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DIREITO DE SUCESSÃO INTERVIVOS

Leonel Victor Jardim da Cunha

RESUMO
O Direito de Sucessão identifica quem, na transmissão dos bens, receberá as cotas
herdadas, doadas ou cedidas conforme garantido pela lei. Esta ação pode ocorrer por ato
realizado entre as pessoas vivas, intuitu personae. A sucessão na técnica jurídica
consiste na transmissão de bens decorrente da substituição de uma pessoa por outra na
titularidade de direito e pode operar-se a título gratuito, inter vivos ou causa mortis
quando há ocorrência de óbito do proprietário dos bens que serão herdados. Neste
artigo, a abordagem do tema explanará os modelos de sucessão e seguirá uma linha de
análise em torno da partilha de bens entre vivos, ou seja, quando existe uma demanda
que sugere essa condição. Essa partilha é instrumentalizada por via de escritura pública,
com o advento da Lei 11.441/2007 que busca minimizar o curso processual na
realização do inventário e partilha; ou por testamento via Planejamento Sucessório, e é
ato lícito e previsto em lei. O Art. 2.018 do Código Civil de 2002 ressalta que “é válida
a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que
não prejudique a legítima dos herdeiros necessários” e a lei utilizada em casos de
partilhas de bem entre vivos. Esses modelos de sucessão baseados na lei
trazem segurança na distribuição dos bens e na antecipação dos tributos, salvo
estipulação em contrário, deixando os herdeiros confortáveis para administrar suas
novas posses, haja vista originarem-se de uma causa não necessariamente cômoda.

Palavras-Chave: Direito de Sucessão. Inter Vivos. Partilha de Bens. Herança. Modelos


de Sucessão.
ABSTRACT

The Law of Succession identifies who, in the transmission of assets, will receive
inherited, donated or ceded shares as guaranteed by law. This action can occur by act
performed among living people, intuitu personae. Succession in the legal technique
consists in the transfer of assets resulting from the substitution of one person for another
in the ownership of law and may operate free of charge, inter vivos or cause death when
there is a death of the owner of the assets that will be inherited. In this article, the theme
approach will explain succession models and will follow a line of analysis around the
sharing of goods between the livings, that is, when there is a demand that suggests this
condition. This sharing is instrumented by public deed, with the advent of Law 11.441 /
2007 that seeks to minimize the procedural course in the realization of inventory and
sharing; Or by testament via Succession Planning, and is a legal act and provided for by
law. Art. 2.018 of the Civil Code of 2002 states that "sharing is made by ascendant, by
act between living or last will, provided that it does not harm the legitimate of the
necessary heirs" and the law used in cases of sharing of good between Alive. These
models of succession based on the law bring security in the distribution of the goods
and in the anticipation of the tributes, unless stipulated to the contrary, leaving the heirs
comfortable to administer their new possessions, since they originate from a cause not
necessarily comfortable.

Key Words: Right of Succession. Inter Vivos. Sharing of Goods. Heritage. Succession
Models.
1. INTRODUÇÃO

Para Pires Lima, entende-se por sucessão “quando uma ou mais pessoas vivas
são chamadas à titularidade das relações jurídico-patrimoniais de uma pessoa morta".
Ou seja, a patente de direitos e obrigações que se transfere de acordo com a primeira
noção, e marca o carácter derivado da aquisição de bens e compromissos dos herdeiros
em relação ao que será herdado.

Matesco (2014) em sua dissertação sobre sucessão familiar em empesas


discorre no que diz respeito à sucessão patrimonial em alinhamento com a manutenção
da longevidade de uma empresa, onde destaca que é importante realizar um
planejamento sucessório levando em consideração possíveis conflitos para a escolha de
um profissional qualificado, nesse caso a preparação de um sucessor para uma empresa
em mudança de chefia é um desafio redobrado. Pela lei, o direito a concessão é relatado
no Livro V do vigente Código Civil, entre os arts. 1.784 e 2.027, compreendendo os
títulos: Disposições Gerais, Sucessão Legítima, Sucessão Testamentária, Inventário e
Partilha. Na esfera processual, aplicam-se as normas do Código de Processo Civil, arts.
982 a 1.045.

Giacomin (2013) faz uma análise sobre um círculo virtuoso formado pós-
sucessão em quatro vertentes: na sucessão ou o prosseguimento da sociedade
empresarial sem a participação dos sucessores na administração; na liquidação da quota
dos herdeiros com a apuração de haveres; no inventariante prosseguir na sociedade na
condição de sucessor do falecido, sem o pagamento de qualquer espécie; e na negativa
dos herdeiros em continuar na sociedade; ou, em última hipótese, recusados pelos
demais sócios.

Sobre esses temas, este trabalho pretende abordar os trâmites para a sucessão
de bens numa partilha entre vivos, quer seja causada por falecimento, que seja por
cessão, doação, ou herança após alguma impossibilidade do proprietário e sua
conseguinte vontade em direcionar seus bens. O que demonstra que o Código Civil
estende seus efeitos tanto para a sucessão entre vivos quanto para depois da morte da
pessoa, nas esferas patrimoniais e da sucessão hereditária.
1.1. Conceito de Sucessão

São normas que regem a transferência do patrimônio de alguém, depois de sua


morte ou de um ato de alteração do titular dos direitos, a um herdeiro, em virtude de lei
ou de testamento. A sucessão testamentária remonta da grande importância da
designação do sucessor para o Direito Romano no que tange a administração dos bens
herdados, afirmada por meio de testamento. Isso se dava como consequência da
necessidade de o romano ter sempre, após sua morte, quem continuasse o culto familiar.
Pelas mesmas razões tinha importância o instituto da adoção. A propriedade e o culto
familiar caminhavam juntos. A propriedade continuava após a morte, em razão da
continuidade do culto.

O direito romano se propagou para o atual ordenamento jurídico com o


propósito de apontar a existência das mais ordinárias regras de direito no que tange ao
direito sucessório. Vale ressaltar, que o direito romano já discutia a linha sucessória
tanto com a sucessão inter vivos, quando em vida das pessoas envolvidas, como nos
casos de capitis deminutio, adrogatio e convenção de manus, como a sucessão causa
mortis quando ocorre por causa de óbito do provedor. (Alves, 2007, p. 703). Na
sociedade romana a linha hereditária levava ao direito de herança para o filho varão (a
filha provisoriamente), o que também instituiu a classe dos herdeiros necessários, os
“heredes sui et necessari”.

2. DIREITO DAS SUCESSÕES

Conforme o Código Civil (art. 1.786) a sucessão pode ser legítima (ab
intestato) ou testamentária. No primeiro caso, decorre da lei; no segundo, de disposição
de última vontade, ou seja, de testamento ou codicilo, ou seja, por manifestação de
última vontade de forma escrita. Morrendo a pessoa sem testamento (ab intestato),
transmite-se a herança a seus herdeiros legítimos (art. 1.788), expressamente indicados
na lei (art. 1.829), de acordo com uma ordem da vocação hereditária. Por isso se diz que
a sucessão legítima representa a vontade presumida do de cujus de transmitir o seu
patrimônio para as pessoas indicadas na lei. Caso fosse outra intenção teria que pelo
próprio testamento se valer. Será, ainda, legítima a sucessão se o testamento caducar ou
for julgado nulo (art. 1.788, parte final).

Para Miranda (2011) “a legitimação para suceder equivale à ideia de


personalidade jurídica. Logo, podem receber por herança, pessoas naturais vivas quando
da abertura da sucessão e pessoas jurídicas existentes quando da morte”. A Constituição
Federal estabelece, no art. 5º, XXXI, benefício ao cônjuge ou filhos brasileiros, na
sucessão de bens de estrangeiros situados no País, o que permite a aplicação da lei
pessoal do de cujus, em caso de necessidade.

Quanto à forma de aplicação da lei o nosso ordenamento jurídico não admite


outras formas de sucessão, como a contratual, por serem expressamente proibidos os
pactos sucessórios, não podendo ser objeto de contrato herança de pessoa viva (art.
426). No entanto, podem os pais, por ato entre vivos, partilhar o seu patrimônio entre os
descendentes, conforme o art. 2.018 do Código Civil que relata a validez da partilha
para ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique
a legítima dos herdeiros necessários. No caso de sucessão anômala ou irregular a
sucessão se dá por normas peculiares e próprias, não observando a ordem da vocação
hereditária estabelecida no art. 1.829 do Código Civil para a sucessão legítima.

Assim, por exemplo, o art. 692, III, do diploma de 1916, ainda aplicável às
enfiteuses constituídas durante sua vigência (CC, art. 2.038), prevê a extinção destas,
em caso de falecimento do titular da propriedade não ter herdeiros, salvo o direito dos
credores. A regra constitucional no art. 5º, XXXI da CF visa não só prover o direito de
propriedade de maior tutela como também de proteção absoluta ao direito de herdar.

3. SUCESSÃO INTER VIVOS E CAUSA MORTIS

O assunto relevante nesse artigo é abordar a partilha inter vivos numa possível
necessidade daquele cuja sucessão se trata, haja eminência de morte ou já ela fato
consumado. Numa relação de sociedade familiar, por exemplo, o herdeiro sucede ao
sócio enfiteuta, adquirindo os direitos e deveres que a este pertenciam. Na hipótese,
ocorre a sucessão inter vivos pode existir por meio da doação, em que o doador faz a
liberalidade em favor de determinada pessoa, para que esta, após certo tempo, a
transmita a outrem, desde logo indicado.
Para Gonçalves (2012) ‘inclinam-se alguns pela negativa, ao fundamento de
tratar-se de matéria peculiar ao direito das sucessões, no entanto, a corrente que sustenta
a compatibilidade do instituto com os atos inter vivos prevalece por inexistir motivo
legal que justifique a vedação”. Neste caso, será, na realidade, uma liberalidade
semelhante ao fideicomisso regida pelos dispositivos do direito das obrigações.

Ribeiro (2008) relata que como efeito da morte, dá-se a transmissão dos bens
do falecido, procedimento que independe do inventário e da partilha, pois a posse e o
domínio dos bens transferem-se imediatamente aos sucessores, sem necessidade de
qualquer formalidade (artigo 1.784 do Código Civil). Contudo na classificação deste
processo denomina-se posse indireta o direito sobre a posse e o domínio, visto que a
posse direta cabe ao administrador provisório.

A efetividade da entrega dos bens ocorre somente após a partilha destes de


posse do material inventariado. Os bens transmitidos na sucessão por causa mortis
abrangem tanto os bens materiais como direitos, obrigações, créditos, débitos etc., ou
seja, o conjunto de bens transmissíveis (herança), que só deve ser entregue aos herdeiros
após o pagamento das dívidas do falecido. Juridicamente, a herança é considerada um
bem indivisível, por ficção da lei, até o momento da partilha.

4. SUCESSÃO A TÍTULO UNIVERSAL OU PER UNIVERSITATEM E A


TÍTULO SINGULAR OU PARTICULAR

A sucessão a título universal ocorre quando o sucessor recebe uma


universalidade de bens do de cujus. Na sucessão, este recebe todo um patrimônio ou
uma fração dele. É um conjunto de bens, uma universalidade, caracterizada por ser todo
o patrimônio de uma pessoa ou uma fração desse patrimônio. Isso vai depender da
quantidade de herdeiros, realizando assim na sucessão a transmissão da universalidade
de bens para a figura dos herdeiros.

Já a sucessão a título particular ou singular se dá por meio do legado deixado


em testamento, ou seja, quando o testador deixa, certo bem determinado,
especificamente para um ou mais herdeiros. O testador por meio desse testamento deixa
uma quantia determinada, por exemplo, a um herdeiro que pode não se descrito como
ascendente, descendente ou cônjuge que seriam os herdeiros da sucessão legítima.
O herdeiro necessário, sendo legitimário ou reservatário é aquele descendente
ou ascendente sucessível e o cônjuge conforme art. 1.845 do Código Civil, ou seja, todo
parente em linha reta, não excluído da sucessão por indignidade ou deserdação, bem
como o cônjuge, que só passou a desfrutar dessa qualidade no Código Civil de 2002, o
que consiste numa adaptação evolutiva dos direitos de sucessão. No caso do herdeiro
universal, ou o herdeiro único, a totalidade da herança, mediante auto de adjudicação e
não de partilha lavrado no inventário em sua outorga (GONÇALVES, 2012).

5. TRANSMISSÃO DA HERANÇA

No art. 1.784., relata-se que “aberta à sucessão, a herança transmite-se, desde


logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. A abertura da sucessão ocorre no
momento da morte, e é nesse momento que a herança é transmitida aos herdeiros”. Vale
ressaltar que o herdeiro não responde pelas dívidas da herança, que superem sua força.
Em razão desta disposição, inserida inclusive no texto constitucional, extinguiu-se a
denominada aceitação a benefício do inventário, uma vez que, legalmente, hoje todas as
heranças aceitas não implicam prejuízos maiores que o valor os bens recebidos pelos
herdeiros.

Para Silva (2011), ao transmitir a herança se firma a ligação do direito das


sucessões com o direito de família e são envolvidos personagens ativos e passivos,
direito e obrigações que não se prescindem no campo do direito das obrigações e muito
menos da parte geral do Código Civil. Portanto, o direito das sucessões é colocado
como a última parte do Código e, também, didaticamente, é o último compartimento de
estudo nas escolas de Direito. Para ele o direito sucessório também está correlacionado
com o direito tributário, no momento em que há o recolhimento do imposto específico,
causa mortis; e por questões de imposto de renda relativas ao de cujus, etc. E também
com o direito previdenciário no caso de pensão a ser herdada, com o direito penal no
exame das causas de deserdação e indignidade, por exemplo; e por fim no direito
processual, para a elaboração de inventário e seus incidentes e nas ações derivadas da
herança, como a ação de sonegados e de petição de herança.

É por meio de um procedimento de formalização da transmissão dos bens aos


sucessores que se processa a sucessão de direitos. Esse inventário é classificado no
sentido técnico como procedimento especial de jurisdição contenciosa que pode ser
judicial ou extrajudicial e é subdividido nas seguintes espécies: Tradicional e
Arrolamento. Já no caso da Partilha existe a atribuição do bem individualizado que faz
parte do acervo herdado pelo sucessor, em suma, a partilha costuma complementar o
inventário (SILVA & OLIVEIRA, 2014). A transmissão se completa na lei por meio do
Art. 1.804 que relata que “aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao
herdeiro, desde a abertura da sucessão”.

6. ACEITAÇÃO, DOAÇÃO, RENÚNCIA E DESERDAÇÃO.

A aceitação da herança pode se dá de forma expressa, que é quando o herdeiro


declara que aceita os bens, de forma tácita, que é quando o herdeiro comporta-se de
modo a deduzir que aceitou a herança ou de forma presumida quando o interessado em
que o herdeiro declare a aceitação da herança pode solicitar ao juiz um prazo para que o
herdeiro se manifeste sobre a aceitação desta, a fim de garantir a integridade dos seus
possíveis direitos à herança. A natureza jurídica da aceitação é de negócio jurídico
unilateral, incondicional e indivisível.

Para a doação da herança inter vivos é uma maneira de poupar a família de


realizar os trâmites judiciais apenas após a morte do de cujus o que pode causar
consternação devido às circunstâncias desagradáveis da situação. De posse de toda a
documentação necessária, pode ser uma alternativa a doação do patrimônio para que
este seja transferido ainda em vida. Já que em caso de pós-morte, haverá necessidade de
inventariar de qualquer maneira os bens do falecido para uma sucessão.

Nesse processo de doação ainda em vida existe a vantagem econômica em


relação ao inventário, pois o doador fica livre das custas judiciais, e ainda pode diluir as
despesas ao longo do tempo, transferindo seu patrimônio aos poucos para os herdeiros.
Ainda é possível doar um bem para qualquer pessoa ou entidade, sem limite de valor e,
em geral, sem cobrança de Imposto de Renda. Já no inventário não é possível deixar
bens para instituições ou para pessoas que não sejam da família, a menos que haja
testamento. Para isso é necessário que o doador se certifique de que seus herdeiros
estarão de acordo com a partilha, a fim de evitar possíveis disputas judiciais.

A renúncia pode ser abordada como renúncia abdicativa ou translativa (cessão,


desistência). Caso o herdeiro se manifeste renunciando sem ter praticado qualquer ato
que exprima aceitação, logo ao se iniciar o inventário ou mesmo antes, quando é pura e
simples, em benefício do monte, sem indicação de qualquer favorecido, a renúncia se dá
de forma abdicativa (art. 1.805, § 2º), nesse caso o imposto por transmissão é apenas o
causa mortis.

Quando o herdeiro que renuncia em favor de determinada pessoa, citada


nominalmente, está praticando dupla ação: aceitando tacitamente a herança e, em
seguida, doando-a. Nesse caso, não há renúncia (ou repúdio), mas sim cessão ou
desistência da herança ou o que alguns autores chamam de translação da herança, que
pode ocorrer, também, mesmo quando pura e simples, se manifestada depois da prática
de atos que importem aceitação, como a habilitação no inventário, manifestação sobre a
avaliação, sobre as primeiras e últimas declarações etc. Na renúncia translativa, é
devido o causa mortis e o inter vivos.

Por fim, a exclusão do sucessor feita pelo próprio autor da herança, constitui
deserdação deste sucessor da herança que lhe era cabida. A manifestação de vontade do
testador é imprescindível. Apenas podem ser deserdados os herdeiros necessários, e na
manifestação expressa, feita normalmente em cédulas testamentárias, deve estar
explicando o porquê da deserdação. O artigo Art. 1.962 do Código Civil autoriza a
deserdação dos descendentes por seus ascendentes em casos de ofensa física e injúria
grave. O conceito de indignidade surge na exclusão do herdeiro diante do fato de ele ter
praticado um ato reprovável contra o de cujus com a punição da perda do direito
hereditário. A indignidade é uma sanção civil que causa a perda do direito sucessório e
para validação dessa exclusão é necessário que haja atos contra a vida, contra a honra e
contra a liberdade de testar do autor da herança, como citado no art. 1.814 do Código
Civil Brasileiro.

7. A VANTAGEM DA PARTILHA EM VIDA E DIREITO DE PEDI-LA

A antecipação da herança em vida se torna mais viável pois acaba fazendo a


vontade do doador na partilha dos bens. É importante frisar que o tradicional e principal
benefício da partilha em vida é que os bens, objeto desta partilha, não se sujeitam ao
procedimento do inventário, que além de muito caro, um processo de inventário é
demasiadamente demorado e burocrático, além de favorecer a desarmonia entre os
Herdeiros. Exatamente pela razão exposta, acerca da dificuldade no processo de
inventário, que em muitas vezes a partilha em vida da totalidade dos bens NÃO é
recomendada, ou, quando for, deve-se ter o máximo de cautela. Isso porque a partilha
em vida não dispensa o inventário quando não houver perfeita igualdade entre os
herdeiros e nem sempre isso é possível.

Outro ponto benefico da partilha ato inter vivos é instrumentalizada sob as


formalidades da doação, inclusive para fins fiscais (ITCMD), sendo imprescindível a
indicação expressa de que eventuais desigualdades na partilha entre os herdeiros foram
originadas da parte disponível da herança, sob pena de doação inoficiosa e nulidade, ou
sob pena da necessidade cogente de se levar à colação a parte recebida a mais que os
demais. No que tange os tributos federais, em especial do Imposto de Renda, como os
três institutos são realizados por meio da doação, quando a transferência for feita pelo
mesmo valor constante na declaração do Imposto de Renda do doador, não haverá
incidência de Imposto de Renda. Entretanto, se a transferência for realizada por valor
maior, haverá tributação na forma de ganho de capital, conforme artigo 21, V da IN
RFB 1.500/2014.

Cuida anotar que o herdeiro tem o direito de exigir a partilha, consoante


expressa disposição da redação do artigo 2.013 do Código Civil não sendo possível a
renúncia nem a proibição de seu exercício determinada pelo testador. Assim, poderão
requerê-la o cônjuge meeiro, o companheiro, o cessionário de herança e o credor do
herdeiro. “O direito de exigir partilha tem natureza, os caracteres e a estrutura do
direito do condomínio de promover a extinção do condomínio. É um direito
potestativo”. Ao lado disso, insta ponderar que se trata de um direito irrenunciável, no
sentido de que outro coerdeiro, ou mesmo outro titular, não poderá privar-se de sua
titularidade.

Nesta toada, é imprescindível destacar que não subsiste qualquer obstáculo,


caso os herdeiros assim convencionem, que o patrimônio que constitui o acervo
hereditário permaneça indiviso por determinado lapso temporal. Carecido se faz,
entretanto, que sejam legitimados à realização de partilha amigável. O Estatuto da
Terra, quando o bem partível for imóvel rural que, por sua dimensão, não é passível de
fracionamento, em razão de expressa vedação legal, estabelecendo, por via de
consequência, verdadeira limitação à partilha. Ademais, o direito de exigir partilha não
se confunde com o de pedir quinhão, porquanto este é exercido para que o juiz, em sede
de despacho, estabeleça os bens que devem enchê-lo. “O pedido de quinhão deve ser
ajuizado pelos interessados e despachados pelo juiz, em prazo certo. O despacho de
deliberação de partilha resolve os pedidos dos herdeiros e designa os bens que devem
encher o quinhão de cada qual”.

8. CONCLUSÃO

Neste artigo foi elucidada a questão da partilha de bens entre vivos, contando
com a lei no que tange ao direito de sucessão e suas aplicabilidades. Pode-se observar
que o Código Civil e a própria Constituição Federal, permeiam soluções plausíveis para
que os herdeiros em vida se tornem efetivos sucessores de uma herança. É preciso
atentar para a existência de documentação pré ou pós-morte do de cujus, o que torna a
sucessão de bem um procedimento longo ou ávido dependendo de como este optou por
manifestar sua vontade final.

Em suma, o testador pode determinar a quem caberá suas posses de acordo


com a sua vontade antes mesmo de sua morte, contudo caso não haja essa manifestação,
e em alguns casos específicos é possível que o herdeiro por meio de inventário e
partilha dos bens tenha acesso a sua herança, a lei está para garantir que a mesma seja
partilhada de forma justa entre os sucessores.

9. REFERÊNCIAS

ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.

GIACOMIN, Rosilene Gomes da Silva. Sucessão Por Ato Inter Vivos: A


Transferência Voluntária De Quotas No Direito Brasileiro. Revista Científica da
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Especial, jan-jul 2013.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das sucessões - 14. ed. – São Paulo : Saraiva,
2012. – (Coleção sinopses jurídicas; v. 4) 1. Direito civil 2. Direito das sucessões I.
Título. II. Série. CDU-347

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm

MATESCO, Karen. A problemática da sucessão em empresas familiares e a


instrumentalização da governança corporativa: um estudo de caso – Dissertação
(mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Centro de
Formação Acadêmica e Pesquisa. Rio de Janeiro, 2014.

MIRANDA, Maria Bernadete. Direito das Sucessões - Parte II. São Paulo: Direito
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SILVA, Sandro Luiz da, OLIVEIRA, Ariane Fernandes de. Direito Das
Sucessões – Causa Mortis. 2014.

SILVA, Ubiratan Rodrigues da. Direito Civil VI - Direito Das Sucessões - Plano De
Ensino: Unidade I. Introdução Ao Direito Das Sucessões 1 Conteúdo Programático aula
nº 02, 2011.

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