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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro

PJe - Processo Judicial Eletrônico

14/03/2024

Número: 0803098-52.2024.8.19.0021
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: 2º Juizado Especial Cível da Comarca de Duque de Caxias
Última distribuição : 24/01/2024
Valor da causa: R$ 28.240,00
Assuntos: Indenização Por Dano Moral - Outras
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
DAIANA BEATRIZ ANGELO DE SOUZA (AUTOR) LEANDRO ALEXANDRE DOS SANTOS (ADVOGADO)
CRISTIANO NUNES MANGIFESTE (ADVOGADO)
JF VAREJAO ESTOFADOS LTDA (RÉU) VIVIANE CORREA (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
10666 13/03/2024 15:27 Contestação Contestação
4227
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO 2º JUIZADO ESPECIAL
CÍVEL DA COMARCA DE DUQUE DE CAXIAS/RJ.

PROCESSO Nº 0803098-52.2024.8.19.0021

JF VAREJÃO E ESTOFADOS LTDA., empresa estabelecida na


Estrada Intendente Magalhães, nº 141, Lot 3, Pal 15.709, Madureira, Rio de
Janeiro/RJ, neste ato representada por sua titular, Ingrid Giomes Pinho da Silva,
vem, nos autos da ação em epígrafe, movida por Daiana Beatriz Angelo de
Souza, já devidamente qualificada, respeitosamente, nos termos do artigo 30 da
Lei 9.099/95, apresentar sua

CONTESTAÇÃO

consoante aos fatos e argumentos apresentados na exordial, requerendo, desde


já, que a presente demanda seja julgada improcedente pelos motivos a seguir
apresentados.

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1 – DA TEMPESTIVIDADE

Visto que o prazo para oferecer Contestação nos Juizados


Especiais Cíveis é até a audiência de Instrução e Julgamento1, que está prevista
para o dia 14 de março de 2024, tempestiva é a presente.

2 – DA DEMANDA EM APERTADA SÍNTESE:

Trata-se de ação ajuizada por consumidora que, no dia


06/11/2023, realizou presencialmente a compra de um Guarda Roupa Texas c/3
portas de correr e 9 gavetas branco, pedido nº 38876, no valor de R$ 1.318,75,
além de R$ 70,00 de frete.

Todavia, em 10/11/2024, quando o produto fora entregue,


percebeu que este estava avariado. A empresa ré informou que seria aberta
ordem de serviço para realizar a substituição da parte avariada, com prazo de até
30 dias. Contudo a ré não cumpriu com o prazo informado, deixando a autora
sem poder usufruir do produto por 57 dias, tendo sido realizada a substituição
das peças avariadas somente em 06/01/2024.

Nesta toada, ingressou com ação pleiteando danos morais..

Esse é, em apertadíssima síntese, o resumo da demanda.

3 – DO MÉRITO

3.1 – DA CULPA EXCLUSIVA DA CONSUMIDORA/DE TERCEIROS

Primeiramente, cumpre observar que a Ré é um


estabelecimento de comércio varejista de móveis, responsável apenas pelo

1 ENUNCIADO 10 do FONAJE – A contestação poderá ser apresentada até a audiência de Instrução e Julgamento.

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produto adquirido pela Autora, não possuindo qualquer ingerência sobre a


fabricação dos móveis e da produção de peças para a troca.

A troca somente não se deu dentro do prazo estipulado pois o


fabricante não o fez, o que afasta a responsabilidade da Ré.

Importante constatar também que a parte autora recebeu o


produto e assinou a ordem de serviço de entrega, não demonstrando qualquer
insatisfação ou dano capaz de lhe causar aborrecimentos além do cotidiano, já
que em nada interfere na funcionalidade do produto.

Ora, Exa., cabe destacar que a parte Ré não é responsável


pela troca da peça, e sim a fabricante, além do que, em um primeiro momento,
impede de afirmar que o produto foi entregue nas condições reclamadas.

Salienta-se que não houve atraso o suficiente que pudesse


acarretar qualquer dano à autora. Além disso, como se depreende, nem mesmo
se trata de produto essencial.

Sobre o tema, o artigo 14 do Código de Defesa do


Consumidor diz que a responsabilidade do fornecedor de serviços pode ser
afastada em casos de comprovação da culpa exclusiva do consumidor ou de
terceiro (ou fortuito externo), veja-se:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. (...)
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado
quando provar: (...)

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II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Diante do exposto, o que se apura do caso é que houve culpa


exclusiva do consumidor/de terceiros, já que a ré não possui qualquer ingerência
sobre os prazos para troca, tendo esta ocorrido normalmente, sem qualquer
comprovação de prejuízo.

Portanto, diante de todo o alegado, não há que se falar em


responsabilização da Ré no presente caso, com a necessidade de improcedência
in totum dos pedidos da exordial.

3.2 - DA AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Em verdade, na história apresentada, a autora é incapaz de


identificar qualquer ato ilícito que tenha sido praticado pela peticionante, que
pudesse ensejar qualquer dano.

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O artigo 186 do Código Civil trata dos atos ilícitos como
sendo aqueles que violam direitos e causam danos à terceiro em razão de ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência. A responsabilidade civil que
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dá origem à obrigação de indenizar é objeto do artigo 927 do CC/02 .

A caracterização da responsabilidade civil depende da


verificação de, pelo menos, três fatores: o ato ilícito, o dano, e o nexo de
causalidade entre estes.

Destarte, não há como atribuir à contestante qualquer espécie


de culpa pelo evento, requisito imprescindível para caracterização de sua
responsabilidade no caso, conforme leciona Sérgio Cavalieri Filho:

2 “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
3 “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (Arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”

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“Não basta a imputabilidade do agente para que o ato lhe


possa ser imputado. A responsabilidade subjetiva é assim
chamada porque exige, ainda, o elemento culpa. A conduta
culposa do agente erige-se, como assinalado, em pressuposto
principal da obrigação de indenizar. Importa dizer que nem
todo comportamento do agente será apto a gerar o dever de
indenizar, mas somente aquele que estiver revestido de certas
características previstas na ordem jurídica. A vítima de um
dano só poderá pleitear ressarcimento de alguém se conseguir
provar que esse alguém agiu com culpa; caso contrário, terá
que conformar-se com a sua má sorte e sozinha suportar o
prejuízo. Vem daí a observação: “a irresponsabilidade é a
regra, a responsabilidade a exceção”

Sobre a culpa, por si só, ainda que pudesse ser dispensada, há


de se demonstrar a existência do nexo causal entre um ato da Ré e os danos que
a parte autora alega ter experimentado.

No entanto, conforme já demonstrado, a parte autora não


estabelece o imprescindível nexo causal entre algum ato praticado pelo
peticionante e os danos que alega ter experimentado.

Por fim, considerando a ausência dos requisitos cruciais para


caracterização da responsabilidade civil da peticionante, requer a improcedência
in totum dos pedidos contidos na exordial.

3.3 - AUSÊNCIA DE PROVA MÍNIMA QUANTO AO FATO CONSTITUTIVO DO


DIREITO DA AUTORA – DESCABIMENTO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

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Deve-se, desde logo, atentar que não há comprovação


mínima das alegações autorais, posto que não foram acostados aos autos
nenhuma prova de que a Ré foi responsável pelos supostos danos causados.

Cabe à autora provar a narrativa fática descrita na inicial, o


dano e o nexo causal entre aqueles dois elementos. A Lei nº 13.105 de 2015
impôs, a exemplo do artigo 333, inciso I do Código de Processo Civil, o ônus da
prova ao autor da demanda, no que tange ao direito que pleiteia no processo:

“Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades
da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva
dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário,
poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso,
desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que
deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus
que lhe foi atribuído. encargo pela parte seja impossível ou
excessivamente difícil.”

É pertinente destacar que o parágrafo 1º do referido artigo do


CPC consagrou um instituto de extrema relevância, no tocante ao dever da prova
inerente ao processo, qual seja, a chamada “distribuição dinâmica” da prova.

Assim, é facultado ao magistrado incumbir a prova do modo


menos gravoso, a quem entende ter condições de produzi-la. Em outras palavras,
o novo Código de Processo Civil abraçou o fato de que é materialmente
impossível a prova de fato negativo indefinida, ao distribuir o ônus da prova a

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quem entenda que o possa produzir sem maior gravidade.

Em que pese se tratar de relação de consumo, em sede de


responsabilidade objetiva, é ônus do consumidor provar a narrativa fática
descrita na inicial, o dano e o nexo causal entre aqueles dois elementos, para que
ocorra a inversão do ônus probandi em benefício do consumidor, o que não foi
feito no presente caso.

Insta salientar que a aplicação da inversão do ônus da prova,


com fundamento no artigo 6º, VIII do CDC, estabelece como condição a
constatação de verossimilhança nas alegações da parte beneficiária.

Nesse sentido, vejam-se os comentários de um dos autores do


atual Código de Defesa do Consumidor, José Geraldo Brito Filomeno, em
textual:

“É evidente, entretanto, que não será em qualquer caso que


tal se dará, advertindo o mencionado dispositivo, como se
verifica de seu teor, que isso dependerá, a critério do juiz, da
verossimilhança da alegação da vitima e segundo as regras
ordinárias de experiência” (in Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor Comentado, Forense Universitária, 7ª Ed.,
p129).

A autora tinha total capacidade de produzir as provas


necessárias, o que não foi feito, já que não há nos autos nenhuma comprovação
de responsabilidade da Ré.

Logo, não há qualquer verossimilhança nas alegações,

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tampouco hipossuficiência.

A ausência de provas pelo autor contraria súmula do


Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, a qual segue abaixo:

Súmula Nº. 330 – TJ-RJ "Os princípios facilitadores da


defesa do consumidor em juízo, notadamente o da inversão
do ônus da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a
seu encargo, prova mínima do fato constitutivo do alegado
direito."

Independente da distribuição do ônus da prova e da


responsabilidade civil da Ré diante da situação autoral narrada, nossas Cortes
entendem ser imperioso que a demandante produza prova mínima de suas
alegações, conforme julgado abaixo:

(TJ-RJ - APL: 00085646420178190002, Relator: Des(a).


FABIO UCHOA PINTO DE MIRANDA MONTENEGRO,
Data de Julgamento: 27/01/2022, QUARTA CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 31/01/2022) APELAÇÃO
CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. DEFEITO DO PRODUTO.
AUSÊNCIA DE PROVA MÍNIMA. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. MANUTENÇÃO DO JULGADO. A
presunção de ser o consumidor hipossuficiente tecnicamente
não o exime de produzir prova mínima quanto aos fatos que
alega. Inteligência da Súmula 330 do TJRJ. Apelante que,
apesar da inversão do ônus da prova, deveria ter feito prova
mínima de suas alegações, contudo não trouxe aos autos,
mesmo que minimamente, provas do fato constitutivo de

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seu direito, descumprindo os termos do art. 373, I, do CPC.


Acertada, portanto, a sentença de improcedência ora
recorrida, que deve ser mantida em sua integralidade.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

(TJ-RJ – APL: 01320136220178190001, Relator: Des(a).


RICARDO RODRIGUES CARDOZO, Data de Julgamento:
07/05/2019, DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL)
“APELAÇÃO CÍVEL. ALEGAÇÃO DE COBRANÇA
INDEVIDA. SERVIÇO DE RÁDIO, TELEFONIA E
INTERNET MÓVEL. AUSÊNCIA DE PROVA MÍNIMA
DOS FATOS CONSTITUTIVOS DO DIREITO DO
AUTOR. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. 1. Pretende
o apelante seja reconhecida a falha na prestação dos serviços
da apelada, consistente em cobranças indevidas, acima do
valor contratado, após a migração de planos.
2. A partir da análise dos autos, verifica-se que o
recorrente não logrou êxito em comprovar,
minimamente, os fatos constitutivos do seu direito, ônus
que lhe incumbia por força do art. 373, I, do CPC.
Incidência do enunciado 330 da súmula do TJRJ. 3.
Acolhimento da tese defensiva no sentido de que o
consumidor utilizou serviços, além da franquia contratada,
tendo a apelada agido em exercício regular de direito. 4.
Recurso desprovido, nos termos do voto do desembargador
relator.”

(TJ-RJ – APL: 00217894620168190210 RIO DE JANEIRO


LEOPOLDINA REGIONAL 5 VARA CIVEL, Relator:

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Des(a). MARCO ANTONIO IBRAHIM, Data de


Julgamento: 19/09/2018, QUARTA CÂMARA CÍVEL)
Direito do Consumidor. Autor que alega ter contratado
empréstimo consignado perante o banco réu, passando a
receber descontos em seu contracheque referentes a
encargos relativos a crédito rotativo de cartão de crédito que
nunca contratou. Sentença de improcedência, fundada na
falta de prova mínima dos fatos constitutivos do direito
do autor. Análise do contracheque do demandante que não
permite verificar a ocorrência de descontos no valor
mencionado na exordial, sendo certo que os descontos
efetivamente realizados não foram impugnados nestes autos.
Contradição entre a narrativa feita na inicial e a que foi
desenvolvida em sede de apelação, quando o autor assumiu
já ter, de fato, utilizado cartão de crédito da empresa ré,
afirmando, contudo, que os valores já descontados teriam
sido suficientes para a quitação da dívida.

Demandante que não se desincumbiu do ônus que lhe é


atribuído pelo artigo. 373, I, do CPC/15, que repete a
redação do artigo 333, I, do CPC/73. Sentença mantida.
Recurso desprovido.

Como se observa, a parte autora jamais comprovou o evento


danoso, nem mesmo qualquer nexo causal para que pudesse ser constatada a
responsabilidade civil da Ré no presente caso.

Desta forma, não há que se falar em inversão do ônus da


prova, sob pena de incumbir a Ré ao ônus da prova da suposta ocorrência de
conduta ilícita sustentada pela parte Autora, sem qualquer comprovação de suas
alegações.

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Assim, por não estarem presentes no caso em comento os


requisitos necessários para o deferimento da inversão do ônus da prova, previsto
no artigo 6º, inciso VIII, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, pugna
a Ré pela improcedência do pedido de inversão do ônus probandi, face a
ausência de provas mínimas pela parte Autora.

3.4 – DA AUSÊNCIA DE DANO MORAL SUPORTADO PELA PARTE AUTORA:

Já sobre o dano moral requerido, há de se destacar alguns


pontos cruciais para reafirmar o entendimento de sua inocorrência.

Ora, no presente caso não há qualquer lesão à vida privada, à


intimidade, à honra, à imagem ou à dignidade da parte autora por conduta
efetivamente imputável à Ré, não havendo razão ensejadora da indenização
pretendida por aquela.

Importante constatar que a parte autora não demonstrou


qualquer insatisfação ou dano capaz de lhe causar aborrecimentos além do
cotidiano, tendo assinado a nota sem nenhuma observação acerca do produto.

Ademais, a Constituição se assegurou de não transformar o


instituto do dano moral numa fonte de renda alternativa, mas de instituto capaz
de coibir abusos e violações realmente sérias ao determinar em seu art. 5°, X,
que o dano moral decorre da violação da dignidade humana.

Se não houver violação a pelo menos um daqueles bens da


vida, não há que se falar em dano moral, sob pena de estar-se contrariando a
Carta Magna.

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A parte autora em nenhum momento acosta aos autos


qualquer prova efetiva da existência de lesão a direito integrante de sua
personalidade por conduta da ré.

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Já está pacificado por este Tribunal de Justiça que o mero
aborrecimento, embora resulte desconforto ou sensação de irritação,
principalmente quando a questão está meramente adstrita a esfera patrimonial,
não tem o condão de criar o dever reparatório por dano moral.

Não há que se falar em dano reparatório por qualquer


prejuízo psíquico, principalmente, se as circunstâncias fáticas não demonstram a
situação pretendida pela parte autora, respeitando, em sua totalidade, as normas
regulamentadoras, tratando-se apenas de insatisfação pecuniária. Vejamos:

“Dano moral inexistente. Somente situações extremas e


graves podem justificar o reconhecimento de dano moral, o
que não foi demonstrado nos autos, mas sim a ocorrência de
mero aborrecimento, que não geram o dano pretendido, uma
vez que não se verifica no caso em tela, que a conduta do
réu tenha causado qualquer ofensa a personalidade da
autora, abalo psíquico ou transtornos que fujam à
normalidade. Incidência da Súmula 75 do TJ/RJ.
Manutenção da sentença. Desprovimento do recurso. (AC
0107272-70.2008.8.19.0001. Rel. Des. Cláudio Brandão –
julg.02/03/2010 – 19ª Câmara Cível)”.

Cumpre destacar, de forma derradeira, que a reparação do


dano moral há de ser imposta a partir do mesmo fundamento da

4 Disponível em:
http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.aspx?UZIP=1&GEDID=0003BE1D20DE2F9B9A782D30F0CBE9
9AE9AEDBC4023F6438&USER=.

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responsabilidade civil, que não visa a criar fonte injustificada de lucros e


vantagens sem causa.

Portanto, com o fito de se evitar o enriquecimento sem causa


e desproporcional da parte autora, é absolutamente descabida a fixação de
condenação em danos morais pretendida.

3.5 – DA FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Ainda que este d. magistrado (a) entenda que a Ré causou


algum abalo de ordem moral à parte autora, o que só se admite por amor ao
debate, se deve considerar que o decreto condenatório necessita se pautar em
harmonia com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

O artigo 944, do Código Civil preceitua o critério equitativo e


proporcional à fixação do valor indenizatório, prevendo, que o quantum
indenizatório se mede pela extensão do dano. Vejamos:

“Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.


Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a
gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitativamente, a indenização.”

Assim, tendo em vista a suposta conduta irregular da Ré,


ainda que o prejuízo moral sofrido tenha sido grave e desproporcional frente à
atividade desenvolvida e executada com total lisura, se faz necessária a redução
da verba indenizatória, como de direito.

A diretriz assente na jurisprudência e doutrina aponta a justa


apreciação e arbitramento do valor indenizatório, fixando-o de forma moderada
segundo o princípio da razoabilidade, de maneira a evitar enriquecimento sem

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causa e a coibir os abusos que estimulam a multiplicação de pleitos de


indenização assimétricos à pretensão proposta no Judiciário.

O montante de R$28.240,00 (vinte e oito mil, duzentos e


quarenta reais) pleiteados se mostra completamente dissonante e
desproporcional!

Neste sentido, ultrapassadas as alegações apresentadas,


quanto ao mero aborrecimento vivenciado pela parte autora, a fixação do
quantum indenizatório, caso ocorra, merece ser fixado em patamar justo.

6 – DOS PEDIDOS:

Diante do exposto, requer:

1) a manutenção do ônus da prova à autora, por não estarem


presentes no caso em comento os requisitos necessários para o deferimento da
inversão, face a ausência de provas mínimas pela parte, previsto no artigo 6º,
inciso VIII, do CDC;

2) sejam julgados improcedentes todos os pedidos


formulados na inicial face aos argumentos deduzidos na presente Defesa, com
base no art. 487, I, do Novo CPC;

3) subsidiariamente, que seja observada a ausência de


responsabilidade da Ré, com base no art. 14, §3º, II do CDC;

4) eventualmente, caso seja outro o entendimento deste Juízo,


seja a indenização fixada em observância aos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, a fim de evitar o enriquecimento sem causa.

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Requer, também, que todas as futuras publicações e


Intimações sejam feitas exclusivamente em nome da patrona, Dra. Viviane
Corrêa, brasileira, advogada, inscrita na OAB/RJ 95.235, com endereço
eletrônico intimacaoeajjoc@eajjoc.com.br e escritório situado na Avenida
Marechal Floriano, nº 19, 9º andar, Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP 20080-003,
sob pena de nulidade absoluta.

Termos em que,
Pede deferimento.
Rio de Janeiro, 13 de março de 2024.

VIVIANE CORRÊA
OAB/RJ - 95.235

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