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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região

Ação Trabalhista - Rito Sumaríssimo


0010168-70.2021.5.03.0049

Tramitação Preferencial
- Idoso

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 19/03/2021


Valor da causa: R$ 9.714,69

Partes:
AUTOR: LUCIANA APARECIDA VIANA COSTA
ADVOGADO: ANA LUIZA STEFANI DE MOURA E SILVA CURI
ADVOGADO: NELTON JOSE ARAUJO FERREIRA
ADVOGADO: JOSE MARIA FERES
ADVOGADO: RICARDO QUINTAO E SILVA FERES
RÉU: VICENTE ANTONIO ROSA
ADVOGADO: LUIS GUSTAVO DE ASSIS CRISAFULLI
RÉU: MARIA APARECIDA CARVALHO DA SILVA SANTANA
ADVOGADO: LUIS GUSTAVO DE ASSIS CRISAFULLI
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Fls.: 2

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO
1ª VARA DO TRABALHO DE BARBACENA
ATSum 0010168-70.2021.5.03.0049
AUTOR: LUCIANA APARECIDA VIANA COSTA
RÉU: VICENTE ANTONIO ROSA E OUTROS (2)

No dia e horário de registro da assinatura digital, o MM. Juiz do


Trabalho, Dr. MARCELO SOARES VIEGAS, proferiu a seguinte:

SENTENÇA

I. RELATÓRIO

Dispensado, por se tratar de demanda sujeita ao procedimento


sumaríssimo, nos termos do artigo 852-I da CLT.

FUNDAMENTAÇÃO

VÍNCULO DE EMPREGO E VERBAS RESCISÓRIAS

A Reclamante narrou que foi admitida aos 09/10/2019, sem


anotação na CTPS, na função de empregada doméstica (babá), com salário de R$
1.000,00 mensais, e dispensada sem justa causa aos 09/04/2020, sem receber seu
acerto rescisório. Requereu o reconhecimento do vínculo de emprego com anotação da
CTPS e pagamento das verbas trabalhistas correspondentes. Requereu
especificamente o salário retido do mês de janeiro de 2020 no importe de R$500,00.

Os Reclamados, em sua defesa, admitiram o vínculo somente


pelo período de 17/02/2020 a 09/04/2020 e alegaram que a Reclamante pediu
demissão.

Vejamos.

Uma vez existente um contrato realidade, sem documentação e


/ou outras formalidades, o Juízo, para decidir, precisa se valer da distribuição do ônus
probatório do processo trabalhista e da análise da prova oral coligida aos autos.

A Reclamada admite o vínculo de emprego, porém por um


período menor. Dessa forma, quanto ao período anterior ao admitido, cabia à

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Reclamante comprovar o vínculo de emprego, pois fato constitutivo de seu direito,


ônus do qual se desincumbiu a contento, tendo em vista a prova oral colhida na
audiência de instrução de ID 7acabf7.

A primeira testemunha arrolada pelos Reclamados, senhor JOSE


SILVA DIAS, nada soube dizer acerca dos fatos controvertidos.

A segunda testemunha arrolada pelos Reclamados – senhor


JOSE MARCOS MARTINS, ex-cunhado da 2ª Reclamada, ouvido apenas como informante
– não prestou depoimento fidedigno o suficiente para que fosse considerado.

Já a testemunha ouvida a rogo da Reclamante, senhora


GISLAINE DA COSTA COELHO, declarou que a relação de emprego havida entre as
partes durou 6 meses.

Por fim, quanto à modalidade de rescisão contratual, uma vez


reconhecido o vínculo de emprego não anotado na CTPS – considerando-se o princípio
da continuidade da relação de emprego, benéfico à Reclamante – cabia à Reclamada
comprovar que o término da relação empregatícia se deu por iniciativa da Empregada,
nos moldes da Súmula 212 do TST, ônus do qual não se desincumbiu.

Dessa forma, reconheço o vínculo de emprego declinado na


inicial, iniciado aos 09/10/2019, bem como a dispensa sem justa causa, e sem prévio
aviso, aos 09/04/2020.

Deverá, portanto, a 2ª Reclamada proceder a anotação da CTPS


da Reclamante, fazendo constar data de admissão aos 09/10/2019, função de
empregada doméstica, salário mínimo e data de saída aos 09/05/2020 (ante a projeção
do aviso prévio), no prazo de dez dias, após intimação específica para tanto.

À míngua de comprovantes de quitação – e mantendo o


julgamento dentro dos limites pedidos na inicial – reputo devidas as seguintes parcelas:

- salário parcialmente retido do mês de janeiro de 2020, no


importe de R$500,00;

- saldo salarial de 09 dias trabalhados em abril de 2020;

- aviso prévio indenizado;

- 07/12 de férias proporcionais do período aquisitivo de 2019


/2020, acrescidas do terço constitucional;

-03/12 de 13º salário proporcional do ano de 2019;

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- 04/12 de 13º salário proporcional do ano de 2020;

- FGTS de todo o período laborado e multa de 40% sobre o FGTS;

- multa do artigo 477, §8º, da CLT.

A multa do artigo 467 da CLT não é devida tendo em vista a


razoável controvérsia instaurada nos autos.

Deverá a 2ª Reclamada também entregar as guias TRCT e CD/SD,


sob pena de indenização substitutiva do seguro desemprego, caso não recebido por
sua culpa exclusiva.

HORAS EXTRAS

A Reclamante relatou que trabalhava de segunda-feira a sábado,


das 07h00 às 17h30/18h00, sem intervalo intrajornada. Requereu o pagamento das
horas extras, inclusive daquelas pertinentes à não concessão do intervalo alimentar,
com adicional e reflexos noutras parcelas.

Os Reclamados, por seu turno, refutaram as alegações iniciais


sustentando que a Reclamante jamais realizou horas extras.

A prova oral corroborou a tese defensiva, uma vez que a


testemunha ouvida a rogo da Reclamante, senhora GISLAINE DA COSTA COELHO,
delineou uma jornada de trabalho com horários muito diversos daqueles descritos na
inicial. Inclusive, quanto aos dias trabalhados, enquanto a inicial relatou trabalho de
segunda-feira a sábado, a testemunha foi enfática ao dizer que as crianças eram
deixadas apenas de segunda a sexta-feira.

Diante do exposto, prevaleceu a tese defensiva no sentido de


que a Reclamante trabalhava apenas durante a jornada legal, usufruindo corretamente
do intervalo intrajornada, pelo que, JULGO IMPROCEDENTE o pedido de pagamento
das horas extras, inclusive daquelas referentes ao intervalo alimentar, e reflexos.

SALÁRIO FAMÍLIA

A Reclamante aduziu que tem filhos menores de 14 anos, porém


nunca recebeu o salário família a que fazia jus, cujo pagamento requereu, no importe
de duas cotas.

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De acordo com as certidões de nascimento apresentadas,


dentre os filhos da Reclamante, Luiz Otávio fez 14 anos aos 21/06/20219, Maria Clara
Viana tem 10 anos de idade e Luíza Vitória Viana tem 13 anos, atualmente.

Dessa forma, JULGO PROCEDENTE o pedido de pagamento de


duas cotas do salário família, durante todo o período contratual.

DANOS MORAIS

A Reclamante requereu o pagamento de indenização por danos


morais decorrentes da não anotação de sua CTPS e do consequente não pagamento
das verbas trabalhistas a que fazia jus.

No que concerne à indenização por danos morais pela não


anotação da CTPS, conquanto seja ilícita a conduta dos Reclamados quanto à ausência
de anotação do contrato de trabalho na CTPS, em regra, tal circunstância, por si só, não
enseja a indenização postulada, vez que a legislação trabalhista possui cominações
específicas para este caso.

Não se desincumbindo a Reclamante do seu ônus (818 da CLT c


/c art. 373, I, do CPC/15) de comprovar qualquer lesão moral à sua honra, intimidade,
vida privada, moralidade, privacidade ou imagem, de forma a enquadrar a conduta dos
Empregadores nos ditames dos artigos 186 e 929 do CC, estando ausentes os
elementos da responsabilidade civil para impor o dever de indenizar aos Reclamados,
JULGO IMPROCEDENTE o pedido de pagamento de indenização por danos morais.

LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

A Reclamante apenas observou o seu direito constitucional de


ação, não tendo enquadrada a sua conduta processual em nenhum dos pressupostos
do instituto de litigância de má-fé, previstos no art. 793-B da CLT.

Indefiro.

JUSTIÇA GRATUITA

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Concedo à Reclamante os benefícios da Justiça Gratuita, nos


termos do artigo 790, §3º da CLT, não havendo nos autos prova de que, atualmente,
perceba salário superior a quarenta por cento do limite máximo dos benefícios do
Regime Geral de Previdência Social.

Os Reclamados, pessoas físicas, também afirmaram não


possuírem renda suficiente ao pagamento das custas processuais.

Nos termos do artigo 790, §4º, da CLT, extrai-se que a concessão


do benefício será dada à pessoa física, sem condições de arcar com as despesas do
processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

Defiro, portanto, o pedido.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA

No caso dos autos houve acolhimento parcial dos pedidos.

Condeno a Reclamada ao pagamento dos honorários


advocatícios de sucumbência, no importe de 5% sobre o efetivo proveito econômico da
execução, assim compreendidos os créditos líquidos regularmente apurados em
liquidação de sentença (ou seja, após as deduções fiscais e previdenciárias), conforme
disposição contida no artigo 791-A, caput, da CLT.

Condeno a Reclamante ao pagamento dos honorários


advocatícios de sucumbência, no importe de 5% do valor atribuído na inicial ao pedido
em que foi INTEGRALMENTE sucumbente, importância que deverá ser atualizada
monetariamente a contar da data de ajuizamento da ação e deverá sofrer incidência de
juros moratórios de 1% ao mês, pro rata die, a partir da data do trânsito em julgado
(artigo 85, §16º do CPC/2015).

Atentem-se para o que dispõe o §4º do Art. 791-A da CLT, no


caso de ambas as partes, pois beneficiárias da justiça gratuita.

Nos termos do §3º do Art. 791-A, fica vedada a compensação de


honorários advocatícios sucumbenciais.

CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS

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Juros e correção monetária com base na mais recente decisão


do STF sobre o tema (ADCs 58 e 59, julgadas em 18/12/2020, da relatoria do Ministro
Gilmar Mendes), ou seja, atualização pelo IPCA-E até o ajuizamento e correção
(incluídos os juros) pela taxa SELIC a partir do ajuizamento até o efetivo pagamento.

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS E FISCAIS

É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das


contribuições previdenciárias, resultantes de crédito do empregado oriundo de
condenação judicial.

A culpa do empregador pelo inadimplemento das verbas


remuneratórias, contudo, não exime a responsabilidade do empregado pelos
pagamentos do imposto de renda devido e da contribuição previdenciária que recaia
sobre sua quota-parte. Nesse sentido é o entendimento constante do item II da Súmula
368 do TST.

Os descontos previdenciários relativos à contribuição do


empregado devem ser calculados mês a mês, de conformidade com o art. 276, § 4º, do
Decreto n º 3.048/1999, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198, observado o
limite máximo do salário de contribuição.

Para o labor realizado a partir de 05/03/2009, considera-se fato


gerador das contribuições previdenciárias decorrentes de créditos trabalhistas
reconhecidos ou homologados em juízo a data da efetiva prestação dos serviços. Sobre
as contribuições previdenciárias não recolhidas a partir da prestação dos serviços
incidem juros de mora e, uma vez apurados os créditos previdenciários, aplica-se multa
a partir do exaurimento do prazo de citação para pagamento, se descumprida a
obrigação, observado o limite legal de 20%, conforme art. 61, § 2º, da Lei 9.430/96.

Declaro, em atendimento ao art. 832, §3º, da CLT (com redação


da Lei 10.035/00), que das parcelas deferidas ostentam natureza indenizatória aquelas
que constam do artigo 28, §9º, da Lei 8.212/91; as demais ostentam natureza salarial.
Sobre estas, incidem descontos previdenciários, na forma da Súmula 368 e OJ 363 da
SDI-1, do TST, a cargo da parte Reclamada, que deverá comprová-los no prazo legal.

O imposto de renda decorrente de crédito do empregado


recebido acumuladamente deve ser calculado, conforme Enunciado 24 da Jornada
Nacional sobre Execução na Justiça do Trabalho e item VI da Súmula 368 do TST, sobre
o montante dos rendimentos pagos, mediante a utilização de tabela progressiva
resultante da multiplicação da quantidade de meses a que se refiram os rendimentos

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pelos valores constantes da tabela progressiva mensal correspondente ao mês do


recebimento ou crédito, nos termos do art. 12-A da Lei 7.713/88 e Instruções
Normativas da Receita Federal do Brasil (IN 1127, ou a que vier a substituí-la). Exclui-se
da base do IR os juros de mora incidentes sobre as parcelas objeto da presente
condenação (independente da natureza jurídica dessas verbas), ante o cunho
indenizatório conferido pelo artigo 404 do Código Civil, conforme entendimento
jurisprudencial consubstanciado na OJ 400 da SDI-1 do TST.

DISPOSITIVO

Diante do exposto, na Reclamação Trabalhista ajuizada por


LUCIANA APARECIDA VIANA COSTA em face de VICENTE ANTONIO ROSA e MARIA
APARECIDA CARVALHO DA SILVA SANTANA, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os
pedidos arrolados na inicial para condenar os Reclamados a pagarem à Reclamante,
nos termos da fundamentação, as seguintes parcelas, a serem apuradas em liquidação
de sentença:

- salário parcialmente retido do mês de janeiro de 2020, no


importe de R$500,00;

- saldo salarial de 09 dias trabalhados em abril de 2020;

- aviso prévio indenizado;

- 07/12 de férias proporcionais do período aquisitivo de 2019


/2020, acrescidas do terço constitucional;

-03/12 de 13º salário proporcional do ano de 2019;

- 04/12 de 13º salário proporcional do ano de 2020;

- FGTS de todo o período laborado e multa de 40% sobre o FGTS;

- multa do artigo 477, §8º, da CLT e

- duas cotas do salário família, por mês, durante todo o período


contratual.

Deverá a 2ª Reclamada proceder a anotação da CTPS da


Reclamante, fazendo constar data de admissão aos 09/10/2019, função de empregada
doméstica, salário mínimo e data de saída aos 09/05/2020 (ante a projeção do aviso
prévio), no prazo de dez dias, após intimação específica para tanto.

Assinado eletronicamente por: MARCELO SOARES VIEGAS - Juntado em: 27/10/2021 08:38:42 - baf91c9
Fls.: 9

Deverá a 2ª Reclamada também entregar as guias TRCT e CD/SD,


sob pena de indenização substitutiva do seguro desemprego, caso não recebido por
sua culpa exclusiva.

Honorários advocatícios sucumbenciais, juros, correção


monetária e recolhimentos previdenciários e fiscais na forma da fundamentação.

Concedo à Reclamante e aos Reclamados os benefícios da


justiça gratuita.

Dispensada a intimação da União Federal.

Custas pelos Reclamados no importe de R$100,00, calculadas


sobre R$5.000,00, valor arbitrado à condenação, ISENTOS.

Intimem-se as partes.

Nada mais.

BARBACENA/MG, 27 de outubro de 2021.

MARCELO SOARES VIEGAS


Juiz(a) do Trabalho Substituto(a)

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https://pje.trt3.jus.br/pjekz/validacao/21102518195827000000137110182?instancia=1
Número do processo: 0010168-70.2021.5.03.0049
Número do documento: 21102518195827000000137110182

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