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Leia atentamente todo o enunciado da prova. Responda, em seguida, às questões apresentadas, tendo em conta que, na apreciação da
sua prova, além dos aspetos de conteúdo, serão também considerados os aspetos de redação (ortografia, pontuação, correção sintática),
organização lógica das ideias, clareza e capacidade de síntese.
GRUPO I
Leia, atentamente, o texto a seguir transcrito.
1 (…)Frias hão de ter parecido, a quem perto estivesse, as palavras ditas por Blimunda, Ali vai minha
mãe, nenhum suspiro, lágrima nenhuma, nem sequer o rosto compadecido, que ainda assim não faltam
estes no meio do povo apesar de tanto ódio, de tanto insulto e escárnio(...). Porém, agora, em sua casa,
choram os olhos de Blimunda como duas fontes de água, se tornar a ver sua mãe será no embarque,
5 mas de longe, mais fácil é largar um capitão inglês mulheres de má vida que beijar uma filha sua mãe
condenada, encostar a uma face outra face, a pele macia, a pele frouxa, tão perto, tão distante, onde
estamos, quem somos, e o padre Bartolomeu Lourenço diz, Não somos nada perante os desígnios do
Senhor, se ele sabe quem somos, conforma-te Blimunda, deixemos a Deus o campo de Deus, não
atravessemos as suas fronteiras, adoremos deste lado de cá, e façamos o nosso campo, o campo dos
1 homens, que estando feito há de querer Deus visitar-nos, e então, sim, será o mundo criado. Baltasar
0 Mateus, o Sete-Sóis, está calado, apenas olha fixamente Blimunda, e de cada vez que ela o olha a ele
sente um aperto na boca do estômago, porque olhos como estes nunca se viram, claros de cinzento, ou
verde, ou azul, que com a luz de fora variam ou o pensamento de dentro, e às vezes tornam-se negros
noturnos ou brancos brilhantes como lascado carvão de pedra. Veio a esta casa não porque lhe
dissessem que viesse, mas Blimunda perguntara-lhe que nome tinha e ele respondera, não era
1 necessária melhor razão. Terminado o auto-de-fé, varridos os restos, Blimunda retirou-se, o padre foi
5 com ela, e quando Blimunda chegou a casa deixou a porta aberta para que Baltasar entrasse. Ele
entrou e sentou-se, o padre fechou a porta e acendeu uma candeia à última luz duma frincha, vermelha
luz do poente que chega a este alto quando já a parte baixa da cidade escurece, ouvem-se gritar
soldados nas muralhas do castelo, fosse a ocasião outra, havia Sete-Sóis de lembrar-se da guerra, mas
agora só tem olhos para os olhos de Blimunda, ou para o corpo dela, que é alto e delgado como a
2 inglesa que acordado sonhou no preciso dia em que desembarcou em Lisboa.
0 Blimunda levantou-se do mocho, acendeu o lume na lareira, pôs sobre a trempe uma panela de sopas,
e quando ela ferveu deitou uma parte para duas tigelas largas que serviu aos dois homens, fez tudo isto
sem falar, não tornara a abrir a boca depois que perguntou, há quantas horas, Que nome é o seu, e
apesar de o padre ter acabado primeiro de comer, esperou que Baltasar terminasse para se servir da
colher dele, era como se calada estivesse respondendo a outra pergunta, Aceitas para a tua boca a
2 colher de que se serviu a boca deste homem, fazendo seu o que era teu, agora tornando a ser teu o que
5 foi dele, e tantas vezes que se perca o sentido do teu e do meu, e como Blimunda já tinha dito que sim
antes de perguntada, Então declaro-vos casados. O padre Bartolomeu Lourenço esperou que Blimunda
acabasse de comer da panela as sopas que sobejavam, deitou-lhe a bênção, com ela cobrindo a
pessoa, a comida e a colher, o regaço, o lume na lareira, a candeia, a esteira no chão, o punho cortado
de Baltasar. Depois saiu.
3 Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôr
0 alguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que
estava comendo a luz, e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer, Por que foi que
perguntaste o meu nome, e Blimunda respondeu, Porque minha mãe o quis saber E queria que eu o
soubesse, Como sabes, se com ela não pudeste falar, Sei que sei, não sei como sei, não faças
perguntas a que não posso responder, faz como fizeste, vieste e não perguntaste porquê, E agora, Se
3 não tens onde viver melhor, fica aqui, Hei de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais e uma irmã,
5 Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires, Por que queres tu que eu fique, Porque é
preciso, Não é razão que me convença, Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar, Não
tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não te
toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o fizeste,
Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo.
4 (...) Quando, de manhã, Baltasar acordou, viu Blimunda deitada ao seu lado, a comer pão, de olhos
0 fechados. Só os abriu, cinzentos àquela hora, depois de ter acabado de comer, E disse, Nunca te
olharei por dentro."
José Saramago, Memorial do Convento, 27.ª ed., Lisboa, Caminho, 1998
4
5
Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
1. Descreve o contexto em que as personagens se conheceram.
2. Identifique um dos recursos de estilo presentes no primeiro parágrafo do texto e comente a
respetiva expressividade.
3. Explica a atitude de Blimunda face à situação da mãe, primeiro durante o auto de fé e depois
em sua casa.
Blimunda fica revoltada, triste e chora porque se tornar a ver a sua mãe será no embarque.
4. Relê o terceiro parágrafo e evidencia as razões apontadas por Blimunda para que Baltasar
permaneça em sua casa.
“e de cada vez que ela o olha a ele sente um aperto na boca do estômago, porque olhos como estes
nunca se viram, claros de cinzento, ou verde, ou azul, que com a luz de fora variam ou o pensamento
de dentro, e às vezes tornam-se negros noturnos ou brancos brilhantes como lascado carvão de
pedra.”
5. Estas personagens participam no projeto do Padre Bartolomeu, a construção da passarola.
5.1. Refere a simbologia da construção da passarola
GRUPO II
Leia, atentamente, o seguinte texto:
1 Onde Miguel Torga desembestou 1 mais furiosamente foi contra a política salazarista. Prova
disso é o poema Cântico do Homem, as prisões nos aljubes1 da PIDE2 e o embargo de algumas
obras. (…)
A escalada dos grandes fascismos europeus coincidiu com a maturidade física e intelectual
5 de Miguel Torga. Mussolini marchava sobre Roma, bombardeara a Abissínia e, mais tarde,
atacara a França pelas costas, para comprazer ao parceiro, Adolfo Hitler. Implantada no coração
da Europa, a «pata rugosa» do nazismo hitleriano ia atirar o mundo para os horrores da Segunda
Guerra Mundial. Franco, disposto a fuzilar meia Espanha, se tanto fosse necessário, fuzilava e
decapitava «rojos»3 em série. Em Portugal, Salazar, que, para Torga, era um homem dotado do
10 «conhecimento satânico do preço dos homens», transforma-se, aos olhos do poeta do Diário,
num enorme «pulmão de aço» pelo qual obrigava todo o país a respirar.
Foi nesta data que Torga se meteu a viajar pelo Velho Mundo. O resultado dessa viagem foi o
seu primeiro livro em prosa, O Quarto Dia da Criação do Mundo. Um alarme aos homens 15 do
seu tempo e um violento desafio a todos os que reputava seus tiranos. Imediatamente preso pela
15 PIDE, foi encarcerado no Aljube4.
Ainda em França, e antes desta prisão, fora convidado a exilar-se. Mas, se Torga diz que
«ser escritor em Portugal é como estar dentro dum túmulo a garatujar na tampa», pensa também
que «é preciso pagar a liberdade». E a liberdade estava em Portugal! No estrangeiro, perde-se o
que é nosso e não se adquire o alheio… (…)
20 Torga tem consciência de que, apesar da bruteza ingénita 5 do meio em que nasceu e dos
trambolhões que pela vida levou, foi privilegiado em relação aos seus conterrâneos. «Dos meus
companheiros de classe, alguns finos como corais, poucos assinam hoje o nome. A mão
moldou-se de tal maneira à enxada, foi tanta a negrura e a fome que os rodeou, que esqueceram
de todo que havia letras e pensamento». Valeu a pena lutar!
Para responder aos itens de 1 a 6, escreva, na folha de respostas, o número do item seguido da letra
identificativa da alternativa correta.
1. A utilização das expressões «‘conhecimento satânico do preço dos homens’» (linha 10) e «‘pulmão de
aço’» (linha 11) constitui, da parte de Torga, uma
(A) crítica severa à atuação de Salazar.
(B) análise neutra da política salazarista.
(C) censura suave ao papel de Salazar.
(D) reflexão objetiva sobre a governação salazarista.
4. Em “Salazar, que, para Torga, era um homem dotado do «conhecimento satânico do preço dos
homens»”, o segmento sublinhado desempenha a função sintática de
5. Em «para comprazer ao parceiro, Adolfo Hitler.» (linha 6), o constituinte «ao parceiro» desempenha a
função de
(A) sujeito.
(B) complemento direto.
(C) vocativo.
(D) complemento indireto.
.
6. Em «homens do seu tempo» (linhas 14 e 15), o referente de «seu» é
(A) «Torga» (linha 12).
(B) «Velho Mundo» (linha 12).
(C) «resultado» (linha 12).
(D) «primeiro livro» (linha 13).
2. Para responder, escreva, na folha de respostas, o número do item, o número identificativo de cada
elemento da coluna A e a letra identificativa do único elemento da coluna B que lhe corresponde.
A B
1) Com a expressão «para comprazer» (linha 6), a) o enunciador estabelece uma conexão aditiva.
2) Com «se tanto fosse necessário» (linhas 8 e 9), b) o enunciador expressa uma posição pessoal.
3) Com a frase «fora convidado a exilar-se.» (linha c) o enunciador manifesta o seu repúdio.
17),
d) o enunciador expõe a consequência da informação
4) Com o uso de «também» (linha 17), dada anteriormente.
5) Com «Valeu a pena lutar!» (linha 24), e) o enunciador indica uma finalidade.
GRUPO III
Escolhe um dos temas apresentados, indicando na folha de resposta o tema selecionado:
Tema A
Em Memorial do Convento aborda-se, entre outros temas, a natureza e a condição humana. Ao
mesmo temo que se imortaliza os que lutam por uma vida melhor, faz-se uma crítica aos que se
servem dos mais fracos para atingir os seus fins.
Redige um texto expositivo-argumentativo bem estruturado, de cento e cinquenta palavras a duzentas
e cinquenta palavras, sobre a temática referida na afirmação, fundamentando o seu ponto de vista
recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo
significativo.
Tema B
O conhecimento de várias línguas é, cada vez mais, uma condição exigida pelos empregadores
nos anúncios de oferta de trabalho.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de cento e cinquenta e um máximo de duzentas e
cinquenta palavras, apresente uma reflexão sobre as vantagens obtidas por quem é capaz de se exprimir em
mais do que um idioma.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo.
Tema C