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Direito Penal Econômico e Criminalidade Organizada

Prof. Ms. Patricie Barricelli Zanon


Advogada Criminal Compliance
Doutoranda e Mestre em Direito Político e Econômico – Mackenzie .
Pós-Graduada em Compliance – Universidade de Coimbra

e-mail: patricie.barricelli@yahoo.com.br

Direito Penal Econômico e Criminalidade Organizada


LAVAGEM DE DINHEIRO

Direito Penal Econômico e Criminalidade Organizada


1. Conceito: Lavagem de Dinheiro – diferenças ao redor do mundo

Processamento de proventos
EUA: Minuciosa e descritiva criminosos para disfarçar sua
origem ilegal

Alemanha: ocultação ilegal de


ativos adquiridos;
“[...] a atividade que possui como principal
característica a inserção, no sistema
econômico, de bens oriundos de ações
Ocultar ou dissimular a
ilícitas proporcionando, assim, um
natureza, origem, localização,
aumento no patrimônio do agente. Ou
disposição, movimentação ou
seja, é dada uma “aparência de licitude ao
propriedade de bens, direitos
produto ou benefício procedente do
ou valores provenientes, direta
delito”.
ou indiretamente, de infração
Rômulo Palitot Braga
penal

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2. Histórico: Internacional
:
 Internacionalização do crime organizado: Tráfico de Drogas – 1980

Alteração no paradigma de combate à criminalidade => minar fontes de


recursos

 Necessidade de engajamento de bancos e setores obrigados


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2. Histórico: Internacional

Movimento internacional: GAFI – 1989

Convenção de Viena 1988 (Brasil Decreto nº 154/1991)

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2. Histórico: Brasil

 Lei nº 9613/1998

 Membro do GAFI: 2000

Lei nº 12863/2012

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3. Bem jurídico tutelado Concurso material ?

BEM JURÍDICO TUTELADO PELOS ORDEM CONÔMICA E SISTEMA


CRIMES ANTECEDENTES FINANCEIRO
(Vicente Greco filho ) ( Luís Régis Prado)

ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA CRIME PLURIOFENSIVO


(Pierpaolo Bottini/ Gustavo (Marco Antônio de Barros)
Badaró )

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3. Bem jurídico tutelado Concurso material ?

STJ: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. BANESTADO. LAVAGEM DE DINHEIRO. DESCRIÇÃO


DE DELITO ANTECEDENTE. REFORMATIO IN PEJUS. PREJUDICIALIDADE. PRESCRIÇÃO RECONHECIDA EM
RECURSO MINISTERIAL. PENA-BASE. MAJORAÇÃO JUSTIFICADA. CAUSA DE AUMENTO PREVISTA NO ART. 1º,
§ 4º, DA LEI N. 9.613/98. HABITUALIDADE DEMONSTRADA. CONTRARIEDADE AOS ARTS. 381, III, 617
DO CPP, 59 DO CP E 1º, § 4º, DA LEI N. 9.613/98 QUE NÃO SE VERIFICA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE
NEGA PROVIMENTO.
I - A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se pela autonomia do crime de lavagem de
dinheiro e pela possibilidade de existência do crime de evasão de divisas como crime antecedente,
consignando que "A lavagem de dinheiro pressupõe a ocorrência de delito anterior, sendo próprio do delito
que esteja consubstanciado em atos que garantam ou levem ao proveito do resultado do crime anterior,
mas recebam punição autônoma. Conforme a opção do legislador brasileiro, pode o autor do crime
antecedente responder por lavagem de dinheiro, dada à diversidade dos bens jurídicos atingidos e à
autonomia deste delito" (REsp 1234097/PR, Rel. Ministro GILSON DIPP, Quinta Turma, julgado em
03/11/2011, DJe 17/11/2011). No mesmo diapasão: AgRg no REsp 1244668/MS, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 15/12/2015, DJe 02/02/2016. (STJ, AgRg no REsp 1253022, 5ª Turma,
Reynaldo Soares da Fonseca, DJe. 18.12.2017)

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3. Fases da Lavagem de Dinheiro:

COLOCAÇÃO/COLOCAÇÃO/ DISSIMULAÇÃO/ LAYERING


PLACEMENT
INTEGRAÇÃO/
RECYCLING

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4. art. 1º - Tipo misto alternativo: ocultação e dissimulação

OCULTAR

Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza,


origem, localização, disposição,
movimentação ou propriedade de bens,
direitos ou valores provenientes, direta ou
indiretamente, de infração penal.

DISSIMULAR

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4. art. 1º - Ocultação e dissimulação

OBJETIVA: qualquer ato


relativo é suficiente para
ser o primeiro ato

CONSUMAÇÃO SUBJETIVA: prova ou


TEORIAS indício forte da finalidade
de reintegração

MISTA: análise das


circunstâncias do caso
concreto

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4. art. 1º - Tipo misto alternativo: ocultação e dissimulação
STJ: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL
TIDO POR VIOLADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 284 DO STF. PEDIDO DE CONCESSÃO DE HABEAS CORPUS DE OFÍCIO.
OCORRÊNCIA DE FLAGRANTE ILEGALIDADE. NÃO SUBSUNÇÃO DA CONDUTA DELIMITADA NO ACÓRDÃO AO CRIME DE
LAVAGEM DE DINHEIRO. ORDEM CONCEDIDA, DE OFÍCIO, PARA ABSOLVER A AGRAVANTE.
(...)
3. Ainda que a mera ocultação, identificada como a primeira fase do ciclo de lavagem de dinheiro, caracterize o crime
descrito no art. 1° da Lei n. 9.613/1998, porquanto o tipo penal não exige, para a sua consumação, as demais etapas
para dissimular e reinserir os ativos na economia formal, a conduta, para ser reconhecida como típica, deve estar
acompanhada de um elemento subjetivo específico, qual seja, a finalidade de emprestar aparência de licitude aos
valores ocultados, em preparação para as fases seguintes, denominadas dissimulação e reintegração.
4. Deve ser reconhecida, de ofício, a impossibilidade de subsunção da conduta atribuída à agravante - receber
depósito bancário de R$ 45,00 de integrante de associação para o tráfico de drogas - ao tipo penal relacionado ao
crime de lavagem de capitais, quando tanto a sentença condenatória quando o acórdão recorrido deixam de indicar,
minimamente, o intuito da ré de dissimular a origem ilícita do valor recebido ou, ao menos, a aceitação do risco de
produzir tal resultado.
5. Agravo regimental não provido. Habeas corpus concedido, de ofício, para absolver a agravante, por não constituir o
fato crime de lavagem de dinheiro. (STJ, AgRg no AREsp 328229, 6ª Turma, Rogério Schietti Cruz, DJe. 02.02.2016)

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4. art. 1º - Tipo misto alternativo: ocultação e dissimulação

INSTANTÊNEO: se esgota com a produção do


resultado. Uma vez realizados os elementos
do tipo, não mais se poderá fazer para
impedir a sua ocorrência.

CONSUMAÇÃO

PERMANENTE: a consumação se prolonga


no tempo, dependendo da ação do agente,
que poderá cessar quando este quiser. Não
se confunde com crime instantâneo com
efeitos permanentes, cuja permanência
não depende da continuidade da ação do
agente.

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4. art. 1º - Tipo misto alternativo: ocultação e dissimulação

CONSUMAÇÃO

“ E, pelo prisma objetivo, nos parece que os “O crime de lavagem pode tanto ser
crimes de lavagem de dinheiro, na forma do considerado permanente quanto instantâneo
caput, têm caráter instantâneo. O ato de de efeito permanente. Permanente porque a
ocultar ou dissimular consuma o delito no conduta do agente lavador permite, em face
instante de sua prática. A manutenção do de suas características, que o ilícito se
bem oculto ou dissimulado é mera prolongue voluntariamente no tempo. (...)
decorrência ou desdobramento do ato Entretanto, de acordo com as circunstâncias
inicial. Trata-se de crime instantâneo de do caso concreto, o crime de lavagem pode
efeitos permanentes, no qual a ser instantâneo de efeito permanente. Isto é,
consumação cessa no instante do ato, mas aquele no qual a lesividade se protrai ou se
seus efeitos perduram no tempo.” repete pontilhada no tempo, a partir de uma
PIERPAOLO CRUZ BOTTINI ação delituosa perfeita e acabada.” MARCO
GUSATAVO BADARÓ ANTÔNIO DE BARROS

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4. art. 1º - Tipo misto alternativo: ocultação e dissimulação

STJ: (...) 4. O risco de lavagem de capitais persiste até a data atual e está apoiado nas
investigações policiais, o que é reforçado pela menção, em colaboração premiada, de
outros valores transferidos ao paciente e demais investigados, ainda sob apuração.
Outrossim, não se desprezam, para a avaliação quanto à afirmada reiteração delitiva,
o momento em que o juiz natural tomou conhecimento dos novos crimes atribuídos
ao paciente, a par dos indícios de que cifra milionária desviada dos fundos públicos
continua em lugar incerto, com a origem dissimulada.
5. A alegação de que as contas no exterior teriam sido movimentadas entre os anos
de 2011 a 2015, por si só, não indica necessariamente o fim da atividade ilícita;
sinaliza, antes, a contínua ocultação e branqueamento de capitais. Ademais, a
aventada ausência de contemporaneidade não se sustenta ante a natureza do
crime previsto no art. 1º da Lei n. 9.613/1998, de cunho permanente, em que a
agressão ao bem jurídico se perpetua enquanto não desfeito o escamoteio ilícito.(...)
(STJ, HC 412846, 6ª Turma, Rogério Schietti Cruz, DJe. 02.03.2018)

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4. art. 1º - Tipo misto alternativo: ocultação e dissimulação

(...) 8. Não há definição jurisprudencial acerca da natureza jurídica do


crime de lavagem de dinheiro, se permanente ou instantâneo de
efeitos permanentes. Ademais, na hipótese em apreço, a prescrição,
calculada pelo máximo da pena privativa de liberdade prevista em
abstrato, com a causa de aumento do § 4º do art. 1º da Lei 9.613/98,
tem o prazo de 20 anos, nos termos do art. 109, I, do CP, razão pela
qual não é possível, no presente momento processual, declarar-se
extinta a punibilidade. (...) (STJ, APn 819, Corte Especial, Nancy
Andrighi, DJe. 23.03.2018)

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5. Lavagem e crime antecedente

LAVAGEM DE
INFRAÇÃO PENAL DINHEIRO

STJ: (...) 6. Importa salientar que a denúncia, embora narre também a atividade voltada à sonegação
tributária, não imputou este delito aos pacientes, dada a pendência de procedimentos fiscais.
Lembre-se, contudo, que o crime de quadrilha é autônomo, independendo da consumação dos
delitos para os quais foi constituída. Assim, pouco importa, neste momento processual, para efeito
de deflagração da ação penal especificamente pela associação delitiva, a conclusão do processo
administrativo fiscal.
7. O crime de lavagem de dinheiro também é autônomo, conforme reiteradamente tem
proclamado a nossa jurisprudência, e, conquanto exija o delineamento dos indícios de cometimento
de uma infração penal antecedente, com ela não guarda qualquer relação de dependência para
efeito de persecução penal, inclusive na hipótese de ocultação de valores oriundos de sonegação
tributária. (...) (STJ, HC 235900, 6ª Turma, OG Fernandes, DJe. 21.06.2013)

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5. Lavagem e crime antecedente permanente

LAVAGEM DE
INFRAÇÃO PENAL DINHEIRO

STJ: PROCESSUAL PENAL E PENAL. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E LAVAGEM DE DINHEIRO. TRANCAMENTO


DA AÇÃO PENAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. FATOS NARRADOS NA DENÚNCIA DÃO CONTA QUE A CONDUTA
DELITUOSA PERDUROU ATÉ DATA POSTERIOR AO ADVENTO DA LEI 12.850/2013. SÚMULA 711/STF.
INEXISTÊNCIA DE DEFINIÇÃO LEGAL, À ÉPOCA DOS FATOS, PARA O CRIME DE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA.
IMPUTAÇÃO DE CRIME CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TAMBÉM COMO ANTECEDENTE AO DE LAVAGEM.
PARTICIPAÇÃO NO CRIME ANTECEDENTE. DISPENSÁVEL À ADEQUAÇÃO DE CONDUTA DE QUEM OCULTA OU
DISSIMULA A NATUREZA DOS VALORES PROVENIENTES DA EMPREITADA DELITUOSA.INOCORRÊNCIA DE
TAL ESPÉCIE DE CRIME. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. RECURSO EM HABEAS CORPUS IMPROVIDO.
(...) 2. A denúncia explicita que a atuação criminosa da denunciada foi estável e permanente ao longo do
tempo, ressaltando que com o objetivo de ocultar sua origem criminosa, usava empresas, ambas integradas
por seus filhos, que atuaram conscientemente no estratagema (tópico 3). (STJ, RHC 74751 / DF, 6ª Turma,
Nefi Cordeiro, DJe. 27.10.2016)

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6. Lavagem dinheiro e princípio da insignificância

CRIME DE RESULTADO - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

BEM JURÍDICO APLICAÇÃO

ORDEM ECONÔMICA MAIS EXTENSA

ADMINSITRAÇÃO DA JUSTIÇA MENOS EXTENSA

OBS: a aplicação do princípio ao crime antecedente gera a ausência de elemento


típico formador da lavagem.

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7. Sujeito ativo: Crime Comum

LAVAGEM DE DINHEIRO CRIME COMUM

AUTOLAVAGEM:

AUTOR DO CRIME DUPLA


AUTOR DA LAVAGEM
ANTECEDENTE INCRIMINAÇÃO

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7. Objeto material e mescla de bens:

BENS, DIREITOS E VALORES


PROVENINETES DIRETA OU
OBJETO MATERIAL INDIRETAMENTE DE INFRAÇÃO
PENAL

OBS:
 NÃO INCLUI INSTRUMENTO DO CRIME;
OCULTAÇÃO/ DISSIMULAÇÃO DE BENS DE POSSE ILÍCITA => NÃO CONSTITUEM LAVAGEM, POIS SÃO
PUNÍVEIS COMO CRIMES AUTÔNOMOS.

CAUSALIDADE + QUANTIDADE DE
CASOS DE MESCLA CAPITAL SUJO

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8. Lavagem de Dinheiro e condutas neutras/standard:

Condutas neutras: desenvolvimento de atividades profissionais que em tese


favorecem a atividade do lavador, mas se distanciam dela em face da atividade
exercida. Ex: advogado criminal (Alemanha e Espanha), corretores de imóveis,
vendedores de automóvies, corretores de bolsa de valores

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8. Lavagem de Dinheiro e condutas neutras/standard:

Doutrina incipiente: tese para exclusão


de responsabilidade: 1) localização na
Jurisprudência: aceitação de tipicidade (adequação social) em uma visão
denúncias nos processos criminais clássica ou dentro da teoria da imputação
objetiva (risco permitido ou proibição de
de pessoas que desenvolvem sua regresso); 2) restrição própria dentro dos
atividade profissional sem conceitos dogmáticos do concurso de
qualquer vínculo com a atividade pessoas. TEORIA DA IMPUTAÇÃO
criminal do lavador de capitais. OBEJTIVA

Mero conhecimento não justifica a


tipicidade de atividades neutras.

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8. Lavagem de Dinheiro e condutas neutras/standard: case

Um funcionário de uma instituição financeira prestava assessoria financeira a um


deputado federal, correntista daquele banco. Durante o exercício da função
pública, o parlamentar recebe cem mil reais como propina, dinheiro este
depositado em espécie na conta corrente do deputado. Ato contínuo, o
parlamentar solicita que o funcionário da instituição financeira faça a
transferência do valor a um banco estrangeiro e não os declara ao banco Central
do Brasil e à Receita Federal. Plenamente ciente do cargo público ocupado pelo
cliente e da alta probabilidade de o valor ter proveniência ilícita, o funcionário do
banco faz a transferência, informando a operação ao COAF. Deflagrada operação
da Polícia Federal e após regular quebra de sigilo bancário, ambos Por tais
condutas, tanto o deputado federal como o funcionário do banco são
denunciados pelos crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

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8. Lavagem de Dinheiro e condutas neutras/standard: case

Lei Complementar nº 105/2001:


Art. 1º, § 3º: Não constitui violação do dever de sigilo:
(...) IV – a comunicação, às autoridades competentes, da prática de ilícitos penais
ou administrativos, abrangendo o fornecimento de informações sobre operações
que envolvam recursos provenientes de qualquer prática criminosa

Lei 9.613/98:
Art. 9º, inciso I: Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas
físicas e jurídicas que tenham, em caráter permanente ou eventual, como
atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não:
I - a captação, intermediação e aplicação de recursos financeiros de terceiros, em
moeda nacional ou estrangeira

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8. Lavagem de Dinheiro e condutas neutras/standard: case

Lei 9613/1988: Art. 11. As pessoas referidas no art. 9º:


I - dispensarão especial atenção às operações que, nos termos de instruções emanadas das autoridades competentes, possam
constituir-se em sérios indícios dos crimes previstos nesta Lei, ou com eles relacionar-se;
II - deverão comunicar ao Coaf, abstendo-se de dar ciência de tal ato a qualquer pessoa, inclusive àquela à qual se refira a
informação, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a proposta ou realização:
a) de todas as transações referidas no inciso II do art. 10, acompanhadas da identificação de que trata o inciso I do mencionado
artigo; e
b) das operações referidas no inciso I;
III - deverão comunicar ao órgão regulador ou fiscalizador da sua atividade ou, na sua falta, ao Coaf, na periodicidade, forma e
condições por eles estabelecidas, a não ocorrência de propostas, transações ou operações passíveis de serem comunicadas nos
termos do inciso II.
§ 1º As autoridades competentes, nas instruções referidas no inciso I deste artigo, elaborarão relação de operações que, por suas
características, no que se refere às partes envolvidas, valores, forma de realização, instrumentos utilizados, ou pela falta de
fundamento econômico ou legal, possam configurar a hipótese nele prevista.
§ 2º As comunicações de boa-fé, feitas na forma prevista neste artigo, não acarretarão responsabilidade civil ou administrativa.
§ 3o O Coaf disponibilizará as comunicações recebidas com base no inciso II do caput aos respectivos órgãos responsáveis pela
regulação ou fiscalização das pessoas a que se refere o art. 9o. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
Art. 11-A. As transferências internacionais e os saques em espécie deverão ser previamente comunicados à instituição financeira,
nos termos, limites, prazos e condições fixados pelo Banco Central do Brasil.

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9. Pessoas obrigadas e deveres de compliance

LEI Nº 9613/1998: INSTITUIÇÃO DE


CONTROLES PARA PREVENÇÃO À LAVAGEM
DE DINHEIRO

PESSOAS SUJEITAS AOS OBRIGAÇÕES/ DEVERES DE


MECANISMOS DE CONTROLE COMPLIANCE - ART. 10 E 11
/PESSOAS OBRIGADAS – ART. 9
Políticas e procedimentos
específicos

Identificação de clientes

Manutenção de registros

Comunicação de operações
financeiras

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9. Pessoas obrigadas e deveres de compliance: advocacia

PESSOAS OBRIGADAS:
Art. 9º Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que tenham, em caráter permanente
ou eventual, como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não:
(...)
Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações:
IX - as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, que operem no Brasil como agentes, dirigentes, procuradoras,
comissionárias ou por qualquer forma representem interesses de ente estrangeiro que exerça qualquer das atividades referidas
neste artigo;
X - as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam atividades de promoção imobiliária ou compra e venda de imóveis;
XI - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem jóias, pedras e metais preciosos, objetos de arte e antigüidades.
XII - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de luxo ou de alto valor, intermedeiem a sua comercialização ou
exerçam atividades que envolvam grande volume de recursos em espécie;
XIII - as juntas comerciais e os registros públicos; (...)
XV - pessoas físicas ou jurídicas que atuem na promoção, intermediação, comercialização, agenciamento ou negociação de
direitos de transferência de atletas, artistas ou feiras, exposições ou eventos similares;
XVI - as empresas de transporte e guarda de valores;
XVII - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de alto valor de origem rural ou animal ou intermedeiem a sua
comercialização; e
XVIII - as dependências no exterior das entidades mencionadas neste artigo, por meio de sua matriz no Brasil, relativamente a
residentes no País.

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9. Pessoas obrigadas e deveres de compliance: advocacia

Art. 9º Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que tenham, em caráter
permanente ou eventual, como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não:
(...)
Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações:
(...)
XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de assessoria, consultoria,
contadoria, auditoria, aconselhamento ou assistência, de qualquer natureza, em operações:
a) de compra e venda de imóveis, estabelecimentos comerciais ou industriais ou participações societárias de
qualquer natureza;
b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros ativos;
c) de abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança, investimento ou de valores mobiliários;
d) de criação, exploração ou gestão de sociedades de qualquer natureza, fundações, fundos fiduciários ou
estruturas análogas;
e) financeiras, societárias ou imobiliárias; e
f) de alienação ou aquisição de direitos sobre contratos relacionados a atividades desportivas ou artísticas
profissionais;

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9. Pessoas obrigadas e deveres de compliance: advocacia

Art. 9º Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que tenham, em caráter
permanente ou eventual, como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não:
(...)
Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações:
(...)
XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de assessoria, consultoria,
contadoria, auditoria, aconselhamento ou assistência, de qualquer natureza, em operações:
a) de compra e venda de imóveis, estabelecimentos comerciais ou industriais ou participações societárias de
qualquer natureza;
b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros ativos;
c) de abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança, investimento ou de valores mobiliários;
d) de criação, exploração ou gestão de sociedades de qualquer natureza, fundações, fundos fiduciários ou
estruturas análogas;
e) financeiras, societárias ou imobiliárias; e
f) de alienação ou aquisição de direitos sobre contratos relacionados a atividades desportivas ou artísticas
profissionais;

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9. Pessoas obrigadas e deveres de compliance: advocacia

Art. 7º, inciso XIX: Direito do advogado - recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou
deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou
solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional;

Patrocínio infiel
Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional, prejudicando interesse, cujo
patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa

Resolução nº 24, de 16/01/2013 (efeitos a partir de 01/03/2013), do COAF, que, de seu artigo 1º, consta a
obrigatoriedade de informar por aquelas pessoas físicas ou jurídicas "não submetidas à regulação de órgão próprio
regulador que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria,
aconselhamento ou assistência, de qualquer natureza, nas seguintes operações: (

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9. Pessoas obrigadas e deveres de compliance: advocacia

Resolução nº 24, de 16/01/2013 (efeitos a partir de 01/03/2013), do COAF, que, de seu artigo 1º, consta a
obrigatoriedade de informar por aquelas pessoas físicas ou jurídicas "não submetidas à regulação de órgão próprio
regulador que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria,
aconselhamento ou assistência, de qualquer natureza, nas seguintes operações: (

Consulta n 49.0000.2012.006678-6/OEP:
"Lei 12.683/12, que altera a lei 9.613/98, para tornar mais eficiente a persecução penal dos crimes de
lavagem de dinheiro. Inaplicabilidade aos advogados e sociedades de advogados. Homenagem aos princípios
constitucionais que protegem o sigilo profissional e a imprescindibilidade do advogado à Justiça. Lei especial, estatuto
da Ordem (lei 8.906/94), não pode ser implicitamente revogado por lei que trata genericamente de outras profissões.
Advogados e as sociedades de advocacia não devem fazer cadastro no COAF nem têm o dever de divulgar dados
sigilosos de seus clientes que lhe foram entregues no exercício profissional. Obrigação das seccionais e comissões de
prerrogativas nacional e estaduais de amparar os advogados que ilegalmente sejam instados a fazê-los."

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10. Compliance PLDFT:
Refere-se às leis, regulações e procedimentos destinados a impedir que criminosos disfarcem com
renda legítima fundos obtido.

Pressupõe a implementação de um programa de compliance PLDFT robusto para evitar as


consequências graves da não conformidade: dano reputacional; sanções regulatórias; sanções civis e
penais.

Elementos:

a) Abordagem baseada em risco


b) Políticas, procedimentos controles - Diligência Prévia: KYC, KYCC, KYB
c) Designação de Função de compliance PLD
d) Auditoria independente
e) Programa de treinamento de funcionários

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10. Case: COAF

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10. Case: COAF

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10. Case: COAF

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11. Competência: CPP
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa,
pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
§ 1o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada
pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
§ 2o Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que
o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
§ 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a
infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.
Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a
competência firmar-se-á pela prevenção.
Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.
§ 1o Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção.
§ 2o Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar
conhecimento do fato.

Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de
tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão
provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação

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11. Competência: STJ

STJ: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. EVASÃO DE DIVISAS, SONEGAÇÃO DE TRIBUTOS E


LAVAGEM DE DINHEIRO. CONSUMAÇÃO. LOCAL ONDE REALIZADAS AS OPERAÇÕES IRREGULARES. CONTA CC5/FOZ
DO IGUAÇU. COMPETÊNCIA. DOMICÍLIO DO INVESTIGADO. PRINCÍPIO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO.
PRECEDENTES DO STJ.
1. Nos crimes de evasão de divisas, sonegação de impostos e lavagem de dinheiro, competente para processar e
julgar o feito é o Juízo Federal do local onde se realizaram as operações irregulares. Precedentes do STJ.
2. Entretanto, tendo as operações financeiras sido realizadas em instituição localizada em Foz do Iguaçu/PR (conta
CC5), a Terceira Seção desta Corte (CC-49.960, CC-74.329 e CC-85.997), diante das peculiaridades - número
elevado de contas de depositantes domiciliados em diversos Estados da Federação-, vem decidindo, em
homenagem ao princípio da duração razoável do processo, pela competência do Juízo Federal do domicílio do
investigado.
3. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo da 6ª Vara Criminal Especializada em
Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional e em Lavagem de Valores da Seção Judiciária do Estado de São
Paulo, o suscitante. (STJ, CC 93991, 3ª Seção, Jorge Mussi, DJe. 17.06.2010)

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11. Competência: CPP – STJ

STJ: (...) 3. Este STJ já fixou orientação nesse sentido, afirmando que em razão das
peculiaridades do caso, em que mais de 3.000 (três mil) pessoas são investigadas
pela prática dos crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro, a Terceira Seção
desta Corte entendeu pela fixação da competência no domicílio do réu, local onde
as provas podem ser colhidas com maior celeridade (CC 74.329/RJ, Rel. Min. MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, DJU 04.10.07); com igual diretriz: CC 87.775/MG, Rel.
Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJU 01.02.08).
4. Ordem concedida, para determinar a remessa do feito à Justiça Federal da Seção
Judiciária do Rio de Janeiro, local da consumação dos ilícitos e do domicílio do
paciente, em que pese o parecer ministerial em sentido contrário. (STJ, HC 85951, 5ª
Turma, Napoleão Nunes Maia Filho, Dje. 23.06.2008)

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11. Competência: CPP – STJ

STJ: (...) 1. Os autos dão conta da imputação de múltiplas ações delituosas - fatos
típicos praticados em comarcas diversas - cujos resultados alcançam vasta região
territorial. Dessa forma, mostra-se inviável a aplicação da regra prevista no caput
do art. 70 do Código de Processo Penal, que dispõe que a competência será,
de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, porquanto
impossível precisar um único local de consumação dos delitos.
2. Dada a natureza permanente do crime de tráfico de drogas, praticado em
território de duas ou mais jurisdições, incide a regra descrita no art. 71 do Código de
Processo Penal, segundo a qual, em hipóteses tais, a competência firmar-se-á pela
prevenção. (...) (STJ, RHC 67558, 6ª Turma, Rogério Schietti Cruz, DJe. 06.10.2016)

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