Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
17VARCVBSB
17ª Vara Cível de Brasília
SENTENÇA
Cuida-se de ação civil pública, movida pelo Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios, em
desfavor de ALIRIO DE OLIVEIRE NETO, ROBERTA MARIA RANGEL, STEFANO BORGES
PEDROSO, SANDRO LOPES MENDONÇA, ARLECIO ALEXANDRE GAZAL e IBANEIS ROCHA
BARROS JUNIOR, incialmente proposta perante o Juízo da 5ª Vara Cível da Fazenda Pública.
Relata o Ministério Público que os salários do funcionalismo público em geral seriam convertidos, em um
primeiro momento, para URV (unidade real de valor), em 1994, tendo sido adotados para tanto os
critérios contidos na Medida Provisória n. 434/94, dentre estes, o de considerar o último dia do mês como
data base.
Narra que assim o fez a Mesa Diretora da Câmara Legislativa do Distrito Federal – CLDF.
Aduz que, no entanto, restou decido no mandado de segurança n. 1998.00.2000563-0 que o correto seria
considerar a data em que os recursos financeiros seriam postos à disposição do Poder Legislativo, a partir
do dia 20 do mês, e não o último dia do mês.
Expõe ter-se entendido que tal proceder implicaria um decréscimo de vencimentos no percentual de
11,98%.
Assevera que a CLDF reconheceu, por intermédio da Resolução n. 192, a incorporação definitiva do
referido percentual.
Diz que a CLDF editou a Resolução n. 229, assegurando o pagamento das respectivas diferenças salariais
vencidas apenas para as hipóteses em que houvesse decisão judicial favorável nesse sentido.
Sustenta que a Associação dos Servidores da Câmara dos Deputados – ASSECAM, cujo cargo de Diretor
de Benefícios era ocupado por FLAVIO LEMOS DE OLIVEIRA, impetrou mandado de segurança em
desfavor da autoridade coatora ALIRIO NETO, então Presidente da CLDF, subscrito por IBANEIS
ROCHA BARROS JUNIOR, tendo como escopo o pagamento de correção monetária e juros de mora
sobre os valores pagos administrativamente a título do percentual de 11,98%.
Tece diversas considerações sobre a incorreção da tese apresentada em sede de mandamus, bem como da
liminar concedida.
Alega que, em razão daquele provimento jurisdicional precário, restou iniciado o processo n.
001-00225/2008, para fins de pagamento das verbas correspondentes, bem como reserva dos honorários
advocatícios devidos a IBANEIS ROCHA BARROS JUNIOR.
Narra que os Procuradores da própria CLDF, JOSE PEIXOTO GUIMARAES e PATRICIA VIEIRA
COELHO PEREIRA, advertiram sobre a inexequibilidade da medida, bem como a respeito da iminente
revogação da liminar concedida no mandado de segurança.
Aduz que STEFANO BORGES PEDROSO proferiu o despacho n. 001/2008-PG, no qual restou aventada
a possibilidade de reserva de honorários advocatícios, acaso houvesse concordância dos associados.
Assevera que os associados foram compelidos a firmar contrato na ordem de 15% (quinze por cento)
sobre o valor líquido a ser recebido, em favor de IBANEIS ROCHA BARROS JUNIOR.
Expõe que o Diretor de Administração e Finanças, SANDRO LOPES MENDONÇA, emitiu parecer para
fins de se reconhecer a possibilidade de pagamento das verbas principal e acessória.
Diz que IBANEIS ROCHA BARROS JUNIOR propôs à CLDF a desistência do mandado de segurança,
com o consequente reconhecimento do direito dos associados a receberem os acessórios, por se tratar de
recomposição da moeda, o que restou acolhido pelo então Presidente da Casa, ALIRIO NETO.
Sustenta que os pagamentos referentes aos juros e correção monetária devidos a todos os servidores que
receberam o passivo sobre o principal dos 11,98% foram indevidos, por estarem prescritos, e que houve
favorecimento dos servidores filiados à ASSECAM.
Requer, assim, seja IBANEIS ROCHA BARROS JUNIOR condenado a restituir o montante de R$
3.308.157,93 (três milhões, trezentos e oito mil, cento e cinquenta e sete reais e noventa e três centavos),
referente aos honorários advocatícios recebidos, e os demais réus à restituição do importe R$
21.628.275,39 (vinte e um milhões, seiscentos e vinte e oito mil, duzentos e setenta e cinco reais e trinta e
nove centavos), relativo aos encargos pagos indevidamente.
Esta Egrégia Corte reconheceu a ilegitimidade passiva dos réus ROBERTA MARIA RANGEL e
STEFANO BORGES PEDROSO (IDs n. 11580493 e 11580509), tendo o DISTRITO FEDERAL, em
razão desse provimento, manifestado desinteresse no acompanhamento da lide.
Com isso, restou reconhecida a incompetência do Juízo da 5ª Vara Cível da Fazenda Pública para o
processamento do feito (ID n. 10333876),
Defende, em síntese, que a sentença homologatória da transação judicial em análise deveria ser objeto de
ação autônoma de desconstituição do ato jurídico, uma vez que a causa de pedir da presente demanda é a
sua invalidade.
Sustenta que o ato que determinou o pagamento está imunizado pelos efeitos da coisa julgada, não sendo
passível de revisão por intermédio de ação civil pública.
Assevera que não há prova de dolo nos atos que lhe são imputados, a atrair a prescrição da pretensão de
ressarcitória, à luz do entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal no RE 852.475/SP.
Afirma que a validade do pagamento dos juros moratórios e da correção monetária sobre os valores pagos
a título de 11,98% (URV) ficou suficientemente esclarecida pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal
na resposta à consulta formulada pela Procuradoria-Geral do Distrito Federal (Processos n. 31.108/2010 e
7.366/2010).
Aduz que os honorários contratuais foram deduzidos do crédito devido aos associados substituídos da
impetrante, mediante autorização expressa de cada um, não havendo qualquer irregularidade em tal
proceder.
Requer, ao final, a extinção do processo, sem resolução do mérito, por falta de interesse de agir, traduzido
na inadequação da ação civil pública para rescindir sentença homologatória de transação, e pela existência
de coisa julgada; o não recebimento da inicial; e, no mérito, a rejeição do pedido, com a condenação do
Ministério Público nas penas de litigância de má-fé.
Defende, em síntese, que é parte ilegítima para figura no polo passivo da lide, pois o exercício de suas
atribuições, na condição Diretor de Administração e Finanças, se deu em conformidade com a decisão
liminar proferida no mandado de segurança n. 2007.00.2.0152558-5.
Aduz que não determinou a realização de qualquer pagamento, sendo que sua manifestação não possuía
caráter vinculante.
Assevera que a lisura e o acerto quanto ao pagamento de juros e correção monetária incidentes sobre os
11,98% dos servidores da CLDF foi objeto de auditoria realizada pela Unidade Técnica do TCDF.
Narra que o próprio Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, mediante parecer da lavra da
Procuradora Márcia Farias, apresentou manifestação favorável à regularidade do pagamento realizado.
Requer, ao final, o acolhimento da preliminar de ilegitimidade passiva, com a extinção do feito, sem
resolução do mérito, e, no mérito, o julgamento de improcedência dos pedidos, com a remessa dos autos
ao CNMP.
Sustenta que o MPDFT carece de interesse processual e de legitimidade ativa para a propositura de ação
de improbidade administrativa.
Aduz que a sua condição de ordenador de despesas não é suficiente para atribuir-lhe responsabilidade
pelos atos que lhe são imputados.
Requer, ao final, o acolhimento das preliminares aventadas, com a extinção do feito, sem resolução do
mérito, e, no mérito, o julgamento de improcedência dos pedidos.
Defende, em síntese, que inexiste justa causa para o recebimento da ação, uma vez que a causa de pedir
em análise foi objeto de representação junto ao TCDF e, naquela sede especializada em contas, ficou
decidido que os pagamentos e o procedimento adotado pela CLDF, à época por ele presidida, foram
regulares e estavam em harmonia com o que a jurisprudência então preconizava.
Aduz que igual entendimento restou perfilhado pelo Ministério Público de Contas.
Assevera que o pagamento dos juros moratórios e correção monetária se deu inicialmente aos servidores
filiados à ASSECAM, pois eles estavam respaldados por decisão judicial.
Afirma que o pagamento dos servidores que não tinham em seu benefício decisão judicial só foi feito
depois, seguindo o que fora decidido pelo STF em sessão administrativa.
Sustenta que a pretensão posta está prescrita, uma vez que não demonstrado dolo na conduta imputada.
Requer, ao final, o não recebimento da ação proposta, com o seu consequente arquivamento.
É o relatório. Decido.
Cuida-se a demanda posta de ação civil pública de ressarcimento por ato de improbidade administrativa
causado ao patrimônio público da Câmara Legislativa do Distrito Federal – CLDF, em razão de
pagamento indevido de acessórios (juros e correção monetária) a servidores, ex-servidores e pensionistas,
devidos sobre o principal do percentual de 11,98%, decorrente da conversão da remuneração destes para a
URV, com a implementação do Plano Real.
Impõe-se aqui a aplicação não apenas da Lei n. 7.347/1985, mas das características e regramentos
processuais e procedimentais próprios da Lei n. 8.429/92, sem prejuízo das demais normas do Sistema
Único Coletivo, em consonância com a causa de pedir e o pedido aventados.
Vale dizer, o reconhecimento de eventual ato ímprobo se daria apenas incidentalmente, para fins de
autorizar o ressarcimento pretendido, notadamente ao se considerar a prescrição das demais pretensões de
punição àquele, em face do decurso do quinquênio previsto no artigo 23 da Lei n. 8.429/92.
Neste particular, observo que o Colendo Superior Tribunal de Justiça submeteu à sistemática dos recursos
repetitivos a possibilidade de se promover o ressarcimento do dano ao erário nos autos da Ação Civil
Pública por ato de improbidade administrativa, ainda que se declare a prescrição para as demais
punições previstas na Lei n. 8.429/92, tendo em vista o caráter imprescritível daquela pretensão
específica (Tema 1.089).
Determinou-se, nessa toada, a suspensão da tramitação prevista no art. 1.037, II, do CPC, a fim de
alcançar somente os casos em que, sendo incontroversa a fluência do prazo prescricional para a
imposição das sanções previstas na Lei 8.429/92, remanesça apenas a discussão quanto à necessidade de
ajuizamento de ação autônoma, para fins de ressarcimento dos danos causados ao Erário.
Em tese, a situação em análise subsume-se à referida temática, uma vez que, embora revelando-se
prescrita a pretensão para as demais punições Lei n. 8.429/92, remanesce a discussão acerca da pretensão
ressarcitória.
No entanto, considerando que a petição inicial sequer foi recebida por este Juízo, tendo os réus se
limitado à apresentação de defesa prévia, reputo despicienda a suspensão do feito.
A legitimidade do Ministério Público para a propositura da presente demanda está amparada nos artigos
5º e 17º das Leis n. 7.347/1985 e 8.429/92, respectivamente, e no Enunciado n. 329 da Súmula do
Superior Tribunal de Justiça
I - o Ministério Público;
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa
jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
Enunciado n. 329: O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do
patrimônio público.
Oportuno citar, conforme declinado pelo douto membro do Ministério Público no ID n. 96723190, o voto
esclarecedor do ilustre Ministro Benedito Gonçalves, Relator do acórdão no AgInt no REsp 1.518.310/SE,
no qual é reafirmado que o Ministério Público é parte legítima para pleitear o ressarcimento de dano ao
erário sempre que o ato ilícito subjacente à lesão seja a prática de ato ímprobo, dentre outras causas
extraordinárias. Com efeito, nesses casos, a lesão ao patrimônio público extrapola o interesse ordinário
da própria Administração.
Sustenta IBANEIS ROCHA BARROS JUNIOR que a referida decisão representa, em verdade,
homologação da transação entre as partes, de natureza meritória, a erigir coisa julgada, ora soberanamente
julgada, em razão do decurso do prazo decadencial para a sua rescisão.
Não se trata, como sugere o réu, de erro de qualificação do Órgão Julgador, pois o pronunciamento
judicial, de natureza terminativa, foi de notável clareza ao embasar a extinção do processo na
superveniente perda de seu objeto, o que, como é cediço, implica a não apreciação do mérito. Muito ao
contrário, a homologação de acordo, como também se sabe, enseja a apreciação do mérito da causa, de
modo a formar coisa julgada formal e material.
Ainda que se tratem de concessões recíprocas, é possível, em casos excepcionais, que o juiz se recuse a
homologar a transação, quando, por exemplo, vislumbre algum vício de vontade ou alguma afronta ao
ordenamento jurídico (SANTOS, Silas Silva, CUNHA, Fernando Antonio Maia da, CARVALHO
FILHO, Milton Paulo de, RIGOLIN, Antonio. Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. [livro
eletrônico]. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020).
A homologação de atos autocompositivos manifestados pelas partes afigura-se, portanto, como atividade
jurisdicional típica, consubstanciada na solução da lide por intermédio de mecanismos consensuais,
mediante análise meritória, adstrita aos requisitos de validade correspondentes. Ao revés, a extinção do
processo sem apreciação do mérito implica exatamente a falta de homologação de eventual acordo de
vontades entre as partes litigantes, o que - inclusive - poderia ter sido objeto de regular recurso, mas não o
foi, ensejando o trânsito em julgado da sentença que deixou de apreciar o mérito da causa.
Não há, portanto, identidade com a decretação da superveniente perda do objeto do mandamus, pois, nesta
hipótese, trata-se de decisão terminativa, que proclama a ausência de determinado requisito processual,
impedindo, de modo peremptório, a resolução do mérito.
Descabido, nesse contexto, falar em coisa julgada material, prescindindo a pretensão ressarcitória em
análise da propositura de ação rescisória ou de querela nullitatis insanabilis.
Com relação à legitimidade passiva de SANDRO LOPES MENDONÇA, o ato impugnado pelo
Ministério Público diz respeito aos pareceres por este exarados no exercício de suas atribuições de Diretor
de Administração e de Finanças da CLDF.
Tal interpretação, entretanto, não se revela extensível a SANDRO LOPES MENDONÇA, pois, embora os
despachos por este proferidos revistam-se, em princípio, de cunho meramente opinativo, a ulterior
Ultrapassadas essas questões processuais, suscitam os réus a prescrição da pretensão ressarcitória, com
base no artigo 23 da Lei n. 8.429/92.
Consoante cediço, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 852.475/SP, com repercussão geral
reconhecida, fixou a tese de que são imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na
prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa.
Em linhas gerais, sustenta o Ministério Público que os réus teriam participado de conluio com a
ASSECAM para o pagamento indevido dos consectários da mora concernentes à reposição salarial de
11,98%.
A prevalência dessa tese, no entanto, demanda a prova da prática de atos dolosos de improbidade
administrativa de todos os envolvidos, conforme descrito na peça de ingresso.
Para tanto, afigurar-se-ia necessária a incursão na fase instrutória, com o escopo de delimitar a atuação de
cada réu e aferir se persistiria incólume a pretensão ressarcitória em apreciação.
Por outro lado, em detida análise acerca dos fatos e fundamentos de direito expostos na petição inicial,
não vislumbro sequer justa causa para o seu recebimento, pois, a esta altura do processamento, resto
convencido da inexistência do ato de improbidade administrativa, nos termos do artigo 17, §8º, da Lei
8.429/92:
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa
jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
(...)
§8º Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação,
se convencido da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da
via eleita.
Decerto, e nos exatos termos da lei, o juízo de admissibilidade da ação civil pública por improbidade
administrativa está adstrito à presença de indícios suficientes da existência do ato, de modo que a rejeição
da petição inicial com fundamento no artigo 17, §8º, da Lei n. 8.429/92 revela-se cabível apenas em
situações excepcionais.
1. A ação de improbidade administrativa pode ser rejeitada quando o juiz se convencer da inexistência
de ato de improbidade ou de indícios suficientes, nos termos do art. 17, §8º, da Lei 8.429/92.
Neste particular, valiosas são as lições de Fábio Medina Osório no sentido de que o diagnóstico da
improbidade supõe um processo de raciocínio jurídico revestido de peculiaridades e vinculado a
parâmetros de segurança jurídica, eis que necessário construir pautas de previsibilidade mínima das
condutas proibidas, diante da vagueza semântica dos tipos proibitivos. (OSÓRIO, Fábio Medina. Teoria
da Improbidade Administrativa. 5. ed. [livro eletrônico]. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020).
Demanda-se, assim, uma valoração concreta dos fatos apresentados, para verificar se estão ajustados ao
interesse público, ou, se a este são contrários, assegurando-se a escorreita aplicação da norma.
No ponto, pretende o Ministério Público a responsabilização dos réus por supostos pagamentos
administrativos indevidos realizados pela CLDF, referentes aos juros e correção monetária incidentes
sobre o principal do percentual de 11,98%, decorrente da conversão da remuneração dos servidores para a
URV, com a implementação do Plano Real.
No entanto, a validade do pagamento administrativo dessas parcelas restou apreciada pelo Tribunal de
Contas do Distrito Federal, em resposta à consulta formulada pela Procuradoria-Geral do Distrito Federal
(Processo n. 31.108/2010), cujo trecho da conclusão do voto do Conselheiro Antonio Renato Alves
Rainha peço vênia para transcrever:
"Destarte, atento aos termos da instrução e do parecer ministerial e considerando o que deflui dos
precedentes jurisprudenciais e administrativos que venho de mencionar, VOTO no sentido de que o e.
Plenário:
a) juros de mora:
a.2) 0,5% (meio por cento) de setembro de 2001 a 29 de junho de 2009 (Medida Provisória nº 2.180/2001
– art. 4º - que acrescentou artigos à Lei Federal nº 9.494/97);
c) a partir de 30 de junho de 2009, vigência da Lei Federal nº 11.960/2009, para a atualização monetária
e juros, incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e
juros aplicados à caderneta de poupança.
II – firme o entendimento de que os valores recebidos a título de juros de mora, na vigência do Código
Civil de 2002, têm natureza indenizatória, não incidindo sobre eles imposto de renda;
III – autorize a devolução destes autos à 4ª Inspetoria de Controle Externo para os devidos fins".
O próprio Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, mediante parecer da Procuradora Márcia
Farias, apresentou manifestação favorável à regularidade do pagamento realizado:
"Ponderadas todas essas circunstâncias, não se descortina que tenha agido a jurisdicionada de forma
ilegítima, imoral ou desarrazoada ao decidir pelo pagamento antecipado aos servidores filiados à
ASSECAM, exclusivamente, e de acordo com a sistemática de cálculo que, mais adiante, tornar-se-ia
parâmetro no âmbito de diversos órgãos e Poderes (inclusive, deste Tribunal de Contas, a teor do item III
da Decisão nº 964/2012 – fl. 222) de diversos entes federativos. Ademais, o passivo existia e deveria ser
solvido, mais cedo ou mais tarde, nos termos do entendimento paradigma, tal qual ocorreu,
posteriormente, para os demais servidores não acobertados por decisão judicial".
Com efeito, a decisão liminar concedida nos autos do mandado de segurança n. 2007.00.2.015258-5 (ID
n. 10326979) autorizou a incidência de juros moratórios no percentual de 0,5%, a partir da data da
impetração, sobre o pagamento da recomposição de 11,98%.
Tal decisão, conquanto precária, conduziu a ASSECAM e a CLDF à celebração de acordo para o
pagamento dos consectários da mora, pautada em legítima expectativa de confirmação no mérito do
entendimento perfilhado pelo saudoso e respeitável Desembargador Joao de Assis Mariosi.
O acordo firmado, já é de ver, estava em consonância, inclusive, com as providências adotadas à época
por diversos órgãos do Poder Judiciário e pelo próprio Ministério Público da União, conforme declinado
nas razões do voto do Conselheiro Antonio Renato Alves Rainha nos autos do processo n. 31.108/2010:
"O Supremo Tribunal Federal, por meio do processo administrativo nº 323.526, decidiu, na Sessão
Plenária Administrativa de 28.11.2007, reconhecer o pagamento dos juros de mora devidos em virtude
do pagamento atrasado das verbas relativas à URV (11,98).
Nesse toar, embora o ilustre órgão do MPDFT sustente em sua peça de ingresso a inexigibilidade de tais
verbas em razão da prescrição, estas não deixam de existir em favor dos servidores, consubstanciando-se
em obrigação natural. É dizer: o direito subjetivo permanece incólume, sendo a prescrição mero óbice à
exigibilidade da pretensão.
Para parcela da doutrina, a obrigação natural é um misto de obrigação jurídica e obrigação moral, tendo
elementos constitutivos próprios, haja vista não ser juridicamente exigível, mas conservar o elemento
débito de seu vínculo. Há Shuld, sem Haftung. (SANTOS, José Carlos Van Cleef de Almeida, CASCADI,
Luís de Carvalho. Manual de Direito Civil. 1. ed. [livro eletrônico]. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,
2015).
O seu cumprimento é imposto por um dever moral, com repercussões jurídicas, traduzidas na validade do
pagamento efetivado e na sua irrepetibilidade.
Nesse sentido, oportuno citar o entendimento firmado pelo Tribunal de Contas de Mato Grosso, em
consulta formulada pelo Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, no qual restou
consignado que o Poder Público pode abrir mão da prescrição e reconhecer administrativamente a dívida
originada pelo não pagamento aos seus servidores da diferença salarial causada pela incorporação da
Unidade de Referência de Valor (URV) do Plano Real, no período de abril de 1994 a março de 1998
(Processo n. 221830/2016, decisão n. 13/2017, julgado em 30.5.2017, com grifos nossos):
Confira-se, ainda, aresto desta Egrégia Corte, no qual é admitida a tese de renúncia à prescrição pela
Administração Pública;
Diante da moldura assim desenhada pelo quadro jurídico, fático e político reinante à época, é possível
concluir, sem sombra de dúvidas, que inexiste a prática de conduta em desacordo com o interesse público
exigido (também à época), tendo os réus participado, na medida de suas atribuições e após intenso e
amplo debate jurídico, de um processo de tomada de decisão em conformidade com a expectativa dos
servidores públicos lesados pela conversão de seus salários em URV.
Ademais, não vislumbro indícios da ocorrência de conluio para o recebimento dos encargos da mora em
apreciação, tendo este, igualmente, decorrido do regular debate jurídico a respeito da higidez de tais
verbas, incompatível com o dolo aventado pelo MPDFT.
Da mesma forma, inexiste ilegalidade na cobrança dos honorários advocatícios devidos a IBANEIS
ROCHA BARROS JUNIOR, oportunamente autorizada pelos associados da ASSECAM, por se tratar de
contraprestação à sua atuação profissional, em consonância com o disposto no artigo 22 do Estatuto da
Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB):
Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários
convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência.
Quanto ao mais, convém anotar, em remate, que a atuação MPDFT pautou-se exclusivamente na proteção
do patrimônio público, amparado por circunstâncias fáticas que, em seu entender, comprometiam a lisura
do pagamento dos encargos em apreciação, não se verificando a prática de qualquer abuso capaz de
autorizar sua condenação nas penas de litigância de má-fé. Muito ao revés, o que aqui se verifica é que
agiu o douto órgão ministerial no estrito cumprimento de seus deveres legais, esgrimindo tese jurídica
apreciável e ostentando inegável interesse processual em sua atuação.
De tudo se conclui, enfim, que os requeridos agiram dentro de suas atribuições legais, praticando atos
administrativos amparados pela conjuntura fática, processual e política dominante à época dos fatos, sem
com isso causar dano ao erário ou praticar outra conduta equiparável a ato de improbidade administrativa,
razão pela qual impõe-se a decretação liminar de improcedência da pretensão autoral, não sendo o caso de
receber a presente ação civil pública para processamento.
Do exposto, e bem considerando tudo o mais que dos autos consta, forte nas razões até aqui
expostas, e nos termos dos artigos 487, I, do CPC e 17, §8º, da Lei n. 8.429/92, JULGO
LIMINARMENTE IMPROCEDENTES os pedidos formulados na petição inicial.
Sentença publicada e registrada eletronicamente. Após o trânsito em julgado, se nada mais for requerido,
arquivem-se com as cautelas de estilo.
Juiz de Direito