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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região

Ação Trabalhista - Rito Sumaríssimo


1000624-87.2019.5.02.0712

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 23/05/2019


Valor da causa: $532.00

Partes:
RECLAMANTE: CELSO HENRIQUE DA COSTA
ADVOGADO: JOYCE FERREIRA GOMES
RECLAMADO: CIA DE SANEAMENTO BASICO DO ESTADO DE SAO PAULO SABESP

ADVOGADO: RAPHAEL JUAN GIORGI GARRIDO


ADVOGADO: NATALIA MAYUMI KURAOKA
TESTEMUNHA: MAURO DUCCA
TESTEMUNHA: JOSÉ MARCOS PEREIRA DA SILVA
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PODER JUDICIÁRIO ||| JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO
12ª Vara do Trabalho de São Paulo - Zona Sul ||| ATSum 1000624-87.2019.5.02.0712
RECLAMANTE: CELSO HENRIQUE DA COSTA
RECLAMADO: CIA DE SANEAMENTO BASICO DO ESTADO DE SAO PAULO SABESP

SENTENÇA
Vistos e examinados nos autos da reclamação trabalhista proposta por CELSO HENRIQUE
TOMOIKE DA COSTA em face de CIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO
PAULO - SABESP.
Dispensado o relatório conforme o artigo 852-I da Consolidação das Leis do Trabalho.

Fundamentos
Direito Intertemporal
Considerando que a presente demanda foi distribuída após 11.11.2017, aplicam-se as normas de
direito processual constantes na Lei 13.467/17, já no que tange ao direito material, aplicam-se as normas
vigentes à época dos fatos.
No que diz respeito à inclusão do artigo 791-A da Consolidação das Leis do Trabalho, que
estabeleceu os honorários advocatícios sucumbenciais no processo trabalhista, não há se falar em qualquer
espécie de inconstitucionalidade, já que tal instituto já vem sendo aplicado de maneira corriqueira na seara
civil, tendo por escopo não só o prestígio à atuação dos advogados, como também a redução de pedidos sem
qualquer fundamento, os quais encontravam lugar na seara trabalhista pela falta de qualquer consequência
processual específica, sendo tal alteração extremamente benéfica para a análise de casos e pleitos
verdadeiramente relevantes pelo Judiciário.
Com relação ao acréscimo do parágrafo 2º, ao artigo 844, da Consolidação das Leis do Trabalho,
este também não fere o amplo acesso à Justiça, já que o referido dispositivo apenas regula de acesso ao
impor a responsabilidade ao Autor de comparecer em audiência ou de justificar legalmente a sua ausência
no prazo de quinze dias, sob pena de arcar com as custas decorrentes do arquivamento da ação, ainda que
beneficiário da justiça gratuita.
O mesmo raciocínio também é válido para o novo art. 790-B da Consolidação das Leis do Trabalho,
segundo o qual a responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais é da parte sucumbente na
pretensão objeto da perícia, ainda que beneficiária da justiça gratuita.
Apenas para que não pairem dúvidas, resta mister salientar que o direito de ingressar em Juízo segue
pleno e incólume, não havendo que se confundir o livre acesso à Justiça com o abuso ou irresponsabilidade
na utilização de tal direito pelas partes, o que, em muitos casos, gerava um alto número de atos processuais
desnecessários que demandavam tempo precioso do Judiciário e resultava no prejuízo à efetiva prestação
jurisdicional.

Assinado eletronicamente por: JOSE DE BARROS VIEIRA NETO - 19/12/2019 20:01:13 - 76b18be
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Número do processo: 1000624-87.2019.5.02.0712
Número do documento: 19121920011317100000163698277
Assim, não havendo que se falar nas inconstitucionalidades, aplicam-se ao feito os dispositivos
mencionados nesse tópico, todos previstos na Lei nº 13.467/17.
Justiça Gratuita
Em que pese a declaração apresentada pelo reclamante de que não possui condições econômicas de
arcar com os custos deste processo, o salário por ele recebido no curso do contrato de trabalho mantido com
a reclamada é bastante superior ao limite previsto pelo artigo 790, parágrafo 3º da CLT, inexistindo nos
autos qualquer prova de que ele não consiga suportar os gastos decorrentes do ajuizamento da presente ação,
comprovação necessária mesmo considerando que esta demanda foi ajuizada após cessar o recebimento da
elevada remuneração. Cumpre observar que, em momento algum, o Reclamante comprovou que sua renda é
inferior ao referido limite. Indefiro o benefício.
Incompetência da Justiça do Trabalho
Trata-se de questão superada após a promulgação da Emenda Constitucional nº 45/2004, uma vez
que o inciso I, do artigo 114 da Constituição Federal, passou a dispor que a Justiça do Trabalho é
competente para processar e julgar "outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei."
Assim, tendo em vista que a controvérsia havida nos autos é decorrente da relação de emprego
havida entre o Autor e a Ré, o alegado direito à retificação do PPP terá que ser julgado decido pela Justiça
do Trabalho.
Afasto a preliminar.
Impossibilidade Jurídica do Pedido
Se o Autor não postula nada que seja vedado em lei, não se verifica impossibilidade jurídica do
pedido, eis que a postulação de algo não previsto no ordenamento jurídico constitui lacuna, suprível pelos
métodos de integração da norma jurídica.
Convém ressaltar que o próprio Liebman modificou o seu entendimento para retirar a possibilidade
jurídica do pedido do rol clássico das condições da ação, uma vez que tal questão possui cunho meritório e
sua não configuração deve levar à improcedência e não à extinção sem resolução do mérito. Afasto a
preliminar.
Retificação PPP (PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO) e Multa por Descumprimento
Alega o Reclamante que durante todo o período de trabalho trabalhou em condições insalubres
submetidos a ruídos acima dos níveis de tolerância. Juntou aos autos as cópias de 02 (dois) colegas de
trabalhados que laboravam nos meses setores e exerceram as mesmas funções, com medições de 88 dB e
88,7 dB.
De sua parte, a Reclamada sustenta que o Reclamante, além dos serviços de sondagem e caldeiraria,
exercia atividades de mecânica interna, na qual não haveria exposição a ruídos, o que resultou na medição de
80,6 dB.

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Realizada a competente prova pericial (laudo Id. 3bc3f63), o Sr. Perito apurou a existência de
insalubridade em razão da exposição diária a ruídos acima dos limites de tolerância em ambas as vistorias
realizadas.
No que diz respeito à confissão do Reclamante quanto à matéria de fato, por se tratar de presunção
relativa, resta a mesma afastada pelos demais elementos de provas produzidos nos autos.
Em primeiro lugar, os Perfis Profissiográficos Previdenciários juntados aos autos pelo Reclamante
dão conta de que 02 (dois) colegas seus trabalhavam expostos a ruídos acima de 88 dB, não havendo
justificativas nos autos para que o PPP do Reclamante não tivesse sido retificado pela Ré na primeira
oportunidade que teve para fazê-lo.
O Perito de Confiança do Juízo constatou ao retornar à empresa informa que "Realizei nova
diligência na sede da Reclamada em 17/10/2019 às 8h, conforme determinado na ata de audiência para
verificar a eventual exposição a ruídos que o autor esteve exposto conforme mencionado no laudo na área
de mecânica interna, e foi constatado que o Autor não laborou neste setor, a mecânica interna é uma
edificação apartada da caldeiraria onde se realiza mecânica de usinagem, mecânica de válvulas e de
bombas atividades diversas das que o autor realizava", caindo por terra o principal argumento da defesa.
Com efeito, não está descrito no PPP que foi entregue ao Reclamante que o mesmo exercia
atividades de mecânica interna ou que trabalhasse na respectiva edificação, razão pela qual, o trabalho
apresentado pelo Perito do Juízo mostrou-se irrepreensível.
Decerto que as variações das medições de ruídos podem variar, como se deu durante as vistorias
realizadas pelo Vistor Judicial. Ocorre que, a indicação de que o Reclamante estava exposto a ruídos de 80,6
dB, conforme atestou a empresa, é contraria ao que constou nos PPP's entregues aos empregados Mauro
Ducca (documento Id. bea60c9) e José Marcos Pereira da Silva (documento Id. 35b6b56).
O correto mesmo era a empresa ter trazido aos autos provas irrefutáveis de avaliações periódicas ao
longo do curso do contrato de trabalho, sendo que o mesmo vigeu de 17.11.1997 a 02.04.2018. Não o
fazendo, a Reclamada não poderia prejudicar o empregado, uma vez que a comprovação de trabalho em
condições insalubres influi na aposentaria do mesmo.
Assim, os PPP's de empregados que trabalharam nos mesmos setores e exerceram as mesmas funções
servem como registro histórico de que sempre houve exposição ocupacional a ruídos nos respectivos setores.
Somando-se a isso, o Perito é auxiliar de confiança deste Juízo e, embora o Juiz não esteja adstrito à
conclusão por ele adotada, é certo que, para que a refute, necessário que seja apresentada prova robusta e
cabal de seu descabimento, o que não se verificou nos presentes autos, de modo que, restam afastadas as
avaliações do laudo assistente da Reclamada e as demais documentações produzidas unilateralmente pela
empresa e por seus representantes.

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Por se tratar de documento exigido pela Previdência Social, a guia em questão deve efetivamente ser
emitida pela empresa, independentemente de haver insalubridade/periculosidade, conforme disposto na
Instrução Normativa INSS/DC nº 99 de 05/12/2003. Reza o art. 148, §§ 2º e 3º, da referida Instrução
Normativa:
"§ 2º Após a implantação do PPP em meio magnético pela Previdência Social, este
documento será exigido para todos os segurados, independentemente do ramo de
atividade da empresa e da exposição a agentes nocivos, e deverá abranger também
informações relativas aos fatores de riscos ergonômicos e mecânicos. § 3º A
empresa ou equiparada à empresa deve elaborar, manter atualizado o PPP para os
segurados referidos no caput, bem como fornecer a estes, quando da rescisão do
contrato de trabalho (...)".
No caso dos autos, constatadas condições de trabalho diversas das anotadas no documento que foi
entregue ao trabalhador, procedente é o pleito de sua retificação
Assim, deverá a reclamada retificar o PPP (PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO) e
entregá-lo ao obreiro, no prazo de 08 dias do trânsito em julgado, informando-se que o reclamante laborou
em condições habituais e permanentes de insalubridade por todo o período contratual, devido a ruídos acima
dos limites de tolerância da estabelecidos no anexo 1 da NR-15 da portaria 3214/78 do MTE - LAVG 92,73
dB(A) -, sob pena de multa diária de R$ 300,00 por dia, até o limite de R$ 30.000,00, contada da intimação
até a data da efetivação comprovação do cumprimento da obrigação nos autos do processo.
Honorários Advocatícios
São indevidos por não preenchidos os requisitos do art. 791-A da CLT, o Reclamante ajuizou a ação
valendo-se do jus postulandi (reclamação verbal reduzida a termo pelo Posto Avançado do Fórum
Trabalhista da Zona Sul). A advogada que apresentou razões finais não possui procuração e habilitação nos
autos. Indefiro.

Dispositivo
Em razão do quanto exposto e à vista do que mais dos autos consta, julgo PROCEDENTE a ação
ajuizada por CELSO HENRIQUE TOMOIKE DA COSTA para condenar CIA DE SANEAMENTO
BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO - SABESP a retificar o PPP (Perfil Profissiográfico
Previdenciário) do Reclamante, nos termos da fundamentação que passa a fazer parte integrante deste
"decisum".
A Reclamada deverá ser intimada a retificar o PPP (PERFIL PROFISSIOGRÁFICO
PREVIDENCIÁRIO) e entregá-lo ao obreiro, no prazo de 08 dias do trânsito em julgado, informando-se que
o reclamante laborou em condições habituais e permanentes de insalubridade por todo o período contratual,
devido a ruídos acima dos limites de tolerância da estabelecidos no anexo 1 da NR-15 da portaria 3214/78 do
MTE - LAVG 92,73 dB(A) -, sob pena de multa diária de R$ 300,00 por dia, até o limite de R$ 30.000,00,
contada da intimação até a data da efetivação comprovação do cumprimento da obrigação nos autos do
processo.

Assinado eletronicamente por: JOSE DE BARROS VIEIRA NETO - 19/12/2019 20:01:13 - 76b18be
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Consigno que não haverá depósito de documentos na Secretaria da Vara, devendo a Ré, uma vez
intimada para o cumprimento da obrigação de fazer, providenciar contato diretamente com o Reclamante ou
seu patrono/procurador, pelos meios que entender mais eficazes (notificação extrajudicial com aviso de
recebimento, e-mail, etc), a fim de dar cumprimento à obrigação de fazer ora imposta, restando desonerada
de multa caso comprove que o autor foi devidamente notificado/comunicado dentro do prazo assinalado e
que o documento foi entregue.
Honorários periciais arbitrados em R$ 2.500,00 a cargo da Reclamada, sucumbente no objeto da
perícia para apuração de insalubridade (ruídos). A atualização monetária dos honorários periciais é fixada
pelo artigo 1º da Lei nº 6.899/81, aplicável a débitos resultantes de decisões judiciais, porquanto a referida
verba ostenta a natureza de despesa processual, não possuindo caráter alimentar a justificar a aplicação do
critério de correção dos débitos trabalhistas, de acordo com a OJ nº 198 da SBDI-1 do C. TST.
Custas pela Reclamada, no importe de R$ 10,64 (valor mínimo), calculadas sobre o valor arbitrado
para a condenação de R$ 532,00.

Intimem-se. Nada mais.

José de Barros Vieira Neto


JUIZ FEDERAL DO TRABALHO

13 de dezembro de 2019

SAO PAULO,19 de Dezembro de 2019

JOSE DE BARROS VIEIRA NETO


Juiz(a) do Trabalho Titular

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