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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA 3ª VARA DO

TRABALHO DE MARINGÁ – ESTADO DO PARANÁ

ATOrd: 0000087-67.2022.5.09.0661
Reclamante: FERNANDA LOPES DA SILVA
Reclamados: ANTONIO BERNARDI NETTO, SILVIA REGINA BERNARDI CALLEGARI,
e MARA LUCIA BERNARDI GIL

ANTONIO BERNARDI NETTO, SILVIA REGINA BERNARDI


CALLEGARI, e MARA LUCIA BERNARDI GIL, já qualificados, devidamente
representados por seu procurador judicial infra firmado, nos autos em epígrafe de
Reclamação Trabalhista proposta por Fernanda Lopes da Silva,, igualmente qualificada, vem,
tempestiva e respeitosamente à presença de V. Exª apresentar sua CONTESTAÇÃO,
consoante os fatos e fundamentos jurídicos a seguir explicitados:

1. DA RESTAURAÇÃO DA REALIDADE FÁTICA

Traz a exordial que a Autora teria sido contratada no dia 08/04/2019,


sem registro em carteira, aduzindo que supostamente foi compelida a realizar pedido de
demissão em 05/02/2020 sem quitação de acerto rescisório. Em suma, faz pedidos de
reconhecimento de vínculo empregatício, com as cominações de multa dos arts. 467 e 477 da
CLT, postulando também um desvio/acúmulo de função, horas extras e intervalos, adicional
noturno, dano moral, FGTS e demais consectários.

Foi exposto que a Autora foi contratada como empregada doméstica,


para realizar os afazeres no âmbito da residência do Reclamado sr. ANTONIO, durante o dia,
das 7h às 16h30/17h, sem intervalo, consumindo alimentação no próprio local de trabalho por
dez minutos, de segunda à sexta e sábados das 7h às 15h com intervalo de 5minutos, sendo
que teria passado a trabalhar a partir de 16/10/2019 em período noturno, iniciando às
18h30min do mesmo dia até as 7h do dia seguinte, sem intervalo, noite-sim, noite-não,
requerendo o pagamento das horas excedentes à 8ª diária e 44ª semanal.

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No entanto, cumpre impugnar desde já a falaciosa versão pincelada na
inicial, tendo em vista que a Autora deixa de informar a este d. Juízo aspectos e detalhes
relevantes da relação havida, além de desvirtuar a verdade dos fatos.

Inicialmente, cumpre impugnar desde já a alegada data de admissão


como sendo em 08/04/2019, visto que a relação entre a Autora e o Reclamado teve início
somente em 03/10/2019 como apontarão as provas produzidas.

Em verdade, a Autora foi contratada apenas pelo sr. ANTONIO, sendo


que suas filhas, demais corrés, sras. MARA e SILVIA, apenas o auxiliavam na gestão da casa
e das finanças, não existindo relação entre a Autora e referidas Rés, mas tão somente com o
sr. ANTONIO, a quem era prestado o serviço de doméstica.

A prova documental evidencia que todas as verbas foram


devidamente quitadas, inexistindo qualquer pendência. A Autora recebia um salário para a
função de doméstica e outro salário correspondente à função de cuidadora.

Veja-se, portanto, que se tratam de dois contratos distintos e


concomitantes, sem conflito de horários, com funções diferentes bem definidas. Impugna-se
desde já o recebimento salarial no valor de R$3.000,00 tendo em vista que este valor está
somado os dois salários, referente à duas relações havidas, conforme demonstram os
comprovantes de pagamento em anexo, que a Autora recebia o valor de R$1.500,00 como
Doméstica e mais o complemento pela atividade de Cuidadora também no valor de R$.1500,00,
inexistindo verbas sem quitação ou em atraso. Como exposto, a Autora detinha duas relações
de funções diferentes com horários diferentes, e prestando serviço a pessoas diferentes.

Portanto, ainda que os contracheques em anexos reflitam a soma de


R$3.000,00, tal valor se referia à duas relações diferentes, sendo devidamente quitadas cada
uma das atividades exercidas pela Autora, sendo somados os valores apenas para facilitar a
contabilidade e pagamento, uma vez que eram extraídos do 1º Reclamado, pessoa que a
quem era destinado o serviço, e que figura como contratante em ambos os contratos.

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Inexiste qualquer nulidade quanto aos contratos havidos com funções
distintas, com horários que não se conflitam, sendo plenamente viável a contratação da
obreira na forma procedida. Tanto é que a Autora poderia deixar de exercer uma das funções
alegadas, sem prejudicar a outra, podendo inclusive ter a opção de continuar com um ou com
outro contrato, não sendo um vinculado ao outro em suposta unicidade.

Neste diapasão:

Unicidade contratual. Jornada de trabalho. Horas extras. Fraude não


verificada. Não há óbice para a coexistência de dois contratos de
trabalho com o mesmo empregador, notadamente quando envolvem
funções distintas em cada um deles e há compatibilidade de horário.
Inexistência de prova de fraude que invalide a coexistência de
contratos simultâneos. Recurso do autor a que se nega provimento, nesse
ponto. TRT-2 10015029420195020038 SP, Relator: EDUARDO DE
AZEVEDO SILVA, 11ª Turma - Cadeira 4, Data de Publicação: 22/03/2022)

Não há que se falar, portanto, em acúmulo/desvio funcional,


tampouco na quitação de horas extras excedentes, querendo fazer crer a Autora que se trata
de unicidade contratual, tendo em vista que ela recebeu corretamente os valores combinados
durante todo o período contratual, para ambos os contratos.

Impugna-se desde já a argumentação de que a Autora teria sido


“compelida” a exercer funções de cuidadora de idosos, tendo em vista que jamais foi
obrigada a fazer qualquer coisa. A própria Autora foi quem se ofereceu para pernoitar na
residência, a fim de acompanhar a sra. IRACILDA, que como mencionado na inicial, trata-se
de idosa de avançada idade, portadora de câncer cerebral.

Contesta-se também a alegação de que a obreira teria que cuidar do sr.


PAULO BERNADI, filho do sr. ANTONIO, irmão das demais corrés MARA e SILVIA, visto
que, ainda que ele seja paraplégico, tem plena consciência e lucidez, não necessitando dos
auxílios da Autora como cuidadora, apenas vindo argumentar tal situação em evidente má-
fé, se aproveitando da situação do sr. PAULO para querer ensejar uma função que jamais
existiu.

Não há qualquer vedação legal de celebração de contratos de trabalho


simultâneos com o mesmo empregador, em horários distintos, como alegado pela própria
Reclamante, bem como para funções completamente diversas, e enquadradas em categorias
distintas, com pagamentos e contratos de trabalho distintos, não há que se falar, portanto, em
horas extras e acúmulo funcional, vez que a pretensão não encontra guarida nos artigos 58 e
59 da CLT e 7º, XII da CF.

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Em 13/11/2019 a Autora solicitou um empréstimo ao Reclamado
ANTONIO, no valor de R$10.000,00 para lhe ajudar com dívidas pendentes e compras que
alegou estar necessitada, sendo que de boa-fé e no espírito de confiança, foi concedido pelo
Reclamado, sendo combinado para descontar do salário da Reclamante o valor de R$2.000,00
por mês, onde ela iria quitando aos poucos de forma parcelada ao longo do período
contratual.

Foi então solicitado pelo Reclamado que formalizassem o entabulado,


sendo emitido o respectivo Recibo devidamente assinado pela Autora e emitida Nota
promissória, na mesma data mencionada de 13/11/2019, conforme se observa dos
documentos anexos:

É evidente que não houve qualquer coação na forma exposta na inicial,


tendo em vista que partiu da própria obreira o pedido de empréstimo, inexistindo qualquer
vício de consentimento no sentido de ser nula a vontade da Autora.

A partir de então, foram descontados do salário da Autora esses


valores, sendo que em 05/02/2020 ela veio a pedir demissão de forma livre e espontânea,
sendo descontado de seu acerto os valores pendentes, justamente porque não terminou de
quitar o empréstimo tomado com o sr. ANTONIO.

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Extrai-se que a parte Autora, no ato do seu pedido de demissão, restou
em débito perante o Reclamado sr. ANTONIO no valor de R$4.000,00 oriundos do
empréstimo entabulado, mais R$300,00 que foram adiantados para a Autora para compra um
forno, conforme será devidamente provado, e mais desconto de 2 dias de falta em
janeiro/2020, abatendo-se o crédito de R$1.270,00 referente as verbas rescisórias de 13º salário
proporcional, férias +1/3 proporcionais, FGTS e saldo salarial, restando a diferença da dívida
gerada pela Autora no montante final de R$2.730,00.

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Assim, restam valores pendentes em aberto a serem quitados pela
Reclamante, motivo pelo qual também maneja-se a Reconvenção no presente feito,
devidamente fundamentada em tópico apartado no bojo da presente peça.

Quanto ao alegado assédio moral, narra a Autora uma versão


fantasiosa dos fatos quanto ao exercício da função de Conselheira Tutelar da Reclamada sra.
SILVIA no que diz respeito à atuação em um caso de acolhimento de crianças em situação
vulnerável, filhos dos citados srs. DONIZETE e MONICA. Conforme será melhor impugnar
em tópico específico, não merece guarida a pretensão obreira, tendo em vista que referida
Reclamada apenas estava no exercício regular de sua função, inclusive com autorização
judicial e da promotoria, existindo o cumprimento de um devido processo legal, não
podendo ser interpretada como suposta perseguição ou represália à Reclamante.

Em suma, a Autora apenas mostra a parte que lhe convém da relação


havida, sendo que a todo momento o Reclamado sr. ANTONIO sempre manteve um bom
relacionamento com a Autora, acolhendo-a na residência, sempre buscando auxiliá-la nas
intempéries da vida, tanto é que houve um empréstimo de grande monta que foi concedido
à Reclamante logo no início do lapso contratual.

O que se extrai da presente demanda é que a Autora ficou aborrecida


com a situação relatada de apoio à família vulnerável que teve suas crianças recolhidas pelo
Conselho Tutelar, e quer atribuir tal acontecimento à alguma atitude da Reclamada sra.
SILVIA, mas que em verdade não possui razão de pleitear as verbas e os supostos danos
narrados na exordial, pois trata-se meramente de uma condição pessoal de desgosto da
Autora para com a situação havida.

Portanto, conforme se verá durante a instrução probatória, o presente


feito não comporta a versão dada pela parte Autora, pelo que passam os Reclamados a
impugnar os pedidos de forma específica, suscitando preliminares e adentrando ao mérito
conforme passa a expor.

2. DA IMPUGNAÇÃO À JUSTIÇA GRATUITA

Dispõe o CPC, em seu artigo 337, XIII:

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


[...]
XIII – indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.

Atualmente, a simples afirmação de miserabilidade jurídica não basta


para o deferimento da assistência judiciária gratuita. Revogada foi à presunção de pobreza
anteriormente estabelecida em lei ordinária. Sendo que, a Constituição Federal, mais

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precisamente em seu artigo 5º, inciso LXXIV, determina que, “O Estado prestará assistência
judiciária e integral gratuita aos que comprovarem a insuficiência de recursos”. Neste sentido, o §4º
do artigo 790, da CLT, incluído pela Lei nº. 13.467/2017, prevê:

Art. 790. [...]


§ 4o O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar
insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo. (g.n.)

No presente caso, a Reclamante não comprova que não pode custear o


processo sem que haja prejuízo de sua subsistência, motivo pelo qual requer a rejeição do
pedido de concessão das benesses da Assistência Judiciária Gratuita.

3. DA AUSÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO

A Reclamante suscita a existência de vínculo empregatício com a


Reclamada, porém, a exordial não trouxe nenhum adminículo probatório que conforte suas
alegações e também não se desincumbirá deste ônus até o final da ação.

Aduz a Autora que fora contratada pela Reclamada para trabalhar na


função de doméstica e cuidadora de 08/04/2019 a 05/02/2020, de modo que pugna pelo
reconhecimento da suposta relação de emprego entre as partes.

Impugna-se a pretensão. Desde o início da prestação de serviços, a


Reclamante nunca foi obrigada a comparecer diariamente, tanto que ela mesma comunicava
quando queria e quando seria possível o seu comparecimento para a eventual prestação de
serviço, e nos dias que optava por não comparecer, jamais existiu qualquer penalidade ou
medida disciplinar adotada.

Assim sendo, pelo princípio da distribuição do ônus da prova, atribui-


se a Reclamante o encargo de provar os fatos constitutivos do seu direito, correspondente a
pretensão deduzida em juízo, ante os termos do art. 818 da CLT.

É cediço que para a relação configurar-se de emprego, há de ser intuito


personae, de caráter não eventual; com subordinação, que se traduz pelo poder diretivo do
empregador, e mediante contraprestação. Ausente qualquer um dos elementos
constituidores do vínculo de emprego, resta afastada a possibilidade jurídica de sua
caracterização. No caso em comento não se vislumbra nenhum dos requisitos acima
mencionados.

Nunca houve o trabalho fixo e mensal, o que havia era prestação de


serviços de forma eventual. Jamais houve subordinação, eis que a Reclamante não recebia

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ordens, não cumpria horário e sequer prestava contas de seus afazeres para a ora contestante
motivo pelo qual requer a improcedência da ação por negativa de vínculo.

No caso deste d. Juízo entender pela existência do vínculo de emprego,


o que não esperamos e, em respeito ao princípio da eventualidade e da impugnação
especificada, passaremos a impugnar os demais pleitos da reclamante.

4. DA ILEGITIMIDADE PASSIVA DA 2ª E 3ª RECLAMADAS

Extrai-se da inicial que foram incluídas as pessoas físicas de SILVIA


REGINA BERNARDI CALLEGARI e MARA LUCIA BERNARDI GIL, 2ª e 3ª Reclamadas
respectivamente. No entanto, não se sustenta a fundamentação quanto à elas serem
efetivamente empregadoras da parte Autora.

Em verdade, a Autora foi contratada apenas pelo sr. ANTONIO, sendo


que suas filhas, demais corrés, sras. MARA e SILVIA, apenas o auxiliavam na gestão da casa
e das finanças, não existindo relação entre a Autora e referidas Rés, mas tão somente com o
sr. ANTONIO, a quem era prestado o serviço.

Em verdade, a Autora pretende ver reconhecido o liame empregatício


com o 1º Reclamado sr. ANTONIO, pessoa da qual supostamente se beneficiava dos
préstimos da Autora, no entanto, quer fazer recair os pedidos elencados na presente
demanda sobre as demais corrés, que não participaram da relação exposta na inicial.

Desta forma, as 2ª e 3ª Contestantes são partes ilegítimas para figurar


na demanda, restando carente a ação do Reclamante em relação à mesma, motivo pelo qual
requer sua exclusão do polo passivo da presente Reclamatória Trabalhista.

Portanto, eventual vínculo trabalhista jamais poderia ser estendido à


2ª e 3ª Reclamadas, na medida em que não podem ser consideradas como empregadoras,
segundo regra prevista no art. 2º da CLT, in verbis:

“Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que,


assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a
prestação pessoal de serviço.”

Desta forma, pugna-se pelo reconhecimento da ilegitimidade passiva


ad causam das Reclamadas SILVIA e MARA, tendo em vista que não há qualquer amparo
fático quanto a elas, carecendo de causa de pedir, extinguindo-se o feito sem resolução do
mérito pela ilegitimidade passiva ad causam.

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5. DA CARÊNCIA DE AÇÃO COM RELAÇÃO AO PRETENDIDO VÍNCULO DE
CUIDADORA

A Autora postula o reconhecimento da função de Cuidadora, expondo


que trabalhava dia-sim, e dia-não, em horário noturno para os Reclamados. Todavia, cumpre
impugnar o pleito, haja vista que a inicial se baseia numa prestação de serviços à pessoas que
estranhas aos autos, atraindo a carência de ação com relação ao pretendido liame de
cuidadora.

O alegado pela Reclamante traz que seus afazeres eram direcionados


às pessoas de IRACILDA e PAULO, esposa e filho do 1º Reclamada respectivamente, sendo
que tais pessoas não estão incluídas no polo passivo da presente demanda, devendo ser
rejeitada a pretensão de vínculo e acúmulo funcional quanto à atividade de cuidadora,
conforme se extrai da inicial:

Esclarece a Atora que além do sr. Antônio, a mesma exercia suas atividades
laborais de cuidadora também da esposa do Reclamado sra. Iracilda, além
de dar assistência ao filho do casal sr. Paulo com tetra paralisia.
[...]
Na realidade, foi compelida pelos reclamados a exercer as funções contratuais
de cuidadora de idosos, tanto do Sr. Antônio Bernardi Netto quanto de sua
esposa Sra. Iracilda Bernardi e ainda, também cuidar do filho do casal
Paulo Bernardi que possui lesão de extrema limitação motora (tetraplégico),
o qual necessita de inúmeros cuidados, cumulativamente, com as funções de
trabalhadora domestica na residência do casal Antônio e Iracilda Bernardi,
sendo que, ainda assim, era determinado a mesma cozinhar para o casal e para
o Filho Paulo, bem como, limpar a casa, banheiros, lavar e passar roupas do
casal e filho.
Esclarece a Autora que o filho do casal Sr. Paulo Bernardi, reside sozinho
em uma residência aos fundos da casa dos pais Antônio Bernardi e Iracilda
Bernardi, sendo que a mesma, constantemente se dirigia até a residência do
Sr. Paulo para auxiliar nas transferências do mesmo da cadeira de rodas para
maca e maca para a cadeira de rodas, assim como, o auxiliava com as refeições.

Em razão do exposto, requer-se a Vossa Excelência julgue o presente


feito extinto sem julgamento do mérito, nos termos do artigo 485, inciso VI, do CPC, aplicado
subsidiariamente, face à ausência de interesse processual.

6. DA AUSÊNCIA DE DESVIO/ACÚMULO DE FUNÇÕES

Narra a Reclamante que teria sido contratada para trabalhar como


empregada doméstica mas que também se ativava na função de cuidadora durante todo o

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período alegado, sem receber a remuneração devida, requerendo o pagamento de acréscimo
no valor de 20% sobre o salário.

O pedido é improcedente. Impugna-se.

Conforme exposto, a Autora se ativava em horários diferentes, já tendo


sido quitada a contraprestação pelos serviços exercidos, constituindo-se dois contratos
distintos e concomitantes. Quando ela se ativava como doméstica, era apenas doméstica,
recebendo o valor de R$1.500,00 para tanto, e as noites intercaladas que se ativava como
cuidadora também recebia o seu pagamento no mesmo montante, não havendo qualquer
pendência a ser paga.

Além disso, o mero desempenho de pequenas atividades estranhas à


função contratada descaracteriza o pedido de acúmulo de funções, porquanto o contrato de
trabalho não pode ser considerado estático e o trabalhador, diante das inúmeras mudanças
nas rotinas laborais, geralmente, se mostra apto a executar outras tarefas para garantir a
continuidade na prestação dos serviços, todavia, nunca exerceu de forma habitual a função
de cuidadora.

Ademais, o ônus de comprovar o desvio de função compete


exclusivamente a Reclamante. A pretensão Autoral é completamente absurda e
desarrazoada. Isto porque o pedido em comento aparentemente não contempla situações
típicas a amparar genuína hipótese de acúmulo de funções.

Observa-se, portanto, que a Reclamante sempre atuou nos limites de


suas funções sendo que em momento algum exerceu atribuições inerentes a outro cargo de
forma acumulada.

Saliente-se que é ônus da Reclamante provar que exercia funções


diversas daquelas inerentes ao cargo para o qual foi formalmente contratado, conforme as
regras de distribuição do ônus da prova, ônus do qual não se desvencilhou.

Repita-se, todas as atividades exercidas pela Autora no curso do


contrato de trabalho sempre foram inerentes ao cargo por ela exercido e compatíveis com a
situação pessoal da mesma, o que não tem sido vedado pela legislação.

Diante do exposto, não há que se falar em diferenças salariais, pelo que


deve o pleito ser fadado à improcedência, sobretudo porque a narração do pedido na exordial
não contempla hipótese típica de acúmulo de funções.

Além disso, importante salientar que o espírito de cooperação e


solidariedade deve nortear o contrato de emprego, sendo que eventual atuação da

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Reclamante além das suas atribuições estava dentro dos limites de sua jornada e não exigiam
formação específica. De modo que o obreiro agiu dentro da sua condição pessoal, nos termos
do art. 456, da CLT.

Vale dizer que a simples variação de tarefas dentro da jornada,


compatíveis com a função exercida e com as condições pessoais do empregado afastam o
reconhecimento de desvio de função e de pagamento de diferenças salariais.

Impende ainda registrar que a Reclamante, desde o início do contrato


de trabalho, sempre soube quais seriam as atividades por ela desempenhadas, sendo que não
se configura à hipótese, alteração prejudicial das condições de trabalho inicialmente
contratadas.

Ainda, o desvio de função para restar caracterizado deve preencher o


requisito da habitualidade, sendo que a Reclamante sequer aponta com que frequência
exercia as alegadas atividades. Portanto, pugna a Reclamada pelo indeferimento da
pretensão de desvio funcional, e por consequência, improcedem também os reflexos.

7. DA REMUNERAÇÃO E REFEIÇÕES – SUPOSTO SALÁRIO “IN NATURA”

Alega a Autora que deve ser reconhecido salário “in natura” referente
o café e almoço tomado por ela na residência do Reclamado, pretendendo conferir natureza
salarial. No entanto, impugna-se o pedido, tendo em vista que se mostra inepto ante a
indicação de valores condizentes com a pretensão.

Para que um benefício seja considerado salário in natura, vindo a


integrar a remuneração do trabalhador, dois requisitos essenciais devem estar presentes: o
primeiro diz respeito à habitualidade no fornecimento da utilidade; já o segundo será o
caráter “contraprestativo”, por força do qual a vantagem deve ser fornecida pelo trabalho (ou
seja, como retribuição pelo trabalho) e não para o trabalho (ou seja, possibilitando ao
trabalhador exercer suas funções com mais eficiência).

As refeições eram feitas pela obreira por sua livre e espontânea


vontade, sendo que poderia ela tomar seu tempo de intervalo para fazer sua refeição em
outro lugar. Todavia, logicamente se mostrou muito mais fácil para ela almoçar e comer na
própria residência dos Reclamados, sendo uma questão de contribuição para com o trabalho
exercido pela Autora.

Neste diapasão:

Se a utilidade é fornecida visando a conferir maior eficiência à


prestação de serviços, afasta-se o caráter retributivo inerente ao

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salário in natura, descaracterizando-se a sua natureza remuneratória.
As -utilidades- fornecidas pelas reclamadas propiciaram ao reclamante
condições mais confortáveis para realizar o seu trabalho, ou seja,
constituíam um meio necessário ou conveniente para a execução dos
serviços e não um rendimento proveniente daquele trabalho. Logo, não
haveria como vislumbrar conteúdo salarial naquelas utilidades - -café-da-
manhã-, -almoço- e -janta- - fornecidas pelo empregador. (TRT-1 - RO:
00595008420085010059 RJ, Relator: Roque Lucarelli Dattoli, Data de
Julgamento: 04/12/2018, Oitava Turma, Data de Publicação: 05/07/2021)

Neste sentido, inviável o deferimento do pedido de salário in natura,


tendo em vista que apenas era concedido, deixando disponível a opção para a obreira
também se alimentar junto dos Reclamados, sem qualquer óbice quanto a isso, não podendo
ser interpretada como natureza salarial ante o caráter benéfico e contributivo da medida.

Requer, assim, a improcedência do pedido integração salarial do café


e almoço usufruídos pela Autora e reflexos.

8. DA JORNADA
- HORAS EXTRAS
- INTERVALOS
- ADICIONAL NOTURNO

Aduz a Reclamante que trabalhava das 7h às 16h30min/17h, com 10


minutos de intervalo para refeição, de segunda à sexta e sábados das 7h às 15h, com intervalo
de 5minutos, tendo trabalhado em domingos e feriados, nas mesmas jornadas. Alega também
que a partir de 16/10/2019 teria iniciado a trabalhar como cuidadora no período noturno das
18h30min às 7h do outro dia, intercalando dia-sim e dia-não.

Dessa forma, visa receber o pagamento salarial referente à


extrapolação da jornada ordinária de 08h nos dias de semana e de 04h aos sábados em
conjunto com DSR a que tem direito. Porém, diferentemente do pincelado na peça exordial,
não houve violação da jornada diária e semanal, tendo em vista a existência de dois contratos
distintos, não sendo considerada uma única jornada de trabalho, visto que uma era de
doméstica e outra de cuidadora, não sendo possível cumular estas duas jornadas em funções
distintas e em horários de trabalho distintos.

A Autora cumpria jornada semanal de 44h, como doméstica entrando


as 7h/7h30min e finalizando sua jornada às 16h/16h30, com 1h30 de intervalo intrajornada,
de segunda à sexta e sábados das 7h às 11h sem intervalo, sua folga recaía aos domingos –
impugna-se a alegação de ter trabalhado aos domingos e feriados visto que nunca se ativou

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nestes dias. No outro contrato havido como cuidadora/acompanhante, entrava as 21h,
dormia na residência dos Reclamados, e saía às 6h.

Nesse sentido, considerando que a Reclamante cumpria suas


atividades eventuais dentro desse período, cai por terra a pretensão autoral relativa às horas
extras, eis que não houve labor sobrejornada.

De outra banda, ad argumentandum, vale suscitar a dispensabilidade do


registro e controle da jornada de obreiros pela Reclamada, pois consiste em estabelecimento
de pequeno porte com menos de 20 (vinte) empregados, sendo ainda afastada a presunção
de veracidade da jornada narrada na inicial, invertendo o ônus probatório à parte Autora.

In casu, a Reclamante postula condenação ao pagamento de supostas


horas extras, se limitando a meras alegações tênues sem respaldo fático-jurídico, porquanto
sequer comprovou fato constitutivo de seu direito ou produziu provas favoráveis ao seu
pleito, e mesmo que houvessem cartões pontos a serem juntados, não seria apta a impugná-
los. Ora, é cediça a máxima jurídica de que alegar e não provar é equivalente à não alegar,
devendo prevalecer a tese Ré desconstitutiva para lograr o indeferimento nos moldes retro
versados.

Assim, não restando cabalmente comprovado labor extra sem a devida


compensação, impõe-se a improcedência do pedido, devendo, portanto, ser declarada a
jornada laboral conforme exposto acima. Ademais, cumpre ressaltar que deve ser observado
o limite do pedido, consubstanciado no limite da jornada trazido na inicial.

Ademais, pequenas extrapolações de poucos minutos eram destinadas


à arrumação dos pertences do Reclamante, não podendo ser computadas na jornada da ex-
obreiro, a teor do art. 58, § 1º da CLT e inteligência do Enunciado 366 do TST.

No mesmo diapasão, também merece improceder o pedido de


pagamento do DSR laborado sobre todas as horas extras, visto que já estão devidamente
quitados ao longo da prestação laboral.

Contesta-se de igual forma o pedido de pagamento em dobro dos


domingos e feriados, pois, como dito acima, a folga da obreira recaía aos domingos, não
havendo diferenças de horas extras a este título. Os feriados também foram quitados de
forma correta ao longo da prestação laboral, impugna-se.

Por fim, tendo em vista a inexistência de diferenças de horas extras em


favor da Autora, improcedem os reflexos em RSR e esses em aviso prévio, férias + 1/3,
trezenos, FGTS, tendo em vista que, como acessórios, seguem a sorte do principal, pugnando-
se pela improcedência de todos os pedidos relativos à jornada.

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Os intervalos sempre foram concedidos integralmente, de modo a
improceder o pedido, vez que a Autora sempre gozou do intervalo mínimo. Sendo assim,
não prospera a alegação de que a Reclamante não teria usufruído intervalo para refeição e
descanso, inexistindo horas extras a esse título.

Ante o exposto, tendo em vista a integral concessão do intervalo


intrajornada, inexiste qualquer diferença de horas extras nesse sentido, devendo ser rejeitado
o pedido de condenação também com relação aos reflexos em DSR, férias +1/3, 13º salário,
FGTS +40%.

9. DO INEXISTENTE ASSÉDIO MORAL

Impugna-se o quadro fático narrado na inicial, pois, conforme já


exposto, não houve qualquer assédio moral perpetrado pelos Reclamados, que sempre
confiaram e prestaram todo auxílio à Autora.

Não há que se falar em indenização visto que a Reclamada sra. SILVIA


apenas estava cumprindo com sua função de Conselheira Tutelar, não havendo uma razão
particular ou pessoal para querer ofender ou assediar a obreira ao fazer o resgate de crianças
em situação vulnerável, mediante a concessão de ordem judicial, a pedido da promotoria de
Mandaguaçu-PR.

Melhor esclarecendo, a sra. MONICA e o sr. DONIZETE deixaram


abandonadas 4 crianças, seus filhos MARIA VITÓRIA de 8 anos, BIANCA de 6 anos,
EMANUELLE de 5 anos e MARCELA de 3 anos – sem qualquer supervisão ou cuidados,
sendo que referidos genitores saíam para realizar afazeres e acabavam por ser distrair
deixando os filhos em casa, configurando, inclusive a incidência da aplicação da lei penal,
ante o indício de cometimento de crime.

É o que se verifica dos Autos de Medida de Proteção nº 0003225-


13.2019.8.16.0108 que tramitou perante o d. Juízo de Mandaguaçu-PR, do qual encontra-se
em segredo de justiça, motivo pelo qual requer a expedição de ofício para aquele foro, a fim
de que seja apresentada cópia da íntegra dos autos como prova emprestada. Sucessivamente,
caso não seja o entendimento pela expedição de ofícios, requer então, a concessão do prazo
para juntada de documentação complementar, no qual os Reclamados buscarão diligenciar a
cópia de referidos autos, para melhor dirimir as questões fáticas do presente feito.

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Nenhuma das circunstâncias descritas na exordial quer por si ou em
conjunto, não tem o condão de determinar a indenização de tal jaez, levando a concluir pela
ilicitude e improcedência da pretensão ao recebimento de indenização dos danos morais, sob
qualquer prisma elencado na inicial.

Inobstante a tal fato, acrescente-se, que o Reclamante, além de não ter


demonstrado um nexo causal, sequer demonstrou o motivo pelo qual é devida indenização
pelo dano moral, uma vez que nunca ocorrem os fatos alegados na inicial.

Ora, Excelência, o Reclamante não sentiu qualquer dor moral que


pudesse ensejar uma indenização, e as pessoas as quais a Reclamante estava subordinada não
fizeram qualquer ofensa moral ou física, mais uma vez, improcede seu pleito.

Contesta-se a pretensão, uma vez que improcede o pedido de danos


morais, que está mais uma vez comprovando o verdadeiro abuso que se tem visto em
pedidos desta natureza.

E, pelo que foi retro exposto, constatamos a total impossibilidade de a


Reclamante ver-se ressarcida em pecúnia, por uma inexistente ilicitude ou danos. Assim, por
todo o exposto, entende as Reclamadas que não houve ofensa a moral, não tendo havido o
indigitado DANO, motivo que leva a total improcedência do pleito indenizatório.

Repisa-se, o instituto do dano moral surgiu para reprimir as atitudes


que causem um verdadeiro prejuízo para a parte ofendida, no sentido de abalar sua
reputação, honra, sofrimento e diminuindo ou privando a integridade individual, causando
dor, tristeza. A obrigação de indenizar decorre da existência da violação e do dano
concomitantemente, fatores estes inexistentes na hipótese em apreço. Por todas essas razões
é que as Reclamadas não infringiram o disposto nos artigos 186 e 927, do Código Civil.

Assim, tem-se que descabe a condenação em danos morais e se, ad


argumentandum, coubesse, o deferimento não poderia seguir a linha traçada pela Reclamante.
A fixação, urge repetir, se fará de forma ponderada de modo a vedar o enriquecimento ilícito.

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Portanto, é preciso redobrado cuidado para que não quede o julgador
ante as lamúrias infundadas e situações engendradas e defira quantias exorbitantes em favor
de quem não se faz merecedor. Destarte, não há que se falar em reparação por dano moral
e/ou existencial, restando improcedentes os pedidos elencados na peça exordial.

10. DAS VERBAS RESCISÓRIAS


- INEXISTÊNCIA DE DEMISSÃO SEM JUSTA CAUSA

Como já aduzido, as Reclamadas jamais deram ensejo para


configuração de ato ilícito apto a extinguir o liame empregatício por falta grave. Assim, a
Reclamante optou pela rescisão contratual quando não mais retornou ao trabalho, revelando
seu desinteresse na continuidade da relação com as Reclamadas, cessando a partir dali o
vínculo empregatício por vontade exclusiva da Reclamante, sem qualquer vício, coação ou
cometimento de qualquer falta pelas Reclamadas.

Desta forma, uma vez que a Reclamante manifestou desinteresse na


manutenção do contrato de trabalho, tem-se que partiu dela própria a iniciativa de romper o
vínculo empregatício, não há que se falar, portanto em rescisão indireta do contrato de
trabalho motivada por falta das Reclamadas.

No caso dos autos, cabe à Autora a prova da justa causa cometida pelas
empregadoras, por se tratar de fato impeditivo do direito vindicado, a teor do art. 818, da
CLT e do art. 373, II, do CPC e em observância ao princípio da continuidade da relação
empregatícia.

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Isso porque a hipótese de rescisão indireta consubstanciada no art. 483,
"d", da CLT, apenas se configura com a prova contundente de que as empregadoras
descumpriram obrigações decorrentes do liame empregatício que impossibilitam a
continuidade da prestação de serviços, ante a quebra da confiança que permeia o contrato de
trabalho, situação que não ficou configurada nos autos.

O que se nota, é que a Reclamante pretende se desligar das Reclamadas


por sua livre e espontânea vontade, mas agora quer se beneficiar da demissão sem justa
causa. Assim, não há que se falar em rescisão indireta do contrato de trabalho.

Não houve qualquer irregularidade; descumprimento contratual ou


fato outro que enseje a rescisão contratual, de modo que os episódios narrados na inicial não
correspondem com a realidade.

Desta feita, pugna-se pelo indeferimento do pedido de rescisão


indireta, sendo rejeitados, por conseguinte, a pretensão de pagamento das verbas rescisórias
de aviso-prévio, 13º salário; férias vencidas + 1/3 constitucional; férias simples e
proporcionais + 1/3 constitucional; depósitos de FGTS de 8% sobre o salário, multa de 40%
sobre os depósitos do FGTS; entrega das guias para levantamento do FGTS; entrega da guia
de seguro-desemprego ou indenização substitutiva nos termos da súmula 389, TST.

11. DO FGTS E MULTA DE 40%

Não há qualquer verba a ser quitada pelas Reclamadas a título de


recolhimento fundiário, vez que os depósitos foram quitados na rescisão, e tendo em vista
que a Reclamante foi quem pediu sua demissão, não faz jus à liberação e saque do FGTS
tampouco o adimplemento de sua multa de 40%, sendo que a causa de desligamento restará
inalterada não há em se falar em tal verba.

12. DAS MULTAS DOS ARTIGOS 467 E 477 DA CLT

Inaplicável o art. 467 da CLT, bem como o acréscimo de 50% sobre as


verbas rescisórias (Lei 10.272/ 2001), eis que todas as verbas ora postuladas são, no mínimo,
controversas.

Também indevida a multa do art. 477, §8º da CLT, haja vista a


inexistência de verbas rescisórias quitadas de forma intempestiva que pudesse dar respaldo
ao deferimento da penalidade, sendo esta inaplicável em decorrência de eventuais diferenças
reconhecidas em decisão judicial.

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13. DA CONCESSÃO DE JUSTIÇA GRATUITA AOS RECLAMADOS

As Reclamadas não reúnem condições financeiras que permitam arcar


com as custas processuais sem o prejuízo de seu sustento e de sua família, fazendo jus, por
isso, ao benefício da Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da Lei 1060/1950. Destaca-se
que há entendimento no Egrégio Tribunal Regional da Quarta Região no sentido de que a
declaração de hipossuficiência econômica dispensa prova quando realizada por pessoa física,
firma individual ou microempresa, sempre sob as penas da lei.

Mas, segundo o art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal, e o artigo 2º


da Lei 1060/50, a gratuidade independente de a Requerente ser pessoa física ou jurídica,
empregado ou empregador. Esta questão está pacificada no TST e também no STJ, pois este
inclusive aprovou o enunciado da Súmula 481: "Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa
jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos
processuais". No CPC vigente, da mesma forma, no seu art. 98 foi assegurado o direito de
gratuidade processual também à pessoa jurídica, nada mais justo se aplicar também as
Reclamadas, pessoa física.

Com relação à Reclamada SILVIA extrai-se que a mesma recebe o


salário bruto de R$1.733,65 na função de Conselheira Tutelar, motivo pelo qual faz jus à justiça
gratuita.

Portanto, atualmente não aufere renda que lhe permita arcar com as
custas processuais sem o prejuízo do sustento da família, fazendo jus, por isso, ao benefício
da Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da Lei 1060/1950. Destarte, não obstante os
fundamentos até o momento aduzidos conduzirem à improcedência dos pedidos iniciais,
requer a concessão do benefício da Assistência Judiciária Gratuita, para isentar o Contestante
de toda e qualquer custas, honorários e despesas diversas do processo.

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14. DA RECONVENÇÃO

A parte Autora não quitou até a presente data o seu débito perante os
Reclamados, devendo neste momento ser compelida a efetuar o pagamento do valor
remanescente do empréstimo realizado que resta em aberto.

Conforme exposto, Em 13/11/2019 a Autora solicitou um empréstimo


ao Reclamado ANTONIO, no valor de R$10.000,00 para lhe ajudar com dívidas pendentes e
compras que alegou estar necessitada, sendo que de boa-fé e no espírito de confiança, foi
concedido pelo Reclamado, sendo combinado para descontar do salário da Reclamante o
valor de R$2.000,00 por mês, onde ela iria quitando aos poucos de forma parcelada ao longo
do período contratual.

A partir de então, foram descontados do salário da Autora esses


valores, sendo que em 05/02/2020 ela veio a pedir demissão de forma livre e espontânea,
sendo descontado de seu acerto os valores pendentes, justamente porque não terminou de
quitar o empréstimo tomado com o sr. ANTONIO, restando em débito o valor de R$2.730,00.

Assim, restam valores pendentes em aberto a serem quitados pela


Reclamante, motivo pelo qual também maneja-se a Reconvenção no presente feito. Inclusive,
a Autora emitiu outra nota promissória na data do pedido de demissão, reconhecendo a
dívida gerada que ainda permanece sem quitação, conforme se denota:

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Assim, totalmente possível a reconvenção no presente feito, vez que a
Autora assinou nota promissória reconhecendo a dívida no ato de sua rescisão, que restou
negativa. Nesta diapasão, a jurisprudência corrobora a versão dos Reclamados:

NOTA PROMISSÓRIA EM FAVOR DA RECLAMADA. FRAUDE. ÔNUS


PROBATÓRIO DE QUEM ALEGA. Os fatos narrados durante a instrução
processual pelo reclamante, a envolver título de crédito formalmente regular e
válido (nota promissória), revelando débito do reclamante em favor da ré,
negados pela reclamada, invertem o ônus probatório para si, encargo do qual não se
desincumbiu, inexistindo amparo legal à reforma da sentença que o condenou,
em reconvenção, ao pagamento do valor do título. (TRT-1 - RO:
00106702520135010023 RJ, Relator: CELIO JUACABA CAVALCANTE, Data de
Julgamento: 25/11/2015, Décima Turma, Data de Publicação: 04/05/2016)

INDENIZAÇÃO POSTULADA EM RECONVENÇÃO - EMPRÉSTIMO


PREVISTO EM NOTA PROMISSÓRIA - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO
TRABALHO. - À luz do art. 114, VI, da CF/88, a Justiça do Trabalho é competente
para processar e julgar as ações de indenização "lato sensu" fundadas na existência
da relação de trabalho, com é o caso vertente, em que o Reclamante obteve
empréstimo em dinheiro do seu empregador, fornecendo, como garantia de
pagamento de sua dívida, notas promissórias, que estão sendo cobradas por
meio de reconvenção, em ação trabalhista. (TRT-3 - RO:
00121415120165030044 0012141-51.2016.5.03.0044, Relator: Convocada Maria
Cristina Diniz Caixeta, Terceira Turma)

E ainda, soma-se também no presente pleito o valor de R$730,00 a


título de “vale” que foi adiantado/emprestado na data de 19/12/2019 para a Autora fazer
compras pessoais para sua casa, sendo que este valor nunca foi debitado ou descontado de
seu salário ou do cálculo rescisório, também permanecendo em aberto, devendo nesta
oportunidade ser quitado, a fim de integrar o montante devido pela Autora aos Reclamados,
conforme se extrai:

Desta forma, requer o conhecimento da presente reconvenção para


condenar a Autora no pagamento do valor constante na nota promissória de R$2.730,00 mais

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o valor adiantado de R$730,00 a título de vale, resultando na soma total devida de R$3.460,00
(três mil, quatrocentos e sessenta reais), devidamente atualizados, vez que não quitados,
sendo que os documentos retratam de forma incontestável que a Reclamante é devedora,
inexistindo qualquer prova apta a desconstituir o título de crédito emitido ou torna-lo
ineficaz.

15. DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA

No caso de pedidos em que a Reclamante for sucumbente, surge-se a


referida obrigatoriedade de pagamento dos honorários advocatícios em favor do procurador
patronal. Em relação ao quantum, o §2.º do artigo 791-A da CLT estipula o percentual que o
juiz deve levar em conta. Diante do exposto, pugna-se a Reclamada pela condenação da
Reclamante ao pagamento de honorários advocatícios em favor do procurador da parte
contestante em valor a ser fixado por V. Excelência no caso de pedidos em que houve
sucumbência do Reclamante.

16. DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

A responsabilidade pelo pagamento das contribuições previdenciárias


é tanto do empregado quanto do empregador, de acordo com os artigos 195, incisos I e II, da
Constituição Federal, 11, parágrafo único, alíneas "a", "b" e "c", da Lei n.º 8.212/1991, não
havendo amparo legal no argumento de que cabe tão-somente ao reclamado porque omisso
no recolhimento do encargo oportunamente.

17. DA INDENIZAÇÃO RELATIVA AO IMPOSTO DE RENDA

No que tange ao imposto de renda, em razão de eventuais créditos


oriundos desta Reclamação Trabalhista, o imposto de renda a ser retido na fonte decorre de
imposição legal e não pode ser considerado como dano. O fato gerador do imposto ocorre no
momento em que é pago o crédito trabalhista tributável. Assim, não é cabível a indenização
postulada com fundamento na responsabilidade civil como pretende a parte autora. Até
porque, antes do trânsito em julgado, a parte autora tem uma expectativa de direito, não
havendo que se falar em qualquer recolhimento antes disto.

18. DA CORREÇÃO MONETÁRIA, INSS E IRRF

Na hipótese de procedência de algum pedido da presente reclamação


há de se considerar a correção monetária fazendo incidir o percentual de correção no mês em
que se torna exigível o salário (mês subsequente) e não no seu mês de referência. Deve ainda
se retida a parcela do parte autora dos encargos sociais (INSS) e fiscais (IR), pois cada parte
deve arcar com suas responsabilidades, requerendo seja o IR retido sobre a totalidade do
crédito, inclusive juros de mora.

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19. DA COMPENSAÇÃO – ABATIMENTO DE VERBAS PAGAS

Em caso de procedência da presente reclamação, ainda que parcial, a


ré requer sejam compensados os valores pagos sob os mesmos títulos, sob pena de bis in idem
e enriquecimento sem causa da obreira, vedado por nosso ordenamento jurídico.

20. DOS VALORES TRAZIDOS NA INICIAL

Excelência, em que pese todo o arrazoado trazido na inicial com a


indicação de valores que entende como devidos, vinculados a cada pleito, tais se encontram
impugnados e contestados haja vista que, a correta apuração de eventuais valores devidos só
se dará mediante apuração por perícia contábil a ser determinada na fase de execução e, em
obediência ao disposto no artigo 879, § 1º B da CLT.

21. DOS LIMITES DA LIDE

Requer que sejam observados os limites em que foi proposta a lide, em


respeito à interpretação restritiva que deve ser dada aos pedidos, tudo conforme disposto
nos artigos 141, 322 e 492 do CPC, de aplicação supletiva à legislação trabalhista, sob pena de
ocasionar julgamento ultra/extra-petita.

22. DOS PEDIDOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Declara o patrono da ré a autenticidade dos documentos juntados, nos


termos do artigo 830 da CLT.

No tocante as intimações, independentemente da cadeia de


substabelecimentos, requer que todas e quaisquer deste processo sejam feitas –
EXCLUSIVAMENTE - em nome de TADEU AUGUSTO GUIRRO - OAB/PR 64.421, sob pena
de nulidade do ato ou cerceamento de defesa.

Havendo necessidade de realização de audiência por


videoconfereência/telepresencial indica-se o email e telefone abaixo para envio de link:

 Email: controladoria@tagadvogados.com
 Fone/Whatsapp: (44)3031-9753

Ante todo o exposto, e com o protesto pela produção de todas as provas


em direito admitidas, notadamente no depoimento pessoal do Reclamante e oitiva de
testemunhas que comparecerão à audiência independente de intimação, julgando o presente

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feito pela TOTAL IMPROCEDÊNCIA dos pedidos formulados, manifestando-se assim
escorreita aplicação da lei e de justiça.

Nestes termos, pede deferimento.

De Maringá - PR, 04 de Março de 2022.

TADEU AUGUSTO GUIRRO


OAB/PR 64.421

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