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DINHEIRO
Área: CONTABILIDADE
Categoria: PESQUISA
Leandro Spier
Unioeste, Cascavel, leandro_spier@yahoo.com.br
Evandro Spier
Unioeste , Marechal Cândido Rondon, spier.spier@gmail.com
(Co-autor)
Professor Elias Garcia
Resumo
Área: CONTABILIDADE
Categoria: PESQUISA
Resumo
1. INTRODUÇÃO
O contabilista, como qualquer profissional liberal, está em contato com uma variedade
de clientes e pode inclusive deparar-se com práticas criminosas como a lavagem de dinheiro.
Inicialmente pode-se definir que lavagem de dinheiro, seu sinônimo branqueamento de
capitais ou ainda o termo inglês money laundering, como:
[...] o processo pelo qual o criminoso transforma recursos ganhos em
atividades ilegais em ativos com uma origem aparentemente legal. Essa
prática geralmente envolve múltiplas transações, usadas para ocultar a
origem dos ativos financeiros e permitir que eles sejam utilizados sem
comprometer os criminosos. A dissimulação é, portanto, a base para toda
operação de lavagem que envolva dinheiro proveniente de um crime
antecedente.” [COAF, 1999, p. 1].,
Desta forma, lavagem de dinheiro é uma prática derivada de um crime anterior. Com a
lavagem de dinheiro o objetivo final é introduzir o dinheiro na economia e dar a ele aparência
de licitude. A lavagem de dinheiro se torna uma preocupação também pela sua relação com
alguns crimes. Esta preocupação está presente na Organização das Nações Unidas que a
relaciona com a corrupção econômica, o terrorismo e outras formas de delinquência.
[Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, 2003.]
Nesta pesquisa, cita-se uma versão romantizada sobre a origem da lavagem de
dinheiro, a história é contada pelo perito legista Leví Inimá de Miranda para o jornal O
Globo:
Alphonsus Gabriel Capone (Brooklin, Nova Iorque, 17 de janeiro de 1899
— Palm Beach, Flórida, 25 de janeiro de 1947), vulgo “Al Capone”.
Capone tinha um contador chamado Meyer Lansk, que não sabia como
legitimar as colossais somas que a clandestinidade rendia ao poderoso
chefão. Como todos sabem, Capone comandava assaltos a bancos,
explorava a prostituição, lucrava no contrabando. Enriqueceu no crime.
Lansk teve, então, uma idéia inicial: montou no estado inteiro uma cadeia
de máquinas automáticas de lavar roupa. Cada maquina era uma verdadeira
mina de ouro. Esse negócio movimentava dinheiro rapidamente, o que
facilitava a mistura do capital legalmente ganho com o advindo de
atividades ilícitas, promovendo a desvinculação dos recursos provenientes
das atividades criminosas. [BARROS, 2009]
Apenas com o material consultado não se tem como saber ao certo se esta é a origem
do termo money laudering, literalmente “lavagem de dinheiro”, porém este mito de origem
serve para ajudar a conceituar a prática de lavagem de dinheiro. A história de Miranda
continua descrevendo o destino de Al Capone:
Al Capone foi preso por sonegar impostos e não pelos crimes que havia
cometido. E como tinturaria não era negócio de peso, o Fisco americano
desconfiou. Al Capone acabou condenado por fraude fiscal. Em 1931, foi
condenado pela justiça americana por sonegação de impostos, com 11 anos de
reclusão. [BARROS, 2009]
Esta parte da história sabe-se que ocorreu. Al Capone foi preso não pelos primeiros
crimes que cometeu e sim porque o fisco norte-americano conseguiu cruzar dados e descobrir
que este não poderia ter movimentado tanto dinheiro. O cruzamento de dados no exemplo de
Al Capone foi fundamental para prendê-lo.
O cruzamento de informações para descobrir incongruências entre os negócios e o
montante movimentado se desenvolve cada vez mais. Com o uso de tecnologias da
informação pode-se descobrir outros esquemas de lavagem de dinheiro.
No Brasil, desde 1998 o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF)
possui um sistema em que os agentes bancários precisam enviar para este Conselho,
comunicados de movimentações elevadas de dinheiro.
Mais especificamente, o contabilista pode, através de sua prática profissional, notar
que algumas empresas estão movimentando uma soma de dinheiro maior do que a que
poderiam. Um mesmo contabilista, por exemplo, a partir de sua experiência em empresas de
determinada área, é capaz de notar que alguns índices que ela apresenta não correspondem
com a realidade do mercado. Neste caso, tem-se uma atuação cotidiana do contabilista que
verifica a prática do crime de lavagem de dinheiro. Mas o cruzamento pode também ocorrer
com o supercomputador da Receita Federal do Brasil ao analisar as declarações das empresas
e indivíduos.
A par dos conceitos de lavagem de dinheiro citado e do exemplo de Al Capone, a
legislação brasileira, usa um conceito mais restrito para a lavagem de dinheiro: “Ocultar ou
dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de
bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime: [...]”. (1) Mais
restrito porque somente um rol taxativo de crimes é considerado para configurar a lavagem de
dinheiro. Somente é lavagem de dinheiro se o crime que originou o dinheiro é de tráfico
ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins, de terrorismo, de contrabando ou tráfico
de armas, de extorsão mediante seqüestro, contra a Administração Pública, contra o sistema
financeiro nacional, praticado por organização criminosa ou praticado por particular contra a
administração pública estrangeira.
Não há como negar a pertinência do tema lavagem de dinheiro. O dinheiro “sujo”,
objeto de crime, se for reintroduzido na economia serve para financiar novamente o crime em
um círculo vicioso. Recursos que poderiam ser utilizados pelos governos são perdidos. A
conexão entre os crimes, sobretudo o da corrupção, desencadeia o enfraquecimento do
governo.
4. CONCLUSÕES
Com este trabalho pode-se notar que o contabilista está numa posição de destaque,
próximo ao capital das empresas e indivíduos. Ao vê-lo nesta posição, alguns órgãos
internacionais e mesmo brasileiros passaram a ter interesse em usá-lo para fiscalizar o
cometimento do crime de lavagem de dinheiro. Vale ressaltar, que apesar de ocupar tal
posição, encontra-se também com um grande desafio a superar.
Quanto à urgência do tema não há o que debater, sobretudo porque o crime de
lavagem de dinheiro se associa com crimes que a sociedade de forma geral repudia. Porém, é
necessário um debate maior sobre a utilização dos serviços contábeis para combater o crime.
Debate que já possui inclusive projetos de lei em que o contabilista é obrigado a denunciar
operações suspeitas.
Da mesma forma que se vive em um ambiente de instabilidade na normatização
contábil brasileira, com mudanças, e mudança das mudanças, talvez surja uma alteração na
legislação e modifique as obrigações do contabilista no combate ao crime de lavagem de
dinheiro. De acordo com o exposto, caso ocorra esta modificação, é muito provável que esta
seja na direção das normas internacionais da ONU e no Brasil do ENCLA, direção esta
brevemente citada neste texto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NOTAS:
(1) “Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou
indiretamente, de crime:
I - de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;
II - de terrorismo;
II – de terrorismo e seu financiamento; (Redação dada pela Lei nº 10.701, de 9.7.2003)
III - de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua produção;
IV - de extorsão mediante seqüestro;
V - contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de
atos administrativos;
VI - contra o sistema financeiro nacional;
VII - praticado por organização criminosa.
VIII – praticado por particular contra a administração pública estrangeira (arts. 337-B, 337-
C e 337-D do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal). (Inciso
incluído pela Lei nº 10.467, de 11.6.2002)
Pena: reclusão de três a dez anos e multa.
§ 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos
ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo:
I - os converte em ativos lícitos;
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito,
movimenta ou transfere;
III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.
§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem:
I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores que sabe serem
provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo;
II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade
principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei.” (In:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9613.htm, acesso em 19 maio 2009.)
(2) INSTITUTO Antonio Houaiss. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
s.l. : Editora Objetiva, 2002, verbete “laranja”.
(3) CÓDIGO civil brasileiro. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm,
acesso em 26 maio 2009.
(4) CONSELHO Federal de Contabilidade, Código de Ética do Contabilista. In:
http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_803.doc, acesso em 26 maio 2009.
(5) No Brasil a Lei 9.613 de 1998 determina penas para quem pratica o crime de lavagem de
dinheiro no artigo primeiro. (In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9613.htm, acesso
em 19 maio 2009.)
(6) De acordo com a Lei 9.613 de 1998, as penas previstas para as instituições financeiras e
que o projeto do ENCLA pretende estender aos contadores são:
“Art. 12. […]
I - advertência;
II - multa pecuniária variável, de um por cento até o dobro do valor da operação, ou até
duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente seria obtido pela realização da
operação, ou, ainda, multa de até R$ 200.000,00 (duzentos mil reais);
III - inabilitação temporária, pelo prazo de até dez anos, para o exercício do cargo de
administrador das pessoas jurídicas referidas no art. 9º;
IV - cassação da autorização para operação ou funcionamento.” (In:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9613.htm, acesso em 19 maio 2009.)
(7) Art. 342 do Códio Penal Brasileiro. In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-
Lei/Del2848.htm#art342, acesso em 26 de maio de 2009.
(8) Arts. 342 e 343 do Código Penal Brasileiro. In:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm, acesso em 26 de maio de
2009.
(9) TIGRE MAIA, Rodolfo. Lavagem de Dinheiro, p. 38.
(10) http://www.fbi.gov/programs/fc/ml/ml_about.htm
(11) Inciso X do artigo 6o do Regimento Interno do COAF, aprovado pela Portaria no 330 do
Ministro da Fazenda, de 18 de dezembro de 1998.
Para citar o artigo:
SPIER, Leandro; MACHADO, Juliana Savaris Martins; et alli. “O contabilista frente ao rime de
lavagem de dinheiro”. In: V Encontro Paranaense de Pesquisa e Extensão em Ciências Sociais
Aplicadas e VIII Seminário do Centro de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Cascavel : s.
e., 2009.