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Lavagem de Dinheiro

Lei n° 9.613/1998

Prof. Dr. Luciano F. Santoro

Lucianofsantoro
Prof. Dr. Luciano Santoro

Escorço Histórico
Contextualização

Décadas 20 e 30 – Money laundering

Preocupação mundial a partir da década de 80:


tráfico de drogas

Internacionalização da Justiça Penal

Mandados de criminalização internacionais:


Convenção de Viena
Convenção de Palermo
Convenção de Mérida
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Escorço Histórico
Contextualização

Décadas 20 e 30 – Money laundering

Preocupação mundial a partir da década de 80:


tráfico de drogas

Internacionalização da Justiça Penal

Mandados de criminalização internacionais:


Convenção de Viena
Convenção de Palermo
Convenção de Mérida
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“A LAVANDERIA”
(Como funciona o dinheiro)
Prof. Dr. Luciano Santoro
Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem,
BRASIL localização, disposição, movimentação ou
propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, de crime:
I - de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou
drogas afins;
II - de terrorismo;
II – de terrorismo e seu financiamento;
III - de contrabando ou tráfico de armas, munições ou
material destinado à sua produção;
IV - de extorsão mediante seqüestro;
V - contra a Administração Pública, inclusive a
exigência, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, de qualquer vantagem, como
condição ou preço para a prática ou omissão de atos
administrativos;
VI - contra o sistema financeiro nacional;
VII - praticado por organização criminosa.
VIII – praticado por particular contra a administração
pública estrangeira (arts. 337-B, 337-C e 337-D do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –
Código Penal).
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BRASIL

eliminou o rol taxativo de crimes antecedentes


estabeleceu infração penal como antecedente à lavagem
reforçou a estruturação privada na prevenção de ilícitos empresariais
aumentou o rol de pessoas sujeitas a obrigações
ampliou os poderes da Lei tripla natureza (aspectos administrativos,
penais e processuais penais).

Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização,


disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal.
Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.
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§ 1o Incorre na mesma pena quem, para ocultar
BRASIL ou dissimular a utilização de bens, direitos ou
valores provenientes de infração penal:
I - os converte em ativos lícitos;
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou
recebe em garantia, guarda, tem em depósito,
movimenta ou transfere;
III - importa ou exporta bens com valores não
correspondentes aos verdadeiros.

§ 2o Incorre, ainda, na mesma pena quem:


I - utiliza, na atividade econômica ou financeira,
bens, direitos ou valores provenientes de infração
penal;
II - participa de grupo, associação ou escritório
tendo conhecimento de que sua atividade
principal ou secundária é dirigida à prática de
crimes previstos nesta Lei.
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Intenção da “nova” Lei

: seguir os rastros do dinheiro,


como por exemplo com medidas de colaboração

b. Incremento do confisco

c. Isolamento ou diminuição do domínio econômico


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ETAPAS DA LAVAGEM DE DINHEIRO

: dinheiro
desaparece do mercado formal

: afasta-
afasta-se a
origem ilícita

: transformados em valores lícitos


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ETAPAS DA LAVAGEM DE DINHEIRO


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Lei n° 9.613/98
4 comportamentos distintos:

a. Ocultação e dissimulação (caput


(caput))
b. Uso de meios para a ocultação ou dissimulação
(§1°)
c. Uso de bens, direitos ou valores sujos na
atividade econômica ou financeira (§2°, II))
d. Participação em entidade dirigida à lavagem de
dinheiro (§
(§2°, II)
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Lei n° 9.613/98
Tipo misto alternativo: ocultar (esconder,
disfarçar) e dissimular (garantir a ocultação)

Tipo objetivo: forma de mascaramento de bens


não confundir com a utilização do proveito ou produto
do crime antecedente

Tipo subjetivo: Dolo.


Discussão se pode haver dolo eventual (exposição de
motivos diz que sim para o caput). Gustavo Badaró e
Pierpaolo Bottini entendem que não.
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Lei n° 9.613/98
O §1° acabou por ilustrar típicas operações de lavagem de
dinheiro, mais detalhada

O §2°, I, conforme corrente majoritária, é tipo relativo à


terceira etapa da lavatem
lavatem,, a integração dos bens na economia
lícita.

O §2°, II (“
(“participa
participa de grupo, associação ou escritório tendo
conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é
Lei”): segundo a
dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei”):
Exposição de Motivos da Lei, é forma especial de concorrência
que permitirá a imputação típica ainda que o sujeito ativo não
esteja praticando atos característicos de lavagem.
Tipo derivado.
Forma de participação (responsabilização objetiva?)
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LAVAGEM DE DINHEIRO
X
PRODUTO DO CRIME PRODUTO
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BEM JURÍDICO

Diversos posicionamentos:

que é o mesmo que o crime antecedente;

proteção da ordem econômica, em face do impacto


financeiro;

proteção da administração da justiça: evitar que o


criminoso possa auferir vantagem ilícita através de
operações financeiras
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QUESTÕES DE DIREITO MATERIAL


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QUESTÕES DE DIREITO ADJETIVO


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CARACTERIZAÇÃO PRESUMIDA DA
INFRAÇÃO PENAL ANTECEDENTE?
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INAPLICABILIDADE DO ART. 366, CPP


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MEDIDAS ASSECUTARÓRIAS
Previstas no art. 4°
4°: “
“bens,
bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou
existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou
proveito dos crimes”
Nomeação de pessoa física ou jurídica para administração (art. 5°
5°), que
fará jus a remuneração e prestação informações periódicas (art. 6°
6°)

§ 1°: alienação antecipada para preservação do valor


Deterioração
Depreciação
Dificuldade de manutenção
Previsão no art. 4°
4°-A: decretação de ofício ou a requerimento do MP ou
parte interessada; autuação em apartado; avaliação dos bens; leilão por
valor não inferior a 75%; depósito em conta judicial remunerada.

§ 2°: inversão do ônus da prova


Constrição para reparação dos danos ou pagamentos de prestações
pecuniárias, multas e custas

§ 3°: comparecimento pessoal do acusado para conhecer do pedido de liberação

§ 4°: medidas assecuratórias para reparação do dano da infração penal


antecedente
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EFEITOS DA CONDENAÇÃO
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COOPERAÇÃO JURÍDICA
INTERNACIONAL
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OUTRAS PARTICULARIDADES
Art. 9°
9°: pessoas sujeitas ao mecanismo de controle
Instituições financeiras, contadores, factoring
factoring,, comércio jóias,
jóias, pedras
e metais preciosos, serviços de assessoria e etc,
etc, imobiliárias, CVM,
juntas comerciais, previdência, loterias, seguradoras,
Advogados?
Deveres de garante do
compliance officer

Art. 10: identificação dos


clientes

Art. 11: comunicação das


operações financeiras

Art. 12: responsabilidade


administrativa
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COAF (Arts
(Arts.. 14 e 15)
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JURISPRUDÊNCIAS INTERESSANTES
Empréstimos pessoais podem caracterizar dissimulação (STJ, APn
940/DF). Sobre empréstimos ver STJ-
STJ-Apn 458/SP.

Não ter sido um dos denunciados no crime antecedente é


irrelevante (STJ, HC 545.395). Sobre crime autônomo ver STJ-
STJ-Resp
1829744/SP, STJ-
STJ-AgRg no HC 514.807 e STF-
STF-HC 138092.

inepta a denúncia que não contém a especificação das operações


financeiras realizadas pelo acusado (STJ, RHC 102.313)

Depósitos de recursos em contas de terceiros caracteriza


dissimulação (STF, AP 644)

Crime de natureza permanente na modalidade ocultar (STF, HC


167132)
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JURISPRUDÊNCIAS INTERESSANTES
A Justiça Estadual é competente para analisar inquérito versando
sobre lavagem de dinheiro por meio do mercado de criptomoedas
(STJ, CC n. 173711/SP)
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ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL
Art. 28-
28-A Código Penal
Introduzido pelo pacote anticrime

Previsão anterior: Resolução n° 181/2017 do CNMP

Justiça penal negociada


Transação Penal (art. 76, Lei n° 9.099/95)
Suspensão Condicional da Pena (art. 89, Lei n° 9.099/95)
Colaboração Premiada

Mitigação do princípio da obrigatoriedade

Constitucionalidade da confissão? Princípio da não autoincriminação


(CRFB, Pacto de São José da Costa Rica)
Essência é não discutir a culpabilidade – sendo mais um mecanismo legal
despenalizante (diferente da Colaboração, onde o colaborador pode vir a
ser condenado em ação penal)
penal)
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ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL


Art. 28-
28-A Código Penal
Requisitos::
Requisitos

1. não ser caso de arquivamento;


2. ter confessado formal e circunstanciada da prática
de infração penal (crime/contravenção penal);
3. sem violência ou grave ameaça;
4. Pena mínima inferior a 4 anos (incluem-
(incluem-se causas
de aumento e diminuição da pena)
5. Necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime
6. Não ser hipótese de inaplicabilidade
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ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL


Art. 28-
28-A Código Penal
Inaplicabilidade::
Inaplicabilidade

1. Transação penal
2. Reincidente ou conduta criminal habitual, reiterada
ou profissional (exceto se insignificantes as
infrações penais anteriores)
3. Ter sido beneficiado nos 5 anos antes com acordo
de não persecução penal, transação penal ou
suspensão condicional da pena
4. Crimes praticados no âmbito da violência doméstica
ou familiar
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ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL


Art. 28-
28-A Código Penal
alternativamente):
Condições (cumuladas ou alternativamente):

i. Reparar o dano ou restituir a coisa (exceto impossibilidade)


ii. Renunciar a bens e direitos indicados pelo MP, como
instrumentos produtos ou proveito do crime
iii. Prestar serviços à comunidade ou entidades públicas por
período correspondente à pena mínima, diminuída de 1/3 a
2/3
iv. Pagar prestação pecuniária a entidade pública ou interesse
social
v. Cumprir outra condição (condição específica): prazo
determinado, proporcional e compatível com a infração
penal imputada
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Procedimento do Acordo de Não Persecução

Formalizado por escrito e firmado pelo MP, investigado e defensor

Homologação em audiência, com verificação pelo juiz da: voluntariedade


e legalidade

Juiz têm 3 possibilidades:


1) Devolução dos autos:
autos: se considerar as condições insuficientes ou
inadequadas
2) Recusa em homologar:
homologar: : MP analisará a necessidade de
complementação das investigações ou oferecimento da denúncia
3) Homologar

Após homologado, o MP deverá executá-


executá-lo no Juízo da Execução
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Teoria da Cegueira Deliberada

Também conhecida como teoria das instruções,


instruções, teoria do avestruz,
avestruz,
conscious avoidance doctrine e willful blindness doctrine;
“A willful blindness tem sido utilizada pelos tribunais norte norte--americanos
para admitir a imputação subjetiva no tipo penal de lavagem de capitais,
notadamente nos casos em que o agente tinha consciência da elevada
probabilidade de que os bens ou recursos envolvidos eram provenientes
de infração antecedente e, ainda assim, agiu de modo indiferente a esse
conhecimento.” (MELLO, Sebastian Borges de Albuquerque, HERNANDES, Camila Ribeiro. O Delito de Lavagem de Capitais e a
Teoria da Cegueira Deliberada: Compatibilidade no Direito Penal Brasileiro?. Conpedi Law Review
Review,, 2017. Disponível em:
< http://www.indexlaw.org/index.
http://www.indexlaw.org/index.php
php/
/conpedireview
conpedireview/ /article
article//view
view/3783/
/3783/pdf
pdf>.
>. Acesso em 09/03/2021)

Omissões propositais para evitar responsabilização criminal;


Imperiosa comprovação de culpa em relação ao conhecimento da origem
ilícita dos bens envolvidos;
Habitualmente aplicada nos países que adotam o sistema common law;
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Teoria da Cegueira Deliberada

No Brasil,
Brasil, a jurisprudência tem entendido pela possibilidade de aplicação
do dolo eventual à Lavagem de Capitais e, consequentemente,
consequentemente, pelo
emprego da teoria
teoria;;

Primeira vez em que foi explicitamente abordada no Brasil foi no caso do


furto ao Banco Central do Brasil em Fortaleza/CE, quando os responsáveis
pelo furto se dirigiram a uma concessionária de veículos e fizeram uma
compra de 11 (onze) carros à vista em dinheiro (utilizando notas de R$
50,00). Os responsáveis pela venda foram denunciados pelo crime de
lavagem de capitais, pois teriam mantido posição de cegueira sobre a
procedência do dinheiro. Houve condenação em primeiro grau a qual foi
reformada pelo Tribunal Regional Federal da 5°
5° Região (Rel. Des. Rogério
Fialho Moreira, ACR nº 5520/CE);
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Teoria da Cegueira Deliberada
AÇÃO PENAL 470 - MENSALÃO
O ministro revisor,
revisor, Ricardo Lewandowski, expressou entendimento
segundo o qual é imperioso que o lavador tenha conhecimento a origem
ilícita do dinheiro e atua com o deliberado propósito de maquiar essa
ilicitude e reinseri-
reinseri-lo de aparência lícita na economia (dolo direto
direto);
);
O ministro relator,
relator, Joaquim Barbosa
Barbosa,, firmou entendimento de que o crime
poderia ser cometido por pessoa que não necessariamente atua com a
intenção deliberada de lavar o dinheiro, mas que desconfia/imagina que o
montante tenha origem ilícita e assume o risco de que através da sua ação
esteja lavando o capital, apesar de não querer lavá-
lavá-lo deliberadamente
(dolo eventual);
Para a ministra Rosa Weber, devem ser observados os seguintes requisitos
para aplicação da teoria:
teoria:
Ciência do agente quanto à elevada probabilidade de que os bens, direitos ou valores envolvidos
provenham de crime;
O atuar de forma indiferente do agente a esse conhecimento, e
A escolha deliberada do agente em permanecer ignorante a respeito de todos os fatos, quando possível a
alternativa
OBRIGADO

Lucianofsantoro

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