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VITÓRIA PEREIRA SOARES

DIREITO DAS SUCESSÕES

FADILESTE – FACULDADE DE DIREITO E


CIÊNCIAS SOCIAIS DO LESTE DE MINAS

REDUTO – 2022
SUMÁRIO

1. Da sucessão em geral.......................................................................................3

2. Da sucessão Legítima.......................................................................................3

3. Sucessão Testamentária ...............................................................................12

4. Do Inventário e da Partilha ............................................................................13

5. Referências .....................................................................................................16
I – Da sucessão em geral

Sucessão significa transferência por morte, da herança ou, então, do legado, ao


herdeiro/legatário, em razão de lei ou testamento.

A sucessão legítima, também conhecida como sucessão ab intestato ou ainda não testamentária,
é aquela decorrente das disposições legais. Não havendo testamento, necessariamente a sucessão
será legítima, passando o patrimônio do falecido na ordem da vocação hereditária às pessoas
indicadas pela lei, chamados herdeiros (CAHALI, 2003, p. 28). Regra geral, a presença uma classe
de herdeiros mais próxima por vínculos hereditários ou legais com o autor da herança conforme
enumeração legal exclui a classe subseqüente da partilha.

Sobre esse tipo de sucessão, Washington de Barros assim se pronuncia:

Se não há testamento, se o falecido não deixar qualquer ato de última vontade, a sucessão é
legítima ou ab intestato, deferido todo o patrimônio do de cujus às pessoas expressamente indicadas
pela lei, de acordo com a ordem de vocação hereditária (CCB, art. 1829). Assim estabelece o art.
1788: ‘morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo
ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão
legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo. A essas hipóteses acrescenta-se a revogação
do testamento (MONTEIRO, 2003, p.9).

Em outras três hipóteses a sucessão também será realizada pelas disposições da legítima.
Primeira, quando em seu ato de última vontade o autor da herança não dispõe da integralidade de
seus bens, isto é, consta parte deles em testamento e sobre outra parte nada manifesta. Segunda,
caso houver caducidade do testamento ou, por fim, se o testamento for considerado nulo. Nesse
caso, a sucessão será deferida na ordem legal de vocação hereditária às pessoas expressamente
indicadas no art. 1.829 do CC. Sucessão legítima, portanto, é a que é deferida por determinação
legal (MONTEIRO, 2003, p. 9).

Preceitua o art. 1.829 do CC:

Art. 1.829 - A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I- aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado
bens particulares;
II- aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III- ao cônjuge sobrevivente;
IV- aos colaterais.

A partilha do patrimônio do autor da herança é realizada por classes, havendo hierarquia de


preferência da primeira em relação às demais que lhe estão abaixo, da segunda em relação às
demais que lhe estão abaixo e assim por diante, de acordo com a ordem hierárquica de parentesco
estabelecida pela lei. Há uma presunção de que a relação escalonada de preferências na ordem de
vocação hereditária seria o desejo do autor da herança.

Assim, o artigo 1.829 do Código Civil adotou a seguinte ordem de preferência no chamamento à
herança: descendentes, ascendentes, cônjuge e colateral até o quarto grau, sendo que o cônjuge
concorre com descendentes, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal,
ou no da separação obrigatória de bens (art. 1640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares, ou com os ascendentes, em não
havendo descendentes (TARTUCE, 2012, p. 1275).

Na falta de todos os herdeiros listados nos incisos do art. 1.829 ou de companheiro ou em caso
de renuncia de todos eles, o direito sucessório será transmitido ao Município ou ao Distrito Federal.
Os bens passam ao domínio do Poder Púbico por meio de sentença declaratória de vacância dos
bens após cinco anos da abertura da sucessão.

Vale ressaltar que o Poder Público não é considerado herdeiro, não lhe sendo reconhecido o
direito de saisine que decorre do conhecido Princípio da Saisine segundo o qual a herança
transmite-se automaticamente no momento da abertura da sucessão, ou seja, no momento da
ocorrência do evento morte. Por isso, não entra na posse e propriedade da herança pelo fato da
abertura da sucessão, mas sim por força de sentença. (CARVALHO, 2002, p. 74).

Tendo como pressupostos da sucessão a morte, podendo ser a morte real (quando há cadáver),
presumida (se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida), bem como a
vocação hereditária, que nada mais é do que a convocação de pessoa com direito à herança para
que receba o patrimônio deixado pelo falecido.
Sucessão por CABEÇA ocorre quando todos os herdeiros são do mesmo grau. Cada herdeiro do
mesmo grau corresponde uma quota igual na herança. A herança é dividida entre todos os herdeiros
aos quais é deferida.

Sucessão por ESTIRPE concorrem, na sucessão, descendentes que tenham com o de cujus
graus de parentesco diferentes, ou quando a partilha, em vez de se fazer igualmente entre pessoas,
faz-se entre certos grupos de descendentes, grupos constituídos pelos descendentes do herdeiro do
grau mais próximo.A sucessão por estirpe dá-se na linha reta descendente, excepcionalmente, na
linha transversal, mas nunca na linha reta ascendente.)

Nessa primeira classe, a dos descendentes, pode ser exercido o direito de representação
(estabelecido no artigo 1620 do Código Civil de 1916). Dessa forma, se um dos filhos do falecido já
morreu, os descendentes desse podem receber seu quinhão hereditário, por estirpe.

Desta forma, os netos do falecido poderão suceder (por estirpe, ou seja, por direito hereditário de
representação), juntamente com os demais filhos (que sucedem por cabeça, ou seja, por direito
hereditário próprio) do autor da herança.

Exemplo: o falecido teve dois filhos, A e B. A está vivo no momento do falecimento do pai e B já
havia morrido, porém tem dois filhos vivos. A herança é dividida em duas partes iguais de 50% cada.
A, filho vivo do autor da herança, herdeiro por cabeça, por direito próprio recebe sua parte de 50%.
Os filhos de B (herdeiro pré-morto), netos do autor da herança, herdam por estirpe, pelo direito de
representação, recebendo cada um 25% que totalizam os 50% que seria a parte do pai.

Essa determinação consta do artigo 1604 do Código Civil de 1916, cujo teor dispõe que na linha
descendente os filhos sucedem por cabeça e os outros descendentes por cabeça ou por estirpe,
dependendo do grau de parentesco. A herança pode ser dividida entre parentes de graus diversos.

O novo Código Civil, de 2002, contém o mesmo dispositivo legal, em seu artigo 1835: "Na linha
descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe,
conforme se achem ou não no mesmo grau."

A expressão latina, derivada de "de cujus sucessione agitur", de cuja sucessão se trata, utilizada


na área jurídica para designar o falecido, usada comumente como sinônimo de 'pessoa falecida',
numa figura eufemística substitutiva de 'defunto' ou 'morto'.

A sucessão tem por finalidade dar continuidade à relação jurídica de propriedade


patrimonialmente valorada com a transmissão dos bens do de cujus para os seus sucessores. Por
expresso comando constitucional, as dívidas do falecido não são repassadas aos herdeiros, senão
até o limite do patrimônio transmitido para esses na sucessão.
Existem os herdeiros legítimos e testamentários, onde o primeiro existe independentemente de a
pessoa falecida ter deixado ou não um testamento. Se há espólio, mas não há testamento, os
herdeiros legítimos têm direito a ele. Por sua vez, se existe testamento, metade dos bens pertencem
aos herdeiros necessários e a outra metade, aos herdeiros testamentários.

A destinação dos bens do espólio incluída neste percentual da parte disponível (50% da totalidade
dos bens do testador) vai para o(s) legatário(s) na forma e proporções que o testador determinar em
seu testamento. Assim, o legatário, que necessariamente não precisa ser um herdeiro legítimo do
testador, é o beneficiário do legado (daquele bem ou conjunto de bens discriminados pelo autor da
herança) e pode ser um amigo, um sobrinho, um sócio ou até mesmo uma instituição beneficente,
por exemplo:

Esta é a diferença entre herdeiro e legatário. Enquanto o primeiro independe de um testamento


para herdar os bens a que tem direito, o segundo só existe por causa do testamento.

Existem dois tipos de sucessão em caso de morte, a sucessão testamentária no caso de o


falecido ter deixado disposição de última vontade quanto ao seu patrimônio e a legítima que advém
dos preceitos legais, cujas disposições devem ser estritamente observadas. Resumidamente, a
sucessão pode ser legítima ou testamentária. Assim dispõe o artigo 1.786 do Código Civil:

Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.

Também neste sentido ensina Washington Monteiro de Barros:

Efetivamente, o art. 1.786 do Código Civil de 2002, a exemplo do que dispunha o de 1916,
preceitua que “a sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade”. Prevista se acham,
neste dispositivo legal, as duas formas de sucessão do nosso ordenamento jurídico, a legítima,
resultante da lei, e a testamentária, decorrente do testamento. (MONTEIRO, 2003, p.10).

Quando o autor da herança morre sem deixar testamento, a totalidade dos seus bens será
dividida entre os chamados herdeiros necessários (caso existam). Relembrando, esses são os
ascendentes, descendentes e o cônjuge, isto é: pais, avós, bisavós, filhos, netos, bisnetos, marido,
esposa ou companheiro(a).

A regra é a seguinte: os mais próximos excluem os mais remotos. Assim, se o falecido deixou
filhos, os pais já não herdam. Se não deixou filhos, mas deixou pais e avós vivos, então apenas os
pais herdam por serem mais próximos.

A exceção fica por conta do sistema adotado com relação ao cônjuge. Independentemente do fato
de ter deixado herdeiros necessários de outras categorias (como filhos ou pais, por exemplo), os
cônjuges sempre herdam a metade do patrimônio deixado pelo falecido. É o que chamamos de
meação.

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários. A abertura da sucessão ocorre no momento da morte, e é nesse momento que a
herança é transmitida aos herdeiros.

O testamento é o "ato de última vontade em que o testador faz disposições de bens, dá um


destino ao seu patrimônio, nomeia herdeiros, institui legatários. Observa-se, contudo, que a
liberdade de testar não é considerada absoluta, haja vista que o código civil traz limitações à tal
disposição.

Neste sentido, dispõe a legislação civilista, em seu artigo 1.857, que "Toda pessoa capaz pode
dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte".
Todavia, no mesmo dispositivo, em seu § 1 º, consta que "A legítima dos herdeiros necessários não
poderá ser incluída no testamento".

Considera-se legítima dos herdeiros, a parte da herança reservada aos herdeiros necessários do
de cujus. Assim, o testador não poderá incluir em seu testamento a parte reservada aos seus
descendentes, ascendentes e cônjuge/companheiro (herdeiros necessários).

O Art. 1.789, do código civil, estabelece que se houver herdeiros necessários, o testador (autor da
herança) só poderá dispor da metade da herança.

E se não houver herdeiros necessários? Neste caso, o testador poderá dispor livremente da
totalidade ou parte de seus bens.

Herança é o conjunto de bens, direitos e obrigações, que uma pessoa falecida deixa aos seus
sucessores.

Entende-se a herança como um todo, mesmo que sejam vários os herdeiros, até que se faça a
partilha dos bens, nenhum herdeiro possui posse exclusiva de seus bens.

Sendo assim a herança não pode ser dividida, até o momento da partilha esta será de todos os
herdeiros. Veja tópico Partilha – Inventário, é a partilha que divide os bens deixados e determina a
parte que cabe a cada herdeiro.

Havendo testamento ou interessado incapaz, será iniciado o processo de inventário judicial.

A herança pode ser considerada HERANÇA JACENTE quando não há herdeiro certo e
determinado, quando não se sabe da existência dele, ou quando o mesmo existe, mas a repudia.
Segundo o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves preceitua em sua obra jurídica, “a herança jacente
é quando se abre a sucessão sem que o de cujus tenha deixado testamento, e não há conhecimento
da existência de algum herdeiro”.

A herança jacente não possui personalidade jurídica e nem é patrimônio autônomo sem sujeito.
Consiste em um acervo de bens, administrado por um curador, sob fiscalização da autoridade
judiciária, até que habilitem os herdeiros, incertos ou desconhecidos, ou se declare por sentença a
respectiva vacância.

Podemos concluir que a herança jacente é uma sucessão sem dono atual. É o estado da herança
que não sabe se será adida ou repudiada.

Mesmo não possuindo a devida personalidade jurídica, podem usufruir de capacidade processual
e ter legitimidade ativa e passiva para acionar e ser acionado em juízo. Essas entidades se formam
independentemente da vontade de seus membros. Importante ainda ressaltar que, a herança
jacente distingui-se do espólio, sendo os herdeiros deste, conhecidos. No espólio são
compreendidos os bens deixados pelo falecido desde a abertura da sucessão até a partilha,
podendo tanto aumentar com os rendimentos que produzir, como diminuir em virtude dos ônus ou
deteriorações.

Hipóteses de Jacência:

Art. 1.819 – Código Civil: Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo
notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e
administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à
declaração de sua vacância.

O artigo supramencionado trata as duas espécies de jacência, aquela sem o testamento e a com
o testamento. A primeira subdivide-se em duas situações:

Inexistência de herdeiros conhecidos; e Renúncia da herança por parte dos herdeiros conhecidos.

Já no caso da Vacância, configura-se quando o herdeiro instituído não existir ou não aceitar a
herança, e o falecido não deixar cônjuge, companheiro ou qualquer das hipóteses dos herdeiros
legítimos. Nesse caso a herança também será arrecadada e posta sob a administração de um
curador. “Herdeiro notoriamente conhecido são os presentes no lugar em que se abre a sucessão,
que podem ser facilmente localizados por serem conhecidos de todos” – Carlos Roberto Gonçalves.

Na obra Direito Civil Brasileiro, o jurista Carlos Roberto Gonçalves cita outras hipóteses para a
ocorrência da Herança Jacente, uma delas verifica-se quando se espera o nascimento de um
herdeiro. O herdeiro pode, por exemplo, nomear como herdeiro universal o filho já concebido e ainda
não nascido de determinada pessoa. Com o falecimento do testador, a herança é arrecadada como
jacente, aguardando-se o nascimento com vida do beneficiário. Nesse caso é permitido que seja
retirado do acervo, ou da renda, o necessário para a manutenção da mãe do nascituro, se ela não
possuir meios próprios de subsistência.

O código civil de 2002 considera a herança vacante a partir do momento em que todos os
chamados a suceder repudiarem a herança, renunciando a esta. A jacência não se confunde com a
vacância, sendo a primeira uma fase do processo que antecede a segunda. Segundo doutrinador
supramencionado “Herança Vacante é quando o bem é devolvido à fazenda pública por se ter
verificado não haver herdeiros que se habilitassem no período da jacência”.

Está previsto no artigo 1.820:

Art. 1.820 – Código Civil: praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão
expedidos editais na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem
que haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança declarada vacante.

O juiz promove a arrecadação dos bens para preservar o acervo e entregá-lo aos herdeiros que
se apresentem ou ao Poder Público, caso a herança seja declarada vacante. Enquanto isso
permanecerá sob a guarda de um curador, nomeado livremente pelo juiz. No intuito de impedir o
perecimento da riqueza apresentada pelo espólio, o estado ordena sua arrecadação, para o fim de
entregarem ao herdeiro que aparecer em boas condições.

Cabe ressaltar que não pode ser levada a registro no Registro Geral de Imóveis escritura de
cessão de direitos hereditários, pois em face da ausência de previsão na Lei de Registros Públicos
(Lei nº 6.015/73). Essa escritura serve de título hábil, apenas, para que o cessionário venha a se
habilitar no processo de inventário, como se herdeiro fosse, podendo o cessionário, inclusive,
requerer a abertura da sucessão e a partilha dos bens (Código Civil, art. 1.772, parágrafo primeiro).
Após a habilitação no inventário, o formal de partilha é que confere ao cessionário o direito de
propriedade sobre o imóvel, constituindo esse formal de partilha o título que deve ser levado para
registro no cartório de imóveis (Lei nº 6.015/73, art. 167, I, 25).

O direito à herança está previsto no art. 5º, XXX, da Constituição Federal de 1988, classificado
como um dos direitos e garantias fundamentais. Com efeito, o Código Civil prevê as formas de como
dispor desse direito, seja por meio de aceitação, de cessão ou de renúncia.

Para restar configurada a aceitação da herança, basta simples declaração escrita ou realização
de atos característicos de herdeiro, conferida pelo art. 1.805 do Código Civil, classificados como
aceitação de forma expressa ou tácita respectivamente.
Todavia, há hipóteses de dispensa da herança por parte do herdeiro (legítimo ou testamentário),
que pode ser perfectibilizada pelo instituto da cessão de direitos hereditários ou da renúncia da
herança.

Ambas as manifestações de vontade acerca da herança, que é classificada como bem imóvel,
nos termos do art. 80, II, do Código Civil, devem ser realizadas por meio de instrumento público ou
por termo judicial, para sua validade. O lapso temporal é a partir do momento do óbito do Autor da
herança até a partilha dos bens. Outrossim, importante considerar que na cessão de direitos há
incidência de impostos.

Referido ato pode se dar de forma gratuita, que é comparado à doação, passando a incidir o
Imposto de Transmissão Causa Mortis ou Doação (ITCMD).

Também pode ocorrer de forma onerosa, que pode ser comparada à compra e venda, passando a
incidir o Imposto de Transmissão de Bens Imóveis Intervivos (ITBI). No caso, trata-se de alienação
onerosa, razão pela qual o imposto que incide é o da compra e venda.

Já a renúncia de direitos hereditários, estabelecida no art. 1.806 do Código Civil, versa sobre a
recusa do herdeiro em receber a herança, por qualquer motivo. Referido ato pode se dar de forma
abdicativa, quando simplesmente há abdicação da herança, sem aceitação, passando a parte que
toca ao renunciante somar ao monte partilhável, de modo a ser dividida entre os demais herdeiros.

Nessa esfera, não há obrigação tributária para o renunciante, visto que não ocorre transferência
ou alienação da herança, pois o renunciante apenas é excluído da relação de herdeiros. Como
conseqüência, os demais (que se encontram na mesma linha de descendência do renunciante, ou
que se aproximarão em face da sua desistência), acabarão sendo beneficiados e,
conseqüentemente, sobre eles recairá a obrigação tributária.

Em nosso direito sucessório, é possível que o herdeiro seja excluído da sucessão na qual vinha a
ter direitos. Usa-se o termo Exclusão partindo do pressuposto de que o Herdeiro já tenha aceitado a
herança.

A exclusão se dá pela Indignidade e deserdação, onde não se deve confundir indignidade e


deserdação, embora os dois institutos tenham grandes semelhanças e a mesma função. A primeira
diferença diz respeito a vontade, enquanto na indignidade temos a vontade presumida do autor da
herança, na deserdação essa vontade deve ser expressa.

A segunda diferença se dá na fonte de cada um, a indignidade decorre da lei enquanto a


deserdação é uma pena aplicada pelo autor da herança em testamento ao sucessor que tenha
praticado qualquer ato dos artigos 1.962 e 963 do código civil.
Devemos também levar em conta, o campo de atuação de ambos os institutos, enquanto a
deserdação é aplicada apenas para a sucessão testamentária, por depender de testamento, a
indignidade trabalha na sucessão legítima e na sucessão testamentária.

Com o evento da morte podem surgir diversos efeitos, dentre eles, com relação ao patrimônio
abre-se a sucessão, a qual utiliza o procedimento do inventário para que os bens sejam legalmente
transmitidos aos herdeiros.

Segundo Silvio Rodrigues: “Inventário é um processo judicial que se destina a apurar os bens
deixados pelo finado, a fim de sobre o monte proceder-se à partilha”.

O mesmo autor, ainda refere que é neste procedimento de inventário que são apurados todos os
débitos e créditos deixados pelo de cujus, até mesmo no caso em que havia testamento, e se for o
caso, descontar e atualizar os valores antes que ocorra a partilha. A partilha, conforme Silvio
Rodrigues, é a divisão dos bens da herança de acordo com o direito de cada herdeiro é o que se
chama de partilha:

“Morto o autor da herança, o seu patrimônio se transmite, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários. Estes recebem o patrimônio como um todo, cabendo a cada qual uma parte ideal e
indeterminada. Através da partilha, entretanto, declara-se qual a parte divisa, ou mesmo indivisa,
cabente a cada herdeiro.”

A partilha é a divisão do acervo entre os sucessores do falecido após o inventário, sendo assim
cada herdeiro através da partilha recebe a sua parte da herança.

O herdeiro pode sempre requerer a partilha, mesmo que o testador o proíba, cabendo igual
direito aos seus cessionários e credores.

O testador pode indicar os bens e valores que devem compor as partes hereditárias, deliberando
ele próprio a partilha, a não ser que o valor dos bens não correspondam às partes estabelecidas.

A partilha pode ser:

- Partilha Amigável: sendo os herdeiros capazes, poderão fazer partilha amigável, por escritura
pública, termo nos autos do inventário, ou escrito particular, homologado pelo juiz.

- Partilha Judicial: será sempre judicial a partilha se os herdeiros não entrarem em acordo e se
houver algum herdeiro incapaz. Na partilha deverão ser observados os bens quanto ao seu valor,
natureza e qualidade; para que haja a maior igualdade possível.

- Partilha em vida: é válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos (doação) ou de
última vontade (testamento), contanto que não prejudique a parte legítima dos herdeiros
necessários.
Os bens que não couberem na meação do cônjuge sobrevivente ou na parte de um só herdeiro,
serão judicialmente vendidos sendo partilhado o valor apurado. Não se fará a venda judicial se o
cônjuge sobrevivente ou um ou mais herdeiros requererem o bem, repondo aos outros herdeiros o
valor em dinheiro do bem após avaliação atualizada do mesmo.

Os herdeiros em posse dos bens da herança, o cônjuge sobrevivente e o inventariante são


obrigados a trazer ao acervo hereditário os frutos que perceberam desde a abertura da sucessão;
têm direito ao reembolso das despesas necessárias e úteis que fizeram e respondem por dano que
por dolo ou culpa tenham causado.

Sobrepartilha é uma nova partilha dos bens que por algum motivo não foram partilhados no
processo de inventário.

Ficam sujeitos a sobrepartilha:

· Os sonegados: bens ocultados (dolosa ou culposa) que deveriam ser relacionados em


inventário ou levados à colação(conferência).

· Da herança que se descobrirem depois da partilha.

· Litigiosos ou de liquidação difícil.

· Situados em lugar remoto da sede do juízo onde se processa o inventário.

Sendo a sentença de partilha julgada, cada herdeiro receberá um documento (formal de partilha),
constando:

· Termo de inventariante e título de herdeiros;

· Avaliação dos bens que constituirão a parte herdada;

· Pagamento da parte hereditária;

· Quitação dos impostos;

· Sentença.

A herança se mantém indivisível até o julgamento da partilha. Após o julgamento o direito de cada
herdeiro fica limitado a sua parte da herança.

Após feita e julgada a partilha, somente poderá ser anulada por vícios e defeitos (quando contém
erro) que invalidam em geral os negócios jurídicos. Esse direito de anular se extingue em um ano.
Quando aberta a sucessão, incumbe-se ao inventariante prestar as declarações legais,
enumerando os bens do espólio e descrevendo aqueles que pertenciam ao inventariado e que se
encontra em seu poder. Os herdeiros têm o dever de declarar os bens, os quais tem ciência, que o
de cujus deixou inclusive os que estiverem em mãos de terceiro. Porém, se deixarem os herdeiros
e/ou o inventariante de declarar, dolosamente, os bens do de cujus, estarão estes cometendo o
delito civil da sonegação de bens, sujeitando-se então às penas determinadas nos artigos 1.992, do
Código Civil:

Conforme demonstra o art. 1.993 do Código Civil. “Além da pena cominada no artigo antecedente,
se o sonegador for o próprio inventariante, remover-se-á, em se provando a sonegação, ou negando
ele a existência dos bens, quando indicado”.

Ainda, segundo este dispositivo, ensina Tartuce, que além da pena civil a respeito do patrimônio,
haverá ao inventariante a pena de ser removido da inventariança, provando-se a sonegação ou a
negativa da existência de bens indicados. Em suma, o inventariante em seu caso, sua pena do
sonegado é dupla.

Artigo 1.994 do Código Civil: “A pena de sonegados só se pode requerer e impor em ação movida
pelos herdeiros ou pelos credores da herança. § único: a sentença que se proferir na ação de
sonegados, movida por qualquer dos herdeiros ou credores, aproveita os demais interessados”

Esta ação somente poderá ser promovida pelos herdeiros os credores da herança e no mesmo
fórum onde ocorre o inventário. Ainda, segundo Jurisprudência do STJ se tem como prazo
prescricional de vinte anos, contados a partir da prática de cada um dos atos irregulares.
Aproveitando-se da sentença da ação de sonegados, também, os demais interessados e não
somente ao autor.

Em regra o patrimônio do devedor responde por suas obrigações não adimplidas. Sendo a
herança um conjunto de bens que constituem patrimônio do finado, sendo assim, é evidente que
deva este sofre influência de seus débitos.

O espólio deverá ser requerido pelos credores, ficando a responsabilidade da quitação das
dívidas a cargo dos herdeiros. Ressalva-se que o patrimônio a ser incorporado pelos herdeiros
depende do resultado da quitação dos débitos do de cujus, incluindo-se o pagamento de tributos
sucessórios, dessa maneira, quando aberta a sucessão é importante apurar o montante das dívidas,
efetuando-se o pagamento destas para então ter o real patrimônio a ser partilhado, podendo ocorrer
que nada reste aos herdeiros.
Artigo 1.997 do Código Civil: “A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido, mas,
feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção da parte que na herança lhe
coube”. [20]

Como se observa no dispositivo acima, após ter sido feita a partilha, ainda, não se pode frustrar a
expectativa dos credores, assim, é possível que exijam dos herdeiros, de modo proporcional, o
pagamento dos créditos que tenham contra o falecido.Poderá ocorrer que após a partilha, algum dos
herdeiros tenha se tornado insolvente, dessa forma, o prejuízo será sofrido pelo credor, pois não se
pode prejudicar os demais herdeiros e ainda, compreende-se que deveria o credor ter sido mais
célere na cobrança das dívidas.

Quanto a reserva de bens para o pagamento das dívidas, em regra, deve o credor utilizar o
procedimento da habilitação no inventário, a qual deve ser ensejada antes da liquidação para que o
seu crédito, seja incluso no passivo do patrimônio deixado. No que concerne a Fazenda Pública, não
é necessário que esta se habilite, visto que a partilha não poderá ser homologada sem a
comprovação da quitação tributária dos bens do espólio e de suas rendas.

Quanto ao credor hipotecário, também não requer habilitação já que este conta com garantias
reais que incidem no crédito, o qual lhe garante direito de sequela. Aos credores é dado o direito de
acionarem os herdeiros para o recebimento do pro rata em qualquer tempo.

A respeito da reserva de bens, as seguintes dívidas deverão ser pagas: Em primeiro plano, as
que gozam de privilégios gerais, na ordem estabelecida no artigo 965 do Código Civil, as dívidas
contraídas em vida pelo falecido e que se transmitem aos herdeiros. Caso haja impugnação, as
partes serão remetidas às vias ordinárias. Assim, o juiz mandará reservar em poder do inventariante,
tantos bens quantos sejam necessários para o pagamento das dívidas. (Artigo 1.018 do Código
Civil). O credor caso não apresente ação de cobrança em trinta dias a reserva de bens estipulada
pelo judiciário, perderá eficácia. Cabe diferenças separação de bens de reserva de bens, esta ocorre
quando a dívida é impugnada e aquela quando não há impugnação.

Dívidas que ainda não estão vencidas também são passíveis de serem cobradas no inventário, se
forem líquidas e certas, nesse caso, irá o juiz estabelecer uma separação dos bens para que ocorra
um futuro pagamento.

Caso venha ocorrer evicção e venha um dos herdeiros a perder bens que lhe eram advindos da
divisão, deverão os demais indenizá-lo na proporção de suas quotas, por força do artigo 2.024 do
Código Civil, de maneira que seja respeitada a igualdade prevista no 2.017 do Código Civil, sendo
ressalvado, nos casos convencionado em contrário entre os herdeiros ou no caso se a evicção
resultar que culpa do evicto ou podendo ainda, por fato posterior a partilha. As despesas referentes
aos encargos fúnebres do de cujus devem sair do montante das heranças.

O artigo 2.001 do Código Civil nos mostra que: “Se o herdeiro for devedor ao espólio, sua dívida
será partilhada igualmente entre todos, salvo se a maioria consentir que o débito seja imputado
inteiramente no quinhão do devedor”

Entende-se que a dívida do herdeiro ao espólio esse deverá ser partilhado igualmente entre todos
os herdeiros, de tal forma como se o débito fosse de pessoa estranha à sucessão, porém se todos
concordarem o débito será imputado exclusivamente no quinhão do devedor.

A colação é o ato no qual os herdeiros descendentes e concorrentes na sucessão, declarando no


inventário as doações que do ascendente obtiveram, para serem divididas as quotas. Esta
declaração é um dever que é imposto ao herdeiro, já que a doação entre ascendente e descendente
caracteriza o adiantamento do que cabe a este na herança (art. 544 do CC). Portanto, tem a colação
como fundamento jurídico, de acordo com a doutrina contemporânea, a equidade e a igualdade
entre partes herdeiras, baseada na presunção da vontade do de cujus.

No que se refere às possibilidades de dispensa da colação, é facultado ao doador afastar a


obrigação da colação ao donatário, para isto basta que manifeste expressamente em testamento ou
no título da liberalidade, esse ânimo, como disposto no art. 2.006 do Código Civil. No entanto, tal
benefício só será válido se a liberalidade estiver compreendida nos limites da quota disponível do
doador, se ultrapassar 50% (cinquenta por cento) a qual o dispõe o descendente deverá ser esta
reduzida.

A legislação desobriga da colação a incidência de certos gastos, tais como as despesas dos
ascendentes com o descendente menor, já que estas constituem obrigações naturais e não
liberalidades, previsão trazida pelo art. 2.010 do CC.

As doações remuneratórias referentes a serviços feitos ao ascendente, também gozam de


dispensa, conforme art. 2.011, já que devem ser entendidas como recompensa a favores prestados
e que se reconhecem lações familiares.

As benfeitorias acrescidas aos bens doados e os frutos e rendimentos destes bens até o
falecimento do autor, também são dispensados de colação.

O procedimento para a conferencia dos bens obedece ao disposto nos artigos 1.014 a 1.016 do
Código Civil. Deve o herdeiro no prazo de dez dias apresentarem a declaração de seus bens
recebidos, senão assim o fizer, intimado a fazê-lo sob pena de sonegados, caso esse venha negar o
recebimento de bens será realizada instrução e colheita de provas. Se for julgado esse
improcedente, será o descente intimado para no prazo de cinco dias para realizar a conferência, sob
pena de sequestro de bens.[40]

Ainda, de acordo com Carlos Roberto Gonçalves[41] com base na lição de Caio Mario Pereira, o
direito brasileiro tem como regra atual de que a colação deve ser realizada em valor ou em
substância, na circunstância dos bens remanescentes no patrimônio do falecido forem insuficientes
para assegurar a igualdade para os sucessores. A atribuição do valor dos bens doados é estimado
pelo valor na data de realização das liberalidades e não ao tempo da sucessão, de modo a não
gerar indevida vantagem a algum dos herdeiros.

Pode o descendente receber doação de ambos os cônjuges, o que no inventário se conferirá por
metade de cada um, constituindo assim duas liberalidades diferentes, como discorre o artigo 2.012
do Código Civil: “Sendo feita a doação por ambos os cônjuges, no inventário de cada um se
conferirá por metade”.

Portanto, devido à importância e repercussão que essa matéria tem em nossa sociedade, buscou-
se uma base doutrinária a respeito do tema, no que diz respeito a suas características e o que está
previsto em nosso ordenamento, servindo o presente trabalho como uma forma de aprendizado.
REFERÊNCIAS

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Paulo Saraiva, 2012.

GONÇALVES, Carlos Roberto – Direito Civil Brasileiro – Volume 7. Editora Saraiva. Ano 2013.

JUNIOR, Marco Antônio de Araújo. Vade Mecum. 8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

RODRIGUES, Silvio. Direito das Sucessões, volume 7, 26 ed. Ver. Atual. Por Zeno Veloso. São
Paulo: Saraiva, 2003.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil, volume único. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2015.

CAHALI, F. J., Curso Avançado de Direito Civil: Direito das Sucessões. Editora Revista dos
Tribunais. São Paulo, p. 28, 2003.

CARVALHO, L. C. P., Saisine e astreinte. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo: v. 802, 2002.

CARVALHO NETO, I. Introdução ao direito das sucessões. In: Cassetari, Christiano; Menin,
Márcia Maria (Coords.). Hironaka, Giselda M. Novaes (Org). Direito das Sucessões. v. 8, São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2008.

GAMA, R. Dicionário Básico Jurídico. Editora Russel. Campinas, 2006.

MONTEIRO, W. B. Curso de Direito Civil: direito das sucessões. Editora Saraiva, São Paulo, p. 1-
32, 1998.

MONTEIRO, W. B. Curso de Direito Civil Direito das Sucessões. Editora Saraiva, São Paulo, ed
35, v.6, p. 9-10, 2003.

RODRIGUES, S. Direito Civil. Editora Saraiva. São Paulo. Ed 25, v.7, p.3-25. 2002.

TARTUCE, F. Manual de Direito Civil – Volume Único. Editora Método. São Paulo.

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