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Estudo Dirigido sobre o tema: SUCESSÃO LEGÍTIMA - Vale 01 ponto na prova de API
O cálculo da legítima segue o disposto no art. 1.847 do CCB: Primeiro, analisa-se a totalidade de
bens existentes no tempo da abertura da sucessão (morte do autor da herança); subtraem-se as
dívidas e as despesas do funeral (débitos existentes); por fim adiciona-se o valor dos bens sujeitos
à colação, tendo assim um valor líquido após os descontos e os acréscimos. Desse modo, a
legítima equivale à 50% do patrimônio líquido.
Vale ainda explicar em que consiste a colação. Os bens doados pelo autor da herança aos
descendentes presume adiantamento da herança. Portanto, após a abertura da sucessão, aquele
donatário deve prestar contas do que já recebeu a fim de igualar a legítima dos herdeiros
necessários.
Por fim, como exemplo que contextualiza a importância de proteger a legítima, tem-se o seguinte:
imagine que uma pessoa que possui herdeiros necessários realize uma doação cujo valor consiste
em 60% do seu patrimônio. Perceba que, ao realizar esse negócio jurídico, os herdeiros
necessários foram prejudicados, uma vez que o valor doado ultrapassou a porção disponível (50
%) e atingiu a legítima. Portanto, nessa doação inoficiosa, a parte que ultrapassou a legítima será
considerada nula a fim de proteger o direito sucessório dos herdeiros necessários.
2. Comente o seguinte preceito: “Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os
outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se acham ou não no mesmo grau”.
Exemplifique.
A ordem de vocação hereditária é formada por classes e graus. Assim, são chamados, em ordem:
descendentes (primeira classe), ascendentes,(segunda classe), cônjuge ou companheiro (terceira
classe), os colaterais (quarta classe). A primeira, a segunda e a quarta classes são compostas por
graus, os quais são chamados dos mais próximos aos mais remotos.
Quanto à classe de descentes, a regra é de que, sendo avocados todos aqueles do primeiro
grau,(filhos), todos herdem por direito próprio, sendo a quota-parte dividida por cabeça. Contudo,
pode ocorrer que um dos filhos seja pré-morto, indigno ou deserdado; e nesse caso, os
descendentes destes (descendentes de segundo grau do de cujos), são chamados a representar,
recebendo o que o pré-morto, indigno ou deserdado receberia, sendo esse valor igualmente
dividido entre os descendentes de segundo grau (recebem por estirpe). Contudo, pode ocorrer de
todos os descendentes de primeiro grau serem chamados e não poderem herdar, por serem todos
pré-mortos, indignos ou deserdados. Neste caso, são chamados os herdeiros de segundo grau,
que herdam por direito próprio.
Exemplo: Imagine que João morreu, deixando uma herança de R$ 1.000.000,00. Aderbal, Bruna,
Cristiano e Douglas são seus filhos e, portanto, herdeiros necessários. Contudo, Bruna é
pré-morta à João e possui dois filhos, Ellen e Felipe. Nesta situação, Aderbal, Cristiano e Douglas
herdarão por cabeça, enquanto Ellen e Felipe herdarão por representação. Aderbal, Cristiano e
Douglas receberão, cada um, R$ 250.000,00, enquanto Ellen e Felipe receberão, cada um, R$
125.000,00.
A comoriência, então, pressupõe uma impossibilidade probatória, que é suprimida por uma
presunção. Em outras palavras, tendo duas ou mais pessoas falecido em um mesmo evento, e
não sendo possível precisar qual delas morreu primeiro, presumir-se-ão comorientes, ou seja, que
suas mortes se deram simultaneamente. Para os fins do Direito das Sucessões, havendo
cônjuges comorientes, não há transmissão de herança entre eles.
Na segunda parte, entende-se que a ratio do Legislador foi privilegiar o cônjuge sobrevivente que
é ascendente dos descendentes do de cujos, garantindo um mínimo de 25% para o cônjuge.
Imagine, portanto, que há 3 descendentes (filhos comuns entre o de cujos e o cônjuge
sobrevivente), cada um receberá 25% e o cônjuge sobrevivente receberá também 25%. Contudo,
e se forem 5 filhos também comuns ao de cujos e ao cônjuge sobrevivente ? Obrigatoriamente, o
cônjuge receberá 25%, restando 75% a ser dividido pelos 5 filhos (15% para cada)
Portanto, é simples entender que a concorrência incide apenas sobre os bens particulares.
8. Persiste a cota legal do cônjuge quando ele concorre com filhos não próprios, ou seja, filhos
que são somente do de cujus?
Existem diferentes posicionamentos na doutrina. Alguns, como Veloso e Cristiano Chaves,
defendem que a garantia mínima de ¼ só é possível se todos os descendentes forem comuns.
Este posicionamento foi ratificado na Enunciado 527 das Jornadas de Direito Civil: “na
concorrência entre o cônjuge e os herdeiros de de cujos, não será reservada a quarta parte da
herança para o sobrevivente no caso de filiação híbrida. No mesmo sentido, o STJ decidiu em
2019 que o art. 1.832, parte final, reclama interpretação restritiva. Desse modo, a reserva da
quarta parte da herança não se aplica à hipótese de concorrência sucessória híbrida (STJ, REsp
1.617.650).
Venosa, por sua vez, assevera que basta a existência de um único descendente comum para que
se assegure a garantia legal de ¼ em favor do cônjuge.
Tartuce, por outro lado, propõem uma regra de proporcionalidade, assegurando ao cônjuge
sobrevivo a garantia de ¼ em relação aos descendentes comuns e a perda da garantia em
relação ao número de descendentes não comuns.
Ainda, não havendo nem descendentes nem ascendentes, o cônjuge (lê-se também o
companheiro) é avocado. Neste sentido, estampa o art. 1.838 do CCB: “em falta de descendentes
e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente”. Portanto, perceba
que, inexistindo concorrência com descendentes e ascendentes, o direito do cônjuge sobrevivente
à totalidade da herança independe do regime de bens do casamento.
Não está condicionado a qualquer regime de bens do casamento. Para a fundamentação, basta o
que diz o art. 1.831 do CCB: “ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será
assegurado, sem prejuízo de participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação
relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela
natureza a inventariar”. Percebe-se claramente que a finalidade do Legislador foi garantir uma
certa qualidade de vida ao cônjuge sobrevivente, impedindo que seja excluído do imóvel onde
residia.
Quanto ao companheiro, cita-se o Enunciado 117 do Conselho de Justiça Federal: “o direito real
de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter sido revogada a previsão da Lei
n° 9278/96, seja em razão da interpretação analógica do art. 1.831, informado pelo art. 6°, caput,
da CR/88”. É importante ressaltar ainda que, segundo o RE 878.694, a união estável se equipara
ao casamento civil para fins de direito sucessório. Inclusive, foi este julgado que decidiu pela
inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC/2002, o qual revogado tacitamente a Lei n° 9278/96 e
não contemplou o direito real de habitação aos companheiros.
Ainda, vale citar que, na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais
remotos, salvo o direito de representação concedido ao filho dos irmãos (art. 1.840,
CCB). Isso implica em dizer que são chamados, em ordem, os irmãos (colaterais de 2°
grau), os sobrinhos (colaterais de 3° grau), os tios (colaterais de 3° grau) e os primos
(colaterais de 4° grau), sendo assegurada a representação transversal do sobrinhos.
Por fim, é importante comentar que, de acordo com o art. 1.841 do CCB, os irmãos
bilaterais (germanos) recebem do dobro do que os irmãos unilaterais devem receber.
O STF, em 2017, em sede de repercussão geral, concluiu que, no sistema constitucional vigente, é
inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros. Desse,
modo, assim deve ser lido o art. 1.829 do CCB: “A sucessão legítima defere-se na ordem
seguinte: (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694): I -
aos descendentes, em concorrência com o cônjuge (companheiro) sobrevivente, salvo se casado
este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não
houver deixado bens particulares;II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge
(companheiro);III - ao cônjuge (companheiro) sobrevivente; IV - aos colaterais”. Vale ainda
ressaltar que o direito real de habitação ao cônjuge estende-se ao companheiro.