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indicados para disciplina. Deve apenas ser visto como um guia de estudo, pequenos
apontamentos/uma síntese esquemática das matérias abordadas na tutoria de História do
Direito Português, sem prejuízo da necessidade de serem aprofundadas pelos alunos, no seu
estudo individual.
O decreto de 3 de Fevereiro de 1789 criava uma comissão para a revisão dos trabalhos até então
concluídos → desta comissão resultou a censura dos trabalhos de António Ribeiro dos Santos*
*Ribeiro dos Santos é normalmente conhecido/destacado pela famosa discussão sobre o regime
político (despotismo esclarecido para Mello Freire, monarquia limitada para RS) e as reformas
necessárias ao direito penal (Mello Freire mais conservador; RS mais adepto das ideias
humanitaristas e contrário à pena de morte)
Os projetos nunca entraram em vigor e ficaram como vestígio da tentativa falhada de reformar
o direito português.
O chamado "despotismo esclarecido" é o termo mais comum utilizado para designar a prática
dos monarcas que, apesar de reinarem de forma absoluta, ainda implementaram reformas
político-económicas baseadas nas ideias iluministas vigentes no período
Monarquia limitada → monarquia constitucional.
Em Portugal, a Codificação só teve início após a Revolução Liberal de 1820. Entre o final do século
XVIII e os meados do século XIX, instalou-se na Europa e também em Portugal o modelo de
Estado liberal e representativo.
Este liberalismo pode-se distinguir em pelo menos duas conceções:
-Liberal, defesa da liberdade do indíviduo, frente ao Poder, sendo dela a doutrina dos
direitos individuais e da separação de poderes
-Democrática, soberania popular, domínio do poder pela vontade coletiva do povo,
igualdade.
Apesar de o Liberalismo defender a liberdade e a garantia das liberdades, pressupondo a
existência de uma sociedade autónoma face ao Estado, que integra os indivíduos, detentores de
direitos individuais inatos, que estes adquirem antes de se tonarem cidadãos, rapidamente
surgiram entraves a esta ideia de liberdade, pois se percebeu que haveria sempre uma
desigualdade entre aqueles que detinham propriedade fundiária e capital e aqueles que tinham
apenas como propriedade o seu trabalho. Para além disso, a própria ideia de Estado mínimo não
se concretizou totalmente, já que ele continuou a intervir em diversas funções.
O Estado representativo erigiu como valores fundamentais: a liberdade, a igualdade perante a
lei, a segurança e a propriedade, como resultava da Constituição de 1822.Esta realidade teve
várias consequências a nível político, económico e social, já que houve a abolição de privilégios,
de limitações à propriedade privada, de penas diferenciadas em função do estatuto social, de
restrições no acesso a cargos públicos, das corporações de ofícios, da servidão e outras formas
de restrição à liberdade.
Pré-codificação doutrinária: obras de juristas cujos manuais estão concebidos segundo um plano
e uma intenção críticas que anunciam e precedem a essa codificação legislativa. Por ex. Coelho
da Rocha, Ferrer Neto Paiva e José Dias Ferreira.
Alteração da legitimidade legislativa: Esta ideia de Estado representativo, criou uma vontade
legislativa que emanava de uma assembleia, eleita por todos os que podiam votam,
representativa da comunidade política. Era a essa assembleia que competia legislar, sem
interferência dos demais poderes, nomeadamente do poder judicial. A lei era agora vista como
a vontade do povo, que era criada pelos seus representantes.
Durante esta época houve uma grande crítica à atividade dos juízes e dos juristas pelo facto de
esta ser arbitrária, quando, na verdade, o sistema jurídico devia ser constituído por leis claras
que obrigassem os juízes a cumprir estritamente a lei, daí ser necessário uma reforma judiciária.
Pandectistica
O objetivo da pandectistica foi reunir todo o universo jurídico de forma sistemática e abstrata.
Verificou-se na Pandectistica o retorno a um novo positivismo aceitando-se um critério que não
está longe do adotado pelo jusracionalismo. Com simples perspetiva científica, procura-se
edificar um sistema completo e fechado, onde se encontra resposta para todos os problemas
jurídico, só que esquecia a dinâmica iniludível das realidades político-económicas, sociais e
culturais. A este fenómeno deveu-se a criação de uma extensa dogmática jurídica do direito
privado.
Teoria das instituições: todas as regras positivadas se podem reconduzir a uma instituição
(família, casamento, direito obrigacional, direito real, etc).
Direito administrativo
A codificação desta área foi influenciada pelas mutações políticas, ao estar dependente da
divisão administrativa que era feita do território português, dos seus órgãos, da maior ou menor
descentralização.
Só com a revolução setembrista é que surgiu em 1836 o primeiro código administrativo com
uma feição descentralizadora, em que PT estava dividido em distritos, concelhos e freguesias,
administrados por cidadãos eleitos (Manuel da Silva Passos). Mais tarde, foram feitas várias
alterações a esse código, do qual surgiu o Código Administrativo de 1842, com uma feição
centralizadora, em que PT estava dividido em distritos e concelhos, administrados por uma
pessoa nomeada pelo Governo (Costa Cabral). Em 1867 surgiu uma lei descentralizadora, que
vigorou durante pouco tempo, e em 1870 surgiu um novo código, que também vigorou durante
pouco tempo. Assim, diz-se que o código de 1842 vigorou até 1878.
Em 1878 e em 1886 surgiram novos códigos. Em 1895 foi criado um código de feição
centralizadora.
Direito comercial
1833- Código Comercial (Ferreira Borges). Surgiu devido à necessidade de pôr fim à dispersão
legislativa e às incertezas jurisprudenciais.
Código dividido em 2 partes:
1. A primeira parte- comércio terrestre
2. A segunda parte- comércio marítimo
Código baseado no Código Comercial francês e no projeto do Código Comercial italiano e Código
Comercial espanhol.
Este código foi um avanço no direito mercantil português, no entanto esteve longe de realizar
obra satisfatória. Houve um excessivo apego à legislação anterior, que levou a que se
ignorassem as soluções evoluídas já existentes. Tinha muitas definições e qualificações. Este
código não foi muito virado para o futuro. Isto foi evidenciado pela significativa legislação avulsa
que começou a surgir brevemente, havendo novamente a necessidade de uma reforma, que só
chegou a ser feita em 1888. Este diploma enquadra-se na linha de codificações mercantis, há
que deixo de disciplinas uma categoria profissional e passou a abrange atos de comércio em si.
Este Código continua em vigor, mas já com muitas alterações (subsistem 275 artigos, dos 749
iniciais).
Direito penal
O primeiro código penal foi de 1852. Este código teve influência de códigos estrangeiros,
nomeadamente do código francês de 1810, do código brasileiro de 1830 e do código espanhol
de 1844. Assim, o código penal português não foi quase reflexo da tradição portuguesa. Apesar
deste código ter sido um grande avanço quando comparado com as Ordenações, esteve ainda
estava atrasado e desajustado relativamente às exigências da época.
Entretanto houve a Reforma Penal e das Prisões de 1 de julho de 1867, que aboliu a pena de
morte por crimes civis, e a Nova Reforma Penal de 14 de junho de 1884, influenciada
relativamente ao tema das penas pela teoria de Welker, que vieram alterar o código penal. Na
verdade, os diplomas relativos a estas reformas foram incorporados no código, o que culminou
na aprovação do código de 1886. Só em 1982 é que se promulgou um novo código que substitui
o código de 1886.
Direito civil
O primeiro CC português assentou no projeto de António Luís de Seabra, que foi aprovado em 1
de julho de 1867. O nosso CC afastou-se da divisão orgânica das codificações da época, que ainda
seguiam o plano das Institutiones romanas, de acordo com a adaptação feita pelo CC francês.
Seabra decidiu que o CC devia basear-se no sujeito ativo da relação jurídica, sendo todo o seu
regime organizado com base nas matérias jurídicas mais importantes que estavam diretamente
relacionadas com o sujeito: o nascimento, ou seja, a capacidade jurídica, os direitos de que era
titular, etc. Assim, o CC ficou dividido em 4 partes: 1) Capacidade civil; 2) Aquisição dos direitos;
3) corresponde às normas relativas ao gozo e ao exercício de direitos; 4) Ofensa dos direitos e
da sua reparação. Assim, o CC teve uma feição muito individualista, na medida em que regulou
as matérias apenas do ângulo do individuo, o que refletiu a orientação jusnaturalista racionalista
e a orientação individualista liberal de que Seabra era adepto. O CC tomou como base a diretriz
de que “cada um trata de si, constando que deixe salava a liberdade dos outros”. Esta ideia
liberalista foi recebida no CC, contudo com moderação já que foi sempre limitada pelo senso
prático, pela moral e pela justiça.
Uma das temáticas do CC que gerou grande debate e controvérsia foi a questão do casamento,
que até aí era vista como uma matéria exclusiva do direito canónico, mas que passou a regulada
no CC, já que consagrou o casamento civil.
O CC satisfez as exigências de justiça, utilidade, praticabilidade, certeza e estabilidade que o
ambiente histórico em que surgiu ditou. No entanto este CC teve alguns defeitos, sendo um
deles o excesso de originalidade, o que levou a que certas disciplinas fossem reguladas de uma
forma pouco feliz e surgissem também duvidas e omissões, que se teriam evitado se o legislador
não se tivesse afastado dos modelos doutrinais e legislativos já existentes no estrangeiro. Vem
o tempo o CC deixou de responder a muitas as exigências da época como é o caso do direito à
imagem, ao nome, das fundações, etc. Para além disso, com o passar do tempo começou a haver
uma quantidade significativa de legislação avulsa que estabeleceu regimes contrários ao do CC.
Tudo isto levou à necessidade de substituir este código, realidade que só ocorreu com a
promulgação do Código de 1966.
O art 16º do código de Seabra refletiu as ideias jusnaturalistas dos processos de codificação e
dos próprios codificadores, no sentido de os códigos positivarem o Direito natural. Segundo a
Regente, foi lógico adotar o Direito natural como instrumento para a resolução dos casos que
não o pudessem ser pela letra e espírito da lei ou pela analogia, embora, a determinação do que
pudessem ser os princípios de Direito natural ficassem necessariamente ao arbítrio dos juízes.
Direito processual
Para substituir o direito processual das Ordenações Filipinas, concentrado nos livros III e V,
publicaram-se no século XIX a Reforma Judiciária, a Nova Reforma Judiciária e a Novissima
Reforma Judiciaria, que abrangiam o processo penal e o processo civil.
Em 1876 houve a primeiro Código de Processo civil e em 1905 o Código do Processo Comercial.
O mais característico do sistema processual é que se configurou o processo como um
instrumento ao serviço dos particulares, que podiam conduzi-lo como quisessem, ficando o juiz
obrigado a adotar uma atitude passiva. Assim, não se torna lícito o tribunal tomar iniciativa de
atos e diligências tendentes ao apuramento da verdade.
No entanto, houve uma modernização no direito processual civil e comercial, devido às várias
reformas que se foram processando e que culminaram com a reunião da maioria das normas
relativas ao direito privado num único corpo legislativo: o Código do Processo Civil de 1939.
A estrutura do processo civil foi inspirada nas ideias liberais, o que levou a que houvesse a
afirmação do princípio do dispositivo, da passividade do juiz e da verdade formal.
O ensino do direito
Fusão das faculdades de Leis e dos Cânones na moderna faculdade de Direito
O período a seguir às reformas pombalinas foi bastante conturbado no setor do ensino
universitário, como reflexo da crise que o País atravessou nessa época (invasões francesas; a
cisão política interna consequente ao movimento vintista, que desembocou na guerra civil).