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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário


0010537-82.2015.5.01.0032

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 06/04/2015


Valor da causa: R$ 50.000,00

Partes:
RECLAMANTE: WASHINGTON DOS SANTOS THORPE
ADVOGADO: LEANDRO DE ANDRADE MEUSER
RECLAMADO: LEROY MERLIN COMPANHIA BRASILEIRA DE BRICOLAGEM
ADVOGADO: MARIA HELENA VILLELA AUTUORI ROSA
ADVOGADO: TATIANE DE CICCO NASCIMBEM CHADID
PERITO: MARISTELA GONCALVES OLIVAL
TESTEMUNHA: FABIO BORGES VEIGA
TESTEMUNHA: FELIPE GONÇALVES FRANCISCONE
TESTEMUNHA: FABIO DA SILVA
TESTEMUNHA: ANDRE LUIZ PEREIRA TAVARES
TESTEMUNHA: RAFAEL BRUM DA SILVA
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

PROCESSO nº 0010537-82.2015.5.01.0032 (ROT)


RECORRENTE: LEROY MERLIN COMPANHIA BRASILEIRA DE BRICOLAGEM
RECORRIDO: WASHINGTON DOS SANTOS THORPE
RELATOR: ALEXANDRE TEIXEIRA DE FREITAS BASTOS CUNHA

EMENTA
1) DANO MORAL. ASSÉDIO MORAL. A conduta da reclamada, de
submeter o autor a uma ociosidade forçada, em decorrência do
esvaziamento de funções, extrapolou os limites do seu poder diretivo,
configurando um comportamento inadequado e desrespeitoso, violador de
direito fundamental, sendo devida, consequentemente, a respectiva
indenização. Recurso desprovido. 2) HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. Nas ações ajuizadas anteriormente à entrada em
vigor da Lei nº 13.467/2017, resultam devidos honorários advocatícios na
Justiça do Trabalho, apenas quando preenchidos os requisitos constantes
das Súmulas nº 219 e 329, ambas do c. TST, o que não se verifica, in casu.
Pelos mesmos motivos, resulta indevida a condenação do reclamante ao
pagamento de honorários ao patrono da reclamada, como pretendido pela
ora recorrente. Recurso parcialmente provido.

I - RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário Nº


TRT-RO- 0010537-82.2015.5.01.0032, em que são partes LEROY MERLIN COMPANHIA
BRASILEIRA DE BRICOLAGEM, como recorrente WASHINGTON DOS SANTOS THORPE,
como recorrido.

Trata-se de recurso ordinário interposto pela reclamada (Id 2f5190f, fls.


572/585), contra a r. sentença de Id db560ac (fls. 554/561), proferida pelo MM. Juiz Igor Fonseca
Rodrigues, da 32ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou procedente em parte o pedido. A
sentença foi complementada pela r. decisão de Id 1edbb3c (fls. 624), que rejeitou os embargos de
declaração opostos pelo autor.

Não foram apresentadas contrarrazões.

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Os autos não foram remetidos à d. Procuradoria do Trabalho, por não ser


hipótese de intervenção legal (Lei Complementar nº 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício PRT
/1ª Região nº 214/13 GAB, de 15/01/2013.

É o relatório.

II - FUNDAMENTAÇÃO

II.1. CONHECIMENTO.

Conheço do recurso ordinário interposto, por preenchidos os pressupostos


de admissibilidade.

II.2 - MÉRITO.

A- DANO MORAL. ASSÉDIO MORAL.

A recorrente alega, em suma, que: "o Recorrido jamais tivera qualquer


prejuízo com a vinda de um novo gerente comercial, sendo que cada um detinha suas funções e
atribuições especificas"; "o Recorrido laborava como coordenador comercial, e o novo funcionário, em
questão, gerente comercial"; "cargo diverso, aliás, inclusive, hierarquicamente superior"; "a contratação
do gerente comercial, não retirou as funções do Recorrido, foi realizada para suprir uma necessidade
organizacional da loja, como aliás, o próprio recorrido confessa que existia"; "com a contratação de um
novo gerente comercial, é evidente que as funções gerenciais provisoriamente exercidas pelo Recorrido
seriam por aquele assumidas, contudo, isso não significa dizer que o recorrido não teria mais qualquer
função"; "pelo contrário, voltaria a exercer as suas especificas"; "como o máximo respeito que é devido,
não há como se afirmar pela ocorrência do 'esvaziamento de funções' nada há nos autos que permita tais
conclusões"; "é fato incontroverso de que houve alteração nas funções do Recorrido, contudo, tal fato
não pode, sob qualquer prisma, ser considerado lesivo ou abusivo, ao passo que foi realizado com estrito
cumprimento da lei e com o máximo respeito ao empregado"; "assim, não se observa nos autos qualquer
argumento que possa comprovar uma suposta lesão, capaz de gerar a indenização pecuniária declarada na
r. sentença, ora combatida"; "ao afirmar o suposto rebaixamento de função, deveria o Recorrente ter
realizado provas cabais, ônus este, que não foi cumprido"; "cumpre esclarecer, ainda, que para a

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constituição do dever de indenizar por ilícito extracontratual - isto é, pela violação de um dever genérico
de abstenção ou de um dever jurídico geral -, tem-se por imprescindível a presença cumulativa dos
pressupostos elencados no artigo 186 do Código Civil, quais sejam, em brevíssima suma: (i) a existência
de uma ação ou omissão juridicamente qualificada, ou seja, que se apresente como ato ilícito; (ii) a
ocorrência de um dano moral ou patrimonial; e (iii) o nexo de causalidade entre o dano e a ação ou
omissão"; "no caso em tela, constata-se que estão ausentes quaisquer dos itens em comento, o que
acarreta a reforma da condenação do ressarcimento dos alegados e não comprovados danos morais";
"destarte, as considerações tecidas pela recorrente são suficientes para ensejar a reforma da r. sentença de
primeiro grau"; "ademais, cumpre destacar que se fazia imprescindível não só a alegação, mas a
demonstração, já na exordial, do implemento efetivo de danos morais, ao menos para que pudesse a
recorrente se insurgir contra o direito que a Recorrida pretendeu ver assegurado, o que, como bem já se
disse, não ocorreu"; "ainda, para o implemento do dano moral e, por via de consequência, o surgimento
do direito à indenização, necessário se faz que a ofensa tenha grandeza e esteja revestida de importância e
gravidade"; "ou seja, o incômodo, enfado ou desconforto que algumas circunstâncias que suporta o
homem médio em razão de sua vida cotidiana, não serve para a concessão de indenização"; "ocorre que,
no caso dos autos, inexistiu lesão a qualquer valor e/ou concepção íntima, de sorte a não ser outra a
conclusão alcançada senão a de que se impulsiona a Recorrida pelo atual 'modismo' do requerimento de
danos morais"; "diante de todo o exposto, imperiosa a reforma da r. sentença para excluir da condenação
a indenização por danos morais"; "da fixação de valor indenizatório Noutro passo, caso este E. Tribunal
entenda devida a indenização por danos morais, o que se cogita apenas por amor ao debate, requer a
recorrente sua reforma no que tange ao valor da indenização, eis que é correto afirmar que a indenização
no importe de R$20.000,00 (vinte mil reais) em danos morais, não observa os preceitos legais e
jurisprudenciais aplicáveis à matéria, mormente para que não implique em locupletamento sem causa do
recorrido"; "observa-se que ao Julgador compete, quando da fixação do quantum indenizatório, fazê-lo de
forma prudente, de sorte a impedir nasçam e/ou se perpetuem, em nosso território, decretos
condenatórios comuns à entes políticos alienígenas, mediante os quais faculta e estimula o Estado se
beneficie o lesado com eventual violação, galgando situação econômica melhor do que a detida
anteriormente ao hipotético ato ilícito"; "assim, na remota hipótese de se entender pela manutenção da r.
sentença, o que se admite apenas por amor ao debate, requer a reforma da r. sentença para que seja
rearbitrado o valor da condenação, em valores condizentes com o suposto prejuízo moral".

A r. sentença recorrida assentou-se sobre os seguintes fundamentos:

"Postula o autor o pagamento de indenização por danos morais, alegando ter sofrido
assédio moral, uma vez que o Sr. André Tavares, ao assumir a gerência comercial,
deixou o autor sem qualquer função, tendo que comparecer à ré e não fazer nada o dia
inteiro.

Nega a parte ré que o autor tenha sofrido assédio moral e que tenha ficado sem exercer
qualquer função, uma vez que exercia as funções do seu cargo, qual seja, coordenador
comercial.

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A ilustre professora Vólia Bomfim Cassar define assédio moral da seguinte forma: 'O
assédio é o termo utilizado para designar toda conduta que cause constrangimento
psicológico ou físico à pessoa. Já o assédio moral é caracterizado pelas condutas
abusivas praticadas pelo empregador direta ou indiretamente, sob o plano vertical ou
horizontal, ao empregado, que afetem seu estado psicológico. Normalmente, refere-se a
um costume ou prática reiterada do empregador.' (CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do
Trabalho, 9º ed., 2014, ePub).

Ambas as testemunhas afirmam que, apesar de o autor ser coordenador comercial,


exercia, de fato, as funções de gerente comercial, sendo que a segunda testemunha
destaca que os poderes do cargo de gerente foram delegados ao autor pelo próprio
gerente Roberto Val, que comunicou à equipe que qualquer problema deveria ser
tratado como autor.

As testemunhas, ainda, afirmam que com a admissão do Sr. André Tavares este assumiu
todas as funções de comando, destacando a primeira testemunha que funções típicas de
coordenador de gerir a equipe, realizando escalas e repassando orientações foram
suprimidas do autor com a chegada do Sr. André.

A segunda testemunha ressalta que quando o Sr. André assumiu a gerência foram
suprimidas as funções do autor, que passou a não fazer nada durante o expediente.

Restou comprovado, assim, que o autor vivenciou um esvaziamento de funções, o que


caracteriza o assédio moral.

Nesse sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO


SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. 1. RESCISÃO INDIRETA. CONFIGURAÇÃO DA
HIPÓTESE PREVISTA NO ART. 483, "G", DA CLT. MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 126
/TST. 2. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. OCIOSIDADE FORÇADA.
ESVAZIAMENTO DAS FUNÇÕES. COBRANÇA EXCESSIVA DE METAS.
DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA, DA INVIOLABILIDADE PSÍQUICA (ALÉM DA FÍSICA) DA PESSOA
HUMANA, DO BEM-ESTAR INDIVIDUAL (ALÉM DO SOCIAL) DO SER HUMANO,
TODOS INTEGRANTES DO PATRIMÔNIO MORAL DA PESSOA FÍSICA. DANO
MORAL CARACTERIZADO. MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 126/TST. 3. VALOR
ARBITRADO A TÍTULO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. A conquista e a
afirmação da dignidade da pessoa humana não mais podem se restringir à sua liberdade
e intangibilidade física e psíquica, envolvendo, naturalmente, também a conquista e
afirmação de sua individualidade no meio econômico e social, com repercussões
positivas conexas no plano cultural - o que se faz, de maneira geral, considerado o
conjunto mais amplo e diversificado das pessoas, mediante o trabalho e,
particularmente, o emprego. O direito à indenização por dano moral encontra amparo
no art. 5º, V e X, da Constituição da República e no art. 186 do CCB/2002, bem como
nos princípios basilares da nova ordem constitucional, mormente naqueles que dizem
respeito à proteção da dignidade humana, da inviolabilidade (física e psíquica) do
direito à vida, do bem-estar individual (e social), da segurança física e psíquica do
indivíduo, além da valorização do trabalho humano. O patrimônio moral da pessoa
humana envolve todos esses bens imateriais, consubstanciados em princípios
fundamentais pela Constituição. Afrontado esse patrimônio moral, em seu conjunto ou
em parte relevante, cabe a indenização por dano moral, deflagrada pela Constituição de
1988. Na hipótese, o Tribunal Regional, atendendo aos fatos e às circunstâncias
constantes dos autos, manteve a sentença que considerou caracterizado o dano moral a
ser reparado, por assentar que "ficou provado nos autos que a reclamante, após o
retorno do afastamento previdenciário, foi colocada em situação de ócio, mediante
restrição de acesso ao sistema de vendas da empresa, tendo experimentado posterior
comprometimento de sua remuneração." Agregue-se, outrossim, que a Corte de origem
registrou que "restou provada, pelos depoimentos das testemunhas apresentadas pela
reclamante, a prática da reclamada de exercer, por meio de sua gerente, excessiva
pressão sobre os vendedores, dentre eles a demandante, para que cumprissem as metas
estabelecidas, inclusive mediante ameaça velada de dispensa." Assim sendo, diante do
contexto fático delineado pelo TRT, constata-se que as situações vivenciadas pela
Reclamante realmente atentaram contra a sua dignidade, a sua integridade psíquica e o
seu bem-estar individual - bens imateriais que compõem seu patrimônio moral protegido
pela Constituição -, ensejando a reparação moral, conforme autorizam o inciso X do art.
5º da Constituição Federal e os arts. 186 e 927, caput, do CCB/2002. Com efeito, o

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exercício do poder empregatício deve se amoldar aos princípios e regras constitucionais


que estabelecem o respeito à dignidade da pessoa humana, ao bem-estar individual e
social e à subordinação da propriedade à sua função socioambiental. Nesse quadro,
tornam-se inválidas técnicas de motivação que submetam o ser humano ao ridículo e à
humilhação no ambiente interno do estabelecimento e da empresa. Outrossim, para que
se pudesse chegar a conclusão fática diversa, necessário seria o revolvimento do
conjunto probatório constante dos autos, propósito insuscetível de ser alcançado nesta
fase processual, diante do óbice da Súmula 126/TST. Agravo de instrumento desprovido.
(AIRR - 10445-23.2015.5.18.0003 , Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data
de Julgamento: 10/05/2017, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 12/05/2017).

Assim, considerando a prática do assédio moral por parte da ré, julgo procedente o
pedido para condenar a ré ao pagamento de R$ 20.000,00, valor este que tenho por
adequado a compensar o autor e, mais que isso, a evidenciar para a ré a existência de
consequências diretas pelo assédio moral dispensado a um empregado."

Ao exame.

Nos dizeres de Maurício Godinho Delgado, o assédio moral consiste na


"conduta reiterada seguida pelo sujeito ativo no sentido de desgastar o equilíbrio emocional do sujeito
passivo, por meio de atos, palavras, gestos e silêncios significativos que visem ao enfraquecimento e
diminuição da autoestima da vítima ou a outra forma de tensão ou desequilíbrio emocionais graves"
(Curso de Direito do Trabalho. 18 ed. São Paulo: Ltr, 2019. p. 770).

Acerca do tema em apreço, a testemunha Felipe Gonçalves Franciscone


afirmou que "por ocasião das chegada de André Tavares para o setor de ferramentas, assumiu este todas
as funções de comando, inclusive algumas desempenhadas pelo autor, sendo que o autor ficou 'sem
rumo', ou seja, sem funções próprias, tendo perdido o domínio que ele tinha no setor de ferramentas,
procurando outras funções em que pudesse ser útil no setor"; "que Roberto acumulava as gerências de
elétrica e ferramentas, sendo que com a chegada de André deixou de exercer a função de gerente de
ferramentas"; "que pouca vezes viu o Roberto, não sabendo, se por ocasião da demissão do depoente
ainda trabalhava Roberto na loja"; "que André era gerente de jardinagens e ferramentas"; "que as funções
do coordenador são de assistências aos assessores de vendas"; "que Washington fazia a seção andar,
realizando muitas tarefas que o colocava quase com um gerente, sendo que essas tarefas foram
suprimidas com a chegada de André"; "que são funções típicas de coordenador a gestão da equipe
inclusive realizando escalas, e repassando orientações, que essas funções deixou o autor de desempenhar
com a chegada de André"; "que sob a visão do depoente o Washington desempenhava as funções de
coordenador e gerente" (Id afdef25, fls. 495).

Na mesma toada, a testemunha Fabio Borges Veiga disse que "o autor era
coordenador do setor, sendo gerente do setor de ferramentes Roberto Val, mas na prática exercia o autor
todos os poderes decorrentes do cargo de gerência, que foram delegados pelo próprio Roberto, se
recordando a testemunha de ter o Sr. Roberto expressamente comunicado a equipe de que qualquer

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problema deveria ser tratado com o autor, já que Roberto tinha muitos setores para cuidar"; "que em
algum momento André Tavares assumiu a função de gerente do setor, sendo que foi o momento de muita
ruptura para a equipe, com alteração da filosofia de trabalho o que desmotivou toda a equipe"; "que com
a chegada de André foram suprimidas as funções do autor, que passou a não fazer nada durante o
expediente" (Id afdef25, fls. 496).

De fato, extrai-se dos depoimentos supratranscritos que a ré, por mera


liberalidade, deixou o autor desprovido de atividades profissionais, após a contratação de um novo
gerente.

A conduta da reclamada, de submeter o autor a uma ociosidade forçada,


em decorrência do esvaziamento de funções, extrapolou os limites do seu poder diretivo, configurando
um comportamento inadequado e desrespeitoso, violador de direito fundamental do autor, do qual se
extrai o assédio moral, sendo devida, consequentemente, a respectiva indenização.

De se observar que a indenização por dano moral destina-se a repelir e


prevenir ocorrências futuras similares, bem como proporcionar ao ofendido um atenuante para a dor
sofrida. Tudo sem deixar de lado o princípio da razoabilidade, sem tornar o evento danoso vantajoso para
o ofendido a ponto de este, por hipótese, desejar sua repetição, e sem fixar indenização irrisória a ponto
de se traduzir a própria indenização, em nova ofensa ao trabalhador.

Sob essa ótica, importa considerar que o quantum fixado na origem - R$


20.000,00 (vinte mil reais) -, mostra-se razoável e proporcional, observando, além dos critérios acima
definidos, as condições pessoais do reclamante, a capacidade econômica da ré, a intensidade e a
gravidade da lesão.

Isso posto, nego provimento.

B- HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

O recorrente alega, em suma, que: "na Justiça do Trabalho, a matéria


referente aos honorários advocatícios de sucumbência passou a ser regida pela lei nº 13467/2017, em seu
artigo 791-A, o qual autorizou o recebimento de honorários de sucumbência por parte do advogado no
percentual de cinco até quinze por cento do proveito econômico obtido ao seu cliente ou quando não for
possível mensurá-lo sobre o valor atualizado da causa, quando da liquidação da sentença"; "nem se
olvide da possibilidade de aplicação da retromencionada lei aos processos em curso"; "desta feita,

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cumpre mencionar o posicionamento exarado pela 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça ao julgar o
REsp 1.465.535/SP em que ambos os temas - honorários de sucumbência e direito intertemporal foram
apreciados, tendo o aresto decidido sobre a natureza híbrida dos honorários sucumbenciais"; "a aplicação
do entendimento do STJ aos processos trabalhistas é possível já que não pode haver diferença entre
processos cíveis e trabalhistas, posto que a discussão é a mesma, ou seja: quando a lei se aplica"; "além
do mais, o parágrafo terceiro do artigo 791- A deixa claro que na hipótese de procedência parcial, o juízo
arbitrará honorários de sucumbência recíproca"; "assim, de acordo com lei 13.467/2017, ora em vigor, os
valores requeridos pelo reclamante em inicial deverão ser todos liquidados e cada parte arcará com a
parte que for sucumbente"; "em que pese o ilustre Magistrado ter fixado valor sucumbencial, declarou a
inconstitucionalidade do § 4º do artigo 791-A da CLT, suspendendo assim, seu pagamento pelo
Recorrido, com o que, não se pode concordar"; "de início, vale lembrar que o Brasil é
constitucionalmente determinado como um Estado Democrático de Direito (art. 1º, caput, da Constituição
Federal de 1988), o que significa dizer que é regido necessariamente por sua legislação vigente, sendo
essa constituída pelas leis ordinárias, especiais, e demais procedimentos normativos que devem respeitar
a criação de normas infraconstitucionais"; "a reforma trabalhista, por sua vez, nada mais é do que uma
consequência do poder legislativo derivado da norma constitucional, que, em verdade, legitima o
legislador formalmente eleito para elaboração das regras conforme a necessidade social e jurídica e
interesse da população que o elegeu, fazendo valer, assim, o chamado Estado Democrático de Direito, em
que os três poderes (legislativo, executivo e judiciário) coexistam sem interferiem entre si"; "assim
sendo, não basta a alegação em processo individual de que determinada norma, em determinado
processo, prejudica o direito constitucional do indivíduo para que o juiz de primeiro grau simplesmente
faça esse controle de constitucionalidade caso a caso, sem o devido fundamento legal"; "no presente
processo, o ilustre Magistrado entende que a determinação de pagamento da verba sucumbencial equivale
à restrição de acesso ao Judiciário, o que não corresponde à realidade"; "veja-se que nenhuma parte
deveria mover uma ação, movimentando a máquina do Poder Judiciário, com a expectativa de que não
tenha razão. Pelo contrário, as reformas legislativas ao decorrer do tempo, inclusive do Código de
Processo Civil, vêm cada vez mais caminhando no sentido de valoração da boa-fé e lealdade processual,
em detrimento do uso dos procedimentos judiciais como se fossem a única possível saída para todos os
conflitos sociais"; "o que buscou o legislador fazer foi tentar impedir que aventureiros movessem ações
judiciais sem o menor fundamento, às custas das reclamadas e do poder público, trazendo grande
prejuízo aos cofres da administração e fazendo o sistema cada vez mais moroso ou até mesmo injusto
àqueles que realmente buscam a tutela jurisdicional com fundamentos plausíveis"; "razão não assiste ao
recorrente, uma vez que a nova legislação trabalhista, ao contrário do que alega, não impossibilita o
acesso do trabalhador a justiça, e sim restringe a quem realmente há necessidade de recorrer ao judiciário,
uma vez que tanto a justiça gratuita é sim deferida à quem tem direito, quanto aos honorários
sucumbências somente pagará a parte que perca demanda. Dessa forma, implantando uma regra de

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equidade processual mais justa, e não inconstitucional como quer o reclamante demonstrar"; "vale
ressaltar que o direito de ingressar a justiça não foi retirado do trabalhador, e sim restringido a quem
realmente pleiteia o que lhe é de direito, evitando assim grandes volumes no judiciário, e economia aos
cofres públicos, onde muitas vezes arcava com custas totalmente desnecessárias, conforme demonstrado
em jurisprudência: Pela reversão da decisão que declarou a inconstitucionalidade do artigo 791-A §4º da
CLT, para fim de cessar a suspensão do pagamento da verba sucumbencial".

A r. sentença recorrida assentou-se sobre os seguintes fundamentos:

"Em razão da sucumbência, condeno a ré ao pagamento de honorários advocatícios


fixados em R$ 2.000,00 (10% do valor da condenação). Em razão da sucumbência
recíproca, condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios fixados em
R$ 3.000,00 (10% da diferença entre o valor da causa e o valor da condenação).
Destaco, por oportuno, que o direito a honorários advocatícios corresponde a direito
híbrido, aplicando-se a legislação vigente na data da prolação da sentença. Nesse
sentido, precedente do STJ firmado no Resp 1.465.535/SP.

Acerca da exigibilidade dos honorários, tenho que a Constituição, para os necessitados,


estabelece o direito fundamental ao acesso à justiça integral e gratuito (art. 5º, LXXIV),
sendo o art. 791-A, § 4º da CLT inconstitucional no ponto em que determina que o
beneficiário da gratuidade de justiça arque com honorários. Assim, reconheço a
inconstitucionalidade parcial do art. 791-A, § 4º da CLT por afronta ao art. 5º, LXXIV
da Constituição da República, suspendendo a exigibilidade do pagamento de honorários
advocatícios da parte beneficiária da Justiça Gratuita."

Ao exame.

A reclamação foi ajuizada antes da vigência da Lei nº 13.467/2017, caso


em que, na Justiça do Trabalhado, os honorários advocatícios são devidos somente quando preenchidos
os requisitos previstos na Lei nº 5.584/70, art. 14, §§ 1º e 2º, ou seja, miserabilidade do empregado e
assistência pelo respectivo sindicato de sua categoria, consoante entendimento pacificado pelas Súmulas
nº 219 e 329, ambas do c. TST.

Na hipótese vertente, o reclamante está assistido por advogado particular


(Id a02c86d, fls. 13), razão pela qual é indevido o pagamento da verba honorária pretendida.

Ademais, o art. 133, da Carta Maior não teve o condão de revogar o jus
postulandi das partes no Processo do Trabalho (art. 791, CLT), pois se trata de norma com eficácia
contida, ainda não regulamentada.

Salienta-se que não se aplicam os artigos 389, 395 e 404 do Código Civil,
uma vez que incompatíveis com as regras processuais trabalhistas.

Pelos mesmos motivos, resulta indevida a condenação do reclamante ao


pagamento de honorários ao patrono da reclamada, como pretendido pela ora recorrente.

Assinado eletronicamente por: ALEXANDRE TEIXEIRA DE FREITAS BASTOS CUNHA - 18/09/2019 13:52:02 - a4c3262
https://pje.trt1.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19071513494415400000132059997
Número do processo: 0010537-82.2015.5.01.0032 ID. a4c3262 - Pág. 8
Número do documento: 19071513494415400000132059997
Fls.: 10

Isto posto, reformo a r. sentença de origem, para excluir a condenação da


reclamada ao pagamento de honorários advocatícios.

ACÓRDÃO

ACORDAM os Desembargadores que compõem a 4ª Turma do Tribunal


Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso interposto, e, no mérito, por
maioria, dar-lhe parcial provimento, para excluir a condenação da reclamada ao pagamento de
honorários advocatícios. Ficam mantidos os valores da condenação e das custas fixados na origem.

Rio de Janeiro, 10 de setembro de 2019.

ALEXANDRE TEIXEIRA DE FREITAS BASTOS CUNHA

Relator

ATFBC/cqb/acsa

Voto do(a) Des(a). CARLOS HENRIQUE CHERNICHARO / Gabinete do


Desembargador Alvaro Luiz Carvalho Moreira

JUSTIFICATIVA DE VOTO DIVERGENTE.

Com a devida venia do nobre relator, daria provimento ao apelo no que


concerne ao assédio moral, posto que o alegado "esvaziamento" das funções que o autor exercia,
efetivamente não se confirmaram ao ponto de trazer prejuízo ou constrangimento de modo a configurar
humilhação ou vexame. O reclamante entrou em benefício previdenciário de 2012 até 2013, como

Assinado eletronicamente por: ALEXANDRE TEIXEIRA DE FREITAS BASTOS CUNHA - 18/09/2019 13:52:02 - a4c3262
https://pje.trt1.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19071513494415400000132059997
Número do processo: 0010537-82.2015.5.01.0032 ID. a4c3262 - Pág. 9
Número do documento: 19071513494415400000132059997
Fls.: 11

admitido em seu depoimento pessoal, por motivos psicológicos, circunstância que obrigou a ré a se valer
de outro funcionário para o exercício das tarefas.

Com efeito, não vislumbro qualquer atitude discriminatória, posto que a


colocação de outro empregado só se deu pela impossibilidade do reclamante em continuar exercendo as
tarefas. Observe-se ainda, que o autor nunca foi efetivado no setor de ferramentas, daí a necessidade de
colocação do outro funcionário de nome André.

Por tais razões, afastaria a indenização por dano moral.

Assinado eletronicamente por: ALEXANDRE TEIXEIRA DE FREITAS BASTOS CUNHA - 18/09/2019 13:52:02 - a4c3262
https://pje.trt1.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19071513494415400000132059997
Número do processo: 0010537-82.2015.5.01.0032 ID. a4c3262 - Pág. 10
Número do documento: 19071513494415400000132059997

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