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I - DOS FATOS
No dia 18 de março de 2019 o autor celebrou Contrato de Locação de Imóvel
Comercial com o réu, o qual encontrava-se renovado por prazo indeterminado. O local é sede
da empresa do requerente, onde funciona seu restaurante e de onde sai todo seu faturamento
para prover suas necessidades pessoais, bem como de sua família. O valor acordado para
pagamento do aluguel fora de R$ 3.633,00 (três mil seiscentos e trinta e três reais) os quais
deveriam ser pagos até o dia 20 de cada mês.
Diante de tal obrigação assumida contratualmente o autor sempre honrou
pontualmente e até mesmo antecipadamente com os pagamentos, valores estes comprovados
pelos documentos anexos.
Ocorre que desde o mês de março do corrente ano, com toda a situação gerada
pela pandemia do covid-19 vivida em escala mundial o Exequente vem enfrentando
dificuldades em manter seu estabelecimento aberto, visto que sua clientela diminuíra em
aproximadamente 80%.
Assim, não vendo outra alternativa, o demandante fechou as portas de seu
estabelecimento no fim do mês de março visto que: 1) Não estava conseguindo honrar com os
pagamentos assumidos com os empregados e pela falta de clientela não viu vantagem em
deixar os mesmos trabalhando; 2) Preferiu optar pela suspensão do contrato de trabalho de
todos, visto que têm famílias que dependem do valor para o sustento, uma vez esse que não
conseguiu adimplir com os salários; 3) Em caso de suspensão os empregados conseguiriam
auxílio do governo e de alguma forma, mesmo sem realizar os pagamentos, conseguiria ajuda-
los na medida do possível.
Logo após do fechamento do restaurante o autor optou por ir até sua cidade natal
buscar auxílio financeiro e psicológico, visto que é natural da cidade de São Paulo-SP e antes
disso conversou com o locador do imóvel a fim de deixar todas as pendências acertadas.
Depois de muita conversa e muitas explicações a ré e seu esposo aceitaram que durante a crise
da pandemia o valor do aluguel diminuísse para R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais)
mensais, visto que é de notório saber a atual situação financeira que o país e do mundo no
período do covid-19, bem como que o valor do aluguel em atraso seria pago aos poucos
juntamente com o pagamento mensal.
Após acertados, o esposo da ré entregou o novo contrato em mãos para que o
demandante assinasse, concordando com a redução do valor do aluguel enquanto persistisse a
crise atual. Cumpre ressaltar que, também restou acordado entre ambos que depois que a
situação da pandemia passasse o valor voltaria ao que fora acordado no primeiro contrato.
Não obstante, depois de tudo acertado o autor viajou a fim de buscar auxílio
financeiro e emocional uma vez que sua família toda mora em São Paulo/SP. Dessa forma,
ficou cerca de 7 dias em viagem e logo resolveu retornar para que pudesse retomar as suas
atividades laborais reabrindo o restaurante, até para que as dívidas para com a ré fossem
sanadas, mas sua tentativa de retorno restou frustrada pois todas as linhas aéreas e
intermunicipais foram suspensas devido à paralização pela pandemia. O retorno aconteceu
apenas 40 dias depois, momento esse em que passagens passaram a ser disponibilizadas pela
liberação dos governos de São Paulo e Santa Catarina.
Ocorre que, logo após retornar o demandante fora surpreendido assim que chegou
no restaurante quando se deu conta que a energia e a água estavam cortadas e que grande
parte dos produtos que estavam na geladeira e no congelador tinham estragado. Diante disso,
quando foi até o local do restaurante onde ficavam as contas para pagamento notou que não
estavam mais onde foram deixadas e então em conversa com o filho da ré restou confirmado
que os papéis faltantes estavam com ele.
Cumpre ressaltar que a ré tem acesso ao interior do restaurante, vez que sua
residência faz confrontação com o imóvel e possuem as chaves e para terem pego tais coisas
era necessário adentrar no interior do imóvel.
Depois disso não conseguiram mais conversar amigavelmente, pois o filho da ré
afirmou que o autor não tinha mais a permissão de usar o imóvel caso continuasse
inadimplente mesmo o contrato de locação estando em vigência, sempre pressionando e
ameaçando de não deixar mais o exequente entrar no imóvel.
Diante de todo esse transtorno se passaram muitas semanas nessa situação, o autor
sem poder abrir seu estabelecimento por conta do corte sofrido e toda a pressão feita pela ré
para que realizasse o pagamento. Além disso, cumpre ressaltar que o autor fora surpreendido
quando várias pessoas da cidade, uma delas um dos frentistas do posto localizado em frente
ao imóvel, vieram lhe questionar sobre a situação aqui narrada. A maioria delas perguntavam
o porquê “ele estava se esquivando e fugindo do pagamento” e porque “deixou a dívida
chegar em R$ 15.000,00 (quinze mil reais)”.
Excelência, além de todo o transtorno causado pela pandemia e também pela ré o
requerente teve que passar por muitos constrangimento diante de várias pessoas tendo que
ouvir que estava “devendo e fugindo” do pagamento. Nota-se que a ré não satisfeita em lhe
coagir ao pagamento desligando as luzes e a água, também comentava sobre o assunto a cada
pessoa que encontrava, expondo o autor ao ridículo.
Depois de todo o narrado, buscando uma resolução para a situação o autor
chamou um eletricista a fim de verificar as instalações internas do local bem como investigar
se suas suspeitas tinham fundamento. Logo que o técnico subiu no forro percebeu muitas
pegadas recentes, muitas partes do forro desencaixadas (conforme fotos anexas) e também o
fio da luz elétrica cortado. Assim, informou ao autor que a luz tinha sido cortada pelo forro e
que todas as partes do teto que estavam estragadas somente poderiam ter ficado de tal forma
com alguém andando no local.
Assim, o autor solicitou que fosse religada a luz para voltar com o funcionamento
do seu estabelecimento visto que os contratos suspensos já haviam vencido e já estava
devendo salários aos seus empregados, mas em várias ocasiões fora ameaçado pela ré e seus
familiares de que não poderia mais abrir o restaurante, sendo ameaçado, inclusive, de ser
trocada a fechadura.
É de notório saber, excelência, toda a situação causada pela pandemia da COVID-
19. Essa situação excepcional trouxe consequências em nível mundial e não somente regional.
Diante disso, todos os ramos foram atingidos, mas principalmente aqueles estabelecimentos
que trabalham em horário noturno, como é o presente caso.
DA JUSTIÇA GRATUITA
II - DO DIREITO
No tocante a esse tópico, cumpre-nos o dever de enfatizar a base legal que torna
cabível a concessão de liminar:
Importante afirmar que a presente tutela tem nítido caráter inibitório, já que tem
por fim evitar o esbulho do imóvel da Requerente, por meio do reconhecimento da justa posse
e propriedade da Requerente e inexistência de motivos que ensejem o esbulho por meio de
medida coercitiva, qual seja a aplicação de multa em caso de esbulho.
Identificada a ameaça real de esbulho, deve ser concedida a presente ação a fim de
evitar a perda da posse pela Requerida, mesmo porque o autor exerce a posse há mais de dois
anos e, além disso, conforme documentos anexos é possível observar o contrato de aluguel
ainda em vigência.
Não obstante, devido à constante ameaça da Ré em impedir que o Requerente
continue na posse do imóvel, necessário observar o art. do Código de Processo Civil:
Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser
molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação
ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se
comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o
preceito.
Outrossim, o art. 186 e o art. 927, do Código Civil de 2002, assim estabelecem:
Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
A questão suscitada apresenta entendimento pacificado no repertório
jurisprudencial de nossos Tribunais, consolidada por reiteradas decisões correlatas da Colenda
Corte do STJ – Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que: é cabível indenização pela
prática abusiva de direito, não havendo necessidade da comprovação do prejuízo, que é
presumido.
Os julgados precedentes, inseridos nos inúmeros acórdãos dos Tribunais de
Justiça espelham o pacífico entendimento a respeito da matéria:
A responsabilidade pelo abuso de direito prescinde da ideia de culpa
ou dolo e da prova dos danos morais, pois estes, no caso, se
presumem. (TJPR - 9ª C. Cível - AC - 1546757-1 - Curitiba - Rel.:
Francisco Luiz Macedo Junior - Unânime - - J. 09.02.2017).
Excelência, é exatamente o caso dos autos, pelo desligamento de água e luz, além
da cobrança excessiva que expôs o Autor ao ridículo e ao constrangimento, cabendo à Ré
ressarcir os prejuízos causados ao Requerente, os quais passamos a abordar.
II.III. DOS DANOS MATERIAIS
Deste modo, é devida a restituição dos valores a título de danos matérias sofridos
com a perda dos alimentos perecíveis em virtude do corte de energia elétrica, que somam a
monta de R$ 13.400,00 (treze mil e quatrocentos reais).
RECURSOS INOMINADOS. CONSUMIDOR. AÇÃO
INDENIZATÓRIA POR DANOS
MORAIS. COBRANÇA VEXATÓRIA. NOTIFICAÇÃO DE
INADIMPLEMENTO ENVIADA A E-MAIL DE
TERCEIRO. EXPOSIÇÃO DA SITUAÇÃO
FINANCEIRA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS .
QUANTUM MANTIDO EM R$ 1.000,00. RECURSOS
IMPROVIDOS. (Recurso Cível Nº 71008350688, Primeira Turma
Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Roberto Behrensdorf
Gomes da Silva, Julgado em 26/03/2019).
RECURSO INOMINADO. COBRANÇA EXTRAJUDICIAL DE
DÍVIDA DEVIDA. CONDUTA EXCESSIVA
E VEXATÓRIA. MENSAGENS DE TEXTO
PARA TERCEIROS. COBRANÇA VEXATÓRIA. VALOR DOS
DANOS MORAIS REDUZIDOS. RECURSO DA PARTE
AUTORA DESPROVIDO. RECURSO DA PARTE RÉ
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR
- 2ª Turma Recursal - 0010594-71.2018.8.16.0018 - Maringá - Rel.:
Juiz Alvaro Rodrigues Junior - J. 13.02.2019).
IV – DO VALOR DA CAUSA
Nestes termos,
Pede deferimento.
ADVOGADO
OAB/UF Nº