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Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão

PJe - Processo Judicial Eletrônico

26/09/2023

Número: 0807588-17.2021.8.10.0040
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 2ª Vara Cível de Imperatriz
Última distribuição : 28/05/2021
Valor da causa: R$ 26.461,10
Assuntos: Contratos Bancários, Caução
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
FLAVIO MINOHARA (AUTOR) CARLOS AGUINALDO DIAS (ADVOGADO)
ELISIO BRUNO DRUMOND FRAGA (ADVOGADO)
STONE PAGAMENTOS S.A. (REU) EDUARDO CAMARA RAPOSO LOPES (ADVOGADO)
GUSTAVO HENRIQUE DOS SANTOS VISEU (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
10184 19/09/2023 16:10 Sentença Sentença
6642
SENTENÇA

Trata-se de demanda ajuizada por Flávio Minohara em face de Stone Pagamentos S.A,
postulando a condenação da requerida a indenização por danos materiais e morais.

Sustenta o demandante o seguinte:

1.possui contrato de prestação de serviços com a ré, cuja finalidade é receber pagamentos via
cartão de crédito;

2.efetuou uma transação no importe total de R$26.461,10 (vinte e seis mil, quatrocentos e
sessenta e um reais e dez centavos), que foi indevidamente bloqueado pela ré, sob alegação de
que tal quantia possuía natureza ilícita;

3.apesar de postular a quantia junto à ré, esta não realizou a devolução da mencionada quantia.

A inicial veio aparelhada com vários documentos.

Não houve conciliação entre as partes.

Citada, a requerida apresentou contestação sustentando, em resumo, a falta de ato ilícito que
gere o dever de indenizar.

A parte autora apresentou réplica à contestação.

Intimadas as partes para especificação de provas, ambas postularam o julgamento antecipado da


demanda.

FUNDAMENTAÇÃO

Esclareça-se, inicialmente, que o art. 2º do CDC define consumidor como toda pessoa física ou
jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final (conceito finalista).

No entanto, a jurisprudência do STJ, pautada em uma interpretação teleológica do dispositivo


legal, adere à teoria finalista mitigada ou aprofundada, a qual viabiliza a aplicação da lei
consumerista sobre situações em que, apesar do produto ou serviço ser adquirido no curso do
desenvolvimento de uma atividade empresarial, haja vulnerabilidade técnica jurídica ou fática da
parte adquirente frente ao fornecedor (REsp 2020811/SP).

Na espécie, embora o autor não seja a destinatário final do serviço, este figura na condição de
consumidor por equiparação em virtude da notória hipossuficiência técnica.

Diante disso, não há fundamento jurídico para acolher a preliminar de incompetência deste Juízo,
pois o Superior Tribunal de Justiça já firmou seu entendimento no sentido de que a facilitação da
defesa dos direitos do consumidor em juízo possibilita que este proponha ação em seu próprio
domicílio (STJ, REsp 1084036/MG). Ademais, “a eleição do foro em comarca diversa do domicílio
do consumidor desequilibra a relação entre as partes, gerando prejuízo à defesa do consumidor
lesado” (STJ, AgInt no AREsp 1605331/RO).

Dispõe o art. 355, inciso I, do CPC, que o juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo

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sentença, quando não houver necessidade de produção de outras provas.

Na situação em apreço, todos os elementos necessários ao deslinde da controvérsia já se


encontram nos autos, de sorte que nada acrescentaria a produção de provas em audiência ou
realização de perícia, o que permite o julgamento do feito no estado em que se encontra.

Aliás, é firme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que compete às


instâncias ordinárias exercer juízo acerca da necessidade ou não de dilação probatória, haja vista
sua proximidade com as circunstâncias fáticas da causa. Na linha desse entendimento, confiram-
se, entre outros, os seguintes julgados: AgRg no REsp 762.948/MG, Rel. Min. Castro Filho, DJ
19.3.07; AgRg no Ag 183.050/SC, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ 13.11.00; REsp
119.058/PE, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 23.6.97.

Quanto ao mérito, ficou incontroverso que o demandante teve a quantia total de R$26.461,10
(vinte e seis mil, quatrocentos e sessenta e um reais e dez centavos) bloqueada em razão de
suspeita de fraude na mencionada movimentação.

Na espécie, apesar de a requerida sustentar que as vendas realizadas pelo autor eram
potencialmente irregulares, esta não apresenta nenhuma prova nesse sentido.

O ônus da prova incumbiria ao fornecedor dos serviços quanto à inverdade da afirmação do


consumidor, ou mesmo em relação à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do
direito alegado pela parte autora, à luz do que estatui o artigo 333, II, do CPC.

Como sabido, eventuais cancelamentos pelo portador da compra realizada com cartão de crédito
constitui risco que integra a própria atividade desenvolvida pela ré, de modo que há abusividade
nas cláusulas contratuais que autoriza a retenção pela requerida de eventuais valores em caso de
cancelamento de compras e repassa tal prejuízo ao lojista.

A teoria do risco do negócio ou atividade é a base da responsabilidade objetiva do Código de


Defesa do Consumidor, a qual harmoniza-se com o sistema de produção e consumo em massa e
protege a parte mais frágil da relação jurídica. Assim, nos termos do art. 14, §3º, do CDC, o ônus
da prova, em caso de causa excludente responsabilidade, é do fornecedor, encargo do qual a ré
não se desincumbiu.

Assim, é de rigor determinar que a requerida devolva a quantia de R$26.461,10 (vinte e seis mil,
quatrocentos e sessenta e um reais e dez centavos).

DO DANO MORAL

Quanto ao dano moral, o Ministro Luís Felipe Salomão do Superior Tribunal de Justiça, conceitua
dano moral como “todo prejuízo que o sujeito de direito vem a sofrer por meio de violação a bem
jurídico específico. É toda ofensa aos valores da pessoa humana, capaz de atingir os
componentes da personalidade e do prestígio social” (REsp. 1245550/MG).

Para o eminente Ministro, “o dano moral não se revela na dor, no padecimento, que são, na
verdade, sua consequência, seu resultado. O dano é fato que antecede os sentimentos de aflição
e angústia experimentados pela vítima, não estando necessariamente vinculado a alguma reação
psíquica da vítima” (REsp 1245550/MG).

Como ensinam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, “o dano moral consiste na lesão
de direitos, cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras
palavras, podemos afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da
pessoa (seus direitos da personalidade), violando, por exemplo, sua intimidade, vida privada,
honra, imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente” (Manual de Direito Civil, 1ªed.,

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2017, pág. 907).

No caso concreto, o demandado violou direitos da parte autora ao bloquear indevidamente a


conta bancária do demandante.

Ao arbitrar o valor dos danos morais o julgador tem de se valer da prudência, observando as
peculiaridades de cada caso e aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade.

Na fixação do quantum indenizatório, o juiz deve criteriosamente ponderar para que não haja
enriquecimento sem causa por parte do autor e nem seja a reparação tão módica que não sirva
de lição pedagógica ao agente causador do dano.

O professor de Direito FABRÍCIO ZAMPRONGNA MATIELO, em obra intitulada “Dano Moral,


Dano Material, Reparações” (Editores Sagra DC Luzzatto, 2ª ed., pág. 55), aduz que hoje a
reparação dos danos morais tem entre nós duas finalidades:

1ª) indenizar pecuniariamente o ofendido, alcançando-lhe a oportunidade de obter meios para


amenizar a dor experimentada em função da agressão moral em um misto de compensação e
satisfação;

2º) punir o causador do dano moral, inibindo novos episódios lesivos, nefastos ao convívio social.

Assim, adotando como parâmetro os critérios acima, fixo como valor da condenação em danos
morais a importância de R$3.000,00 (três mil reais).

DISPOSITIVO

Isso posto, nos termos do art. 487, I, do CPC, julgo parcialmente procedentes os pedidos
contidos na inicial para condenar o requerido:

1.ao pagamento de R$26.461,10 (vinte e seis mil, quatrocentos e sessenta e um reais e dez
centavos) a título de danos materiais. Sobre o dano material deverá incidir juros de mora a partir
da citação de 1% ao mês e correção monetária a partir do efetivo prejuízo, pelo INPC.

2.ao pagamento da importância de R$3.000,00 (três mil reais) a título de danos morais, que
deverá ser acrescida de juros moratórios a partir da citação (responsabilidade contratual) e
correção monetária a partir do arbitramento (Súmula 362 do STJ), pelo INPC.

Condeno a parte requerida ao pagamento das custas e dos honorários advocatícios, fixando
estes em 10% sobre o valor da condenação (art. 85, §§1º e 2º, do CPC), atualizados pelo IPCA-
E.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Havendo interposição de recurso(s) na forma legal, intime-se a parte contrária para


apresentar contrarrazões. Após, remetam-se os presentes autos ao Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Maranhão, uma vez que não cabe juízo de admissibilidade nesta
instância singular.

Após o trânsito em julgado, certifique-se e arquivem-se os presentes autos.

Imperatriz/MA, 19 de setembro de 2023

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Eilson Santos da Silva

Juiz de Direito Titular da 2ª Vara Cível

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