Você está na página 1de 14

Caderno de informativos - 2022

Superior Tribunal de Justiça – Direito Penal

Informativo 716 em diante

Resumo Nº Observações
COMPETÊNCIA 716
Beneficiário do auxílio emergencial transferiu o dinheiro para a
conta de terceiro que deveria sacar a quantia e entregar ao
beneficiário; compete à Justiça Estadual julgar a conduta do terceiro
que decidiu não mais entregar o valor
ODS 16

Não compete à Justiça Federal processar e julgar o desvio de valores


do auxílio emergencial pagos durante a pandemia da covid-19, por
meio de violação do sistema de segurança de instituição privada,
sem que haja fraude direcionada à instituição financeira federal.
Caso concreto: Regina era beneficiária do auxílio emergencial. O
dinheiro do benefício foi transferido da Caixa para a conta de Regina
no Mercado Pago. Foi então que Regina combinou de transferir a
parcela do auxílio emergencial (R$ 600,00) para a conta de Pedro,
um conhecido. O objetivo da transferência seria possibilitar o
recebimento antecipado do auxílio emergencial. O combinado seria
Pedro sacar o dinheiro e repassá-lo para Regina. Ocorre que Pedro
não cumpriu e ficou com o dinheiro. Foi instaurado inquérito policial
para apurar o crime de furto mediante fraude que teria sido
praticado por Pedro. A Justiça Estadual é competente para julgar
esse delito. STJ. 3ª Seção. CC 182.940-SP, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 27/10/2021 (Info 716).

APROPRIAÇÃO INDÉBITA TRIBUTÁRIA O STJ mudou de entendimento depois do


Para a configuração do delito previsto no art. 2º, II, da Lei nº julgamento do STF no qual a Corte afirmou
8.137/90, que “o contribuinte que deixa de recolher,
deve ser comprovado o elemento subjetivo especial de forma contumaz e com dolo de
apropriação, o ICMS cobrado do adquirente
Para a configuração do delito previsto no art. 2º, II, da Lei nº da mercadoria ou serviço incide no tipo
8.137/90, deve ser comprovado o dolo específico. Entendimento penal do art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990”
que segue a posição do STF que exige dolo de apropriação: O (STF. Plenário. RHC 163.334/SC, Rel. Min.
contribuinte que deixa de recolher, de forma contumaz e com dolo Roberto Barroso, julgado em 18/12/2019).
de apropriação, o ICMS cobrado do adquirente da mercadoria ou Desse modo, deve ser averiguada a
serviço incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (STF. existência de dolo específico de apropriação
Plenário. RHC 163334, Rel. Roberto Barroso, julgado em para fins de configuração do delito previsto
18/12/2019). STJ. 6ª Turma. HC 675.289-SC, Rel. Min. Olindo no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/1990, sob pena
Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), julgado de ser reconhecida a absolvição.
em 16/11/2021 (Info 718). Dolo de apropriação (= exige dolo
específico)
O contribuinte que deixa de recolher, de
forma contumaz e com dolo de apropriação,
o ICMS cobrado do adquirente da
mercadoria ou serviço incide no tipo penal
do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90.
STF. Plenário. RHC 163334, Rel. Roberto
Barroso, julgado em 18/12/2019.
CRIME CONTRA A ORDEM ECONÔMICA
O momento consumativo do crime de formação de cartel deve ser
analisado conforme o caso concreto, sendo errônea a sua
classificação como eventualmente permanente
ODS 16 Caso concreto: o Ministério Público denunciou várias
pessoas porque elas teriam mantido de 2004 a 2014, um cartel
envolvendo a fabricação e comercialização de resinas. A defesa
argumentou que o delito estaria prescrito considerando que o
acordo para a fixação artificial dos preços teria ocorrido em 2004.
Logo, neste momento houve a consumação do crime e se iniciou o
prazo prescricional. Assim, a defesa sustentou a tese de que o delito
de formação de cartel seria crime instantâneo, consumado no ano
de 2004. O TJ entendeu que o delito seria “eventualmente
permanente”, diante da situação fática, porque a vontade dos
agentes e a consumação do crime se prolongaram no tempo, haja a
vista a necessidade de formação de sucessivos acordos
anticompetitivos protraídos ano após ano. Qual foi a posição
adotada pela STJ? Qual é a natureza do momento consumativo do
crime de formação de cartel (art. 4º, II, da Lei 8.137/90)? O STJ disse
que isso deve ser analisado no caso concreto. O momento
consumativo do crime de formação de cartel deve ser analisado
conforme o caso concreto. No caso concreto, o STJ considerou que
houve a celebração sucessiva de acordos econômicos
anticompetitivos entre os agentes até 2014. Logo, o crime de
formação de cartel no mercado de resinas fez-se permanente até
2014. Vale ressaltar, contudo, que o STJ afirmou que é equivocada a
nomenclatura “eventualmente permanente”, não podendo dizer
que o crime de cartel seja “eventualmente permanente”. STJ. 5ª
Turma. AREsp 1.800.334-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
09/11/2021 (Info 718).
NULIDADES
O ajuizamento de duas ações penais referentes aos mesmos fatos,
uma na Justiça Comum Estadual e outra na Justiça Eleitoral, viola a
garantia contra a dupla incriminação

ODS 16 O réu foi absolvido pela Justiça Eleitoral. Ocorre que, logo
em seguida, foi denunciado, pelos mesmos fatos, na Justiça
Estadual. Isso não é possível. A sentença da Justiça Eleitoral foi
proferida no exercício de verdadeira jurisdição criminal, de modo
que o prosseguimento da ação penal na Justiça Estadual pelos
mesmos fatos encontra óbice no princípio da vedação à dupla
incriminação, também conhecido como double jeopardy clause ou,
como é mais comum no direito brasileiro, o postulado do ne bis in
idem (proibição da dupla persecução penal). Embora não tenha
previsão expressa na Constituição Federal de 1988, a garantia do ne
bis in idem é um limite implícito ao poder estatal, derivada da
própria coisa julgada e decorrente de compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil. A Convenção Americana de Direitos Humanos
e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, incorporados
ao direito brasileiro com status supralegal, tratam da vedação à
dupla incriminação. STJ. 5ª Turma. REsp 1.847.488-SP, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 20/04/2021 (Info 719).
TRIBUNAL DO JÚRI
Juiz não pode unilateralmente alterar os prazos dos debates orais
no Júri previstos no CPP; no entanto, isso pode ser feito mediante
acordo entre as partes
Importante!!!
ODS 16 Considerado o rigor formal do procedimento do júri, não é
possível que o juiz, unilateralmente, estabeleça prazos diversos
daqueles definidos pelo legislador (art. 477 do CPP) para os debates
orais, seja para mais ou para menos, sob pena de chancelar uma
decisão contra legem. Por outro lado, é possível que, no início da
sessão de julgamento, mediante acordo entre as partes, seja
estabelecida uma divisão de tempo que melhor se ajuste às
peculiaridades do caso concreto. STJ. 6ª Turma. HC 703.912-RS, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/11/2021 (Info 719).
TRIBUNAL DO JÚRI Art. 155. O juiz formará sua convicção pela
O art. 155 do CPP, ao proibir que a condenação se fundamente livre apreciação da prova produzida em
apenas em elementos colhidos durante a fase inquisitorial, tem contraditório judicial, não podendo
aplicação também para as sentenças proferidas no Júri fundamentar sua decisão exclusivamente
Importante!!! nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas
Os jurados não precisam motivar sua decisão (sistema da íntima cautelares, não repetíveis e antecipadas.
convicção), no entanto, o Tribunal de 2ª instância precisa fazê-lo.
Por isso, ao julgar a apelação da defesa, cabe ao Tribunal de Justiça
(ou TRF) a tarefa de identificar quais foram as provas produzidas nos
autos que demonstram a autoridade e a materialidade delitivas,
bem como eventuais qualificadoras, sob pena de, não o fazendo,
incorrer em negativa de prestação jurisdicional. Se o Tribunal
encontrar prova judicializada idônea, deverá manter a condenação
e/ou a qualificadora. Por outro lado, se não houver provas
produzidas na forma do art. 155 do CPP, o Tribunal deverá dar
provimento ao recurso, cassando a condenação. Caso concreto: as
qualificadoras foram baseadas apenas no depoimento prestado no
inquérito policial por uma testemunha que ouviu dizer. Diante disso,
o STJ decidiu cassar a sentença e submeter o réu a novo júri. Isso
porque: As qualificadoras de homicídio fundadas exclusivamente em
depoimento indireto (Hearsay Testimony), violam o art. 155 do CPP,
que deve ser aplicado aos veredictos condenatórios do Tribunal do
Júri. STJ. 5ª Turma. REsp 1.916.733-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 23/11/2021 (Info 719).
PENA DE MULTA Multa
O inadimplemento da pena de multa obsta a extinção da Multa é uma espécie de pena, por meio da
punibilidade do apenado? qual o condenado fica obrigado a pagar
Importante!!! DEFENSORIA uma quantia em dinheiro que será revertida
em favor do Fundo Penitenciário.
O inadimplemento da pena de multa impede a extinção da Pagamento da multa. A pena de multa é
punibilidade mesmo que já tenha sido cumprida a pena privativa de fixada na própria sentença condenatória.
liberdade ou a pena restritiva de direitos? Depois que a sentença transitar em julgado,
• Regra: SIM Se o indivíduo for condenado a pena privativa de o condenado terá um prazo máximo de 10
liberdade e multa, o inadimplemento da sanção pecuniária obsta dias para pagar a multa imposta (art. 50 do
(impede) o reconhecimento da extinção da punibilidade. Em outras CP). O Código prevê a possibilidade de o
palavras, somente haverá a extinção da punibilidade se, além do condenado requerer o parcelamento da
cumprimento da pena privativa de liberdade, houver o pagamento multa em prestações mensais, iguais e
da multa. sucessivas, podendo o juiz autorizar, desde
• Exceção: se o condenado comprovar que não tem como pagar a que as circunstâncias justifiquem (ex.: réu
multa. Se o condenado comprovar a impossibilidade de pagar a muito pobre, multa elevadíssima etc.). O
sanção pecuniária, neste caso, será possível a extinção da parcelamento deverá ser feito antes de
punibilidade mesmo sem a quitação da multa. Bastará cumprir a esgotado o prazo de 10 dias. O Juiz, antes
pena privativa de liberdade e comprovar que não tem condições de decidir, poderá determinar diligências
de pagar a multa. Foi a tese fixada pelo STJ: para verificar a real situação econômica do
Na hipótese de condenação concomitante a pena privativa de condenado e, ouvido o Ministério Público,
fixará o número de prestações (art. 169, §
liberdade e multa, o inadimplemento da sanção pecuniária, pelo 1º da LEP). Se o condenado for impontual
condenado que comprovar impossibilidade de fazê-lo, não obsta o ou se melhorar de situação econômica, o
reconhecimento da extinção da punibilidade. STJ. 3ª Seção. REsp Juiz, de ofício ou a requerimento do
1.785.383-SP e REsp 1.785.861/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Ministério Público, poderá revogar o
julgados em 24/11/2021 (Recurso Repetitivo - Tema 931) (Info 720). benefício (art. 169, § 2º da LEP).

Atualmente: a Lei nº 9.268/96 alterou o art.


51 do CP e previu que, se a multa não for
paga, ela será considerada dívida de valor e
deverá ser exigida por meio de execução
(não se permite mais a conversão da pena
de multa em detenção).

Multa permaneceu com caráter penal


Importante esclarecer que, mesmo com
essa mudança feita pela Lei nº 9.268/96, a
multa continua tendo caráter de sanção
criminal, ou seja, permanece sendo uma
pena, por força do art. 5º, XLVI, “c”, da
CF/88

Quem executa a pena de multa?

STJ: Fazenda Pública


STF: Prioritariamente: o Ministério Público.
Subsidiariamente: a Fazenda Pública

O Ministério Público possui legitimidade


para propor a cobrança de multa
decorrente de sentença penal condenatória
transitada em julgado, com a possibilidade
subsidiária de cobrança pela Fazenda
Pública.
STF. Plenário. ADI 3150/DF, Rel. para
acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
12 e 13/12/2018 (Info 927).
STF. Plenário. AP 470/MG, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info
927).

O que acontece com o entendimento do STJ


manifestado na Súmula 521?
Está superado e a súmula será cancelada.
Isso porque a decisão do STF foi proferida
em ação direta de inconstitucionalidade,
possuindo, portanto, eficácia erga omnes e
efeito vinculante (art. 102, § 2º, da CF/88).

Onde tramita a execução da pena de multa?


No juízo da execução penal. O art. 51 do
Código Penal foi alterado para deixar
expressa essa competência:
Lei 13.964/2019
Art. 51. Transitada em julgado a sentença
condenatória, a multa será executada
perante o juiz da execução penal e será
considerada dívida de valor, aplicáveis as
normas relativas à dívida ativa da Fazenda
Pública, inclusive no que concerne às causas
interruptivas e suspensivas da prescrição.

Delimitação teleológica feita pelo STJ para o


entendimento firmado no julgamento da
ADI 3150/DF
O STJ, ao interpretar a decisão proferida
pelo STF na ADI 3.150/DF, afirmou que ela
se destina prioritariamente àqueles
condenados por delitos relativos à
criminalidade econômica, que possuem
condições econômicas de adimplir com a
satisfação da pena pecuniária, de modo que
o seu não pagamento constitui deliberado
descumprimento de decisão judicial e
implica sensação de impunidade.
Em sentido diametralmente oposto está a
situação dos condenados que são social e
economicamente hipossuficientes.
Se os condenados que são pobres não
puderem ter extinta a punibilidade pelo fato
de não pagarem a multa, isso fará com que
eles fiquem privados dos direitos políticos e
sem acesso ao gozo de benefícios sociais.
Em casos como esse, condicionar a extinção
da punibilidade ao adimplemento da pena
de multa significar agravar a situação de
penúria e indigência dos apenados
hipossuficientes e das pessoas próximas a
ele, impondo a todo o seu grupo familiar
privações decorrentes de sua
impossibilitada reabilitação social.

Recomendação 425/2021 CNJ


Sobre o tema, vale ainda mencionar o teor
da Recomendação nº 425, de 8 de outubro
de 2021, do Conselho Nacional de Justiça, a
qual institui, no âmbito do Poder Judiciário,
a Política Nacional Judicial de Atenção a
Pessoas em Situação de Rua e suas
interseccionalidades.
Esta Recomendação preconiza, em seu art.
29, parágrafo único:
Art. 29. (...)
Parágrafo único. No curso da execução
criminal, cumprida a pena privativa de
liberdade e verificada a situação de rua da
pessoa egressa, deve-se observar a
possibilidade de extinção da punibilidade da
pena de multa.
PROVAS
Não configura cerceamento de defesa o fato de não se permitir
que o réu que está preso preventivamente tenha acesso a um
notebook na unidade prisional a fim de examinar as provas que
estão nos autos
Importante!!!

Se a defesa técnica teve pleno acesso aos autos da ação penal,


anexos e mídias eletrônicas, a negativa de ingresso de notebook na
unidade prisional para que o custodiado visualize as peças
eletrônicas não configura violação do princípio da ampla defesa. A
garantia constitucional à ampla defesa, prevista no art. 5º, LV, da
CF/88, envolve a defesa em sentido técnico (defesa técnica),
realizada pelo advogado, e a defesa em sentido material
(autodefesa), por meio de qualquer atividade defensiva
desenvolvida pelo próprio acusado, em especial durante seu
interrogatório. Contudo, no caso, a restrição ao ingresso de
notebook na unidade prisional justificava-se pelo risco de ofensa à
segregação prisional. Essa restrição não representou obstáculo à
ampla defesa, pois as peças processuais mais relevantes poderiam
ter sido impressas e levadas ao preso. No caso concreto, embora o
custodiado tenha formação jurídica, sua defesa técnica está sendo
patrocinada por advogados habilitados nos autos, os quais tiveram
pleno acesso aos autos da ação penal, anexos e mídias eletrônicas.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 631.960-SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 23/11/2021 (Info 720).
CADEIA DE CUSTÓDIA Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia
Qual é a consequência decorrente da quebra da cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos
(break in the chain of custody)? utilizados para manter e documentar a
Importante!!! história cronológica do vestígio coletado em
locais ou em vítimas de crimes, para
As irregularidades constantes da cadeia de custódia devem ser rastrear sua posse e manuseio a partir de
sopesadas pelo magistrado com todos os elementos produzidos na seu reconhecimento até o descarte.
instrução, a fim de aferir se a prova é confiável. STJ. 6ª Turma. HC (Incluído pela Lei 13.964/2019)
653.515-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 23/11/2021 (Info 720). Em suma: qual é a consequência decorrente
da quebra da cadeia de custódia (break in
the chain of custody)?
Existem duas correntes sobre o tema:
1ª corrente: a consequência é a ilicitude da
prova, com a sua exclusão, assim como das
demais provas dela derivadas.
2ª corrente: a quebra da cadeia de custódia
não leva, obrigatoriamente, à ilicitude ou à
ilegitimidade da prova, devendo ser
analisado o caso concreto.
ESTATUTO DO DESARMAMENTO 721
O crime de porte de arma de fogo, na modalidade transportar,
admite participação

O crime de porte de arma de fogo, seja de uso permitido ou restrito,


na modalidade transportar, admite participação. STJ. 6ª Turma. REsp
1.887.992-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/12/2021 (Info
721).
INDULTO
É possível se computar o tempo de prisão provisória para fins de
cálculo do indulto natalino do Decreto 9.246/96

Para concessão do indulto previsto no Decreto Presidencial nº


9.246/2017, pode ser computado o tempo de prisão cautelar
cumprido anteriormente à sua publicação, cuja condenação
transitou em julgado também antes do referido Decreto. STJ. 6ª
Turma. REsp 1953596-GO, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
07/12/2021 (Info 721).
CRIME DE PERSEGUIÇÃO (STALKING)
A revogação da contravenção de perturbação da tranquilidade (art.
65 da LCP) pela Lei 14.132/2021, não significa que tenha ocorrido
abolitio criminis em relação a todos os fatos que estavam
enquadrados na referida infração penal
Importante!!!

A Lei nº 14.132/2021 acrescentou o art. 147-A ao Código Penal, para


prever o crime de perseguição, também conhecido como stalking:

Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio,


ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a
capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou
perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. Pena –
reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Antes da Lei nº 14.132/2021, a conduta acima explicada era fato


atípico?
NÃO.

Antes da criação do crime do art. 147-A, a conduta era punida como


contravenção penal pelo art. 65 do Decreto-lei 3.688/41, que tinha a
seguinte redação: Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a
tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável: Pena – prisão
simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis
a dois contos de réis.

A Lei nº 14.132/2021 revogou a contravenção de molestamento (art.


65 do DL 3.688/41), punindo de forma mais severa essa conduta,
que pode trazer graves consequências psicológicas à vítima. A
revogação da contravenção de perturbação da tranquilidade pela Lei
nº 14.132/2021 não significa que tenha ocorrido abolitio criminis em
relação a todos os fatos que estavam enquadrados na referida
infração penal. De fato, a parte final do art. 147-A do Código Penal
prevê a conduta de perseguir alguém, reiteradamente, por qualquer
meio e “de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de
liberdade ou privacidade”, circunstância que, a toda evidência, já
estava contida na ação de “molestar alguém ou perturbar-lhe a
tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável”, quando
cometida de forma reiterada, porquanto a tutela da liberdade
também abrange a tranquilidade. No caso concreto apreciado pelo
STJ, o acusado, mesmo depois de processado e condenado em
primeira instância pela contravenção penal do art. 65 da LCP, voltou
a tentar contato com a mesma vítima ao lhe enviar três e-mails e um
presente. Desse modo, houve reiteração. Com a entrada em vigor da
Lei nº 14.132/2021, ele pediu o reconhecimento de que teria havido
abolitio criminis. O STJ, contudo, não aceitou. Isso porque houve
reiteração, de modo que a sua conduta se amolda ao que passou a
ser punido pelo art. 147-A do CP, inserido pela Lei nº 14.132/2021.
Logo, houve evidente continuidade normativo-típica. Vale ressaltar,
contudo, que o STJ afirmou que esse réu deveria continuar
respondendo pelas sanções da contravenção do art. 65 do Decreto-
Lei nº 3.688/1941 (e não pelo art. 147-A do CP). Isso porque a lei
anterior era mais benéfica. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp
1.863.977-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/12/2021 (Info
722).
CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
Para a configuração do crime previsto no art. 89 da Lei 8.666/93,
agora disposto no art. 337-E do CP, é indispensável a comprovação
do dolo específico de causar danos ao erário e o efetivo prejuízo aos
cofres públicos
Importante!!!

ODS 16 A consumação do crime descrito no art. 89 da Lei nº


8.666/93, agora disposto no art. 337-E do CP (Lei nº 14.133/2021),
exige a demonstração do dolo específico de causar dano ao erário,
bem como efetivo prejuízo aos cofres públicos. O crime previsto no
art. 89 da Lei nº 8.666/93 é norma penal em branco, cujo preceito
primário depende da complementação e integração das normas que
dispõem sobre hipóteses de dispensa e inexigibilidade de licitações,
agora previstas na nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021). Dado
o princípio da tipicidade estrita, se o objeto a ser contratado estiver
entre as hipóteses de dispensa ou de inexigibilidade de licitação, não
há falar em crime, por atipicidade da conduta. Conforme disposto no
art. 74, III, da Lei n. 14.133/2021 e no art. 3º-A do Estatuto da
Advocacia, o requisito da singularidade do serviço advocatício foi
suprimido pelo legislador, devendo ser demonstrada a notória
especialização do agente contratado e a natureza intelectual do
trabalho a ser prestado. A mera existência de corpo jurídico próprio,
por si só, não inviabiliza a contratação de advogado externo para a
prestação de serviço específico para o ente público. Se estão
ausentes o dolo específico e o efetivo prejuízo aos cofres públicos,
impõe-se a absolvição do réu da prática prevista no art. 89 da Lei nº
8.666/93. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 669.347-SP, Rel. Min. Jesuíno
Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 13/12/2021 (Info 723).
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
É válida a decisão judicial que se utiliza de fundamentação per
relationem para decretar a interceptação telefônica?
Importante!!!

Admite-se o uso da motivação per relationem para justificar a


quebra do sigilo das comunicações telefônicas. No entanto, as
decisões que deferem a interceptação telefônica e respectiva
prorrogação devem prever, expressamente, os fundamentos da
representação que deram suporte à decisão - o que constituiria
meio apto a promover a formal incorporação, ao ato decisório, da
motivação reportada como razão de decidir - sob pena de ausência
de fundamento idôneo para deferir a medida cautelar.
STJ. 6ª Turma. HC 654.131-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 16/11/2021 (Info 723).
CRIMES CONTRA A HONRA (INJÚRIA)
O crime de injúria praticado pela internet por mensagens privadas,
as quais somente o autor e o destinatário têm acesso ao seu
conteúdo, consuma-se no local em que a vítima tomou
conhecimento do conteúdo ofensivo
Importante!!!

Caso concreto: um indivíduo, residente em Município do interior da


Paraíba, enviou mensagem de áudio com palavras injuriosas contra
uma Senadora da República. Esta mensagem de áudio foi enviada
por meio do Instagram direct. A parlamentar tomou conhecimento
da ofensa em Brasília (DF). A competência para julgar a injúria será
da Justiça Federal do DF ou da Paraíba? Do Distrito Federal. No caso
de delitos contra a honra praticados por meio da internet, o local da
consumação do delito é aquele onde incluído o conteúdo ofensivo
na rede mundial de computadores. Contudo, tal entendimento diz
respeito aos casos em que a publicação é possível de ser visualizada
por terceiros, indistintamente, a partir do momento em que
veiculada por seu autor. Na situação em análise, embora tenha sido
utilizada a internet para a suposta prática do crime de injúria, o
envio da mensagem de áudio com o conteúdo ofensivo à vítima
ocorreu por meio de aplicativo de troca de mensagens entre
usuários em caráter privado, denominado Instagram direct, no qual
somente o autor e o destinatário têm acesso ao seu conteúdo, não
sendo acessível para visualização por terceiros, após a sua inserção
na rede de computadores. Portanto, no caso, aplica-se o
entendimento geral de que o crime de injúria se consuma no local
onde a vítima tomou conhecimento do conteúdo ofensivo. STJ. 3ª
Seção. CC 184.269-PB, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/02/2022
(Info 724).
LEI MARIA DA PENHA
Não cabe o arbitramento de aluguel em desfavor da coproprietária
vítima de violência doméstica, que, em razão de medida protetiva
de urgência decretada judicialmente, detém o uso e gozo exclusivo
do imóvel de cotitularidade do agressor
Importante!!!
ODS 5 E 16 Em regra, a utilização ou a fruição da coisa comum
indivisa com exclusividade por um dos coproprietários, impedindo o
exercício de quaisquer dos atributos da propriedade pelos demais
consortes, enseja o pagamento de indenização àqueles que foram
privados do regular domínio sobre o bem, tal como o percebimento
de aluguéis. É o que prevê o art. 1.319 do Código Civil. Contudo,
impor à vítima de violência doméstica e familiar obrigação
pecuniária consistente em locativo pelo uso exclusivo e integral do
bem comum constituiria proteção insuficiente aos direitos
constitucionais da dignidade humana e da igualdade, além de ir
contra um dos objetivos fundamentais do Estado brasileiro de
promoção do bem de todos sem preconceito de sexo, sobretudo
porque serviria de desestímulo a que a mulher buscasse o amparo
do Estado para rechaçar a violência contra ela praticada, como
assegura a Constituição Federal em seu art. 226, § 8º, a revelar a
desproporcionalidade da pretensão indenizatória em tais casos.
A imposição judicial de uma medida protetiva de urgência - que
procure cessar a prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher e implique o afastamento do agressor do seu lar - constitui
motivo legítimo a que se limite o domínio deste sobre o imóvel
utilizado como moradia conjuntamente com a vítima, não se
evidenciando, assim, eventual enriquecimento sem causa, que
legitime o arbitramento de aluguel como forma de indenização pela
privação do direito de propriedade do agressor. STJ. 3ª Turma. REsp
1.966.556-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
08/02/2022 (Info 724).
PROVAS (SIGILOS BANCÁRIO E FISCAL)
É ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo
Ministério Público
Importante!!!

Ao julgar o Tema 990, o STF afirmou que é legítimo que a Receita


Federal compartilhe o procedimento fiscalizatório que ela realizou
para apuração do débito tributário com os órgãos de persecução
penal para fins criminais (Polícia Federal, Ministério Público etc.),
não sendo necessário, para isso, prévia autorização judicial (STF.
Plenário. RE 1.055.941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
4/12/2019). Por outro lado, neste julgado, o STF não autorizou que o
Ministério Público faça a requisição direta (sem autorização judicial)
de dados fiscais, para fins criminais. Ex: requisição da declaração de
imposto de renda. A requisição ou o requerimento, de forma direta,
pelo órgão da acusação à Receita Federal, com o fim de coletar
indícios para subsidiar investigação ou instrução criminal, além de
não ter sido satisfatoriamente enfrentada no julgamento do RE
1.055.941/SP, não se encontra abarcada pela tese firmada no
âmbito da repercussão geral em questão. Em um estado de direito
não é possível se admitir que órgãos de investigação, em
procedimentos informais e não urgentes, solicitem informações
detalhadas sobre indivíduos ou empresas, informações essas
constitucionalmente protegidas, salvo autorização judicial. Uma
coisa é órgão de fiscalização financeira, dentro de suas atribuições,
identificar indícios de crime e comunicar suas suspeitas aos órgãos
de investigação para que, dentro da legalidade e de suas atribuições,
investiguem a procedência de tais suspeitas. Outra, é o órgão de
investigação, a polícia ou o Ministério Público, sem qualquer tipo de
controle, alegando a possibilidade de ocorrência de algum crime,
solicitar ao COAF ou à Receita Federal informações financeiras
sigilosas detalhadas sobre determinada pessoa, física ou jurídica,
sem a prévia autorização judicial. STJ. 3ª Seção. RHC 83.233-MG, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 09/02/2022 (Info 724).
PROVAS
O MP pode requerer diretamente que a Apple, Google etc guardem
os registros de acesso a aplicações de internet ou registros de
conexão de pessoas investigadas enquanto se aguarda pedido de
quebra de sigilo de dados
Importante!!!
O requerimento de simples guarda dos registros de acesso a
aplicações de internet ou registros de conexão por prazo superior ao
legal, feito por autoridade policial, administrativa ou Ministério
Público, prescinde de prévia autorização judicial. Caso concreto: o
MP instaurou procedimento de investigação criminal. O Promotor
enviou ofícios à Apple e a Google requerendo que tais empresas
preservassem os dados telemáticos dos investigados enquanto o
Poder Judiciário não aprecia os pedidos de quebra do sigilo. Não há
ilegalidade nesse pedido, não sendo necessária prévia autorização
judicial. STJ. 6ª Turma. HC 626.983-PR, Rel. Min. Olindo Menezes
(Desembargador Convocado do TRF da 1ª Região), julgado em
08/02/2022 (Info 724).
ABANDONO DE INCAPAZ 725
Caso Miguel Otávio
Importante!!!
Não há falar em trancamento da ação penal quando a complexidade
dos fatos e da adequação típica das condutas a eles, na
conformidade da plausível articulação de juízos normativos
preliminares da denúncia, implicam a conveniência da instrução
probatória. STJ. 5ª Turma. RHC 150.707-PE, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/02/2022
(Info 725).
PRISÃO
A determinação do magistrado pela cautelar máxima, em sentido
diverso do requerido pelo Ministério Público, pela autoridade
policial ou pelo ofendido, não pode ser considerada como atuação
ex officio
Importante!!!

Caso adaptado: João praticou lesão corporal e proferiu ameaças de


morte contra a sua esposa Regina. Ele foi preso em flagrante. No dia
seguinte, foi realizada audiência de custódia. Na audiência, o
Promotor de Justiça pugnou pela homologação do auto de prisão
em flagrante e pela aplicação de medidas cautelares diversas da
prisão (art. 319 do CPP). O juiz decretou a prisão preventiva
(cautelar máxima). Essa situação envolve três interessantes temas:
1) É possível atualmente que o juiz decrete, de ofício, a prisão
preventiva? Não. Após o advento da Lei nº 13.964/2019 (Pacote
Anticrime), não é mais possível a conversão da prisão em flagrante
em preventiva sem provocação por parte ou da autoridade policial,
do querelante, do assistente, ou do Ministério Público. 2) É possível
que o juiz decrete, de ofício, a prisão preventiva do indivíduo nos
casos de violência doméstica com base art. 20 da Lei Maria da
Penha? Não. O art. 20 da Lei Maria da Penha não é uma exceção à
regra acima exposta. A proibição de decretação da prisão preventiva
de ofício também se estende para o art. 20 da Lei Maria da Penha.
Se você reparar o art. 20 da Lei nº 11.340/2006 ele continua
dizendo, textualmente, que o juiz pode decretar a prisão preventiva
de ofício nos casos envolvendo violência doméstica. Ocorre que esse
art. 20 da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) destoa do atual
regime jurídico. A atuação do juiz de ofício é vedada
independentemente do delito praticado ou de sua gravidade, ainda
que seja de natureza hedionda, e deve repercutir no âmbito da
violência doméstica e familiar. 3) Se o MP pediu a aplicação de
medida cautelar diversa da prisão, o juiz está autorizado a decretar a
prisão? Sim. A decisão que decreta a prisão preventiva, desde que
precedida da necessária e prévia provocação do Ministério Público,
formalmente dirigida ao Poder Judiciário, mesmo que o magistrado
decida pela cautelar pessoal máxima, por entender que apenas
medidas alternativas seriam insuficientes para garantia da ordem
pública, não deve ser considerada como de ofício. Isso porque uma
vez provocado pelo órgão ministerial a determinar uma medida que
restrinja a liberdade do acusado em alguma medida, deve o juiz
poder agir de acordo com o seu convencimento motivado e analisar
qual medida cautelar pessoal melhor se adequa ao caso. Impor ou
não cautelas pessoais, de fato, depende de prévia e indispensável
provocação. Entretanto, a escolha de qual delas melhor se ajusta ao
caso concreto há de ser feita pelo juiz da causa. Entender de forma
diversa seria vincular a decisão do Poder Judiciário ao pedido
formulado pelo Ministério Público, de modo a transformar o
julgador em mero chancelador de suas manifestações, ou de lhe
transferir a escolha do teor de uma decisão judicial. STJ. 6ª Turma.
RHC 145.225-RO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
15/02/2022 (Info 725).
PROVAS (BUSCA E APREENSÃO)
A indução do morador a erro na autorização do ingresso em
domicílio macula a validade da manifestação de vontade e, por
consequência, contamina toda a busca e apreensão
Importante!!!

Caso adaptado: os policiais se deslocaram para o bairro Bom Jesus


para verificar “denúncias anônimas”, recebidas pelo “disque
denúncia”, de que estaria sendo praticado tráfico de drogas em
determinada casa. Ao chegarem no local, encontraram João na
frente da casa. Os policiais fizeram busca pessoal em João, mas não
encontraram substância entorpecente. Em seguida, os policiais
alegaram que explicaram a João que estavam procurando drogas,
tendo ele confessado que possuía a substância e autorizado que os
agentes ingressassem em sua residência. Ao entrarem na casa, os
policiais encontraram grande quantidade de droga e outras pessoas
preparando a substância para comercialização. João e os demais
foram presos em flagrante e denunciados por tráfico de drogas.
Quando interrogado em juízo, João trouxe uma narrativa diferente e
afirmou que foi surpreendido pelos policiais militares na porta de
sua casa e que eles alegaram que estavam procurando uma pessoa
que havia cometido um roubo, razão pela qual solicitaram que ele
abrisse o portão para verificar se o ladrão havia se escondido ali.
Para o STJ, essa apreensão foi lícita? Não. O STJ entendeu que a
busca foi ilícita, assim como todas as provas dela derivadas. Isso
porque não houve comprovação de consentimento válido para o
ingresso no domicílio do réu. Diante dessa dúvida sobre o que de
fato ocorreu, pode-se afirmar que é inverossímil a versão policial,
segundo a qual o suspeito, abordado na rua, espontaneamente
haveria confessado possuir entorpecentes dentro de casa e
permitido que os agentes de segurança ingressassem no imóvel para
apreendê-las. Ainda que o réu haja admitido a abertura do portão
do imóvel para os policiais, ressalvou que o fez apenas porque
informado sobre a necessidade de perseguirem um potencial
criminoso em fuga, e não para que fossem procuradas e
apreendidas drogas em seu desfavor. Partindo dessa premissa, isto
é, de que a autorização foi obtida mediante indução do acusado a
erro pelos policiais militares, não pode ser considerada válida a
apreensão das drogas, porquanto viciada a manifestação volitiva do
réu. STJ. 6ª Turma. HC 674.139-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 15/02/2022 (Info 725).
LAVAGEM DE DINHEIRO 726
Na autolavagem não ocorre a consunção entre a corrupção passiva
e a lavagem de dinheiro
Importante!!!

Embora a tipificação da lavagem de capitais dependa da existência


de uma infração penal antecedente, é possível a autolavagem, isto
é, a imputação simultânea, ao mesmo réu, do delito antecedente e
do crime de lavagem, desde que sejam demonstrados atos diversos
e autônomos daquele que compõe a realização do primeiro crime,
circunstância em que não ocorrerá o fenômeno da consunção. A
autolavagem (self laundering/autolavado) merece reprimenda
estatal, na medida em que o autor da infração penal antecedente, já
com a posse do proveito do crime, poderia simplesmente utilizar-se
dos bens e valores à sua disposição, mas reinicia a prática de uma
série de condutas típicas, a imprimir a aparência de licitude do
recurso obtido com a prática da infração penal anterior. Dessa
forma, se for confirmado, a partir do devido processo legal, que o
indivíduo deu ares de legalidade ao dinheiro indevidamente
recebido, estará configurado o crime de lavagem de capitais. STJ.
Corte Especial. APn 989-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
16/02/2022 (Info 726).
PROCEDIMENTOS INVESTIGATÓRIOS CRIMINAIS (PIC)
É ilegal a utilização, por parte do MP, de peça sigilosa obtida em
procedimento em curso no STF para abertura de procedimento
investigatório criminal em 1ª instância com objetivo de apuração
dos mesmos fatos já investigados naquela Corte

Caso adaptado: a Procuradoria da República no Paraná, com base na


colaboração premiada celebrada por Bruno, instaurou Procedimento
Investigatório Criminal (PIC) com o fim de investigar o possível
cometimento de crimes de corrupção, de lavagem de capitais e de
fraude à licitação relacionados a contratos celebrados entre a
Petrobras. Maurício, um dos investigados no Procedimento aberto,
impetrou habeas corpus alegando que os fatos tratados neste PIC
são idênticos aos que foram investigados no Inquérito 4.978, que
tramitou no STF em razão do suposto envolvimento de Deputados
Federais. A defesa de Maurício argumentou que Min. Edson Fachin,
relator do Inquérito 4.978 no STF, após a realização de diversos atos
de investigação, teria determinado o arquivamento do inquérito
com relação a todos os investigados, entre os quais o próprio
Maurício, por não estar demonstrada a materialidade das infrações
penais. Logo, para a defesa, seria ilegal a instauração do
procedimento de investigação pelo Ministério Público. Além disso, a
defesa argumentou que o PIC foi instaurado com base nas
declarações prestadas pelo colaborador no STF, sendo esse
documento sigiloso. O STJ concordou com a defesa. É ilegal a
utilização, por parte do Ministério Público, de peça sigilosa obtida
em procedimento em curso no Supremo Tribunal Federal para
abertura de procedimento investigatório criminal autônomo com
objetivo de apuração dos mesmos fatos já investigados naquela
Corte. STJ. 5ª Turma. RHC 149.836-RS, Rel. Min. Jesuíno Rissato
(Desembargador Convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. João Otávio
de Noronha, julgado em 15/02/2022 (Info 726).
HABEAS CORPUS
Não cabe habeas corpus para questionar passaporte
vacinal/sanitário
Importante!!!
ODS 16 O Habeas corpus não constitui via própria para impugnar
Decreto de governador de Estado sobre adoção de medidas acerca
da apresentação do comprovante de vacinação contra a COVID-19
para que as pessoas possam circular e permanecer em locais
públicos e privados. STJ. 2ª Turma. RDC no HC 700.487-RS, Rel. Min.
Francisco Falcão, julgado em 22/02/2022 (Info 726).

Você também pode gostar