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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000393499

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


0061117-13.2012.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante MARIO
CARLOS BENI, é apelado ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 5ª Câmara de Direito Público do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao recurso.
V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MARIA LAURA TAVARES


(Presidente sem voto), FRANCISCO BIANCO E NOGUEIRA DIEFENTHALER.

São Paulo, 26 de maio de 2018.

Fermino Magnani Filho


relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 25112
APELAÇÃO CÍVEL Nº 0061117-13.2012.8.26.0053
FORO DE ORIGEM: CAPITAL
APELANTE(S): MARIO CARLOS BENI
APELADO(S): FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO

PROCURADOR AUTÁRQUICO CELETISTA Pretensão ao


recebimento de honorários advocatícios nos termos da Lei
Complementar Estadual nº 1.077/2008 Cabimento Lei
Complementar Estadual nº 827/1997 declarada inconstitucional
por vício formal Determinação de aplicação da norma
infraconstitucional anteriormente utilizada no pagamento dos
salários daqueles impetrantes Posterior edição da Lei
Complementar Estadual nº 1.077/2008 Efeitos da declaração de
inconstitucionalidade estendidos aos procuradores autárquicos –
Incidência da Lei Complementar Estadual nº 93/1974 Holerites
trazidos que atestam a não incidência de contribuição
previdenciária sobre a verba honorária Recolhimento
direcionado ao INSS Lei Orgânica da Procuradoria Estadual e
Lei Complementar Estadual nº 1.077/2008, todavia, que não
limitam a inclusão de honorários advocatícios apenas aos
proventos do servidor de cargo efetivo em detrimento daquele
contratado pela Consolidação das Leis do Trabalho Distinção
descabida ao intérprete Apelação do autor provida.

LEI FEDERAL Nº 11.960/2009: ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA


Eficácia resolvida pelo Supremo Tribunal Federal, nas ADINs
nºs 4.357 e 4.425 Inconstitucionalidade da expressão “índice
oficial de remuneração básica da caderneta de poupança”, inscrita
no artigo 1º-F da Lei 9.494/1997, com a redação alterada pelo
artigo 5º da Lei nº 11.960/2009 Consequente vácuo para o
estabelecimento de novo indexador mais consentâneo à vocação
primordial da correção monetária, que é assegurar o poder de
compra do capital comprometido, resolvido por essa Corte no
julgamento do Recurso Extraordinário Representativo de
Controvérsia nº 870947/SE (j. 20/09/2017) Adoção do IPCA-E
(Índice de Preços ao Consumidor Especial). JUROS
MORATÓRIOS Na relação jurídica não-tributária a fixação
seguirá pelo índice de remuneração da caderneta de poupança,
permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no artigo 1º-F da
Lei 9.494/1997, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009.

Vistos.
Apelação tempestiva interposta por Mário Carlos Beni
contra r. sentença do digno Juízo da 10ª Vara da Fazenda Pública da
Comarca da Capital (fls 224/225), que julgou improcedente ação
ajuizada em face do DAEE - Departamento de Águas e Energia Elétrica,
cobrando honorários advocatícios de seu cargo nos termos da Lei

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Complementar Paulista nº 1.077/2008.


Recurso fundado, em síntese, nestas teses: a) na condição de
aposentado possui direito ao recebimento da verba pleiteada; b) a
Constituição Estadual não faz distinção entre procurador autárquico
titular de cargo ou de função-atividade; c) a Lei Complementar nº
1.077/2008 confere o benefício sub judice a todos os procuradores
aposentados e pensionistas; d) observância ao artigo 55 da Lei
Complementar Estadual nº 93/1994; e) jurisprudência favorável à tese
inicial; f) reforma do julgado (fls 229/238).
Apelo respondido (fls 251/270).
É o relatório.
1- Demanda cujo objeto consiste na continuidade do
pagamento de verba honorária a procurador autárquico aposentado sob o
regime da Consolidação das Leis do Trabalho.
A Lei Complementar Estadual nº 827/1997, que dispôs
acerca da retribuição pecuniária devida aos membros da carreira de
Procurador de Autarquia, e não apenas sobre o pagamento de
honorários advocatícios devidos a estes profissionais, foi objeto de
análise no julgamento da Apelação Cível nº 083.577.5/8-00, resultando
na declaração incidental de inconstitucionalidade por vício formal pelo
Órgão Especial deste Tribunal de Justiça nos autos nº 119.239-0/3-00,
com determinação de aplicação da norma infraconstitucional
anteriormente utilizada no pagamento dos salários daqueles impetrantes.
MANDADO DE SEGURANÇA Ato administrativo
Impetração voltada para declarar a inconstitucionalidade da Lei
Complementar nº 827, de 23 de junho de 1997, que reduziu os
vencimentos dos impetrantes, procuradores autárquicos, e restabelecer

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a legislação infraconstitucional anteriormente aplicada Segurança


concedida Inconstitucionalidade declarada pelo Colendo Órgão
Especial deste Egrégio Tribunal de Justiça Preliminares de
litispendência, inadequação da via processual eleita e decadência,
rejeitadas Sentença mantida Recurso voluntário e reexame
necessário não providos (Apelação Cível com Revisão nº
083.577-5/8-00, 9ª Câmara de Direito Público, relator Desembargador
Décio Notarangeli, j. 19/04/2006).
Sobreveio a edição da Lei Complementar Estadual nº
1.077/2008 para conferir os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade aos procuradores autárquicos.
Nestes termos, incide na espécie a Lei Complementar
Estadual nº 93, de 28/05/1974 - Lei Orgânica da Procuradoria Geral do
Estado, com observância de que esta norma encontra-se atualizada pela
Lei Complementar Estadual nº 1.270, de 25/08/de 2015.
In casu¸ os holerites trazidos atestam que Mário Carlos
Beni, face ao regime de advocacia pública, recebia verba honorária
como parte componente de seus vencimentos e que sobre este benefício
não havia incidência de contribuição previdenciária, a qual teve
recolhimento direcionado ao Instituto Nacional de Seguro Social com a
referência de 10 salários mínimos, fato que, em princípio, afastaria o
pedido autoral (fls 32/38).
Todavia, o artigo 55, § 5º, da Lei Orgânica da Procuradoria
Estadual (sem as modificações da Lei Complementar Estadual nº
1.270, de 25 de agosto de 2015, já que a aposentadoria do
reclamante ocorreu no ano de 1997 - fls 46), e os artigos 1º e 5º da Lei
Complementar Estadual nº 1.077/2008 não limitam a inclusão de

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honorários advocatícios apenas aos proventos do servidor de cargo


efetivo em detrimento daquele contratado pela Consolidação das Leis do
Trabalho:
Artigo 55 - Os honorários advocatícios concedidos em
qualquer feito judicial à Fazenda do Estado ainda quando recolhidos
nos termos da Lei nº 10.421, de 3 de dezembro de 1971, sob o título de
acréscimo incidente sobre o valor do débito fiscal inscrito para
cobrança executiva, serão destinados a Procuradoria Geral do Estado
para distribuição aos integrantes da carreira de Procurador do Estado,
aos ocupantes dos cargos de Assessor Chefe da Assessoria Técnico-
Legislativa, Assistente Jurídico Chefe do Serviço de Assistência Jurídica
e Procurador Geral do Estado, bem como aos aposentados nesses
cargos.
§ 5º - Os funcionários que vierem a se aposentar nos cargos
a que se refere este artigo farão jus ao percebimento de honorários,
pagos pela conta especial e calculados com base na média dos 12 (doze)
meses precedentes à aposentadoria.
E mais:
Artigo 1º - Ficam estendidos aos Procuradores de
Autarquias, bem como aos ocupantes de cargos de provimento em
comissão e de funções de preenchimento em confiança privativos de
Procurador de Autarquia, os efeitos da decisão do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo assentada no julgamento da Apelação Cível nº
83.577-5/8-00, conforme a situação individual e funcional de cada um
deles.
Artigo 5º - O disposto nesta lei complementar aplica-se aos
inativos e pensionistas.

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Deste modo, não tendo a legislação de regência feito


distinção entre funcionário celetista e estatutário para fins de
recebimento de vantagens, descabe ao intérprete fazê-lo.
2- Da prescrição.
Concluindo, a procedência da ação era medida de rigor, não
atingida pela sombra prescritiva, apesar de o autor ter se aposentado
no ano de 1997 (fls 46).
Também desse tema já cuidou a jurisprudência, culminando
na edição, pelo Superior Tribunal de Justiça, da Súmula nº 85: Nas
relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figura
como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito
reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do
quinquênio anterior à propositura da ação.
3- Da consolidação dos valores devidos.
Antecipo-me em dispor sobre as consequências do advento
da Lei Federal nº 11.960/2009. Assunto que certamente atormentará a
fase executiva.
É conhecida, e isso se toma como fato notório, a má
disposição do Estado Brasileiro, por qualquer das três esferas federativas
União, Estados e Municípios no que tange a honrar compromissos
financeiros. O cidadão enfrenta, portanto, não apenas a inadimplência do
Estado, já por si bastante grave. Pior é a sua infidelidade, afrontosa aos
direitos subjetivos dos súditos, desonrando obrigações. Aí o germe da
deslegitimação do poder estatal e do Poder Judiciário, se nisso
consente , a anarquia das instituições.
Consequência desse costume espúrio, a sociedade brasileira
sofreu duas investidas praticamente simultâneas do império estatal: a Lei

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nº 11.960/2009, e a Emenda Constitucional nº 62, publicada em


12/12/2009. A primeira corrói o cômputo dos juros e da correção
monetária1. A segunda institui parcelamento semidesindexado (caem os
juros compensatórios) de longuíssimo prazo, que certamente tampouco
será cumprido. Como de hábito, nenhum alento aos credores.
Parte significativa dos magistrados em 2º grau reagiu pelo
CADIP - Centro de Apoio ao Direito Público, considerando que a Lei nº
11.960 somente se aplica às ações ajuizadas após a sua vigência,
ressalvada a eventual declaração de inconstitucionalidade desta norma.
Da mesma origem, a Lei nº 11.960/2009 não se aplica aos processos
com trânsito em julgado, em respeito à coisa julgada. Aguardávamos,
portanto, o que considerávamos a inevitável declaração de
inconstitucionalidade desse diploma, ou parte dele, pelos Tribunais
Superiores, mas com o óbvio cuidado político-jurisdicional de nada
precipitarmos nesta instância, além daqueles dois verbetes, sob pena de
agravar os maus tratos já impingidos ao desgraçado credor.
O julgamento do Recurso Extraordinário nº 870.947/SE
saneou quaisquer dúvidas pendentes, fixando os juros moratórios nos
seguintes termos: o artigo 1º-F da Lei 9.494/1997, com a redação dada
pela Lei 11.960/2009, na parte em que disciplina os juros moratórios
aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao
incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais

1 Diz-se no artigo 5º da Lei Federal 11.960/09, que inseriu o artigo 1º-F à

Lei Federal 9.494/97: Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua

natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora,

haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração

básica e juros aplicados à caderneta de poupança.

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devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda


Pública remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio
constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput); quanto às
condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos
juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o
disposto no artigo 1º-F da Lei 9.494/1997 com a redação dada pela Lei
11.960/2009.
E no que concerne à atualização monetária, ficou
determinado que o artigo 1º-F da Lei 9.494/1997, com a redação dada
pela Lei 11.960/2009, na parte em que disciplina a atualização
monetária das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se
inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de
propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que não se qualifica como
medida adequada a capturar a variação de preços da economia, sendo
inidônea a promover os fins a que se destina. Diante disso, o Supremo
Tribunal Federal determinou o uso do IPCA-E tanto na correção
monetária dos precatórios quanto nas condenações judiciais da
Fazenda Pública, para evitar qualquer lacuna sobre a matéria e para
guardar coerência com as decisões do STF na Questão de Ordem nas
ADIs 4357 e 4425.
4- Da verba honorária
Quanto aos honorários advocatícios, malgrado a ponderação
de que as ações desta natureza, as de benefícios salariais, são repetitivas,
geralmente ajuizadas em massa, sem nenhuma complexidade, seja no
plano formal, seja no acompanhamento processual, há que se considerar

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que a condenação ora imposta ao erário é ilíquida. Logo, o seu


arbitramento observará o disposto no artigo 85, § 4º, inciso II, do Código
de Processo Civil.
Por meu voto, dou provimento à apelação. Em
conseqüência, com relação aos valores devidos os juros de mora
incidirão à razão artigo 1º-F à Lei nº 9.494/1997 com redação dada pela
Lei nº 11.960/2009, a contar da citação; e o regime de correção
monetária, calculada desde quando o benefício deveria ter sido pago
administrativamente, seguirá o IPCA-E (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo - Especial).

FERMINO MAGNANI FILHO


Desembargador Relator

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