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Temas de Direito de Família e Sucessões

1. O direito das famílias pertence ao direito público ou ao direito privado (natureza jurídica)?
(p. 34)

Não. Há, em verdade, no direito das famílias, acentuado domínio de normas imperativas. São
normas inderrogáveis, cogentes, que incidem independentemente da vontade das partes, daí
se falar num perfil publicista do direito de família. A tendência em considera-lo como parte
integrante do direito público se origina desse motivo. Entretanto, não há como sustentar tal
assertiva. Não se pode conceber nada mais privado, profundamente humano do que a família,
em cujo seio o homem nasce, vive, ama, sofre e morre. A pretensão de descolar a família do
direito privado representa um contrassenso, pois prepara o terreno para um intervencionismo
intolerável. Assim, ainda que tenha características peculiares e alguma proximidade com o
direito público, não deixa de pertencer ao direito privado. O Estado não pode mais controlar as
formas de constituição das famílias, ela é mesmo plural.

2. Conceito de família.

Principal papel: dar suporte emocional ao indivíduo, em que há mais intensidade no que diz
respeito aos laços afetivos.

3. Sucessão do companheiro no caso de existência de filhos comuns e exclusivos

“Concorrência com descendentes comuns e também exclusivo; o legislador se esqueceu, no


entanto, de prever a cota hereditária do companheiro na hipótese de haver descendentes
comuns e também exclusivos. Não esclarece se a cota será igual ou metade da dos
descendentes. A solução depende da atividade criadora do intérprete.

Duas se apresentam com as mais plausíveis.

a) 1ª Opção

A primeira é a de considerar todos os descendentes como exclusivos do de cujus e atribuir ao


companheiro metade da cota de cada um deles, prejudicando-o sensivelmente, mas com a
vantagem de se manter tratamento igualitário entre todos os filhos, comuns e exclusivos. A
perda do companheiro, nesse caso, dá-se em favor de seus descendentes.

b) 2ª Opção

A segunda solução é realizar a conta como se todos os descendentes fossem exclusivos,


apurando a cota dos exclusivos, que, assim, não terão nenhum prejuízo, em consonância com
a previsão do inciso II. Após esse cálculo, em face do restante dos aqüestos, seria calculada a
cota dos filhos comuns, assegurando-se uma quota igual ao companheiro sobrevivente. A
desvantagem dessa solução é que as cotas dos filhos seriam desiguais, o que, segundo algumas
opiniões, representaria violação da norma constitucional que assegura a igualdade entre filhos
(art. 227, § 6°) e do art. 1.834 do atual Código, que estabelece que descendentes da mesma
classe têm os mesmos direitos à sucessão de seus ascendentes. Parece defensável, porém, a
tese de que essa solução não afronta o princípio da igualdade entre os filhos.

Essa normas, da Constituição e do atual Código, visam a assegurar não haver discriminação
injusta e arbitrária entre os/filhos por causa da origem. O intuito é evitar, como ocorria no
direito anterior, tratamento diferenciado entre filhos legítimos e ilegítimos, naturais e adotivos
etc. (...) Não obstante, entre as duas soluções mencionadas, parece ser melhor a primeira, que
preserva a igualdade dos quinhões entre descendentes comuns e exclusivos. Isso não só para
preservar a igualdade entre todos os filhos, mas também por uma razão prática, pois, na
concorrência entre cônjuge e descendentes, o legislador também se esqueceu de prever na
hipótese de haver descendentes comuns e exclusivos (cf. art. 1.832). Concorrendo somente
com descendentes comuns, o cônjuge tem assegurada uma cota mínima de 25%. Se a
concorrência dá somente com filhos exclusivos do de cujus, o cônjuge recebe quota igual à dos
descendentes, podendo ser inferior a 25%. Como observado nos comentários ao art. 1.832, a
se permitir a desigualdades das cotas, entre descendentes comuns e exclusivos, há uma
limitação matemática na preservação da cota mínima de 25% ao cônjuge. Se forem seis ou
mais os filhos exclusivos, não há como manter essa cota mínima. Sendo assim, a solução mais
coerente para evitar soluções contraditórias em relação aos descendentes, é lhes dar
tratamento igualitário, assegurando aos comuns e exclusivos cota igual, em prejuízo do
cônjuge sobrevivente. Se a solução, no caso do cônjuge, deve ser a de tratar todos os filhos
como exclusivos, impõe-se, por coerência, a mesma solução para o companheiro.”. (Código
Civil Comentado, Coordenador Ministro Cezar Peluso, 3ª edição, Editora Manole, São Paulo,
2009, pág. 2018).

4. Multiparentalidade

CJF, ENUNCIADO 632 – Art. 1.596: Nos casos de reconhecimento de multiparentalidade


paterna ou materna, o filho terá direito à participação na herança de todos os ascendentes
reconhecidos.

CJF, ENUNCIADO 642 – Art. 1.836: Nas hipóteses de multiparentalidade, havendo o


falecimento do descendente com o chamamento de seus ascendentes à sucessão legítima, se
houver igualdade em grau e diversidade em linha entre os ascendentes convocados a herdar, a
herança deverá ser dividida em tantas linhas quantos sejam os genitores.

Na prática, o que isso significa?

Considerando que no Brasil a ordem de vocação hereditária entre as classes de herdeiros


(descendentes, ascendentes, cônjuge, colaterais) é excludente, de tal modo que só se
transmite herança para classe subsequente, não havendo herdeiro sobrevivo da classe
antecedente (ex.: ascendente só herda se não houver qualquer descendente do “de cujus”,
independentemente de grau); e que a “cultura” pode ser concomitante ou se sobrepor à
“biologia” no que concerne ao vínculo de parentesco (que não se confunde com vínculo
genético), a primeira conclusão de ordem prática é: descendentes (filhos, netos etc) herdarão
de seus ascendentes, seja o vínculo de parentesco natural ou socioafetivo (como acontece na
multiparentalidade), único ou concomitante e, neste último caso, independentemente do
número de ascendentes. O mesmo se aplica aos ascendentes, relativamente aos descendentes
de que herdarem.

Ainda, e não menos importante, embora o enunciado 642 não faça a expressa afirmação, o
mais lógico é que a orientação de interpretação se dirija ao § 2º do Artigo 1.836 (mas não ao
parágrafo primeiro do dispositivo), ou seja, àquela situação em que a herança será distribuída
entre ascendentes a partir do 2º grau (ex.: avós, bisavós). Isto porque, ocorrendo a sucessão
entre ascendentes de primeiro grau – sem prejuízo da participação da concorrência do cônjuge
que, se existente, aqui concorre independentemente de regime de bens - a herança se
distribui por cabeça, não havendo distinção de linhas (ex: falece pessoa e deixa vivos 2 pais e 1
mãe: o quinhão de cada um seria de 1/3, sem distinção de linhas paterna e materna); mas, a
partir do 2º grau, primeiramente a herança se distribui em linhas (paterna ou materna) e,
depois, é que se distribui entre os herdeiros de cada linha. Assim, se alguém falece, tendo 2
pais e 1 mãe que sejam mortos, mas sendo 5 avós vivos (sendo 2 por parte do pai 1; 1 por
parte do pai 2; 2 por parte da mãe), a herança se distribuiria em linhas (2 paternas e 1
materna) e, então, para cada 1/3 da herança, teríamos: 1/6 para cada avô por parte do pai 1;
1/3 para o avô por parte do pai 2; 1/6 para cada avô materno.

5. Separação obrigatória – Casamento precedido de União Estável

Enunciado 261 CJF: A obrigatoriedade do regime da separação de bens não se aplica a pessoa
maior de sessenta anos, quando o casamento for precedido de união estável iniciada antes
dessa idade.

6. Multiparentalidade e parentalidade socioafetiva

STF: a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro, não impede o reconhecimento


do vínculo de filiação concomitante, baseada na origem biológica, com os efeitos jurídicos
próprios

Recurso Extraordinário 898.060 Tema 622

De uma só tacada, o STF (a) reconheceu o instituto da paternidade socioafetiva mesmo à


falta de registro – tema que ainda encontrava resistência em parte da doutrina de direito de
família –; (b) afirmou que a paternidade socioafetiva não representa uma paternidade de
segunda categoria diante da paternidade biológica; e (c) abriu as portas do sistema jurídico
brasileiro para a chamada “multiparentalidade”.

https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/388310176/stf-repercussao-geral-622-
multiparentalidade-e-seus-efeitos

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