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FUNDAMENTOS DO DIREITO

COMUM EUROPEU1º ANO – 1º SEMESTRE12 Novembro 2019

TEMA 1: O DIREITO ROMANO

O primeiro direito que serviu de base ao Direito Romano foi o Direito Comum
Europeu (DCE).
Porque existe um DCE?
● O Direito Romano foi construído entre o século III a.C e o I d.C.
● Aplicou-se nos tribunais portugueses até 1867 (2ª metade do século XIX).
● O Direito Romano foi muitas vezes tido como base em decisões e
fundamentações.
● Na Grécia, o Direito Romano foi utilizado até ao início da 1ª Guerra Mundial
(1914).
● No séc. V a.C (450 a.C), Roma tinha uma compilação de leis escritas, tribunais,
peças processuais, magistrados, recursos, entre outros.
Na Península Ibérica não existiam leis escritas, estando apenas presente na sociedade
o Código dos Visigodos.
● As eleições eram realizadas pela população (povo).
● Os juízes eram analfabetos.
● Não existiam tribunais, ou seja, o clero e a nobreza faziam, muitas vezes, justiça
pelas próprias mãos (justiça privada).
NOTA: Mais tarde, as nossas compilações foram inspiradas no Direito Romano.

Época Arcaica (753 a.C – 130 a.C)


Instituições Rudimentares
Afastamento das ordens morais e religiosas
Época Clássica (130 a.C – 230 a.C) – Perfeição do Direito Romano
Termina com a substituição do processo das fórmulas e esgotamento da
jurisprudência. Subdivide-se em 3 etapas:
● Pré-Clássica (130 a.C – 30 a.C) – Ascensão do direito romano através do
desenvolvimento da jurisprudência;
● Clássica Central (30 a.C – 130 d.C) – Marcada pelo esplendor da jurisprudência,
visível na perfeição e na sábia estilização casuística;
● Clássica Tardia (130 d.C – 230 d.C) – Assinala o início da decadência da
jurisprudência. Conceitos jurídicos que se confundem; falta de rigor;
Decadência profunda do Direito Romano.
Época Pós-Clássica (230 a.C – 530 d.C) – quando Justiniano entregou a Triboniano de
elaborar os Digesta seu Pandectae. Compreende duas etapas:
● 1ª Fase (230 a.C – 395 d.C) – O imperador Teodósio dividiu o império Romano
em 2 partes (Ocidente e Oriente).
● 2ª Fase (395 d.C – 530 d.C)
→ ORIENTE:
- Classicismo (regresso à época clássica);
- Regresso ao estado do direito romano clássico; Há uma tentativa de
afastamento da vulgarização que permanecia no Ocidente;
- Influência da filosofia grega;
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- Momento de perfeição do direito;


- O imperador Justiniano morre em 565 d.C e tinha 3 objetivos:
Reconquistar o Ocidente; Unificação religiosa do Império; Criar a
Grande compilação do Direito (único realizado) – Corpus Iuris Civilis.
“Corpus Iuris Civilis” – Corpo do Direito Civil: É a maior compilação jurídica e é
dividida em 4 partes – Instituciones: Introdução – 4 livros
Digesto (obra completa) ou Pandecta (enciclopédia) – 50 livros
→ Constituída pela doutrina, com fragmentos do Juris Consultus;
Codex (código) – 12 livros
→ Constituído pelas regras imperiais;
Novelas (novo).
→ OCIDENTE:
- O Império Romano continua em decadência, sendo que se dá
oficialmente o seu fim em 476 dc.
- Considerado o maior retrocesso da civilização, até aos dias de hoje.
- Desaparecimento das instituições jurídicas e militares, entre outras.
- Invasão dos povos bárbaros: conflito de costumes, culturas, línguas,
etc.

Profunda Idade Média


- Desaparecimento dos tribunais, escolas,
administração imperial
REGRESSÃO - Direito rudimentar, não existe comércio
SIGNIFICATIVA - Economia de autossubsistência
- Cada povo tem o seu direito, os seus costumes
- Não há organização política
- Perdeu-se todas as referências do Direito
Romano.

- A partir do século XII: Período de Paz/Mudança.


- Fuga de juristas, matemáticos, filósofos, etc., para o Ocidente devido à
queda do Império Romano no Oriente.
- Tornou-se necessário um Direito mais rigoroso.
- Não conheciam a Compilação do Imperador Justiniano. Apenas a partir do
séc. XII é que esta ficou conhecida e começou a difundir-se pelo Ocidente.
Existiu uma grande dificuldade em interpretá-la, uma vez que, os juristas
não sabiam ler. No entanto, mesmo depois de saberem não a percebiam: o
que nos mostra o quão completa e complexa esta obra era.
- Entre o séc. XII e XV estudou-se então, a compilação através de resumos,
traduções, etc.

Séc. XVII/ XIX


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No séc. XV/XVI com a época da Renascença regressa-se à antiguidade romana.


Estuda-se o Direito Romano Clássico, que leva a compreender o Corpus Iuris Civilles.
No séc. XVIII/XIX, há uma preocupação em saber qual o Direito Romano que ainda
se pode aplicar à sociedade da Europa.
● Qual o Direito que se aplica nos nossos dias?
A doutrina começa a estudar novas normas que se apliquem no nosso tempo.
Surgindo assim dois grandes Códigos, ambos inspirados no Direito Romano:
1. Francês (1904)
2. Alemão (1900)
Foram modelos para outros países, incluindo Portugal, concluindo-se assim que, o
Direito Romano está presente nos diferentes Códigos que vão surgindo.

CARACTERÍSTICAS DO DIREITO ROMANO


● Desinteresse pela codificação – uma vez que têm em conta a Iurisprudência e o
Ius Honorarium. O Direito Romano é um direito jurisprudencial – as leis vão
evoluindo e os magistrados vão modelando-as, a lei é criada a partir dos casos
concretos logo não é necessário haver codificação, o essencial é fazer justiça.
● A ação judicial prevalece sobre o direito subjetivo – em Roma, o Pretor veio
permitir conceder uma ação judicial mesmo não estando prevista nenhuma lei.
O direito subjetivo é uma consequência da ação judicial.
● O Direito Romano preocupa-se em procurar soluções simples – Significa
soluções claras, rigorosas, não complexas (simples não significa fácil); para
chegar a este “modelo simples” não foi fácil devido à vulgarização que houve;
soluções pragmáticas; direito que se destina a solucionar problemas da vida,
não se preocupa com noções gerais e abstratas.
● O Direito Romano soube separar o Direito da Moral e da Religião – ou seja,
começou a separar os aspetos da moral, da religião dos aspetos jurídicos e
para além da separação desses conceitos, separou com bastante rigor o que
era juridicamente essencial do que não era essencial – Estilização da casuística.
● O Direito Romano evoluiu sem efetuar ruturas com o passado – porque evoluiu
de forma lenta respondendo às novas necessidades que vão surgindo; uma
evolução lenta demonstra grande capacidade jurídica.
● O modo como o Direito Romano soube conjugar liberdade com autoridade –
Compreensão individualista do Direito; o Direito Romano parte do princípio da
liberdade designadamente no campo contratual, qualquer um pode fazer um
contrato desde que não viole os conteúdos da lei.
● O Direito Romano incorporou alguns valores morais – Da confiança (boa fé
contratual); dever de ofício (dever de agir desinteressadamente, ser útil sem
agir de forma interesseira, solidariedade); da humanidade (respeitar e valorizar
a pessoa humana); da amizade (presente em múltiplos contratos).

AS FAMÍLIAS DO DIREITO
1. Família Romano Germânica
● Influência Germânica
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● A maior família em nº de países, povos, etc.


● Carateriza-se por – Direito de base romana; a principal fonte de Direito
é a lei que aplicam nos casos concretos.
● 1 tribunal, 1 problema, a solução depende de tribunal para tribunal.
2. Família Anglo-Saxónica ou Common Law
● Origem na Inglaterra.
● Compreensão diversa do Direito – é um Direito de criação
jurisprudencial.
● Precedente judiciário – casos semelhantes têm respostas semelhantes
mesmo que em tribunais diferentes.
3. Família dos Direitos socialistas
● Praticamente já desapareceu.
4. Família de Direitos religiosos e tradicionais
● O corão é a fonte de direito e é aplicado como código civil.
● O Direito e a religião não se distinguem.

TEMA 2: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Obrigação – Vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa (devedor) está adstrita
para com outra (credor) à realização de uma prestação.

O objeto de uma obrigação podia consistir em:


● Dar – constituição ou transferência de um direito real;
● Fazer – realização de uma atividade que não se traduz num dar. Pode consistir
também numa abstenção (não fazer);
● Prestar – identifica-se com o dar e o fazer, mas designa especialmente a
garantia duma obrigação.
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Caraterísticas que a obrigação deve ter:


1. Comportamento física e juridicamente possível
→ Contrato de compra e venda: A obrigasse a vender a B batatas por 5€.
CONTRATO NÃO VÁLIDO – Falta a quantidade (5€/kg)
2. Comportamento lícito
→ A obrigasse a B a praticar prostituição.
Comportamento ilícito – A prostituição é ilegal em Portugal.
3. O objeto deve ser determinado ou determinável
→ Determinado – tem de ser preciso, claro.
→ Determinável – aquando à realização da obrigação saber-se-á o valor.
i. A obrigasse a vender a B a colheita do próximo ano do seu
pomar em Lisboa.
4. O objeto deverá ter caráter patrimonial.
→ Possibilidade de ser reduzido a dinheiro.

Quais as fontes das obrigações/ Quais os factos jurídicos que dão origem a uma
obrigação?4
● Contratos;
● Factos ilícitos (Difamação / Danos Morais) – Geradores de indemnizar o lesado
pelos danos causados;
→ Delitos – previstos no ius civile
→ Quase Delitos – previstos no ius honorarium
● Atos unilaterais – São factos parecidos com contratos, mas não o são pois falta
o acordo;
CONTRATO
O contrato é um negócio jurídico que implica um acordo com duas ou mais
declarações de vontade que convergem para o mesmo fim (fim prático e tutelado pelo
Direito).

Negócio Jurídico – Facto voluntário, facto lícito assente numa ou mais declarações de
vontade tuteladas/protegidas pelo direito. As declarações de vontade são destinadas a
produzir efeitos jurídicos.

Os contratos são constituídos pelos seguintes elementos:


→ Causa
→ Consenso entre as partes para alcançar a finalidade prática que foi estabelecido
entre as partes.
NOTA: Todos os negócios têm uma causa, mas em alguns a causa é irrelevante para o
direito (negócios abstratos.

Contrato unilateral – é aquele que só gera obrigações para uma das partes. Ex.:
Testamento.
Contrato bilateral – é aquele que gera obrigações para todas as partes.
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→ Bilateral Imperfeito – no início da execução gera apenas obrigações para uma


das partes, mas durante a execução podem surgir ou não obrigações para outra
parte. ex: depósito, penhor.
Contrato gratuito – só há perda patrimonial para uma das partes em benefício da
outra.
Contrato oneroso – gera perdas patrimoniais para ambas as partes.
Contrato formal – aquele que está sujeito a uma forma.
→ Os contratos formais literais são aqueles em que a lei exige uma forma
(documento escrito), em Roma também existiam os contratos formais verbais
quando só se usavam palavras, por vezes sagradas.
Contrato consensual – Não exige nenhuma forma, apenas o consenso.

♦ CONTRATOS REAIS
Contrato real é aquele cuja perfeição (aptidão para produzir os efeitos jurídicos) não
basta o consenso entre as partes para produzir os seus efeitos jurídicos.
● enquanto não há entrega da coisa não há contrato ( contrato
real) ex: alguém pede emprestado 1 euro a alguém só há
contrato quando a pessoa entrega esse euro

MÚTUO
Contrato unilateral através do qual uma pessoa, que recebe de outra a
propriedade de determinada res, se obriga a restituir igual quantidade do mesmo
género e qualidade.
É constituído por dois elementos:
- Transferência de direito de propriedade sobre coisas fungíveis;
- Consenso – O mutuário obriga-se a restituir outro tanto de igual natureza no mesmo
valor e na mesma quantidade.
Apesar do contrato mútuo ser gratuito, nada impede que as partes
estabeleçam juros. Já no Direito Romano, a lei estabelecia quais as taxas máximas do
juro. A taxa de juro tem de ser estabelecida num outro contrato.
Em certos casos, o contrato mútuo era oneroso: havia sempre juros, não era
necessário estabelecer uma convenção à parte (Ex: contrato mútuo de mercadorias,
concedido por cidade, concedido por bancos, mercantil, etc.)
● enquanto não há entrega da coisa não há contrato ( contrato
real) ex: alguém pede emprestado 1 euro a alguém só há
contrato quando a pessoa entrega esse euro, bens fungíveis.

FIDÚCIA
A fidúcia é um contrato em que uma pessoa (fiduciante), utilizando um negócio
jurídico formal (mancipatio ou in iure cessio), transfere a propriedade de uma coisa
para outra pessoa (fiduciário), que se obriga a restituí-la depois de realizado o fim
definido num acordo não formal designado pactum fiduciae.
A fidúcia foi aplicada para a satisfação de diversas finalidades. Destaca-se:
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● Fidúcia com função de garantia – Visava garantir uma obrigação. O garante


(fiduciante) transferia a propriedade de uma coisa ao credor (fiduciário) que
se obrigava a restituí-la após a satisfação da dívida.
● Fidúcia com função de amizade – Transferia-se a propriedade de uma coisa a
uma pessoa leal, com vista à prossecução de diversos fins.

DEPÓSITO
Contrato em que uma pessoa (depositante) entrega a outra (depositário) uma
coisa móvel para que guarde e restitua num determinado prazo ou quando o
depositante pedir, sem a possibilidade de a utilizar.
Casos particulares do depósito (o nosso código civil só prevê 2):
● Depósito necessário – é aquele no qual o depositante, em circunstâncias
excecionais não pode escolher o depositário (Ex: acidente de carro –
depositário toma conta do carro acidentado).
● Depósito de sequestro – resulta de um litígio entre duas ou mais
pessoas que depositam o bem. O depositário é um terceiro que se
obriga a restituir o bem depois de resolvido o litígio à parte ganhadora.
São dois a depositar e só um recebe de volta.
● Depósito irregular/ Depósito de coisas fungíveis – é o depósito que se
traduz na transferência da propriedade de um coisas fungíveis,
obrigando-se o depositário a restituir outro tanto do mesmo género e
qualidade a pedido do depositante. Sendo proprietário da coisa
depositada, o depositário podia dispor e usá-la livremente.

COMODATO
Contrato em que uma pessoa (comodante) entrega uma coisa móvel ou imóvel
a outra pessoa (comodatário) para que a use gratuitamente, durante certo tempo e
segundo o modo acordado, e a restitua. O comodatário torna-se simples detentor,
mantendo-se a propriedade e a posse no comodante.
O comodatário obriga-se:
- a usar a coisa segundo o que foi acordado com o comodante;
- a não a deteriorar;
- a restituía-la nas mesmas condições em que as recebeu.
Caso use a coisa diferentemente ao acordado:
● No direito clássico, é responsável por custódia, por isso, se a coisa for
roubada, responde perante o comodante.
● No direito do Imperador Justiniano, responde com base da culpa, exceto
se o comodato foi realizado no interesse exclusivo do comodante ou
para satisfazer um interesse comum: naquela hipótese, a sua
responsabilidade depende de dolo; nesta, da culpa em concreto.
O comodante obriga-se:
- a ressarcir os gastos necessários que o comodatário fez para conservar a coisa;
- a indemnizar os danos eventualmente causados.
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PENHOR
Contrato em que uma pessoa entrega a outra uma coisa para garantir uma
obrigação própria ou alheia. O devedor (credor da obrigação garantida) torna-se
possuidor, mas em nome do credor.
Aí são fixadas as faculdades concedidas ao credor pignoratício sobre a coisa e a
obrigação de a restituir após a extinção da relação obrigacional garantida.
Portanto, este contrato, cuja perfeição é necessária a transmissão da coisa,
produz duas relações distintas:
● Um direito sobre a coisa a favor do credor da obrigação que se pretende
garantir.
● A obrigação de o credor pignoratício conservar e restituir a coisa depois
da extinção da obrigação garantida.

MÚTUO FIDUCIA DEPÓSITO COMODATO PENHOR


Real Real Real Real Real
Unilateral Bilateral Bilateral Bilateral Bilateral
Imperfeito Imperfeito Imperfeito Imperfeito
Gratuito Gratuito Gratuito Gratuito Gratuito
Dacio Dacio Traditio Traditio Traditio
Transferência Transferência Mera entrega Mera entrega Transferência
da da da coisa da coisa da posse
propriedade propriedade
Interesse por Interesse por Interesse por Interesse por Interesse por
parte do parte do parte do parte do parte do
devedor devedor credor devedor devedor
(mutuário) (fiduciário) (depositante) (comodatário)

♦ CONTRATOS CONSENSUAIS
Os contratos consensuais caracterizam-se pelo facto de a sua validade só depender
do acordo das partes, que pode manifestar-se de qualquer modo. Portanto, não é
necessária a forma determinada (como nos contratos verbais e literais), nem a entrega
da coisa (como nos contratos reais).

COMPRA E VENDA
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A compra e venda é o contrato consensual em que uma das partes (vendedor)


se obriga a transferir à outra (comprador) a posse de uma coisa e assegurar-lhe o seu
gozo pacifico, obrigando-se esta a dar àquela a propriedade de determinada pecúnia.
Para a perfeição do contrato basta o consenso, sem ser necessária uma dacio ou
traditio como nos contratos reais.
Contrato desenvolvido no Direito Romano, onde um dos lados é estrangeiro e o
outro romano, visto que se ambos fossem romanos tratar-se-ia de uma mancipatio
(transferência de propriedade de uma coisa de grande valor). – Surge da relação com
os estrangeiros.
o Não há transmissão de propriedade, mas sim a entrega da posse. Os
romanos não aceitam que pelo simples consenso se transmitisse a
propriedade.
o Obrigação do vendedor de livre e pacificamente entregar a coisa, transmitir
a posse, e o vendedor deve pagar o preço.
o Transmissão de posse pode adquirir diretamente o direito de propriedade,
pela usucapião. 🡪 se fosse romano a vender a um estrangeiro este não
podia invocar a usucapião, porque estava apenas previsto no ius civile, e
aos estrangeiros só se aplica o ius gentium.

● Elementos da compra e venda:


1. Consenso: é o acordo em que o vendedor se obriga a entregar a posse livre
e pacífica da coisa vendida, e o comprador a pagar o preço.
2. Coisa (res): a sua posse, livre e pacífica deve ser transferida ao comprador.
Pode ser corpórea ou não corpórea, presente ou futura. Não corpórea são
servidões prediais ainda não constituídas, o usufruto, a herança já aceita
pelo herdeiro. Quanto a coisas futuras de que não depende da vontade do
vendedor, a compra e venda está sujeita à condição de a res existir ou se
tornar disponível: o comprador só se obriga a pagar o preço e o vendedor a
transferir a posse da res, se esta existir ou cair em seu poder. Se tal
condição não se verificar, o contrato de compra e venda será considerado
como se não existisse.
3. Preço (pretium): O preço tem de ser certo e determinado. Se o pagamento
não for feito em dinheiro não se trata de uma compra e venda, mas de uma
permuta.

● Obrigações do vendedor
a) Transferir a posse livre e pacífica da res: A res devia encontrar-se livre de
vícios e não devia ser precária. O vendedor obrigava-se a transferir a posse
da res ao comprador e responsabilizar-se por evicção, este tinha que
assegurar a manutenção da posse durante o tempo que fosse necessário, o
fim da compra e venda é a transferência de propriedade; se fosse romano
adquiria o direito de propriedade pelo usucapião, caso fosse estrangeiro as
suas obrigações eram perpétuas.
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b) Responder por evicção: é a obrigação em que o vendedor, que assumiu a


responsabilidade de assegurar a posse pacífica da res, responde pela
privação sofrida pelo comprador em consequência de uma sentença que,
tendo reconhecido a propriedade de um terceiro ou a sua titularidade de
uma servidão, usufruto ou penhor, lhe conferiu a posse. Por isso o
comprador demandando devia requerer a presença do vendedor no
processo de o defender. Se recusasse ou não evitasse a sentença
desfavorável, o comprador podia demandá-lo e este tinha que pagar a sua
condenação no dobro do preço pago. A obrigação em que o devedor se
responsabiliza pela evicção cessava quando o comprador se tornasse
proprietário pela usucapião.

c) Cuidar da res até à sua entrega: o vendedor devia atuar com a diligência de
um homem normal, por isso se a res desaparecesse ou fosse deteriorada
por um evento fortuito ou força maior, não seria responsável e só devia
entregar ao comprador o que restasse materialmente da res. Quanto ao
comprador, era responsável pelo risco.
● Condição suspensiva: o contrato está perfeito, mas ainda não
produziu todos os seus efeitos, pois temos uma suspensão, por
exemplo, para experimentar um carro que vai comprar, contudo a
responsabilidade é do comprador.
d) Responder pelos vícios ocultos da res: Não são detetáveis aparentemente
os defeitos da coisa, vícios ocultos no momento da compra e venda, apenas
mais tarde detetáveis.
● Foi desenvolvido inicialmente na compra e venda de escravos, o
vendedor tem a obrigação de informar o comprador de vícios
ocultos, por exemplo: um escravo que tivesse cometido delitos, ou
um animal que tivesse uma doença.
● O comprador podia demandar o vendedor, caso houvesse vício
oculto, com uma das seguintes ações:
1) Resolve o contrato (2 meses para acionar) – faz cessar o
contrato com uma causa (o vício da coisa). O comprador
devolve a coisa e tem direito de ser ressarcido no dobro do
preço.
2) Redução do preço – permitia ao comprador obter uma
diminuição do preço, em consequência ao vício da res.

● Obrigações do comprador
a) Transmitir a propriedade do preço ao vendedor. Também está obrigado
a juros se não pagar o preço decorrido um certo tempo após a receção
da res.
b) Obrigação de receber a coisa, e caso não o faça quando o contrato está
perfeito, o comprador é responsável pelos danos.
c) Reembolsar o vendedor dos gastos feitos para conservar a res.
d) Responder pelo risco, o risco corre pelo comprador.
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▪ Relação de interdependência, a obrigação de um está interligada


com a obrigação de outro, se uma das partes não cumprir a sua
obrigação a outra parte está isente. – Exceção do não
cumprimento do contrato (Artigo 428º).

● Pactos acessórios/cláusulas (no momento da compra e venda)


1) Condições suspensivas e resolutórias:
▪ Suspensivas: Até se realizar um facto futuro;
o Exemplo: Só há contrato perfeito quando a máquina de
lavar que comprou estiver devidamente instalada;
▪ Resolutória: deixa de produzir efeitos se se verificar determinada
circunstância
o Exemplo: se a máquina não produzir o que o comprador
desejava, há contrato perfeito, mas pode ser resolutivo.
2) Possibilidade de o vendedor resolver o contrato se num determinado
tempo tiver surgido uma melhor oferta. Pode ser condição suspensiva
ou resolutória.
3) Possibilidade de o vendedor resolver o contrato caso o comprador não
pague o preço no prazo estipulado.
4) Venda a retro – Direito ao arrependimento, consagra a possibilidade de
o vendedor num determinado tempo se arrepender, tendo a
possibilidade de resolver o contrato.
o Exemplo: A vende a coisa, mas no prazo de sessenta dias
pode resolver o contrato pedindo a coisa e devolvendo o
preço;
5) Pacto de preferência: – Direito de preferência contratual. Se um dia o
comprador quiser vender têm que dar preferência ao vendedor.
o A vende a B, mas se B pretender vender a C tem que
informar A do preço, e este pode preferir comprar (Artigo
414º e ss.)

LOCAÇÃO (locação de coisa, locação de obra e locação de trabalho)


É um contrato consensual em que uma pessoa se obriga para com outra a
proporcionar-lhe o gozo temporário de uma coisa ou a prestar determinados serviços
ou a realizar uma obra, mediante um pagamento ou remuneração.

● Elementos da locação
o Consenso: é o acordo das partes, como sucede em qualquer
contrato consensual, basta o consenso para criar a relação
obrigacional.
o Objeto: pode ser uma res que o locatário deve usar segundo um
modo acordado durante um certo tempo; uma atividade laboral
que o locador deve realizar no tempo acordado; ou uma res que
o locador entrega ao locatário para fazer determinada obra.
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o Remuneração (merces): é a contrapartida devida pelo uso da res,


trabalho ou obra realizada.
o Tempo: a utilização da res, a atividade laboral ou a realização da
obra devia ocorrer no prazo acordado.

1. Locação de coisa
● Obrigações do locador:
a) Proporcionar o gozo da coisa, para os fins a que se destina no tempo
acordado;
b) Fazer as reparações necessárias para evitar a deterioração ou
destruição da res;
c) Ressarcir o locatário dos gastos que fizesse em reparações
necessárias.
● Obrigações do locatário:
a) Pagar a merces (renda- habitualmente mensal);
b) Conservar a coisa e usá-la para o fim a que se destina;
c) Restituir a res quando terminar o prazo;
d) Ressarcir o locador por danos causados à res.

● O locatário não é possuidor da coisa, mas sim um mero detentor.


● O contrato de locação é um contrato obrigacional, só produz efeitos entre as
partes.
● Compra e venda não afasta a locação (Artigo 1057º)

● Resolução do contrato
1. o locador quando:
▪ o locatário não pagar a renda;
▪ o objeto é danificado;
▪ quando o locador pretender usar a casa.
2. o locatário quando:
▪ o locador não entrega a coisa;
▪ se a coisa tem defeito ou não tem as características acordadas;
▪ há um temor fundado de um perigo.

● Causa de caducidade
1. O contrato caduca no final do prazo;
2. Se a coisa é destruída ou desaparece;
3. Quando o direito de usufruto acaba.

2. Locação de trabalho
Nesta locação, o locador (trabalhador) obrigava-se a pôr a sua atividade laboral à
disposição do locatário (patrão) durante um certo tempo, mediante o pagamento de
uma remuneração (merces).
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Inicialmente só se aplicava aos escravos, porque entendia-se que quando se


realizava esta locação perdia-se parte da liberdade e limitava-se a capacidade jurídica,
ou seja, quem fosse livre não era permitido a uma locação de trabalho. Mais tarde
entendeu-se que o objeto era o trabalho e não a pessoa que é contratada.
● Causa de caducidade:
A locação cessava com a morte do locador e não do locatário: o locador podia
prestar serviços aos herdeiros desde que, portanto, substitui-lo-iam na obrigação de
pagar a remuneração (merces).

O locador de trabalho estava dispensado se estivesse doente, contudo não era


pago pelo locatário, o que não implicava o fim do contrato.
Na locação de trabalho há uma obrigação de meios, na locação de obra há uma
obrigação de resultados.

3. Locação de obra
Contrato pelo qual o locador entrega uma coisa ao locatário para que este
transforme uma matéria-prima numa obra a troco de um preço (remuneração) que o
locador pagará ao locatário (invertem-se as posições de locador e locatário por
comparação com as outras locações).
A locação de obra não tinha que ter um prazo certo.
(Locador – dono de obra/Locatário – empreiteiro)

SOCIEDADE
A sociedade é um contrato consensual, em que duas ou mais pessoas se obrigam
reciprocamente a pôr em comum determinados bens (património) ou trabalho com
vista à obtenção de um fim patrimonial comum. É um contrato de boa fé.
● Elementos essenciais:
a) Consenso: é o acordo de vontades dos sócios de pôr em comum uma
determinada res ou de dirigirem o seu trabalho para a realização de um
fim comum útil.
b) Objeto: é constituído pela res ou pelo trabalho (atividade laboral, manual
ou intelectual) ou ambas as coisas que os sócios levam para a sociedade.
c) Finalidade: é o interesse comum que as partes se propõem a realizar,
deve ser lícito e suscetível de constituir uma utilidade ou vantagens
patrimoniais para todos os sócios.
▪ Admitia que os sócios não participassem nos ganhos e nas perdas,
mas era proibido, tal como hoje, que o socio só participasse nos
ganho e não nas perdas

● Finalidade das sociedades:


→ Uma sociedade universal: porque os sócios contribuem com
todos os seus bens presentes e futuros;
→ Sociedade com objeto específico: sociedade com um só objeto,
como por exemplo, o transporte de mercadorias ou um só
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negócio. Após a conclusão do mesmo, a sociedade irá extinguir-


se.

● Obrigações para os sócios:


a) Obrigação de entrada: cada sócio deve passar alguma parte do seu
património para a propriedade coletiva;
b) Obriga-se a gerir os negócios de acordo com os interesses da sociedade;
c) Participar nas perdas e nos lucros;
d) Têm o direito de ser reembolsados dos gastos que tenham feito, ou
indemnizados dos danos que a gestão lhe causou.

● Problemas da sociedade com terceiros


Não tendo a sociedade uma personalidade jurídica como se relacionavam com
terceiros?
(algumas associações podiam ter personalidade jurídica, mas nunca as sociedades
comerciais)

A realizou com E um contrato de mútuo, mas A não


A paga.
B
C E vai demandar A, visto que a sociedade não tem
E
D personalidade jurídica, se fosse nos nossos dias
poderia demandar a sociedade.

1. Mas A, chama a ação os outros 3 sócios visto que A realizou o contrato em


benefício da sociedade, caso haja condenação os 4 (A B C D) pagam a E.
2. Os sócios mandam A fazer um negócio, e pode chamá-los a ação visto que foi
mandado.
3. Os 4 concretizam o contrato com E, e este pode demandar os 4 sócios.
4. Os 4 constituem uma sociedade “restaurante”, A é o gerente, compra
mercadorias para o estabelecimento a E, se A não pagar, o E pode demandar
o A.
o Contudo A está mandado implicitamente, quando os sócios decidiram que
A era gerente, este pode chamar a ação os sócios visto que foi para o fim
da sociedade.
▪ NOTA: A – tem que ser gerente e o contrato com E tem que ser em
função da sociedade.
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5. Caso seja para atividades mercantis marítimas: A é escolhido como sendo o


comandante do navio, está mandado implicitamente a celebrar contratos
“em nome da sociedade” – aplica-se o raciocínio de cima.
Roma soluciona o problema da falta de personalidade jurídica das sociedades, visto
que E não pode demandar a sociedade, contudo demanda um socio e este pode chamar
à ação os outros sócios.

O contrato extingue-se por:


a) Cumprimento do prazo acordado;
b) Realização do fim;
c) Perda do património social;
d) Acordo de todos os sócios;
e) Renúncia de um dos sócios;
f) Morte de um dos sócios;
g) Execução patrimonial ou confisco de um dos sócios;
h) Má condição económica dum sócio;
Com a extinção da sociedade: liquida-se o património; paga-se as dívidas; se sobrar
património divide-se (em partes iguais salvo se o contrário estiver definido no
contrato).

MANDATO
O mandato é um contrato consensual e bilateral imperfeito no qual uma
pessoa (mandante) encarrega outra (mandatário) de realizar uma determinada
atividade no interesse do mandante, de um terceiro, ou destes e do mandatário, que
se obriga, por sua vez, a realizá-la gratuitamente. É um contrato do ius gentium, de
boa fé e inspira-se na confiança das partes.
● Constituído pelos seguintes elementos:
→ Consenso: é o acordo entre quem dá e quem aceita o encargo de realizar
certo ato. Pode manifestar-se de qualquer modo: através de declaração
ou dum comportamento de que possa deduzir-se seguramente
→ Objeto: é a atividade que o mandatário se obriga a realizar. Deve ser
lícita e determinada e não é necessário que consista num negócio
jurídico: qualquer serviço pode ser objeto de mandato, desde que seja
gratuito.
→ Finalidade: o mandato deve satisfazer um interesse do mandante, dum
terceiro ou conjuntamente também do mandatário. Não há mandato,
mas simples conselho, se a atividade beneficiar exclusivamente o
mandatário.

● Obrigações do mandatário:
a) Cumprir o encargo: seguindo as instruções do mandante ou, se não
existirem, segundo a natureza da atividade a realizar.
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b) Prestar contas da atividade que exerceu: se da sua atividade surgirem


direitos sobre terceiros, deve transmitir as correspondentes ações ao
mandante.
● Obrigações do mandante:
→ Ressarcir os gastos feitos pelo mandatário na execução do encargo que
lhe deu;
→ Indemnizá-lo dos danos sofridos.

● Exemplos de mandato:
o Um advogado a representar outra pessoa em tribunal;
o Mandato como representação – Representa em nome de alguém, todos
os efeitos jurídicos são na esfera do mandante
o Mandato sem representação – age em nome próprio, mas nos interesses
do mandante.
o Exemplo: comprar uma coisa para o mandante que não lhe possa
ser vendida.

● Problemas com terceiros – ação direta


Em Roma, inicialmente, não havia representação direta
A ------------- B ----------------- C A ------------- B ----------------- C
mandato Compra e venda mandato Compra e venda

Mandante Mandante
Mandatário Mandatário
Os produtos comprados tinham má qualidade B não pagou a C, no nosso ordenamento
(vícios ocultos), em Roma inicialmente, B tinha jurídico ele demandava o A, mas em Roma,
que demandar o C e só depois chamar à ação o teria que demandar B e este chamar à ação o
A. A, visto que não existia representação direta.

A partir de certa altura (finais da época clássica) o pretor veio progressivamente permitir
que C e A se demandassem diretamente.
● Extingue-se por:
→ Execução do encargo ou impossibilidade material ou jurídica de o realizar;
→ Vencimento do prazo fixado;
→ Acordo das partes;
→ Revogação do mandante;
→ Renúncia do mandatário;
→ Morte do mandante ou do mandatário.
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COMPARAÇÃO COM O DIREITO ROMANO


● Compra e Venda (Artigo 874º e ss.)
→ Diferença relativa a Consenso – Em Portugal basta o consenso para a
transmissão da propriedade, em Roma só se transmitia a posse
● Sociedade (Artigo 980º)
→ Noção é igual – particularidade nas sociedades comerciais, nos nossos dias
têm personalidade jurídica e no direito romano não.
● Locação (Artigo 1022º)
→ Não existem grandes diferenças - locação de coisa
→ 1057º - a compra e venda não afasta a locação em Portugal, ao contrário
do que acontecia em Roma.
● Contrato de Trabalho (Artigo 1152º)
→ = locação de trabalho
● Mandato (Artigo 1157º)
→ Noção é a mesma de Roma – exceção da representação direta
● Empreitada (Aritgo 1207º)
→ Igual ao romano = locação de obra

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