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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário


0100154-60.2023.5.01.0036

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 09/03/2023


Valor da causa: R$ 60.000,00

Partes:
RECLAMANTE: CRISTIANO MAGALHAES BASTOS DOS PASSOS
ADVOGADO: LUCAS GOULART TOVAR
RECLAMADO: CLINICA VETERINARIA E PET BOTAFOGO LTDA
ADVOGADO: JOSEMAR DE ALMEIDA MUSSAUER JUNIOR
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO
36ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro
ATOrd 0100154-60.2023.5.01.0036
RECLAMANTE: CRISTIANO MAGALHAES BASTOS DOS PASSOS
RECLAMADO: CLINICA VETERINARIA E PET BOTAFOGO LTDA

Relatório

CRISTIANO MAGALHAES BASTOS DOS PASSOS ajuizou


Reclamação Trabalhista em face de CLINICA VETERINARIA E PET BOTAFOGO LTDA,
alegando, em síntese, que prestou serviços no período entre 15/11/2022 e 14/01/2023,
e foi dispensado. Relatou diversas irregularidades quanto aos seus direitos trabalhistas
e formulou os pedidos arrolados na inicial, requerendo os benefícios da justiça
gratuita.

Deu à causa o valor de R$ 60.000,00. Juntou documentos.

Regularmente citada, a reclamada compareceu na audiência e,


infrutífera a tentativa de conciliação, apresentou contestação, pugnando pela
improcedência dos pedidos. Juntou documentos.

Prova oral produzida em audiência.

Sem outras provas a serem produzidas, encerrou-se a instrução


processual.

Razões finais por memoriais.

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

Da extinção do contrato de trabalho

Assinado eletronicamente por: FABIO CORREIA LUIZ SOARES - Juntado em: 14/12/2023 15:30:22 - 6b9b0b8
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O reclamante aduz ter sido admitido em 15/11/2022, ao


passo que a reclamada afirma que o autor foi admitido apenas em 01/12/2022.

Diante da negativa da reclamada, cabia ao autor o ônus de


comprovar a admissão anterior ao registro na CTPS (vide ID. f159ca8, que indica
admissão em 01/12/2022), do qual não se desincumbiu, pelo que fixo admissão em 01
/12/2022.

Quanto à modalidade do contrato, consta na CTPS que o


contrato era a prazo indeterminado, e o contrato de experiência de ID. 5ba6dc2 não se
encontra assinado pelo autor, sendo certo ainda que o próprio TRCT indica como tipo
de contrato “Contrato de trabalho por prazo indeterminado.”

Portanto, considero que o contrato era por prazo


indeterminado.

Por fim, a defesa não alega justa causa e o TRCT não indica
dispensa por justa causa, razão pela qual entendo que o reclamante foi dispensado sem
justa causa em 14/01/2023.

Sendo assim, procede o pedido de pagamento das seguintes


verbas resilitórias, já considerada a projeção do aviso prévio indenizado:

Aviso prévio indenizado de 30 dias;


01/12 avos de férias proporcionais + 1/3, pois eram devidos 02/12 avos e a
reclamada quitou apenas 01/12 avos no TRCT;
01/12 avos de 13º salário proporcional de 2022;
02/12 avos de 13º salário proporcional de 2023;
Diferenças de FGTS, observado o extrato de ID. 540d89f; e
Indenização de 40% do FGTS;

Improcede o pedido quanto ao saldo de salário, pois foi quitado


no TRCT de ID. 1fe3699, cujo valor líquido foi pago conforme ID. a7f8bfc.

Procede o pedido de pagamento da multa prevista no parágrafo


8o do art. 477 da Consolidação das Leis do Trabalho, uma vez que não foi observado o
§ 6o, do mesmo dispositivo legal.

Assinado eletronicamente por: FABIO CORREIA LUIZ SOARES - Juntado em: 14/12/2023 15:30:22 - 6b9b0b8
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Procede também a multa do artigo 467 da CLT, porque a


reclamada não quitou as verbas incontroversas em 1ª audiência, devendo incidir a
multa sobre indenização de 40% do FGTS, adstrito aos limites do pedido.

Improcede o pedido de seguro desemprego, porque o contrato


de trabalho do autor é inferior a 06 meses, não restando preenchidos, portanto, os
requisitos da lei 13.134/2015.

Improcede o pedido de vale transporte, diante da confissão do


reclamante em depoimento pessoal no sentido de “que não houve problema com a
falta de dinheiro para transporte; que teve um atraso, mas depois eles resolveram.”

Das horas extras

Pleiteia o reclamante o pagamento de horas extras, alegando


que prestava serviços em sobrejornada.

No presente caso, a ré não se desincumbiu do ônus de


comprovar a jornada de trabalho da parte autora com a juntada dos controles de
ponto, a teor do artigo 74, §2º, da CLT.

Além disso, a testemunha conduzida pelo reclamante


comprovou a realização de horas extras ao afirmar “que também presenciou pedidos
para ele ficar após o horário por motivos banais, saindo até 21hs.”

A testemunha conduzida pela reclamada também comprovou a


realização de horas extras ao afirmar “que dia de cirurgia era normal todos fazerem
hora extra, inclusive o autor, que não lembra datas específicas disso.”

Presumem-se verdadeiros, assim, os horários declinados na


inicial, incumbindo à reclamada demonstrar horário diverso, ônus do qual não se
desincumbiu.

Fixo a jornada de trabalho do autor, desta forma, conforme a


inicial, o seu depoimento pessoal e aquele prestado pela testemunha ouvida em Juízo,
como sendo de segunda-feira a sábado, das 08h às 17h, com 01h de intervalo
intrajornada (o que se presume diante da ausência de informação na inicial), no
período da admissão até 31/12/2022. O quantitativo de horas extras fica limitado ao
postulado na causa de pedir.

Assinado eletronicamente por: FABIO CORREIA LUIZ SOARES - Juntado em: 14/12/2023 15:30:22 - 6b9b0b8
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Considerando-se o art. 7º, XIII, da CF/88, que estipula a duração


do trabalho em 8 horas diárias e 44 semanais, julgo procedente o pedido autoral e
condeno a reclamada ao pagamento das horas extras excedentes da 8ª diária ou 44ª
semanal, o que for mais benéfico à parte autora, conforme a jornada de trabalho acima
reconhecida, acrescidas do adicional de 50% (art. 7º, XVI, CF) para o trabalho de
segunda-feira a sábado.

Não há falar em reflexos por ausência de pedido específico.

O cálculo das horas suplementares observará:

a) a evolução salarial;

b) dias efetivamente trabalhados;

c) globalidade salarial;

d) média física para a integração;

e) divisor 220; e

f) as verbas de natureza salarial, nos termos da súmula 264 do


C. TST.

Da indenização por danos morais

A responsabilidade civil se funda na existência de três


elementos: prática de ato ilícito, ocorrência de dano e nexo causal.

No caso em apreço, a parte autora entende fazer jus à


reparação por danos morais em virtude de ter sido obrigado a gravar vídeo sem camisa
por ordem do dono da clínica, Sr. Bernard.

Quanto ao assédio moral, a testemunha conduzida pelo


reclamante corroborou as alegações da inicial ao afirmar “que presenciou o reclamante
passar por incômoda situação de vídeos e fotos; que pediram para o reclamante tirar a
camisa, colocar logo no peito para divulgação do local; que isso ocorreu dia 16/12/2022.

Assinado eletronicamente por: FABIO CORREIA LUIZ SOARES - Juntado em: 14/12/2023 15:30:22 - 6b9b0b8
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Por outro lado, o fato de a testemunha conduzida pela


reclamada ter afirmado “que não presenciou o reclamante passar por situação de
constrangimento e humilhação” não significa necessariamente que tais fatos não
tenham ocorrido.

Não há dúvidas de que a conduta da reclamada,


consubstanciada no tratamento dispensado à parte reclamante por seu preposto,
atingiu o direito à integridade psíquica, honra e imagem da autora, causando
humilhações e constrangimentos no ambiente de trabalho, gerando o direito à
indenização por danos morais.

Há tempo está consagrado na Constituição da República o


direito do trabalhador de ser respeitado na sua dignidade humana e nos seus direitos
de personalidade, nada justificando a atitude do empregador de constranger o
trabalhador e privá-lo da sua integridade no ambiente de trabalho.

O legislador constituinte preceituou no inciso X, do art. 5º da


Carta Magna que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação.

De igual forma, o art. 186 do Código Civil determina que aquele


que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Neste caso o dano moral existe in re ipsa , derivando


inexoravelmente do fato ofensivo, de modo que, provada a ofensa, está demonstrado
o dano moral decorrente de uma presunção natural que decorre das regras de
experiência comum.

Relativamente ao quantum da indenização, considerando o


caráter punitivo e pedagógico da condenação em face do poder econômico do
empregador e sem o intuito de gerar o enriquecimento indevido da reclamante,
entendo razoável fixar a indenização por danos morais no valor de R$ 3.000,00 (três mil
reais), a ser corrigido apenas com a taxa SELIC a contar da data do ajuizamento da
ação, em razão do julgamento da ADC 58 pelo STF.

Da gratuidade de justiça

Assinado eletronicamente por: FABIO CORREIA LUIZ SOARES - Juntado em: 14/12/2023 15:30:22 - 6b9b0b8
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Em razão da declaração de hipossuficiência econômica que


não foi elidida por prova em sentido contrário e que o autor recebia salário próximo ao
percentual de 40% do teto de benefícios da Previdência Social, valor insuficiente para a
sua sobrevivência e para arcar com os custos do processo, defiro o benefício da
gratuidade de justiça, a teor dos artigos 790, §3º e §4º, da CLT.

Dos honorários advocatícios

Considerando que a presente ação foi ajuizada após a entrada


em vigor da Lei nº 13.467/2017, aplica-se a regra do art. 791-A, caput, da CLT, razão
pela qual condeno a reclamada ao pagamento de honorários advocatícios
sucumbenciais no montante de 10% (dez por cento) sobre o valor que resultar da
liquidação da sentença.

Diante da procedência parcial dos pedidos da inicial, o


reclamante é considerado devedor de 10% (dez por cento) do valor fixado na inicial
para os pedidos julgados improcedentes, a título de honorários advocatícios devidos ao
advogado do reclamado (CLT, art. 791-A, §3º).

Contudo, como restou deferida a gratuidade de justiça, dou


interpretação conforme a Constituição Federal para permitir o acesso à justiça e evitar
que os créditos trabalhistas ora reconhecidos sejam utilizados para quitar honorários
sucumbenciais quanto aos pedidos julgados improcedentes.

Assim, adoto apenas a parte final da regra do artigo 791-A, §4º,


da CLT, e as “obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição
suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos
subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar
que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão
de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário”.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, na reclamação trabalhista movida por


CRISTIANO MAGALHAES BASTOS DOS PASSOS em face de CLINICA VETERINARIA E PET
BOTAFOGO LTDA, decido julgar parcialmente procedentes os pedidos formulados pelo

Assinado eletronicamente por: FABIO CORREIA LUIZ SOARES - Juntado em: 14/12/2023 15:30:22 - 6b9b0b8
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reclamante, para condenar a reclamada, nos termos da fundamentação que passa a


integrar o presente dispositivo.

Os valores serão apurados em regular liquidação de sentença.

Custas pela reclamada no valor de R$ 300,00, calculadas sobre o


valor da condenação, ora arbitrado em R$ 15.000,00.

Quanto aos juros de mora e à correção monetária, deverá ser


observado o entendimento do STF no julgamento da ADC 58 e incidirá IPCA-E na fase
pré-judicial acrescido dos juros legais TRD (art. 39, caput, da Lei 8.177, de 1991) e, a
partir do ajuizamento da ação, incidirá apenas a taxa SELIC.

Na hipótese de adimplementos parciais do crédito exequendo, o


valor parcialmente adimplido deverá ser abatido proporcionalmente dos juros de mora
e do principal.

Recolhimentos fiscais e previdenciários, na forma da lei.

Intimem-se. Nada mais.

RIO DE JANEIRO/RJ, 14 de dezembro de 2023.

FABIO CORREIA LUIZ SOARES


Juiz do Trabalho Substituto

Assinado eletronicamente por: FABIO CORREIA LUIZ SOARES - Juntado em: 14/12/2023 15:30:22 - 6b9b0b8
https://pje.trt1.jus.br/pjekz/validacao/23121415255359600000190821060?instancia=1
Número do processo: 0100154-60.2023.5.01.0036
Número do documento: 23121415255359600000190821060

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