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O INTERESSE COMERCIAL DO SISTEMA FINANCEIRO NO CRIME DE


LAVAGEM DE DINHEIRO

THE COMMERCIAL INTEREST OF THE FINANCIAL SYSTEM IN MONEY


LAUNDERING CRIME

Marcos Augusto Olivotto Martins1

RESUMO

Neste artigo, trataremos do interesse comercial do sistema financeiro nacional ao


crime de lavagem de dinheiro. O objetivo é abordar a forma como as organizações
criminosas operam em instituições financeiras, gerando interesse comercial nas
mesmas e também margem para que uma grande quantidade de recurso proveniente
de crime ainda passe pelo nosso sistema contribuindo diretamente para a prática do
crime de lavagem de dinheiro. Trataremos de possíveis alterações legislativas que
venham frear condutas dessas organizações. Abordaremos de forma rápida sobre a
estrutura do crime de lavagem de dinheiro e seu histórico, para entendermos em que
fase do crime as organizações criminosas ou agentes criminosos isolados atuam e
em que momento precisam de uma instituição financeira, pois trata-se de um crime
de grande potencial destrutivo econômico que merece a devida atenção em todas as
suas vertentes afim de buscarmos possíveis soluções.
Palavras-Chave: Sistema Financeiro. Instituições Financeiras. Lavagem de dinheiro.
Interesse Comercial.
ABSTRACT

In this article, we will approach the commercial interest of the national financial system
to the crime of money laundering. The objective is to approach the way in which
criminal organizations operate in financial institutions, generating commercial interest
in them and also margin for a large amount of resources from crime still pass through
our system contributing to the practice of the crime of money laundry. We will deal with
possible legislative changes that stop the conduct of these organizations. We will
briefly discuss the structure of the money laundering crime and its history to understand
at what stage of the crime the criminal organizations or criminal agents operate and
when they need a financial institution because it is a crime of great economic
destructive potential which deserves attention in all its aspects to find possible
solutions.
Keywords: Financial System. Financial Institution. Money laundry. Commercial
Interest.

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Acadêmico do 10° Período do Curso de Direito do Unicuritiba. E-mail: Marcosolivotto@hotmail.com
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1 INTRODUÇÃO

Quando falamos em lavagem de dinheiro, falamos de um crime


extremamente complexo, silencioso, que passa nas mais diversas operações
possíveis, afim de dar aparência lícita a bens e valores cuja origem, são ilícitas.
Muito variada são essas operações, podendo ser compra de imóveis,
automóveis, aplicações financeiras, compra de joias e muitos outros bens e serviços
que podem dar a tão buscada aparência lícita a recursos cuja origem derivam de
crime.
Mesmo com um aparato aparentemente grande para combate e
prevenção do crime de lavagem de dinheiro, o país ainda sofre com tal prática, e esse
estudo aborda possíveis situações que facilitam que esses recursos ainda transitam
em nosso sistema financeiro, possibilitando a lavagem de valores astronômicos dentro
do Sistema Financeiro Nacional.
Não trata se aqui de buscar culpados, mas sim, enfrentar situações que
ocorrem na prática, e buscar soluções para pequenas falhas que podem estar
acontecendo dentro do sistema.
A importância de enfrentarmos tal situações, é que o crime de lavagem
de dinheiro, possui grande relevância econômica, é um crime cujo impacto econômico
é muito grande para o sujeito passivo do crime, que é a sociedade.
Tais impactos foram abordados no trabalho O Impacto Social do Crime de
Lavagem de Capitais, em que abordou características do crime, seus sujeitos, suas
fases, atuações de órgãos como a Polícia Federal e outros, e também o impacto social
trazido pela pratica delituosa do crime.
O Sistema Financeiro Nacional, ainda constitui um forte instrumento das
organizações criminosas, afim de praticarem a lavagem de dinheiro. Montantes
relevantes ainda passam por bancos, e corretoras, de forma livre, contribuindo
consideravelmente, para que ainda tenhamos essa prática dentro de nosso sistema,
impactando a sociedade, mas gerando grandes lucros a grandes instituições
financeiras, visto que grandes organizações criminosas ou quem atua no crime,
apresenta forte perfil para aquisição de produtos e serviços dessas instituições,
gerando grande interesse comercial das mesmas, possibilitando as organizações
criminosas, movimentarem milhões, mesmo que de maneira culposa, ou seja, mesmo
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as instituições financeiras não sabendo diretamente que tais valores, são provenientes
de crime.

2 O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO

O crime de lavagem de dinheiro, possui sua origem histórica na China,


e teria ela iniciado a mais de 3.000 (três mil anos), Diz Robson Fernandes: Há
vestígios da referida pratica há mais de três mil anos na China, quando a ocultação
era dotada por alguns mercadores na tentativa de proteger seus bens contra quem
detinha poder (FERNANDES 2019, p.27).
Tal prática, foi amplamente pratica nos EUA, e um dos nomes mais
conhecidos que concretizaram tal pratica foi Al Capone, em 1928, quando fez a
compra de uma rede de lavanderias do tipo laundromatics (modalidade de lavanderias
self-service, pois não precisam de funcionários para operação das maquinas), afim de
dar aparência lícita de recurso cuja origem, eram de crimes como corrupção, tráfico
de bebidas, e outros ilícitos.
No Brasil, o crime de lavagem de dinheiro foi tipificado através da
aprovação da lei 9.613 de 3 de março de 1998, após o Brasil ter assinado a
Convenção de Viena.
Diz André Luís Callegari:

No Brasil, a expressão utilizada para definir o delito aqui tratado é Lavagem


de Dinheiro.4 A palavra lavar vem do latim lavare, e significa expurgar,
purificar, reabilitar,5 daí a ideia de tornar lícito o dinheiro advindo de
atividades ilegais e reinseri-lo no mercado como se lícito fosse. Levando em
conta que o delito representa a “transformação”, outros países utilizam
palavras que etimologicamente significam limpeza. (CALLEGARI 2017, p. 7).

O crime em si, consiste em uma prática delituosa, em que o agente afim


de dar aparência lícita a valores provenientes de crimes, buscam formas para driblar
os órgãos fiscalizadores, afim de inserir esses bens e valores no mercado com
aparência lícita. Diz Marcelo Batlouni Mendroni:

Lavagem de dinheiro poderia ser definida como o método pelo qual um


indivíduo ou uma organização criminosa processa os ganhos financeiros
obtidos com atividades ilegais, buscando trazer a sua aparência para obtidos
licitamente. (MENDRONI 2018, p. 20).
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Maria Balbina Martins Rizzo define de tal forma:

Esse processo, chamado lavagem de dinheiro, é conduzido pelos crimi-nosos


que se utilizam de técnicas e artifícios para distanciar ao máximo os recursos
de sua origem ilícita, eliminando as possibilidades de rastreamento. Faz
sentido, já que todo o dinheiro ganho de modo lícito ou ilícito deve
ter um destino: ser gasto, investido ou guardado. No caso de ser gerado por
atividade ilícita, precisará ser gasto sem atrair a atenção das autoridades, ou
seja, “legitimado”, permitindo sua utilização sem provas da ilicitude (RIZZO
2016, p. 22).

Desta forma, o principal foco dos agentes que praticam tal crime, é inserir
no mercado com aparência lícita, bens e valores provenientes do crime, motivo o qual,
fazem compra de joias, carros, casas, obras de arte, patrocínios, e também o mercado
financeiro.
Grande avanço em relação ao crime, aconteceu com a aprovação da lei
12.683/12, em que alterou o rol taxativos de crimes antecedentes, admitindo agora
como crime antecedentes, todas as condutas previstas em nosso código penal.
A doutrina majoritária e os órgãos fiscalizadores, destacam 3 fases do
crime de lavagem de dinheiro, são fases que ajudam a detectar e compreender de
forma mais clara, em que fase o caso concreto encontra se.
Nesse diapasão, diz Rodrigo Sánchez Rios:

Sabido que uma das maiores dificuldades na luta contra o delito de lavagem
advém de seu complicado polimorfismo18. À exaustão, a doutrina, acolhendo
o modelo explicativo do Grupo de Ação Financeira (GAFI)19, destaca os
ciclos do branqueamento20, distinguindo objetivamente três etapas: i) da
colocação (placement); ii) da dissimulação dos ativos (layering); e iii) da
integração dos bens, direitos ou valores à economia regular (integration).
Dessas três fases, o momento mais vulnerável para o agente do delito21 – e
no qual se pode impor um maior dever de prevenção – é o da primeira,
quando o agente tenta introduzir no sistema financeiro o produto do delito
precedente. Nesse diapasão, é compreensível que a medida inicial de
prevenção ao branqueamento de capitais seja a imposição ao sistema
bancário e às instituições de crédito – na função de garantidores do sistema
financeiro – um especial dever de diligência (due diligence) quando da
identificação do seu cliente e na comunicação de operações suspeitas. (RIOS
2016, p. 48).

A primeira fase trata se dá ocultação. É onde se inicia o processo, o foco


nesta fase, é fazer desaparecer a somas dos valores e bens, desvinculando os
mesmos, dos crimes que a originou.
Nessa fase, Maria Balbina Martins Rizzo define como sendo:
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É a disposição física dos recursos quando são inseridos no sistema


econômico por meio de técnicas que dificultam a identificação da sua
procedência. Esses valores podem ser introduzidos nos bancos por meio de
depósitos feitos por diversas pessoas em várias contas, em pequenas
quantias, em determinado período de tempo e que, individualmente, não
geram suspeitas. Essa técnica é conhecida como smurfing e seu objetivo é
driblar o controle dos bancos ao fragmentar os valores depositados a fim de
não alcançar o valor que obrigatoriamente deveria ser comunicado às
autoridades. Nesta fase, também é utilizada a técnica de misturar recursos
lícitos, originados por alguma atividade legítima, com os ilícitos, sem a
possibilidade de descobrir os recursos que são ilegais, uma vez que o
dinheiro em espécie não apresenta “carimbos”, que atestem sua origem. A
técnica chama-se commingling ou mescla. Outras formas podem ser:
conversão dos recursos ilícitos em moeda estrangeira, compra de
instrumentos negociáveis, compra de bens imóveis, obras de arte, entre
outra. (RIZZO 2016, p. 22).

Normalmente, nessa fase, as organizações criminosas, ou agentes


criminosos, utilizam atividades comerciais, pois são mais acessíveis, pode ser
instituições financeiras bancárias, e não bancárias, e várias outras atividades
comerciais.
É nessa etapa também, em que tais valores ou montantes, são fatiados
em quantias menores, afim de que não precisem ser justificados ao Banco Central do
Brasil (BACEN).
Aqui também pode ser utilizado aplicações financeiras, de pessoas
físicas e jurídicas, tanto no Brasil como em outros países, e também empresas que
desempenham atividades comerciais que possuem um fluxo de dinheiro maior, que
possuem maior porcentagem de fluxo de caixa, em dinheiro físico.
André Luís Callegari, diz que essa fase:

Esta é a fase inicial da lavagem, momento em que os criminosos pretendem


fazer desaparecer as grandes somas que suas atividades ilegais geraram,
separando os ativos da ilegalidade. Durante a colocação os delinquentes
estão mais vulneráveis, eis que as autoridades estão focadas nesse
movimento financeiro inicial, quando muito dinheiro é convertido, facilitando
a descoberta. (CALLEGARI 2017, p.20).

A próxima fase, é a dissimulação. Conhecida também como acomodação,


estratificação ou escurecimento, nessa fase o dinheiro ou o bem, perde sua relação
com a atividade criminosa, perdendo então seu caráter ilícito.
O objetivo nessa fase, é camuflar o dinheiro, através de operações
financeiras, transferências bancárias, e muitas outras operações, com intuito de
dificultar o rastreamento e fiscalização dos recursos.
Marcelo Batlouni Mendroni, define essa fase como:
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Nessa segunda etapa, o agente desassocia o dinheiro de sua origem –


passando-o por uma série de transações, conversões e movimentações
diversas. Tanto mais eficiente a lavagem quanto mais o agente afastar o
dinheiro de sua origem. Quanto mais operações, tanto mais difícil a sua
conexão com a ilegalidade e tanto mais difícil a sua prova. Se por um lado a
realização de diversas operações (transações financeiras, movimentações
etc.) é muito mais custosa e traduz significante prejuízo decorrente de cada
uma delas, é meio que se afigura mais seguro pela “distância” que o agente
lavador atribui ao dinheiro, bem ou valor – produto de crime. (MENDRONI
2018, p. 72).

A última fase é a integração. Nesta fase, o dinheiro ou bem, já não possui


nenhuma relação com a atividade criminosa, nessa fase, as organizações e os
agentes criminosos, buscam justificativas para que esse bem ou valor tenha aparência
lícita.
É nessa fase também, que organizações criam empresas de faixadas, e
que prestam serviços entre sim, formando uma grande rede criminosa, complexa e
organizada.
Nessa fase, Marcelo Batlouni Mendroni define:

O agente cria justificações ou explicações aparentemente legítimas para os


recursos lavados e os aplica abertamente na economia legítima, sob forma
de investimentos ou compra de ativos. Nesta última etapa, o dinheiro é
incorporado formalmente aos setores regulares da economia. Essa
integração permite criar organizações de fachada que prestam serviços entre
si. As organizações criminosas buscam investir em negócios que facilitem
suas atividades e, uma vez formada a cadeia, torna-se cada vez mais fácil
legitimar o dinheiro ilegal. Integração é, portanto, o estágio final para a
transformação de dinheiro sujo em dinheiro aparentemente lícito.
(MENDRONI 2018, p. 41).

Essas fases, são definidas afim de facilitar o estudo, e também o rastreio, mas
na prática, tais fases não ocorrem necessariamente nesta ordem, podendo as
mesmas ocorrerem de forma concomitante.
Além de grande parte do dinheiro lavado ser proveniente de tráfico de drogas,
e outros delitos, o Brasil vai na contra mão do mundo. O maior volume de dinheiro
lavado no mundo, é proveniente do narcotráfico, já em nosso país, grande parte do
volume lavado, é proveniente de corrupção, muitas vezes ligados a servidores
públicos, abrangendo um rol de crimes que pode ser: Suborno, propina, peculato,
extorsão, concussão, tráfico de influência, nepotismo, apropriação indébita, e assim
por diante.
Nesse contexto diz Maria Balbina Martins Rizzo:
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O crime de corrupção está totalmente atrelado à lavagem de dinheiro,


uma vez que os bens adquiridos por meio podem não ser integralmente
usufruídos se não forem colocados e integrados ao sistema financeiro de uma
maneira que não levante suspeita sobre sua origem, promovendo o
enriquecimento do corrupto. A corrupção é mais comumente reconhecida
quando os servidores públicos transformam suas obrigações funcionais em
“favores pessoais”, que requerem pagamentos indevidos em benefício
próprio, independentemente de qual seja a moeda de troca. (RIZZO 2016, p.
62).

E continua:

Porém sua caracterização é mais ampla, pois inclui crimes conexos como
suborno e propina, peculato, extorsão, concussão, tráfico de influência,
nepotismo, apropriação indébita, utilização de informação privilegiada para
fins pessoais, compra e venda de sentenças judiciais ou qualquer outro
desvio de recursos por parte de um funcionário público. (RIZZO 2016, p. 62).

Tais crimes, podem ser articulados também, por grandes organizações


criminosas, que atuam conjuntamente com tais servidores.

3 O INTERESSE COMERCIAL DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Quando falo no interesse comercial do sistema financeiro, isso pode


acontecer de forma culposa ou dolosa, ou seja, pode ser que a instituição não saiba
que está sendo utilizada para a prática, e também pode ser que a mesma saiba que
está sendo utilizada, e nesse contexto se omiti.
Ao falar no sistema financeiro, é preciso falarmos nos bancos. São eles
os principais personagens desse grande sistema, e é através deles, que grandes
operações acontecem.
Diz Maria Balbina Martins Rizzo:

No Brasil, a atividade bancária está protegida por regulação forte e


fiscalização rigorosa do Banco Central, que se utiliza de padrões de
prevenção emanados por órgãos e convenções internacionais, introduzidos
no ordenamento jurídico interno. Nessa mesma medida, é o setor mais
afetado e utilizado nos processos de lavagem de dinheiro. Grande parcela
dos recursos ilícitos passa por ele na etapa da colocação, mudam a forma na
fase da ocultação e, por meio dele, integram-se ao sistema econômico no
final do processo. (RIZZO 2016, p. 44).

Dentro dessas instituições, temos o chamado compliance que são


padrões e produtos, relacionado com a política do conheça seu cliente, afim de
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conhecer melhor o cliente, seu perfil, e alimentar os sistemas, para rastreio de


operações que não sejam condizentes com o perfil do cliente.
Nas palavras de André Castro de Carvalho, compliance pode ser
definido:
Em resumo, de forma literal, o termo compliance tem origem no verbo inglês
to comply, que significa agir de acordo com a lei, uma instrução interna, um
comando ou uma conduta ética, ou seja, estar em compliance é estar em
conformidade com as regras internas da empresa, de acordo com
procedimentos éticos e as normas jurídicas vigentes5. No entanto, o sentido
da expressão compliance não pode ser resumido apenas ao seu significado
literal. Em outras palavras, o compliance está além do mero cumprimento de
regras formais. Seu alcance é muito mais amplo e deve ser compreendido de
maneira sistêmica, como um instrumento de mitigação de riscos, preservação
dos valores éticos e de sustentabilidade corporativa, preservando a
continuidade do negócio e o interesse dos stakeholders. (CARVALHO 2020,
p. 39).

Com o passar dos anos, os bancos vêm sofrendo forte mudança em sua
atuação. Atualmente, por forte pressão de acionistas, tais instituições cada vez mais,
vem buscando lucros bilionários a todo custo, tendo boa parte de sua receita, em
venda de produtos e serviços e também, modalidades de empréstimos.
Essa é a grande questão.
Quando analisamos as organizações criminosas, nos deparamos com
grandes sistemas criminosos, extremamente organizados, e separado por vários
setores. Seus membros sabem, que ter uma instituição financeira em que possa fazer
suas operações é extremamente importante para todo o processo de lavagem de
dinheiro.
A aproximação com essas instituições, ocorrem de forma gradual, e
muito bem estruturada. Através de pessoas com bom trato, as organizações iniciam
as conquistas com as instituições, e esse processo não acontece da noite para o dia.
Muitas vezes, quando falamos em grandes organizações criminosas,
falamos em meses ou até mesmo em anos, para uma completa conquista.
Todo esse processo, se inicia geralmente com pessoas que possuem
nome “limpo” no mercado, com uma quantidade muito menor de operações. Na
sequência, o mesmo começa a fazer aquisição de produtos e serviços nas instituições,
o que gera uma reciprocidade interna, entre cliente e banco.
Esse processo, vai se desenvolvendo, muitos produtos e serviços são
adquiridos no decorrer do processo, gerando confiança.
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Já com uma certa confiança, conta das empresas que fazem parte das
organizações criminosas também são abertas, e possuem o mesmo perfil de
conquista, adquirindo muitos produtos e serviços, gerando também, confiança com a
instituição. Essas empresas muitas vezes são de fachadas, que podem ser definidas
segundo Marcelo Batlouni Mendroni:

À semelhança da empresa de fachada, e mais pela diferenciação técnica de


terminologia, a empresa fictícia existe somente no papel, tão somente.
Checando-se a eventual existência do prédio naquele logradouro e número
registrados na Junta Comercial, constatar-se-á a sua inexistência. Não
haverá imóvel algum naquele número, ou muitas vezes sequer o número
existirá naquela rua, ou então existirá outra empresa, totalmente dissociada
das propostas da tal “empresa”, ou mesmo poderá tratar-se de imóvel
residencial de pessoa absolutamente inocente e desconhecedora da situação
“falsa” daquela fictícia.
Assim, o agente movimenta o dinheiro em nome da empresa, mas ela na
verdade não existe fisicamente. Diferentemente da empresa fachada que
existe fisicamente, esta está somente constituída em papel.23 Na prática,
entretanto, empresa de fachada e empresa fictícia funcionam da mesma
forma para a prática de lavagem de dinheiro. (MENDRONI 2018, p. 216)

Essa conquista não ocorre somente com a compra de produtos ou


serviços, mas também através de aplicações financeiras, câmbio, e outras operações,
podendo inclusive extrapolar a esfera interna do banco, como promoção de
churrascos, jantares etc.
Com a conquista feita, as organizações operam dentro das instituições,
operando com contas de pessoas físicas, e jurídicas, e dessa forma passam valores
bilionários dentro do sistema financeiro nacional.
O processo de aquisição de produtos e serviços não param após
conquista, o que gera lucro para as instituições financeiras.
Esse processo acontece na grande maioria das vezes, na fase de
ocultação, onde o foco, é fazer desaparecer as somas dos valores e bens, dos crimes
que originou tais recursos.
Inevitável é, não pensar no risco de imagem que os bancos correm, e tal
questionamento vem a luz, porque?
O crime compensa.
Quando falamos em risco de imagem de uma empresa, falamos de tudo
aquilo que pode ser destruído em pouco tempo, seja através de um escândalo, seja
através de algum evento especifico, enfim, de tudo aquilo que pode vir a prejudicar a
marca, o nome da empresa.
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Falando em banco, automaticamente estamos falando em lucro, receita,


spread, e tais risco são analisados matematicamente.
O crime de lavagem de dinheiro é complexo, de difícil detecção, o que
torna mais fácil a obtenção de lucro dessas operações. A preocupação principal é a
obtenção de lucros sobre esses valores, por isso o crime compensa.
Além do mais, veremos a seguir, que o crime de lavagem de dinheiro no
Brasil, não admite a modalidade culposa a terceiros, apenas admite a modalidade
dolosa.
Não que esteja errado, até acredito que tendo apenas a modalidade
dolosa no crime, não gera margem de erro, não coloca risco ao processo justo,
obedecendo as garantias constitucionais.
O grande problema é que os bancos também sabem disso, e se
aproveitam, ainda mais quando é perfil de clientes que dão muito lucro, dão
pouquíssimo trabalho, apenas querem a liberdade de operarem à vontade.
Esse fenômeno acontece, porque muitas vezes o monopólio de decisão
de apontar determinado cliente, está com a instituição e isso que não pode acontecer.
Quando refiro a monopólio de decisão, é a situação em que já existem
alertas internos, que são facilmente burlados, seja pelo próprio “cliente” ou seja pela
própria instituição.
Muitas vezes, o cliente já deu sinais claros de possíveis praticas, seja
através de movimentações fracionadas, seja através de depósitos em caixa
fracionados afim de burlar a regra do Banco Central, e outra circunstancias.
A regra é: na dúvida, não aponta. Pois não é viável perder clientes com
grandes potenciais financeiros, que dão grandes lucros as instituições, desta forma,
matem o lucro apenas fechando os olhos.

3.1 DOS MECANISMOS

Os bancos, dentre as instituições, é a mais fiscalizada. Quando falamos


em movimentação financeira em espécie, por força da lei 9.613/98 art. 11 e a circular
do BACEN 3.461/2009, valores superiores a R$ 10.000.00 (Dez mil reais), deverão
ser comunicadas ao BACEN.
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A circular 3.978/20 do BACEN, normatiza também a regulamentação das


comunicações aos órgãos, política de prevenção a lavagem de dinheiro,
procedimentos destinados ao programa conheça seu cliente e etc.
As instituições financeiras, fazer parte daquilo que chamamos de setores
obrigados.
A lei 9.613/98 em seu art. 9°, regulamenta todos os setores que são
obrigados, ou seja, que são obrigados a efetuarem a comunicação de operações
suspeitas ao UIF (unidade de inteligência financeira), vejamos a tabela:
Tabela 1 - Comunicações de Operações suspeitas

FONTE: Governo Federal – Conselho de Controle de Atividade Financeiras. (2020)

Ao analisarmos os bancos, percebemos um aumento no número de


comunicações feitas no ano de 2020 comparado ao ano de 2019.
O aumento possivelmente ocorreu, visto a mudança da circular 3.978 de
23 de janeiro de 2020 expedida pelo BACEN, que determinou a intensificação dos
registros de operações financeiras nas instituições, e também a mudança da política
de identificação de depósitos em espécie, em que diminuiu para o valor superior a R$
2.000,00 a obrigatoriedade de identificação.
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Quando existe algum tipo de apontamento para os bancos, em relação


a movimentação de cliente, não existe norma que venha a exigir desse cliente,
comprovação de tal movimentação.
Na prática, quando entra algum valor expressivo na conta de cliente, o
mesmo poderá falar a origem do recurso conforme lhe convém, ou seja, se algum
recurso expressivo entra na conta do cliente, o mesmo poderá dizer que é venda de
veículo, imóvel etc.
No processo de conquista, as organizações criminosas já deixam perfis
de cliente traçados, a ponto de não gerar desconfiança quando determinadas quantias
entram em conta corrente, visto que, todo esse tempo de conquista, as transações
são crescentes, iniciando tímidas, e aumentando conforme aumenta confiança.
Quando iniciado a pratica da lavagem de dinheiro, o perfil já está traçado
internamente, não gerando desconfiança quanto aos valores.
Com essa lacuna, quando existem apontamentos de organizações
criminosas, os titulares ficam livres para falar o que lhe convém a instituição.
Já com confiança, a instituição não desconfia, pois já tem confiança no
“cliente”, e também um cliente com grande potencial lucrativo, o que financeiramente
é inviável para instituição criar situações que venham desagradar o cliente.
Com a falta de fiscalização forte, as operações apontadas se tornam
irrelevantes, a pensar em um quadro maior de crime. Por mais que seja um
mecanismo de prevenção, em grandes operações criminosas, se tornam vazias, não
tendo efetividade em seu resultado.
Para inibir essa conduta, é necessário que haja maior efetividade
legislativa sobre a matéria, principalmente nos quesitos comprobatórios.
No contexto atual, os bancos confiam 100% naquilo que o cliente fala.
Pensando em uma solução legislativa, é possível blindar o sistema
desse tipo de conduta criminosa. Se houver uma obrigatoriedade de comprovação
dessas operações, é possível tirar o monopólio de decisão de informar ou não tal
operação aos órgãos fiscalizadores dos bancos, e também apertando o cerco a
grandes organizações criminosas, visto que, todas as operações teriam que ser
obrigatoriamente comprovadas, retirando a liberdade que atualmente as mesmas
possuem no sistema financeiro atual.
No cenário atual, o sistema possibilita o preenchimento de informações
que muitas vezes são falsas, burlando todo sistema.
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Quando me refiro a uma solução legislativa, me refiro a criação de


norma, afim de obrigar todos os bancos, a captarem documentos que comprovem tais
operações.
Se um determinado valor entrar na conta de um cliente, através do
sistema do Banco Central, enviar por exemplo, um comunicado a instituição, afim de
esclarecer sobre a operação. Se o cliente falar que é a venda de uma casa, o mesmo
terá que apresentar a escritura de compra e venda do imóvel, se for venda de carro,
mostrar o recibo preenchido do veículo, e assim sucessivamente.
Caso não apresentado, informar a operação suspeita ao UIF (unidade
de inteligência financeira), afim de abrirem investigação, e verificarem possíveis
indícios e pratica do crime de lavagem de dinheiro.
Desta forma, é retirado das instituições financeira o monopólio de
decisão de apontar ou não determinado cliente, se houver prática do crime de lavagem
de dinheiro, obrigatoriamente em operações financeiras terá que ser apresentado
documentos que comprovem tais operações.
O fato de prestar conta, vai inviabilizar para as organizações criminosas
utilizar o sistema financeiro, pois tais informações não ficarão vinculadas apenas ao
que o cliente fala, e também não vai ficar vinculada à vontade ou não da instituição de
apontar determinado cliente.
Sobre a quebra de sigilo, acredito não haver. Quando da abertura de
contas, documentos são exigidos, inclusive Imposto de Renda, e também a
manutenção cadastral da conta de tempos em tempos. Quando falamos de apresentar
comprovantes de operações, falamos da operação especifica em que tais valores
estão transitando em conta, e não da vida financeira, do cliente.
Por isso acredito que, não haja nenhuma violação constitucional em
solicitar esses documentos, pois a instituição naquele momento é a administradora
daquele recurso, e tem por obrigação saber de tal movimentação.
Ao referir a organização criminosa, refiro aquela que possui
características doutrinarias definidas, que possuem características como: previsão de
lucros, hierarquia, divisão de trabalho, ligação com órgão estatais, planejamento das
atividades e delimitação de área de atuação, características o qual, já discutidas pela
doutrina.
Guilherme de Souza Nucci, define organização criminosa da seguinte
forma:
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Diante disso, a organização criminosa é a associação de agentes, com


caráter estável e duradouro, para o fim de praticar infrações penais,
devidamente estruturada em organismo preestabelecido, com divisão de
tarefas, embora visando ao objetivo comum de alcançar qualquer vantagem
ilícita, a ser partilhada entre os seus integrantes. Pode-se sustentar que a
organização criminosa tem a visível feição de uma empresa, distinguindo-se
das empresas lícitas pelo seu objeto e métodos ilícitos.2 Vamos além, com o
fito de demonstrar a inserção do crime organizado nas estruturas de poder
político do Estado. Seja qual for o objetivo da organização criminosa, a sua
atuação, em algum ponto e sob determinada medida, termina por se sustentar
pelo apoio de servidores públicos mancomunados e aliciados, integrantes do
esquema, direta ou indiretamente. (NUCCI 2021, P. 15).

Também define organização criminosa, a lei 12.850/13 em seu art. 1°,


§1° que diz:
Art. 1 § 1º. Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro)
ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de
infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos,
ou que sejam de caráter transnacional. (LEI 12.850/13, art. § 1°).

São grandes organizações, que possuem várias empresas atuando


entre si, operando através de grandes sistemas, que dificulta o rastreio e fiscalização.
Não apenas as organizações criminosas, a pratica do crime pode ser
feito por indivíduos isolados, ou até mesmo em situações que não haja uma
organização criminosa propriamente formada, mas possui indivíduo que pratica crime
e vislumbra o objetivo financeiro de tal conduta, esse perfil também pratica o crime de
lavagem de dinheiro.
Menciono muitas vezes as organizações criminosas, devido ao poderio
econômico que as mesmas possuem, pois frear, fiscalizar, combater as organizações
criminosas, amenizaria consideravelmente o impacto que tais operações podem
causar.
Mesmo enfatizando as organizações criminosas, saliento importante o
combate e prevenção de toda e qualquer operação, seja ela de organização criminosa
ou também de operações menores que também operam no sistema financeiro.

3.2 DOS CRIMES ANTECENDENTES

Ao falar em crime de lavagem de dinheiro, imprescindível falar da


alteração legislativa, através da lei 12.683/12.
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Falar em crime de lavagem de dinheiro, é falar também nos crimes


antecedentes, combater o crime de lavagem de dinheiro, é também ir ao encontro do
combate dos crimes antecedentes.
Com a alteração legislativa, todos os crimes tipificados em nosso Código
Penal, podem figurar como crimes antecedentes ao crime de lavagem de dinheiro, o
que é um avanço, visto que organizações criminosas, atuam em várias esferas
criminais.
Maria Balbina Martins Rizzo, frisa os crimes antecedentes em sua obra
Prevenção da lavagem de dinheiro das organizações, e salienta:

A lista de infrações penais geradoras de recursos ilícitos é longa: nar-


cotráfico, contrabando de armas e munições, de pessoas, de mercadorias e
de moeda, corrupção, fraude, roubo, estelionato, extorsão, sequestro, entre
outros, porém a ligação mais íntima e rentável da lavagem de dinheiro ainda
é com o tráfico de drogas ilegais, que sozinho detém mais da metade dos
recursos lavados no mundo. (NUCCI 2021, P. 57).

E continua:

O Brasil tem aumentado nos últimos anos sua participação nos negó-cios do
narcotráfico. Embora não seja importante produtor, é rota de dis-tribuição do
produto e provedor de alguns produtos químicos utilizados no refinamento da
base da droga. Também já serviu como base de ope-rações de alguns
narcotraficantes estrangeiros, a exemplo de Juan Carlos Ramirez Abadia,
que aqui ficou no anonimato durante dois anos, antes de ser preso. (NUCCI
2021, P. 57).

Muitos sãos os crimes que podem possuir características antecedentes


ao crime de lavagem dinheiro, o que torna de grande importância tanto o combate ao
crime de lavagem como também os antecedentes.

4 TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA

Ao falar de possíveis falhas das instituições bancarias, é importante


abordar a teoria da cegueira deliberada. Existem situações como a que foi
mencionada acima, em que as instituições sabem das origens, em outras situações
as mesmas desconfiam de certas operações, e em outras as mesmas não sabem.
A teoria da cegueira deliberada, diz respeito a responsabilização
criminal, daqueles que evitam o conhecimento sobre o caráter ilícito do fato ao qual
contribuíram ou concorreram.
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Existem alguns países, que recepcionam o dolo eventual no crime de


lavagem de dinheiro, são os países da civil law. Os EUA aplicam a teoria da cegueira
deliberada em seu ordenamento.
Já no Brasil, o crime de lavagem de dinheiro, é tipo subjetivo doloso e
não recepciona nenhuma hipótese de punição por culpa, ou seja, não admite
responsabilidade penal objetiva em matéria de lavagem de dinheiro.
Nesse contexto diz André Luís Callegari:

O delito de lavagem de dinheiro é de tipo subjetivo exclusivamente doloso,


restando afastada qualquer hipótese de punição por culpa. Isso importa dizer,
como assevera Bottini, que o ordenamento jurídico brasileiro não admite
responsabilidade penal objetiva em matéria de lavagem, configurando
relevante garantia de imputação subjetiva que somente permitirá a
responsabilização de agente que possua “relação psíquica” com os eventos
do caso concreto. (CALLEGARE 2017, p. 11).

Marcelo Batlouni Mendroni, se posiciona da seguinte forma:

A questão crucial que se coloca, enfim, é a de se obter indícios importantes


ou elementos de prova que denotem dedução do fato de que o agente tinha
conhecimento da possível origem ilícita dos bens, direitos ou valores – a
ponto de se configurar circunstância em que ele “deveria saber serem
provenientes de infração penal”. Aí, segundo interpretamos, não bastam
meras presunções. É preciso demonstrar, por indícios graves e concordantes,
ou elementos de provas, ou, melhor ainda, por provas, de que o agente
efetivamente tinha dados concretos que o autorizassem a concluir da origem
ilícita. Em outras palavras, deve haver demonstrativos seguros do fato de que
o agente tinha condições, isto é, informações suficientes a respeito da
situação financeira-econômica e social do agente, a ponto de ser-lhe
permitido concluir estranha a posse daquele bem, direito ou valor. Não há
espaço para que se estabeleça um “jogo de suposições” do tipo “é possível
acreditar que o agente deveria supor que o dinheiro era proveniente de
crime”. Não. Deve ser assim: “É evidente, por tais e tais
indícios/elementos/provas, que o agente deveria saber que o dinheiro era
proveniente de crime”. (MENDRONI 2018, p. 102)

Na doutrina atual, discuta se o dolo direto, quando o autor deve ter


conhecimento pleno e absoluto da origem ilícita do produto, ou se correto seria o dolo
eventual aplicável, caso haja mera suspeita da origem ilícita do produto, dando
abertura a aplicação da teoria da cegueira deliberada.

Alguns autores como Bottini e Oliva Garcia, defendem a tese, que é


imprescindível a consciência completa da ilicitude, e que caso desejasse o legislador
permitir hipótese de dolo eventual no delito do art. 1, caput da lei n° 9.613/98, teria
feito de forma expressa, como ocorre em crime que possui a expressão “deve saber”.
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Também dizem, que abrir mão do conhecimento especifico da origem


ilícita, seria de alguma forma alterar o conceito de dolo e causar a desnaturalização,
correndo risco de criar uma responsabilidade penal objetiva ou, ainda, de eliminar o
instituto de culpa consciente que também se utiliza do conhecimento potencial do
perigo concreto.

Já para Prado, e Baltazar Junior, é possível admitir o dolo eventual, sob a


tese de que não havendo regra posta pelo legislador, não deve o intérprete criar
distinção inexistente, podendo o tipo ser informado por uma modalidade de dolo ou
de outra, e também, dizendo que o objetivo global do direito uniforme em matéria de
lavagem, do qual originou a legislação Brasileira, era inibir a atuação dos profissionais
da lavagem, ou a lavagem terceirizada. Desta forma a redução do dolo direto
implicaria inutilidade de grande parte do direito comparado.
A teoria da cegueira deliberada, ao meu ver não parece muito aplicável.
Não podemos permitir que no processo penal Brasileiro, alguém venha sofrer o
desgastante processual penal, por apenas não ter certeza da origem ilícita de tal fato.
Em se tratando de um crime de alta complexibilidade como o crime de
lavagem de dinheiro, a certeza precisa ser concreta, e não haver dúvidas quanto a
origem de tal recurso, é preciso que tenha dolo na conduta desse agente que inseriu
no mercado financeiro, valores provenientes de crime, caso contrário, estaríamos
abrindo brechas para o achismo, o que é algo extremamente perigoso para todo o
processo penal, e também violando frontalmente o princípio constitucional da
presunção de inocência, o que agrava ainda mais esse tipo de conduta.
Nesse contexto me refiro aos bancos, mas caso houvesse a modalidade
culposa no tipo penal, vários seriam os seguimentos afetados, agências de fomento,
cooperativas de crédito, bancos cooperativos, e entre outros.
Se aplicarmos a teoria da cegueira deliberada no Brasil, os primeiros a
sofrerem as consequências seria os bancos, pois grande parte das operações passam
pelas instituições bancárias, o que geraria um colapso nas instituições.
Os bancos possuem um compliance muito mais estruturado que muitas
empresas.
O problema da aplicação da teoria da cegueira deliberada, seria em
instituições menores. Imagina uma pessoa qualquer, chega a um corretor de
investimentos, que atua em uma corretora pequena, afim de fazer determinada
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aplicação financeira. O corretor fará algumas perguntas, e ficará as mercês das


respostas dada a ele. A questão é, naquele momento é muito difícil conhecer a origem
do recurso.
Não perece razoável expor esse corretor ao desgastante processo penal,
em razão da conduta acima, pois não houve o dolo, nos parecendo razoável e
realmente mais seguro, termos apenas a modalidade dolosa do tipo penal.
Portanto, em relação a esses agentes, é fundamental que haja inteira
convicção da origem ilícita, não aplicando o dolo eventual, pois desta forma,
garantimos a correta aplicação da sanção penal, garantindo o devido processo, ampla
defesa e contraditório, e estaríamos a frente de um fato punível, e não de um mero
achismo.
Mesmo não sendo a favor da aplicação da teoria da cegueira deliberada,
friso importante, termos avanços legislativos nos motivos já expostos. Pois existe sim,
uma falha no sistema que contribui para a pratica delituosa.
Importante entendermos que, mesmo havendo instituições que conheçam
a origem ilícita, existe também instituições que não conhecem a origem ilícita, pois o
MODUS OPERANDI das organizações criminosas são muito parecidos em ambas as
situações, o que dificulta a detecção da pratica delituosa.
Na dúvida, não pode o processo penal querer resolver tais falhas, é
necessário um querer legislativo, para que, tais falhas sejam sanadas, afim de
combater tais praticas delituosas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando analisamos o comportamento das instituições financeiras,


percebemos cada vez mais que, grandes lucros, estão muitas vezes acima de
situações graves que prejudicam a todos.
Ao falar de lavagem de dinheiro, trazemos em seu termo, tudo o que nele
existe, seus sujeitos, seu tipo penal, sua gravidade.
Seu sujeito passivo, é a sociedade, todos pagam.
O crime de lavagem de dinheiro, tem um potencial destrutivo tão forte
quanto uma guerra, mata muitos silenciosamente, seja por falta de segurança pública,
seja por falta de atendimento em postos de saúde, seja por falta de educação, pois a
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sociedade carece de serviços públicos fundamentais, e que na maioria das vezes são
prejudicados por falta de recurso.
Analisar o Sistema Financeiro atualmente, está praticamente nos
remetendo a ideia de um grande sócio do crime. Lacunas estão permitindo que
grandes organizações criminosas utilizem o sistema para praticar esse crime, que é
grave, mas que está dando muito lucro ao sistema e as instituições.
É preciso falarmos em uma postura legislativa mais assertiva quanto ao
tema, é preciso que seja retirado do poder das instituições financeiras brasileiras, o
monopólio de decisão quanto as operações, é preciso termos um sistema mais sério
e robusto para o efetivo combate ao crime.
Mais que necessário, é que o governo brasileiro, tenha uma agenda
anticorrupção ativa, é preciso o querer governamental afim de tomar decisões mais
sérias, e não deixar a influência do sistema financeiro nacional se prevalecer quanto
a coletividade.
O sistema financeiro está lucrando, mas a sociedade está perdendo, por
isso, é preciso olhar com mais cautela ao tema, é preciso ter uma agenda
anticorrupção ativa, é preciso que leis sejam criadas afim de preencher essas lacunas,
é preciso ação, é preciso conter essa máquina chamada sistema financeiro nacional,
e é preciso frear e combater esse grave crime, chamado lavagem de dinheiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALLEGARI. A. L; WEBER. A. B.; lavagem de dinheiro. 2° ed. São Paulo: Editora


Atlas, 2017.

CARVALHO. A.C; BERTOCCELLI. R. P; ALVIM. T. C; VENTURINI. O.; Manual de


COMPLICE. 2° ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2020.

FERNANDES. R.; Lavagem de dinheiro aspectos investigativos, jurídicos,


penais e constitucionais. Prevenção e repressão do branqueamento de
capitais no direito Brasileiro, Português e Internacional. Única edição. São
Paulo: Quartier Latin, 2019.

MENDRONI. M. B. Crime de lavagem de dinheiro. 4 ed. São Paulo: Editora Atlas,


2018.
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NUCCI. G. S. Organização Criminosa. 5° ed. Rio de Janeiro: Editora Forense,


2021.

RIO. S.S. Direito Penal Econômico. Advocacia e Lavagem de Dinheiro: Questões


de Dogmática Jurídico-Penal e de Política Criminal. 1° ed. São Paulo: Editora
Saraiva 2010.

RIZZO. M. B. M. Prevenção da lavagem de dinheiro nas organizações. 2° ed.


São Paulo: Trevisan Editora, 2016.

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