.

Outra doutrina: considera o cumprimento como um simples facto jurídico.

Menezes Cordeiro: o cumprimento feito pelo devedor ou por terceiro adstrito não pode ser
nem um negócio nem acto jurídico stricto sensu. O cumprimento não é um acto jurídico
voluntário; é um acto devido. Nele não se observa nem a liberdade de celebração nem por
maioria de razão liberdade de estipulação: o sujeito não é livre normativamente; não pode
utilizar a sua autonomia jurídica.
O cumprimento é uma actividade humana que o direito não considera voluntária, mas como
produz efeitos jurídicos resta considerá-lo um facto jurídico stricto sensu.
Quando o cumprimento é feito por terceiro não vinculado tem natureza diferente: o
cumprimento já não integra um acto devido, pode ser reconduzido a várias figuras consoante a
função. Nunca é um negócio jurídico; o terceiro cumpre ou não cumpre mas não pode
estipular. Considerá-lo-emos um acto jurídico stricto sensu, sempre que seja motor de uma
sub-rogação.
(Quando desencadeia os pressupostos da repetição do indevido ou do enriquecimento sem
causa, não é considerado como acto voluntário mas sim como facto jurídico.

Questão da doutrina: o devedor tem ou não um direito a cumprir? O devedor não tem um
direito subjectivo ao cumprimento. Apesar do credor estar adstrito a deveres e de o devedor
ter algumas permissões, falta a permissão normativa de aproveitamento de um bem, dirigida
ao devedor.

2. Os princípios do cumprimento

O cumprimento das obrigações depende do vínculo que esteja em causa.


Princípios do cumprimento:
1. Princípio da boa-fé
2. Princípio da tutela da propriedade
3. Princípio da correspondência
4. Princípio da integralidade
5. Princípio da concretização

O cumprimento é um fenómeno tipicamente obrigacional, são lhe aplicáveis com generalidade


os princípios gerais do direito civil.
O cumprimento deve ser delimitado à luz da boa-fé: artigo 762°/2 CC: o cumprimento
compreende não só a própria actividade retratada na prestação, mas ainda todos os
comportamentos acessórios à efectiva prossecução dos interesses do credor.

O princípio da propriedade privada (62°/1 CRP): a não haver cumprimento são atingidos
direitos fundamentais do credor.

Princípio da integralidade: a prestação não deve ser efectuada por partes: artigo 763°/1,
excepto se outra coisa for devida por convenção, leis ou usos.
Admite-se porém que o credor possa exigir apenas parte da sua prestação: artigo 763°/2, o
que se compreende, quem pode o mais pode o menos, havendo apenas uma renúncia
temporária a uma parcela do seu direito. O devedor pode oferecer a prestação por inteiro
(artigo 763°/2).

Princípio da concretização:
1. Quem pode fazer a prestação (legitimidade activa);
2. Quem pode receber a prestação (legitimidade passiva);
3. Lugar da prestação;
4. Prazo da prestação;
5. Imputação do cumprimento;

3. O prazo da prestação

Prazo da prestação: momento em que esta deve ser cumprida; quando esse momento chega
ocorre o vencimento da obrigação. O vencimento da obrigação torna esta imediatamente
exigível.

Ex: A deve 100 a B, caso a prestação deva ser efectuada dia 1 de Julho, temos essa data como
o prazo da prestação; quando esse momento chegar a obrigação diz-se vencida, e o B pode por
isso exigi-la de A.

Importância da fixação do prazo da prestação:


 Do ponto de vista do devedor: ele marca o momento em que deve prestar;
 Do ponto de vista do credor: determina quando ele pode exigir o cumprimento;
 Do ponto de vista do direito: esclarece a altura em que quando seja o caso devam
entrar em acção normas sancionatórias para obviar ao incumprimento.

Prazo da prestação pode estar predeterminado:


- por disposição legal;
- por estipulação das partes;
- pela natureza das coisas;

Pode ocorrer que o prazo não esteja determinado ou não seja determinável; nessa altura o
vencimento poderá advir de decisão:
- do tribunal;
- do terceiro;
- do credor e do devedor por acordo;
- do credor;
- do devedor;

Tribunal fixa o prazo:


1. Quando o prazo seja necessário pela natureza das coisas e as partes não acordarem na
sua determinação (artigo 777°/2).
2. Quando caiba ao credor fixar o prazo, este não o faça e o devedor o requeira (artigo
777°/3).
O prazo pode advir de decisão de terceiro, sempre que não havendo qualquer prazo nem
forma de o determinar o terceiro em causa se apresenta a cumprir (artigo 767°/1).
O prazo pode ser determinado por acordo das partes: autonomia privada.

Interpelação; exigibilidade fraca e forte

Quando o momento da determinação do prazo caiba ao credor: este pode provocar o


vencimento da obrigação por meio da interpelação (por meio de declaração judicial ou extra-
judicial, feita ao devedor, de que este deve cumprir).

A interpelação produz efeitos nos termos gerais aplicáveis às declarações que tenham um
destinatário (artigo 224°/1).
Pode acontecer que a interpelação do devedor pelo credor só seja possível a partir de
determinado momento com a adveniência do qual a prestação também se diz exigível.
Pessoa Jorge: chamar a este tipo de exigibilidade – a possibilidade de interpelar – exigibilidade
fraca (distinguindo-se da forte que ocorre depois do vencimento). Se o credor não utilizar esta
faculdade o devedor pode recorrer ao tribunal (artigo 777°/3).

O prazo pode estar dependente do devedor, quer portes ter estipulado que o mesmo cumprirá
quando puder, quer por se ter estabelecido que tal sucederá quando ele quiser.

O devedor pode apresentar-se em determinada altura a cumprir ou declarar que está disposto
a fazê-lo. E se nunca o fizer?
- sendo a obrigação for para ser cumprida quando ele puder, a prestação é exigível quando o
devedor tenha de facto possibilidade de o fazer ou sempre aos seus herdeiros (artigo 778°/1);
- sendo a obrigação para ser cumprida quando o credor o desejar, a prestação só pode ser
exigida aos herdeiros do devedor (artigo 778°/2).

Quando nada estiver estabelecido nem quanto ao prazo nem quanto a quem o deva
determinar: o credor pode em qualquer momento interpelar o devedor assim como este pode
em qualquer altura oferecer o cumprimento (artigo 777°/1), qualquer das partes é
competente para determinar o prazo da obrigação.

Moratórias e antecipações

1. Prolongamento do prazo;
2. Antecipação do prazo;

O prolongamento do prazo redunda numa moratória: podemos distinguir moratórias


contratuais, legais e judiciais, conforme advenham da vontade das partes, da lei ou de decisão
do tribunal.
Para averiguar a possibilidade de antecipação do prazo há que atender a favor de quem é o
prazo estabelecido, ou seja, quem tem o benefício do prazo.

Artigo 779° CC – o prazo pode ser estabelecido:


1. Em benefício do devedo;
2. Em benefício do credor;
3. Em benefício de ambos;

Quando outra coisa não se mostre o prazo tem-se por estabelecido a favor do devedor.

Quando o prazo seja estabelecido a favor do devedor, o credor não pode antecipar o prazo; o
devedor pode porém fazê-lo sendo a prestação havida como comprimento efectivo (artigo
440° e 476°/3). Nos termos deste último artigo verifica-se o cumprimento antecipado pelo
devedor, mesmo que feito por erro desculpável, não pode ser desfeito; apenas permite a este
a repetição daquilo com que o credor se tenha enriquecido por força da antecipação.

O devedor pode perder o benefício do prazo com o efeito automático de a obrigação se tornar
imediatamente exigível (em sentido fraco) quando nos termos do artigo (780°/1) fique
insolvente ou por culpa sua diminuam as garantias de crédito ou não sejam prestadas as
garantias prometidas; nesta última hipótese ao credor cabe exigir o esforço ou a substituição
das garantias (artigo 780°/2).
Numa obrigação cuja prestação possa ser fraccionada no tempo, a falta de cumprimento de
uma das sub-prestações implica a perda de benefício do prazo em relação às restantes (artigo
781°).

Sendo o prazo estabelecido a favor do credor este pode provocar o vencimento antecipado da
obrigação, ao contrário do devedor; se o for a benefício de ambos a antecipação só é viável
por acordo salvo excepção legal (ex: artigo 1147°).

Quando haja antecipação do cumprimento, suscita-se o problema da atribuição do


interusurium: atribuição dos frutos naturais ou civis correspondentes ao período da
antecipação.
Ex: A deve entregar a B um prédio rústico em 2011. Antecipa o cumprimento para 2010. Pode
descontar no preço a importância correspondente aos frutos produzidos nesse ano?

Pessoa Jorge: defende que o devedor não tem em principio direito aos frutos naturais
correspondentes ao período da antecipação (interusurium), sempre que a antecipação seja
provocada por ele. Nessa eventualidade o devedor renúncia naturalmente às vantagens que
lhe acarretaria o cumprimento feito no momento estabelecido.
Além desse motivo podemos apontar o artigo 1147° que expressamente determina essa
solução em relação ao mútuo oneroso e o artigo 476°/3 do qual se infere que quando haja
pagamento antecipado sem ser por erro desculpável (ou seja, por erro grosseiro ou
propositado o devedor ao tem direito a qualquer restituição).

Quando o credor possa antecipar o cumprimento nos casos em que a lei lho permita, o
interusurium compete logicamente ao devedor.

Menezes Cordeiro: conclui que o interusurium não cabe em principio nunca a quem tenha
provocado o vencimento antecipado.

4. O lugar da prestação

O cumprimento de uma obrigação exige naturalmente uma actividade do que cumpre e do


que recebe o cumprimento. É necessário que as operações do cumprimento se verifiquem
num local que das partes seja conhecido com antecedência. Existem regras para determinar o
local apropriado do cumprimento/prestação.

O lugar do cumprimento advém de Norma jurídica ou da vontade das partes. Sempre que as
disposições legais sejam supletivas (regra do direito das obrigações) as partes podem estipular
sobre o local do cumprimento (artigo 772°/1). O lugar do cumprimento pode advir da natureza
das coisas.

Normas jurídicas aplicáveis à questão são:


- injuntivas;
- supletivas;
Consoante possam ou não ser afastadas pela vontade das partes.

De acordo com o seu âmbito de aplicação as normas jurídicas dirigidas ao lugar da prestação
podem ser:
- genéricas;
- específicas;
Conforme reportem à generalidade das obrigações ou apenas a obrigações específicas.
Norma genérica supletiva dirigida ao local da prestação é a constante do artigo 772°/1: a
prestação deve ser efectuada no lugar do domicílio do devedor (artigos 82°’ss). Caso este
mude de domicílio, deve a prestação ser efectuada no local do novo domicílio, salvo quando a
alteração acarrete prejuízo ao credor, altura em que o cumprimento terá lugar no antigo
(artigo 772°/2).

O CC contém normas específicas supletivas em relação a obrigações de entrega de coisa móvel


e pecuniárias.
A obrigação de entrega de coisa móvel deve ser cumprida no lugar onde a coisa se encontrava
no momento da conclusão do negócio (artigo 773°/1). O mesmo princípio tem aplicação
quando se trate de coisa genérica a ser escolhida de um conjunto determinado ou de coisa que
deva ser produzida em certo lugar (artigo 773°/2); o cumprimento deve verificar-se no local
onde se encontra o conjunto ou onde a coisa for produzida.

As obrigações pecuniárias devem ser efectuadas no lugar do domicílio do credor ao tempo de


cumprimento (artigo 774°). Porém se as partes tiverem estipulado que o cumprimento se
efectue no domicílio do credor, entende-se que tiveram em conta o domicílio que ele tinha no
momento da constituição da obrigação e não no do cumprimento. Se o credor mudar de
domicílio, deve a obrigação ser satisfeita no local do domicílio do devedor, ou em alternativa
no novo domicílio do credor, pagando este os prejuízos que da alteração emerjam (artigo
775°).
Mesmo quando a obrigação pecuniária seja uma renda, o local supletivo não é o do domicílio
do credor (artigo 774°) mas o do devedor (artigo 1039°/1).

Problema geral da alteração superveniente do lugar da prestação. Dois factores:


1. De acordo entre as partes;
2. De evento que torne impossível o cumprimento no lugar fixado.

Neste último caso (artigo 776°) aplicam-se as normas supletivas dos artigos 772° a 774°.
Se as partes não acordarem num local há que recorrer ao tribunal (por aplicação analógica do
artigo 777°/2).

5. A legitimidade e o cumprimento

A legitimidade é a qualidade de um sujeito que o habilite a agir no âmbito de uma situação


jurídica considerada.

Podemos operar uma distinção entre factos positivos e factos negativos ou se se quiser: factos
atributivos de legitimidade e factos privativos da mesma legitimidade.
Os factos positivos conferem legitimidade a certos beneficiários; os negativos retiram a
legitimidade a quem de outro modo a teria.

O facto legitimador por excelência é a titularidade nas situações activas. O titular de uma
posição: de um direito subjectivo: tem legitimidade para desencadear os diversos exercícios
que ela faculte.

No domínio do cumprimento distinguimos a legitimidade activa e a legitimidade passiva:


1. Legitimidade activa: quem pode efectuar a prestação devida;
2. Legitimidade passiva: a quem pode ser efectuada essa mesma prestação, para haver
efectivo cumprimento.
A legitimidade activa; o cumprimento por terceiro

No domínio do cumprimento tem legitimidade activa aquele que possa efectuar a prestação
devida.
Artigo 767°/1 CC: prestação pode ser feita pelo devedor ou por terceiro, interessado ou não no
cumprimento da obrigação.
Pode a prestação ser efectuada por qualquer pessoa excepto: 767°/2:
- quando tenha sido expressamente acordado que só o devedor possa cumprir;
- quando a substituição prejudique o credor, isto é, quando a prestação seja fungível ou
quando por qualquer outra razão não revista, quando feita por terceiro da mesma qualidade
que teria se fosse efectuada pelo devedor.

CC reforça esta injunção quando determina que o credor incorre em mora perante o devedor
quando recuse a prestação efectuada por terceiro (768°/1).
Excepção (artigo 768°/2): credor pode recusar a prestação quando cumulativamente:
- o devedor se oponha ao cumprimento por terceiro;
- o terceiro não possa ficar sub rogado no crédito nos termos do artigo 592°.

A obrigação não é cumprida por terceiro se este agir em representação do devedor.

1ª: o terceiro pode ter cumprido nos termos de um contrato celebrado entre ele e o devedor;
2ª: o terceiro pode ter agido como gestor de negócios;
3ª: lugar ao enriquecimento sem causa quando o terceiro tenha cumprido na convicção errada
de estar obrigado a fazê lo.
4ª: pode estar se perante a hipótese de repetição do indevido;
5ª: pode ser o caso de sub rogação
6ª: pode haver uma doação do terceiro ao devedor.

Legitimidade passiva

Tem legitimidade passiva para efeitos do cumprimento aquele que possa receber a prestação.

Prestação pode ser feita a terceiro (770º CC)


Fora dos casos previstos no artigo 770° a prestação feita a terceiro não extingue a obrigação e
pode ser repetida pelo devedor (476°/2).
Não ha cumprimento.

6. A imputação do cumprimento

Diz se imputação do cumprimento a identificação de determinado comportamento como


devido nos termos de certa obrigação.
Se A deve a B 100€ e efectua um cumprimento de 100€ esse cumprimento reporta se à dívida
entre ambos existente.
Pode porém não ser assim: quando um devedor
1. Adstrito a várias dívidas do mesmo género
2. Em face do mesmo credor
3. Efectue um cumprimento insuficiente para extinguir todas as dívidas

É necessário determinar com precisão por conta de que dívida é feito o cumprimento:
Ex: C está adstrito para com D a dois débitos de 100€ cada. Entrega a D 100€. Por conta de que
dívida deve tal prestação ser imputada?
A regra geral é a de que a imputação seja feita pelo devedor (738°/1). O artigo 738°/2 exige o
acordo do credor para que:
1. O devedor designe uma dívida não vencida se prazo tiver sido estabelecido a favor do
credor; tal regime deve ser estendido à hipótese de prazo estabelecido a favor de
ambos.
2. O devedor designe uma dívida de montante superior ao do cumprimento efectuado
quando o credor possa recusar a prestação parcial (763°/1).

Quando o devedor não use a faculdade que lhe é conferida de fazer a imputação (regras
supletivas):
784°
a) O cumprimento deve imputar se na dívida vencida
b) Sendo várias as dívidas vencidas na que oferecer menor garantia para o credor
c) Havendo várias dívidas igualmente garantidas na mais onerosa para o devedor
d) Entre várias dívidas igualmente onerosas, na que primeiro se tenha vencido
e) Vencidas as dívidas ao mesmo tempo, na mais antiga na data da constituição

7. A prova do cumprimento

Efectuado o cumprimento de uma obrigação, tem o seu autor o máximo interesse em poder
provar a ocorrência efectiva da sua realização.

No que toca às obrigações o ônus da prova funciona de forma diferente: ao credor compete
demonstrar o seu direito, provando o seu facto constitutivo (342°/1). Feita tal demonstração
caso tenha havido cumprimento cabe ao devedor mostrá-lo dada a sua eficácia extintiva
(342°/2).

O direito confere ao devedor a faculdade de recusar o cumprimento enquanto não lhe


formada a declaração normalmente constante de documento específico (recibo) de como
cumpriu (787°/2).

8. Os efeitos do cumprimento

Liberação do devedor

Normalmente o cumprimento é realizado pelo devedor perante o credor. O seu efeito


primordial típico é a extinção da obrigação a qual implica outros efeitos:
1. A extinção do direito do credor
2. A liberação do devedor

Do cumprimento nem sempre resulta a extinção das obrigações, isto é o que sucede quando
seja nomeadamente realizado por terceiro.

A afirmação da natureza extintiva do cumprimento cede em duas questões:


1. As obrigações duradouras: cumprimento não as extingue, reforça-as.
2. Os deveres acessórios

9. Culpa post pactum finitum

Depois de extinta a relação obrigacional entendo nesse sentido nuclear cessado o contrato,
ainda se manteriam determinados deveres para as partes. São os deveres pós eficazes.
O NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

10. Enquadramento e modalidades

Temos não cumprimento/ incumprimento sempre que o devedor não realize de acordo com as
regras aplicáveis a prestação devida.
Podemos distinguir:
1. O incumprimento stricto sensu: não execução da prestação principal;
2. O incumprimento lato sensu: reporta a inobservância de quaisquer elementos
atinentes à posição do devedor ou do próprio credor (deveres acessórios).

O não cumprimento das obrigações surge na secção II.


Impossibilidade do cumprimento e mora não imputáveis ao devedor (790° a 797°).
Falta de cumprimento e mora imputáveis ao devedor (798° a 816°).

Incumprimento: não realização, pelo devedor, da prestação devida, enquanto devida.

Ficam excluídas do incumprimento:


1. A não realização da prestação devida quando, por qualquer razão, tenha pré-operados
a extinção da obrigação de que se trate.
2. A não realização da prestação por terceiro; embora normalmente, um terceiro possa
cumprir, ele não está obrigado a fazê-lo.

Se a prestação não for possível, então ela extingue-se. Porque se o comportamento humano
não for possível de realizar então não pode ser prestada a prestação.

Distinção entre incumprimento e impossibilidade:


1. Quando no momento do cumprimento, a prestação seja possível mas não tenha sido
acatada pelo devedor, temos incumprimento;

2. Quando pelo contrário, nesse momento, a prestação já não seja possível, ainda que por
obra do devedor, há impossibilidade.

Continuamos a falar de impossibilidade da prestação quando esta não tem lugar devido:
1. A terceiro;
2. Ao credor;
3. A um caso fortuito.

Modalidades de incumprimento

Inobservância da actividade devida ou dos ditames da boa fé:


A) Incumprimento da prestação principal ou incumprimento estrito; (integrar o
incumprimento de prestações secundárias).
B) Incumprimento de deveres acessórios, reconduzivel à violação positiva do contrato ou
ao incumprimento imperfeito.

Aspetos qualitativos e quantitativos do cumprimento:

C) Cumprimento defeituoso;
D) Cumprimento parcial.
Regras sobre o prazo da prestação:

E) Incumprimento definitivo;
F) Incumprimento temporário ou mora.

Distinção entre:

G) Incumprimento subjetivo: não concretização do interesse do credor;


H) Incumprimento objetivo: não realização da atividade devida.

O NÃO CUMPRIMENTO STRICTO SENSU

11. A mora do devedor

Cumprimento retardado

Há cumprimento retardado quando no momento da prestação, esta não seja efectuada. É


necessário que a obrigação subsista. Mantém-se o dever de prestar.
Temos de indagar a possibilidade da prestação e o interesse do credor.

Há situações em que uma determinada prestação só possa ser cumprida no momento


acordado, tornando-se impossível depois disso. Com o incumprimento verifica-se a extinção da
obrigação (do dever de prestar principal) por impossibilidade.
Há responsabilidade quando essa situação tenha sido ilicitamente provocada, em termos de
causar danos ao credor. A impossibilidade tem de ser definitiva e absoluta.

O interesse do credor é determinante na manutenção da obrigação cujo cumprimento seja


retardado. Quando o credor, pelo atraso, perca o interesse que tinha na prestação, esta fica
impossibilitada – 792° seguindo-se o regime do incumprimento definitivo – 808°/1.

O interesse do credor deve ser apreciado objetivamente – 808°/2 (aptidão que tenha a
prestação para satisfazer as necessidades do credor).

Requisitos do atraso; Mora

Requisitos do verdadeiro atraso:


1. A exigibilidade da prestação
2. A sua certeza
3. A sua liquidez

O atraso no cumprimento advém de factores diversos:


1. Acto do devedor
2. Acto do credor
3. Acto de terceiro
4. Caso fortuito.

Ao atraso ilicitamente provocado pelo devedor chama-se mora do devedor. Quando seja pelo
credor há mora do credor.
Mora: atraso ilícito no cumprimento. Retardamento do objeto de valoração jurídica negativa.
Há mora do devedor sempre que por acto ilícito e culposo se verifique um cumprimento
retardado.
Requisito geral da exigibilidade da prestação
Em sentido forte: momento em que a prestação devia ser cumprida e o credo pode reclamar
juridicamente a sua execução imediata.
Artigo 805°: momento da constituição em mora. Esse momento é o do prazo da prestação.
Mas as partes podem fixar esse prazo (777°/1).

Distinção entre:
Mora ex persona: implica a fixação do prazo da prestação através da interpelação – 805°/1.
Mora ex ré: pressupõe um vencimento com qualquer outra origem – 805°/2, a) e b).

MC: 805°/2, c) é uma hipótese de ex persona.

Nos termos da responsabilidade obrigacional, qualquer retardamento na efectuação da


prestação é por presunção atribuído à culpa do devedor – 799°/1.

Responsabilidade obrigacional

Artigo 804°/1 ‘simples mora’ contrapõe o preceito ao incumprimento definitivo (casos em que
já não há interesse do credor, ou não é possível realizar a prestação). A mora implica a
manutenção do dever de prestar principal. Como implica danos para o credor, o devedor tem
de o indemnizar.
Nas obrigações pecuniárias há sempre danos; juros legais + 806°/1. 3 delimitações no 806°/2.

A situação da mora do devedor tem para além da responsabilidade o efeito de fazer correr por
conta deste o risco da impossibilidade superveniente da prestação.
Artigo 807°/1. Ao falar em perda e deterioração o artigo parece limitar a inversão do risco as
obrigações de dare; o professor Menezes Cordeiro entende que esta disposição visa todas as
obrigações.

Na situação de mora, o devedor para além da responsabilidade pelos prejuízos derivados do


atraso responde ainda:
1. A título delitual: quaisquer outros danos que lhe sejam imputáveis;
2. A título de risco: por danos causados a terceiros; e por danos fortuitos.

Quando ao terceiro sejam totalmente imputáveis os danos, a título delitual, a responsabilidade


é solidária entre este e o devedor, na medida em que ambos originaram os prejuízos – 497°/1.
O devedor em mora goza de direito de regresso.

A lei consagra no 807°/2 um caso de relevância negativa da imputação virtual a favor do


devedor.

A mora do devedor cessa:


1. Com o cumprimento, acompanhado pelas indemnizações;
2. Com o incumprimento definitivo.

O incumprimento definitivo – 808°/1:


1. Quando objetivamente o credor perca o interesse na prestação;
2. Quando o devedor não cumpra num prazo razoavelmente fixado pelo credor:
interpelação admonitória ou cominatoria.
Incumprimento definitivo extingue a obrigação do dever de prestar principal.

12. A mora do credor e o atraso imputável a terceiros

Há mora do credor quando este ilicitamente provoque o atraso do cumprimento.


Se o credor recusar. Esta recusa pode advir simplesmente da passividade. (Ex: dívida que o
credor devia cobrar e não o faz).

Havendo mora do credor, a situação jurídica atingida mantém-se. 816°/1 o credor em mora
deve indemnizar o devedor:
1. Das maiores despesas que este seja obrigado a fazer com o oferecimento infrutífero da
prestação;
2. Das despesas que sejam feitas por causa da guarda suplementar da coisa.

Derivado da mora do credor: possibilita-se ao devedor a extinção da obrigação, através da


consignação em depósito – 841°/1,B). Mas só é possível nas obrigações de dare.
O devedor fixa ao credor um prazo razoável para ele colaborar no cumprimento da obrigação.
Ultrapassado este prazo a obrigação extingue-se – aplicação analógica do 803°/1.

Direitos do devedor em caso de mora do credor:


1. Direito a indemnizações
2. Faculdade de consignar
3. Faculdade de indicar ao credor um prazo razoável para este cumprir, decorrido esse
prazo a obrigação extingue-se.

Atraso imputável a terceiros

A mora do devedor e a mora do credor traduzem o cumprimento retardado imputável ao


devedor e ao credor.

Pode acontecer um atraso na prestação por culpa de um terceiro?


Temos primeiro de saber se há ou não ilicitude por parte do terceiro em questão. Se a resposta
for positiva há contra o terceiro uma imputação delitual: deverá ressarcir todos os danos que
tenha causado com a sua atitude, quer ao credor, quer ao devedor.

13. O Incumprimento Definitivo

1. Prestação principal já não é possível


2. A prestação principal é possível mas devido ao seu atraso deixou de ter interesse para
o credor (808°/1, 1ª parte)
3. A prestação principal é possível, tem interesse para o credor, mas não foi executada
num prazo razoavelmente fixado pelo credor (808°/1, 2ª parte)

A impossibilitação da prestação principal leva à sua substituição pelo dever de indemnizar: não
há alternativa.

A perda do interesse na prestação é apreciada objetivamente (808°/2).


Cabe ao credor a prova de que perdeu o interesse na prestação (342°/2).
A exigência de interpelação admonitória (808°/1, 2ª parte) redunda quando se trate de uma
obrigação sem prazo:
1. É necessária a fixação de prazo;
2. Fixado o prazo impõe se uma interpelação para que haja exigibilidade forte (805°/1);
3. Ultrapassado de novo este prazo temos o incumprimento definitivo, podendo o credor
aceder a fase executiva ou a fase admonitória.

O código civil equipara o regime do incumprimento definitivo e da impossibilidade da


prestação imputável ao devedor – 801°/1.

14. A Declaração de não cumprimento

Pode acontecer que numa obrigação pendente, o devedor tome a iniciativa de se dirigir ao
credor dizendo-lhe antecipadamente que a não irá cumprir.

Quando se aproxime o incumprimento, o credor deverá:


1. Interpelar o devedor
2. Aguardar a mora
3. Proceder à fixação do prazo admonitório
4. Aguardar a expiração deste

17. A Realização Coativa da Prestação

Do incumprimento definitivo emerge a obrigação a cargo do devedor de indemnizar o credor


por todos os danos que lhe tivessem sido causados. Regime geral da obrigação de indemnizar.
Outra possibilidade é a do credor recorrer aos tribunais para através da força estadual
conseguir as vantagens que o direito lhe atribui e o devedor recusa.

Intervenção do estado a dois níveis:


1. Acção de cumprimento
2. Execução

Na acção de cumprimento o credor, alegando como causa de pedir o facto jurídico de que
emerge o seu crédito, pede ao tribunal que condene o devedor a cumprir, 817°.
A acção de cumprimento só pode ter lugar em relação à prestação que ainda pode ser
cumprida.
Se a prestação se tiver tornado impossível, a acção de cumprimento deve pedir não a
efetivação da obrigação extinta mas antes a realização da indemnização que caiba.

Se o devedor condenado judicialmente a cumprir, não realizar a prestação, segue-se o último


recurso do direito: a realização coativa da prestação.
A realização coativa da prestação através da acção, varia consoante a natureza da prestação
em causa. Distingue:
1. A execução
2. A execução específica

A execução: consiste na apreensão e venda de certos bens, normalmente do devedor para


dessa forma se obterem meios de pagamento a entregar ao credor. Para além da venda o CC
refere a adjudicação e a remição – 826°.

A execução específica – 827° a 830°:


1. Entrega da coisa determinada
2. Prestação de facto fungível
3. Prestação de facto negativo
4. Contrato de promessa

Qualquer execução específica pressupõe que a prestação a realizar seja ainda possível não se
tendo extinto a obrigação respetiva.

A IMPOSSIBILIDADE DO CUMPRIMENTO
18. A Impossibilidade e a sua Evolução

19. O Regime da Impossibilidade

A possibilidade é física ou jurídica, consoante o conteúdo ou o objeto contundam com a


natureza das coisas ou com o direito.

A possibilidade é absoluta ou relativa, conforme atinja o objeto do negócio ou opere somente


perante os sujeitos concretamente considerados.

A possibilidade é temporária ou definitiva em função da sua extensão temporal e em termos


de previsibilidade.

Impossibilidade não imputável ao devedor

A impossibilidade superveniente de uma prestação diz se inimputavel ao devedor quando


cumulativamente:
1. Ela não tenha advindo de uma actuação culposa, isto é, de uma conduta destinada a
inviabilizar a prestação ou da inobservância dos deveres de cuidado que ao caso
coubessem.
2. Ela não tenha ocorrido numa área em que o risco coubesse por inteiro ao devedor.
3. O próprio devedor não tenha assumido a garantia do resultado da prestação.

O devedor que com dolo ou negligência, inviabilize a prestação suportará as consequências do


incumprimento (801°/1).
Perante o não cumprimento, funciona a presunção do artigo 799°/1.
Cabe ao devedor fazer prova de que a prestação se impossibilitou e de que tal impossibilidade
não lhe é imputável.
Ónus da prova – 342º/2 CC.
Feita a demonstração: a prestação principal extingue-se – risco corre pelo credor.

Artigo 790º/1: impossibilidade da prestação, superveniente, objectiva e não imputável ao


devedor – extingue a obrigação. MAS hoje não é bem assim. A impossibilidade apenas cessou
o direito à prestação principal. Mantem-se as prestações secundárias instrumentais e os
deveres acessórios.

Outros efeitos; alteração da prestação; contratos bilaterais; comodum repraesentationis

A impossibilidade superveniente pode provocar uma simples alteração na prestação e


consequentemente na obrigação. É o que sucede quando a impossibilidade seja parcial: o
devedor tem de prestar apenas o que for possível – artigos 793º/1 e 802º/1.
Casos em que há prestações reciprocas: contratos bilaterais: quando uma das prestações se
torna impossível fica a contraparte desobrigada – 795º/1. Caso já tenha efetuado a prestação
– há um caso de enriquecimento sem causa – 795º/1 parte final. Se a impossibilidade for
parcial reduz-se proporcionalmente a prestação da contraparte – 793º/1.

O credor pode no entanto resolver o negócio quando não tenha interesse no cumprimento
parcial – 793º/2. (quando haja prestações reciprocas).

O commodum repraesentationis – 794º ex vi 803º: quando haja extinção de uma obrigação


por impossibilidade da prestação e por virtude do facto que gerou a aludida impossibilidade, o
devedor veja constituir-se a seu favor um direito, o direito do credor transfere-se para este
último.

Ex: A deve entregar a B uma coisa, que C destrói. A prestação impossibilita-se e a obrigação
extingue-se. Se por força de tal destruição A receber de C 50€, deve prestar estes a B. (Não
confundir esta figura com a eficácia externa das obrigações: só seria assim, se B pedisse
directamente o dinheiro a C pelos prejuízos sofridos).

O commodum repraesentationis é um prolongamento da obrigação inicial, cuja prestação


principal se tenha impossibilitado.

A impossibilidade imputável ao devedor

Artigo 801º/1: tornando impossível a prestação por causa imputável ao devedor, é este
responsável como se faltasse culposamente ao cumprimento da obrigação.

Caso não haja cumprimento, presume-se a culpa do devedor.

Perante a impossibilidade superveniente da prestação, o artigo 801º/1 tem aplicação imediata:


a menos que o devedor consiga ilidir a presunção do artigo 799º/1.
Impossibilidade imputável ao devedor: regras do incumprimento definitivo.

Contrato de prestações recíprocas: credor fiel pode (801º/2):


1. Resolver o contrato de modo a não se conservar vinculado à contraprestação;
2. Exigir a restituição da contraprestação que já haja efectuado;
3. Em qualquer caso: pedir uma indemnização por todos os danos causados. (mais um
argumento contra a limitação à indemnização por interesse contratual negativo).

Prestação parcialmente impossível, o credor pode (802º/1):


1. Ou resolve o negócio, altura em que fica exonerado da contraprestação, se já a tiver
efectuado pode exigir a sua restituição.
2. Ou mantem o negócio, exigindo o cumprimento do que da prestação ainda não foi
possível; reduz proporcionalmente a sua prestação (confrontar com o 793º/1).
3. Mantem o direito a uma indemnização por todos os danos.

O não cumprimento parcial não permite a resolução se, atendendo ao seu interesse, tiver
escassa importância (802º/2).

Risco nas obrigações

O risco corre por conta de quem tem a vantagem. Risco cai sobre o credor (normalmente).
No caso das obrigações reciprocas o risco pela impossibilitação de alguma das prestações corre
por conta dos dois contratantes. Uma vez que a parte cuja obrigação se mantem fica
desobrigada (795º) total ou parcialmente (793º) – direito a restituições caso já tenha
efectuado a prestação.

Risco nos contratos de eficácia real: se houvesse impossibilidade superveniente da obrigação


na entrega: o risco corre por conta do credor. Mas seria necessário a impossibilidade efectiva:
se fosse possível entregar coisa idêntica então ai a obrigação mantem-se.
No entanto, nos contratos com eficácia real, segundo o artigo 408º os efeitos produzem-se
imediatamente; o credor é logo titular do direito real e por isso o risco da destruição ou
deterioração da coisa corre por conta dele, mesmo não se verificando todos os requisitos da
impossibilidade da prestação – 796º/1.

EX:. A vende a B um automóvel, obrigando-se a entregar-lho. Se o automóvel perecer, B fica


prejudicado; mas o A pode ainda mandar reparar o automóvel ou entregar outro igual –
796º/1: a propriedade já se tinha transferido, logo fica prejudicado.

Outro exemplo: C celebra com D contrato-promessa de compra e venda de um automóvel com


certas características. D só ficaria prejudicado quando todos os automóveis desse tipo
perecessem. A destruição de um automóvel implicaria prejuízo para o proprietário C. Porquê?
Porque no contrato promessa a propriedade ainda não se transferiu. Logo o risco também não.

4 Hipóteses específicas do 796º:


1. A de a coisa continuar em poder do alienante em consequência de termo constituído
em seu favor: o risco corre por este só se transferindo para o adquirente com o
vencimento do termo ou com a entrega – 796º/2.
2. A do contrato estar dependente de condição resolutiva: o risco corre por conta do
adquirente, na pendência da condição, quando este tenha posse da coisa – 796º/3.
3. A do contrato estar dependente de condição suspensiva: o risco corre por conta do
alienante, na pendência da condição – 796º/3, parte final.
4. A de se tratar de coisa que por força de convenção, o alienante deva enviar para local
diferente do lugar do cumprimento: o risco passa a correr pelo adquirente quando a
coisa seja entregue ao transportador da coisa ou à pessoa indicada para a execução do
envio – 797º. Neste caso, torna-se pois primordial conhecer o local do cumprimento, o
que depende da interpretação do contrato.

O risco corre por conta do titular do direito. Nas obrigações genéricas e alternativas a
concentração da obrigação opera como forma de determinação da prestação. Risco pelas
mesmas regras.

A VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO


20. Evolução Histórico-Dogmática da violação positiva do contrato

(Parte retirada do livro do Senhor Professor Menezes Leitão)


Cumprimento defeituoso da obrigação: violação positiva do contrato

Verifica-se uma situação de cumprimento defeituoso quando o devedor, embora realizando


uma prestação, essa prestação não corresponde integralmente à obrigação a que se vinculou,
não permitindo assim a satisfação adequada do interesse do credor.

Não se pode dizer que há cumprimento da obrigação (762º/1): devedor não está liberado com
a realização dessa prestação.
Não há liberação do devedor: podem se dar duas situações: devedor fica em mora (804º) ou
em incumprimento definitivo (808º).

No caso da mora o credor tem ainda interesse na prestação, pelo que cabe ao devedor reparar
o defeito. No segundo caso, do incumprimento definitivo, o credor perde o interesse na
prestação; devedor tem de pagar uma indemnização por incumprimento definitivo.

Não ocorre nenhuma destas situações quando o devedor cumpra defeituosamente antes do
vencimento e repare também os danos antes do vencimento.

STAUB: disse que havia uma lacuna no BGB – limitando-se a prever a responsabilidade por
impossibilidade de cumprimento ou pela mora na execução, omitindo a situação da prestação
defeituosa. Este caso de defeito da prestação, para o autor era um caso de violação positiva do
contrato ao contrário da violação negativa (são os outros dois casos). Resolvia esta lacuna
através da aplicação analógica do regime da mora.

Quanto aos danos no cumprimento defeituoso:


1. Frustração das utilidades causadas pela prestação (interesse do cumprimento): credor
tem direito a uma indemnização por incumprimento, se for um contrato sinalagmático
pode exercer as alternativas conferidas ao credor (excepção de não cumprimento ou
resolução por incumprimento);
2. Danos exteriores: a indemnização por esses danos é completamente exterior ao dever
de efectuar a prestação, pelo que parece que pode ser cumulada com a acção de
cumprimento.

21. O cumprimento Imperfeito

Deveres acessórios

Cumprimento imperfeito é um incumprimento.


1. Violação dos deveres acessórios;
2. Realização inexacta da prestação principal.

Cumprimento inexacto da prestação principal

Há cumprimento ou prestação inexacta sempre que chegando o prazo para a sua execução,
esta seja efectivada em termos que não correspondam à conduta devida (insuficiência; má
qualidade).

O credor pode recusar a prestação – 763º/1 (783º/1).

Quando o credor recuse justificadamente o cumprimento por defeito da prestação segue-se o


regime do cumprimento retardado ou do incumprimento definitivo. Se a recusa for
injustificada, verifica-se uma previsão de mora do credor.

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