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Servidão de

Passagem Rural
Data de Criação: 01/09/2020
Criado por: Biblioteca SP
Sumário das
Matérias:
Passagem forçada x servidão de passagem: distinções
entre os institutos
.Ambiente Juridico............................................01
Abertura de via alternativa justifica extinção de servidão
de passagem
Ambiente Juridico............................................08
Breves Considerações sobre as Servidões Prediais no
Código Civil de 2002
Magister............................................................17
STJ: Abertura de via alternativa leva turma a negar
reintegração de servidão de passagem extinta
IRIB....................................................................31
Capítulo de livro
............................................................................33
JURISPRUDENCIA
............................................................................37
Links para acesso
............................................................................40
01

Passagem forçada x servidão de passagem: distinções


entre os institutos
30/09/2008
Resumo: Este artigo tem por objetivo enfrentar um grande problema do mundo jurídico
contemporâneo: a confusão entre passagem forçada e servidão, especificamente, na sua
modalidade de trânsito, também chamada de passagem. Institutos diversos e de origens
distintas, mas que infelizmente, em razão de uma classificação equivocada, vem gerando,
há décadas, sérios enganos apontados em sentenças e jurisprudências por todo o país.

Palavras-chave: passagem forçada – servidão de passagem – servidão de trânsito –


direito de vizinhança – direitos reais
Resumen: Este artículo tiene por objetivo enfrentar um gran problema del mundo
jurídico actual: la confusión entre pasaje forzada y servidumbre, especificamiente en su
modalidad de tránsito, también llamada de pasaje. Institutos variados y de orígenes
diversas, pero que infelizmiente, por uma clasificación equivocada, viene causando, hace
décadas, sérios engaños apuntados em sentencias y jurisprudencias por todo el país.
Palabras-clave: pasaje forzada – servidumbre de pasaje – servidumbre de tránsito –
derecho de vecindad – derechos reales
Sumário: 1- Instrução; 2- Passagem forçada; 3- Servidão de passagem; 4- Distinções
entre os institutos; 5- Conclusão; 6- Referências.

1- Introdução
Objetiva-se, neste estudo, distinguir dois grandes institutos do Direito Civil: a Passagem
Forçada e a Servidão de Passagem, apontando suas particularidades e, por conseguinte,
visando solucionar possíveis, e não raras no mundo jurídico, confusões entres os direitos.
O direito de passagem nasce da imposição da lei em proveito somente dos prédios
encravados, o que vale dizer que a servidão de passagem só pode ser determinada pela
necessidade de se obter saída útil do prédio tido como encravado para a via pública
através do prédio serviente. Deste modo, não há que se reclamar a passagem por simples
comodidade.
O instituto da servidão é ônus real, criando uma relação direta de prédio a prédio,
advinda da vontade dos proprietários. Em razão dessa permissão, o serviente perde o
exercício de algum de seus direitos dominicais sobre seu prédio, ou tolera que dele se
utilize, fazendo o prédio dominante mais útil ou agradável.
Assim, o que se busca é destacar os pontos máximos de distinção entre os dois direitos,
esforçando-se por apresentar, da forma mais clara, as características entre os direitos
trabalhados, apresentando inconformismo com o fato de ter-se tornado corriqueira a
necessidade de se explicar, ou melhor, ensinar o que é cada um dos institutos, em
sentenças e acórdãos em todo o país, antes de se adentrar ao caso concreto realmente
discutido, retardando ainda mais o andamento dos processos.
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2- Passagem forçada
Três instituições são firmemente conexas e estabelecidas, desde a Antigüidade, nas
sociedades grega e italiana: a religião doméstica, a família e a propriedade.
(COULANGES, 2004, p. 66)
Assim, a Passagem Forçada conhece sua primeira manifestação no “iter ad sepulchrum”
do direito romano, que dizia: mesmo se uma família vendesse o campo onde eram
enterrados seus mortos, ela continuaria sua proprietária perpétua, conservando o direito
de poder atravessá-lo sempre que quisesse, para cumprir as cerimônias do culto. (op, cit.,
p. 66)
Conceituando, nas palavras de Roberto de Ruggiero, a passagem obrigatória é “uma das
mais fortes limitações derivadas de vizinhança” (2005, p. 497) sendo que obriga o
proprietário a deixar o vizinho, que tem seu prédio encravado, passar pela sua
propriedade.
Funda-se o direito à passagem forçada na solidariedade a qual “deve presidir as relações
de vizinhança e a necessidade econômica de se aproveitar devidamente o prédio
encravado. O interesse social exige que se estabeleça passagem para que o imóvel não se
torne improdutivo”. (MONTEIRO, 2003, p. 141)
Nos termos do artigo 1.285, caput, do Código Civil, prédio encravado é aquele que não
tem acesso à via pública, porto ou nascente. Em razão da falta de comunicação com a via
pública não pode vir a ser explorado, deixando de se útil.
Mas encravamento deve ser natural e absoluto.
Natural, porque não pode ser provocado. É o caso daquele que vende parte do terreno
onde se encontrava a passagem, ficando sem saída. É vedado a ele reclamar passagem a
seus vizinhos, devendo a questão ser resolvida entre comprador e vendedor.
A doutrina exige, ainda, que seja absoluto o encravamento, sem nenhum tipo de saída.
Entretanto, alguns tribunais, com uma visão mais social e menos técnica, entendem que
se um prédio possui uma única via de acesso, mas é extremamente onerosa, difícil ou
perigosa, seria então um encravamento relativo.
Embora decorra da lei o direito à passagem, por mais de uma forma poder-se-á
constituir, quais sejam: a convenção, a sentença e a usucapião, esta na opinião dos
antigos autores.
Constituído por meio de acordo, deve ser expresso, formal, para evitar que mais tarde
seja confundida como uma servidão convencional. Neste caso, o proprietário do prédio
serviente não teria o direito de pedir “a supressão no caso de abertura de via pública, que
desencravasse o dominante, ou pela reunião deste com outro”. (NEQUETE, 1985, p. 48-
49)
No que tange à legitimação ativa, observa-se que, mesmo a lei fazendo referência apenas
ao proprietário do prédio, têm capacidade para propor demanda “todos aqueles a quem
se concede um direito real de gozo sobre coisa alheia”. (op. cit, p. 54)
Seguindo a mesma linha de pensamento, Silvio de Salva Venosa manifesta-se nos
seguintes termos:
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Legitimado para pedir passagem não é apenas o proprietário, mas também o
usufrutuário, usuário, habitador ou possuidor. Podem eles também defender a turbação
da via de passagem pelos remédios possessórios. (VENOSA, 2004, p. 378)
Em relação ao condômino pro indiviso tem este a possibilidade de obter sozinho uma
passagem necessária desde que os demais co-proprietários não se oponham. Neste caso,
todos contribuirão com a sua quota-parte para o pagamento da indenização, uma vez que
todos serão beneficiados.
Por sua vez, figurarão no pólo passivo da ação o proprietário ou proprietários dos prédios
servientes, e em hipótese alguma o mero possuidor.
Encravado, adquire-se o direito, mas o exercício da passagem fica condicionado ao
pagamento da indenização que pode ser paga de uma só vez ou em parcelas anuais.
Atribuiu, o legislador, ênfase ao chamá-la cabal, querendo na verdade transmitir a idéia
de que a indenização alcançará todos os danos.
Como no direito romano, a passagem pode apresentar-se, ainda hoje, “ou
como iter (direito de passagem a pé, só para pessoas), ou como actus (direito de
passagem para animais), ou como via (direito de passagem para veículos), (NEQUETE,
1985, p. 59)” devendo entender-se que a passagem de teor mais amplo presume
obrigatoriamente a mais estrita.
A fixação judicial não visa declarar direito, mas a fixar alguns pontos, tais como: rumo,
caminho, largura e forma de exercício, caso não haja acordo entre as partes. Estes pontos
poderão vir a ser ampliados, reduzidos ou mesmo alterados, sempre que houver
necessidade, havendo suplemento ou restituição do valor da indenização.
O direito de reclamar a passagem forçada é imprescritível, podendo ser reclamado a
qualquer tempo, desde que dentro do período da existência do encravamento.
Desaparecendo a causa que deu origem, desaparecerá o direito de passagem.
Marco Aurélio da Silva Viana tece o seguinte comentário acerca da imprescritibilidade:
o direito extingue-se “quando não se pontifica mais a necessidade que o criou. Por isso o
direito é imprescritível, podendo ser exercido a qualquer tempo” (VIANA, 2004, p. 240).
Para Venosa, ao cessar o encravamento, seja qual for a razão, conseqüentemente
desaparece o direito de passagem. Entretanto, vem observar que “nada impede, porém,
que as partes constituam servidão sobre o que era direito legal de passagem” (VENOSA,
2004, p. 378).
3- Servidão de passagem
A propriedade, no direito Romano, era o mais absoluto dos direitos haja vista que quem
os possuía detinha os chamados três “jura”: jus utendi, jus fruendi e jus abutendi, ou
seja, podia usar, fruir e até mesmo destruir a coisa.
Contudo, em alguns casos, porções desses direitos escapavam das mãos do verdadeiro
proprietário, que em regra eram o jus utendi e o jus fruendi, “repartindo-se entre este e
outra pessoa, beneficiada pelo desmembramento”. (CRETELLA JÚNIOR, 1998, p. 219)
Por esse motivo, foram classificados pela doutrina como “jura in re aliena”, ou direito
sobre a coisa alheia.
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Define-se a servidão como direito real sobre imóvel sobre o qual se impõe um ônus a
determinado prédio em favor de outros. O direito é real uma vez que segue o imóvel,
aderindo à coisa, e toda vez que mudar o proprietário do prédio serviente, haverá
substituição do sujeito passivo.
Nas palavras de Arnold Wald, “a servidão é, pois, conceituada como direito acessório do
direito de propriedade, inseparável deste, e perpétuo, cuja função econômica importa
corrigir desigualdades existentes entre prédios”. (2002, p. 199)
Pode-se dizer que a finalidade da servidão é a de aumentar a utilidade do prédio
dominante, e isto implicará conseqüentemente em restrições ao prédio serviente.
A natureza jurídica da servidão é a de “um direito real (CC, art. 1.225, III) de gozo ou
fruição sobre imóvel alheio, de caráter acessório, perpétuo, indivisível e inalienável”.
(DINIZ, Curso de direito civil brasileiro, 2002, p. 355) Mais detalhadamente, pode-se
dizer que servidão é direito:
– real: porque imposta à coisa e não ao dono, com a exigência da formalidade (registro
em Cartório)
– acessório: porção do direito de propriedade
– perpétuo: enquanto existirem os prédios
– indivisível: mesmo no caso de divisão do imóvel, passando a ter vários titulares. A
servidão permanecerá indivisível, pois ela se dá entre dois prédios e não entre titulares.
– inalienável: não pode ser transferida a outro prédio. Poderá, todavia, ser transferida a
outras pessoas.
Doutrinariamente, podem ser classificadas, dividindo-se em contínuas, descontínuas,
aparentes, não aparentes e suas combinações.
Servidões contínuas “são as que dispensam atos humanos para que subsistam e sejam
exercidas, como a de energia elétrica, a de escoamento e a de passagem de água”.
(FARIAS; ROSENVALD, 2006, p. 572) Em geral, são exercidas ininterruptamente.
Servidões descontínuas “são as que dependem, para seu exercício, de atos permanentes
do titular ou possuidor do prédio dominante, como a servidão de passagem.” (op. cit, p.
572) Segundo Carlos Roberto Gonçalves, “todas as servidões que dependem de fato do
homem são, necessariamente, descontínuas, […].”(GONÇALVES, Direito civil brasileiro,
2006, p. 426)
O critério entre estas é a intervenção ou não-intervenção do homem.
As aparentes manifestam-se por obras exteriores, enquanto que as não
aparentes somente são percebidas quando de fato exercidas, como por exemplo, na
passagem de pedestres quando não há um caminho ou trajeto demarcado. Assim, “só se
podem constituir validamente mediante o seu registro no cartório imobiliário,
[…].(ROSA, 2005, p. 227)
Essa classificação não é restrita ao âmbito didático-doutrinário do Direito. No momento
da sua efetiva aplicação é que se poderá observar a sua grande importância, posto que
nem todas as servidões possuem proteção possessória; elas dependerão da classificação
recebida, como por exemplo: aparentes e contínuas e algumas descontínuas gozam de
proteção, mas as não aparentes não dispõem de defesa.
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Destaque-se que as servidões poderão constituir-se por ato (contrato, sentença,
usucapião ou destinação do proprietário) ou fato humano, este aplicável exclusivamente
à servidão de trânsito.
Pela Súmula nº 415, do Supremo Tribunal Federal, a “servidão de trânsito não titulada,
mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas, considera-se
aparente, conferindo direito à proteção possessória” Logo, sendo aparente, há que se
concluir que poderão ser adquiridas pela usucapião.
Quando se fala em servidão, sua interpretação é sempre restrita, por tratar-se de
limitação a um direito. Tal característica impede que o beneficiário amplie, por qualquer
modo, o jus in res aliena. Logo, criada para certo fim, não se pode estendê-la a outro,
exceto quando se tratar de servidão de trânsito: 1) com a concordância expressa do
proprietário dominante, e/ou 2) necessidade de ampliação em razão de cultivo. Sempre
com o direito de indenização pelo excesso.
Por fim, sendo a servidão constituída por meio do registro, a primeira forma apresentada
de extinção, mas não a única, é o cancelamento.
Quanto às demais formas, dividem-se em peculiares e comuns.
As formas peculiares extintivas da servidão levam ao cancelamento do registro, pelos
meios judiciais, e não dependem da anuência do proprietário do prédio dominante. São:
a renúncia, a impossibilidade de seu exercício e o resgate.
As formas comuns, apenas exigem o cancelamento do registro, sendo: a confusão, a
supressão de obras na servidão aparente e desuso.
4- Distinção entre os institutos
O objetivo deste trabalho é o de demonstrar as diferenças entre os dois direitos com o
objetivo de desfazer a confusão alastrada por todo o país.
Para Arnold Wald, os pontos máximos de distinção entre as servidões e direito de
vizinhança estão na origem e na finalidade.
Enquanto as primeiras originam-se do ato voluntário de seus titulares, o segundo deriva
da lei expressa. Observa-se também que, a finalidade do direito de vizinhança é
preventiva, visa evitar o dano como também, que o prédio fique sem destinação ou
utilização econômica. Quanto à servidão não visa a atender necessidades, mas a garantir
uma comodidade ou uma maior facilidade ao proprietário do prédio dominante.
Outras dessemelhanças podem ser elencadas.
A passagem forçada é direito de vizinhança, enquanto que a servidão é um direito real
sobre coisa alheia. A primeira decorre da lei e é uma limitação ao direito de propriedade,
sempre se configurando quando um prédio se encontrar encravado, mesmo que o
proprietário não a deseje; já a servidão limita o domínio e decorre da vontade das partes,
geralmente por meio de um contrato.
A servidão tem sua constituição com o registro no Cartório de Registro de Imóveis, já a
passagem forçada não exige qualquer tipo de registro, e caso haja um registro será tida
como servidão. Sua fonte mediata está na lei e no interesse social.
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Às servidões aparentes caberá ação de usucapião. À servidão de trânsito não titulada,
mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas, considerar-se-á
aparente, conferindo a esta o direito à proteção possessória, em sendo assim poderá ser
usucapida. Quanto ao direito de vizinhança, não se adquire pela prescrição aquisitiva.
A partir do momento que a circunstância que caracterizava o encravamento cessou,
extinta será a passagem forçada, posto que não há mais a necessidade impondo tal ônus.
A servidão a princípio é perpétua.
Por fim, embora não haja impedimento quanto à gratuidade, dependendo de simples
acordo entre as partes, tanto a passagem forçada quanto a servidão de passagem são
direitos a título oneroso, com o propósito de ressarcir os prejuízos, incômodos e
limitações aos direitos do proprietário. Contudo, há que se observar que enquanto na
servidão atua como mera compensação; noutro instituto o direito de passagem fica na
dependência do pagamento de indenização. Embora a lei não diga expressamente, o
pagamento prévio é condição imposta ao exercício da passagem.
5- Considerações
Faz-se necessário buscar solver esse problema que, ignorado, alastrou-se e tornando-se
corriqueiro nem mais é visto. A solução é a boa formação e a reciclagem do operador do
direito.
Todavia, enquanto persistir a confusão o que se verá sempre é o magistrado, antes de
exercer a sua função, exercendo o magistério, instruindo advogados e até mesmo juízes
de primeiro grau, no que tange à caracterização de um e de outro instituto.
São visíveis as diferenças entre os institutos estudados, mas também é gritante a
necessidade de se buscar um meio eficaz a fim de que se possa desfazer essa confusão
descabida e que se alastra por todas as esferas jurídicas.
A boa formação do jurista, partindo desde os bancos escolares, é um dos meios. Em
seguida, caberá a esse o aprimoramento da sua bagagem. Não dá para aceitar que se
utilize dos bancos da corte para o exercício do magistério. O advogado é antes de tudo
um profissional, e por isso exige-se formação e trabalhos aprimorados.

Referências
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n. 415. Servidão de trânsito não titulada,
mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas, considera-se
aparente, conferindo direito à proteção possessória. Disponível em: <www.stf.gov.br>.
Acesso em: 02 setembro 2007
COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Editora
Martin Claret, 2004. 421 p. Título original: La Cité Antique.
CRETELLA JÚNIOR, J. Curso de direito romano: o direito romano e o direito civil
brasileiro. 21 ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 486 p.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das coisas. v. 4. 18. ed.
aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n 10.406, de 10-1-2002). São Paulo:
Saraiva, 2002. 550 p.FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nélson. Direitos reais.
3 ed. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris. 2006. 716 p.
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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro: direito das coisas. v. 5. São Paulo:
Saraiva, 2006. 620 p.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: direito das coisas. v. 3. 37.
ed. rev. e atual. por Carlos Alberto Dabus Maluf. São Paulo: Saraiva, 2003. 469 p.
ROSA, Pedro Henrique de Miranda. Direto civil, direito das coisas: introdução; posse;
da propriedade dos direitos reais sobre coisas alheias. Rio de Janeiro: Renovar. 2005.
312 p.
RUGGIERO, Roberto de. Instituições de direito civil. v. 2. 2. ed. Campinas: Bookseller,
2005. 822 p.
NEQUETE, Lenine. Da passagem forçada. 3. ed. rev. e amp. Porto Alegre: Livraria
Editora Porto Alegre, 1985. 224 p.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direitos reais. v. 5. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
668 p.
VIANA, Marco Aurélio da Silva. Comentários ao Novo Código Civil, volume XVI: dos
direitos reais. v. 16 (arts. 1225 a 1.510). Rio de Janeiro: Forense, 2004. 926 p
WALD, Arnoldo. Direito das coisas. 11 ed. rev., aum. e atual. com a colaboração dos
professores Álvaro Villaça Azevedo e Véra Fradera. São Paulo: Saraiva, 2002. 558 p.

Informações Sobre o Autor


Joanita Zacchi de Campos
Bacharela em Direito pela Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro
(FUNDINOPI), em Jacarezinho (PR)
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/passagem-forcada-x-servidao-de-
passagem-distincoes-entre-os-
institutos/#:~:text=A%20passagem%20for%C3%A7ada%20%C3%A9%20direito,direito%20rea
l%20sobre%20coisa%20alheia.&text=A%20servid%C3%A3o%20tem%20sua%20constitui%C3
%A7%C3%A3o,registro%20ser%C3%A1%20tida%20como%20servid%C3%A3o.
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Abertura de via alternativa justifica extinção de servidão


de passagem
DireitoAgrario.com 5 de julho de 2019 Julgados, Notícias

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve acórdão do Tribunal de Justiça
de Santa Catarina (TJSC) que negou pedido de reintegração de posse de servidão de passagem no
qual os autores alegaram que o comprador de terreno vizinho fechou a passagem indevidamente.

No entendimento da Terceira Turma, a abertura de nova estrada pelo recorrido, retirando a


utilidade da servidão anterior sem atrapalhar a passagem dos autores da ação (fato superveniente
ao ajuizamento da possessória), foi corretamente considerada pelo TJSC ao negar o pedido de
reintegração.

Para acessar sua residência, os autores da ação utilizavam um caminho que dividia em duas partes
outro terreno, posteriormente comprado pelo recorrido. Interessado em unificar a propriedade,
o comprador fechou a passagem – motivo pelo qual os vizinhos ajuizaram a ação de reintegração
de posse –, mas, em substituição ao caminho anterior, ele construiu uma via alternativa
contornando sua gleba por um dos lados.

Em primeiro grau, o juiz julgou procedente o pedido dos requerentes. Entretanto, em segunda
instância, o TJSC deu provimento à apelação, afirmando que a abertura de outra estrada na
propriedade teria feito cessar a utilidade da antiga servidão.

Institutos diversos

Ao analisar o recurso apresentado pelos autores da ação de reintegração, a ministra Nancy


Andrighi, relatora, fez uma distinção entre passagem forçada e servidão de passagem. Segundo a
magistrada, apesar de ambas limitarem o uso pleno da propriedade, entre elas há uma diferença
de origem e de finalidade.

A ministra explicou que a passagem forçada decorre diretamente da lei e tem a finalidade de evitar
um dano, nas circunstâncias em que o imóvel se encontra sem acesso à via pública, o que
impediria seu aproveitamento.

Já a servidão é criada, via de regra, por ato voluntário de seus titulares e, por meio dela, não se
procura atender a uma necessidade imperativa, mas conceder uma facilidade maior ao chamado
imóvel dominante.

Sem registro

Nancy Andrighi observou que o fato de não haver registro da servidão de passagem não inviabiliza
a ação possessória. Segundo ela, a servidão não é presumida nem determinada por lei, mas
decorre de ato voluntário, que pressupõe o registro no cartório de imóveis.

No entanto – esclareceu –, a jurisprudência passou a conferir proteção possessória às servidões


de trânsito, conforme estabelece a Súmula 415 do Supremo Tribunal Federal (STF): “Servidão de
trânsito não titulada, mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas,
considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória”.

No caso dos autos, a relatora esclareceu que os recorrentes eram os legítimos possuidores da
servidão de passagem e que o recorrido impôs restrições ilegais à fruição da servidão – o que
ensejaria, em tese, a procedência da proteção possessória.
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Fato superveniente

Contudo, Nancy Andrighi apontou a necessidade de se apreciar, como fato superveniente, uma
causa modificativa ou extintiva da servidão de passagem não titulada e aparente. De acordo com
a ministra, conforme previsto no artigo 462 do Código de Processo Civil de 1973, é dever do
julgador levar em consideração fatos supervenientes ao ajuizamento da ação que possam influir
no julgamento do processo.

A relatora destacou que, conforme estabelecido no artigo 1.384 do Código Civil de 2002, para que
o dono do imóvel serviente remova a servidão, essa remoção deve ser feita às suas custas e não
pode diminuir as vantagens ao imóvel dominante, como ficou caracterizado nos autos.

“A análise feita pelo tribunal de origem demonstra que todos os requisitos para a ocorrência de
uma remoção de servidão foram devidamente preenchidos”, afirmou a ministra.

Fonte: STJ.

Confira a íntegra do julgado:

RECURSO ESPECIAL Nº 1.642.994 – SC (2016/0278715-8)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

Cuida-se de recurso especial interposto por MARIA NATÁLIA VIEIRA ALVES e RAUL ANTÔNIO
ALVES, com fundamento nas alíneas “a” e “c” do permissivo constitucional, contra acórdão do
TJ/SC.

Ação: de reintegração de posse de servidão de passagem, com pedido de liminar, ajuizada pelos
recorrentes em face de GERALDO JACQUES TEIXEIRA, que versa sobre a posse de um caminho
que, atravessando a propriedade do recorrido, conduz até a via pública.

Sentença: julgou procedente o pedido, confirmando a decisão liminar anteriormente prolatada.

Primeiro Acórdão: em julgamento por maioria, o TJ/SC deu provimento à apelação interposta
pelo recorrido, afirmando que fato superveniente, consistente na abertura de outra estrada em
sua propriedade teria feito cessar a comodidade e a utilidade da servidão. Além disso, negou
provimento à apelação dos recorrente e os condenou em litigância de má-fé, conforme a ementa
do julgamento abaixo:

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. SERVIDÃO DE PASSAGEM NÃO


TITULADA. PROCEDÊNCIA NA ORIGEM. INEXISTÊNCIA DE REGISTRO QUE, A PRINCÍPIO,
É IRRELEVANTE AO EXERCÍCIO DA TUTELA POSSESSÓRIA. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA
415 DO STF. APELO DO RÉU. ALEGADA A EXISTÊNCIA DE FATO SUPERVENIENTE.
ABERTURA DE VIA PÚBLICA DURANTE O CURSO DA DEMANDA, QUE FEZ CESSAR A
COMODIDADE E A UTILIDADE DA SERVIDÃO. PRETENSÃO DE MANUTENÇÃO DA
SERVIDÃO POR MERO CAPRICHO DOS AUTORES. ABUSO DE DIREITO. PROPRIETÁRIO
DO IMÓVEL DOMINANTE QUE, ADEMAIS, ANUIU COM A EXTINÇÃO DA SERVIDÃO,
ASSIM QUE FOSSE ABERTO CAMINHO ALTERNATIVO PELO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL
SERVIENTE. OMISSÃO QUANTO AO DEVER DE INFORMAR TAL FATO AO JUÍZO.
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ CONFIGURADA. APELO DOS AUTORES. PEDIDO DE SUSPENSÃO
DA MULTA QUE LHES FOI APLICADA POR ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA.
INSUBSISTÊNCIA. BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA QUE NÃO
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ABARCA EVENTUAIS PENALIDADES APLICADAS DURANTE O TRÂMITE PROCESSUAL.


RECURSO DO RÉU PROVIDO E DOS AUTORES DESPROVIDO.

Segundo Acórdão: o Tribunal de origem, também em julgamento por maioria, negou


provimento aos embargos infringentes interpostos pelos recorrentes, com fundamentos
parcialmente distintos daqueles constantes no julgamento da apelação, conforme a ementa:

EMBARGOS INFRINGENTES. COISAS. AÇÃO DE RE INTEGRAÇÃO DE POSSE. SERVIDÃO


DE PASSAGEM. – ACORDÃO QUE REFORMA, POR MAIORIA, A

SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. (1) ADMISSIBILIDADE. GRATUIDADE REVOGADA EM


RELAÇÃO A ALGUNS DOS EMBARGANTES E MANTIDA QUANTO AOS DEMAIS EM SEDE
DE IMPUGNAÇÃO. RE- CURSO CONJUNTO. PREPARO NÃO RECOLHIDO. NÃO
CONHECIMENTO EM RELAÇÃO A PARTE DOS RECORRENTES. – Na hipótese de recurso
conjunto, se alguns dos recorrentes não são beneficiários da gratuidade judiciária – revogada em
sede de impugnação -, o não recolhimento do preparo implica deserção, impondo o não
conhecimento da insurgência em relação aqueles.

(2) SERVIDÃO APARENTE NÃO TITULADA. REQUISITOS CONFIGURADOS.


REINTEGRAÇÃO POSSÍVEL. RE- MOÇÃO DA SERVIDÃO, TODAVIA. ÓBICE LEGAL À
PROTEÇÃO POSSESSÓRIA. PRESSUPOSTOS VERIFICADOS. MANUTENÇÃO DA
CONCLUSÃO MAJORITÁRIA, CONQUANTO POR FUNDAMENTOS EM PARTE DISTINTOS. –
Apesar de presentes os requisitos ensejadores da tutela interditai, cabível em se tratando de
servidão aparente não titulada, afasta-se a proteção possessória no caso de remoção da servidão
levada a efeito pelo dono do prédio serviente, desde que feita à sua custa e sem minorar, em
aferição pautada pela razoabilidade, as vantagens do prédio dominante.

(3) ÔNUS SUCUMBENCIAIS. INVERSÃO. LAPSO. SUPRIMENTO. – Impõe-se a adequada


inversão dos ônus sucumbenciais se, por lapso, a providência necessária não havia sido realizada
no acórdão.

ACÓRDÃO MANTIDO. RECURSO DESPROVIDO.

Recurso especial: alega violação aos arts. 1196, caput e § 2º, e 1378 do CC/2002 e aos arts. 460
e 926 do CPC/73. Sustenta, ainda, a existência de dissídio jurisprudencial.

Admissibilidade: o recurso não fora admitido pelo Tribunal de origem (e-STJ fl. 1012-1014) e,
após a interposição de agravo em recurso especial, reconsiderou-se a decisão para melhor exame
da matéria (e-STJ fl. 1046).

É o relatório.

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

O propósito recursal consiste em reconhecer ou não o direito dos Recorrentes relativos à posse
sobre uma servidão de passagem instituída de forma aparente sobre imóvel do recorrido. Em
especial, deve-se determinar se há possibilidade de, no bojo de ação possessória, discutir a
remoção ou extinção de servidão de passagem não titulada, mesmo que apresentada como fato
superveniente.

1. DOS CONTORNOS FÁTICOS DA LIDE

Os recorrentes adquiriram sua gleba no município de Imaruí/SC, em 18/08/1983, e,


posteriormente, venderam parcela de sua terra para os interessados. Nos autos, consta que os
recorrentes utilizavam para acessar sua residência um caminho que divide em duas partes a gleba
11

maior que era de propriedade de Maria das Dores Machado Brasiliense, posteriormente alienada,
nos anos de 2006 e 2007, para o recorrido.

Visando à integração das partes por ele adquiridas, o recorrido construiu uma via alternativa
contornando por um dos lados sua gleba, o que, num primeiro momento, chegava às terras dos
recorrentes.

Durante o andamento processual, contudo, vislumbrando que essa circunstância desagradava os


recorrentes, prolongou o acesso de forma a chegar na área de todos, recorrentes e interessados. A
abertura dessas vias é confirmada pela publicação de decretos municipais (079/2007 e
053/2008), cujo teor está transcrito no acórdão da apelação (fl. 866).

Assim que se estabeleceu a primeira via alternativa, no ano de 2007, o recorrido fechou, com a
instalação de porteiras, a via que passava através de sua terra. Diante disso, os recorrentes
ajuizaram a ação de reintegração de posse.

2. DAS SERVIDÕES E DAS PASSAGENS FORÇADAS

Em primeiro lugar, contudo, deve-se repisar a distinção entre “passagem forçada” e “servidão de
passagem” já estabelecida nos autos, mas ainda relevantes para o deslinde do julgamento. Apesar
de ambas limitarem o uso pleno da propriedade, entre elas há uma diferença de origem e de
finalidade.

As servidões são criadas, via de regra, por ato voluntário de seus titulares e, por meio delas, não
se procura atender uma necessidade imperativa, mas a concessão de uma facilidade maior ao
prédio dominante.

As passagens forçadas, por sua vez, decorrem diretamente lei e tem a finalidade de evitar um
dano, nas circunstâncias em que o prédio se encontra encravado, isto é, sem acesso à via pública,
o que impediria seu aproveitamento.

Em outras palavras, “trata-se de uma restrição legal ao direito de propriedade que se destina a
propiciar saída para a via pública ou para outro local dotado de serventia e pressupõe, portanto,
o isolamento ou a insuficiência de acesso do imóvel que pretende o direito à passagem forçada”
(REsp 316.045/SP, TERCEIRA TURMA, DJe 29/10/2012).

Por seu caráter elucidativo, cite-se o exemplo doutrinário que evidencia a diferença entre os dois
institutos:

Um exemplo ilustrará a diferença. O proprietário do prédio encravado, sem acesso à via


pública, pode, em virtude de lei, exigir a passagem pelo terreno alheio. É o direito de passagem
forçada, ao qual já aludimos ao estudar os direitos de vizinhança. Emana da lei, e, sem ele, seria
impossível ao proprietário do prédio encravado entrar e sair livremente do seu terreno.
Vejamos agora uma situação distinta. Um terreno tem um acesso remoto ou estreito a
determinada estrada secundária. O terreno vizinho é, todavia, atravessado por excelente
estrada principal, à qual o proprietário do primeiro terreno desejaria ter acesso, pedindo, pois
que lhe seja concedida uma servidão. Depende tal concessão da boa vontade ou do interesse
econômico do proprietário do prédio serviente que iria ser atravessado. Não é um direito
emanado da lei. Poderá surgir em virtude de contrato que as partes venham a fazer e que, para
valer contra terceiros, deverá constar no Registro de Imóveis. (WALD, Arnoldo. Direito civil:
direito das coisas. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, pág. 263)

Da mesma forma, como afirmado no julgamento do REsp 223.590/SP, por mim relatado, sobre
as diferenças dos institutos:

Convém, de logo, que se frise a distinção entre o direito de passagem forçada regulada pelos
denominados direitos de vizinhança e a proteção às servidões. A primeira pressupõe um prédio
encravado, com indispensável necessidade de saída para a via pública, assegurando a lei ao
proprietário o direito de consegui-la sobre prédios alheios, possibilitando-lhe a destinação
12

econômica. Funda-se, assim, na necessidade e na indispensabilidade. Já a servidão se coloca


no cômodo e até no supérfluo. (…) Na servidão de trânsito, as causas de instituição são diversas
e podem assentar na utilidade ou mera facilidade. Tanto que. na maioria das vezes, é
estabelecida convencionalmente. Não requer a inexistência de outro caminho para atingir-se
um prédio distinto ou a via pública” (…) o fato de existir caminho alternativo, que, sem adentrar
a área do condomínio, passando apenas pelas terras da fazenda, possibilita o trânsito entre
os estábulos e a sede, não prejudica o pedido inicial, não se confundindo o instituto da passagem

forçada, direito de vizinhança, com o das servidões. Só aquele pressupõe o encravamento. (REsp
223.590/SP, Terceira Turma, DJ 17/09/2001, p. 161)

Na hipótese dos autos, conforme estabelecido no acórdão dos embargos infringentes, não há
dúvidas que o objeto em litígio constituí uma servidão de passagem, conforme os trechos a seguir:

In casu, à luz de tais premissas, vê-se que os fatos não se aproximam de passagem forçada, mas
de servidão de passagem, como bem pontuado pela magistrada sentenciante:
A par destes esclarecimentos, e diante do quadro apresentado nos autos, tem-se que não há
como dar à controvérsia feições de direito de vizinhança, uma vez que, desde o início,
sobressaíram informações embasadas nas declarações dos testigos e na juntada de fotografias,
dando conta de que em momento algum ficaram os autores sem acesso à via pública e, portanto,
encravados, além do caminho litigado ter resultado de ajuste entre o autor Raul e a
proprietária anterior do imóvel. (fl. 579).

Com efeito, conquanto em seu depoimento pessoal o acionante Raul tenha assinalado que, desde
que adquiriu a gleba, o único acesso ao seu imóvel era o caminho objeto, o que é corroborado
pelas testemunhas Maurílio Luis Nascimento e Rosimere dos Santos Martins, que afirmam que
não havia outra via para chegar a sua residência, as demais testemunhas (Pedro Raimundo
Sobrinho, Bartinho Rochadel da Silva, Marcio Adriano Rodrigues, lrineu Manoel Espíndola
Neto, José Matos, Pedro Raimundo Sobrinho e Laércio Arceno Corrêa) afirmam que havia
outros acessos – pela “prainha” e pelo “piquete” -, ainda que mais rústicos e apenas para
pedestres ou carro de boi. (e-STJ fl. 947)

O caminho objeto possui, efetivamente, contornos de servidão de trânsito aparente e contínua,


o que se extrai da prova testemunhal colhida – adi- ante explorada de forma mais detalhada -e
das fotografias (fls. 23/88) e vídeos (fl. 300) acostados ao caderno processual, que demonstram
a sua visibilidade a partir das marcas deixadas na terra pela constante passagem, o que
impedia até mesmo o crescimento da grama na sua extensão. (e-STJ fl. 951)

Esse fato é de grande relevância para o deslinde deste julgamento, pois, como exposto acima, a
servidão tem formas próprias para sua modificação e extinção. Neste ponto, a doutrina é unânime
em afirmar que o encravamento do prédio – isto é, a ausência de qualquer acesso às vias públicas
– é um requisito apenas da passagem forçada, e não das servidões, como afirma a doutrina:

Extingue-se a passagem forçada e desaparece o encravamento em casos, por exemplo, de


abertura de estrada pública que atravessa ou passa ao lado de suas divisas, ou quando é
anexado a outro, que tem acesso para a via pública. (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das
coisas. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, p. 361).

Por sua vez, a servidão não se presume, nem se forma por força de lei, mas deve ser constituída
por ato voluntário, que pressupõe o registro no Cartório de Registro de Imóveis. No entanto, a
jurisprudência brasileira evoluiu no sentido de conferir proteção possessória para servidões de
trânsito, conforme o teor da Súmula 415/STF: “Servidão de trânsito não titulada, mas tornada
permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas, considera-se aparente, conferindo
direito à proteção possessória”.
13

3. DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS: MATÉRIA DE DEFESA

Nos termos da doutrina, as ações possessórias “têm por objetivo restaurar uma situação de fato
antecedente à turbação ou ao esbulho, respectivamente, afastando a perturbação à posse ou
reinvestindo o possuidor no controle material da coisa; ou, para evitar que uma dessas lesões
ocorra” (Arruda Alvim. Defesa da posse e ações possessórias. RePro, v. 29, n. 114, mar./abr.
2004).

Nessas ações, será examinada, exclusivamente, a situação da posse do autor em relação à do réu
(ius possessionis), com descarte do exame de uma situação jurídica, externa à posse (descartando
o ius possidendi), na conformidade do que consta do art. 1.210, § 2.º, do CC/2002. Ainda
conforme a doutrina:

O objeto possível de tais ações é a proteção da posse e de sua titularidade, cujo pedido deve
consistir em proteção possessória, especificado em conformidade com a lesão sofrida, na posse
(esbulho ou turbação), ou, em relação à qual se teme estar ameaçado, tendo em vista o ilícito
cometido pelo réu, ou, que possa vir a ser cometido. A descrição desse ilícito, e, de quem o
praticou, deve compor a causa petendi, juntamente com a afirmação da posse do autor. O plano
de discussão e avaliação da situação possessória é como situação de fato (situação possessória,
exclusivamente), ou seja, fundamentalmente, tendo em pauta o ius possessionis e não o ius
possidendi. (Arruva Alvim. Op.cit.).

No recurso em julgamento, resta amplamente demonstrado que os recorrentes eram os legítimos


possuidores da servidão de passagem e que o recorrido impôs restrições, de forma ilegal, à fruição
da servidão, o que ensejaria a procedência da proteção possessória, conforme se verifica no trecho
do acórdão dos embargos infringentes:

Assentado esse ponto, deve-se salientar que o ato espoliativo, consistente na colocação de cercas
de forma a impedir o acesso ao caminho objeto, é confirmado pela inspeção judicial (fl. 41) e
sequer é controvertido, ainda que a defesa argumente, como visto, que não havia posse, bem
ainda considere que há fato superveniente a obstar o acolhimento do pedido.

Por consequência, houve a perda da posse, já que somente pu- deram os autores voltar a usar o
trajeto após decisão liminar de reintegração de posse (fls. 99-101).

Verificados, portanto, os requisitos constituintes da reintegração de posse, o que implica, a


priori, a procedência da proteção possessória. (e-STJ fl. 955)

Desse modo, incumbe-nos discutir a possibilidade de apreciar, como fato superveniente, uma
causa modificativa ou extintiva da servidão de passagem não titulada e aparente, existente sobre
o prédio do recorrido.

Quanto ao fato de se tratar de fato superveniente ao ajuizamento da ação possessória, não há


qualquer óbice a sua apreciação pelo magistrado. Ao contrário, como afirmado pela Terceira
Turma, em recurso por mim relatado, “à luz do disposto no art. 462 do CPC/73, é dever do
julgador tomar em consideração fatos supervenientes que influam no julgamento da lide,
constituindo, modificando ou extinguindo o direito alegado, sob pena de a prestação jurisdicional
se tornar desprovida de eficácia ou inapta à justa composição da lide” (REsp 1637628/ES, Rel.
Terceira Turma, DJe 07/12/2018). Da mesma forma, mencione-se outro julgamento desta
Terceira Turma sobre esse assunto:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. EXECUÇÃO. ARGUIÇÃO INCIDENTAL DE


NULIDADE DA CITAÇÃO. SUPERVENIÊNCIA DO TRÂNSITO EM JULGADO DE SENTENÇA
EM AÇÃO DECLARATÓRIA COM O MESMO OBJETIVO. FATO SUPERVENIENTE. ART. 462
DO CPC. CONSIDERAÇÃO. RESPEITO À COISA JULGADA.

1. O julgamento deve refletir o estado de fato da lide no momento da entrega da prestação


jurisdicional.
14

2. O fato superveniente (art. 462 do CPC) deve ser tomado em consideração no momento do

julgamento a fim de evitar decisões contraditórias e prestigiar os princípios da economia


processual e da segurança jurídica.

3. No caso dos autos, o fato superveniente – consubstanciado na coisa julgada produzida em


lide (ação declaratória) que tramitava paralelamente ao processo de execução que deu origem
aos presentes autos – é tema relevante e deve guiar a solução do presente recurso especial sob
pena ofensa à coisa julgada.

4. Recurso especial provido para restabelecer a decisão de primeira instância (REsp


911.932/RJ, TERCEIRA TURMA, DJe 25/03/2013)

Neste momento, cumpre ainda examinar a questão da remoção da servidão, ponderada pelo
Tribunal de origem no julgamento dos embargos infringentes. De fato, o fato da abertura de nova
via, que garante acesso à gleba dos recorrentes, foi suscitado desde o 1º grau de jurisdição, sendo
devidamente apreciado desde a sentença (e-STJ fls. 688-708).

A remoção de servidões está disciplinada no art. 1.384 do CC/2002, que amplia o conteúdo do
art. 703 do CC/1916, por estender também ao dono do prédio dominante a prerrogativa de
remover de local a servidão, se arcar com o custo e se não resultar prejuízo ao titular do domínio
do prédio, in verbis:

Art. 1.384. A servidão pode ser removida, de um local para outro, pelo dono do prédio serviente
e à sua custa, se em nada diminuir as vantagens do prédio dominante, ou pelo dono deste e à
sua custa, se houver considerável incremento da utilidade e não prejudicar o prédio serviente.

Dessa forma, para que o dono do prédio serviente remova a servidão, como na hipótese dos autos,
a remoção deve ser feita a suas custas e não deve diminuir as vantagens ao prédio dominante,
conforme esclarece a doutrina:

Para o uso da faculdade pelo dono do prédio serviente, basta demonstrar a vantagem na
mudança, vantagem que consistirá na redução do ônus ao seu prédio, tornando-o mais
produtivo e com menores embaraços ao aproveitamento. Não se reclama, como acontece em
algumas obrigações, a prova de determinada causa, para se autorizar a mudança, o que se
verificaria exemplificativamente quando a servidão viesse a impedir a realização de obras de
melhoramento. Suficiente esclarecer, por meio de elementos concretos, a diminuição de ônus
acarretáveis pelo encargo. Assim, todas as hipóteses ensejam a pretensão, desde que resultem
na diminuição de obrigação, conforme o princípio de que se deve procurar agravar o menos
possível o fundo serviente.

(Arnaldo Rizzardo. Servidões. Rio de Janeiro: Forense, 2ª ed., 2014, p. 117)

A análise feita pelo Tribunal de origem demonstra que todos os requisitos para a ocorrência de
uma remoção de servidão foram devidamente preenchidos, como demonstra este longo trecho do
acórdão recorrido:

De pronto, saliente-se que a via alternativa foi feita às expensas do réu e do seu esforço,
porquanto: (a) não há nada – nem mesmo alegação – de que tal ônus tenha sido suportado
pelos autores; (b) os próprios autores desde a exordial noticiaram que ele havia feito isso (fl. 2);
e (c) durante o trâmite processual, restou evidente o esforço do acionado em complementar –
mesmo que em parte com doação de terras por terceiro – o novo trajeto de forma a permitir a
entrada direta às terras de todos os autores, o que restou formalizado junto à municipalidade
(fls. 251/403).
15

Outrossim, embora alegada pelos autores que a alteração no trajeto dificultou o acesso por ser
mais longo e com mais obstáculos (aclives, curvas), assim como que gerou desvalorização nas
terras, ao examinar detidamente a questão não se constata redução global das vantagens aos
donos do prédio dominante.

Da segunda inspeção judicial, extrai-se:

(…) 2) que a via pública principal criada pelo Decreto 079/2007 encontra- se em bom estado de
conservação, permitindo acesso por meio de veículo sem maiores dificuldades, com bom tráfego,
possuindo largura a permitir trânsito de dois veículos, ressalvando-se a necessidade de
manutenção periódica e drenagem lateral, via canaletas evitando-se fissuras na pista em
decorrência do escoamento das chuvas; 3) que as duas vias instituídas para acesso ao terreno
de Edson e Eunice Alves, assim como Vanda WIleman, possibilitam o ingresso destes em seu
imóvel, contudo utilizando-se da parte dos fundos; 4) que o caminho antigo está em pior estado
se comparado à via pública, sendo mais es- treito e mais inclinado, contudo permite que o acesso
aos autores aconteça pela parte da frente dos seus respectivos imóveis, em que pese neles
transite apenas um único veículo;

(…) (fl. 571).

Acrescente-se, outrossim, que quando da realização da inspeção, foi proposto acordo pelo qual
o réu cederia, ainda, outra metragem de suas terras para possibilitar o acesso pela parte da
frente dos terrenos dos autores (item 5), o que, curiosamente, não foi aceito por estes e não pode,
portanto, ser agora sopesado contra o réu.

A partir das fotografias às fls. 88-89 e do vídeo à fl. 200, não há dúvidas de que, mesmo que
possa ser um pouco mais longo – o que se vê na fotografia de satélite à fl. 92 -e com aclives um
pouco mais pronunciados, é de superior qualidade e porte. E quanto às subidas é necessário
registrar que se trata de região que, pelo que se colhe do autuado, é permeada por tal tipo de
relevo, de forma que se conclui que aqueles que ali residem ou frequentam estão a isso
acostumados.
Vê-se, assim, que o fato superveniente atende, sim, às exigências legais de remoção da servidão,
sendo que eventuais pequenos incômodos por parte dos autores são mais do que justificados
quando, de outro lado, tem-se que o réu – que se esmerou a todo tempo por viabilizar acesso
alternativo – restaria com suas terras divididas ao meio, em evidente diminuição de sua
utilização. (e-STJ fls. 956-957)

Ademais, a apreciação da questão da remoção da servidão impõe-se ao julgador, pois não há como
corretamente decidir sobre a reintegração de posse, sem considerar a ocorrência deste novo fato,
que a alteração da servidão de passagem em discussão.

Dessa forma, o direito à reintegração de posse deve ser harmonizado com os institutos à
disposição da defesa nas ações possessórias, que possuem conhecida natureza dúplice. Sobre a
natureza dúplice das ações possessórias, a doutrina afirma o seguinte:

Ação dúplice implica, nas ações possessórias – exatamente porque há, pelo menos dois que se
pretendem titulares da posse sobre a mesma coisa – ser possível que a proteção seja para o
autor, ou, então, que essa proteção venha a agasalhar a situação do réu. E, em virtude disto,
cada um dos litigantes pode figurar como autor ou como réu, “ao mesmo tempo” diante da
circunstância de terem iguais direitos no campo processual. Ademais, “se não fossem dúplice,
o juiz, no caso em que a prova favorecesse o réu, apenas o absolveria, mas não lhe reconheceria
a posse, nem condenaria o autor, o que daria lugar à constituição das violências entre os
litigantes”.
Implica, a previsão desse caráter dúplice, em não ter cabimento reconvenção, dado que, tudo
aquilo que poderia ser pleiteado em reconvenção, deverá ser pedido na contestação, desde que
esses pedidos estejam abrigados pela regra do art. 922 do CPC.134 É necessário, para esse
16

caráter dúplice ter significação prática, todavia, que o réu faça pedido de proteção possessória,
o que é diferente, e, significa um plus em relação à solicitação da mera improcedência da ação
possessória proposta. É lícito ao réu, igualmente, cumular pedido de proteção possessória, na
contestação, com o pedido de perdas e danos. (Arruda Alvim. Op.cit., p. 45)

Desse modo, da mesma forma que a usucapião pode ser arguida como matéria de defesa em ação
possessória, nada obsta que a remoção da servidão, com o devido preenchimento dos requisitos
legais, também seja apreciada pelo julgador.

Forte nessas razões, CONHEÇO do recurso especial e NEGO-LHE PROVIMENTO, com


fundamento no art. 255, § 4º, II, do RISTJ.

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. COISAS. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. SERVIDÃO DE


PASSAGEM. NÃO TITULADA. APARENTE. PROTEÇÃO POSSESSÓRIA. FATO
SUPERVENIENTE. REMOÇÃO DE SERVIDÃO. REQUISITOS LEGAIS. PREENCHIDOS.
APRECIAÇÃO. POSSIBILIDADE.

1. Ação ajuizada em 17/05/2007. Recurso especial interposto em 28/01/2016 e atribuído a este


gabinete em 18/10/2016.

2. O propósito recursal consiste em reconhecer ou não o direito dos Recorrentes relativos à posse
sobre uma servidão de passagem instituída de forma aparente sobre imóvel do recorrido. Em
especial, deve-se determinar se há possibilidade de, no bojo de ação possessória, discutir a
remoção ou extinção de servidão de passagem não titulada, mesmo que apresentada como fato
superveniente.
3. Conforme o teor da Súmula 415/STF: “Servidão de trânsito não titulada, mas tornada
permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas, considera-se aparente, conferindo
direito à proteção possessória”.

4. À luz do disposto no art. 462 do CPC/73, é dever do julgador tomar em consideração fatos
supervenientes que influam no julgamento da lide, constituindo, modificando ou extinguindo o
direito alegado, sob pena de a prestação jurisdicional se tornar desprovida de eficácia ou inapta à
justa composição da lide

5. Da mesma forma que a usucapião pode ser arguida como matéria de defesa em ação
possessória, nada obsta que a remoção da servidão, com o devido preenchimento dos requisitos
legais, também seja apreciada pelo julgador.

6. Recurso especial não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos,
por unanimidade, negar provimento ao recurso especial nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio
Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 14 de maio de 2019(Data do Julgamento)

MINISTRA NANCY ANDRIGHI

Relatora
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Breves Considerações sobre as Servidões Prediais no


Código Civil de 2002
Leonardo Estevam de Assis Zanini

Livre-Docente e Doutor em Direito Civil pela USP; Pós-Doutor

em Direito Civil e em Direito Penal pelo Max-Planck-Institut für

Ausländisches und Internationales Privatrecht (Alemanha);

Doutorando em Direito Civil pela Albert-Ludwigs-Universität

Freiburg (Alemanha); Mestre em Direito Civil pela PUC-SP;

Bacharel em Direito pela USP; Juiz Federal; Professor

Universitário; Pesquisador dos Grupos "Novos Direitos" -

CNPq/UFSCar e "Direito e Desenvolvimento Público" da

Universidade de Araraquara (UNIARA); Autor de livros

e artigos publicados nas áreas de Direito Civil, Direitos

Intelectuais, Direito do Consumidor e Direito Ambiental;

Ex-Bolsista da Max-Planck-Gesellschaft e da CAPES.

Celso Maran de Oliveira

Pesquisador Jurídico Ambiental e Urbanístico; Professor do

Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal

de São Carlos (DCAm/UFSCar); Doutor em Ciências da Engenharia

Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP); Mestre em Direito

da Integração pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra;

Especialista em Proteção de Menores pela Faculdade de Direito da

Universidade de Coimbra; Orientador dos Cursos de Mestrado e

Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências

Ambientais da Universidade Federal de São Carlos (PPGCAm/

UFSCar); Pesquisador Líder do Grupo de Pesquisa "Novos Direitos",

cadastrado no CNPq e certificado pela UFSCar; Bolsista de Produtividade

em Pesquisa (PQ-2 - CNPq/CA - Ciências Ambientais).

Artigo publicado na Revista Magister de Direito Ambiental e Urbanístico nº 80 - Out/Nov de 2018


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RESUMO: O presente artigo realiza um breve estudo sobre o regime jurídico das servidões
prediais no CC/02. Trata-se de pesquisa que utiliza metodologia descritiva, baseada
fundamentalmente na investigação bibliográfica. Os temas mais relevantes da matéria são
analisados, como a definição das servidões, a sua natureza jurídica, classificação, características,
utilização e extinção. O estudo deixa claro ao leitor que o CC/02 reforçou a ideia de cooperação
existente na servidão, particularmente pelas previsões relativas à ampliação compulsória e à
remoção da servidão. Assim, a atribuição da utilidade de um imóvel em favor de outro, buscando
o melhor aproveitamento de ambos, atende a razões de ordem sociológica, cujas origens se
encontram na CF, que define a exigência do atendimento da função social da propriedade.

PALAVRAS-CHAVE: Servidões Prediais. Servidões Pessoais. Direito de Propriedade. Função


Social da Propriedade. Direito Privado.

SUMÁRIO: Introdução. 1 Conceito. 2 Natureza Jurídica. 3 Condições de Existência. 4


Características. 5 Classificação das Servidões. 6 Modos de Constituição. 7 Exercício das Servidões.
8 Obras Necessárias à Conservação e ao Uso das Servidões. 9 Ampliação Compulsória da Extensão
da Servidão. 10 Remoção da Servidão. 11 Extinção da Servidão. 12 Ações Relativas à Servidão.

Introdução

A ideia de servidão é bastante antiga e já era admitida pelo direito romano, que a reconheceu no
interesse da agricultura, provavelmente após a divisão das terras entre os membros das gentes 1.
Na atualidade, a servidão não deixou de ter grande importância, apresentando ampla variedade
de emprego, o que está associado à elevada complexidade imobiliária 2.

A servidão decorre do fato de que nem sempre um prédio apresenta todas as condições exigidas
por seu proprietário. Muitas vezes a utilização permanente de vantagens de prédio alheio pode
ser necessária ou útil, o que faz com que determinados prédios, que sofrem restrições, completem
as necessidades de utilização do chamado prédio dominante 3. O prédio que suporta a servidão é
chamado serviente, enquanto aquele prédio em favor do qual ela é constituída é denominado
dominante.

Trata-se então de um ônus imposto não a uma pessoa, mas sim a um prédio. O fundamento da
servidão é tornar o prédio dominante mais útil, mais agradável ou mais condizente com sua
destinação natural, o que normalmente vai trazer alguma desvantagem para o prédio serviente 4.
Não há que se falar na existência de um vínculo pessoal, que desapareceria com a transferência
da propriedade do prédio dominante 5.

1 Conceito

A servidão predial, ou simplesmente servidão, é definida como o direito real sobre coisa imóvel,
"constituído em favor de um prédio (o dominante), sobre outro prédio pertencente a dono diverso
(o serviente)" 6. Conforme esclarece o art. 1.378, a mencionada definição pode ser
complementada pela ideia de que a servidão proporciona utilidade para o prédio dominante e
grava o prédio serviente. Constitui-se, como regra, mediante declaração expressa dos
proprietários, ou por testamento, e subsequente registro no cartório de registro de imóveis do
local do prédio onerado 7.

Em se tratando de um direito real, a servidão adere à coisa e a acompanha em todas as


transferências, pelo que está indissoluvelmente ligada ao direito de propriedade do prédio
dominante em desfavor do proprietário do prédio serviente.
19

A independência da servidão em relação à pessoa dos proprietários dos prédios já era expressa
por Ulpiano, que asseverava: servitutem non hominem debere, sed rem 8. A despeito disso, a
servidão só existe quando os titulares dos prédios serviente e dominante são pessoas diversas 9.

Outro ponto importante em relação à servidão é que, para sua existência, não é imprescindível a
contiguidade entre os prédios dominante e serviente. Entretanto, normalmente os prédios são
próximos 10, uma vez que a proximidade facilita o aproveitamento em favor do prédio dominante,
mas a distância não é uma conditio sine qua non. Realmente, ainda que os prédios não sejam
contínuos, é possível a existência de servidão que beneficie o prédio dominante, o que pode
ocorrer, por exemplo, na servidão de aqueduto, em que o proprietário de um prédio tem o direito
real de passar água por muitos outros, dos quais só um deles lhe é contíguo 11.

2 Natureza Jurídica

A servidão tem natureza jurídica de direito real sobre coisa alheia de gozo ou fruição. É um direito
exercido sobre uma coisa imóvel pertencente a outrem, uma vez que não se admite servidão sobre
coisa própria. Nisso a servidão se distingue da propriedade, que é um direito real sobre coisa
própria. É real pelo fato de estabelecer um poder jurídico direto e imediato sobre a coisa, poder
este que não depende da intermediação do proprietário do prédio serviente 12.

Tratando-se de um direito real limitado, ao seu titular são garantidas as prerrogativas daí
decorrentes, contando com oponibilidade erga omnes. Ademais, seu titular tem ainda a seu favor
o ius persequendi, bem como dispõe de ação real.

Na doutrina estrangeira é comum a utilização da expressão "servidão legal" para definir os direitos
de vizinhança 13. Ocorre que essa terminologia não é adequada e ainda é evitada pelos estudiosos
brasileiros, não obstante ser utilizada por alguns julgados (REsp 935.474/RJ). É que os direitos
de vizinhança não se confundem com as servidões 14, possuindo, como já foi anteriormente
esclarecido, natureza jurídica diversa (REsp 207.738/SP).

Ademais, a servidão não se confunde com o usufruto, também chamada pelos romanos de
servidão pessoal. É que o usufruto consiste na cessão de uso e gozo de um imóvel em favor de
determinada pessoa, enquanto na servidão o benefício é estabelecido em favor do proprietário de
outro prédio 15.

3 Condições de Existência

O conceito de servidão apresenta determinados elementos que necessariamente o integram 16.


Assim sendo, é imprescindível a existência de prédios que pertençam a proprietários diferentes,
bem como uma relação de serviço ou utilidade entre os prédios 17.

a) Os prédios devem pertencer a donos diferentes

A servidão é um direito real constituído unicamente sobre imóveis alheios, não podendo gravar
bens móveis 18. É uma restrição imposta a um prédio em favor de outro, no entanto, deve ficar
claro que a relação jurídica não se forma entre os imóveis, mas sim entre os seus proprietários.
Desse modo, a servidão não pode recair sobre prédio do próprio titular (REsp 117.308/MG), o que
seria inútil (servitus fundo utilis esse debet) 19. Por uma questão de lógica, é necessário que os
donos dos prédios dominante e serviente sejam diferentes 20, visto que ninguém pode ter
servidão sobre seu próprio prédio (nulli res sua servit) 21.
20

b) A servidão onera um prédio em favor de outro prédio

Existe um ônus que sempre acompanha o prédio serviente e se estabelece em favor do prédio
dominante. A servidão não é estabelecida em favor de uma pessoa, mas sim em benefício de um
prédio. Todavia, é certo que não se trata de uma relação jurídica estabelecida entre dois prédios,
como muitas vezes imprecisamente é sugerido pela doutrina, uma vez que os prédios logicamente
não entabulam relações jurídicas 22.

Em realidade, a servidão vincula os donos dos prédios dominante e serviente, não importando
quem sejam eles. Essa vinculação não foge ao que é comum aos direitos reais. Assim, a partir do
momento em que a servidão é criada, ela se transmite a quem quer que seja o proprietário do
prédio dominante ou do prédio serviente 23.

A servidão se une aos prédios, acompanhando-os em caso de alienação (ambulat cum domino).
Trata-se de um direito real que cria obrigações ambulatórias (propter rem), que vinculam o dono
do prédio serviente, seja ele quem for 24. Considerando a inseparabilidade e o caráter acessório
da servidão, é evidente que ela não é suscetível de hipoteca isoladamente, pois não pode ser
executada em separado 25.

c) Deve existir um ônus ou encargo

A servidão não impõe obrigação de fazer ao proprietário do prédio serviente (servitus in faciendo
non consistit) 26. O proprietário do prédio serviente deve apenas se abster (non facere), como no
caso da servidão de não construir, ou ele deve sofrer ou tolerar (pati), não se opondo a que o
proprietário do prédio dominante possa desfrutar de vantagem sobre o seu imóvel, o que sucede
na servidão de passagem 27.Realmente, o proprietário do prédio serviente deve suportar as
limitações que constituem o próprio conteúdo da servidão, pois, através desta, perde ele alguns
dos seus direitos dominicais. O dono do prédio serviente fica obrigado a tolerar que dele se utilize,
para certo fim, o dono do prédio dominante 28.

4 Características

a) Indivisibilidade

As servidões prediais são indivisíveis, constituindo um todo único. Isso significa que elas
subsistem no caso de divisão dos imóveis, em benefício de cada uma das porções do prédio
dominante, e continuam a gravar cada uma das porções do prédio serviente, salvo se, por
natureza, ou destino, só se aplicarem a certa parte de um ou de outro (art. 1.386).

A indivisibilidade da servidão significa que a eventual divisão do prédio não vai afetá-la, o que já
era reconhecido pelos romanos (servitutes dividi non possunt) 29. Ainda que o imóvel sobre o
qual incida venha a ser fracionado, a servidão não comporta divisão, pois ela é una por expressa
determinação legal 30.

Com isso, se o prédio serviente for dividido, o ônus vai ser mantido em seu conjunto, tanto ativa
como passivamente. É dizer: na hipótese de divisão do prédio dominante, tem-se que a utilidade
subsistirá em favor de cada unidade 31. A servidão deve ser mantida ainda que o proprietário do
imóvel dominante se torne condômino do serviente e vice-versa. Em caso de defesa da servidão
por um dos consortes do prédio dominante, a ação aproveita a todos 32.

Por conseguinte, a servidão se exerce ou se perde por inteiro, vigorando a favor ou a cargo de
todos, na hipótese de divisão dos prédios dominante ou serviente 33. Todavia, excepcionalmente
a servidão poderá ser extinta em face de alguns dos quinhões, se por sua natureza, ou por seu
destino, não puder a eles aproveitar 34.
21

b) Perpetuidade

A servidão é perpétua, o que deve ser entendido no sentido de que sua duração é indefinida, que
se constitui sempre por tempo indeterminado e nunca por prazo certo. Não há que se falar em
resgate da servidão sem a anuência do proprietário do prédio dominante. Ela continuará
onerando os sucessivos proprietários do prédio serviente. Assim sendo, sua tendência é durar
indefinidamente, a menos que ocorra uma causa de extinção daquelas compreendidas na lei 35.

c) Acessoriedade

A servidão é um direito acessório indissociável do prédio dominante 36. Por se tratar de um


acessório inseparável, não pode ser concebida independentemente da existência do prédio
dominante ao qual está ligada 37. Ela é transmitida diretamente com o prédio dominante. Assim
sendo, o desdobramento da propriedade se dá em favor e contra os prédios 38, dependendo,
logicamente, da existência desses prédios.

d) Inalienabilidade

A servidão é estabelecida em favor de um prédio em detrimento de outro, aumentando as


utilidades do primeiro e diminuindo as do segundo. Em função do condicionamento da servidão
a uma necessidade do prédio dominante, não se pode conceber a sua transferência a outro prédio
39.

A servidão é então inalienável, o que significa que esse direito não pode associar outra pessoa ao
seu exercício e nem sobre ele pode ser constituído novo direito real. Não se pode de uma servidão
constituir outra, ou seja, uma "servidão sobre servidão" (servitus servitutis esse non potest).
Também não há direito à ampliação da servidão a outros prédios 40. Por ser inalienável, não se
admite a transferência da servidão separadamente do prédio, defluindo disso que também não é
possível conceder separadamente a servidão em hipoteca 41.

Todavia, a despeito de ser insuscetível de alienação, é certo que a servidão se transmite por
sucessão causa mortis ou inter vivos, visto que acompanha o prédio nas suas alterações subjetivas.

5 Classificação das Servidões

A doutrina aponta a existência de vários critérios de classificação das servidões. Inicialmente, é


importante destacar que é tradicional a bipartição das servidões em prediais e pessoais, critério
que remonta ao direito romano 42. Ocorre que tal concepção não faz o menor sentido, pois
atualmente as servidões são somente prediais. As chamadas servidões pessoais (usufruto, uso e
habitação) constituem hodiernamente direitos reais sobre coisa alheia 43.

Dentre os critérios de classificação, considerando o seu modo de exercício, as servidões podem


ser contínuas ou descontínuas, bem como aparentes ou não aparentes. Essas duas classificações
têm grande importância prática e teórica, visto que guardam relação com as normas atinentes à
constituição e extinção das servidões 44, permitindo-se, ainda, a sua combinação. Menor
importância tem a distinção entre as servidões positivas e negativas. Como reminiscência
histórica, ainda há a diferenciação entre servidões rústicas e urbanas 45.
22

a) Distinção entre servidões contínuas e descontínuas

A servidão é contínua quando o seu exercício independente de atuação humana, dispensa a


intervenção do homem, sendo esse o critério fundamental para a distinção 46. Logicamente, ela
pode ser exercida de forma ininterrupta, mas não é o seu exercício contínuo, como foi esclarecido,
que a caracteriza como uma servidão contínua 47.

Entre as servidões contínuas podemos destacar a servidão de aqueduto (aquaeductus), a servidão


de vista (prospectu), a servidão de não construir (non aedificandi) e a servidão de passagem de
energia elétrica. Assim, a servidão é contínua desde o instante em que seu exercício não supõe
uma renovação de atos sucessivos por parte daquele que vai se beneficiar dela: a água escoa
naturalmente pelo aqueduto, a energia elétrica passa pelos cabos e a luz passa naturalmente pela
janela 48.

Descontínua é a servidão cujo exercício supõe a intervenção do homem, isto é, necessita de fato
atual do homem para ser exercida (besoin du fait actuel de l’homme), decorrendo daí sua
descontinuidade 49. Pode-se citar a servidão de passagem e a de tirar água em prédio alheio
(aquae haustus), que permite a retirada de água de nascente, de poço ou de outra fonte de água
existente no prédio serviente 50. Desse modo, as servidões que dependerem de intervenção
constante e atual do homem são, necessariamente, descontínuas 51.

Outrossim, é de se notar que o critério de distinção entre as servidões contínuas e descontínuas


leva em conta a intervenção da atividade humana para o exercício e não para o estabelecimento
da servidão. É que existem servidões que supõem a realização de uma obra, como a servidão de
aqueduto, enquanto outras não exigem nenhuma construção, o que acontece na servidão de não
edificar. Assim sendo, a intervenção humana que serve para a distinção entre as servidões
contínuas e descontínuas está relacionada com o seu exercício atual e não com as atividades
humanas realizadas na chamada fase preparatória da servidão 52. No caso da servidão de
aqueduto, uma vez construída a canalização, a água escoará naturalmente, sem a necessidade da
intervenção de qualquer ato humano, tratando-se de uma servidão contínua 53.

b) Distinção entre servidões aparentes e não aparentes

Servidão aparente é aquela que se apresenta por obras exteriores visíveis, que se destinam e são
indispensáveis ao seu exercício 54. Pode-se citar, entre as servidões aparentes, a servidão de
passagem por estrada pavimentada e a servidão de aqueduto.

Não aparente é a servidão que não requer a existência de obra externa perceptível, que não se
revela por sinais exteriores, como é o caso das servidões negativas. Pelo fato de não serem
aparentes, a jurisprudência tem entendido que essas servidões somente podem existir quando
devidamente registradas 55. São, ainda, insuscetíveis de usucapião, pois em relação a elas não
pode haver posse ostensiva 56. Exemplo clássico de servidão não aparente é a de não construir
acima de certa altura (altius non tollendi) 57. Nessa categoria também se inclui a servidão de
caminho (servitus itineris), que permite simplesmente transitar por prédio alheio, mas essa
servidão será não aparente desde que não existam obras visíveis.

Vale notar que o caráter aparente ou não de uma servidão não está ligado a sua natureza, visto
que uma servidão de passagem pode ser aparente ou não aparente, o que vai depender unicamente
da existência de algum tipo de manifestação exterior, como uma ponte, um portão ou um caminho
pavimentado 58. E mais, essa manifestação deve ser necessariamente exterior, pois se sua
existência não for revelada exteriormente, não existirá nenhuma aparência 59.

c) Continuidade, descontinuidade, aparência e não aparência

A combinação dessas duas classificações tem considerável importância, pelo que as servidões
podem ser repartidas em quatro categorias: a) servidões contínuas e aparentes: e.g. servidão de
aqueduto e esgoto; b) servidões contínuas e não aparentes: e.g. servidão de não edificar e servidão
23

de vista; c) servidões descontínuas e aparentes: e.g. servidão de passagem por caminho visível; d)
servidões descontínuas e não aparentes: e.g. servidão de passagem por caminho não visível 60.

O Código Civil faz expressa menção às servidões contínuas e descontínuas, bem como à servidão
não aparente, pelo que esses conceitos são necessários para a correta aplicação de algumas
normas, como o art. 1.213, que trata da proteção possessória, negando os interditos às servidões
contínuas, não aparentes, bem como às descontínuas, a menos que seus títulos provenham do
possuidor do prédio serviente ou de seus antecessores.

Outro ponto importante dessas classificações está no fato de que as servidões aparentes e
contínuas podem ser objeto de posse, enquanto que as descontínuas ou não aparentes não podem.
Com isso, a servidão aparente pode ser adquirida pela usucapião, o mesmo não ocorrendo com a
servidão não aparente, cuja posse somente pode derivar de um negócio jurídico (contrato ou
testamento), que é constitutivo da sua existência 61.

E a explicação para isso está no próprio conceito de posse. Ora, se a posse é a exteriorização do
domínio, tal exteriorização só se pode manifestar, no que concerne às servidões, quando estas são
aparentes e contínuas. Dessa forma, se a servidão não for aparente e for descontínua, não há que
se falar na exteriorização de poderes inerentes ao domínio e, consequentemente, em posse. Por
isso, a usucapião das servidões se circunscreve às servidões aparentes e contínuas, sendo que o
legislador foi expresso ao determinar que as servidões não aparentes só podem ser estabelecidas
por meio de transcrição no Registro de Imóveis (art. 1.378) 62.

d) Distinção entre servidões positivas e negativas

As servidões, no que toca ao comportamento das partes, podem ser classificadas em positivas (ou
afirmativas) e negativas. As primeiras obrigam o titular do prédio serviente a tolerar atos
realizados pelo dono do prédio dominante 63, como ocorre na servidão de passagem e de
aqueduto. Já as negativas demandam uma abstenção por parte do dono do prédio serviente, o que
sucede, por exemplo, na servidão de não levantar uma construção superior a determinada altura
(altius non tollendi) 64 e na servidão de não abrir janela. Em todo caso, não obstante a menção
dessa classificação, em realidade, ela apresenta pouca importância prática 65.

e) Distinção entre servidões rústicas e urbanas

Outra classificação é aquela que analisa a natureza dos prédios, distinguindo entre as servidões
rústicas (e.g. servidão de retirada de água do poço) e as servidões urbanas (e.g. servidão de
escoamento de água por calha ou goteira). Tal critério de classificação leva em conta
simplesmente a localização das servidões em áreas rurais, fora do perímetro urbano (e.g. tirar
água do prédio vizinho), ou em áreas urbanas, nos limites das cidades (e.g. não construir prédio
além de certa altura) 66. No direito romano essa classificação tinha relevância, não contando
atualmente com nenhum interesse prático 67.

6 Modos de Constituição

A propriedade é presumida pela lei como plena, de maneira que a regra é não estar sujeita a
limitações ou restrições. Com isso, a servidão não se presume, sendo que sua existência deve
decorrer de algum dos modos de constituição, que estão previstos na legislação (arts. 1.378 a
1.379).
24

A forma mais comum de constituição de uma servidão é a partir de um ato inter vivos, mediante
declaração de vontade expressa dos proprietários (art. 1.378), que pode originar um contrato a
título oneroso, que é a forma mais corriqueira 68, ou a título gratuito, caso em que nenhuma
remuneração será devida. Na hipótese da servidão superar 30 vezes o maior salário mínimo
vigente no país, o contrato que prevê sua instituição deve adotar necessariamente a forma pública
(art. 108) 69. Ainda será necessária a outorga conjugal se o concedente for casado (art. 1.647, II).

Em todo caso, vale ainda lembrar que não é o negócio jurídico que vai efetivamente constituir a
servidão. Os contratos produzem efeitos apenas obrigacionais, sendo necessário, para a criação
de um direito real, o registro no cartório de registro de imóveis (art. 167, I, 6, da Lei nº 6.015/73)
70. Realizado o registro da servidão, tratando-se de um direito real, ela vai ultrapassar a pessoa
atual dos contratantes, vinculando seus sucessores, quaisquer que sejam eles. Antes do registro,
por outro lado, não existe uma servidão, mas apenas um negócio jurídico de direito obrigacional,
um mero direito pessoal.

A servidão também pode ser constituída por negócio jurídico unilateral causa mortis, o que é feito
por testamento, bem como pelo subsequente registro no cartório de registro de imóveis. Nesse
caso, o proprietário, ao testar um prédio, impõe ao beneficiário o encargo de uma servidão,
estabelecida em favor de outro prédio 71.

A servidão pode decorrer do seu exercício incontestado, contínuo e aparente, por dez anos, nos
termos do art. 1.242, o que autorizará o interessado a registrá-la em seu nome no cartório de
registro de imóveis, valendo-lhe como título a sentença que julgar consumada a usucapião.

Nessa linha, conforme exige o art. 1.379, a ocorrência da usucapião demanda que a servidão seja
aparente, que a posse seja contínua e incontestada, com justo título e boa-fé, bem como que
decorra o prazo de 10 anos. Se o possuidor não tiver título, o prazo será de 20 anos (art. 1.379,
parágrafo único) 72. Ademais, em todos os casos, é necessário o registro da sentença que declarou
a aquisição da servidão pela usucapião 73.

A despeito da exigência de servidão aparente pelo Código Civil, a jurisprudência tem abrandado
a legislação, admitindo que as servidões de passagem podem ser objeto de posse e,
consequentemente, de usucapião. Para tanto, apesar dessas servidões serem descontínuas e não
aparentes, mister se faz que se apresentem ostensivas e materializadas em obras externas, tais
como pontes, trechos pavimentados e outros sinais visíveis 74.

Tal posicionamento foi acolhido pelo STF, que editou a Súmula nº 415, dispondo: "Servidão de
trânsito, não titulada, mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas,
considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória". Assim sendo, se os atos
possessórios sobre a servidão forem evidentes, revelando-se por sinais externos incontestáveis,
bem como se não houver oposição do proprietário do prédio serviente, será outorgada proteção
ao possuidor da servidão, garantindo-se tanto a defesa pelos interditos como a aquisição pela
usucapião 75. Em todo caso, quer se trate de servidão aparente ou de servidão não aparente, o seu
registro é imprescindível, haja vista o mandamento do art. 168, I, f, da Lei de Registros Públicos
(Lei nº 6.015/73).

Outro modo de constituição das servidões decorre das ações de divisão, pois pode ser necessário
o estabelecimento de servidões que possibilitem a utilização dos vários lotes em que foi repartido
o imóvel. Para tanto, a legislação determina que no plano de divisão sejam instituídas as servidões
que forem indispensáveis em favor de uns quinhões sobre outros. Homologada a divisão e
devidamente registrada, fica constituída uma servidão, que teve sua origem em sentença judicial
76.

Finalmente, a servidão pode ser constituída por destinação do proprietário. Para tanto, é
necessário que uma pessoa seja proprietária de dois prédios contíguos, estabelecendo serventia
em favor de um prédio sobre outro. Enquanto os dois prédios pertencerem ao mesmo dono, não
25

há que se falar em servidão, pois esta requer a existência de proprietários diversos 77. Todavia, é
possível que a serventia se transforme em servidão, o que ocorrerá "se os prédios vierem a
pertencer a diferentes donos, seja em consequência de sucessão hereditária na qual vem a caber
a herdeiros ou legatários diferentes" 78. Dessa maneira, a servidão vai nascer no momento em
que os prédios passam a pertencer a proprietários diferentes, pelo que deixa de existir uma mera
serventia do anterior e único proprietário 79.

A destinação do proprietário tem sido acolhida pela jurisprudência como um dos modos de
constituição das servidões. Contudo, os tribunais têm exigido que o ato de alienação de ambos os
imóveis não exclua expressamente essa situação. Outro requisito fundamental é que a servidão
seja aparente, visto que a solução jurisprudencial objetiva a proteção da boa-fé do adquirente do
prédio dominante, o qual, ao adquirir o imóvel, tem justa expectativa quanto à transformação das
serventias instituídas pelo proprietário anterior em servidões. E justamente em função da
mencionada expectativa que as serventias não aparentes não se transformam em servidões por
destinação do proprietário, uma vez que o adquirente não contava com elas no momento da
aquisição do imóvel 80.

7 Exercício das Servidões

A servidão deve ser exercida nos estritos limites das necessidades do prédio dominante, uma vez
que se trata de um ônus ao direito de propriedade do prédio serviente, evitando-se, quanto

Para a delimitação desse conteúdo é muito importante a análise do título constitutivo da servidão.
O titular do prédio dominante não pode exceder os limites estabelecidos pelo referido título
constitutivo, levando-se em conta o critério da necessidade de seu prédio 81. Na hipótese de
aquisição por usucapião, o conteúdo será determinado pela extensão da posse.

Também não se admite a prática de abuso de direito, o que ocorrerá se o exercício da servidão
exceder manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes (art. 187), a despeito de tal prática não exceder os limites do título
constitutivo da servidão. Aliás, o exercício abusivo da servidão representaria uma "indesejável
ingerência na propriedade alheia, embaraçando, por conseguinte, a sua função social" 82.

Assim sendo, como regra, o dono do prédio serviente não poderá embaraçar de modo algum o
exercício legítimo da servidão (art. 1.383). Por outro lado, por se tratar de um ônus imposto ao
prédio serviente, a servidão não pode ser ampliada mediante interpretação extensiva. Para que
haja o exercício da servidão de forma moderada, a interpretação da servidão deve ser restritiva
83, pois somente assim não haverá choque com a regra que estabelece que a servidão não se
presume. O dono do prédio dominante deve, por isso, abster-se de todo tipo de ato que concorra
para o agravamento do encargo 84.

Realmente, a servidão, sendo uma restrição ao direito de propriedade, não se presume. A


propriedade é que se presume plena 85. A servidão só será admitida quando provier de uma fonte
que a lei reconhece. Com isso, deve ficar claro que: a) o domínio presume-se pleno, de sorte que
a pessoa que alega a servidão deve provar a maneira legal como a obteve; b) as servidões
legalmente existentes devem ser interpretadas restritivamente (stricti iuris), pois a interpretação
extensiva envolveria admissão de que o excesso surgiu de presunção do intérprete 86, o que colide
com a regra em análise.

Nesse contexto, limitando-se a servidão ao que foi estabelecido no título constitutivo, não é
possível sua extensão para outras finalidades. Em outras palavras, constituída para certo fim, com
expressa previsão dos limites de fruição pelo proprietário do prédio dominante, a servidão não
pode ser ampliada para outra finalidade (art. 1.385, § 1º) 87.
26

Entretanto, o Código Civil estabelece que a servidão de maior inclui a de menor ônus, regra essa
que está expressa para a servidão de trânsito (art. 1.385, § 2º), sendo aplicável, quando possível,
às demais servidões. A referida norma dispõe que "nas servidões de trânsito, a de maior inclui a
de menor ônus, e a menor exclui a mais onerosa", ou seja, se uma servidão de trânsito foi
instituída para a passagem de automóveis, sua interpretação permitirá a passagem de pedestres,
pois tal passagem representa menor ônus. Em contrapartida, se a passagem permitida é apenas
de pedestres, não se pode ampliar a servidão para a passagem de veículos.

8 Obras Necessárias à Conservação e ao Uso das Servidões

Não surge para o proprietário do prédio serviente, em princípio, nenhuma obrigação positiva,
pois a servidão não consiste em fazer algo, mas simplesmente em se abster ou suportar, não
devendo praticar atos que prejudiquem o titular do prédio dominante 88.

Como decorrência disso, para o exercício regular da servidão, cabe ao titular do prédio dominante
a realização das obras e reparações necessárias à conservação e ao uso da servidão (e.g. fazer
aterro, construir ponte, derrubar árvore, etc.), podendo inclusive, para tanto, ingressar no prédio
serviente. No caso da servidão pertencer a mais de um prédio, as despesas serão rateadas entre
os respectivos donos (art. 1.380) 89.

As obras necessárias à conservação e ao uso da servidão incumbem então ao dono do prédio


dominante e a suas expensas deverão ser feitas. Todavia, a disposição legal não é cogente,
permitindo-se a estipulação em contrário das partes, o que deve constar expressamente do título
(art. 1.381).

Quando a obrigação de realização das obras necessárias à conservação e ao uso incumbirem ao


dono do prédio serviente, este poderá exonerar-se, abandonando, total ou parcialmente, a
propriedade em favor do proprietário do prédio dominante (art. 1.382) 90.

9 Ampliação Compulsória da Extensão da Servidão

O art. 1.385, § 3º, em evidente preocupação com a funcionalização da servidão, apresenta uma
regra bastante peculiar, que possibilita ao dono do prédio dominante, mediante indenização,
exigir a ampliação da servidão, mesmo contra a vontade do proprietário do prédio serviente, se o
reclamarem as necessidades de cultura ou da indústria daquele 91.

A norma vai permitir, destoando da sistemática do código, um aumento da servidão contra a


vontade do dono do prédio serviente, para facilitar a exploração do prédio dominante. Trata-se
de uma espécie de expropriação voltada para o particular, mas que objetiva atender a razões
superiores de cunho socioeconômico 92. Todavia, a norma é clara ao determinar o pagamento de
indenização por conta do excesso decorrente da referida ampliação.

Destarte, o que se pretende é evitar que a necessidade de ampliação da servidão, exigida por um
aumento da produção, "esbarre com a recusa injustificada do proprietário do prédio serviente,
possivelmente escorado no espírito de emulação ou em uma razão de menor interesse social" 93.

10 Remoção da Servidão

O proprietário do prédio serviente pode remover o encargo de um local para outro, desde que o
faça à sua custa e não diminua em nada as vantagens do prédio dominante. Inovando na temática,
o CC/02 prevê que ao dono do prédio dominante também é possível a remoção da servidão à sua
custa, desde que haja considerável incremento da utilidade e a nova localização não prejudique o
prédio serviente (art. 1.384) 94.
27

A solução baseia-se na ideia de natureza econômica, de permitir uma maior utilização do imóvel,
evitando que se torne inaproveitável ou tenha sua utilidade diminuída. A disposição pode ser
melhor compreendida quando se pensa em uma servidão de passagem de fios elétricos. Ora, nada
"impede que o dono do prédio serviente altere o trajeto dos postes de sustentação, sem que isso
prejudique o benefício experimentado pelo dominante" 95.

Para a remoção da servidão, a doutrina e a jurisprudência têm entendido ser igualmente


necessário obter-se a anuência do principal interessado, isto é, o dono do prédio dominante 96.
Tal consentimento, porém, pode ser suprido judicialmente, caso a negativa seja fruto de mero
capricho e em nada prejudicar. Por outro lado, a faculdade de remoção também não deve ser
exercida simplesmente por capricho.

11 Extinção da Servidão

A servidão é constituída pelo seu registro no cartório de registro de imóveis e vai ser extinta,
ordinariamente, pelo cancelamento de tal registro 97. O cancelamento pode decorrer de
declaração de vontade das partes, de declaração unilateral, de decisão judicial ou de
desapropriação. Assim sendo, uma vez que a servidão se constitui pelo registro, sua extinção
somente vai ocorrer após a averbação do cancelamento 98, salvo nas desapropriações (art. 1.387).

Estando o prédio dominante hipotecado e constando da escritura a existência de servidão, será


também preciso, para o cancelamento, o consentimento do credor hipotecário (art. 1.387,
parágrafo único) 99.

A celebração de negócio jurídico entre os titulares dos prédios dominante e serviente, chamado
na legislação de resgate (art. 1.388, III), certamente importará na extinção da servidão, uma vez
que as partes estão de acordo sobre a pertinência de tal extinção. Para a liberação do ônus, o titular
do prédio serviente se compromete a pagar determinada quantia ao proprietário do prédio
dominante 100. A extinção demanda então a anuência do dono do prédio dominante, uma vez
que o resgate, em matéria de servidão, não é compulsório 101. Desse modo, para que haja a
extinção, a declaração das partes deve respeitar o disposto no art. 108, sendo imprescindível a
lavratura de escritura pública se o valor da servidão ultrapassar 30 salários mínimos, bem como
deve ser averbada no cartório de registro de imóveis.

O art. 1.388 ainda concede ao dono do prédio serviente o direito, pelos meios judiciais, ao
cancelamento do registro da servidão, embora o dono do prédio dominante impugne o ato,
quando o titular houver renunciado à servidão, ou seja, o dono do prédio dominante abriu mão
do benefício instituído em seu favor, renunciando-o expressamente. O ato de renúncia é unilateral
e expresso, mas a doutrina também tem admitido a forma tácita 102, inferida do comportamento
do dono do prédio dominante (art. 1.388, I).

Outrossim, a extinção da servidão ocorrerá quando tiver cessado, para o prédio dominante, a
utilidade ou a comodidade que determinou a constituição da servidão (art. 1.388, II). A servidão
inútil não deve existir 103. Esse seria o caso da abertura de uma estrada pública acessível ao prédio
dominante. Apesar da previsão legal, essa regra é criticada. Trata-se de um evidente erro técnico,
pois a cessação da utilidade não é uma causa de extinção pertinente às servidões, cuidando-se de
disposição voltada para os direitos de vizinhança 104. Em todo caso, a disposição tem sido aceita
na jurisprudência, sobrevindo a extinção da servidão em decorrência da perda da sua razão de
existir 105.

Também se extingue a servidão pela reunião dos dois prédios no domínio da mesma pessoa 106.
Nesse caso, opera-se a confusão, pois a existência de pluralidade de prédios pertencentes a
proprietários diversos é pressuposto para a existência da servidão (art. 1.389, I), o que desaparece
quando passam a um só domínio (nemini res sua servit) 107.
28

O não uso, durante dez anos contínuos, é outra situação que leva à extinção da servidão. Trata-se
de uma das formas mais tradicionais de extinção das servidões, contando com ampla aceitação
nos códigos estrangeiros. A doutrina atribui ao prazo o caráter de prescrição extintiva,
comportando suspensão e interrupção do seu fluxo. Ademais, para a contagem do prazo
considera-se, nas servidões negativas, o exercício pelo serviente daquilo que deveria se abster,
enquanto que para as servidões positivas, equivale a deixar de fazer aquilo a que era obrigado 108.

Por fim, existe a extinção da servidão pelo perecimento do objeto ou ainda pela supressão das
respectivas obras por efeito de contrato, ou de outro título expresso.

12 Ações Relativas à Servidão

O titular da servidão pode defender seu direito por meio de ações possessórias ou petitórias.

A servidão é um direito real suscetível de posse, a qual é chamada por alguns autores,
considerando a nomenclatura do direito romano, de quase posse 109. Todavia, a despeito da
existência dessa distinção no âmbito da doutrina, a legislação brasileira não prevê a figura da
quase posse, cuidando apenas em posse.

Existindo posse, as ações possessórias protegem a posse das servidões da mesma forma que
outros direitos reais. O proprietário do prédio dominante pode fazer uso dos interditos
possessórios (reintegração, manutenção ou proibitório). Deve-se notar, entretanto, que a tutela
possessória é garantida às servidões aparentes e contínuas, não se admitindo sua utilização se a
servidão não for aparente 110. Em relação à servidão aparente e descontínua, existe discussão
acerca da existência de posse, o que tem sido aceito pela jurisprudência no que toca à servidão de
trânsito se houver sinais evidentes de sua existência, como a existência de um portão 111.

Todavia, além dos interditos, existem duas ações petitórias para o reconhecimento da existência
ou da inexistência da servidão, são elas: a ação confessória e a ação negatória 112.

A ação confessória (actio confessoria ou vindicatio servitutis) procura alcançar o reconhecimento


judicial da existência de uma servidão negada ou contestada 113. É proposta quando o
reconhecimento da servidão for contestado ou resistido pelo proprietário do prédio serviente ou
por terceiros. Nessa ação é necessário provar que a servidão está sendo negada ou contestada 114.
Se for procedente, o réu é condenado a cessar a lesão, prestando caução de não reproduzi-la, e a
pagar as perdas e danos que houver causado.

A ação negatória (actio negatoria), por seu turno, permite ao dono do prédio serviente obter uma
sentença proclamando a inexistência da servidão ou de direito à sua ampliação. Trata-se de ação
na qual será pedida uma declaração no sentido de que o direito à servidão não existe 115. É
ajuizada contra aquele que, sem título, pretende ter servidão sobre o imóvel, ou, então, almeja
ampliar direitos já existentes. Como se presume o livre exercício do direito de propriedade, o autor
está dispensado de demonstrar que sua propriedade é livre, uma vez que esta é a presunção
estabelecida pelo Código 116.

TITLE: Brief considerations on predial servitudes in the Brazilian Civil Code of 2002.

ABSTRACT: The present article makes a brief study on the legal regime of predial servitudes in
the Civil Code of 2002. It is a research that uses descriptive methodology, based fundamentally
on bibliographical research. The most relevant issues are analyzed, such as the definition of
servitudes, their legal nature, classification, characteristics, use and extinction. The study makes
clear to the reader that the Civil Code of 2002 reinforced the idea of cooperation in servitude,
particularly with regard to the provisions on compulsory expansion and removal of servitude.
Thus, the attribution of the usefulness of one property in favor of another, seeking the best use of
29

both, attends to sociological reasons, whose origins are found in the Federal Constitution, which
defines the requirement of attending to the social function of the property.

KEYWORDS: Predial Servitudes. Personal Servitudes. Property. Social Function of Property.


Private Law.

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31

STJ: Abertura de via alternativa leva turma a negar


reintegração de servidão de passagem extinta
Em 02/07/2019

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve acórdão do


Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) que negou pedido de reintegração de
posse de servidão de passagem no qual os autores alegaram que o comprador de
terreno vizinho fechou a passagem indevidamente.

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve acórdão do Tribunal de Justiça
de Santa Catarina (TJSC) que negou pedido de reintegração de posse de servidão de passagem no
qual os autores alegaram que o comprador de terreno vizinho fechou a passagem indevidamente.

No entendimento da Terceira Turma, a abertura de nova estrada pelo recorrido, retirando a


utilidade da servidão anterior sem atrapalhar a passagem dos autores da ação (fato superveniente
ao ajuizamento da possessória), foi corretamente considerada pelo TJSC ao negar o pedido de
reintegração.

Para acessar sua residência, os autores da ação utilizavam um caminho que dividia em duas partes
outro terreno, posteriormente comprado pelo recorrido. Interessado em unificar a propriedade,
o comprador fechou a passagem – motivo pelo qual os vizinhos ajuizaram a ação de reintegração
de posse –, mas, em substituição ao caminho anterior, ele construiu uma via alternativa
contornando sua gleba por um dos lados.

Em primeiro grau, o juiz julgou procedente o pedido dos requerentes. Entretanto, em segunda
instância, o TJSC deu provimento à apelação, afirmando que a abertura de outra estrada na
propriedade teria feito cessar a utilidade da antiga servidão.

Institutos diversos

Ao analisar o recurso apresentado pelos autores da ação de reintegração, a ministra Nancy


Andrighi, relatora, fez uma distinção entre passagem forçada e servidão de passagem. Segundo a
magistrada, apesar de ambas limitarem o uso pleno da propriedade, entre elas há uma diferença
de origem e de finalidade.

A ministra explicou que a passagem forçada decorre diretamente da lei e tem a finalidade de evitar
um dano, nas circunstâncias em que o imóvel se encontra sem acesso à via pública, o que
impediria seu aproveitamento.

Já a servidão é criada, via de regra, por ato voluntário de seus titulares e, por meio dela, não se
procura atender a uma necessidade imperativa, mas conceder uma facilidade maior ao chamado
imóvel dominante.

Sem registro

Nancy Andrighi observou que o fato de não haver registro da servidão de passagem não inviabiliza
a ação possessória. Segundo ela, a servidão não é presumida nem determinada por lei, mas
decorre de ato voluntário, que pressupõe o registro no cartório de imóveis.

No entanto – esclareceu –, a jurisprudência passou a conferir proteção possessória às servidões


de trânsito, conforme estabelece a Súmula 415 do Supremo Tribunal Federal (STF): “Servidão de
trânsito não titulada, mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas,
considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória”.
32

No caso dos autos, a relatora esclareceu que os recorrentes eram os legítimos possuidores da
servidão de passagem e que o recorrido impôs restrições ilegais à fruição da servidão – o que
ensejaria, em tese, a procedência da proteção possessória.

Fato superveniente

Contudo, Nancy Andrighi apontou a necessidade de se apreciar, como fato superveniente, uma
causa modificativa ou extintiva da servidão de passagem não titulada e aparente. De acordo com
a ministra, conforme previsto no artigo 462 do Código de Processo Civil de 1973, é dever do
julgador levar em consideração fatos supervenientes ao ajuizamento da ação que possam influir
no julgamento do processo.

A relatora destacou que, conforme estabelecido no artigo 1.384 do Código Civil de 2002, para que
o dono do imóvel serviente remova a servidão, essa remoção deve ser feita às suas custas e não
pode diminuir as vantagens ao imóvel dominante, como ficou caracterizado nos autos.

“A análise feita pelo tribunal de origem demonstra que todos os requisitos para a ocorrência de
uma remoção de servidão foram devidamente preenchidos”, afirmou a ministra.

Leia o acórdão.

Esta notícia refere-se ao(s) processo(s):REsp 1642994

https://www.irib.org.br/noticias/detalhes/stj-abertura-de-via-alternativa-leva-turma-a-negar-
reintegracao-de-servidao-de-passagem-extinta
33

Capítulo de livro
Servidões/ Arnaldo Rizzardo
RIZZARDO, ARNALDO. Servidões. Grupo GEN, 2014. [Minha Biblioteca].
36

JURISPRUDENCIA
37

6 - Processo: Agravo de Instrumento-Cv

1.0000.19.146243-1/001

1462449-11.2019.8.13.0000 (1)

Relator(a): Des.(a) Renan Chaves Carreira Machado (JD Convocado)

Data de Julgamento: 24/06/2020

Data da publicação da súmula: 29/06/2020

Ementa:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE -
CERCEAMENTO DE DEFESA - CONTRADITA EM SEDE RECURSAL - PRECLUSÃO
- SERVIDÃO DE PASSAGEM - TUTELA DE URGÊNCIA - MERA TOLERÂNCIA -
EXISTÊNCIA DE OUTRO ACESSO AO IMÓVEL - CONVENIÊNCIA DA PARTE - REQUISITOS
- AUSÊNCIA. - A parte poderá requerer a contradita da testemunha até o momento de sua
qualificação, conforme disposto no art. 457, §1º do Código de Processo Civil, sob pena de
preclusão. - Para a concessão da tutela de urgência, mostra-se necessária a comprovação de
probabilidade do direito alegado e do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo. -
A servidão decorre da necessidade de passagem, e não, da maior comodidade do usuário, não
sendo admitida a presunção da existência de servidão, como se infere do art. 1.378 do Código
Civil, devendo haver prova cabal da sua existência. - Os atos de mera tolerância não induzem à
proteção possessória, pois esta é exercida em caráter precário.

21 - Processo: Apelação Cível

1.0309.18.000945-3/001

0009453-98.2018.8.13.0309 (1)

Relator(a): Des.(a) Octávio de Almeida Neves

Data de Julgamento: 20/02/2020

Data da publicação da súmula: 03/03/2020


38

Ementa:
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - INTERDITO PROIBITÓRIO - PERMISSÃO
DE PASSAGEM POR ATO DE MERA TOLERÂNCIA - SERVIDÃO NÃO CONFIGURADA -
TUTELA PROTETIVA DA PROPRIEDADE DOS AUTORES - PEDIDO PROCEDENTE
A utilização de caminho havido na propriedade dos autores por ato de permissão de uso concedido
por mera liberalidade e tolerância não gera direito para o requerido, podendo ser limitado a
qualquer tempo. Passagem que não gera direito por se tratar de ato tolerado a título precário.
40

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