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PREVENÇÃO À LAVAGEM DE DINHEIRO E AO FINANCIAMENTO DO

TERRORISMO (ENAP/EV.G)
quarta-feira, 3 de janeiro de 2024 09:29

Módulo 1 - Conhecendo o Tema PLD/FT

• Estima-se que cerca de 2%-5% do PIB mundial são "lavados" anualmente.


• Estes recursos retroalimentam a indústria do crime, pois são utilizados para acobertar sua origem (tráfico, desvio de $ público, etc.)
• A lavagem de dinheiro pode gerar danos micro e macroeconômicos, podendo desestabilizar setores da economia e o SF dos países.
• Conceito: lavagem de dinheiro é um "método" utilizado para disfarçar a origem ilegal do $ obtido através de atividades ilícitas. Em resumo, dar
uma aparência lícita ao produto do crime.
• Os lucros gerados por essas atividades ilícitas são mascarados através de outras atividades que chamam menos atenção, os criminosos usam
nomes de outras pessoas, adquirem bens, movimentam o dinheiro para outro local.
• Etapas do processo de lavagem de dinheiro:
COLOCAÇÃO OCULTAÇÃO INTEGRAÇÃO
Distanciar o $ da origem ilícita Disfarce das movimentações para Disponibilização do $ novamente para o
dificultar o rastreamento criminoso.
Colocar o $ no sistema econômico formal por
meio de depósitos em contas no exterior onde Quebrar a cadeia de evidências para Ativos que aparentam ter origem legal são
as leis são menos rígidas, por exemplo, compra dificultar investigações sobre a origem do incorporados formalmente ao sistema
de bens, fracionamento do valor total, utilização $. Transferência eletrônica de $ entre econômico. Organizações criminosas
de estabelecimentos comerciais que trabalham constas anônimas (anonymous bank procuram investir em negócios que facilitem
com dinheiro em espécie. account oferecidas por alguns bancos suas operações, podendo essas empresas
offshore) ou em contas abertas em nomes interagir entre si. Essas conexões facilitam a
de "laranjas" ou até mesmo empresas legalização de dinheiro ilegal.
fictícias.

• Setores suscetíveis de serem utilizados para lavagem de dinheiro:


○ Mercados Organizados de Valores Mobiliários (Bolsa e Balcão): ampla liquidez, agilidade nas operações, competição entre corretoras
(DTVM);
○ Instituições Financeiras: transferência de recursos, financiamentos ou operações complexas de compra e venda de ativos a distância de 1
clique;
○ Mercado Imobiliário: preferência por transações em espécie, subjetividade na precificação de imóveis, possibilidade de inflacionar valores;
○ Seguro, Capitalização e Previdência Privada Aberta: segurados apresentando sinistros falsos, transferência de propriedade de títulos de
capitalização, inscrição de pessoas falecidas em planos de previdência;
○ Jogos e Sorteios: manipulação de premiações, compra de bilhete premiado com valor superior ao prêmio;
○ Internet e Comércio Eletrônico: compras e pagamentos "falsos" --> a partir disto, foi promulgada a Lei 12.865 (regime jurídico básico das
instituições de pagamento);
○ Paraísos Fiscais: oferecem alíquotas de tributação baixas ou nulas, sigilo bancário absoluto;
○ Paraísos Jurídicos: não cumprem requisições de outros países para a prática de diligências judiciais, não extraditam e não fazem acordos de
compartilhamento de informações;
○ Offshores (centros financeiros): tributação baixa ou nula, regulamentação frouxa, regras mais severas de segredo bancário e anonimato;
○ Outros setores Vulneráveis: comércio de obras de arte, antiguidades, joias, pedras e metais preciosos, bens de luxo.

• Gerações de Leis de Lavagem de Dinheiro:


○ Primeira Geração: considera apenas o tráfico de drogas como crime antecedente;
○ Segunda Geração: rol de crimes antecedentes (crimes graves);
○ Terceira Geração: dinheiro "sujo" associado a qualquer infração penal antecedente.
• Quando há operação em espécie com valor >= a R$30.000 o COAF deve ser notificado

Módulo 2 - A evolução histórica do tema PLD/FT

• Alguns rumores dizem que a lavagem de dinheiro começou nos tempos bíblicos com Ananias e Safira na venda de um imóvel, outros dizem que foi
com os chineses há mais de 3.000 anos para proteger seus lucros do apetite tributário dos governantes.
• Atualmente, associamos a mafiosos italianos e americanos.
• Edição do Decreto-Lei nº 59, em 21 de março de 1978, que “incriminou a substituição de dinheiro ou de valores provenientes de roubo
qualificado, extorsão qualificada ou extorsão mediante sequestro por outros valores ou dinheiro” ==> Governo Italiano.
• EUA: 1919 "Lei Seca" proibiu venda e transporte de bebidas com mais de 0,5% de álcool, estimulando a produção clandestina comandada por
organizações criminosas (Al Capone).
• Os lucros obtidos era misturados aos recursos oriundos de negócios legítimos, como lavanderias e lava-jato.
• Com a queda da Lei Seca, o crime organizado voltou-se para jogos e tráfico de drogas. Em 1970 foi criada a Lei do Sigilo Bancário em que as
instituições deveriam comunicar ao governo transações com valor acima de US$10.000;
• Em 1988 a ONU reuniu na Convenção de Viena (contra o tráfico ilícito de entorpecentes e substâncias psicotrópicas, surgindo o primeiro
instrumento jurídico a definir a obrigatoriedade da criminalização da lavagem de dinheiro pelos Estados Membros.
• Em 1989 foi criado o Grupo de Ação Financeira sobre Lavagem de Dinheiro (do inglês FATF) com o dever de examinar as técnicas e as tendências
da lavagem de dinheiro e estabelecer medidas necessárias ao seu combate e prevenção.

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• O GAFI (FATF) com o passar dos anos desenvolveu diretrizes para prevenção à PLD, atualmente existem 40 recomendações. Os objetivos principais
do GAFI são:
○ Monitorar o progresso dos países membros na implementação das Recomendações do
GAFI;
○ Analisar as técnicas e contramedidas de lavagem de dinheiro e financiamento do
terrorismo;
○ Promover a adoção e a aplicação das Recomendações do GAFI em todo o mundo.

Módulo 3 - O sistema brasileiro de PLD/FT

• Desde 1988 (Convenção de Viena) e, em 1991, ratificando por meio do Decreto Nº 154, o Brasil vem atuando na prevenção à PLD/FT.
• A atuação foi reafirmada em 1998, por meio da Lei nº 9.613, dispondo sobre crimes de LD/FT, se tornando um divisor de águas.
• Criação do COAF com a finalidade de:
a) Requerer informações cadastrais bancárias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades
suspeitas;
b) Receber e analisar comunicações de operações e transações financeiras determinadas por
normas reguladoras;
c) Disseminar informações de inteligência e de situações suspeitas; e
d) Disciplinar e aplicar penas administrativas.
• Em 2012 alterações foram promovidas pela Lei nº 12.683:
○ Extinção do rol taxativo de crimes antecedentes, admitindo-se como antecedente da
lavagem de dinheiro qualquer infração penal;
○ Inclusão das hipóteses de alienação antecipada e outras medidas assecuratórias que
garantam que os bens apreendidos não sofram desvalorização ou deterioração;
○ Inclusão de novos sujeitos obrigados, tais como cartórios, profissionais que exerçam
atividades de assessoria ou consultoria financeira, representantes de atletas e artistas,
feiras, comerciantes de bens de luxo ou de alto valor, dentre outros;
○ Aumento do valor da multa para até R$ 20 milhões.

• No Brasil, a questão do terrorismo foi tratada pela Lei nº 13.260, de 2016, que tipifica o terrorismo, trata de disposições investigatórias e
processuais e reformula o conceito de organização terrorista.
• Já a Lei nº 13.810, de 2019, traz a previsão legal para a indisponibilidade de ativos de pessoas naturais e jurídicas e de entidades investigadas ou
acusadas de terrorismo, de seu financiamento ou de atos a ele correlacionados.
• O Coaf foi criado por meio da Lei nº 9.613, de 1998, como o órgão responsável por disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e
identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas na lei.

Módulo 4 - As pessoas obrigadas e o que se espera delas

 As chamadas pessoas obrigadas estão listadas no art. 9º da Lei nº 9.613, de 1998, e constituem um rol bem extenso:
○ As entidades e atividades sujeitas a obrigações específicas relacionadas à captação, intermediação e aplicação de recursos financeiros,
compra e venda de moeda estrangeira ou ouro, custódia, emissão, distribuição, entre outras operações financeiras.
○ Essas obrigações se aplicam a diversas instituições, como bolsas de valores, seguradoras, administradoras de cartões de crédito, empresas
de leasing e factoring, além de filiais estrangeiras operando no Brasil e entidades dependentes de autorização regulatória.
○ Também inclui pessoas físicas ou jurídicas envolvidas em atividades como venda de imóveis, joias, bens de luxo, assessoria em transações
financeiras e serviços ligados a eventos desportivos ou artísticos.
○ Empresas de transporte de valores e entidades relacionadas à comercialização de bens rurais também estão abrangidas, assim como as
dependências no exterior de entidades mencionadas, ligadas a residentes no Brasil.
 O Estado tem a competência de fiscalizar e punir aqueles que não cumprem as obrigações descritas na Lei 9.613.
 Obrigações:
○ Cadastro junto ao órgão regulador ou fiscalizador e, na falta deste, no COAF;
Identificação de clientes - Conheça seu Cliente - Minimizar o risco de PLD;

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○ Identificação de clientes - Conheça seu Cliente - Minimizar o risco de PLD;
○ Manutenção de cadastro de clientes - Base sempre atualizada;
○ Registro de operações - Cada setor tem suas particularidades, mas em geral todos devem ter registro do bem vendido/serviço prestado, dos
valores envolvidos, da forma e do meio de pagamento. O registro de operações destina-se a cumprir uma regra básica de prevenção à
lavagem de dinheiro: “siga o dinheiro”. Por meio deste princípio, busca-se identificar a origem e o destino dos recursos financeiros de
origem criminosa, além de dar subsídio à pessoa obrigada para comunicar operações ao COAF;
○ Monitoramento de operações - Oportunidade de monitorar e mitigar riscos. Parâmetros:
 Ocupação;
 Renda;
 Situação patrimonial;
 Qualificação como pessoa exposta politicamente (PEP);
 Frequência das operações;
 Pagamentos em espécie;
 Identificação da origem dos recursos;
 Identificação do beneficiário final;
 Resistência ao fornecimento de dados para identificação;
 Informações de mídia;
 Ranqueamento de risco de cliente.
○ Comunicação ao COAF (com justificativa) através do sistema Siscoaf:
 Operações suspeitas (possam constituir-se em sérios indícios dos crimes previstos na Lei 9.613, ou com eles relacionar-se) em até 24h;
 Operações em espécie; e
 Não ocorrência de não ocorrência de propostas, transações ou operações passíveis de serem comunicadas (Declaração Negativa).
 Operações em espécie e acima de R$30.000 (dependendo do segmento) devem ser comunicadas sem análise prévia, não impedindo,
no entanto, a consolidação da operação.

 Políticas e procedimentos de PLDFT:


○ KYC (contempla também registro de condição de PEP - aquele indivíduo que desempenha ou desempenhou função pública relevante):
 A lista de PEP pode ser acessada pelas pessoas cadastradas no Siscoaf, por meio da funcionalidade Consultas > Relação de PEP.

○ KYE
○ KYC
○ KYS
○ Monitoramento e detecção de indícios de operações suspeitas
 Cruzamento de dados em busca de sinais de alerta:
□ Incompatibilidade entre ocupação e renda;
□ Incompatibilidade entre situação patrimonial e operações realizadas;
□ Frequentes operações realizadas em espécie;
□ Fracionamento de pagamentos;
□ Pagamentos realizados por terceiros;
□ Compra de bens em nome de terceiros;
□ Tentativa de burla na identificação de envolvidos;
□ Frequência das operações realizadas com clientes de "alto risco";
□ Cliente domiciliado em país não cooperante às normas PLDFT;
□ Relacionamento em notícias de mídias.

O monitoramento não é o fator determinante na decisão pela comunicação de operações à Unidade de Inteligência Financeira, e sim
subsídio para sua tomada de decisão.

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○ Treinamento de pessoal em PLD
 Além de treinar toda a equipe, é importante ter uma pessoa/grupo para identificar e estabelecer ações para prevenção, tratamento e
comunicação de operações financeiras suspeitas (geralmente analista de compliance).
○ Identificar riscos (AIR)

 Criação de produtos/serviços:
○ Estudos prévios habituais + perspectiva de utilização em ilícitos financeiros

 Consequência de não cumprimento da Lei


○ Há fiscalização de atendimento à Lei para pessoas obrigadas;
○ Sanções:
 Advertência;
 Multa pecuniária variável não superior:
a) Ao dobro do valor da operação;
b) Ao dobro do lucro real obtido ou que seria obtido pela realização da operação;
c) Ao valor de R$20.000.000,00 (vinte milhões de reais).
 Inabilitação temporária, pelo prazo de até dez anos, para o exercício do cargo de administrador das pessoas jurídicas referidas no art.
9º da Lei 9.613;
 Cassação ou suspensão da autorização para o exercício de atividade, operação ou funcionamento.

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