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Delinquencia socioeconomica e programas de

cumprimento normativo

AG1 – Caso Banesto

CURSO 2022-2023
GRADO EN CRIMINOLOGÍA Y CIENCIAS DE
LA SEGURIDAD

ANA EDUARDA BARBOSA SILVA COELHO LEAL


I
II
Caso Banesto

Resumo

O caso Banesto foi um escândalo de corrupção empresarial no Banco


Espanhol de Crédito que ocorreu no final de 1993, na Espanha, e terminou com
a condenação judicial dos responsáveis do banco, com seu presidente Mario
Conde à frente por crimes de fraude e apropriação indevida.
O Banco Espanhol de Crédito (BANESTO) era uma entidade financeira que
tinha sete milhões de clientes, meio milhão de acionistas, 15.000 trabalhadores
e 50 empresas participadas. Mario Conde, Presidente do banco, teria apostado
nos anos anteriores à intervenção por uma estratégia de crescimento da
entidade através da expansão dos créditos, numa altura em que a
inadimplência bancária crescia. Em 1993, alguns meses antes da intervenção,
a inspecção do Banco de Espanha tinha detectado uma lacuna patrimonial
próxima de 2.700 milhões de euros (cerca de 450.000 milhões de pesetas). As
autoridades do Banco de Espanha tinham tentado negociar um plano de
saneamento. Mario Conde, de forma desesperada, tentou salvar o banco com
uma ampliação de capital com a entidade americana JP Morgan. O resultado
consolidado do grupo Banesto correspondente a 1993, apresentou perdas de
585.150 milhões de pesetas (3.517 milhões de euros) dos quais 407.383
milhões correspondiam ao banco matriz.

Titulares da sentença

Os réus no presente caso eram oito membros do Conselho de Administração,


que ocupavam os cargos de CEO, presidente, vice-presidente, gerente geral,
finanças e advogados.
Um dos ex-CEOs foi Rafael Pérez Escolar, conhecido por estar relacionado
com a Reforma Democrática (associação política espanhola de ideologia
conservadora). Enrique Lasarte e Juan Belloso também foram CEOs, o
primeiro dos quais ocupou outros cargos como presidente do Banco de Vitória,
além de diretor e membro do comitê executivo da Antena 3 Televisión; o
segundo ocupou o cargo de diretor executivo da área financeira do Banesto
antes de se tornar CEO (El País, 1990; Agencia EFE, 2007).
Os outros membros do Conselho de Administração foram Arturo Romaní (ex-
vice-presidente do Banesto), especialista em engenharia financeira, advogado
do Estado e professor comercial da Universidade de Zaragoza; Fernando Garro
(ex-CEO do Banesto); Jacques Hachuel (financista), de origem judaica, que se
dedicou ao negócio de "commodities"; e, finalmente, Mariano Gómez de Liaño
(advogado), que coordenou a defesa jurídica do ex-presidente do Banesto,
Mario Conde (Noceda, 1994; Ekaizer, 1995; Notitia Criminis, 2009).

III
Análise da sentença

O STF considerou na sentença que sete das nove operações processadas são
criminosas (Saque de 300 milhões, Fábricas de Cimento, Estabelecimentos
Comerciais, Shopping Center Concha Espina, Carbonetos Metálicos, Petróleo
Dor e Artifícios Contábeis), mas decidiu condenar cinco das eles, porque a
operação de saque de 300 milhões foi considerada prescrita e falsidades
contábeis não foram contempladas como tal no Código Penal de 1973 (Ekaizer,
2000).
Mário Conde foi condenado pelos crimes de estafa e apropriação indevida
(desvio de 1.500 milhões de pesetas) a quatro anos e dois meses, além de
mais seis anos pelos crimes de burla em Oil Dor e Centro Comercial Concha
Espina (outros 1.500 milhões), um total de 10 anos e dois meses de prisão.
Arturo Romaní, (ex-vice-presidente do Banesto) foi considerado responsável
juntamente com Conde na operação Cementeras, pela qual foi condenado a
quatro anos de prisão. Por outro lado, foi indiciado por crime de apropriação
indébita na Carburos Metálicos (1.344 milhões de pesetas), pelo qual foi
condenado a mais quatro anos de prisão, e cinco anos nas operações de burla
da Oil Dor e Centro Comercial, acumulando treze anos e oito meses.
Fernando Garro, único arguido na continuação da operação de apropriação
indébita para compra de imóveis comerciais, foi condenado a seis anos de
prisão; enquanto Pérez Escolar foi condenado a seis anos de prisão pelos
crimes de Carburos, Oil Dor e Concha Espina Shopping Center.
O tribunal considerou que na alegada fraude denominada Operação Isolux
(3.800 milhões de pesetas) não foi possível apreciar (apesar dos numerosos
indícios existentes de que foi favorecido pelo Conde) o prejuízo económico que
o Banesto teria sofrido, pelo que decidiu absolver todos os réus, entre os quais
Conde e Romaní, Eugenio Martínez Jiménez, Mariano Gómez de Liaño e
Francisco Javier Sitges. O financista Jacques Hachuel foi absolvido, apesar de
considerar a Operação Carbidos Metálicos uma apropriação indevida pelo
simples fato de a acusação formal contra ele ter sido formulada tardiamente,
quando já havia decorrido o prazo prescricional. Em relação à Operação de
Promoções Hoteleiras (1,1 bilhão), o tribunal não apurou crime.
Ao examinar os artifícios contábeis, o tribunal confirmou que a verdadeira
imagem do patrimônio do Banesto não estava refletida em suas demonstrações
financeiras de 31 de dezembro de 1992. A situação foi diferente com a entrada
em vigor do Código Penal de 1973, em que a falsidade ideológica (deixar de
dizer a verdade na narração dos fatos) foi punido, mas não contabilizando a
falsidade como tal. Como o Código de 1973 era mais favorável, optou-se pela
absolvição de todos os réus.

IV
Caracteristicas do criminoso

Mario Conde tem diversas características singulares, como delinquente


económico, tais como apresentar uma imagem exemplar através de uma
carreira comercial bem sucedida, continha boas relações com grupos de poder
ao qual adquire poder e influencia com o fim de satisfazer seus interesses
próprios, inteligente e astuto o que é provado pela sua capacidade de ser
considerado inocente, uma vez que também era advogado tinha capacidades
para conseguir contruir sua defesa, e também perigoso, visto que era
Presidente e ter conhecimento da conduta que vinha a apresentar era ilícita e
punível e mesmo assim realizava com regularidade o facto dilictivo.

Abordagem criminológica

A teoria crimonológica da associação diferencial, que busca explicar que o


crime não pode ser definido simplesmente como uma disfunção ou inadaptação
de pessoas de classes menos favorecidas, não sendo exclusividade destas.

O âmago desta teoria, formulada por Edwin H. Sutherland em sua obra


Principles of Criminology (1939), diz que o homem aprende a conduta desviada
e associa-se com referência nela.

Sutherland, portanto, discordava que explicações psiquiátricas de


comportamento pudessem ter qualquer aplicação em delitos econômicos
cometidos por grandes empresas. Tal teoria da associação diferencial pretende
explicar o delito com independência da condição sócio - econômica do agente,
enfatizando que a conduta criminal, como qualquer outro comportamento, é
oriundo da aprendizagem ao largo de um processo de interação com outras
pessoas. Tal situação se aplica a todos os níveis da sociedade, dos
desafortunados aos integrantes da elite, utilizando-se classificações
tradicionais de separação em classes sociais.

A caracterização dos delitos de estafa e apropriação indevida pode ser


entendida como o cometido no âmbito da sua profissão por pessoa de
respeitabilidade e elevado status social, ocorrendo, em regra, mediante
violação de confiança. Não podem ser explicados pela pobreza, precariedade

V
na habitação, carências de recreação, falta de educação ou de oportunidades
(SHECARIA, 2013, p. 178).

Os autores destes delitos, além de pessoas com boa situação econômica e


socialmente bem sucedidas, são, também, intelectualmente privilegiados,
contando com um raciocínio acima da média das pessoas comuns, sendo tal
dado algo relativamente recente ao pensamento criminológico, razão pela qual
a teoria da associação diferencial de Sutherland mostra-se importante para a
compreensão deste tipo de criminoso.

Efetivamente, o delinquente econômico que pratica a ação de forma dolosa e


organizada para atingir suas finalidades ilegítimas, conduzido por sua conduta
tipicamente racional, além de influente e prestigioso, deve ser tomado como um
dos criminosos mais frios e lesivos, pois, incentivado pelo anseio de maiores
lucros, atua compreendendo que as consequências negativas de sua conduta
delituosa são mínimas, se relacionadas com os efeitos almejados por suas
ações.

A desigualdade, muitas vezes possibilitada (ou não impedida de maneira


efetiva) por meio de lacunas jurídicas, é também um agente de estímulo de
comportamentos de corrupção, originados em empresários inidôneos que
visam concorrer de maneira díspar no mercado, suprimindo a livre
concorrência, princípio basilar da ordem econômica capitalista.

O processo de comunicação, na teoria da associação diferencial, é


fundamental para a compreensão da prática delitiva, sendo o comportamento
criminal aprendido, assim como o é o comportamento virtuoso.
Especificamente nos delitos econômicos, as violações à lei são geralmente
complexas e seus efeitos difusos, não se resumindo a ataques diretos de uma
pessoa a outra, como em um roubo, por exemplo. Uma grande corporação
pode violar uma norma por longo período de tempo, até que agências de
controle do Estado identifiquem a transgressão muito tempo depois da lesão de
um elevado e muitas vezes incontável número de vítimas.

A concepção dos chamados crimes económicos, neste sentido, contribui para a


ruptura com classificações criminológicas centradas na antropologia criminal
tradicional, para as quais os meios sociais e econômicos deficitários (pobreza,
abandono, falta de escolaridade etc.) determinam a formação do indivíduo
delituoso.

Desta forma, Sutherland (1999, p. 235) conclui que não é possível uma
analogia direta entre criminalidade e disfunção dos sujeitos das classes baixas
e, precisamente por isso, seria necessário buscar um fator comum para
elucidar a criminalidade, algo que justificasse a conduta criminosa tanto nos

VI
indivíduos das classes altas quanto nos das classes mais baixas. Este fator
seria, pela lógica de sua teoria, a aprendizagem, mediante observação.

Ao se realizar um cotejo de matrizes criminológicas do conflito com a teoria da


associação diferencial, no tocante a delitos econômicos, chega-se à conclusão
que foi exatamente esta teoria a primeira a colocar o foco na criminalidade dos
poderosos, desconsiderando a forma tradicional como a justiça penal os
abordava.

Conclusão

Odelinquente econômico tem diversas características singulares, tais como


pertencer às classes sociais mais altas e atuar com uma “moral de duplo
sentido”, estando suas condutas, o mais das vezes, ocultas do público, tal
como ocorre com um “camaleão”, quedando-se, em geral, “impune”. Demais
disso, a delinquência empresarial traz consigo uma “alta nocividade social”,
capacidade de adaptação a distintos modelos econômicos, o que faz com que
seus autores se vejam recompensados com a outorga do “prestígio
profissional”, recebendo por ser visto como um cidadão bem-sucedido,
sanções positivas da sociedade, como “títulos, honrarias e distinções”, ao invés
de merecer “sanções negativas”. Numa palavra, para Günter Kaiser, esta
realidade criminológica denota e reforça a sabedoria popular no sentido de que,
no sistema de justiça criminal, captura-se os pequenos e se deixa escapar os
grandes infratores.

Ante essa realidade que pode ser adjetivada como uma cultura empresarial
criminógena, diversas tem sido as teorias criminológicas que foram
desenvolvidas, ao longo do tempo, no intuito de compreender e de oferecer um
adequado modelo preventivo criminal. Na atualidade, despontam novos
aportes, provindo da experiência criminológica,no sentido de enfrentar a
delinquência empresarial por intermédio de estratégias de imposição às
corporações, em maior ou menor intensidade, de modelos de autocontrole e
autofiscalização no escopo de coibir e reprimir em uma sorte de “privatização”
de funções originalmente estatais a ocorrência de infrações, inclusive de
natureza criminal. Modelos de autorregulação regulada,do qual os programas
ou, melhor dizendo, a cultura do compliance, estão no “epicentro” .

VII
Bibliografia

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