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1.

ESCOLA HISTÓRICA DO DIREITO ALEMÃ

 HISTÓRIA/ORIGEM
A Escola Histórica do Direito ou Historicismo Casuístico surgiu no séc. XIX na
Alemanha. Para os pensadores da Escola Histórica como Gustav Hugo, o fundador
(1764-1844) e o maior expoente Friedrich Carl von Savigny (1779-1861) discípulo de
Hugo, o direito era mutável ao longo da história, vivo e consuetudinário. Foi uma
escola do direito que criticou o jus naturalismo racional iluminista do séc. XVII, que
determinava o direito como algo universal, imutável, independentemente do tempo e
espaço, e oriunda da razão humana.

 TESE / IDEIAS DA ESCOLA E PROPULSORES


A partir das ideias e estudos de Hugo, seu discípulo Savigny tem como principal
entendimento que o direito não é imutável, mas sim algo vivo. Tendo em vista essa
opinião surge sua crítica a codificação do direito, codifica-lo significa debilitar seu
movimento, sua vida (fossilização) e artificializa-lo. Infere-se que Estado na pessoa do
legislador não cria o direito, isto é, sua real fonte advém da consciência popular
(Volksgeist) e necessidades que se materializam pelos costumes de determinado povo.
Os adeptos da Escola Histórica do Direito tinham para si que o Direito não existiria
como um fenômeno imutável e universal pois, como produto histórico, cada Direito
expressaria em sua essência uma individualidade própria, quer dizer, o “espírito” de
cada povo, e estaria em constante mutação acompanhando as transformações sociais.
A origem do Direito seria encontrada, em um primeiro momento, no direito
consuetudinário. Em um segundo momento ela surgiria por força da jurisprudência, aqui
compreendida como ciência da lei. O Direito, então, seria o produto de forças sociais
internas e nunca produto do arbítrio do legislador. Interpretar as leis exigiria a
consideração da vinculação da lei ao papel orgânico do instituto jurídico.
A Escola Histórica do Direito logrou demonstrar que as ordens jurídicas são produtos
culturais, quer dizer, espelham as estruturas sociais dos grupos a que servem e são, ao
mesmo tempo, resultados dessas estruturas sociais.
Os romanistas, que tinham em Friedrich Carl von Savigny um de seus mais afamados
representantes, defendiam que a recepção do Direito Romano corresponderia ao
“espírito” do povo alemão. Os Germanistas, por sua vez, que tinham em Otto von Gierke
seu representante mais famoso, criam que a recepção do direito alemão medieval
corresponderia ao "espírito" do povo alemão.

 CRÍTICAS
Ao negar que o Direito poderia ser produzido por outras forças que não o “espírito do
povo”, a Escola Histórica do Direito idealizou a formação do Direito. O Direito não é
apenas um produto cultural, mas também um produto de disputas de interesses.
2. ESCOLA HISTÓRICA DE EXEGESE

 HISTÓRIA
A Escola da Exegese surgiu no início do século XIX em meio ao caos político e social
da França revolucionária. Nessa época, as diversas trocas de governo no Estado Francês,
principalmente durante o período do Terror, provocaram uma grande desordem no
ordenamento jurídico deste país, o que causava grandes prejuízos aos negócios da classe
social mais favorecida pela Revolução: a burguesia.
Contudo, com a ascenção de Napoleão Bonaparte ao poder, a burguesia patrocinou a
criação de um código civil que consolidou as conquistas burguesas da Revolução e que
trouxe ordem e segurança ao ordenamento jurídico francês.

 TESE / IDEIAS DA ESCOLA E CARACTERÍSTICAS


O sistema legal da França pré-revolucionária impulsionava essa instabilidade jurídica,
pois ele era baseado no direito consuetudinário, o que dava margem à arbitrariedade dos
juízes, haja vista a inexistência da lei escrita. Entretanto, em 1804, foi outorgado o Código
Civil francês e, com ele, nasceu a Escola da Exegese. Esta dava uma grande ênfase na
importância da lei e tal característica foi fundamental para que esse código pudesse dar
maior segurança jurídica ao cidadão comum.
O pensamento da Escola é decorrência de um estatalismo acrítico, originado por um
entendimento rígido da teoria da separação dos poderes, entendendo que ao poder
legislativo cabe representar a vontade do povo (vontade geral) e fazer as leis de acordo
com essa vontade. Ao poder judiciário cabe dizer o direito aplicável ao caso concreto;
direito que ele diz, mas não elabora. Isto conduz a uma visão legalista: a passividade do
juiz leva ao preenchimento da necessidade burguesa de segurança jurídica. Esse
entendimento da separação dos poderes conduz também à aproximação do direito com as
ciências. Nesse quadro, à doutrina restava o papel de transformar o conjunto da legislação
vigente em um sistema do qual seria retirada a premissa maior do silogismo judiciário.
Assim, para que existisse um sistema formal, três condições eram necessárias:
completude, coerência e ausência de ambiguidades. Entretanto, essas condições eram
pressupostas pelo art. 4º do Código Napoleônico que obrigava o juiz a tratar o sistema
jurídico como um sistema lógico formal,
Vários jusconsultos renomados, como Chaïm Perelman e Bonnecase, dividem a
Escola da Exegese em três fases. A primeira ocorreu desde a outorga do Código
Napoleônico até meados da década de trinta do século XIX. Durante esse período,
houveram a instauração da Escola da Exegese e a definição das suas características
elementares. A segunda fase iniciou-se logo após a primeira e durou até os anos oitenta
do século XIX. Nela, ocorreu o período áureo da Escola da Exegese, sendo publicadas,
nessa época, as principais obras dessa corrente hermenêutica. A última fase deu-se de
1880 até os últimos anos do século XIX, quando ocorreu o declínio da Escola da Exegese
e a ascensão de um novo jusnaturalismo
A escola de exegese apresenta distintas características dentre elas, podemos destacar:
a idolatria da lei, a negação da existência de lacunas no Código Napoleônico, a redução
do direito à lei e a visão do Estado como única fonte do direito, ou seja, o monopólio do
direito estatal legislado (ou, simplesmente, da lei), isto é, passa a ser a lei a única fonte
de direito admitida. Dentre essas contribuições, podemos destacar: a ênfase na
importância da lei na busca pela segurança jurídica, a importância na criação do conceito
de estado democrático de direito e o fortalecimento do princípio da legalidade.

 CRÍTICAS
Na França, o processo de codificação gerou a ilusão de um direito fruto da vontade
do legislador, sendo desnecessário o recurso à história para compreendê-lo. Assim, a
Escola não consegue compreender as ligações entre o direito positivado e a sociedade,
ou, ainda, entre o direito e a história.
De outro modo, essa conceção prendia os juristas aos sentidos já estabelecidos e
considerados corretos para o texto, já que esses sentidos não deveriam mudar com o
tempo. Isto acabava por negar a historicidade do direito e impedir a adaptação das velhas
formas aos novos fatos.
Outra crítica à Escola é dirigida ao seu imperativismo, isto é, ao fato de considerar o
direito como uma ordem produto da vontade de certos homens (no caso, o legislador). O
equívoco dessa visão está em não perceber que o Direito é formado social e
historicamente, ou seja, que o direito positivo só é possível porque conformado às
aspirações sociais, às forças que definem o desenrolar da história, em uma dada época.

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