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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região

Ação Trabalhista - Rito Sumaríssimo


0000684-27.2022.5.07.0003
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Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 01/08/2022


Valor da causa: R$ 36.124,41

Partes:
RECLAMANTE: ANTONIO CANDIDO DA ROCHA
ADVOGADO: PEDRO PAULO POLASTRI DE CASTRO E ALMEIDA
ADVOGADO: PEDRO ZATTAR EUGENIO
RECLAMADO: UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.
ADVOGADO: RAFAEL ALFREDI DE MATOS
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO
3ª VARA DO TRABALHO DE FORTALEZA
ATSum 0000684-27.2022.5.07.0003
RECLAMANTE: ANTONIO CANDIDO DA ROCHA
RECLAMADO: UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.

CERTIDÃO/CONCLUSÃO

Certifico, para os devidos fins, que a parte reclamada e o advogado do


reclamante que suas participações se dessem de forma telepresencial, haja vista
residirem fora desta jurisdição.

Nesta data, 29 de setembro de 2022, eu, ANA PAULA LOPES DUARTE,


faço conclusos os presentes autos ao(à) Exmo(a). Sr.(ª) Juiz(íza) do Trabalho desta Vara.

DESPACHO

Vistos etc.

Compulsando os autos, constata-se que os escritórios dos advogados


da parte autora e da parte reclamada estão sediados fora desta jurisdição, assim como
a sede da ré. Desta forma, fica facultada a participação dos comprovadamente
residentes fora de Fortaleza, de forma remota, por meio do seguinte link: https://trt7-
jus-br.zoom.us/j/85966394206?pwd=NzVHbThxN2RyenY3Vk03WTJ2MVFsUT09; ID: 859
6639 4206; Senha de Acesso: 931541. Os demais, deverão comparecer presencialmente
à sala de audiências da 3ª Vara do Trabalho de Fortaleza.

Notifiquem-se.

*A autenticidade do presente expediente pode ser confirmada


através de consulta ao site https://pje.trt7.jus.br/pjekz/validacao, digitando
o número do documento que se encontra ao seu final.

Fortaleza/CE, 30 de setembro de 2022.

GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA


Juiz do Trabalho Titular

Assinado eletronicamente por: GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 30/09/2022 09:15:46 - b6768eb
https://pje.trt7.jus.br/pjekz/validacao/22092910552442300000030861603?instancia=1
Número do processo: 0000684-27.2022.5.07.0003
Número do documento: 22092910552442300000030861603
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO
3VT-Fortaleza
ATSum 0000684-27.2022.5.07.0003
RECLAMANTE: ANTONIO CANDIDO DA ROCHA
RECLAMADO: UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.

ATA DE AUDIÊNCIA

Em 5 de outubro de 2022, na sala de sessões da MM. 3VT-Fortaleza,


sob a direção do(a) Exmo(a). Sr(a). Juiz(a) do Trabalho GERMANO SILVEIRA DE
SIQUEIRA, realizou-se audiência telepresencial relativa à Ação Trabalhista - Rito
Sumaríssimo número 0000684-27.2022.5.07.0003, supramencionada.

Às 10:06, aberta a audiência, foram apregoadas as partes.

Presente a parte autora ANTONIO CANDIDO DA ROCHA,


pessoalmente, acompanhado(a) de seu(a) advogado(a), Dr(a). BEATRIZ DE FATIMA
MARIANO, OAB 215880/MG.

Presente a parte ré UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.,


representado(a) pelo(a) preposto(a) Sr.(a) LUCAS LEAL DA SILVA, acompanhado(a) de
seu(a) advogado(a), Dr(a). MARCELLO VITA DO EIRADO SILVA, OAB 50176/BA.

Conciliação rejeitada

Defesa com documentos, tendo a parte reclamante requerido prazo


para se manifestar, tendo sido deferidos 10 dias.

Dizem as partes que anexaram depoimentos de testemunhas que


pretendem sejam considerados com valor probante, uma vez que se reportam à
situação estrutural da relação debatida nos presentes autos.

Considerando a afirmação das partes sobre serem os depoimentos


alusivos à situação de caráter geral e não estritamente pessoal, foi deferida produção
da prova.

O advogado da reclamada consignou em ata a ressalva de que não se


trata exatamente de uma situação meramente geral, mas sim que a situação de
todos os parceiros é exatamente idêntica.

Em comum acordo, o reclamante e a reclamada, por seus advogados,


fixaram os seguintes pontos incontroversos: 1- ficava a critério do motorista o início e
término do horário de utilização da plataforma; 2- o motorista poderia alterar a rota
definida pelo aplicativo em comum acordo com o passageiro, o que pode ou não
gerar alteração de valor; 3 - não havia exigência quanto ao número mínimo de
viagens diárias; 4- ficava a critério do motorista a participação ou não em promoções;
5- o motorista apenas fez o cadastro por meio do aplicativo, não sendo realizado

Assinado eletronicamente por: GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 06/10/2022 09:12:55 - 20eef62
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nenhum; 6- é critério do motorista utilizar outras plataformas; 7- o motorista decide


os dias de folga e nos dias de folga, não era necessário justificar a ausência na
plataforma; 8- poderia receber o valor da viagem diretamente do passageiro, quando
pago em dinheiro; 9- o motorista arca com as despesas do veículo, inclusive seguro;
10- a reclamada não garante remuneração mínima ao final do dia/mês; 11- a
reclamada aceita que dois motoristas usem o mesmo carro;
12- não é obrigatório o fornecimento de água e bala, ficando a critério do motorista.

As partes declararam não mais ter provas a produzir, pelo que foi
encerrada a instrução processual.

Razões finais remissivas das partes.

Rejeitada a segunda proposta de conciliação.

Autos conclusos para julgamento, após o prazo acima concedido.

Cientes os presentes.

GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA


Juiz(a) do Trabalho

Ata redigida por ANA PAULA LOPES DUARTE, Secretário(a) de Audiência.

Assinado eletronicamente por: GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 06/10/2022 09:12:55 - 20eef62
https://pje.trt7.jus.br/pjekz/validacao/22100511503081200000030935897?instancia=1
Número do processo: 0000684-27.2022.5.07.0003
Número do documento: 22100511503081200000030935897
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO
3ª VARA DO TRABALHO DE FORTALEZA
ATSum 0000684-27.2022.5.07.0003
RECLAMANTE: ANTONIO CANDIDO DA ROCHA
RECLAMADO: UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.

1-RELATÓRIO SUMÁRIO

Trata-se de Reclamação Trabalhista proposta por ANTÔNIO


CÂNDIDO DA ROCHA em face da UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA alegando que
trabalhou para a reclamada, em condições subordinativas, a partir de 02/09/2018. Diz,
ainda, que cumpria jornada de trabalho de acordo com a demanda ofertada pela ré,
em horários variáveis, recebendo pelo exercício da função de motorista o pagamento
semanal de R$ 300,00 reais, em média.

Afirma o reclamante, em acréscimo, que no dia 02/04/2022 foi


bloqueado na plataforma, sem que tenha obtido, no período contratual, proteção
trabalhista e previdenciária, também deixando de receber as verbas rescisórias que
entende devidas.

Em razão do que expôs na inicial de fls. 2/17, postula o


reconhecimento da existência de vínculo empregatício, na modalidade de contrato de
trabalho intermitente, e que lhes sejam pagas as verbas contratuais e rescisórias
nominadas, tais como aviso prévio, férias mais 1/3 , 13º salário, FGTS mais 40%, danos
morais e honorários, atribuindo à causa o valor de R$ 36.124,41 reais.

Devidamente notificados, os litigantes compareceram à


audiência (fls.843/844) designada para o dia 5 de outubro do corrente ano, nela
restando frustrada a tentativa de conciliação.

A UBER apresentou contestação (fls.484 e ss), acompanhada de


documentos, aduzindo preliminares e, no mérito, afirmando inexistir vínculo de
emprego entre as partes.

Sobre a defesa e documentos manifestou-se o Autor às fls.836 e


posteriores.

As partes requereram a juntada de súmulas de depoimentos,


como prova emprestada, deixando fixados, no termo da ata de audiência, 12 pontos
incontroversos.

Assinado eletronicamente por: GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 11/01/2023 11:17:51 - 1069b22
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Em seguida, declararam não ter outras provas a produzir,


ficando encerrada a instrução processual.

Razões finais remissivas das partes.

Rejeitada a segunda proposta de conciliação.

Autos conclusos para julgamento.

2-FUNDAMENTAÇÃO

2.1- COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Alega a reclamada que “(..) A relação jurídica e contratual


estabelecida não se trata de relação de trabalho ou emprego, nos termos do art.114 da
Constituição, mas sim de relação comercial”, razão pela qual a competência para
resolução do feito seria da Justiça Comum estadual.

Rejeita-se a preliminar, uma vez que compete à Justiça do


Trabalho apreciar demanda que tenha como objeto o reconhecimento de vínculo de
emprego, a partir do que meramente afirmado na inicial, isto é, tomando como
referência os pedidos e a causa de pedir.

Nesse sentido o disposto no art.114 da CF, com a redação da


Emenda 45:

“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: - I as


ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo
e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios”.

Se a relação é de natureza comercial (como diz a UBER) ou


trabalhista (como alega o autor) a uma dessas conclusões só se pode chegar em sede
meritória, depois de encerrada a instrução, de modo que o eventual acolhimento da
prejudicial suscitada pela ré acarretaria a improcedência dos pleitos autorais e não a
remessa dos autos para outro órgão jurisdicional.

Nada obstante, quanto à específica competência para


eventualmente fixar os limites de possível execução previdenciária, tem razão a
reclamada ao suscitar a incompetência da Justiça do Trabalho para determinar o
recolhimento de verbas previdenciárias que não sejam decorrentes das suas próprias
decisões, o que também resta assentado.

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Competência da Justiça do Trabalho que resulta afirmada, pelas


razões supra.

2.2- SEGREDO DE JUSTIÇA

O pedido de tramitação processual em segredo de justiça não


pode ser acolhido uma vez que a publicidade dos atos judiciais é a regra, só podendo
haver restrição a esse comando constitucional nos casos de interesse social ou de
proteção à intimidade (art.5º, LX da CF), não sendo essas as hipóteses dos autos.

Documentos específicos, anexados com potencialidade de


revelar nomes de terceiros (passageiros e percursos), podem ser pontualmente
anexados em sigilo, não havendo necessidade de determinar o sigilo de todos os atos
processuais.

Indefere-se, portanto.

3-MÉRITO

3.1- NATUREZA JURÍDICA DA EMPRESA REQUERIDA

Antes de abordar outros temas, faz-se necessário evidenciar a


natureza jurídica da empresa UBER a partir do que foi ventilado na contestação.

Na referida peça a contestante afirma que é uma empresa de


tecnologia, atuando como simples plataforma destinada a viabilizar o encontro de
pessoas em torno de um determinado serviço, tendo os motoristas como seus clientes.

A tese carece de sustentação, todavia.

Embora os serviços por ela prestados não sejam rigidamente


regulamentados pelo Poder Público, a exemplo dos serviços tradicionais de taxi, a
relação de usuários e motoristas com a reclamada são pautadas pelo que que foi
previamente definido pela empresa UBER.

Desse modo, resta a esses sujeitos, notadamente aos


motoristas, aderir às condições estipuladas pela promovida, por meio de plataforma e
aplicativo baixados nas lojas virtuais, no momento de cadastramento.

Do ponto de vista da legislação nacional, trata-se de serviço


albergado nas hipóteses dos artigos 730, 734, 735, 739 do vigente CCB, além do
disposto nos artigos seus 3º e 4º , incisos I e X, da Lei n.12.587/2012, instituidora da
Política Nacional de Mobilidade Urbana.

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Melhor explicando, o art. 730 do CC 2002 estabelece que “Pelo


contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um
lugar para outro, pessoas ou coisas”.

Por sua vez, o art.3º e seus parágrafos 1º e 2º, da Lei 12.587


pontuam: “O SISTEMA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA é o conjunto organizado e
coordenado dos MODOS DE TRANSPORTE, de serviços e de infraestruturas que garante
os deslocamentos de pessoas e cargas no território do Município.

§ 1º São modos de transporte urbano: I - motorizados; e II - não


motorizados.

§ 2º Os SERVIÇOS DE TRANSPORTE URBANO SÃO CLASSIFICADOS


: I - QUANTO AO OBJETO : a) de passageiros; b) de cargas; II - QUANTO À
CARACTERÍSTICA do serviço: a) coletivo; b) individual; III - QUANTO À NATUREZA do
serviço: a) público; b) PRIVADO.

O art.4º, incisos I e X da mesma Lei 12.587 estabelece: “Art. 4º


Para os fins desta Lei, CONSIDERA-SE: I - TRANSPORTE URBANO: CONJUNTO DOS
MODOS e SERVIÇOS de transporte público E PRIVADO utilizados para o deslocamento
de pessoas e cargas nas cidades integrantes da Política Nacional de Mobilidade Urbana
; (....) X-TRANSPORTE REMUNERADO PRIVADO INDIVIDUAL DE PASSAGEIROS: serviço
remunerado de transporte de passageiros, não aberto ao público, para a realização de
viagens individualizadas ou compartilhadas solicitadas EXCLUSIVAMENTE POR
USUÁRIOS PREVIAMENTE CADASTRADOS EM APLICATIVOS ou outras plataformas de
comunicação em rede. (Redação dada pela Lei nº 13.640, de 2018)”.

Não há nenhuma razão legítima para excluir a UBER ( e


empresas similares) da caracterização que se infere da leitura dos artigos 730 do CC e
dos artigos 3º e 4º da Lei 12.587.

Nesse sentido, as atividades da reclamada configuram serviço


realizado sob a forma de contrato de transporte, destinado ao deslocamento de
passageiros (objeto), de forma motorizada (modo), individual ou compartilhada, quanto
à característica, e privado no concernente à espécie, sendo que o aprimoramento
legislativo de 2018, quanto ao inciso X do art.4º, apenas reforça essas conclusões.

Igualmente, a oferta desses serviços não ocorreria SEM A


FIGURA OPERACIONAL DOS MOTORISTAS, COMO ELEMENTO ESSENCIAL PARA
INCREMENTO DO MODELO DE NEGÓCIO.

Tal conclusão é absolutamente simples e clara, a respeito dessa


essencialidade manifestando-se FAUSTO SIQUEIRA GAIA, magistrado e estudioso do
tema, para dizer que "(..) mesmo que o objeto social da UBER esteja formalmente

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associado à tecnologia, A SUA REALIZAÇÃO NÃO SERÁ POSSÍVEL SEM A PRESENÇA


OBRIGATÓRIA DO MOTORISTA em uma das pontas da cadeia produtiva” (Uberização do
Trabalho; São Paulo, SP: Lumen Juris).

Nesse mesmo rumo são diversas as decisões em outros países,


como a que foi adotada no julgamento no Tribunal do Trabalho de Londres (processo
nº 220255/2015), ali ficando registrado que “(..)a Uber está no mercado como um
fornecedor de serviços de transportes” e que “(…) A noção que a Uber em Londres é
um mosaico de 30.000 pequenos negócios ligados por uma “plataforma” comum é para
o nosso juízo ligeiramente ridículo”.

A reclamada, portanto, é empresa que induvidosamente utiliza


tecnologia no desenvolvimento de suas atividades, operando no mercado de
transporte de passageiros, nos termos da lei brasileira, com a necessária utilização da
mão de obra de motoristas cadastrados em suas plataformas.

Os motoristas, nesse contexto, a exemplo do reclamante, são


trabalhadores, restando apurar se efetivamente atuam em ambiente caracterizador de
relação empregatícia, o que será examinado adiante.

3.2- PARADIGMAS CONSTITUCIONAIS DE PROTEÇÃO AO


TRABALHO

Em uma perspectiva histórica, o jurista e filósofo italiano


NORBERTO BOBBIO [“TEORIA GERAL DA POLÍTICA” - Editora Campus] destacou que “a
era dos direitos sociais começou depois da Segunda Guerra Mundial, mesmo que seus
primórdios remontem à Constituição da primeira República alemã denominada Weimar
(1919)” . Afirma, também, que “o reconhecimento desses direitos sociais requer a
intervenção direta do Estado, tanto que são denominados também direitos de
prestação, exatamente porque exigem, diferentemente dos direitos de liberdade, que o
Estado intervenha com providências adequadas”.

Assim, os constituintes deixaram no preâmbulo da Constituição


de 1988 o registro de que estiveram “(..)reunidos em Assembleia Nacional Constituinte
para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e
sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias(..)”.

Essa ordem de ideias, quanto aos direitos sociais, encontra-se


materializada nos art.1º, II, III e IV, art.3º, I, III e IV, Art. 170 e 193, da Lei Maior, que
afirmam:

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“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como FUNDAMENTOS: (...) II - a cidadania; III - a
dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (..)”

“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República


Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o
desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”

Art. 170. A ORDEM ECONÔMICA, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (..) III -
função social da propriedade; (..) VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;(..)”;

Art. 193. A ORDEM SOCIAL tem como base o primado do


trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”.

Coerente com esses princípios, o art.7º,I da Carta Maior afirma


que “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social: I - RELAÇÃO DE EMPREGO PROTEGIDA contra
despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
indenização compensatória, dentre outros direitos; (..) VII - GARANTIA DE SALÁRIO,
NUNCA INFERIOR AO MÍNIMO, para os que percebem remuneração variável; VIII -
décimo terceiro salário com base na remuneração integral (..); IX - remuneração do
TRABALHO NOTURNO SUPERIOR À DO DIURNO; (..) XI - PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS,
ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na
gestão da empresa, conforme definido em lei; (..) XII - SALÁRIO-FAMÍLIA pago em razão
do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei (..) XIII - duração do
TRABALHO NORMAL NÃO SUPERIOR A OITO HORAS DIÁRIAS e quarenta e quatro
semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante
acordo ou convenção coletiva de trabalho; (..) XV - REPOUSO SEMANAL REMUNERADO,
preferencialmente aos domingos; XVI - REMUNERAÇÃO DO SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO
superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal; XVII - GOZO DE FÉRIAS
ANUAIS remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; XVIII
- LICENÇA À GESTANTE, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento
e vinte dias” entre outras garantias ali previstas.

Nessa toada, além de reconhecer o trabalho como direito social (


art.6º), o art.7º, I da Lei Maior estipulou a relação de emprego como parâmetro de
proteção para aqueles que trabalham sob dependência.

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Para CARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITE (EFICÁCIA HORIZONTAL


DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES DE EMPREGO- Revista Brasileira de
Direito Constitucional, n. 17, jan.-jun. 2011, p. 43) "a hermenêutica constitucional (..) há
de ser observada em todos os ramos do direito, especialmente do direito do trabalho,
tendo em vista que os direitos sociais dos trabalhadores compõem o catálogo dos
direitos fundamentais consagrados no Texto Constitucional."

Não se pode esquecer, além do mais, que o parágrafo primeiro


do art.5º pontua que “as normas definidoras dos DIREITOS e GARANTIAS fundamentais
têm aplicação imediata”, ao passo que nos §§ 2º e 3º da mesma norma restou
estabelecido que: “§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, OU DOS
TRATADOS INTERNACIONAIS EM QUE A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL SEJA PARTE
”; § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.

Comentando a regra do § 1º do art.5º da CF, ANDREAS JOACHIM


KRELL (Direitos Sociais e Controle Judicial no Brasil e na Alemanha, - Os (Des) Caminhos
de um Direito Constitucional Comparado”- 2002, p. 37-38), considera que “(..) esse
dispositivo serve para salientar o CARÁTER PRECEPTIVO E NÃO PROGRAMÁTICO dessas
normas, deixando claro que os Direitos Fundamentais PODEM SER IMEDIATAMENTE
INVOCADOS, ainda que haja FALTA ou INSUFICIÊNCIA DA LEI. O seu conteúdo NÃO
PRECISA SER NECESSARIAMENTE CONCRETIZADO POR UMA LEI; eles possuem um
conteúdo que pode ser definido na própria tradição da civilização ocidental-cristã, da
qual o Brasil faz parte”.

Como registra GABRIELA NEVES DELGADO as regras


constitucionais “(..) conformam o regime de emprego socialmente protegido
(Constituição, arts. 7º a 11) como direito social de natureza prestacional, em face de sua
alta densidade de conteúdo, aliada à exigência de efetividade da Constituição”.

3.3- O TRABALHO À LUZ DE TRATADOS E CONVENÇÕES


INTERNACIONAIS

Sobre a referida importância das Convenções e Tratados, tem-se


que o Brasil figura como signatário de vários desses instrumentos relacionados com a
presente discussão.

A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DO DIREITOS HUMANOS, em seu


item 3 do Artigo XXIII, estabelece que “(..) 3. Todo ser humano QUE TRABALHA tem

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direito a UMA REMUNERAÇÃO JUSTA e SATISFATÓRIA, que lhe assegure, assim como à
sua família, UMA EXISTÊNCIA COMPATÍVEL COM A DIGNIDADE HUMANA e a que se
acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social”

Na mesma linha, o PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS


ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS articula em seu artigo 7º que “Os Estados Partes
do presente Pacto reconhecem o DIREITO DE TODA PESSOA de gozar de CONDIÇÕES
DE TRABALHO JUSTAS E FAVORÁVEIS, que assegurem especialmente: a) Uma
remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os trabalhadores: (...) II) Uma
existência decente para eles e suas famílias, em conformidade com as disposições do
presente Pacto; b) à segurança e a higiene no trabalho; (..)”.

Na DECLARAÇÃO DA FILADÉLFIA, de 10 de maio de 1944, ao se


reafirmarem os objetivos tradicionais da OIT, restou assinalado: “a) o TRABALHO NÃO É
UMA MERCADORIA; b) a pobreza (..)constitui um perigo para a prosperidade geral; c) a
luta contra a pobreza, em qualquer nação, deve ser um esforço internacional e
TAMBÉM DOS EMPREGADORES E DOS EMPREGADOS, visando o bem comum; d) todos
os seres humanos têm o direito de assegurar o bem-estar material e o
desenvolvimento espiritual dentro da liberdade e da dignidade, da tranquilidade
econômica e com as mesmas possibilidades”.

A CONVENÇÃO N. 117, da Organização Internacional do


Trabalho, também ratificada pelo Brasil desde 1970, (DECRETO Nº 66.496/70), registra “
OS OBJETIVOS E AS NORMAS BÁSICAS DA POLÍTICA SOCIAL”, preconizando em seus
artigos 1º e 5º o seguinte:

“ARTIGO 1º- I- TODA E QUALQUER política deve tender em


primeiro lugar ao bem-estar e ao desenvolvimento da população, assim como ao
encorajamento das suas aspirações com vista ao progresso social.(..) “

Art. 5º (V) — 1. Deverão ser tomadas medidas no sentido de


assegurar AOS PRODUTORES INDEPENDENTES E AOS ASSALARIADOS condições de vida
que lhes permitam elevar seu nível de vida por seus próprios esforços, e que
GARANTAM A MANUTENÇÃO DE UM NÍVEL DE VIDA MÍNIMO DETERMINADO ATRAVÉS
DE PESQUISAS OFICIAIS SOBRE AS CONDIÇÕES DE VIDA, conduzidas em consulta com
as organizações representativas dos empregadores e empregados. 2. Na FIXAÇÃO DO
NÍVEL DE VIDA MÍNIMO, será necessário levar em conta as necessidades familiares
essenciais dos trabalhadores, inclusive a alimentação e seu valor nutritivo, a habitação,
o vestuário, os cuidados médicos e a educação”.

Extrai-se da Convenção n. 177, aliás, a materialização normativa


da VEDAÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL, tratada pelo professor JOSÉ JOAQUIM GOMES
CANOTILHO, em resumo , como a proibição da “contrarrevolução social# ou da

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“evolução reacionária”, no contexto da necessidade de preservar o núcleo essencial de


existência inerente ao respeito pela dignidade da pessoa humana ou, ainda, como
articula DANIELA MURADAS REIS (O Princípio da Vedação do Retrocesso no Direito do
Trabalho – LTr), a tradução exata da ideia “(..)vinculada à noção de progresso, que por
sua vez se define como marcha adiante, movimento em uma direção definida" .

Importante considerar, ainda, que o implemento de direitos


humanos e sociais mínimos, aptos a concretizar a proteção social desenhada pelo
constituinte, especialmente em um quadro de prestação de serviços subordinados,
quando assim restar caracterizado, constitui dever dos agentes públicos e privados,
como destaca INGO SARLET (A EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS-. Livraria do
Advogado p. 386) ao dizer do “(..) relativo consenso a respeito da possibilidade de se
transportarem diretamente os princípios relativos à eficácia vinculante dos direitos
fundamentais para a esfera privada, já que se cuida induvidosamente de relações
desiguais de poder, similares as que se estabelecem entre particulares e os poderes
públicos".

Do contrário, o horizonte seria aquele diagnosticado por


BOAVENTURA SOUZA SANTOS (“SE DEUS FOSSE UM ATIVISTA DOS DIREITOS
HUMANOS” – Cortez Editora) ao dizer que apesar da ordem jurídica “(..) grupos sociais
cada vez mais vastos são expulsos do contrato social (..) ou que a ele sequer têm
acesso tornam-se populações descartáveis (..), sem direitos mínimos de cidadania (...)”.

3.4- CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE TRABALHO CLÁSSICO

Em se tratando, no caso concreto, da cogitação da existência de


contrato de emprego, é necessário discorrer sobre as suas características, à luz dos
artigos 2º e 3º CLT.

O primeiro deles estabelece: “art.2º considera-se empregador a


empresa, individual ou coletiva, que, ASSUMINDO OS RISCOS DA ATIVIDADE
ECONÔMICA, admite, assalaria e DIRIGE a prestação PESSOAL de serviço”.

Do ponto de vista do trabalhador, o art. 3º pontua: “Art. 3º -


Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não
eventual a empregador, sob a DEPENDÊNCIA deste e MEDIANTE SALÁRIO”.

Sobre essas características do contrato de trabalho típico


MAURICIO GODINHO DELGADO (Curso de Direito do Trabalho – LTr) diz que a
SUBORDINAÇÃO corresponde “(..) ao polo antitético e combinado DO PODER DE
DIREÇÃO existente no contexto da relação de emprego. Consiste, assim, na situação
jurídica derivada do contrato de trabalho, pela qual o empregado compromete-se a
acolher o poder de direção empresarial (...)”.

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A subordinação pode ser, ainda, simplesmente ESTRUTURAL,


como afirma Godinho, restando configurada “pela inserção do trabalhador na dinâmica
do tomador de seus serviços, independentemente de receber (ou não) suas ordens
diretas, mas acolhendo, estruturalmente, sua dinâmica de organização e
funcionamento. Nesta dimensão da subordinação, não importa que o trabalhador se
harmonize (ou não) aos objetivos do empreendimento, nem que receba ordens diretas
das específicas chefias deste: o fundamental é que esteja estruturalmente vinculado à
dinâmica operativa da atividade do tomador de serviços”.

No aspecto da PESSOALIDADE, afirma o renomado doutrinador


ser “(..) essencial à configuração da relação de emprego que a prestação do trabalho,
pela pessoa natural, tenha efetivo caráter de infungibilidade, no que tange ao
trabalhador. A relação jurídica pactuada — ou efetivamente cumprida — deve ser,
desse modo, intuitu personae com respeito ao prestador de serviços, que não poderá,
assim, fazer-se substituir intermitentemente por outro trabalhador ao longo da
concretização dos serviços pactuados. (..)”

Ao discorrer sobre a NÃO EVENTUALIDADE diz que que quando


“(..) o trabalho prestado tenha caráter de permanência (ainda que por um curto
período determinado), não se qualificando como trabalho esporádico”. Diz, ainda, que
“(..) DIFÍCIL SERÁ CONFIGURAR-SE A EVENTUALIDADE do trabalho pactuado SE A
ATUAÇÃO DO TRABALHADOR contratado INSERIR-SE NA DINÂMICA NORMAL da
empresa — ainda que excepcionalmente ampliada essa dinâmica”.

No tocante à ONEROSIDADE, continua, considera tratar-se, o


contrato de trabalho, de “(..)relação de essencial fundo econômico”, sendo certo que
“(..) ao valor econômico da força de trabalho colocada à disposição do empregador
deve corresponder uma contrapartida econômica em benefício obreiro ,
consubstanciada no conjunto salarial, isto é, o complexo de verbas contraprestativas
pagas pelo empregador ao empregado em virtude da relação empregatícia pactuada.
O contrato de trabalho é, desse modo, um contrato bilateral, sinalagmático e oneroso,
por envolver um conjunto diferenciado de prestações e contraprestações recíprocas
entre as partes, economicamente mensuráveis. (..) No plano objetivo, a onerosidade
manifesta-se pelo pagamento, pelo empregador, de parcelas dirigidas a remunerar o
empregado em função do contrato empregatício pactuado (..)”.

Além desses pontos, em torno do art.2º da CLT gira a ideia de


ALTERIDADE quando diz a lei que a empresa assume os riscos da atividade econômica.
Como assinala o professor e ministro do Tribunal Superior do Trabalho (obra citada) “a
característica da assunção dos riscos do empreendimento ou do trabalho consiste na
circunstância de impor a ordem justrabalhista à EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DO
EMPREGADOR, em contraponto aos interesses obreiros oriundos do contrato
pactuado, OS ÔNUS DECORRENTES DE SUA ATIVIDADE EMPRESARIAL OU ATÉ MESMO

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DO CONTRATO EMPREGATÍCIO CELEBRADO. Por tal característica, em suma, O


EMPREGADOR ASSUME OS RISCOS DA EMPRESA, do estabelecimento E DO PRÓPRIO
CONTRATO DE TRABALHO E SUA EXECUÇÃO. A presente característica é também
conhecida pela denominação alteridade”.

3.4.1- DO CONTRATO DE TRABALHO INTERMITENTE

Além dos contratos clássicos, cujas características foram


abordadas no tópico anterior, a reforma trabalhista (Lei 13.467) introduziu na ordem
jurídica o contrato de trabalho intermitente.

Para tanto, restou alterada a redação histórica do art.443 (caput)


da CLT, que passou a vigorar com o acréscimo final, assim destacado: “O contrato
individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou expressamente, verbalmente ou
por escrito, por prazo determinado ou indeterminado, OU PARA PRESTAÇÃO DE
TRABALHO INTERMITENTE”.

Foi igualmente acrescentado ao remodelado art.443 o seu


parágrafo terceiro, que reza: “Considera-se como intermitente o contrato de trabalho
no qual a prestação de serviços, COM SUBORDINAÇÃO, não é contínua, ocorrendo com
alternância de períodos de prestação de serviços e de inatividade, determinados em
horas, dias ou meses, INDEPENDENTEMENTE DO TIPO DE ATIVIDADE DO EMPREGADO
E DO EMPREGADOR, exceto para os aeronautas, regidos por legislação própria”.

Também tratam dessa modalidade contratual o art.452-A da CLT


e seus parágrafos, transcrevendo-se a seguir os de maior relevância:

“Art. 452-A. O contrato de trabalho intermitente deve ser


celebrado por escrito e deve conter especificamente o valor da hora de trabalho, que
não pode ser inferior ao valor horário do salário mínimo ou àquele devido aos demais
empregados do estabelecimento que exerçam a mesma função em contrato
intermitente ou não.

(..) § 2º- Recebida a convocação, o empregado terá o prazo de


um dia útil para responder ao chamado, presumindo-se, no silêncio, a recusa.

§ 3º - A recusa da oferta não descaracteriza a subordinação


para fins do contrato de trabalho intermitente”.

Sob a perspectiva do trabalho intermitente assinala MAURÍCIO


GODINHO (CURSO DE DIREITO DO TRABALHO- LTr) que “(..) o novo tipo de contrato
criado, Lei n. 13.467/2017 (..), TRATA DE TRABALHO NÃO EVENTUAL, embora este seja
fracionado no tempo de duração do vínculo (..)”.

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Diz ainda, em obra compartilhada com GABRIELA NEVES (A


Reforma Trabalhista no Brasil. São Paulo: LTr, 2017. p. 155): “o que os preceitos legais
fazem é, nada mais nada menos, do que criar mais uma modalidade de salário por
unidade de obra ou, pelo menos, de salário-tarefa: o salário contratual será calculado
em função da produção do trabalhador no respectivo mês, produção a ser estimada
pelo número de horas em que se colocou, efetivamente, à disposição do empregador
(..)”.

3.5- A SUBORDINAÇÃO ALGORÍTIMICA E ESTRUTURAL COMO


NOVO INSTRUMENTO DE CONTROLE DO TRABALHO SOB DEPENDÊNCIA

Fixados os aspectos, é necessário discorrer sobre o perfil de


subordinação exercida por meios informáticos.

Nesse sentido, estabelece o parágrafo único do 6º da CLT que


“Os meios telemáticos e informatizados de COMANDO, CONTROLE e SUPERVISÃO se
EQUIPARAM, para fins de subordinação jurídica, AOS MEIOS PESSOAIS E DIRETOS DE
COMANDO, controle e supervisão do trabalho alheio”.

Com o advento e aprimoramento das ferramentas tecnológicas,


a bem da verdade, são cada vez mais aplicados os instrumentos de inteligência artificial
para suprimir postos de trabalho e, no que interessa para o caso dos autos,
implementar uma nova sistemática de controle.

Importante saber, ao contrário do fetiche que gira em torno


dessa questão, que os algoritmos não passam de um desenho tecnológico programado
por humanos, contendo um conjunto sequencial de instruções e operações, a partir de
uma lógica pré-determinada, objetivando viabilizar diversas funções e tarefas, inclusive
as de controle comportamental.

Para RODRIGO CARELLI (Trabalho no século XXI: as novas formas


de trabalho por plataformas ) , em artigo publicado no Jotta , “O controle hoje é feito de
maneira dispersa, seja pela própria organização algorítmica do trabalho, seja pela
dispersão do controle por meio da sua clientela. O controle é do tipo panóptico difuso,
muito mais eficaz do que qualquer controle pessoal”.

Na visão de MIREILLE HILDEBRANDT (in Algorithmic regulation


and the rule of law) “(..)a regulação algorítmica refere-se ao estabelecimento de padrões
, monitoramento e modificação de comportamentos por meio de algoritmos
computacionais. (..) Eu chamo isso de regulamentação orientada por código.
Alternativamente, a regulação algorítmica pode fornecer suporte ou aconselhamento à
decisão, com base em algoritmos preditivos que basicamente inferem padrões para
melhor monitorar, prever e influenciar o comportamentos”.

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Fls.: 17

Em resumo, projetam-se essas ferramentas como substitutas do


formato tradicional de exercício do poder de comando, o que deve ser reconhecido
como possibilidade legalmente assentada na ordem jurídica pátria à luz do já referido
art.6º da Consolidação das Leis do Trabalho.

3.6- RELAÇÃO DE EMPREGO – PROVAS AFIRMATIVAS DESSA


MODALIDADE DE VÍNCULO ENTRE AS PARTES

3.6.1 –DA PROVA EMPRESTADA

O primeiro aspecto a considerar diz respeito à possibilidade de


produção de prova emprestada, sendo admissível, no processo do trabalho, a sua
utilização, nos termos do art.372 do NCPC, que reza: “Art. 372. O juiz poderá admitir a
utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que considerar
adequado, observado o contraditório”.

Verifico, entretanto, que adotar esse procedimento em relação à


prova oral, de forma indiscriminada, pode implicar violação ao contraditório pleno, na
medida em que simplesmente anexar atas com oitivas de testemunhas em outro Juízo,
sobre relação processual distinta, agrediria, por via oblíqua, o direito que tem a parte
contra quem é produzida a prova de exercitar o contraponto instrutório, por
impossibilidade de formulação de questionamentos a quem já depôs, do mesmo
modo restando frustrado o exercício de inquirição específica pelo Juiz, isto é, o poder
/dever que tem o Magistrado de formular perguntas (art.848 da CLT) em cada caso
concreto.

De outra sorte, a lei processual trabalhista impõe limitações


quanto ao número máximo de testemunha por cada parte, sendo três no rito ordinário
e duas no rito sumaríssimo, sendo certo que, não raro, há pedidos para anexar
depoimentos emprestados em número superior ao permitido.

Além disso, assinala MANOEL ANTONIO TEIXEIRA FILHO (A


PROVA NO PROCESSO DO TRABALHO – LTR) que “a prova que se pretende fazer por
intermédio de testemunhas deve, por expressão da lei (CPC, art. 453), ser produzida
em audiência. Ao contrário da documental, que preexiste à propositura da ação, a
prova testemunhal, em regra, é feita no curso desta”.

Em que pesem tais registros, no caso dos autos as partes


postularam a juntada de súmulas de depoimentos pessoais e testemunhais, oriundas
de outros processos, mas justificando que os fatos objeto da referida prova ocorrem
invariavelmente com todos os motoristas e com a reclamada.

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Por essa peculiar situação, deferi a juntada de depoimentos


como prova emprestada, restando conhecidos e examinados como documentos
judiciais, garantida a autenticidade e integridade das referidas peças.

3.6.2- DA RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE O RECLAMANTE E A UBER-


RELAÇÃO DE EMPREGO PRESUMIDA E PROVADA, SOB A FORMA DE CONTRATO DE
TRABALHO INTERMITENTE

Estabelecidas as premissas lançadas nos tópicos anteriores,


cumpre aprofundar o caso concreto e, ao cabo, concluir se há ou não vínculo de
emprego entre as partes.

Para esse fim é necessário levar em conta, primeiro, que em


audiência realizada no presente feito as partes deixaram consignados em Ata os
seguintes pontos de consenso fático: “a) ficava a critério do motorista o início e término
do horário de utilização da plataforma; b- o motorista poderia alterar a rota definida
pelo aplicativo em comum acordo com o passageiro, o que pode ou não gerar
alteração de valor; c - não havia exigência quanto ao número mínimo de viagens
diárias; d- ficava a critério do motorista a participação ou não em promoções; e)- é
critério do motorista utilizar outras plataformas; f)- o motorista decide os dias de folga
e nos dias de folga, não era necessário justificar a ausência na plataforma; g- poderia
receber o valor da viagem diretamente do passageiro, quando pago em dinheiro; h- o
motorista arca com as despesas do veículo, inclusive seguro; i- a reclamada não
garante remuneração mínima ao final do dia/mês; j- a reclamada aceita que dois
motoristas usem o mesmo carro; l) não é obrigatório o fornecimento de água e bala,
ficando a critério do motorista”.

Tais afirmativas, entretanto, não são suficientes, por si mesmas,


para elidir a contratação sob o regime de emprego, sendo necessário avaliar o
conjunto da prova produzida.

O que se verifica, pelo exame de todos os elementos


colacionados, é que a empresa impõe padrões de conduta aos motoristas, a serem por
ela avaliados.

Além disso, não há negociações individualizadas no ato de


contratação, como decorre do afirmado por Pedro Poncho (fls.725/726), chamado a
depor como testemunha, pela reclamada, nos autos do processo n. 1001906-
63.2016.5.02.0067, da 67ª Vara do Trabalho de São Paulo, quando assim declarou: “(..)a
plataforma e o funcionamento são os mesmos em todo o território nacional; que com
o cadastramento do motorista, o mesmo RECEBE AS INFORMAÇÕES sobre
funcionamento da plataforma por e-mail, pelo site e pelo próprio aplicativo; que o

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Fls.: 19

MOTORISTA PRECISA CONCORDAR COM ESSAS REGRAS; que o "de acordo" com as
normas é realizado pelo motorista parceiro NO PRÓPRIO SITE DA UBER ou no
APLICATIVO”.

Em outras palavras, o motorista apenas adere aos termos e


condições fixados pela UBER, sendo certo que o contrato prevê possibilidade de “
desativação” de motoristas, a serem procedidas pela reclamada, em relação àqueles
que não se adequem aos perfis por ela exigidos.

Para que isso ocorra, normas internas da UBER apontam as


seguintes razões (fls.79 e posteriores):

“FICAR ONLINE SEM DISPONIBILIDADE


IMEDIATA (O Motorista Parceiro pode escolher o horário em que
deseja se conectar à plataforma – mas ficar online no aplicativo
sem estar disponível para iniciar a viagem e se locomover para
buscar o usuário não é uma conduta aceitável)

TAXA DE ACEITAÇÃO (Ficar online na


plataforma e ter uma taxa de aceitação menor do que a taxa
referência da(s) cidade(s) na(s) qual(is) atua o Motorista Parceiro
- lembre-se, você pode ficar online quando quiser - só se
conecte quando quiser dirigir

TAXA DE CANCELAMENTO (Aceitar


viagens e ter uma taxa de cancelamento maior do que a taxa
referência da(s) cidade(s) nas quais atua o Motorista Parceiro

COMPARTILHAR SEU CADASTRO (Deixar


outra pessoa utilizar seu cadastro de motorista parceiro da
Uber)

VEÍCULO INCOMPATÍVEL (Realizar viagem


com veículo incompatível ao veículo cadastrado no perfil do
Motorista Parceiro, para o qual tenha sido enviada a solicitação
de viagem Específica)

SOLICITAR AVALIAÇÃO (Sugerir ou


solicitar aos usuários uma determinada avaliação)

DISCRIMINAÇÃO (Destratar, impedir


acesso ou recusar atendimento de usuário com base em sexo,
gênero, orientação sexual, raça, cor, etnia, religião, procedência
nacional, idade ou deficiência

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Fls.: 20

FOTO INCOMPATÍVEL (Possuir foto


cadastrada na plataforma incompatível com a foto apresentada
na CNH) “.

Além desses pontos, a empresa classifica como motivos para


desligamento dos motoristas a prática de assédio sexual, assédio moral e
discriminação contra passageiros, deixando claro também (fls.784) que os motoristas
não devem fazer perguntas íntimas aos usuários, nem comentar sobre a aparência de
ninguém, além de ser vedado fazer comentários ou gestos de xingamento, “paquerar”
passageiro(a)s ou exibir materiais indecentes.

A reclamada também destaca em seus atos regulamentares


que “a lista acima é meramente exemplificativa . QUAISQUER OUTROS
COMPORTAMENTOS e/ou usos da plataforma por parte dos parceiros que coloquem
em risco a confiabilidade da plataforma, PODEM LEVAR À RESCISÃO CONTRATUAL e
fazer com que o motorista parceiro perca acesso ao Aplicativo de Motorista e aos
Serviços da Uber, conforme os Termos de Uso da Plataforma”.

A Uber, portanto, além de impor aos motoristas regras de


conduta ética, deles exige que, uma vez conectados, sigam padrões de produtividade e
eficiência no desempenho do ofício, sob pena de exclusão, entre eles não recusar
demanda e ter perfil de aceitação compatível com a média de sua região, não sendo
admissível , segundo essas mesmas regras, que os motoristas tenham uma taxa de
cancelamento abaixo da média da localidade.

Essas “ taxas ” funcionam como verdadeiras espadas


subordinativas, servindo de instrumento para aquilatar a continuamente e o
prosseguimento do contrato firmado entre as partes. Nesse esse sentido, a própria
Uber, em registro disponibilizado na internet como fonte aberta e pública (https://www.
uber.com/pt-BR/blog/como-funciona-taxa-aceitacao-cancelamento/) detalha como
funcionam as referidas taxas, restando esclarecido o seguinte:

"TAXA DE CANCELAMENTO – COMO ELA É


CALCULADA- A taxa de cancelamento é calculada dividindo-se o
número de viagens canceladas pelo parceiro pelo número de
viagens aceitas. O cálculo considera os últimos 30 dias em que o
parceiro utilizou o aplicativo. Exemplo: Motorista parceiro
cancelou 10 das últimas 100 viagens aceitas. Sua taxa de
cancelamento será de 10%.

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Fls.: 21

Mantendo uma taxa de cancelamento


baixa, o tempo de espera dos usuários e o tempo de partida dos
motoristas parceiros são reduzidos, contribuindo para o melhor
funcionamento da plataforma para todos. (..)”

INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE A


TAXA DE CANCELAMENTO - O abuso no cancelamento de
viagens já aceitas prejudica negativamente toda a comunidade:
de um lado, impede que outros motoristas parceiros gerem
renda atendendo as mesmas solicitações de viagens canceladas,
e, por outro, deixa usuários esperando mais tempo ou até
desistindo da solicitação. O abuso do recurso de cancelamentos
de viagens configura mau uso da plataforma e, por representar
uma violação ao Código da Comunidade Uber,
consequentemente Pode Levar À DESATIVAÇÃO DA CONTA E A
NÃO ELEGIBILIDADE DE PARTICIPAR DE PROMOÇÕES
EXCLUSIVAS”.

A TAXA DE ACEITAÇÃO é calculada


dividindo-se o número de viagens ACEITAS pelo parceiro pelo
número de SOLICITAÇÕES de viagens recebidas. O cálculo
considera os últimos 30 dias em que o parceiro utilizou o
aplicativo. Exemplo: Motorista parceiro aceita 85 de 100 viagens
ofertadas. Sua taxa de aceitação será de 85%.

Mantendo uma taxa de aceitação alta, o


tempo de espera dos usuários e o tempo de partida dos
motoristas parceiros são reduzidos, contribuindo para o melhor
funcionamento da plataforma para todos. (..) informações
importantes sobre a taxa de aceitação - Ficar online sem a
intenção de aceitar viagens ATRAPALHA O BOM
FUNCIONAMENTO DA PLATAFORMA, podendo prejudicar tanto
os demais motoristas parceiros (pela maior demora para
receberem novas solicitações) como os usuários (pela maior
demora para conseguirem se conectar a um motorista parceiro).
Uma baixa taxa de aceitação pode acarretar a não elegibilidade
para participar de promoções exclusivas.

Nos momentos em que não possa


realizar viagens, basta desligar o aplicativo, usar o recurso de

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Fls.: 22

ficar offline, ou acionar o modo pausa (nas cidades onde o


recurso já está disponível), se precisar tirar alguns minutos de
descanso”.

Como visto, procede-se à divisão do número de viagens


canceladas pelo número de viagens aceitas, de modo a incutir no motorista a ideia de
sempre manter, como meta, baixos níveis de cancelamento, elevando a presteza e
produtividade dos serviços.

De modo complementar, na taxa de aceitação a reclamada


divide o número de viagens aceitas pelo número de viagens solicitadas, podendo haver
encerramento do contrato (fls.81 e ss), em caso de desatendimento a determinado
padrão regional, constituindo mais uma hipótese que exclui qualquer ideia de
autodeterminação por parte dos motoristas. A taxa de cancelamento é também
monitorada, para os mesmos fins.

Importante notar, ainda segundo essas regras, que os


monitoramentos são feitos a cada trinta dias, de modo que o motorista fica sob
constante vigilância, restando induvidoso que esses aspectos concretizam poder
diretivo e disciplinar da reclamada, quer pela exigência de padrões de comportamento
dos motoristas, quer pela possibilidade de aplicar sanções em razão de
descumprimento de normas estabelecidas de forma unilateral, inclusive a desativação.

Igualmente evidenciado, ademais, que os motoristas não têm


real autonomia para aceitar ou cancelar as corridas como bem entendam e sem que
disso resulte punição.

A esse respeito, como assinala MAURICIO GODINHO “(..)trabalho


autônomo é aquele que se realiza SEM SUBORDINAÇÃO do trabalhador ao tomador
dos serviços. (...) A AUTONOMIA TRADUZ a noção de que o PRÓPRIO PRESTADOR É QUE
ESTABELECE e CONCRETIZA, COTIDIANAMENTE, A FORMA DE REALIZAÇÃO DOS
SERVIÇOS QUE PACTUOU PRESTAR. Na subordinação, a DIREÇÃO CENTRAL do modo
cotidiano de prestação de serviços transfere-se ao tomador. (CURSO DE DIREITO DO
TRABALHO, p. 397. Edição do Kindle).

Nesse ponto, a testemunha da reclamada, de nome CHRYSTINNI


ANDRADE SOUZA (fls.443/444), supervisora de atendimento da Uber, ao depor nos
autos do processo 0010075-53.2019.5.03.0025 (25ª Vara do Trabalho de Belo
Horizonte) disse que “(..) o motorista não tem autonomia de fazer cadastro de outros
motoristas; CADA MOTORISTA que roda tem que ter um login e uma senha pessoais”.
Diz ainda que “(..) quando o passageiro dá nota e faz comentário sobre o motorista,
este último tem acesso a nota e ao comentário, MAS NÃO AO PASSAGEIRO que os deu;
que a NOTA serve para AVALIAR A QUALIDADE DO SERVIÇO PRESTADO ao passageiro;

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Fls.: 23

SE O MOTORISTA TIVER UMA NOTA BAIXA, ele recebe um e-mail automático


informando que a nota dele está abaixo da média da região; se o motorista tiver
SUCESSIVAS NOTAS BAIXAS, PODE SER ENCERRADA A PARCERIA(..)”.

A mesma testemunha informa, também, que “existem


promoções e incentivos para o motorista rodar em determinado local “ , não sabendo
dizer exatamente “(..) quem apura as notas mencionadas”.

Nesse processo que tramitou na 25ª Vara do Trabalho de BH, a


preposta da reclamada, senhora Vanderléia de Oliveira Miranda, disse que “(..) o preço
da viagem é estabelecido em função do tempo de distância”. Afirmou também que “(..)
assim que o motorista abre o aplicativo, também vai funcionar o GPS” ; (..) que existe
uma fila virtual (..), controlada por algoritmos, sendo que a ordem dos motoristas é a
ordem de chegada na referida fila”, destacando, ainda, que “ a Uber é quem elaborou e
quem dá manutenção nos algoritmos”.

Necessário observar, ainda, que o documento intitulado


"Código da Comunidade UBER" (fls.707 e seguintes) ratifica a ideia de que “cada cidade
tem uma avaliação média mínima, pois pode haver diferenças culturais na maneira de
as pessoas se avaliarem. Usuários, motoristas e entregadores parceiros e
estabelecimentos QUE NÃO ATINGIREM A AVALIAÇÃO MÉDIA MÍNIMA DA CIDADE
PODERÃO PERDER, no todo ou em parte, O ACESSO À PLATAFORMA DA UBER.
Avisaremos caso sua avaliação esteja se aproximando desse limite e poderemos
compartilhar informações úteis para que você possa melhorá-la “.

Do mesmo modo, o documento intitulado "Termos e Condições


Gerais dos Serviços de Intermediação Digital" (fls.665 e seguintes) assinala que “Nós
nos reservamos o (sic) direito de utilizar, compartilhar e exibir suas avaliações e
comentários (e as dos(as) Usuários(as)) de qualquer modo relacionada aos nossos
negócios, sem a necessidade DE SUA APROVAÇÃO e SEM ATRIBUÍ-LAS A VOCÊ, de
maneira anonimizada. Mesmo sendo somente distribuidores (e não autores) destas
avaliações e comentários e não termos nenhuma obrigação de confirmar a veracidade
dos mesmos, poderemos remover comentários”.

Essa exigência de boa avaliação, além de poder gerar


suspensões ou desligamentos, é destacada pela UBER como critério para atribuir aos
motoristas os mencionados incentivos para trabalharem em determinados dias do ano,
como feriados.

Documentos como os de fls.36 e seguintes revelam que a


reclamada se compromete em pagar um valor extra de R$100,00 reais, mas DESDE

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Fls.: 24

QUE O MOTORISTA fique conectado pelo menos 8 horas (entre 12h e 24h - como
ocorrido no feriado de 21/04 daquele ano), devendo completar pelo menos seis
viagens e ter uma avaliação média semanal de pelo menos 4.7 estrelas”.

A gestão unilateral desenvolvida pela UBER não fica apenas


nesses aspectos. Também no que diz respeito ao preço o item 7 do documento
“Termos e Condições Gerais dos Serviços de Intermediação Digital” define as balizas de
cobrança, segundo critérios ali delineados, tais como preço base e parcela variável,
definindo a cláusula 7.2 quais são os custos passíveis de serem repassados aos
usuários, sendo a UBER (item 7.4) nomeada como “coletora” dos valores pagos, como
assinalado:

“7.4.1. Ao aceitar uma Viagem, Você


DECLARA SUA CONCORDÂNCIA EM COBRAR DO USUÁRIO O
VALOR RECOMENDADO POR NÓS como seu agente limitado de
cobrança. Além disso, VOCÊ RECONHECE QUE O PREÇO É UM
VALOR SUGERIDO POR NÓS e que operará como o valor padrão,
porém, após o encerramento de uma Viagem, você tem o direito
de cobrar um Preço mais baixo ou mais alto e NÓS IREMOS
CONSIDERAR TODAS ESTAS SOLICITAÇÕES SUAS DE BOA-FÉ
(cada uma, um "Preço Negociado")

7.5. Alterações no Cálculo do Preço. A


UBER enviará a você uma NOTIFICAÇÃO SOBRE QUALQUER
ALTERAÇÃO EM QUALQUER DOS VALORES DAS PARCELAS FIXA
OU VARIÁVEL DO PREÇO, assim como no preço fixo e NO PREÇO
MÍNIMO da VIAGEM. A sua utilização dos serviços da Uber após
qualquer mudança no cálculo do preço será interpretada como
concordância sua em relação à mencionada alteração”.

Sobre a forma de pagamento JOÃO LEAL AMADO (Professor


Associado da Faculdade de Direito de Coimbra) e CATARINA GOMES SANTOS
(Assistente Convidada da Faculdade de Direito de Coimbra), em artigo publicado na
obra "Tecnologias Disruptivas e a Exploração do Trabalho Humano: A intermediação de
mão de obra a partir das plataformas eletrônicas e seus efeitos jurídicos sociais" (LTr
-2017)- registram, a partir de suas pesquisas sobre o tema, que “no final de cada
viagem, a tarifa é calculada PELO "SERVIDOR" da Uber, com base nos dados GPS
emitidos pelo smartphone do motorista. O cálculo leva em consideração o tempo
despendido e a distância percorrida. O PASSAGEIRO PAGA A TARIFA NA ÍNTEGRA À
UBER, através de cartão de crédito/débito, e recebe o correspondente recibo por e-
mail”. E acrescentam: “A Uber processa os pagamentos aos motoristas semanalmente.
O pagamento será o resultado das tarifas cobradas por cada motorista, descontado o
valor correspondente a uma taxa pelo uso da APP (em regra, 25%). Embora podendo

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Fls.: 25

aceitar gorjetas dos passageiros, os motoristas não devem solicitá-las, sendo tal prática
fortemente dissuadida pela Uber”.

A composição de preço de cada viagem, assim como suas


variações de tarifa e recolhimento dos valores pagos pelos usuários, são procedidos
exclusivamente pela reclamada, segundo os seus próprios critérios e padrões, aos
quais se vinculou o motorista ao subscrever contrato de adesão.

Por tudo isso resta claro que empresa UBER é quem gere os
serviços de transporte nas respectivas regiões em que atua, tendo os motoristas como
figuras essenciais para a própria existência e continuidade desse seu modelo de
negócios, sujeitos que se submetem a padrões comportamentais determinados pela
reclamada.

Esses aspectos são reveladores de subordinação, onerosidade e


pessoalidade (o caráter intuito personae) na prestação de serviços. Quanto a este
último ponto, tem-se que a pessoalidade vem conformada na determinação, imposta
pela ré, de que cada motorista deve possuir uma conta individualizada (login e senha),
sem possibilidade de a compartilhar com quem quer que seja, nos termos do
documento de fls.711, que reza:

“COMPARTILHAMENTO DE CONTA- Por


vários motivos, incluindo questões de privacidade e segurança,
PROIBIMOS o COMPARTILHAMENTO DE CONTAS. Para usar a
Plataforma da Uber, você precisa se cadastrar e manter uma
conta ativa. NÃO DEIXE QUE OUTRA PESSOA USE SUA CONTA E
NUNCA COMPARTILHE SEUS DADOS PESSOAIS USADOS NELA,
tais como, entre outros, nome de usuário, senha e fotos
pessoais, PARA ACESSAR A PLATAFORMA DA UBER”.

Como assinala RAIANNE LIBERAL COUTINHO (Subordinação


Algorítmica (pp. 219-220). Editora Dialética. Edição do Kindle”, discorrendo sobre as
raízes desse modelo de negócio “(..)A opção que a Uber adotou de não ser proprietária
dos automóveis é uma estratégia empresarial para redução de custos, o que NÃO
SIGNIFICA, de forma alguma, que ELA NÃO SEJA GESTORA DA ATIVIDADE ECONÔMICA
DE TRANSPORTE PRIVADO DE PASSAGEIROS. (..) A Uber, ao DETER O MONOPÓLIO DAS
INFORMAÇÕES SOBRE O ALGORITMO, os clientes e os motoristas, apresenta-se como a
VERDADEIRA EMPRESÁRIA, tendo ingerência na atividade, não atuando somente como
intermediadora de oferta e demanda”.

Para RODRIGO CARELLI (“O TRABALHO EM PLATAFORMAS E O


VÍNCULO DE EMPREGO”) “além de dirigirem o trabalho realizado, as EMPRESAS-
PLATAFORMA de prestação de serviços costumam regulamentar todo o serviço por

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meio da imposição dos “termos e condições de uso”, fiscalizam toda a prestação de


serviços por meio eletrônico e exercem o poder disciplinar por meio de advertências,
suspensões e dispensas, tal qual ocorre em qualquer outra relação de emprego”,
aspectos que restaram suficientemente provados nos presentes autos.

Em resumo do afirmado até aqui, tem-se que essa modalidade


de serviços adotada pelas plataformas digitais de transporte, tal como por elas
disciplinado, entram em confronto com a ideia básica do constituinte de implementar
condições assecuratórias da dignidade da pessoa humana, que tem na valorização do
trabalho um suas mais importantes facetas. Conflitam, também, com as balizas fixadas
em Convenções e Tratados internacionais, na medida em que precarizam o trabalho
que lhes é prestado por motoristas.

Presentes estão, portanto, no caso dos autos, todas as


características de um contrato de trabalho, inclusive à luz do parágrafo do art.6º da
CLT, e notadamente o contrato intermitente, tal como especificado na fundamentação.

3.6.3- DA JURISPRUDÊNCIA NACIONAL E


ESTRANGEIRA, AFIRMATIVA DA EXISTÊNCIA DE VÍNCULO DE EMPREGO ENTRE
MOTORISTAS E A UBER

Embora seja fato que a jurisprudência nacional sobre esse tema


ainda não se firmou, havendo divergência de entendimentos no âmbito dos Tribunais,
fato também é que as decisões mais recentes encaminham-se no sentido de melhor
compreender essa modalidade de relação entre motoristas e plataformas digitais, a
partir de um novo paradigma de subordinação, restando afirmada a prevalência dos
princípios constitucionais e das normas tutelares.

Assim decidiu, por exemplo, a 3ª Turma do colendo TST ao


examinar o Recurso de Revista n. 100353-02.2017.5.01.0066, de relatoria do Ministro
Maurício Godinho , restando solidificado o seguinte entendimento:

“EMENTA - RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA


LEI 13.015/2014 E ANTERIOR À LEI 13.467/2017 . UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.
NATUREZA JURÍDICA DA RELAÇÃO MANTIDA ENTRE OS TRABALHADORES PRESTADORES
DE SERVIÇOS E EMPRESAS QUE ORGANIZAM, OFERTAM E EFETIVAM A GESTÃO DE
PLATAFORMAS DIGITAIS DE DISPONIBILIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE AO
PÚBLICO, NO CASO, O TRANSPORTE DE PESSOAS E MERCADORIAS. NOVAS FORMAS DE
ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA FORÇA DE TRABALHO HUMANA NO SISTEMA CAPITALISTA
E NA LÓGICA DO MERCADO ECONÔMICO. ESSENCIALIDADE DO LABOR DA PESSOA
HUMANA PARA A CONCRETIZAÇÃO DOS OBJETIVOS DA EMPRESA. PROJEÇÃO DAS
REGRAS CIVILIZATÓRIAS DO DIREITO DO TRABALHO SOBRE O LABOR DAS PESSOAS
NATURAIS. INCIDÊNCIA DAS NORMAS QUE REGULAM O TRABALHO SUBORDINADO

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DESDE QUE NÃO DEMONSTRADA A REAL AUTONOMIA NA OFERTA E UTILIZAÇÃO DA


MÃO DE OBRA DO TRABALHADOR (ART. 818, II, DA CLT). CONFLUÊNCIA DOS
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS HUMANISTAS E SOCIAIS QUE ORIENTAM A MATÉRIA
(PREÂMBULO DA CF/88; ART. 1º, III E IV; ART. 3º, I, II, III E IV; ART. 5º, CAPUT ; ART. 6º;
ART. 7º, CAPUT E SEUS INCISOS E PARÁGRAFO ÚNICO; ARTS. 8º ATÉ 11; ART. 170, CAPUT
E INCISOS III, VII E VIII; ART. 193, TODOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1988). VÍNCULO DE
EMPREGO. (..) PRESENÇA DOS ELEMENTOS INTEGRANTES DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA.
INCIDÊNCIA, ENTRE OUTROS PRECEITOS, TAMBÉM DA REGRA DISPOSTA NO
PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 6º DA CLT (...) PRESENÇA, POIS, DOS CINCO ELEMENTOS
DA RELAÇÃO DE EMPREGO, OU SEJA: PESSOA HUMANA PRESTANDO TRABALHO; COM
PESSOALIDADE ; COM ONEROSIDADE ; COM NÃO EVENTUALIDADE ; COM
SUBORDINAÇÃO. ÔNUS DA PROVA DO TRABALHO AUTÔNOMO NÃO CUMPRIDO,
PROCESSUALMENTE (ART 818, CLT), PELA EMPRESA DE PLATAFORMA DIGITAL QUE
ARREGIMENTA, ORGANIZA, DIRIGE E FISCALIZA A PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS
ESPECIALIZADOS DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE. (..) Dessa forma, deve ser reformado o
acórdão regional para se declarar a existência do vínculo de emprego entre as partes,
nos termos da fundamentação. Recurso de revista conhecido e provido. (TST - RR:
1003530220175010066, Relator: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 06/04
/2022, 3ª Turma, Data de Publicação: 11/04/2022)”.

O Tribunal Regionais do Trabalho da 7ª Região também já


reconheceu a existência de vínculo de emprego entre motoristas e a UBER, como se vê:

“RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA. JUSTIÇA DO TRABALHO.


COMPETÊNCIA. VERBAS TRABALHISTAS - TEORIA DA ASSERÇÃO. Dispõe o art. 43, do
Código de Processo Civil brasileiro, de aplicação subsidiária ao processo do trabalho,
que a competência é determinada " no momento em que a ação é proposta". Assim,
ajuizada a ação, a competência deve ser definida nos limites propostos pela petição
inicial, ou seja, em razão da matéria alegada no pedido e na causa de pedir, nos termos
da Teoria da Asserção. Dessa forma, deve ser reconhecida a competência material da
Justiça do Trabalho para apreciar o presente caso, visto que envolve a possibilidade de
existência de vínculo de emprego, pretensão com nítida natureza trabalhista, nos
termos do art. 114, da Constituição Federal de 1988. Preliminar rejeitada. Sentença
mantida neste ponto. UBER. MOTORISTA DE APLICATIVO. SUBORDINAÇÃO JURÍDICA
ESTRUTURAL CONFIGURADA. RELAÇÃO DE EMPREGO. POSSIBILIDADE. O vínculo de
emprego é caracterizado pelos elementos descritos nos arts. 2º e 3º da CLT,
complementados pelo art. 6º, parágrafo único (..)Ademais, no presente caso, entende-
se que houve uma subordinação jurídica estrutural, visto que o obreiro, motorista de
aplicativo, encontra-se totalmente submetido às regras impostas pela reclamada, que
lhe capta os clientes, e caso este descumpra tal regulamento empresarial poderá sofrer
a sanção de ser retirado do seu emprego. Assim, no caso em exame, revelam-se
presentes os requisitos configuradores da relação empregatícia, nos moldes do art. 3º

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da CLT, como a subordinação jurídica estrutural, pessoalidade, não-eventualidade e


onerosidade. Sentença confirmada neste item. Recurso ordinário conhecido e
improvido (TRT-7 - ROT: 00015396120175070009 CE, Relator: FRANCISCO JOSÉ GOMES
DA SILVA, 2ª Turma, Data de Publicação: 02/07/2021)”.

Do mesmo modo o Tribunal Regionais do Trabalho da 1ª Região:

"RECURSO ORDINÁRIO. UBER. MOTORISTA. VÍNCULO DE


EMPREGO. SUBORDINAÇÃO ALGORÍTMICA. EXISTÊNCIA. O contrato de trabalho pode
estar presente mesmo quando as partes dele não tratarem ou quando aparentar
cuidar-se de outra modalidade contratual. O que importa, para o ordenamento jurídico
trabalhista, é o fato e não a forma com que o revestem - princípio da primazia da
realidade sobre a forma. No caso da subordinação jurídica, é certo se tratar do coração
do contrato de trabalho, elemento fático sem o qual o vínculo de emprego não
sobrevive, trazendo consigo acompanhar a construção e evolução da sociedade. A Lei,
acompanhando a evolução tecnológica, expandiu o conceito de subordinação clássica
ao dispor que "os meios telemáticos e informatizados de comando, controle e
supervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos meios pessoais e
diretos de comando, controle e supervisão do trabalho alheio" ( parágrafo único do
artigo 6º da CLT). No caso em análise, resta claro nos autos que o que a Uber faz é
codificar o comportamento dos motoristas, por meio da programação do seu algoritmo
, no qual insere suas estratégias de gestão, sendo que referida programação fica
armazenada em seu código-fonte. Em outros termos, realiza, portanto, controle,
fiscalização e comando por programação neo-fordista. Dessa maneira, observadas as
peculiaridades do caso em análise, evidenciando que a prestação de serviços se operou
com pessoalidade, não eventualidade, onerosidade e sob subordinação, impõe-se o
reconhecimento do vínculo de emprego. (TRT-1 - RO: 01012911920185010015 RJ,
Relator: CARINA RODRIGUES BICALHO, Data de Julgamento: 07/07/2021, Sétima Turma,
Data de Publicação: 13/07/2021)

Além dessas decisões, como se extrai da obra de CLÁUDIO


JANNOTTI DA ROCHA e EDILTON MEIRELES (A UBERIZAÇÃO E A JURISPRUDÊNCIA
TRABALHISTA ESTRANGEIRA (PP. 64-65) há várias outras, em diversos países, que
seguem essas mesmas trilhas do reconhecimento de relação subordinada, sendo
importante destacar as seguintes:

Na ALEMANHA , depois de vencido nas Instâncias inferiores, o


trabalhador recorreu ao Tribunal Federal do Trabalho (Bundesarbeitsgericht - 9 AZR 102
/20), oportunidade em que a 9ª Turma daquela Corte deu provimento ao apelo para
reconhecer a relação de emprego.

O referido Tribunal assentou que o trabalhador realizava micro


tarefas, sendo que a empresa oferecia seus serviços no aplicativo e realizava seus

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serviços através do trabalhador, salientando que embora o motorista não fosse


obrigado a aceitar todas as chamadas, toda a dinâmica estrutural da recorrida foi
pensada e projetada para estimular e fazer com que ele aceitasse continuamente as
convocações.

Na ESPANHA , em 25 de setembro de 2020 o Tribunal Supremo,


julgando o Recurso de Cassação para Uniformização da Doutrina, nos autos nº 805
/2020, proferiu o acórdão nº 4746/2019 e declarou o vínculo empregatício do
entregador e a plataforma digital GlovoApp.

A Corte entendeu que dependência é a situação do trabalhador


submetido, ainda que de forma flexível e não rígida, à esfera organizacional da empresa
.

Na FRANÇA o Tribunal de Cassação (equivalente ao STF )


entendeu que a existência de uma relação de trabalho assalariado não depende nem
da vontade expressa pelas partes, nem da denominação que tenham dado ao seu
acordo, MAS DAS CONDIÇÕES DE FATO EM QUE A ATIVIDADE É EXERCIDA
PROFISSIONALMENTE e, no caso específico da UBER, em março de 2020, a Câmara
Social do Tribunal de Cassação proferiu o acórdão nº 374 (19-13.316), declarando o
vínculo empregatício entre um motorista de aplicativo e as empresas Uber France e
Uber BV.

O Tribunal de Cassação francês entendeu que o trabalhador


quando decidiu se tornar um parceiro do Uber BV, foi obrigado a fazer seu registro na
Junta Comercial (Registre des Métiers) e que jamais foi livre tanto para fazer este
registro como para decidir sobre a organização do seu trabalho, porquanto a todo
momento buscou clientes e realizou corridas através de um conjunto de serviços de
transporte sempre através da plataforma da Uber, por ela criada, administrada,
organizada e operacionalizada por meio do seu próprio aplicativo.

No REINO UNIDO a Suprema Corte julgou o recurso nº UKSC


2019/0029, nele reconhecendo que os motoristas são trabalhadores da empresa Uber
BV. A Corte ratificou entendimento do Tribunal do Emprego de que “(..)qualquer
motorista que tivesse o Uber aplicativo ligado e que estivesse dentro do Território da
Uber estava capaz e disposto a aceitar a atribuição recebida pela empresa, enquanto
essas condições estivessem satisfeitas, trabalhando para a Uber sob um “contrato de
trabalho”.

Foi ali destacado, ainda, que “(..) não é real considerar a Uber
como trabalhando “para” os motoristas e que a única interpretação sensata é que a
relação é o contrário. A Uber administra um negócio de transporte. Os motoristas
fornecem a mão de obra qualificada ATRAVÉS DA QUAL A ORGANIZAÇÃO PRESTA SEUS

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SERVIÇOS E GANHA SEUS LUCROS” , sendo registrado também, como elemento de


controle, “o fato da Uber controlar as principais informações (em particular o
sobrenome do passageiro, detalhes de contato e destino pretendido) e excluir o
motorista dela”.

Nessa mesma decisão restou assentado que a UBER, além


de “(..) impor inúmeras condições aos motoristas (como a escolha limitada de veículos
aceitáveis), instrui os motoristas sobre como fazer seu trabalho e, de várias maneiras,
os controla no desempenho de suas funções”.

3.6.4- O ATO DECLARATÓRIO JUDICIAL DECORRENTE DA ANÁLISE


DA PROVA E DEMAIS FUNDAMENTOS

Por todas essas razões, como já mencionado, fica reconhecida a


existência de vínculo de emprego entre os litigantes, pela evidência dos critérios de
subordinação, pessoalidade , onerosidade e não eventualidade, tendo o reclamante
requerido que o pacto entre os adversos seja considerado como contrato de trabalho
intermitente, o que ora se declara, tendo em vista a possibilidade de os motoristas
desligarem e religarem o aplicativo Uber a qualquer momento, sem que isso desfigure
o vínculo, inserindo-se, ao contrário, na dinâmica própria da intermitência subordinada
prevista no parágrafo terceiro do art.443 da CLT, podendo ocorrer alternância de
períodos de prestação de serviços e de inatividade em horas, dias ou meses (art.452-A,
§ 3º), podendo o motorista até mesmo prestar serviços a outros contratantes (§5º do
mencionado art.452-A).

Importante ainda registrar que o art.452-A (caput) da CLT


assevera que o contrato intermitente deve prever especificamente o valor da hora de
trabalho, razão pela qual determina-se que a reclamada anote a CTPS do reclamante,
na forma dos artigos 2º e 7º da Portaria Ministério do Trabalho n.349, de 23 de maio de
2018, registrando os períodos de prestação de serviços intermitentes entre 02/09/2018
e 02/04/2022, assegurado, pelo menos, o valor/hora com equivalência ao salário
mínimo, proporcional às horas trabalhadas.

3.6.5- REMUNERAÇÃO

Quanto à remuneração, o reclamante afirma ter recebido, em


média, R$1.200,00 reais por mês, sendo que a reclamada (fls.529) contesta essa média
e diz que os recebimentos do autor eram de R$ 427,61 reais, pelo perfil de atividades
do autor, padrão que deve prevalecer, à falta de provas produzidas pelo reclamante
em sentido diverso, não tendo anexado aos autos comprovantes de pagamento ou
depósitos em socorro do alegado.

3.7- TERMINAÇÃO DO CONTRATO - JUSTA CAUSA AFASTADA

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Mesmo defendendo a inexistência de relação de emprego a


reclamada, com base no critério da eventualidade, afirma (fls.518/519) que o contrato
foi rompido por justa causa, mais precisamente pela falta capitulada no art.482, “c”, ou
seja, por alegada concorrência desleal, uma vez que o reclamante também
desempenhava as mesmas funções para outros aplicativos.

Pacífico na jurisprudência, todavia, assim como no art.818, II, da


CLT, que sobre esses fatos o ônus da prova recai sobre a reclamada. No caso, em que
pese a afirmativa quanto ao trabalho exercido em concorrência desleal, a reclamada,
além de não se desincumbir do ônus da prova, deixa de atentar para o fato de que o
trabalho em regime de intermitência admite a prestação de serviços para outras
empresas, nos termos do § 5º do art.452-A, da CLT, não havendo que se falar em
concorrência e muito menos de forma desleal e danosa.

Rejeita-se

3.8- VERBAS RECLAMADAS

No plano das repercussões econômicas do reconhecimento de


vínculo de emprego, postula o autor o pagamento de aviso prévio, 13º salário, férias
mais 1/3, FGTS mais 40% e indenização por danos morais.

Como já transcrito nesta decisão, a Constituição Federal


expressamente inseriu esses direitos no rol do art.7º , sendo devidas, com base na
remuneração de R$ 427,61 reais as parcelas de aviso prévio simples , no valor de R$ R$
427,61reais , além de 4/12 d 13º salário de 2018(R$ 142,53), 13º salário integral de ano
2018(R$427,61), do ano de 2019(R$ R$427,61), de 2020(R$ R$427,61), do ano de 2021
(R$ R$427,61) e proporcional (3/12) do ano de 2022(R$106,90).

Devidas também as férias mais 1/3 entre 2018 a 2022, sendo em


dobro as de2018/2019, 2019/2020, restando devido em cada uma o valor de R$
1.140,29 reais, totalizando R$ 2.280,58 reais esses períodos.

Deve ser paga, igualmente, a remuneração das férias simples


mais 1/3, de 2020/2021, no valor de R$570,14 reais e , por fim, 7/12 de férias rescisórias
mais 1/3, no valor de R$249,43 reais.

Quanto ao FGTS resta devido em R$ 1.436,76 reais, mais a multa


de 40% no valor de R$ 574,70 reais e, não formalizada a rescisão contratual, devida a
multa do art.477, em quantia correspondente a R$ R$427,61 reais.

3.9- DANOS MORAIS

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O reclamante postula indenização por danos morais pelo fato de


ter havido dispensa arbitrária e, também, por ausência de cobertura previdenciária.

O entendimento pacificado no âmbito no colendo Tribunal


Superior do Trabalho é no sentido de que determinadas lesões a direitos, como
especificado no caso, resolvem-se pelas reparações materiais previstas em lei, sendo
necessário demonstrar (e provar), para fins de danos extrapatrimoniais, que desses
fatos tenha resultado violação a direito da personalidade.

Nesse rumo as seguintes decisões:

“DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE DEPÓSITOS DO FGTS E DE


RECOLHIMENTOS PREVIDENCIÁRIOS. Como se observa do acórdão recorrido, a Corte
Regional dirimiu a controvérsia referente aos danos morais decorrentes da ausência de
depósito do FGTS e do recolhimento previdenciário firme no entendimento de que "o
descumprimento, por si só, das obrigações trabalhistas não caracteriza o dano moral,
posto que o Dano Moral pressupõe ofensa à honra, à intimidade e à vida privada do
ser humano, que o deixa em situação vexatória em relação aos demais indivíduos" (fl.
274). Em que pese à pretensão recursal, essa decisão harmoniza-se com o
entendimento deste Tribunal Superior de que, nesses casos, não resta caracterizado o
prejuízo moral oriundo dos fatos, os quais não são capazes de ensejar, de per si, o
pagamento de indenização por danos morais, devendo ser comprovada situação
vexatória e degradante que cause abalo ao empregado, para que se configure o dever
de indenizar, circunstância não verificada no caso. Precedentes. Incidência do óbice do
artigo 896, § 4º, da CLT (Lei 9.756/98) e da Súmula 333 do TST. Recurso de revista não
conhecido. [...] ( RR - 116600-30.2008.5.17.0001, Relator Ministro: Alexandre de Souza
Agra Belmonte, 3ª Turma, DEJT 20/10/2017)”.

RECURSO DE REVISTA 1 - DOS DANOS MORAIS AUSÊNCIA DE


DEPÓSITO DO FGTS E DE RECOLHIMENTO PREVIDENCIÁRIO. Essa Corte tem firmado
posicionamento de que o atraso no recolhimento do FGTS não gera, por si só,
indenização por danos morais, sendo necessária a comprovação de efetiva lesão a
direito da personalidade, o que não se observou no caso concreto. Precedentes.
Recurso de revista não conhecido. 2 - DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Hipótese em
que o acórdão do Tribunal Regional não consignou nenhuma tese acerca dos
honorários advocatícios. Assim, inviável o processamento do recurso de revista, nos
termos da Súmula 297, I, do TST. Recurso de revista não conhecido. (TST - RR:
50005520095170005, Relator: Delaíde Miranda Arantes, Data de Julgamento: 26/10
/2016, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 04/11/2016)”

“RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº


13.015/2014. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AUSÊNCIA OU ATRASO NA

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QUITAÇÃO DAS VERBAS RESCISÓRIAS. 1. Consoante jurisprudência desta Corte


superior, a ausência ou o atraso no pagamento das verbas rescisórias NÃO
CONFIGURA, por si só, dano moral, gerando apenas a incidência da multa prevista no
artigo 477, § 8º, da Consolidação das Leis do Trabalho. 2. O Dano moral fica
caracterizado apenas quando evidenciada a violação dos direitos da personalidade do
reclamante, mediante a demonstração de consequências concretas, danosas à imagem
e à honra do empregado, decorrentes do atraso. Precedentes. 3. Recurso de embargos
a que se nega provimento. (E- RR - 571-13.2012.5.01.0061, Rel. Min. Lelio Bentes Corrêa,
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, DEJT 29/04/2016)”.

Nessa mesma linha pontua MAURICIO GODINHO DELGADO


(Curso de Direito do Trabalho) que “[o] dano moral corresponde a toda dor psicológica
ou física injustamente provocada em uma pessoa humana. Ou, na clássica
conceituação de Savatier, “é todo sofrimento humano que não é causado por uma
perda pecuniária”.

Para CARLOS ROBERTO GONÇALVES (Direito Civil Brasileiro:


Responsabilidade Civil. 5. ed. São Paulo; Saraiva, 2010) “dano moral é o que atinge o
ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É lesão de bem que integra os
direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a intimidade, a imagem, o bom
nome etc., como se infere dos arts. 1º, III, e 5º, V e X, da Constituição Federal, e que
acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação”.

O reclamante não se desincumbiu do ônus de demonstrar,


concretamente, os efeitos da ausência de recolhimento previdenciário ou não
pagamento de outras verbas sobre direitos da personalidade, inclusive deixando de
informar se no curso do contrato recolhia ou não cotas previdenciárias como
contribuinte individual. Da mesma forma no que concerne aos efeitos de sua
dispensa.

Por esses motivos improcedem os pedidos de indenização por


danos morais.

4-PRAZO E DEMAIS CONDIÇÕES PARA CUMPRIMENTO DA


SENTENÇA LÍQUIDA

A Constituição de 1988 promete ao povo brasileiro (art.1º, II, III e


IV), como já foi destacado, que a República se desenvolverá sob o signo da prevalência
de valores como a cidadania, a dignidade da pessoa humana e o reconhecimento dos
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa buscando construir (art.3º da CF) “uma
sociedade livre, justa e solidária”, capaz de “erradicar a pobreza, a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais”.

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Desses princípios decorrem verdadeiras exortações para que,


nas relações públicas ou privadas, conduzam-se todos com observância desses valores
éticos, inclusive de modo a evitar litígios e, por consequência, em havendo necessidade
de demandar o Poder Judiciário, sejam observadas essas mesmas balizas pelos sujeitos
processuais.

Considerando justamente os entraves à efetividade e


concretização de direitos, a Emenda Constitucional n.45 acrescentou o inciso LXXVIII ao
art.5º da Lei Maior assegurando, como direito de todos, no âmbito judicial e
administrativo, “(..)a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação”, de modo que o eventual inadimplemento obrigacional,
uma vez reconhecido, deve ser corrigido com maior rapidez e celeridade possíveis.

O novo Código de Processo Civil, sancionado em 2015, afirmou-


se expressamente iluminado pelos princípios constitucionais (art.1º), deixando claro em
seu art.4º ser direito das partes “(..) obter em prazo razoável a solução integral do
mérito, incluída a atividade satisfativa”, devendo todos os sujeitos do processo, nos
termos do art.6º, “(..) cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável,
decisão de mérito justa e efetiva”.

Na espécie, proferida decisão em que restou fixado o dever da


reclamada de pagar à parte contrária os valores previstos na parte dispositiva da
sentença, impõe-se a imediata satisfação do título, após o trânsito em julgado
, mediante depósito do valor das parcelas LÍQUIDAS E INCONTROVERSAS, ou seja, os
valores históricos (o principal), inicialmente excluídas a atualização monetária, juros
(que serão objeto de liquidação e execução) posterior, e parcelas eventualmente
reformadas nas Instâncias recursais, quando for o caso.

Importante destacar que, em se tratando de sentença líquida


que venha a transitar em julgado , desse status processual resulta serem
imodificáveis os títulos e os valores sentenciados, salvo para atualização monetária e
juros, nos termos do § 1º do art.879, § 1º do art.884 da CLT, e até mesmo do ponto de
vista do art.917 do CPC, nada justificando que a reclamada deixe de efetuar o
pagamento referente à soma das parcelas que lhe foram imputadas, imediatamente
após o status de irrecorribilidade da decisão meritória.

Nesses termos, o art.139, IV do CPC, com as conexões


principiológicas e normativas já reportadas, estabelece:

“Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições


deste Código, incumbindo-lhe: (..) IV - determinar todas as medidas indutivas,

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coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o


cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária”

A finalidade da norma, à luz de toda a evidência, é induzir o


devedor a efetivar o cumprimento da obrigação com maior celeridade, evitando que
execuções infindáveis continuem a tramitar no Poder Judiciário trabalhista. A nota
mais clara, aliás, está na parte final do inciso IV do NCPC ao estabelecer que a sanção
se aplica inclusive para assegurar o cumprimento de prestação de pecuniária.

Nesse exato ponto vale pontuar que há entendimento no


âmbito do colendo Tribunal Superior do Trabalho superando jurisprudência anterior ao
NCPC, como registrado nos autos do ARR-1-76.2016.5.08.0001, 6ª Turma, Relator
Ministro Aloysio Correa da Veiga, que proferiu alentada e panorâmica decisão dando
por dirimida controvérsia limitadora da imposição sancionatória desta natureza apenas
para as obrigações de fazer, sintetizando dessa maneira o seu entendimento:

"EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO DA RECLAMADA. (..)


RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. IMPOSIÇÃO DE
MULTA COMINATÓRIA PELO DESCUMPRIMENTO DE PRAZO PARA PAGAMENTO DO
DÉBITO RECONHECIDO EM JUÍZO. NA VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. OBRIGAÇÃO DE PAGAR . FUNDAMENTO NO ART. 832, §1º, DA CLT.
APLICABILIDADE COM FUNDAMENTO NO ART. 139, IV, DO CPC/15. No caso concreto, o
eg. TRT impôs à reclamada o pagamento da multa de 1% em caso de não pagamento
do débito no prazo de dois dias após a publicação do acórdão, com base no art. 832, §
lº, da CLT. A norma celetista sob referência, apesar de não tratar de forma explícita da
possibilidade de imposição de multa cominatória, mas apenas determinar que
"Quando a decisão concluir pela procedência do pedido, determinará o prazo e as
condições para o seu cumprimento", pode ser interpretada como autorizadora da
imposição da referida penalidade, pois, com o advento do novo Código de Processo
Civil, a partir de 18/03/2016, especificamente do seu art. 139, IV, passou a ser
expressamente admitida a incidência de "medidas indutivas, coercitivas,
mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem
judicial", também nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária. Dentre tais
medidas, certamente se encontra a multa cominatória. Há julgado. Recurso de revista
não conhecido" (ARR-1-76.2016.5.08.0001, 6ª Turma, Relator Ministro Aloysio Correa da
Veiga, DEJT 30/06/2017).

Na mesma decisão citou, o nobre relator, outra de sua relatoria


, a saber o processo ARR - 1186-54.2014.5.08.0120, 6ª Turma, DEJT 23/06/2017,
acostando-se a esse mesmo entendimento a Ministra Katia Arruda, na seguinte
decisão:

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“EMENTA : I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.


RECLAMADA. LEI Nº 13.015/2014. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 40 DO TST. (...). II -
RECURSO DE REVISTA. RECLAMADA. LEI Nº 13.015/2014. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 40
DO TST. MULTA. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR. 1 - Recurso de revista
sob a vigência da Lei nº 13.015/2014 e foram atendidos os requisitos do art. 896, § 1.º-
A, da CLT. 2 - No trecho do acórdão recorrido, transcrito no recurso de revista, a tese é
sobre a aplicação do art. 832, § 1º, da CLT e da Súmula nº 31 do TRT (que interpreta os
arts. 652, d, 832, § 1º, e 835 da CLT). 3 - Não se ignora que a jurisprudência nesta Corte
Superior vem adotando o entendimento de que, no caso de obrigação de pagar, o art.
832, § 1º, do CPC deve ser aplicado em sintonia com o art. 880 da CLT. Contudo, esse
entendimento reflete o panorama jurídico de que a CLT não prevê multa diária em
descumprimento de obrigação de pagar, tampouco o CPC/1973. 4 - No caso concreto,
há fundamentos relevantes para conclusão diferente sobre a matéria - o acordão
recorrido foi proferido em 20/09/2016 e pode incidir o art. 139, IV, do CPC/2015
(aplicável no Processo do Trabalho nos termos da Instrução Normativa nº 39 do TST), o
qual autoriza a imposição de multa na hipótese de descumprimento de obrigação de
pagar. 5 - Recurso de revista de que não se conhece. (ARR - 1194-39.2015.5.08.0009 ,
Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, Data de Julgamento: 31/05/2017, 6ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 02/06/2017)”

Desse modo, fica determinado que a promovida, 48h após o


trânsito em julgado da decisão de conhecimento, efetue o depósito em Juízo do valor
incontroverso, constante do dispositivo, sob pena de ter acrescida à condenação multa
no percentual de 20% (vinte por cento) sobre o valor do principal, a ser apurada e
incluída em posterior conta de liquidação, caso não haja pagamento no prazo supra.

5- DA ADOÇÃO DA SELIC COMO FATOR DE CORREÇÃO


MONETÁRIA - ADCs 58 e 59 e ADIs 5867 e 6021 – RECLAMAÇÕES JUNTO AO STF -
RESSALVA DE ENTENDIMENTO PESSOAL E AJUSTE DECISÓRIO

O Supremo Tribunal Federal, por maioria, realizando incursão


hermenêutica divergente do que havia sido decidido nas ADIs 4425, 4357 e no RE
870947, quanto à correção de créditos trabalhistas de entes privados unificou suas
decisões nas ADCs 58 e 59 e ADIs 5867 e 6021.

Tendo em vista um antecedente quadro decisório da Suprema


Corte, mais amplo, a contemplar não apenas as ADCs 58 e 59 e ADIs 5867 e 6021, mas
de todos os créditos alimentares, segundo parâmetros das ADIs 4425, 4357 e no RE
870947, desde a primeira hora este Magistrado entendeu estar obrigado a cumprir
todas elas.

Desse modo, pelas razões declinadas em várias decisões a


respeito, a maior parte reverberadas em artigo publicado na Revista Eletrônica

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Jota (https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/juizo-de-valor/atualizacao-de-
creditos-trabalhistas-e-a-plutocracia-como-fetiche-2812202) é que, apoiado no § único
do art.404 do NCPC, vinha este Juiz deferindo indenização compensatória aos
reclamantes, de modo a evitar a notória , persistente e contínua perda do poder de
compra provocada historicamente pelo regime da SELIC e, por consequência o próprio
esvaziamento das decisões pretéritas da Suprema Corte.

Apesar disso, as reclamações na Suprema Corte se sucedem,


uma delas a de n. 49.391 (SP) em que eminente relator vislumbrou em decisões
semelhantes haver uma espécie de embaraço ao entendimento assentado no
julgamento proferido na ADC 58, determinando o retorno dos autos para novo
julgamento a respeito da matéria.

Como não se trata disso e sim de cumprimento de todas as


decisões da Corte, mas assim não tem entendido o e. STF, ficam ressalvadas as
mesmas convicções deste Magistrado, lançadas em decisões pretéritas e no artigo
acima referido (“ATUALIZAÇÃO DE CRÉDITOS TRABALHISTAS E A PLUTOCRACIA COMO
FETICHE) ”, restando agora determinado que seja observado o IPCA-E mais juros do
art.39 (caput) da Lei 8.177, no interregno pré-processual (da época própria até a data
de ajuizamento), nos termos das Reclamações n.s 47.929, 49.508, 50.107, 50.117 e
50.189, de relatoria do(a)s Ministro(a)s Dias Tóffoli, Nunes Marques, Roberto Barroso,
Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes, sendo que a partir do ajuizamento da ação
incide apenas a taxa SELIC (art. 406 do Código Civil) , na linha das ADCs 58 e 59 e ADIs
5867 e 6021.

5.1- RECOLHIMENTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS

Os recolhimentos para o Imposto de Renda e Seguridade Social


decorrem de norma cogente, não se podendo eximir empregado e empregador.

A empregadora deverá efetuar os recolhimentos das


contribuições fiscais e previdenciárias, autorizada a dedução das parcelas devidas ao
empregado.

O Imposto de Renda deverá obedecer ao regime de


competência, não devendo ser calculado sobre o valor total das parcelas tributáveis
que integram a condenação, pois prejudicial ao obreiro, consoante previsto na Lei 7.713
/88 (art. 12-A) e Instrução Normativa 1.127/2011 da Secretaria da Receita Federal do
Brasil.

Indevida a incidência de recolhimentos fiscais sobre os valores


devidos a título de juros de mora, em face de sua natureza indenizatória.

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As contribuições previdenciárias incidirão sobre as parcelas de


natureza salarial, calculadas mês a mês, observando-se as alíquotas pertinentes e o
limite do salário de contribuição do empregado, observada a Súmula 368 do TST e
Orientação Jurisprudencial n. 363 da SDI-I, do TST.

6- GRATUIDADE

Defere-se a gratuidade uma vez que a reclamante afirma não ter


como arcar com as despesas do processo, o que dever ser presumido pelo Juízo se não
houver prova em sentido contrário, sendo nesse rumo a interpretação que se extrai do
art.99 do NCPC, ressalvados os casos de notória e induvidosa capacidade econômica, o
que não é o caso.

7- HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

A Lei 13.467 estabeleceu:

"art.791-A: Ao advogado, ainda que atue em causa própria,


serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por
cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação
da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o
valor atualizado da causa".

E o § 4º assinalou: "§4o VENCIDO O BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA


GRATUITA, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo,
créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua
sucumbência , ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser
executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as
certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de
recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo,
tais obrigações do beneficiário".

A matéria relativa à gratuidade judiciária, acesso à justiça e seus


efeitos, foi objeto decisão do Supremo Tribunal Federal (ADI 5766) e, por expressiva
maioria, foi considerado integralmente inconstitucional o § 4º do art.791-A, incluído na
CLT pela chamada reforma trabalhista.

Na decisão foi destacado o conflito da norma questionada com


os termos do inciso LXXIV do art.5º da Constituição Federal, que reza: “Art. 5º, LXXIV - o
Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos”.

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O entendimento majoritário, rejeitando a solução alvitrada pelo


Ministro relator, que admitia o pagamento de honorários advocatícios pelo beneficiário
da gratuidade em conformidades como determinados critérios, parte da conclusão de
que a assistência jurídica prevista pelo constituinte deve ser integral e isenta de
quaisquer ônus, não podendo ser mitigada, sob pena de esvaziar a garantia
constitucional deferida aos mais pobres, razão pela qual, uma vez deferida a
gratuidade, no caso concreto, improcede o pedido de condenação do reclamante em
honorários advocatícios sucumbenciais.

Sucumbente a reclamada, ainda que parcialmente, resta


condenada a pagar honorários que fixo em 10% sobre o valor da condenação
(R$792,67).

8- CONCLUSÃO

ANTE O EXPOSTO, nos termos da fundamentação , julgo


PROCEDENTES EM PARTE os pedidos formulados por ANTÔNIO CÂNDIDO DA ROCHA
em face de UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA para: a) reconhecer a existência de
contrato de trabalho intermitente entre as partes, no período de 05/11/2017 e 10/5
/2022 ; b) determinar à reclamada que anote a CTPS do reclamante, na forma dos
artigos 2º e 7º da Portaria Ministério do Trabalho n.349, de 23 de maio de 2018,
anotando os períodos de prestação de serviços intermitentes entre 05/11/2017 e 10/5
/2022, fazendo constar a remuneração o valor/hora com equivalência ao salário
mínimo, proporcional às horas trabalhadas, a última dessas médias no importe de R$
427,61 reais; c) afastar a arguida justa causa, trazida na contestação; d) condenar a
reclamada a pagar as seguintes verbas ao reclamante: d.1) aviso prévio simples (como
postulado), no valor de R$ 427,61reais , d.2) de 4/12 d 13º salário de 2018(R$ 142,53),
13º salário integral de ano 2018(R$427,61), do ano de 2019(R$ R$427,61), de 2020(R$
R$427,61), do ano de 2021(R$ R$427,61) e proporcional (3/12) do ano de 2022
(R$106,90); d.3) férias mais 1/3 entre 2018 a 2022, em dobro as de2018/2019, 2019
/2020, restando devido em cada uma o valor de R$ 1.140,29 reais, totalizando R$
2.280,58 reais ; d.3.1) remuneração das férias simples mais 1/3, de 2020/2021, no valor
de R$570,14 reais e , por fim, 7/12 de férias rescisórias mais 1/3, no valor de R$249,43
reais ; e) FGTS resta no valor de R$ 1.436,76 reais, mais a multa de 40% no importe de
R$ 574,70 reais; f) multa do art.477, em quantia correspondente a R$ R$427,61 reais; g)
honorários (10%) no valor de 792,67 reais.

Fica determinado que a promovida, 48h após o trânsito em


julgado da decisão de conhecimento, efetue o depósito em Juízo do valor
incontroverso, constante do dispositivo, sob pena de ter acrescida à condenação multa
no percentual de 20% (vinte por cento) sobre o valor do principal, a ser apurada e
incluída em posterior conta de liquidação, caso não haja pagamento no prazo supra.

Assinado eletronicamente por: GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 11/01/2023 11:17:51 - 1069b22
Fls.: 40

quanto à atualização, que seja observado o IPCA-E mais juros do


art.39 (caput) da Lei 8.177, no interregno pré-processual (da época própria até a data
de ajuizamento), nos termos das Reclamações n.s 47.929, 49.508, 50.107, 50.117 e
50.189, de relatoria do(a)s Ministro(a)s Dias Tóffoli, Nunes Marques, Roberto Barroso,
Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes,, sendo que a partir do ajuizamento da ação
incide apenas a taxa SELIC (art. 406 do Código Civil) , na linha das ADCs 58 e 59 e ADIs
5867 e 6021.

Custas pela reclamada, no valor de R$174,38 reais, incidentes


sobre R$8.719,37 reais.

Fortaleza/CE, 11 de janeiro de 2023.

GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA


Juiz do Trabalho Titular

Assinado eletronicamente por: GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 11/01/2023 11:17:51 - 1069b22
https://pje.trt7.jus.br/pjekz/validacao/23010215043388500000031759497?instancia=1
Número do processo: 0000684-27.2022.5.07.0003
Número do documento: 23010215043388500000031759497
Fls.: 41

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO
3ª VARA DO TRABALHO DE FORTALEZA
ATSum 0000684-27.2022.5.07.0003
RECLAMANTE: ANTONIO CANDIDO DA ROCHA
RECLAMADO: UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.

CERTIDÃO/CONCLUSÃO

Certifico, para os devidos fins, que em 23/01/2023 o(a) Reclamado(a)


opôs embargos de declaração sob o ID 962efe2, antes mesmo de iniciada a contagem
do prazo legal, que teve início em 24/01/2023 com término em 02/02/2023.

Nesta data, 24 de janeiro de 2023, eu, PATRICIA ROSADO DE OLIVEIRA,


faço conclusos os presentes autos ao(à) Exmo(a). Sr.(ª) Juiz(íza) do Trabalho desta Vara.

DECISÃO

Vistos etc.

Recebo os embargos de declaração opostos, haja vista sua


tempestividade, conforme certidão acima.

Considerando o efeito modificativo dos referidos embargos, notifique(m)


-se o(a)(s) embargado(a)(s) para, querendo, apresentar impugnação, no prazo legal

Escoado o prazo supra, com ou sem manifestação, retornem os autos


conclusos para julgamento.

*A autenticidade do presente expediente pode ser confirmada


mediante consulta ao site https://pje.trt7.jus.br/pjekz/validacao, digitando
o número do documento que se encontra ao seu final.

Fortaleza/CE, 26 de janeiro de 2023.

GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA


Juiz do Trabalho Titular

Assinado eletronicamente por: GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 26/01/2023 12:03:26 - 39ed2e3
https://pje.trt7.jus.br/pjekz/validacao/23012409135857500000031895066?instancia=1
Número do processo: 0000684-27.2022.5.07.0003
Número do documento: 23012409135857500000031895066
Fls.: 42

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO
3ª VARA DO TRABALHO DE FORTALEZA
ATSum 0000684-27.2022.5.07.0003
RECLAMANTE: ANTONIO CANDIDO DA ROCHA
RECLAMADO: UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.

Vistos, etc;

Trata-se de embargos declaratórios interpostos pela reclamada


alegando, primeiro, que sentença não fixou o prazo para anotação da CTPS,
requerendo seja suprida essa omissão. Alega, do mesmo modo, que a decisão
embargada considerou a existência de vínculo a partir do ano de 2015, mas que não
haveria provas de trabalho anterior ao ano de 2017, postulando tal correção.

Notificada, a parte embargada apresentou contrarrazões .

É o breve relato.

DECIDO

Recurso interposto no prazo legal.

Dele conheço.

CABIMENTO DE EMBARGOS DECLARATÓRIOS

Estabelece o art. 897-A da CLT: "Art. 897- A. Caberão embargos


de declaração da sentença ou acórdão, no prazo de cinco dias, devendo seu
julgamento ocorrer na primeira audiência ou sessão subsequente a sua apresentação,
registrada na certidão, admitindo efeito modificativo da decisão nos casos de omissão
e contradição do julgado e manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos
do recurso."

Cumpre esclarecer que os embargos de declaração se limitam


aos casos serem verificadas nas decisões recorridas hipóteses de omissão,
contradição, obscuridade e erro material. Não se presta esse recurso, portanto, para
veicular mero inconformismo da parte em relação à decisão que lhe foi desfavorável e
nem para rediscutir a prova, conforme disciplinam os artigos 897-A da CLT e 535 do
CPC.

Estabelecidas essas premissas, passo ao exame dos temas


afetados.

Assinado eletronicamente por: GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 12/06/2023 11:41:07 - 0948268
Fls.: 43

PRAZO PARA ANOTAÇÃO DA CTPS

Alega o embargante que a sentença não estabeleceu o prazo


para cumprimento dessa obrigação de fazer, o que deveria ser suprido nesta sede.

Sobre esse ponto assim restou decidido na sentença


embargada:

“Importante ainda registrar que o art.452-A (caput) da CLT


assevera que o contrato intermitente deve prever especificamente o valor da hora de
trabalho, razão pela qual determina-se que a reclamada anote a CTPS do reclamante,
na forma dos artigos 2º e 7º da Portaria Ministério do Trabalho n.349, de 23 de maio de
2018, registrando os períodos de prestação de serviços intermitentes entre 02/09/2018
e 02/04/2022, assegurado, pelo menos, o valor/hora com equivalência ao salário
mínimo, proporcional às horas trabalhadas”.

(….) 8- CONCLUSÃO

ANTE O EXPOSTO, nos termos da fundamentação , julgo


PROCEDENTES EM PARTE os pedidos formulados por ANTÔNIO CÂNDIDO DA ROCHA
em face de UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA para: (..) b) determinar à reclamada
que anote a CTPS do reclamante, na forma dos artigos 2º e 7º da Portaria Ministério do
Trabalho n.349, de 23 de maio de 2018, anotando os períodos de prestação de serviços
intermitentes entre 05/11/2017 e 10/5/2022, fazendo constar a remuneração o valor
/hora com equivalência ao salário mínimo, proporcional às horas trabalhadas, a última
dessas médias no importe de R$ 427,61 reais".

Como se observa, não se estabeleceu, efetivamente, o termo


inicial para cumprimento da obrigação, restando suprida a omissão para estabelecer
que a reclamada deve proceder à anotação da CTPS após o trânsito em julgado da
sentença, ocasião em que, se confirma a decisão pelas instâncias recursais, será
notificada a embargante para tal finalidade.

PERÍODO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

Alega a embargante, nesse ponto, que inexiste nos autos


qualquer prova de que o Embargado tenha realizado viagens anterior ao ano de 2019,
assim como não houve a limitação da data final para fins de liquidação.

Constata-se, no entanto, que o pedido dos embargantes tem a


finalidade de rediscutir a prova, de modo que tal matéria deve ser articulada em sede
de recurso ordinário, para exame da instância superior.

Assinado eletronicamente por: GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 12/06/2023 11:41:07 - 0948268
Fls.: 44

CONCLUSÃO

ANTE O EXPOSTO, conheço dos embargos de declaração aviados


por UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA em face de ANTONIO CÂNDIDO DA ROCHA .
No mérito, dou parcial provimento do recurso para esclarecer que obrigação
da reclamada/embargante de anotar a CTPS do motorista só dever ser implementada
após o trânsito em julgado da sentença, quando a empresa for notificada para essa
finalidade.

Intimem-se.

FORTALEZA/CE, 12 de junho de 2023.

GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA


Juiz do Trabalho Titular

Assinado eletronicamente por: GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 12/06/2023 11:41:07 - 0948268
https://pje.trt7.jus.br/pjekz/validacao/23061211190221600000033649364?instancia=1
Número do processo: 0000684-27.2022.5.07.0003
Número do documento: 23061211190221600000033649364
Fls.: 45

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO
3ª VARA DO TRABALHO DE FORTALEZA
ATSum 0000684-27.2022.5.07.0003
RECLAMANTE: ANTONIO CANDIDO DA ROCHA
RECLAMADO: UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.

CERTIDÃO/CONCLUSÃO

Certifico, para os devidos fins, que em 23/06/2023 o(a) Reclamado(a)


interpôs Recurso Ordinário sob o ID a8d14bd, com observância do prazo legal, que
teve início em 14/06/2023 e término em 23/06/2023.

Certifico também que o recurso foi subscrito por advogado(a) habilitado


(a) nos autos (ID 2df6fff), e que o(a) recorrente comprovou o recolhimento do depósito
recursal e o pagamento das custas processuais (ID b615a88).

Nesta data, 26 de junho de 2023, eu, PATRICIA ROSADO DE OLIVEIRA,


faço conclusos os presentes autos ao(à) Exmo(a). Sr.(ª) Juiz(íza) do Trabalho desta Vara.

DECISÃO

Vistos etc.

Tempestivo e preparado, nos termos da certidão supra, recebo o


recurso ordinário interposto, com efeito devolutivo.

Notifique-se a parte contrária para apresentar contrarrazões, no prazo


legal.

Encerrado o prazo, com ou sem manifestação da parte


recorrida, proceda-se à remessa dos autos ao egrégio Tribunal Regional do Trabalho da
7ª Região.

*A autenticidade do presente expediente pode ser confirmada


mediante consulta ao site https://pje.trt7.jus.br/pjekz/validacao, digitando
o número do documento que se encontra ao seu final.

FORTALEZA/CE, 27 de junho de 2023.

GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA


Assinado eletronicamente por: GERMANO SILVEIRA DE SIQUEIRA - Juntado em: 27/06/2023 14:30:59 - b04208d
Juiz do Trabalho Titular
https://pje.trt7.jus.br/pjekz/validacao/23062610143846000000033834065?instancia=1
Número do processo: 0000684-27.2022.5.07.0003
Número do documento: 23062610143846000000033834065
SUMÁRIO
Documentos

Data da
Id. Documento Tipo
Assinatura

b6768eb 30/09/2022 09:15 Despacho Despacho

20eef62 06/10/2022 09:12 Ata da Audiência Ata da Audiência

1069b22 11/01/2023 11:17 Sentença Sentença

39ed2e3 26/01/2023 12:03 Decisão Decisão

0948268 12/06/2023 11:41 Sentença Sentença

b04208d 27/06/2023 14:30 Decisão Decisão

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