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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


Registro: 2022.0000538906

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Remessa Necessária Cível nº 1001073-


59.2022.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é recorrente JUÍZO EX OFFICIO, são
recorridos NAYRA CESARO PENHA GANHITO, TAMARA CESARO PENHA GANHITO,
LIDIA CESARO PENHA GANHITO e RENATO NUNES GANHITO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal


de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de
conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ENCINAS MANFRÉ


(Presidente sem voto), CAMARGO PEREIRA E KLEBER LEYSER DE AQUINO.

São Paulo, 11 de julho de 2022.

MARREY UINT
Relator(a)
Assinatura Eletrônica

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 44.904

Reexame Necessário nº 1001073-59.2022.8.26.0053

Comarca: SÃO PAULO

Recorrente: JUÍZO “EX OFFICIO”

Recorrido: NAYRA CESARO PENHA GANHITO E OUTROS

Reexame necessário - Mandado de


Segurança - ITCMD - Base de cálculo
correspondente ao valor venal do imóvel
(não valor venal de referência do ITBI) -
Princípio da legalidade e da tipicidade
tributária - Sentença mantida Recurso
oficial não provido.
Trata-se de mandado de segurança impetrado

por Nayra Cesaro Penha Ganhito E Outros, em face do Secretário da Fazenda

do Estado de São Paulo, objetivando os impetrantes a concessão de medida

liminar para que seja permitido o recolhimento do ITCMD baseado no valor

venal do IPTU e (fls. 01/09).

A r. sentença de fls. 73/79, prolatada pela MM.

Juiz Luis Eduardo Medeiros Grisolia, concedeu a segurança e julgou

procedente o pedido.

Subiram os autos exclusivamente por estar a

sentença sujeita ao reexame necessário.

Em síntese, é o relatório.

O Imposto sobre Transmissão Causa Mortis

(ITCMD) tem por fato gerador, neste caso, a transmissão de bens em

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Remessa Necessária Cível nº 1001073-59.2022.8.26.0053 -Voto 44904 - MAR

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razão de falecimento e terá por base de cálculo o valor venal dos bens ou

direitos transmitidos (artigo 38 do Código Tributário Nacional), a ser apurado

ao tempo da abertura da sucessão, nos termos dos artigos 1.784 e 1.787 do

Código Civil.

A Lei Estadual nº 10.705/2000, que instituiu o

tributo em comento, dispõe sobre o que significa a expressão “valor venal

dos bens” em seu artigo 9º, §1º:

“Artigo 9º - A base de cálculo do imposto é o valor


venal do bem ou direito transmitido, expresso em
moeda nacional ou em UFESPs (Unidades Fiscais do
Estado de São Paulo).

§ 1º: Para os fins de que trata esta lei, considera-se


valor venal o valor de mercado do bem ou direito
na data da abertura da sucessão ou da realização
do ato ou contrato de doação.”

Por sua vez, o artigo 13, inciso I, da mesma lei

estatui que, em caso de imóveis urbanos, o valor da base de cálculo do ITCMD

não deverá ser inferior “ao fixado para o lançamento do Imposto sobre a

Propriedade Predial e Territorial Urbana IPTU”.

O artigo 16, parágrafo único, item 2, do RITCMD,

aprovado pelo Decreto Estadual nº 46.655/2002, e com a redação dada pelo

Decreto Estadual nº 55.002/2009, conceitua por sua vez o valor venal de bem

imóvel como sendo “o valor venal de referência do Imposto sobre Transmissão

de Bens Imóveis ITBI”.

Todavia, é posicionamento deste Relator que a

alteração trazida pelo referido decreto ofendeu o princípio da legalidade.

Como se infere do artigo 97, II, do Código Tributário Nacional, a majoração de

tributo só é admitida por lei, sendo que o tributo só será instituído, ou majorado,

por esta via, com exceção das

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hipóteses previstas na Constituição Federal.

Assim, o Decreto Estadual nº 46.655/02, com

essa nova redação, dada pelo Decreto Estadual nº 55.002/09, violou o princípio

da reserva legal, pois em nenhum momento a lei de regência permitiu que o

legislador estabelecesse opção em favor da Administração Tributária, entre o


valor venal considerado para base de cálculo do IPTU e o valor venal

considerado para base de cálculo do ITBI.

Determinou somente que, em se tratando de

imóvel urbano, ou de direito a ele relativo, o valor da base de cálculo do

ITCMD não poderá ser inferior ao fixado para o lançamento de IPTU, sendo

então este o valor de referência possível.

Nesse sentido existem vários julgados deste E.

Tribunal de Justiça rejeitando a aplicação do Decreto Estadual

55.002/2009 por ferir o princípio da reserva legal em matéria tributária:

APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO


Mandado de Segurança com Pedido Liminar
ITCMD de imóveis urbanos Cobrança do referido
imposto com adoção de base de cálculo de ITBI,
nos termos do que dispõe o Decreto Estadual nº
55.002/09 Pleito que visa a utilização como base
de cálculo do tributo, valor venal para fins de IPTU,
afastando-se a utilização do valor de referência
Sentença de procedência Decisão escorreita - A
base de cálculo do ITCMD deve ser o valor venal do
imóvel lançado para fins de IPTU, em razão da
ilegalidade do Decreto Estadual nº 55.002/09
Inteligência do art. 97, II, § 1º, do CTN e da Lei º
10.705/00 Sentença concessiva da ordem
mantida - Recursos oficial e voluntário da FESP
improvidos. (Apelação Cível
1002101-38.2017.8.26.0053 Relator(a): Eduardo
Gouvêa Comarca: São Paulo Órgão julgador: 7ª
Câmara de Direito Público Data do julgamento:
15/05/2017 - Data de registro: 16/05/2017)

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APELAÇÃO - MANDADO DE SEGURANÇA. ITCMD.


Base de cálculo que deve corresponder ao valor
venal para fins de cobrança do IPTU. Inteligência do
art. 38, do Código Tributário Nacional e arts. 9º e 13,
da Lei Estadual nº 10.705/00. Impossibilidade de se
majorar tributo por meio de decreto. Legalidade
tributária (art. 150, inciso I, da Constituição Federal,
c.c. art. 97, incisos II e IV, §1º, do Código Tributário
Nacional). Recursos oficial e voluntário desprovidos.
(Apelação Cível 1026788-27.2016.8.26.0114
Relator(a): Bandeira Lins Comarca: Campinas
Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Público Data
do julgamento: 26/04/2017 - Data de registro:
26/04/2017)

Apelação cível. Mandado de segurança. ITCMD.


Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação.
Base de cálculo. Decreto Estadual nº 55.002/09 que
ao permitir o uso do valor venal do bem como
sendo o "valor venal de referência do ITBI"
extrapolou seu próprio limite regulamentar,
estabelecendo base de cálculo diversa da prevista
na Lei 10.705/2000, afrontando o disposto no art. 99
do CTN. Conteúdo e o alcance dos decretos que se
restringem aos das leis em função das quais foram
expedidos. Recolhimento do ITCMD incidente sobre
a doação do imóvel mencionado pelo impetrante
que deve ter como base de cálculo o valor venal
adotado para cálculo do IPTU. Sentença concessiva
da ordem mantida. Apelo fazendário não provido.
(Apelação Cível 1035531-49.2015.8.26.0053
Relator(a): Ronaldo Andrade Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Público Data
do julgamento: 06/04/2016 - Data de registro:
07/04/2016).

Ressalte-se que, não obstante o fato gerador

tenha ocorrido posteriormente à publicação do Decreto Estadual nº 55.002/09,

ainda assim a base de cálculo do ITCMD deveria obedecer ao valor venal do

bem para fins de IPTU, e não o valor venal de referência (valor de mercado)

instituído pelo decreto de 2009, visto que somente a lei pode estabelecer a

majoração de tributo (CTN, artigo 97, inciso II) e, segundo o parágrafo 1º do

artigo 97 do CTN,
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“equipara-se à majoração do tributo a modificação de sua base de cálculo,

que importe em torná-lo mais oneroso”.

Dessa maneira, mostra-se correta a r. sentença,

razão pela qual merece ser mantida por seus fundamentos.

Por derradeiro, considera-se prequestionada

toda matéria infraconstitucional e constitucional, observando-se que é pacífico

no STJ que, tratando-se de prequestionamento, é desnecessária a citação

numérica dos dispositivos legais, bastando que a questão posta tenha sido

decidida (EDROMS 18205/SP, Min.

Felix Fischer, DJ 08.05.2006, p. 24).

Anote-se que eventuais recursos interpostos

contra este julgado estarão sujeitos a julgamento virtual, nos termos da

Resolução n.º 549/2011.

Em face do exposto, nega-se provimento ao

recurso oficial.

MARREY UINT
Relator
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