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22/12/2022
Número: 5007027-89.2019.8.13.0245
Classe: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 3ª Vara Cível da Comarca de Santa Luzia
Última distribuição : 29/07/2019
Valor da causa: R$ 128.000,00
Assuntos: Espécies de Contratos, Rescisão do contrato e devolução do dinheiro
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
LUCIENE ANTONIA FERREIRA (AUTOR)
THIAGO ABREU CUNHA BOAVENTURA COELHO
(ADVOGADO)
AVENTURINA INCORPORADORA LTDA (RÉU/RÉ)
FREDERICO RODRIGUES MONTEIRO (ADVOGADO)
LIGIA DE SOUZA FRIAS (ADVOGADO)
CLAUDIA CARVALHO GIESBRECHT (ADVOGADO)
ALISSON DE BARCELOS COURA FERREIRA (ADVOGADO)
EUCLIDES DOS SANTOS JUNIOR (ADVOGADO)
PAULO DA GAMA TORRES (ADVOGADO)
LUCIANO HENRIQUES DE CASTRO (ADVOGADO)
LUIZ ROBERTO FREIRE PIMENTEL (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Assinatura Documento Tipo
3900843002 08/06/2021 18:18 Sentença Sentença
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SENTENÇA
Vistos e etc.
I – RELATÓRIO:
Trata-se de Ação de Rescisão Contratual, ajuizada por Luciene Antônia Ferreira, em face de Aventurina
Incorporadora LTDA.
Alegam os autores que adquiriram um imóvel da ré, porém, ante informações de impedimento de construção do
Contestação apresentada pelo réu em ID. 103305520, alegando que todo empecilho na construção dos imóveis se deu
Partes intimadas para especificação de provas. Ambas as partes informaram não ter mais provas a produzir.
Vieram conclusos.
II – FUNDAMENTAÇÃO:
Cinge a controvérsia do recurso em verificar quem deu causa a rescisão do contrato e, via de consequência, se os autores fazem jus à
Ab initio, destaca-se a incidência do Código de Defesa do Consumidor à espécie vertente, uma vez enquadrar-se a requerente no
conceito delineado pelo artigo 2º da Lei nº 8.078/90, utilizando-se do serviço oferecido pela ré como destinatária final. Por outro lado, a requerida
também se enquadra no conceito de fornecedora de serviços, a teor do disposto no artigo 3º do mesmo Diploma legal.
Assim sendo, para solução da lide ora materializada, impõe-se a observância de todas as regras que visam a facilitação da defesa do
consumidor em juízo, dentre elas e principalmente a modificação e revisão de cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou
condições desarrazoadas.
Alega a parte autora que for surpreendida com notícias veiculadas aos meios de informações de que havia irregularidades em várias
obras pela cidade, inclusive na obra da ré, e tendo questionado a mesma sobre as informações, não respondeu, estando indiferente, portanto, requereu
a presente rescisão.
Em sua contestação, a ré alega que fora surpreendida com a informação de que um decreto municipal havia impedido qualquer tipo de
licença ambiental no município, tendo o mesmo criado empecilho para o andamento das obras.
Entendo que não pode a parte autora suportar ônus que cabia a ré resolver com o município, pois era a ré responsável pela
construção, logo, deve o contrato ser reincidido por culpa da parte ré.
Assim, rescindido o contrato de promessa de compra e venda de imóvel, por culpa exclusiva da construtora vendedora, as partes
contratantes devem voltar ao status quo ante, com a restituição do preço ou do montante pago pelo comprador devidamente corrigido, não tendo a
vendedora culpada direito a reter qualquer valor, sob pena de enriquecimento ilícito.
Nesse sentido, mutatis mutandi, já decidiu esta douta 16ª Câmara Cível:
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL - CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA -
DEVOLUÇÃO INTEGRAL DOS VALORES PAGOS - POSSIBILIDADE - DANOS MORAIS DEMONSTRADOS - VALOR DA
INDENIZAÇÃO - PROPORCIONALIDADE - MANUTENÇÃO. O inadimplemento do contrato por parte da construtora que não
logrou êxito em promover a entrega do imóvel na data prevista, além de autorizar a sua rescisão, também confere à consumidora o
direito à restituição integral das parcelas pagas, evitando, assim, o enriquecimento ilícito da Construtora. Comprovado de forma
comprador receber indenização por danos morais, pois a conduta da construtora não gerou meros dissabores. A fixação do
quantum indenizatório a título de danos morais deve obedecer aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, observados o
caráter pedagógico, punitivo e reparatório. (TJMG - Apelação Cível 1.0024.13.209650-4/003, Relator(a): Des.(a) Aparecida Grossi,
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. ATRASO NA CONCLUSÃO DAS
OBRAS. IMÓVEL NÃO ENTREGUE. RESCISÃO DO CONTRATO. RESTITUIÇÃO DAS PARCELAS PAGAS. MULTA POR
INADIMPLÊNCIA. CABIMENTO. VALORES DESPENDIDOS COM ALUGUÉIS APÓS O PRAZO DE ENTREGA. REEMBOLSO
DEVIDO. DANO MORAL. EXIGIBILIDADE. QUANTUM. REDUÇÃO. RECURSO PROVIDO EM PARTE. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA. - O inadimplemento confesso da promissária vendedora que não entregou o imóvel, sem previsão
de conclusão das obras, dá causa à rescisão da avença, constituindo decorrência lógica da rescisão o retorno das partes ao status
quo ante, o que implica a devolução ao comprador dos valores por ele já pagos. - Indiscutível o dano moral causado ao comprador
em virtude do atraso na entrega do imóvel, sem qualquer justificativa plausível pela Construtora. - Prevista multa em caso de mora
do consumidor, a mesma regra deve ser aplicada, por equidade, em caso de mora do fornecedor em cumprir sua obrigação. Nos
contratos de consumo, deve ser garantida a reciprocidade de direitos entre fornecedores e consumidores, sendo nulas as
disposições contratuais que coloquem a parte hipossuficiente em flagrante desvantagem, sejam incompatíveis com a boa-fé ou com
a equidade (art. 51 do CDC). - Decorrente do atraso na entrega do imóvel o pagamento de aluguéis pela compradora, deverá a
construtora reembolsar os valores comprovadamente despendidos a tal título. (TJMG - Apelação Cível 1.0024.14.074366-7/001,
Relator(a): Des.(a) José Marcos Vieira, 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 03/02/2016, publicação da súmula em 19/02/2016)
(g.n.)
No caso dos autos, configurada a culpa exclusiva da construtora requerida pela inexecução do contrato, conforme já reconhecido e
fundamentado alhures, ela deve restituir ao autor/comprador o valor total recebido, sem direito de reter qualquer valor.
Em relação ao dano moral, muito embora não se desconheça a existência de precedentes, no sentido de que o mero descumprimento
contratual não é, a priori, suscetível de causar prejuízo moral indenizável, comprovando o lesado que dele decorreu sofrimento maior que o ordinário no
campo das relações comerciais, cujo inadimplemento, embora indesejado, é sempre um fator esperado.
In casu resta evidente o dano moral diante das circunstâncias que o emolduram, principalmente o fato de que, como o autor, qualquer
pessoa se sentiria enganada e profundamente amargurado em vê a expectativa de moradia não ser realizada, com a não entrega do imóvel.
Percebe-se que a ré obstou que a autora adquirisse sua moradia, direito este que decorre de um sonho da autora e de suas economias
juntadas, ou seja, são justamente estes valores que se busca tutelar para preservar os direitos de personalidade, cuja ofensa enseja reparação por
danos morais.
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE PROCEDIMENTO COMUM - RESCISÃO CONTRATUAL E INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS - COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - LOTEAMENTO - CASA PRÓPRIA - OBRAS DE INFRA-ESTRUTURA
lesão a direito de personalidade o consumidor que deixa de construir casa própria no lote adquirido, em virtude da ausência de
realização das obras de infra-estrutura no empreendimento em prazo razoável. (TJMG - Apelação Cível 1.0693.17.004854-2/001,
Relator(a): Des.(a) José Flávio de Almeida , 12ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 27/02/2019, publicação da súmula em
11/03/2019)
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. MORA DO VENDEDOR. ATRASO NA ENTREGA DO
cumprido o prazo de entrega do imóvel, assume, com sua inércia, o ônus de indenizar o promissário comprador pelos danos morais
decorrentes da inadimplência contratual. - Mostra-se desnecessária a comprovação objetiva do dano moral, haja vista que esse se
presume na hipótese. - O valor da indenização deve ser estimado em consonância com a natureza e a extensão do dano
extrapatrimonial, pautando-se sempre pela razoabilidade e proporcionalidade, de forma a não ocasionar o enriquecimento sem
causa do credor, e a cumprir o seu objetivo pedagógico, desmotivando futuras imprudências do devedor. - Somente é devida a
reparação por danos materiais devidamente comprovados e decorrentes do atraso na entrega de imóvel objeto de contrato de
promessa de compra e venda. (TJMG - Apelação Cível 1.0024.11.024327-6/005, Relator(a): Des.(a) Luiz Artur Hilário , 9ª CÂMARA
Nesse viés, a contraprestação pelo sofrimento auferido tem a função de compensar a dor injustamente causada à vítima e servir de
reprimenda ao agente para que não reincida em situações como a ocorrida, sendo necessária a observância das condições financeiras das partes, a
O quantumindenizatório do dano moral deve ser fixado em termos razoáveis, para não ensejar a ideia de enriquecimento indevido da
vítima e nem empobrecimento injusto do agente, devendo dar-se com moderação, proporcional ao grau de culpa, às circunstâncias em que se encontra
Tendo em vista tais critérios, entendo que a indenização em R$ 5.000,00 (cinco mil reais) se mostra dentro dos parâmetros legais da
razoabilidade e proporcionalidade, mormente em virtude do sofrimento causado a autora, por não receber o imóvel que por ele foi devidamente pago,
III – DISPOSITIVO:
Pelo exposto e por tudo mais que dos autos consta, com fulcro no art. 487, inciso I, do
CPC, JULGO PROCEDENTE os pedidos postos na inicial, para declarar reincidido o contrato firmado
entre as partes, condenando a parte ré a ressarcir os valores pagos, em parcela única, em sua
integralidade, com juros de mora desde a data do trânsito em julgado da presente sentença, e correção
monetária desde o efetivo pagamento, sem direito à retenção, pelo réu de qualquer valor. Condeno, ainda,
o réu ao pagamento de dano moral no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), devendo a correção
monetária incidir a partir da data do arbitramento (Súmula 362 do STJ) e juros moratórios à data da
citação.
Após o trânsito em julgado, tudo cumprido, e nada sendo requerido, arquivem-se os autos,
com baixa na distribuição.
P. R. I.
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