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PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE_0000132-19.2024.5.20.

0007

Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 20ª Região

AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL


ACPCiv 0000132-19.2024.5.20.0007
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Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 16/02/2024


Valor da causa: R$ 500.000,00

Partes:
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - CNPJ: 26.989.715/0001-02
RÉU: ESTADO DE SERGIPE - CNPJ: 13.128.798/0001-01
RÉU: UNIÃO FEDERAL (AGU) - CNPJ: 26.994.558/0001-23
RÉU: MUNICIPIO DE ARACAJU - CNPJ: 13.128.780/0001-00
RÉU: SPE PESQUEIRA LTDA. - CNPJ: 19.942.097/0001-80
Documento assinado pelo Shodo

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 20ª REGIÃO
1ª VARA DO TRABALHO DE ARACAJU
ACPCiv 0000132-19.2024.5.20.0007
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
RÉU: ESTADO DE SERGIPE E OUTROS (3)

DECISÃO - PJe

TUTELA DE URGÊNCIA

Vistos examinados, etc…

Cuidam os autos de AÇÃO CIVIL PÚBLICA proposta pelo


MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO em face do ESTADO DE SERGIPE, UNIÃO
FEDERAL, MUNICÍPIO DE ARACAJU e SPE PESQUEIRA LTDA, com pedido de tutela de
urgência, buscando que os Reclamados disponibilizem condições mínimas de higiene e
saúde para os trabalhadores no galpão provisório do Terminal Pesqueiro de Aracaju,
sob pena de pagamento astreintes.

Ao exame.

Modernamente, tem-se que é dever do Estado-Juiz valer-se de


instrumentos processuais idôneos à prevenção de dano aos direitos fundamentais.
Não há dúvidas de que a tutela inibitória consiste em um desses aparatos processuais,
porquanto possui natureza preventiva e tem por escopo evitar a prática, repetição ou
continuação do ilícito, do qual, potencialmente, surgirá o dano.

“Na ação inibitória destinada a impedir a repetição ou a


continuação de um agir ilícito, a prova da probabilidade do ilícito é facilitada em virtude
de já ter ocorrido um ilícito ou de a ação ilícita já ter se iniciado. Diante da prova do fato
passado (fato indiciário), e tomando-se em consideração a natureza do ilícito, torna-se
fácil estabelecer um raciocínio (presuntivo) que, ainda que partindo de uma prova
indiciária (prova que aponta para o fato futuro), permita a formação de um juízo
(presunção) de probabilidade de ocorrência de um fato futuro".[1]

Ressalte-se que o ordenamento jurídico não alberga direitos de


natureza absoluta, tampouco assegura a quem quer que seja a faculdade de lesar a
outrem ou a coletividade. Aliás, o exercício de qualquer direito encontra limites que,

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quando ultrapassados, configura o abuso de direito. É o que consta do art. 187 do


Código Civil:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular


de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.

Daí porque a concessão de tutela inibitória não significa a


vulneração de forma peremptória da presunção de inocência.

Aliás, o microssistema de tutela coletiva do Brasil prevê,


expressamente, a possibilidade de o Estado-Juiz antecipar-se à prática do ilícito e por a
salvo o direito a ser tutelado. É o que se depreende do art. 84, § 5º, do CDC:

Art. 84. Na ação que tenha por objeto o


cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá
a tutela específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

[…]

§ 5º Para a tutela específica ou para a


obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz
determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão,
remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento
de atividade nociva, além de requisição de força policial.

Na mesma direção, o art. 4º da Lei nº 7.347/85:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta


Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade
por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei
nº 12.529, de 2011).

[…]

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IV – a qualquer outro interesse difuso ou


coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)

[…]

Art. 4o Poderá ser ajuizada ação cautelar


para os fins desta Lei, objetivando, inclusive, evitar o dano ao meio
ambiente, ao consumidor, à honra e à dignidade de grupos raciais,
étnicos ou religiosos, à ordem urbanística ou aos bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (Redação
dada pela Lei nº 12.966, de 2014)

No caso em tela, o Ministério Público do Trabalho busca


exatamente tutela inibitória com objetivo de impedir que o réu, volte à prática dos
mesmos atos antijurídicos constatados através do inquérito civil instaurado pelo
parquet. O objetivo do “Parquet” é o “impedimento de atividade nociva” (art. 84, § 5º, do
CDC) e “evitar o dano” (art. 4º, da Lei 7.347/85).

Pois bem.

A tutela inibitória é admitida no processo do trabalho, de modo


a evitar a prática, a continuação ou a repetição de atos ilícitos. O Juízo pode ainda
considerar a probabilidade de sua ocorrência e, assim, conceder a tutela, se
preenchidos os requisitos do artigo 300, do NCPC.

No caso vertente, presente está a probabilidade do direito,


consistente na demonstração da ocorrência dos ilícitos alegados na exordial. O
periculum in mora reside na violação às legislações sanitária e trabalhista verificadas
no galpão provisório do Terminal Pesqueiro de Aracaju, que repercutem na integridade
física dos trabalhadores e nas condições básicas e mínimas para o trabalho decente, de
acordo com as prescrições legais.

Por tais motivos, DEFERE-SE A LIMINAR PLEITEADA EM SEDE DE


ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, para determinar que os reclamados, no âmbito de suas
responsabilidades, referente ao galpão provisório do Terminal Pesqueiro de Aracaju:

1) Disponibilize instalações sanitárias em boas condições


de higiene, separadas por sexo, contendo material para lavagem e secagem das
mãos, proibindo-se o uso de toalhas coletivas. (itens 24.2.2, 24.2.3 e 24.3.4 da NR-
24);

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2) Disponibilize alojamento em conformidade ao disposto


na NR-24, apresentando, além de instalações físicas seguras, as seguintes
características:

a) Dormitórios em boas condições de conforto, higiene,


limpeza, iluminação e ventilação natural e artificial. (itens 24.7.2, 24.7.3 e 24.9.7
da NR-24);

b) Disponibilidade, pelo empregador, de colchões, lençóis,


fronhas, cobertores e travesseiros limpos e higienizados. (item 24.7.3, alínea "c",
da NR-24);

c) Quarto com armários para guarda de enxoval de cama,


roupas e pertences pessoais do trabalhador. (item 24.7.3.2 da NR-24);

d) Local para refeições com equipamentos para


conservação e aquecimento de alimentos, sendo proibida a instalação e
utilização de fogão, fogareiro ou similares dentro dos quartos. (item 24.7.5 e item
24.7.9, alínea "b", da NR-24);

e) Instalações sanitárias com chuveiros. (item 24.7.2,


alínea "c", da NR-24);

f) Locais e infraestrutura para lavagem e secagem de


roupas pessoais dos alojados ou ser fornecido serviço de lavanderia. (item 24.7.6
da NR-24).

3) Instale bombonas ou outros recipientes para o


armazenamento adequado dos resíduos sólidos gerados no terminal pesqueiro,
para posterior coleta pelo serviço público municipal, a fim de se prevenir
acidentes envolvendo a proliferação de animais sinantrópicos. (art. 141, alínea
"g", da NR-1).

As obrigações devem ser cumpridas no prazo de 30 (dias) dias


corridos, contados da notificação da presente decisão, sob pena de com multa diária
de R$ 1.000,00, até o efetivo cumprimento da medida, tudo com base no art. 537 do
CPC, aqui aplicado subsidiariamente, sem prejuízo de outras medidas para o efetivo
cumprimento da determinação judicial, a exemplo da majoração da multa diária, a ser
revertida em favor de entidade ou órgão beneficiado a ser apontado pelo Ministério
Público do Trabalho, tendo em vista a reconstituição dos bens lesados, e aprovado por
este Juízo.

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Notifiquem os réus para ciência do teor desta decisão, ocasião


em que ficarão notificados para todos os termos da presente ação, por Oficial de Justiça
.

DESIGNO audiência inaugural a ser realizada no dia 23/04/2024


às 08h15 min.

Notifiquem-se as partes da audiência designada, sob as penas


do art. 844 da CLT.

[1] (MARINONI, Luiz Guilherme, Tutela Inibitória e Tutela de


Remoção do Ilícito. Academia Brasileira de Direito Processual Civil. Disponível em:
http://www.abdpc.org.br.

ARACAJU/SE, 27 de fevereiro de 2024.

SILVIA HELENA PARABOLI MARTINS MALUF


Juiz do Trabalho Titular

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https://pje.trt20.jus.br/pjekz/validacao/24022617134540900000017036862?instancia=1
Número do processo: 0000132-19.2024.5.20.0007
Número do documento: 24022617134540900000017036862

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SUMÁRIO

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d1f8de7 27/02/2024 Decisão Decisão
07:55

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