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3. A doutrina dominou esse sistema de direito durante cinco séculos, para se seguir um
período em que passa a ser dominado pela legislação – no qual nos encontramos ainda
hoje. Antes disso, dominou um período longo de direito consuetudinário.
4. As regras de direito são concebidas nestes países como regras de conduta, muito
ligadas a preocupações com a justiça e com a moral. A Ciência do Direito deve
determinar quais são essas regras e sua aplicação era tarefa para práticos do Direito e
da Administração.
5. A partir do século XIX, a lei ganhou especial papel nesse direito, pois a maioria dos
países que adotavam esse direito passou a produzir Códigos. O berço desse direito é a
Europa, e nasce graças aos esforços das universidades europeias, a partir do século XII,
com base nas compilações do Imperador Justiniano.
6. Jus commune - Surge uma ciência jurídica comum a todos os países da região,
apropriada às condições do mundo moderno. Foi fundado sobre uma comunidade de
cultura, não teve relação com a formação política dos países, como ocorreu com a
Common Law, que se verá adiante. O Império romano está em decadência, a Europa
não tem unidade política. O sistema foi formado sobre uma comunidade de cultura.
Uniu os países da Europa Continental.
9- Esse sistema existe em várias partes do mundo – América Latina, parte da África,
países do Oriente Próximo, Japão e Indonésia. Muito por conta da facilidade da técnica
jurídica da codificação.
- O Direito romano-germânico é a base do sistema jurídico brasileiro.
1.4.2.) O direito socialista
1. Ideal da Rússia, 1917 – edificar novo tipo de sociedade – sociedade comunista – ideal
de fraternidade – sem Estado e sem direito, supérfluos no sistema de solidariedade
social que superaria os antagonismos do mundo capitalista: sem repressão, limitando-
se a poucas regras de organização e eficácia econômica.
2. O direito da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) se divide em
três períodos: comunismo revolucionário, 1917-1921–; período da Nova Política
Econômica – NEP – 1921-1928; e da plena coletivização dos bens – 1928-1936.
2.1. - 1º. Período – comunismo de guerra – da revolução de outubro de 1917 ao fim da
guerra civil e tirunfo do partido comunista (bolchevista) na Rússia. Criou-se uma
Constituição, a declaração dos direitos dos povos da Rússia, declaração dos direitos do
povo trabalhador e explorado; separação da igreja do Estado, criado um código do
casamento; todos os bens importantes são nacionalizados: bancos terras, fábricas;
suprime-se a herança; são abolidos os tribunais e o processo;
2.2. - 2º. Período – reconstrução do país devastado pela guerra dedicado à nova política
econômica – NEP – recuo das posições, estímulo ao trabalho camponês, com incentivo
ao lucro, para atrair também capital estrangeiro. São criados os códigos civil, do
processo civil, código penal, do processo penal, código de família e código agrário. Cria-
se o princípio da legalidade e a Prokuratura, para defender interesses da administração
e dos administrados.
2.2.1. Princípio da legalidade socialista: a interpretação da lei ou de uma regra
administrativa não poderia resultar em uma conclusão que atentasse contra os objetivos
socialistas, sob pena de ser considerada nula, ainda que tal interpretação derivasse da
literalidade inequívoca da norma.
2.3 - 3º. Período – abandono da Nova política econômica e coletivização dos bens para
atender à infraestrutura econômica da doutrina marxista. Bens que não pertenciam ao
Estado, eram das cooperativas e administrados conforme plano estabelecido pelos
dirigentes e aprovado pelo Parlamento. O comércio é estatizado e proibido aos
particulares e a propriedade privada de bens foi rebatizada de “propriedade pessoal”: a
coisa objeto de propriedade pessoal não podia ser utilizada para fins lucrativos pois, se
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9. A Rússia ainda não tem uma democracia substancial. Há um poder quase real dado
pela constituição de 1993 ao Presidente da República, como chefe do poder e chefe de
Estado. A liberdade judiciária ainda é restrita. O artigo 10º da Constituição assegura
independência do Judiciário diante dos demais poderes, mas a Carta Magna não tem
nenhum dispositivo disciplinando as atividades, a forma de divisão do Judiciário, direitos
e garantias da magistratura.
10. A Constituição russa, tem apenas 90 artigos. No artigo 2º se reconhece como dever
do Estado a defesa dos direitos e liberdades dos cidadãos. É um dos países signatários
da Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948.
12. A Constituição no artigo 21, inciso 2, admite a pena de morte como castigo
excepcional para crimes gravíssimos contra a vida, assegurando ao acusado o direito de
ser julgado por um júri.
13. Os conflitos entre pessoas jurídicas de Direito Público não vão ao Poder Judiciário,
mas sim a um processo de conciliação promovido por Tribunais de Arbitragem. Na falta
de solução negociada, o presidente da República poderá submeter a controvérsia ao
tribunal competente.
A Common Law influenciou a maior parte dos países que estiveram ou estão
politicamente associados à Inglaterra, pertencentes à Commonwealth (Commonwealth
Nations), associação de territórios autônomos, mas dependentes do Reino Unido, criada
em 1931 e formada atualmente por 53 nações, a maioria independentes (inclui algumas
que ainda mantêm laços políticos com a antiga potência colonial britânica).
A maioria desses países conservou suas tradições, instituições e conceitos
próprios, mas a influência inglesa marcou muito o modo de pensar dos juristas. Nestes
países, a organização administrativa e judiciária e o processo civil e criminal, além do
sistema de provas, foram estabelecidas e reguladas conforme o modelo inglês.
1.4.3.1.) O Direito inglês
1. É o direito praticado na Inglaterra e no País de Gales. Não é praticado na totalidade
do Reino Unido: Irlanda do Norte, Escócia, Ilhas do Canal da Mancha e Ilha de Man não
se submetem ao direito inglês.
1. No começo, os litígios iam para as diversas cortes, Baron, Leet, etc., e o rei apenas
tratava de questões muito importantes, a “alta justiça”, em casos excepcionais, na
chamada Cúria Regis, quando a Justiça não conseguia resolver por meios normais.
2. Fora da jurisdição real, continuavam a existir as County Courts, para os casos comuns,
e as jurisdições senhoriais e eclesiais. Posteriormente surgem também as jurisdições
municipais ou comerciais que aplicam os regulamentos municipais ou o direito
internacional do comércio (Ley Merchant).
3. Os tribunais reais não atendem aos pleitos dos particulares, porque a justiça real é
superior, só ela obriga testemunhas a ir à corte, e executa suas próprias decisões, e
ganham muito dinheiro, por interesse do Rei, que quer alargar seu domínio sobre os
senhores feudais.
4. Se os particulares querem submeter uma causa aos tribunais reais, pedem ao grande
chanceler da Coroa que lhes conceda um writ, que autoriza a pleitear na Justiça real
mediante o pagamento de taxas. Por isso, os tribunais criam um processo moderno e
instalam um júri, que não existe nas outras espécies de cortes. No final da Idade Média
a justiça é quase toda tratada por esses tribunais e as demais cortes vão enfraquecendo,
até acabar.
5. No século XIX, os tribunais reais se tornam jurisdições comuns. Os particulares
apresentam seu caso (case) num processo chamado declaration, e pedem aos juízes que
aceitem julgá-lo. Essas ações passaram a se chamar actions on de case, ou ações super
casum. Como tempo, passaram a ser ações comuns conforme o caso que tratavam:
negligence, por exemplo. Para alguns processos, existe júri, para outros, a possibilidade
de provas. Muito depois, a common Law terá normas substantivas (materiais) que
definem direitos e obrigações de cada um.
a.3.) terceiro período - a rivalidade com a (í) equity – 1485 a 1832 – marcado pelo
desenvolvimento do sistema complementar de “regras de equidade”, que às vezes
rivalizava com a common law.
1. Equidade pode ser definida como instrumento para atenuar os rigores da lei, para
resgatar o equilíbrio das partes na relação jurídica.
2. O desaparecimento das outras jurisdições inglesas que julgavam casos dos
particulares, e o fortalecimento dos tribunais reais, criaram a necessidade de uma nova
solução para casos omissos na Common Law, - espécie de corretivo para o sistema que
os tribunais usavam. Surgiu o recurso à autoridade real, para os casos de injustiça
julgados pelos tribunais, que passava pelo chanceler real e era levado ao rei, que o
julgava no Conselho, se achasse adequado. A decisão real se dava pela equidade para o
caso particular. Mas o chanceler se torna cada vez mais um juiz singular, autônomo, que
exerce a jurisdição em nome do rei e do seu Conselho.
3. O absolutismo dos Tudors, no século XVI, cria muitos riscos para as liberdades dos
cidadãos e aumenta o poder do chanceler. A partir de 1529, o chanceler real não é mais
um eclesiástico, nem um confessor do rei, mas um jurista, que julga os casos com base
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3. As leis antigas foram revogadas, mas as reformas não abrem espaço para a
codificação. Em 1865 é publicada a Law Reports, que reúne a jurisprudência e a
legislação, que passou a ser o instrumento essencial para conhecer o direito inglês.
4. No século XX, com o surgimento do welfare state (Estado de bem-estar), aparece uma
corrente socialista no direito inglês, e a common Law atravessa grave crise, pois a
sociedade busca profundas transformações e as leis e regulamentos ganham muita
importância.
5. Surgem muitos conflitos entre a administração pública e os cidadãos e aparecem
espécies de tribunais administrativos para julgar essas questões, mas que não são
jurisdição autônoma como, como na França. São órgãos que reúnem juristas e cidadãos
não juristas, que examinam os casos de acordo com inúmeros critérios, que podem,
inclusive, não ser os da Common Law.
b) Diferenças entre Common Law e equity – A equity é um conjunto de soluções que
foram adotadas pela Jurisdição do Chanceler, nos séculos XV e XVI, para completar e até
rever o sistema da Commmon Law, que era um sistema arcaico. Assim, se alguém
precisava conseguir uma execução in natura de um contrato – receber o bem
contratado, não o ressarcimento dos danos causados pelo atraso no pagamento – tinha
que propor duas ações: uma ao tribunal da chancelaria, para receber o produto
contratado; outra no tribunal da common Law para conseguir receber o ressarcimento
dos danos pelo atraso na entrega do produto. A partir de 1875, com as reformas do
processo, promovidas pelo Judicature Act, todas as jurisdições inglesas podem ordenar
soluções da equity ou aplicar as sanções da common Law.
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d.2. O direito inglês é um sistema aberto: comporta um método que permite resolver
toda espécie de questões, mas não comporta regras essenciais que possam ser aplicadas
em todas as circunstâncias. Uma nova situação, faz nascer uma nova regra. O direito de
origem legislativa (statute Law) tem caráter anormal na Inglaterra. As disposições
formuladas pelos legisladores só serão assimiladas plenamente pelo sistema de direito
quando forem retomadas e reafirmadas, e até alteradas, pelos tribunais. A lei, assim,
tem um papel secundário no direito inglês.
1.4.3.2. O direito dos Estados Unidos
Introdução
law como um súdito inglês e faria jus aos benefícios da lei inglesa. Determinou que todas
as pessoas nascidas em qualquer território sob o dominio da Coroa Inglesa deveriam ser
beneficiados com a lei inglesa como súditos do rei e a ele deviam lealdade.
O Caso de Calvino é a mais antiga e influente articulação teórica de um tribunal
inglês sobre o que veio a ser a regra do direito comum, de que o status de uma pessoa
era adquirido no nascimento e baseado no local de nascimento.
a.2. Núcleos de população inglesa nos Estados Unidos, século XVII – 1607-1632 - colônias
na Virginia, Plymouth, Mayriland; Nova Iorque, colônia holandesa torna-se inglesa em
1664.
a.3. Os súditos ingleses seguiam a common law nos territórios onde se estabeleciam,
desde que não submetidos a nações civilizadas. A data de 1607 passou a valer como o
início da common law nas colônias, ainda que tivessem ligações somente a partir de
1776. E valia somente quando as regras fossem apropriadas para as condições de vida
de cada colônia.
a.4. A common law não agrada aos habitantes, especialmente os colonos dos territórios,
que não encontram solução para seus problemas. Diversas colônias passam a editar seus
códigos sumários – sem a técnica atual. Começa aí a principal divergência entre o direito
inglês e o americano – americanos acham que a lei tem risco do arbítrio e ameaça às
suas liberdades.
a.5. A independência dos Estados Unidos, em 1776, cria novas condições para as
colônias. Desaparecem inimigos urgentes, como a França, e o direito codificado vai
ganhando espaço em vários Estados, convivendo o direito romano-germânico com o
sistema inglês. Mas a commom law acaba sendo majoritária, com várias
particularidades, menos no território de New Orleans, atual estado da Louisiana.
a.6. Muitas regras da commom law nunca fora adotadas pelos Estados Unidos, porque
não se adaptavam à realidade da América. A Inglaterra é monarquia, Estados Unidos
República, com regime presidencial de governo. A população é diferente, a filiação
religiosa também, a educação e mesmo a língua tem particularidades nos Estados
Unidos.
b) Estrutura do Direito nos EUA
b.1.) direito jurisprudencial, como na Inglaterra, um corpo de direito não escrito, mas
divide-se em direito federal e direito dos estados. O congresso produz leis (statutes) e
cada Estado tem seu parlamento que produz leis.Os Estados Unidos formam um Estado
federal. São 13 colônias que viveram de modo independente até a Guerra da
Independência e tinham pouca coisa em comum.
b.2.) Princípio da competência legislativa dos Estados – 10ª. Emenda à Constituição,
1792: poderes que a Constituição não delega, mas não proíbe que estados exerçam,
serão por eles exercidos, cada uma conforme sua realidade. Mas não podem contrariar
o espírito da Constituição ou o direito federal e nem criar entraves ao comércio
interestadual. Existe uma commom law federal e outra particular em cada Estado.
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b.3.) Conflitos de jurisdição: Judiciary Act – 1789 – mandava aplicar a lei de determinado
estado quando não houvesse direito federal correspondente. Vários outros conflitos
ocorreram.
b.4.) Caso Erie Railroad versus Tompkis – 1938 - (acidente no trilho, atropelamento por
uma portinhola de vagão). A Suprema Corte decidiu que salvo nas matérias regidas pela
Constituição federal ou por leis do Congresso (statutes), deve-se aplicar o direito
particular do Estado em particular, mesmo que seja lei local ou decisão tomada pela
suprema Corte em relação aquele estado.
b.5). Tribunais de Equity – Operam quando o direito não oferece nenhuma solução. Mas
abrangem situações inusitadas. Ex: Questões de anulação de casamento e de divórcio
são matéria exclusiva desses tribunais.
b.6.) Diferenças em alguns ramos de direito - Direito Constitucional, Administrativo e
direito do trabalho – diferem do direito inglês. Há controle de constitucionalidade pelos
tribunais estadunidenses, mas não há na commom law inglesa. Os sindicatos nos EUA
são diferentes das Trade Unions da Inglaterra.
b.6.) existe um Ministério público geral nos Estados Unidos – attorney general – cada
tribunal federal tem um membro desse Ministério. No direito inglês é um jurista
empregado pelo governo que faz esse papel no processo judicial.
Os debates eram, de regra, dirigidos pelos mestres, que após as discussões, faziam uma
determinação magistral. Na primeira oportunidade o mestre solucionava a questão.
- Como consequência da forma argumentativa do ensino jurídico, os textos do direito
romano, principal expressão do direito nas universidades – eram prova que necessitava
de confirmação, um indício, uma hipótese a ser testada e confirmada.
- Geralmente, como argumento para defender a tese, os juristas utilizavam o senso geral
de justiça, lastreado na razão do direito natural: a confirmação da tese discutida deveria
não só estar embasada nos textos do direito romano, mas sim encontrar no direito
natural a sua razão de ser.
- A procura pela fundamentação no direito natural, seria um dos fatores que possibilitou
o surgimento do ius commune – direito comum
a.1.) Escola dos Glosadores do Direito Romano: Essa escola se desenvolveu quando do
ressurgimento dos textos do Corpus Iuris (código de Justiniano), no século XI,
principalmente na universidade de Bolonha.
- O próprio nome já denomina a principal atividade da escola (glosa=nota explicativa de
uma palavra). Os glosadores tinham como tarefa apreender o significado exato do texto
Justiniano, explicando-o palavra por palavra ou parafraseando (estudar um texto
mantendo as ideias centrais), os termos e passagens obscuras e difíceis do Corpus.
- Utilizavam a exegese puramente literal e às vezes uma interpretação sistemática, para
suprimir eventuais incongruências.
- Para os glosadores o Corpus representava a própria perfeição. Suas contradições não
podiam ser genuínas, mas apenas aparentes. Quando do aparecimento de eventuais
incoerências utilizavam-se da técnica da distinção (distinctio).
- Essa idolatria ao direito romano fazia com que os adeptos acreditassem que o Corpus
iuris não era um documento histórico, mas sim um modelo universal e eterno.
a.2.) Pós-Glosadores ou Comentadores:
- italianos foram os principais autores. Apogeu nos séculos XIII e XIV, e floresceu
basicamente na universidade de Bolonha.
- os comentadores não repudiavam os textos glosados. Pelo contrário, quando exerciam
a função de comentar utilizavam abertamente as glosas. Em outras palavras, pactuavam
com a ideia de que os textos romanos precisavam ser desvendados em detalhes.
- diferença entre as duas escolas: os comentadores não só se preocupavam em
encontrar o sentido dos textos, mas sim adaptá-los as novas realidades vividas pela
sociedade medieval.
b) era eterno, universal e imutável. Assim, o direito natural nasceria no ser humano,
sem ele perceber diretamente, e consistiria em um conjunto de conceitos básicos do
que é justo ou injusto.
O direito natural não regulava todas as condutas humanas, sendo que onde esse
fosse omisso, deveria o direto positivo atuar. Portanto, o direito positivo começava onde
terminava o direito natural.
Se a lei positiva invadisse o campo de atuação do direito natural, esse deveria
prevalecer.
Para Aristóteles o direito positivo, ao contrário do direito natural, não tinha
vigência universal, mas sim, variava de lugar para lugar.
Para Santo Tomás o direito positivo representava apenas uma adaptação gradual
da máxima geral (direito natural) à situação concreta. Assim, por exemplo, a lei positiva
que incrimina o homicídio é baseada na lei de direito natural que proíbe fazer o mal.
Nesse passo, o direito positivo seria uma extensão do direito natural, e aquele, para ter
validade, depende necessariamente, estar embasado neste.
As leis humanas (positivas), por sua vez, são as leis emitidas pelo soberano (leis
civis). Todas as leis humanas são leis civis (positivas). (De cive, editora Vozes, 1993)
Para Hobbes, as leis naturais têm como característica a insegurança perpétua.
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Isto é assim porque elas só obrigam em consciência, o que significa que a sua
observância se restringe à vontade das pessoas.
Em outras palavras, sua observância efetiva fica ao livre alvitre das pessoas. Assim,
as leis naturais efetivamente não obrigam ninguém, senão pela consciência de cada
indivíduo, por isso, não existe certeza de seu cumprimento.
Elas não trazem em si sanção e por isso não obrigam. Exemplo: uma lei natural
obriga a manter os compromissos firmados.
Em virtude dessa insegurança perpétua das leis naturais, Hobbes acreditava que
as pessoas teriam transformado as leis internas (direito natural) em normas externas
(direito positivo – leis civis).
Essa passagem foi marcada pelo acordo dos indivíduos de renunciar a todos os
direitos que tinham pelas leis naturais e transferi-los ao soberano, que, assim, teria o
poder de punir aqueles que não cumprissem suas obrigações. Desse modo, foi criado o
estado civil, marcado pela renúncia dos direitos naturais a favor do soberano, podendo
este sancionar aqueles que os desrespeitassem. Por consequência, o direito natural
passa a ser direito positivo ou direito civil, munido de sanção.
Introdução
Discussão filosófica. Alguns autores: filosofia política;
Variadas asserções e associações podem ser encontradas na busca da
compreensão do direito enquanto fenômeno humano: o que é correto, o que é justo, o
que é posto por autoridade competente, a lei, a norma. Algo é comum em quase todas:
o direito não existe como um fim em si mesmo: se limita pelas trocas humanas e sociais.
Roma e Atenas fizeram as primeiras incursões sobre o que é direito: Roma com
fundamento na autoridade; Atenas, com fundamento filosófico, como sentido de justo.
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b) Hobbes - foi o primeiro jusnaturalista da Idade Moderna, mas também foi o precursor
do positivismo jurídico e o pioneiro da teoria contratualista, desenvolvida
posteriormente por John Locke e Rousseau.
Ideal de justiça, para Thomas Hobbes: concepção de segurança e paz social. A
sociedade é a forma necessária para superar a guerra de todos contra todos, para
superação do ambiente de violência absoluta. O Estado deve organizar a sociedade, e a
lei é o instrumento regulador das relações sociais.
O Estado é legítimo porque surge de um pacto entre os indivíduos em sociedade.
Ele rompe com as concepções teológica, escolástica e aristotélica.
O homem deixa de ser criatura para tomar-se criador. Cria o Estado e obedece
às leis civis por opção, para a preservação de sua própria vida.
Igualdade: enquanto para Aristóteles a igualdade significa equidade, Hobbes fala
da igualdade enquanto característica material-física- dos homens, que os coloca à mercê
uns dos outros, levando a um estado de guerra total e violência. Os homens são iguais
em sua constituição.
Esta igualdade se dá: momentos de descanso e de vulnerabilidade, quando o
homem fica à mercê do inimigo.
Nem as noções de justo ou injusto, bem ou mal existem no estado de natureza.
c) Kant - Immanuel Kant nasceu em Königsberg, na Prússia Oriental, então Império
Alemão no dia 22 de abril de 1724.
O conceito mais elementar da doutrina kantiana para a compreensão da justiça
é o de liberdade, como compreensão da necessidade da organização social, do respeito
à liberdade de seu próximo
Para Kant, a submissão à lei não pressupõe um querer, mas um dever. O homem
age por uma convicção interna e inabalável de que deve agir de determinada maneira
e não de outra, ainda que quisesse outra coisa. O desejo tem que ser subjugado pela
razão.
O princípio da igualdade é imposto pela liberdade individual. Os homens são
livres porque todos eles são iguais. Assim é possível a vida em sociedade. A razão e a
liberdade conduzem o homem a agir conforme a lei.
“Só pode ser o princípio de igualdade apreciado na balança
da justiça, com inclinação equilibrada. Por conseguinte, o mal
imerecido que fazes a outro de teu povo o fazes a ti mesmo: se o
desonras, desonras a ti mesmo; se o roubas, roubas a ti mesmo;
se o maltratas ou o matas, maltratas ou matas a ti mesmo”
(Doutrina do direito).
A antítese entre liberdade e obediência é o dilema da teoria kantiana e propõe:
“dever de obediência absoluta com relação às ações, direito de liberdade com relação
aos pensamentos.”
d) Justiça na dimensão normativa do Direito - Kelsen, Hart, Alf Ross, Bobbio, John Rawls
e Ronald Dworkin
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d.4) Norberto Bobbio (Itália) - seu trabalho alcança repercussão entre positivistas e
jusnaturalistas, conservadores e progressistas, filósofos e dogmáticos, flutuando em
diversas áreas do conhecimento humano: direito, ciência política, filosofia.
Ele mesmo faz uma releitura das obras de Hans Kelsen e Herbert Hart e produz
uma concepção extremamente didática e revisada da doutrina do positivismo jurídico.
Sua contribuição essencial à doutrina do positivismo jurídico é a sistematização
do enfoque analítico do direito, o estudo do direito a partir do desenvolvimento de uma
linguagem própria.
Herdeiro do neopositivismo lógico (Círculo de Viena- grupo de filósofos que se
juntou informalmente na Universidade de Viena de 1922a 1936 com a coordenação
de Moritz Schlick. Também foi chamado de “Sociedade Ernst Mach” (Verein Ernst Mach)
em homenagem a Ernst Mach (Stanford Encyclopedia of Philosophy). Em reuniões
semanais procuravam reconceitualizar o Empirismo a partir das novas descobertas
científicas e demonstrar as falsidades da Metafísica. Suas atividades cessam quando
Schlick é assassinado por um dos seus alunos).
Desenvolve a filosofia analítica - que faz da linguagem o objeto central da
filosofia- no âmbito do direito. A preocupação central da escola analítica é transformar
o direito em ciência, se não pura, como pretendia Kelsen, pelo menos tanto exata
quanto possível.
Dentro desta concepção, o objeto de estudo do jurista são as proposições
normativas. Para compreendê-las o operador jurídico deve seguir uma rigorosa
descrição e delimitação dos conceitos jurídicos, transformando o discurso legislativo em
um discurso rigoroso, com teor científico.
A meta-teoria do direito propõe uma ciência do direito como uma meta-
linguagem distinta de seu objeto. A atividade científica do jurista consiste na análise da
linguagem utilizada pelo legislador na composição dos textos de lei. O legislador utiliza
frequentemente uma linguagem ambígua, vaga e incoerente.
O jurista, enquanto intérprete, constrói a ciência do direito. A atividade do
intérprete é imprescindível para a supressão das lacunas e antinomias do ordenamento
jurídico.
As lacunas são eliminadas pelo processo de integração, através do qual extrai-se
uma proposição de outra, aplicando-se certas regras lógicas de transformação. As
antinomias resolvem-se através da sistematização das normas, ou da elaboração de uma
linguagem coerente e unitária que elimine o maior número de contradições possível.
O critério da justiça em nada se aproxima de deduções metafísicas ou juízos de
valor, mas representam a pura verificação da correspondência entre o plano teórico e o
plano da práxis, da verificabilidade em relação aos valores fundamentais (sociais,
políticos, culturais,...) que determinam a produção de um ordenamento jurídico
particular.
A justiça como critério de valoração normativo refere-se especificamente, à
correspondência da norma jurídica com os valores da sociedade que se questiona, não
como um principio universal. O critério da justiça permite que a norma seja avaliada da
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forma como ela deveria ser, e é, nestes termos, um critério de ordem deontológica. É
um critério vinculado a um juízo de valor, objeto das teorias da justiça.
Igualdade e Liberdade é o título de um opúsculo escrito Norberto Bobbio, que
associa diretamente as ideias de justiça e igualdade:
“Os dois valores da liberdade e da igualdade remetem um
ao outro no pensamento político e na história. Ambos se enraízam
na consideração do homem como pessoa. (...) Liberdade indica
um estado; igualdade, uma relação. O homem como pessoa (...)
deve ser, enquanto indivíduo em sua singularidade, livre;
enquanto ser social, deve estar com os demais indivíduos numa
relação de igualdade”.
d.5) John Rawls (Estados Unidos) - Equilíbrio reflexivo – Na segunda metade do século
XX, o pensador norte-americano John Rawls (1921-2002) provocou uma guinada nos
estudos sobre a ética.
A obra densa e austera se tornou logo polo de discussão ética. As polêmicas que
se seguiram à sua publicação fizeram com que, nas décadas seguintes, Rawls revisse
alguns dos pontos de sua abordagem, inserindo a questão da esfera pública (Political
liberalism, 1993) e internacionalizando a sua perspectiva (The law of peoples, 1999).
Para determinar quais princípios morais deveriam reger a conduta humana, ele
estudou concepções substantivas dos diferentes ordenamentos do justo (right), do bom
(good), do valor moral e a sua relação com a consciência moral.
Concluiu que a vida cotidiana não está submetida a um código de regras, mas a
princípios. Para chegar a esses princípios, afirmou que o justo é anterior a qualquer
outra consideração moral.
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A ideia é a de que, se alguém tem que escolher princípios, mas nada sabe sobre
a sua posição e sobre o seu futuro, não podendo determinar quais princípios
constitutivos da justiça poderiam ser vantajosos e quais poderiam ser desvantajosos
para ele, tenderá a escolher princípios "neutros", de interesse geral, princípios que
sejam bons para qualquer um e para todos.
a) o da liberdade: cada pessoa deve ter direito igual ao mais amplo sistema de
liberdades básicas. A justiça é dada, antes de tudo, pela liberdade de opinião e de
consciência, igual para todos e que impera acima dos interesses econômicos, das
aspirações político-sociais e das convicções religiosas. A liberdade deve ser a mais
ampla, compatível com as liberdades alheias. Esse princípio é prioritário em relação a
todos os outros;
d.7) Tércio Sampaio Ferraz Junior – Justiça como senso do equilíbrio na distribuição dos
bens nas relações sociais.
O princípio da igualdade oferece a medida racional para a repartição do que cabe
a cada um nas relações bilaterais. Nas relações sociais, a igualdade seria o código
identificador do equilíbrio na distribuição dos bens. Seria um código forte ou um código
fraco.
Código forte: quando as relações sociais consideradas justas admitem
desigualdades proporcionais entre os membros da sociedade, garantidas pelas posições
de supremacia e inferioridade definidas por princípios que implicam solidariedade
mecânica e orgânica e a necessidade de associar forças ativas de modo permanente. A
razoabilidade da conduta é princípio da disciplina social;
Código fraco: a decodificação é flexível e difusa – as relações sociais consideradas
justas admitem desigualdades entre os membros, garantidas por posições de
supremacia e inferioridade. A solidariedade social é um valor que depende de força
exterior, respeitável e temida, que refreia as paixões. O sistema de justiça material tende
a privilegiar o prestígio pessoal, variável e instável. Assim, a entrega a um bem maior,
ao qual se presta obediência cega, é o princípio da disciplina social. Em consequência, o
que dificulta ou impede essa entrega é injusto.
CONCLUSÃO
Ainda que seja um conceito primário para qualquer jurista, é difícil encontrar
uma resposta objetiva à pergunta: o que é justiça?
O conceito de justiça como elemento do paradigma jurídico pós-positivista
engloba as propostas de vários autores e suas definições acerca do fenômeno jurídico,
e mais especificamente: qual é o conceito de justiça que guiará a teoria jurídica no
paradigma que se propõe superar o positivista?
Considera-se, igualmente, a necessidade de resgatar o conceito de justiça no
manuseio da teoria jurídica para adequar o direito a seus destinatários.
Conceitos de direito alternativos ao do positivismo, que o invoca na forma da lei,
são a característica mais presente nas teorias dos autores contemporâneos.
A definição de direito está cada vez mais vinculada à de justiça. A teoria jurídica
começa a ser abordada como teoria da justiça e o conteúdo do direito é cada vez mais
frequentemente caracterizado pelos valores fundamentais a serem preservados na
esfera jurídica individual.
a) Direito romano
O principal critério utilizado para a distinção do direito público e direito privado,
no âmbito do Direito romano é a presença ou não do Estado, tornando as normas
obrigatórias para todos ou não.
e) Radbruch afirma que essa distinção entre direito público e direito privado tem
caráter a priori, uma vez que uma norma jurídica pode ser alocada em qualquer um
desses campos.
Esse a priori não quer dizer que em todos os tempos essa divisão tenha ocorrido,
nem que sempre se deu uma separação clara e distinta desses termos.
Representante da corrente da filosofia dos valores entende que a distinção
direito privado e direito público são formas estilísticas do direito:
f) Ross – diferencia direito público e privado indicando que esse é um tema que
tem relevância para a ciência do Direito, pois ela leva a um esquema racional de
sistematização. O jurista não coloca em questão o direito privado, mas sim o direito
público, que define:
“O direito público, por conseguinte, pode ser definido como o direito
concernente à posição jurídica das autoridades pública: sua constituição,
competência e deveres. O direito público, portanto, consiste exclusivamente
em normas da competência e em normas de conduta ligadas às mesmas, isto
é, relativas ao exercício da competência.”
33
Para Ross, não é todo direito normalmente classificado como público, que pode
ser aceito como direito público, isso porque há alguns critérios ligados à norma de
competência.
Essa definição de direito público, também denominado por Ross de “direito
público relativo às autoridades públicas”, que trata da organização do poder do Estado,
não inclui o direito penal, direito administrativo especial e o direito processual.
Esses direitos não têm a característica dada por Ross do direito público. Para
Ross, ocorre um problema das definições de direito público e direito privado, como
aponta nesse trecho:
“A grande incerteza e confusão que reina nas ideias correntes
acerca do direito público, se explica, provavelmente, pelo fato de que
o conceito de público é interpretado de forma negativa, como um
repositório para todo o direito que não seja direito privado. O direito
privado é, então, caracterizado implicitamente como o direito cuja
observância pode ser assegurada por meio de processos civis entre
particulares. Entretanto, se o direito público for definido daquela
maneira ampla e negativa, não constituirá, como vimos, uma esfera
homogênea. Inversamente, se limitarmos o direito público ao direito
que a organização e exercício da autoridade pública, e definirmos o
direito privado negativamente em relação a ele, o conceito de direito
privado perderá toda coerência e significado”.
Ross diz que o direito tem normas de conduta e normas de competência. Essas
últimas podem ser entendidas como normas de direito público, no sentido que Ross dá
a elas.
A divisão entre direito público e privado não consegue abarcar todos os direitos
possíveis e sempre haverá dificuldade em se utilizar essa classificação.
Direito Público:
a) Interno (Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Financeiro ou Direito
Tributário, Direito Judiciário ou Direito Processual, Direito Ambiental, Direito Penal e
Direito do Trabalho ou Direito Social);
b) Externo (Direito Internacional Público)
Introdução
A segunda dicotomia do Direito está na divisão entre Direito Objetivo e Direito
Subjetivo. É um assunto amplo, um tema mais moderno do que a divisão público
privado. A dicotomia não foi anotada pelos romanos: havia, no direito romano, uma
distinção de algo que não se confundia com a lei, uma faculdade que cabia a cada ser
humano, e se expressava no termo facultas agendi (faculdade de agir), em oposição à
norma agendi, (a norma de agir).
O direito americano trata do tema com dois significados: direito objetivo é a lei
(law); direito subjetivo é o próprio direito (right) da pessoa.
E entre os romanos, havia o jus civile, direito dos cidadãos, e o jus gentium, o
direito das gentes estrangeiras, o direito dos estrangeiros. Mesmo recorrendo ao jus
gentium os romanos não perdiam seu direito próprio, o jus civile.
O conceito de liberdade, na Era Moderna, ajuda a construir a noção de direito
subjetivo. Para os antigos, a liberdade era um status; esse “status” não desapareceu,
mas foi modificado, e permaneceu através dos tempos.
1.7.1. Teorias
a) Teorias que negam a existência do direito subjetivo:
36
a.1) Teoria Formalista de Kelsen - o direito é subjetivo quando alguém tem a sua
disposição o direito objetivo, a lei;
a.2.) Teoria Objetiva ou realista de Duguit - certas vontades têm qualidades próprias que
se impõem sobre a vontade dos demais: a vontade do credor poder impor-se contra a
vontade do devedor, a do Estado pode obrigar os cidadãos a pagar impostos.
b) Teorias que aceitam a existência do direito subjetivo:
b.1.) Teoria da Vontade (Windscheid)
Com o Cristianismo, nasce o chamado “livre arbítrio”, ou seja, o homem é livre,
independente de qualquer lei, para pensar e aceitar intimamente o que desejar. Mesmo
numa prisão, o homem é livre interiormente. Não se pode obrigá-lo, por exemplo a
pensar sobre algo que não queira, a aceitar em seu íntimo algo que abomina.
O direito subjetivo é, então, o poder ou domínio da vontade livre do homem,
que o ordenamento jurídico protege e confere.
Savigny se refere assim ao direito subjetivo: “O direito considerado na vida real,
(....), nos aparece como um poder do indivíduo, e reina com o consentimento de todos.
A tal poder ou faculdade nós chamamos “direito”, e alguns, “direito em sentido
subjetivo”.
Miguel Reale diz que o direito subjetivo é uma espécie do gênero situação
subjetiva, que define como “a possibilidade de ser, pretender ou fazer algo, de maneira
garantida, nos limites atributivos das regras de direito” (as outras espécies do gênero
seriam interesse legítimo, poder e faculdade).
Assim, são situações de direito subjetivo quando nos referimos ao “direito” que
o locador tem de receber seus aluguéis; ao “direito” do Estado de desapropriar bens ou
cobrar impostos: ao “direito” que o sindicato tem de representar a respectiva categoria
profissional, o “direito” que o cidadão tem de votar; ao “direito” que todo homem tem
à vida, à liberdade, à propriedade etc.
Com base nessa teoria, seu autor diz que direito objetivo é o poder da vontade
reconhecido pela ordem jurídica.
b.2.) Teoria do Interesse (Ihering)
O convívio humano revela conflitos de interesses. Alguns destes interesses
tornam-se juridicamente protegidos pelo ordenamento. Ex: o interesse do credor contra
o devedor. Assim, o interesse juridicamente protegido é o direito subjetivo.
Essa teoria cobriu falhas que outras não cobriam, como considerar os direitos de
loucos, crianças e nascituros, que existem mesmo antes do ordenamento. Só que não
se revela apropriada. No direito penal, por exemplo, o interesse da sociedade em punir
o criminoso não pode ser contraposto com o “interesse” do criminoso, que quanto ao
crime não tem nenhuma qualidade jurídica.
“o poder da vontade humana, reconhecido e protegido pela ordem jurídica, tendo por
objeto um bem ou interesse”.
1.7.2. Conceitos
a) Direito objetivo - é o conjunto das normas jurídicas escritas e não escritas,
independentemente do momento de seu exercício e aplicação concreta. Não se
confunde com direito positivo; este é a soma do direito objetivo com o direito e o dever
subjetivos (o credor tem o direito de exigir o pagamento de uma prestação, enquanto o
devedor tem o dever de pagar, em função do comando de uma norma e também porque
existe subjetivamente esse direito para o credor e esse dever para o devedor).
O direito objetivo é toda e qualquer norma jurídica que estipula um padrão de
conduta ou comportamento modelo, que deve ser seguido.
Sujeito de direitos pode ser pessoa física ou pessoa jurídica.
b) Direito subjetivo a prerrogativa colocada pelo direito objetivo, à disposição do sujeito
do direito (o titular do direito) para socorrer-se do Poder estatal (Poder Judiciário) e
fazer valer os seus direitos objetivos.
EXEMPLOS:
1) A Lei nº 8.245/91, que rege a locação de imóveis urbanos (direito objetivo) estabelece
que se o locatário não pagar o aluguel, o locador terá o direito de pleitear a ação de
despejo (direito subjetivo). A faculdade que o locador tem de intentar a ação de despejo,
para obrigar o locatário a pagar os alugueres é chamado de direito subjetivo.
2) O art. 1.128 do CCb, consagra o direito do proprietário de livremente usar, gozar e
dispor de seus bens e de reavê-los de quem quer que injustamente os possua (direito
objetivo). Se, eventualmente, o proprietário tiver sua posse turbada (perturbada) ou
esbulhada (perda), ele terá a sua disposição à prerrogativa de pleitear junto ao Poder
Judiciário ação de reintegração de posse para reaver o seu bem (direito subjetivo).
“Na medida em que a Justiça é uma exigência da Moral, na relação entre a Moral e o
Direito está contida a relação entre a Justiça e o Direito” (Teoria Pura do Direito, p. 67).
b) Hart – visto como partidário de um positivismo moderado. Adota o realismo jurídico
– o direito como conjunto de regras eficazes no meio social. Seu foco é a atuação dos
juízes e o direito é aquele que os julgadores aplicam. Favorável à separação dos
institutos do Direito e da Moral, de forma a aceitar a presença de princípios invocados
pelo Juiz na ocasião da sua decisão que, por sua vez, decorram de uma moral
convencional.
Regras primárias e secundárias: primárias são de substância, determinam a
conduta; as secundárias são as regras de reconhecimento, alteração e julgamento, com
as quais se pode alterar o mundo pré-jurídico, composto pelas normas primárias.
b.1.) regras de reconhecimento - determinam os critérios de validade de uma norma
jurídica.
b.2.) regras de alteração – determinam quem pode legislar e quais processos devem ser
utilizados para isso;
b.3.) regras de julgamento - dão poder a indivíduos para julgar se regras primárias foram
violadas no caso concreto.
Características que distinguem a moral das demais regras sociais:
I) Importância: as regras morais se revestem de um sentimento de maior importância
para a sociedade do que as demais regras sociais.
II) Imunidade à alteração deliberada: as regras morais não podem ser diretamente
criadas, alteradas ou eliminadas por ato legislativo deliberado, ao contrário do que
ocorre com as regras jurídicas: “a moral é algo que existe para ser reconhecido e não
feito por uma opção humana intencional”.
III) Caráter voluntário dos delitos morais: para que se configure a responsabilidade moral
de um indivíduo é condição necessária que tenha o domínio de seus pensamentos e
ações, em outras palavras, voluntariedade.
IV) Forma de pressão moral: ao contrário das regras jurídicas, que baseiam tipicamente
a pressão social para seu cumprimento na ameaça de castigo físico, a pressão pela
observância das regras morais fundamenta-se na conscientização de sua importância,
partilhada pelos membros da sociedade, ou seja, seus destinatários.
II) As obrigações e deveres morais e jurídicos são sustentadas por séria pressão social:
“é grande a pressão social exercida sobre os que dela se desviam ou ameaçam desviar-
se”;
III) Ainda que haja séria pressão social para cumprimento das obrigações jurídicas e
morais, os que as cumprem não são objeto de elogio ou de destaque, é contribuição
mínima para a vida social.
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IV) Regras jurídicas e morais igualmente se ocupam mais das condutas habituais da
sociedade do que de situações especiais.
c) Bobbio – distingue as normas jurídicas das normas morais e sociais e conclui que o
critério de distinção entre as normas é a resposta à violação. A diferença entre as
normas está na sanção que o indivíduo violador da prescrição deverá receber.
Bobbio diferencia a sanção moral (que é interior, caracterizada pelo
arrependimento e remorso, e que tem pouca eficácia porque apenas os sujeitos que
respeitam a norma moral podem sentir qualquer insatisfação ao desrespeitá-la), da
sanção social (caracterizada como externa, aplicada pelo grupo social e que pode ser,
de acordo com a gravidade, reprovação, eliminação, isolamento, expulsão ou até
mesmo linchamento, desproporcional entre violação e resposta - um mesmo ato pode
ter punição diferente conforme a circunstância ou humor do grupo social).
Para Bobbio, a qualidade da norma é imposta pelo ordenamento, enquanto
conjunto de normas. Assim, a norma será jurídica se pertencer ao ordenamento
jurídico, pois é este que determina a sanção. Isto significa que, verificada a violação de
determinada norma, o ordenamento ao qual ela pertence indicará a sanção aplicável.
E tanto mais força terá quanto maior for sua eficácia.
A sanção jurídica é externa e institucionalizada, distingue-se das sanções
morais e sociais. Além disso, é regulamentada, na medida e na forma de aplicação,
atribuída a órgãos institucionalizados da sociedade.
d) Ferrajoli - Teoria do Garantismo Jurídico - completa separação entre Direito e Moral.
As exigências de justiça, equidade e moralidade não estão presentes no pensamento de
Ferrajoli.
O garantismo pressupõe a doutrina laica da separação entre direito e moral,
entre validade e justiça, entre ponto de vista interno e ponto de vista externo na
valoração do ordenamento, ou mesmo entre o “ser” e o “dever ser” do direito.
Equivale assumir um ponto de vista exclusivamente externo para os fins da
legitimação e da perda da legitimação ético-política do direito e do Estado.
A tese de que todo ordenamento jurídico satisfaz, objetivamente, alguma
“pretensão de justiça” e algum “mínimo ético” – de maneira que direito e moral
estariam conexos, e a justiça, mesmo que em mínima medida, seria um elemento
necessário do direito e uma condição de validade das normas jurídicas – significa, em
suma, o mesmo que a velha tese jusnaturalista.
No Estado legislativo o administrador está submetido à lei, o Estado
constitucional consegue submeter o próprio legislador aos termos da constituição. Mas
a constituição para Ferrajoli continua sendo direito positivo e ele não admite que o juiz
constitucional maneje os princípios para decidir com base na moral. Segundo ele, o
constitucionalismo juspositivista ou garantista que sustenta “rejeita a tentação de voltar
a confundir direito e moral, inclusive na forma do constitucionalismo ético”.
3. coação - Os preceitos morais são cumpridos não em razão de uma força externa,
como a coação, mas porque são em si valorosos.
b) Ihering – valoração da finalidade como causa da vontade – vínculo com a teoria dos
interesses (escola da jurisprudência dos interesses). Concepção histórico-social da moral
– valorização da história e da sociedade na construção do senso moral.
“Toda ordem moral universal é produto da história, da noção de finalidade,
atividade e trabalho incessantes da razão humana.
A moralidade é uma constante descoberta histórica e depende de condições
específicas da humanidade; o direito, como parte de uma moralidade em sentido amplo,
também tem como fim tornar possível a convivência social. O direito realiza esse
objetivo pela coerção; a moral pela coerção social, força coercitiva psicológica da
sociedade”.
Autores: Tércio Sampaio Ferraz Junior (Introdução ao estudo do direito), Miguel Reale
(Lições preliminares de direito), Norberto Bobbio (Teoria da norma jurídica).
- suscita questões:
Ex.: Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser
recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.
Ex.: Constituiu-se em o devedor A, por não ter feito o pagamento ao credor B no tempo, lugar e forma
convencionados no contrato.
b.4.1. Caráter jurídico das normas – estruturas sociais produzem mais normas do que as
pessoas podem suportar. Isso gera conflitos das projeções normativas.
Pelo princípio da inegabilidade dos pontos de partida – normas preponderantes
que prevalecem em casos de conflitos.
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c) Consequência jurídica - é o resultado previsto pela norma jurídica para o ato ou fato
descrito em sua hipótese.
A) Modais deônticos:
1) de obrigação – fazer algo: CC, art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará,
por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o
fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
2) de permissão – poder fazer ou não fazer algo - CC art. 14. Parágrafo único. O ato de
disposição (do próprio corpo) pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
4) de proibição: CC, art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do
próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou
contrariar os bons costumes.
a) Endonorma - juízo que estabelece uma prestação (P) ao sujeito que se encontra em
determinada situação (A).
Ex.: O vendedor, num contrato de compra e venda, após receber o preço da mercadoria, assume o
compromisso de entregá-la.
2.4.2. Elementos da norma - Não existe uma unanimidade dos juristas. Todavia, alguns
desses elementos são comuns aos estudos de quase todos eles:
a) Coercibilidade
Miguel Reale: É a possibilidade lógica de interferência da força no cumprimento
de uma regra de direito.
É a força que emana da soberania do Estado e é capaz de impor o respeito à
norma legal.
Hans Kelsen: Direito é a ordenação coercitiva da conduta humana.
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Ihering (A Luta pelo Direito) simbolizava a atividade jurídica com uma espada e
uma balança: o direito não seria o equilíbrio da balança se não pudesse contar com a
força da espada.
Críticas: contrapõe-se à realidade: muitos mandamentos jurídicos são cumpridos
espontaneamente, como os contratos particulares.
CC, art. 5o. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à
prática de todos os atos da vida civil.
d) Coação
Coagir significa forçar algo. O termo, na linguagem jurídica pode ser encarado
de duas formas:
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CF, art. 5º., II: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei.
d.2.) A coação quando utilizada para assegurar o cumprimento das leis. Aqui, a
coação é uma consequência da coerção, ou seja, os destinatários são coagidos
(forçados) a cumprir a lei, em virtude do poder do Estado.
Ex.: quando alguém permanece no imóvel após a sentença de despejo, o Estado
usa a força para fazer valer o cumprimento da lei.
e) Sanção
Nas normas morais, a sanção é apenas um comportamento de corpo social (a
repulsa, o desprezo) ou uma manifestação interna, na consciência do homem (o
arrependimento). Nas regras jurídicas, a sanção é predeterminada e organizada. Existe
junto ao corpo jurídico. Há o mandamento (não matar) e a sanção (a pena).
É a passagem da força bruta para a força jurídica na solução dos conflitos
(primeiro a vingança social, depois a vingança privada - lei de Talião, os duelos. Depois,
o Estado proíbe os duelos, assume a tarefa de distribuir a Justiça, colocando-se em lugar
dos homens para aplicar a pena àquele que transgride a norma).
Todas as leis têm uma sanção, exceto as que são meramente explicativas.
É o Estado que detém o poder da sanção. Ele disciplina as formas e os processos
de execução coercitiva do Direito.
Sanção é todo e qualquer processo de garantia daquilo que se determina em
uma regra.
Toda norma ética ou cultural obrigatória tem sanção. Entretanto, elas agem de
modo diverso em cada caso.
- Com o passar do tempo a vingança passou a respeitar certas regras (duelos, talião,
ordálias), o que imperava aqui ainda era a força.
- Para Kelsen a sanção tem função primordial para a existência da norma jurídica.
f) Generalidade/abstração:
A norma jurídica não nasce para regular casos individuais, mas sim, abrange a
todos de modo geral, de forma abstrata.
Uma prescrição geral é mais adequada a realizar o fim da igualdade entre os
destinatários. Não implica dizer que toda norma individual seja privilégio.
A abstração está ligada à certeza dos efeitos previstos na norma para um
comportamento.
A generalidade da norma garante igualdade, a abstração assegura certeza.
b.3.2.) As leis complementares - são aprovadas pela maioria absoluta dos membros de
cada Casa - metade mais um do total dos membros.
b.3.3.) Emendas constitucionais - só são aprovadas pela maioria de três quintos dos
membros de cada Casa (CF, art. 60, § 2.º)
e) Publicação - Visa dar conhecimento a todos de que a ordem jurídica recebeu norma
nova. Visa impedir que alguém possa alegar ignorância da lei. É condição de validade da
lei. As leis emanadas do Congresso Nacional são publicadas no Diário Oficial da União,
das Assembleias, no Diário Oficial do Estado, das Câmaras Municipais, no Diário Oficial
do Município.
g) Da vigência da norma
As normas jurídicas têm vida própria: nascem, existem, alteram-se parcialmente
e morrem. Importante ver que o sentido estrito de “lei” é: “apenas a norma jurídica
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g.1.)Término da Vigência
g.1.1.) normas permanentes (regra)
g.1.2.) normas temporárias (exceção) - Medidas Provisórias, incentivos fiscais, leis
subordinadas a estados de guerra, de sítio, calamidade pública etc.
a) Primeira classificação
a) Quanto à hierarquia:
a1) Regras Constitucionais;
a2) Leis Complementares (aprovadas por maioria absoluta – art. 69 da CF/88);
a3) Leis Ordinárias (aprovadas por maioria simples – art. 59, III da CF/88);
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f) Quanto à aplicabilidade
f.1) Normas jurídicas autoaplicáveis - aquelas que entram em vigor independentemente
de qualquer outra norma posterior. Apresentam todos os requisitos necessários,
entrando em vigor na data da publicação ou em prazos estabelecidos. São a maioria das
normas jurídicas que temos.
f.2) Normas jurídicas dependentes de complementação - as que expressamente
declaram sua complementação por outra norma –
Ex. A CF assegura aos servidores públicos um direito de greve (artigo 37, inciso VII),
vedando-o apenas aos militares (artigo 142, parágrafo 3º, inciso IV), conforme lei
específica, ainda não editada. (STF já decidiu que o direito de greve dos servidores
públicos é um direito fundamental e veiculado por norma de aplicabilidade imediata,
podendo ser fruído mesmo inexistente lei específica regulamentando seu exercício -
ARE 654432 (agravo em RE), com repercussão geral reconhecida).
f.3) Normas jurídicas dependentes de regulamentação - são as que geralmente
designam quais órgãos do Poder Executivo detalharão e definirão sua aplicação e
executoriedade. São instituídas através de decreto regulamentar - ex. o decreto
99.648/90 - que regulamentou a Lei 8.036/90, tratando do FGTS;
Introdução
- Filosofia – discussão é feita na filosofia dos valores – vistos como entidades (objetos)
diferentes dos objetos reais.
- Objetos reais: são, existem.
Valores: valem (forma essencial não é um ser, mas um dever ser – a existência se
expressa pela validade).
- Assim: valer é sempre valer para algo, alguma coisa.
1) a existência ou vigência - para que a norma possua existência e validade formal, basta
que sejam implementados os requisitos formais.
2) a validade formal - basta que sejam implementados os requisitos formais – processo
legislativo.
3) a validade substancial - deve existir uma coerência do ato normativo com as normas
substanciais a ele supraordenadas.
4) a validade tout court – (mesmo assim, ou ainda assim) o ato normativo deve ser estar
provido de validade formal e de validade substancial).
Da mesma forma, uma norma pode ter vigência, mas não ser dotada de eficácia,
posto que vigência e eficácia também constituem características diferentes da norma
jurídica.
c) força da norma - Força ou vigor, é uma qualidade da norma que diz respeito a sua
força vinculante, isto é, à impossibilidade de os sujeitos fugirem de seu império, de sua
incidência.
Não é o vigor de vigência, mas a força vinculante da norma, aquela que, mesmo
já revogada a norma ainda mantém seu efeito, a que chamamos de ultraatividade, a sua
força vinculante, mesmo que já retirada do ordenamento.
Ex. lei considerada inconstitucional pelo STF, mas não determinada a suspensão
da eficácia pelo Senado Federal, continua a ser aplicada pelos tribunais.
Introdução
a) A constitucionalização do ordenamento jurídico consolida a supremacia das
constituições e a força normativa dos princípios e valores nelas contidos.
b) Fenômeno observado desde as mudanças sociais que ocorreram no século XX, com
a transição do Estado Liberal para o Estado Social. Surge um novo direito constitucional.
c) Fatores:
c.1.) Busca pela igualdade material – ainda que fosse lema do liberalismo só foi
alcançada formalmente.
c.2.) Aproximação das ideias de constitucionalismo e de democracia – faz aparecer uma
nova forma de organização política com definições diversas: Estado democrático de
direito, Estado constitucional de direito, Estado constitucional democrático, entre
outros.
2.7.4. Conceito – efeito expansivo das normas constitucionais, cujo conteúdo material
e axiológico se irradia, com força normativa, por todo o sistema jurídico. Os valores, os
fins públicos e os comportamentos contemplados nos princípios e regras da Constituição
passam a condicionar a validade e o sentido de todas as normas do direito
infraconstitucional (Luis Roberto Barroso).
2.7.5. Fundamentos
a) dignidade humana - princípio fundamental inserido na Constituição – um dos
fundamentos da República (art. 1°, IlI). A dignidade humana impõe limites e atuações
positivas no atendimento das necessidades vitais básicas, expressando-se em diferentes
dimensões.
b) direito à igualdade - O direito à igualdade se tornou um direito-guardião do Estado
social (Flávia Piovesan)
c). Aplicação do direito nas relações horizontais. A interpretação da Constituição a
partir do reconhecimento de que o direito ultrapassa o que está pré-determinado. A
interpretação da norma jurídica para aplicação da lei pressupõe um esforço dos
aplicadores e defensores do direito de maneira diferenciada. Não bastam os modos
tradicionais de solução de conflitos, é necessário entrar no conflito, fazer parte dele,
requer esforço na argumentação frente ao conhecimento de normas técnicas.
c) Consequências práticas
c.1.) como filtragem constitucional: toda a ordem jurídica deve ser lida e apreendida
sob a lente da Constituição, de modo a realizar os valores nela consagrados. Toda
interpretação jurídica é também interpretação constitucional.
Aplica-se a Constituição:
c.2.) Diretamente - quando uma pretensão se fundar em uma norma do próprio texto
constitucional.
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Ex: o pedido de nulidade de uma prova obtida por meio ilícito (CF, art. 5°, L VI);
c.3.) Indiretamente - quando uma pretensão se fundar em uma norma
infraconstitucional, por duas razões:
c.3.1.) antes de aplicar a norma, o intérprete deve se certificar se ela é compatível com
a Constituição; se não for, não deve aplicá-la.
c.3.2.) ao aplicar a norma, o intérprete deverá orientar seu sentido e alcance à realização
dos fins constitucionais.
a) Características
Antigo Código Civil perdia terreno no campo do direito privado. Várias leis
específicas foram editada, formando microssistemas autônomos em relação ao Código:
alimentos, filiação, divórcio, locação, consumidor, criança e adolescente, e sociedades
empresariais.
Deu-se a "descodificação" do direito civil, sem grandes alterações depois da
promulgação de novo Código Civil em 2002, com vigência a partir de 2003.
2.7.8. Jurisprudência
REsp 1602907 / PR RECURSO ESPECIAL 2016/0137638-9. Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN. Segunda Turma. J. 27.06.2017
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL.
LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. PROGRAMA NACIONAL DE
REFORMA AGRÁRIA. RETIRADA IMOTIVADA DE ENTIDADE FAMILIAR. DIREITO SOCIAL
À MORADIA. AUSÊNCIA DE OMISSÃO. ART. 535, II, DO CPC DE 1973.
1. Não se configura a ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil, uma vez que
o Tribunal a quo julgou integralmente a lide e solucionou a controvérsia, como lhe foi
apresentada.
2. Cuida a hipótese sob exame de Ação proposta pelo Ministério Público Federal com o
escopo de obstar a retirada imotivada em 24 horas, pelo Incra, de entidade familiar,
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