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CADERNO DE DIREITO CIVIL.

Bruno Miragem-

1. A NARRATIVA DO DIREITO CIVIL CONTEMPORÂNEO:

1.1) Multiplicidade conceitual do vocábulo DIREITO.


O próprio vocábulo “DIREITO” remete a diversas concepções e pode ser entendido de diversas formas;
direito como significando lei, direito como moral, justiça, etc.
Sendo assim, o Direito é, em suma, a forma como a sociedade dispõe sobre a ordenação das relações
intersubjetivas.

1.2) O que é o Direito Civil?


O Direito Civil tem a sua origem histórica no Direito Romano, àquela época já tinha por objetivo regular
as relações intersubjetivas, porém era aplicado apenas aos cidadãos de Roma. Paulatinamente,
conforme o seu desenvolvimento, criaram-se institutos com o fito de organizar a vida cotidiana do
indivíduo, ou seja, as relações pessoais e patrimoniais que constam do nascimento com vida
(personalidade jurídica) até a morte (sucessões).
Sendo assim, o Direito Civil estuda as normas jurídicas de direito privado que regulam as relações
intersubjetivas. Emanadas pelo Estado, com a finalidade de regular a complexidade da vida civil, do
nascimento até a morte, desde aspectos mais íntimos (concepção), a aspectos menos íntimos
(contratos).

1.3) O Direito Civil ao decorrer da vida:


● Nascimento- Direitos da personalidade; e até mesmo na concepção.
● Família- Direito da família;
● Ao tornar-se capaz (maioridade)- Direito das obrigações; Direito de Empresa
● Ao fim da personalidade- Direito das sucessões.

1.4) As três dimensões do Direito Civil:


● Dimensão ética- Viver honestamente;
● Dimensão de proteção- Não causar prejuízo a outrem;
● Dimensão funcional- Dar a cada um o que é seu.

1.5) Aspectos metodológicos do Direito Civil:


Método filosófico:
Esse método se volta a pensar no futuro do Direito e na melhor forma de normatizar as relações
intersubjetivas. Por essas razões adota-se uma postura crítica ao direito vigente, em busca de aprimorá-
lo de acordo com as necessidades sociais.
Método dogmático:
Esse método se volta a observar o direito vigente, não pensando em transformá-lo, mas buscando a
sua melhor utilização, que se dá, principalmente, por meio da hermenêutica.

Método comparativo/histórico:
Esse método observa a evolução histórica da norma de acordo com as mudanças sociais, históricas,
econômicas, ou seja, a forma como a norma jurídica se modifica de acordo com os acontecimentos
sociais.

2. A CODIFICAÇÃO DO DIREITO PRIVADO:


Inicialmente é válido estabelecer o que é um Código- O Código é uma lei que versa de forma isolada
e integral sobre diferentes regras jurídicas de uma mesma natureza do direito positivo, agrupadas
em um critério sistemático. Inicialmente tinha o objetivo de centralizar todas as normas em vigor nesse
texto único.

Compilação: Tem por objetivo reunir uma determinada quantidade de regras em um corpo, com o fito
de apenas essas normas passar a ter validade. São reunidas sem um critério sistemático, de forma
fragmentada e não cria novas leis, reúne as normas do passado. Ex. o Corpus Iuris Civilis de Justiniano.
Recepção: Se dá quando um ordenamento jurídico estrangeiro é recebido com direito próprio. Ex.
Argentina com o projeto de Texeira de Freitas.
Consolidação: Essa técnica justapõe as normas vigentes para articulá-las sob uma determinada
orientação (ordem cronológica), sem pretensões criativas na matéria, como faz a codificação. Ex.
consolidação das leis civis com Texeira de Freitas.

2.1) Argumentos favoráveis X desfavoráveis a Codificação:

Favoráveis: desfavoráveis:
- A consolidação permite a unificação do direito -vigente
PARA de um
ALGUNS A CODIFICAÇÃO PERMITE
país por um critério de uniformidade; possibilitando a unidade
FOSSILIZAÇÃO DAS RELAÇÕES JURÍDICAS
política da nação. SEU DESENVOLVIMENTO ULTERIOR;

- PARA OUTROS,
- FACILITA O ESTUDO SISTEMATIZADO DO DIREITO, QUE PERMITIRIA A ESTAGNAÇÃO DO DIREITO
SE MOSTRA DE FORMA CIENTIFICAMENTE CIVIL;
GARANTINDO UMA MAIOR ESTABILIDADE NAS RELAÇÕES
JURÍDICAS;
- POR ATENDER A EXIGÊNCIAS DA VIDA SOCIAL APENAS
NO INSTANTE EM QUE SE ESTABELECE, SE TORNARIA
DESARRAZOADA;
- PERMITE A PASSAGEM DO DIREITO PENSADO NA
DOUTRINA PARA O DIREITO POSITIVADO.
-

Slide:

Os Códigos, ao contrário do que os argumentos desfavoráveis pensam, não se tornariam fossilizado


pois, segundo a concepção que temos hoje, ele deve ser feito para durar (o que permite estabilidade
jurídica), mas não
deve ter a pretensão de ter preservação perpétua, como se pensava inicialmente. Isso porque a sua
interpretação deve ser a luz dos valores de cada época.

2.2) Antecedentes históricos:


O Brasil, por ter sido colônia de Portugal por muito tempo, é um galho da árvore do Direito Português,
além dele, o Brasil recebe influência de outros sistemas jurídicos, como o Alemão, Francês e Italiano,
bebendo da fonte dos grandes sistemas jurídicos europeus. Todos esses sistemas, porém, tem sua
origem no Direito Romano.
Constata-se que cerca de 4/5 do Código Civil de 1916 é produto da cultura romana, seja de influência
direta do Corpus Iuris Civilis, seja pelas demais legislações que o Brasil se inspirou, de base também
romana.

O Direito Romano como origem histórica do Direito Civil:


O Direito Romano aqui mencionado refere-se ao conjunto de normas, decisões e princípios
desenvolvidos em Roma- do Principado até o fim do Império. Vale mencionar que esse direito, em
especial dos prudentes (juristas), não se encontrava unificado em um ordenamento sistemático, qual
temos hoje.
● Direito pré-clássico:
Marcado pelo intenso formalismo; fase de construção do ius civiles, segundo a jurisprudência dos
jurisconsultos.

● Direito clássico:
Desenvolve-se ao lado do ius civilis, o ius gentium e os ius honorarium (dos preatores urbanos e
peregrinos)

● Direito pós-clássico:
Concentra-se a maior fase de produção do direito, a partir de decretos e constituições imperiais.
Desaparece a distinção ius civiles e ius honorarium. Há uma maior vulgarização do direito, pelas suas
compilações e mesclas com o direito comum. No Império Romano do Ocidente as leis se confundem
com o direito germânico. No Império Romano do Ocidente ocorre um dos maiores processos de
compilação- o Corpus Iures Civilis de Justiniano.
Percebe-se a falta de uma preocupação em sistematizar esse direito sob uma ótica coerente ou
racional, o que de fato não tira seu mérito já que inspirou até os dias atuais (CC/16 e CC/02) boa parte
das instituições e disposições- Pessoa, usucapião, contrato, delitos, etc.

Após a queda do Império Romano o direito romano, instaura-se a Idade Média, e ele deixa de ser
amplamente utilizado e é substituído pelo direito canônico e consuetudinário.
A sua “redescoberta” se dá em meados do séc. XI, na Idade Moderna, com a Universidade de
Bolonha, pela sua necessidade de utilização frente ao desenvolvimento do comércio, escola dos
glosadores. No movimento de codificação moderna destacam-se alguns diplomas legislativos- como o
Código da Prússia e da Áustria.

2.3) As codificações civis modernas- Codificação francesa:


Há vários movimentos de compilações e organização das legislações realizadas ao longo dos séculos,
com o objetivo de organizar e centralizar as normas.
Porém, é o Código de Napoleão de 1804 o marco para as demais codificações civis, tanto pela sua
forma (divisão em livros, títulos, capítulos, seções), quanto pelo seu conteúdo (pessoas, bens e
PROPRIEDADE), que fez valer a prevalência de uma fonte - a lei. Tudo isso foi resultado da mudança
no quadro social e político francês, incentivado pelos ideais iluministas e com colaboração (política) do
Imperador.
O Código segue a tradicional distinção realizada por Gaio (Pessoas, coisas, ações). Ademais, a técnica
legislativa empregada, marcada pela clareza e correção (técnica da casuística- onde o legislador
especifica por fatispecie as hipóteses normativas e, da mais forma mais clara possível, a aplicação das
normas (subsunção), fez com que esse Código inspirasse tantos outros, como o CC/16 no Brasil, outras
codificações da América Latina e do estado da Lousiana nos EUA.

O Direito Romano/Canônico cede espaço para as legislações comerciais, expressas nos Códigos
Comerciais, e nas legislações sobre as relações intersubjetivas, a partir de um paradigma calcado na
propriedade privada, expressa nos Códigos Civis.
Esse Código traz uniformidade ao direito francês- uniformidade de fontes, cuja principal seria a lei;
uniformidade de entendimento, afirma valores da incipiente burguesia e aqueles forjados ao longo do
desenvolvimento histórico do direito.

Críticas- Código burguês, de alto teor individualista, por isso preza tanto pela propriedade privada,
liberdade contratual...
Sistema completo, fechado e autossuficiente.

2.4) A Codificação Alemã:


Após o sucesso da Codificação francesa, um grande debate se deu na Alemanha, entre Savigny e
Thibaut, para saber se, e como, deveria se dar o Código Civil da Alemanha. Thibaut sustenta a
existência de um direito racional de caráter universal, por isso é contrário a aplicação do Direito Romano
na Alemanha, por considerá-lo afastado das características do povo alemão; Savigny, por sua vez, não
concorda com a ideia de um direito de caráter universal, mas fruto do espírito do povo.
Assim, uma escola de pensamento jurídico se sucede na Alemanha, os Pandectistas, que estudam os
principais texto do Direito Romano, que de forma tardia é imposto aos povos alemães. Essa escola
marca o desenvolvimento da Ciência jurídica alemã que a partir do seu amplo desenvolvimento, vem a
desembocar no Código Civil Alemão.
Promulgado em 1896, com vigor em 1900, com forte influência do jurista Windscheid). O Código
Alemão, mais conhecido como BGB, deve a pandectista a sua própria estrutura (que o Brasil copia ao
CC/02), incluindo: I) uma Parte Geral; II) o direito das obrigações; III) o direito das coisas; IV) o direito
de família; e V) o direito das sucessões.
Dentre as características do direito alemão, destaca-se a preocupação conceitual- presente na técnica
legislativa da Parte Geral e na precisão das definições- e a técnica legislativa de cláusulas gerais,
adotadas no Brasil ao CC/02, que permite que, a partir de conceitos amplos, o jurista, no momento da
interpretação, atualize e modifique o direito sem mudar, propriamente, a lei. Além da adoção de uma
linguagem técnica que dificulta o acesso ao seu conteúdo.

A partir dos Códigos Civis francês e alemão, muitos outros se sucederam e receberam influência
destes, tais como o Código de Seabra português, o Código Italiano e até mesmo o Código
brasileiro.

3. O DIREITO CIVIL BRASILEIRO:

3.1) A influência do Direito Português:


Pelo processo de colonização, o direito brasileiro é ramificação do direito português, este, por sua vez,
recebe influência direta do Direito Romano, ao qual se submeteu graças ao expansionismo do Império
Romano. Por bagatela, o direito brasileiro, incluindo o direito civil, é de tradição romana.
A fase mais conhecida do direito português é o período das Ordenações do Reino, elas representavam
a consolidação das leis esparsas editadas pelo Rei, com a finalidade de conferir unidade e reduzir a
incerteza, causada pela dispersão das normas. Assim, antes da nossa independência, e até mesmo
após ela, todo direito português era aplicado em nosso território.
● Ordenações Afonsinas- Consolidação da legislação vigente a respeito de várias matérias,
sistematizadas em 5 livros.

● Ordenações Manuelinas- Atualização das afonsinas, com a permanência dos 5 livros.

● Ordenações Filipinas- O texto português mais longevo, editado para atualizar a Ordenação
anterior, que deveria ser adaptada a nova realidade das Descobertas. Essa vigorou no Brasil,
mesmo no pós-independência, até a edição do CC/16.
Obs; Vale ressaltar a influência em Portugal, e, portanto, no Brasil, das reformas feita pelo Marquês de
Pombal, ao ensino jurídico, a atividade dos juristas (lei da boa razão).

3.2) O direito civil brasileiro antes do CC/16.


No pós-independência a doutrina do direito civil brasileiro continua a ser aquela advinda de Portugal,
pois não tinha como criar de forma tão rápida uma nova legislação civil.
Determinou-se na CF/1824 que se organizasse, o quanto antes, a formação de um Código Civil para o
Brasil. Mas, formação das instituições nacionais dependiam de pessoas com formação e preparo para
exercer as diversas tarefas do Estado. Isso motivou a criação dos cursos de direito no Brasil
(Recife/Olinda e São Paulo), porém, o que se percebia era a atuação desses bacharéis na vida política.
● Consolidação e tentativa de codificação com Texeira de Freitas.
Podemos dizer que a doutrina civilista propriamente brasileira se dá com Lourenço Trigo de Loureiro,
com referência ainda a doutrina portuguesa.
Mas, é com Augusto Teixeira de Freitas que o Direito Civil brasileiro começa a sua própria identidade e
é pela primeira vez, sistematizado.
Texeira de Freitas é contratado pelo governo brasileiro, em 1855, para realizar a Consolidação das leis
civis vigentes no país em 1858, essa consolidação passou a preencher a lacuna do Código Civil em si.
Tendo êxito, logo em seguida é contratado para elaboração do projeto de Código Civil brasileiro em
1859. A elaboração do CC por Texeira de Freitas não foi concluída por diversas razões, entre as quais a
abrangência do CC ao direito civil e comercial (que acabava de receber seu próprio Código) e a
prolixidade do texto, seu trabalho foi interrompido, ele desiste do projeto e seu contrato é rescindido em
1872, mesmo que com quase 5 mil artigos.
Tanto a consolidação de Teixeira como o Esboço do CC são marcos do direito civil brasileiro, e é
aproveitado na criação de outros Códigos da América Latina, em especial da Argentina.
Texeira de Freitas se valeu do método do direito comparado para elaborar seus feitos, em especial com o Direito alemão e
francês, comparando-o à realidade brasileira, influenciando a sistematização de outros países da América Latina. O problema
desse método é: será que diferentes sistemas jurídicos enfrentam as mesmas situações a ser regulamentadas?

Texeira de Freitas, ainda, é o primeiro a sistematizar o direito brasileiro, e no seu Esboço já divide o
Código em uma Parte Geral, que vem a explicar os conceitos para interpretação da Parte Especial.

● Segunda tentativa de codificação- Nabuco de Araújo.


Pelo insucesso do seu antecessor, Nabuco de Araújo é contratado em 1872 para dar continuidade ao
processo de codificação. Trabalhando sob a obra de Texeira de Freitas, ele chega à óbito sem a
conclusão.

● Terceira tentativa de codificação- Joaquin Felício dos Santos.


Felício dos Santos continua os trabalhos de Nabuco de Araújo, finaliza seu projeto com mais de 2,5 mil
artigos, porém, por ter sofrido muitas críticas da Comissão Revisora do Império, em especial por sua
estrutura, não chega nem a deliberação do Congresso.
Mesmo no período Republicano, Joaquin Felício chega a reformar seu projeto e apresenta ao governo,
mas permanece sem sucesso e não chega, mais uma vez, a votação no Parlamento.
______________________________________________________REPÚBLICA.

Passou todo o período do Império e não tivemos, nessa época, um Código Civil.

● Quarta tentativa de codificação- Antônio Coelho Rodrigues.


Vai viver na Suíça para dedicar-se exclusivamente a esse trabalho, mantém a estrutura da Parte Geral
(das pessoas, dos bens e dos fatos e atos jurídicos) e a Parte Especial (das obrigações; da posse, propriedade e outros direitos reais;
do direito de família e do direito das sucessões). Não teve sucesso, isso porque a urgência de se ter um Código Civil
brasileiro fez com que houvesse uma tentativa de revisão do projeto de Felício dos Santos, que nunca
ocorreu. Ambos projetos não chegam à deliberação do Congresso.

3.3) Código Civil de Clóvis de Bevilaqua.


O jurista e professor é nomeado para redigir esse Código em 6 meses. Seu projeto é encaminhado
antes ao Ministro da Justiça, Epitácio Pessoa, e chega ao Congresso em 1900. Em 1902 é aprovado
pela Câmara dos Deputados.
Estrutura- Lei de introdução ao Código; Parte Geral (Pessoa, Bens, nascimento e extinção dos
direitos), Parte Especial (Direito de Família, Coisas, Obrigação, Sucessão). Era, ademais, autônomo ao
Código Comercial.
O que empacou seu progresso foi sua chegada a Casa Revisora- o Senado- em que o relator era Rui
Barbosa, criticava em especial a linguagem, que deveria ser culta, enquanto que o conteúdo
propriamente jurídico não chegou a ter grandes críticas. Somente quando Rui Barbosa resolve o
“problema da linguagem” o Código é aprovado no Senado em 1912. É promulgado em 1° de janeiro de
1916, entrando em vigor 1 anos depois.
Críticas e características- O seu caráter conservador; a dissociação do Código à realidade social,; o
fato de não ter se debruçado sobre os problemas sociais e muito menos raciais; a Igreja não foi
totalmente afastada da regulação da vida privada, proibição do divórcio; incapacidade relativa da mulher
casada.
Matriz individualista e liberal, prioriza a defesa da propriedade, a família patriarcal, ampla liberdade
contratual, hierarquização e distinção das relações sociais (homem/mulher, credores/devedores)

3.4) Reformas do CC/16 até a promulgação do CC/02.


A demora pela aprovação somada às mudanças sociais e econômicas que se sucederam no Brasil ao
decorrer do séc. XX fez com que, antes mesmo de completar uma década de vigência, cogitassem
atualizações ao Código. Em consonância com Sílvio Meira esse código já nasce envelhecido.
Na tentativa de remendar o Código Civil e tratar de assuntos que foram “esquecidos” por ele, há a
criação de leis especiais (sobrelegiferação), como a lei de adoção, estatuto da mulher casada, etc.
A primeira tentativa de atualização se dá com o anteprojeto de Código das Obrigações, que pretendia
reunir as obrigações civis e comerciais em único código, porém, não obteve sucesso. (Obs. O Código
Comercial encontrava-se a parte do Civil)
Coube ao Governo Federal, em 1961, nomear Orlando Gomes da Silva para elaborar um projeto de
Código Civil (suprimia a Parte Geral, inovava em por ex. equiparar filhos legítimos e não legítimos) e
Caio Mario Pereira da Silva um projeto de Código das Obrigações- essa separação sofria resistência
entre os civilistas, e essa tentativa não obteve êxito, já que enfrentavam resistência cultural (Direito de
família).
O Governo Federal, assim, já sob o período militar, compôs uma comissão de juristas em 1969 para
realizar um projeto de Código Civil sobre a presidência do jurista e professor Miguel Reale e mais outros
seis juristas. Eles abandonam a ideia de se criar um Código das Obrigações separado do CC, e soma-
se ao Código Civil o Direito Empresarial. Deste projeto resultou o CC/02 após longa tramitação no
Congresso, de 1975, até a promulgação em 2002 e vigência em 2003.
3.5) O Código Civil de 2002.
O ambiente em que o Código foi promulgado encontrava-se polarizado, uma parte encontrava-se
entusiasmada pela nova codificação civil, outra parte tecia críticas pelo fato do Código já nascer
envelhecido pela demora na tramitação (quase 30 anos)

CRÍTICAS: DEFESA:

as mudanças socias e legislativas já não refletiaM


O Códigomais
Civil
o não precisaria tratar sobre a totalidade das
que deveria ser tratado no Código; relações civis de forma exaustiva, papel a ser ocupado
pelas leis especiais e estatutos específicos (Era da
descodificação).

- Os parlamentares já cuidaram de atualizar e modificar o


texto a realidade social.

Estrutura: Parte Geral e Parte Especial- dividida em 5 livros;


Livro I – Do direito das obrigações;
Livro II – Do direito da empresa;
Livro III – Do direito das coisas;
Livro IV – Do direito de família; e
Livro V – Do direito das sucessões.

Diretrizes fundamentais do CC-


- SOCIABILIDADE: Prevalência dos valores coletivos sobre os individuais; em contraposição à
ideologia individualista e patrimonialista do CC/16.
- ETICIDADE: Frente a incompletude da norma deve-se optar por critérios éticos (boa-fé, justa causa,
equidade), o que confere maior poder ao juiz para encontrar uma solução mais justa ou equitativa;
- OPERABILIDADE: Preocupação com a efetividade das soluções jurídicas estabelecidas na norma,
simplificar e efetivar as normas. Essa diretriz possibilita maiores poderes hermenêuticos ao magistrado,
pela abertura deixada pelo legislador sobre as cláusulas gerais, com termos propositalmente vagos que
permitem ao intérprete a interpretação evolutiva, mudando a norma sem modificar o texto legislativo.

É de registrar a atualização e
aperfeiçoamento de normas
havidas na codificação anterior,
como o critério de idade para
aquisição de capacidade plena,
de 21 para 18 anos

3.6) Ideia de Codificação em 1916 e em 2002.


É de se notar que houve uma considerável mudança a respeito do papel do Código Civil no decorrer
dos anos.
Em 1916, por inspiração ao Códe Napoleon, o CC deveria regulamentar de forma completa e
exaustiva toda a esfera da vida privada (técnica legislativa da causuística), tendo o Código Civil
como um sistema fechado e autossuficiente, cujas normas expressam todo o conteúdo que se
entende como jurídico
Ademais, há uma mudança de paradigma, o Código Civil deixa de ser de cunho individualista (como o
era, por influência do iluminismo). O CC/16, por traduzir a ideologia da sua época, refletia em suas
normas uma sociedade agrária e conservadora, que se preocupava mais com o ter, do que com o ser, o
foco do código era a propriedade privada e a liberdade contratual.
Já o CC/02, pela Constitucionalização do Direito Civil, em que a Constituição Federal é quem ocupa o
centro do Sistema jurídico, o Direito Civil passa a estar em consonância com a CF e a absorver as suas
características gerais. Isso se dá, principalmente, no pós-guerra onde o Estado é chamado a atuar
também na esfera privada. Observamos o processo de descodificação do Direito Civil, marcado pela
proliferação acelerada de leis e estatutos que disciplinavam a vida civil, mas que não se encontrava nos
Códigos, que passou a possuir função residual. Além da humanização do Direito Civil, em que o foco
de proteção passa da propriedade a dignidade da pessoa humana, preocupando-se com o ser e
menos com o ter.
Observamos a Constitucionalização do Direito Civil, onde há uma harmonia dos vários polissistemas
que regem a vida privada (a CF, o CC e as leis e estatutos especiais). O Código Civil continua sendo
o elemento central do direito privado, porém, o centro do sistema jurídico não se fecha no CC,
haja vista as demais leis e estatutos que versam de forma específica sobre determinado assunto.

A pessoa natural é o ser humano, enquanto sujeito/destinatário de direitos e obrigações.

4. A DISCUSSÃO DO CONCEITO DE PESSOA:

Art. 1°- Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil;

A expressão pessoa, no artigo, é utilizada substituindo a antiga expressão “homem”. Pois, é mais
compatível com a ordem constitucional.
Pessoa, de acordo com o artigo, é o ente que pode ser sujeito de relações jurídicas.

E a capacidade mencionada no artigo é a capacidade de direito (ou de gozo), que como se firma, se
destina a todas as pessoas, com maior ou menor grau.

● O conceito de pessoa é para o Direito, é ontológico, ao passo que simboliza uma construção
jurídica e não uma questão natural. Assim se dá, pois, nem toda pessoa de fato é uma pessoa
para o Direito. (Só é pessoa quem o Direito diz que é pessoa- alto potencial de excludência)

Foram excluídos do conceito de pessoa por muito tempo os povos originários, os estrangeiros,
os escravos, as mulheres. Com a DUDH minimiza esse potencial de excludência do conceito de
pessoa.
Atualmente se engloba também os apátridas/estrangeiros/expulsos e exilados, a reprodução
assistida, os animais, as inteligências artificiais.

É válido lembrar também que o conceito de pessoa é construído historicamente dentro de cada tempo
histórico e cada cultura
- A ideia de pessoa remonta a Grécia Antiga, onde os filósofos começaram a elaborar seu conceito. (Há
o estudo de Sócrates sobre o exame da pessoa humana)
- Em Roma- Pessoa era quem tivesse o status de liberdade, cidadão romano e não possuísse
deformidades;
- Na Idade Média- Pessoa eram a imagem e semelhança de Deus, também sem deformidade.
- Na Modernidade- Temos um conceito de pessoa baseado na racionalidade, liberdade e
responsabilidades das suas ações, e também nas demais dimensões emocionais (Freud).

O Direito se apropria desses elementos culturais e históricos para o mundo jurídico, para criar o seu
próprio conceito. O Direito iguala a PESSOA ao SUJEITO DE DIREITO em plenitude.

Sujeito de Direito é mais amplo que pessoa- é o ponto de confluência de diversas normas, titular de
direitos e obrigações em uma ordem jurídica. Toda pessoa física ou jurídica é um suj. de direito, mas a
recíproca n é verdadeira, no conceito de sujeito de direito também se incluem os patrimônios.

5. A PESSOA NATURAL:

5.1) Personalidade jurídica:

Art. 2 o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro.
Obs: A primeira parte do artigo fixa o início da personalidade, e a segunda ressalva os direitos do
nascituro.

A personalidade jurídica tem o seu início fixado no nascimento com vida.


É a partir da concessão da personalidade jurídica que alguém é reconhecido como pessoa, tão logo lhe
conferindo direitos e obrigações.
A personalidade jurídica é, para a Teoria geral do Direito Civil, a aptidão genérica para titularizar direitos
e contrair obrigações, ou ainda, é o atributo para ser sujeito de direito. Adquirindo a personalidade
jurídica o indivíduo passa a atuar como um sujeito direito, ou seja, apto a praticar atos e negócios
jurídicos dos mais diferentes matizes. Assim, a personalidade jurídica é atributo de todas as pessoas-
físicas ou naturais.
Obs- O conceito de pessoa é baseado também na economia e beligerância política, podendo ser, além
de um conceito jurídico, um conceito político.

O Direito busca o conceito de vida na medicina que estabelece que, há vida no instante em que se
constata que a pessoa tem seu sistema cardiorrespiratório funcionando, aferível pelo exame da
docimasia hidrostática de Galeno. Assim, observando esses critérios, ela adquire imediatamente sua
personalidade jurídica, tornando-se sujeito de direito, mesmo que venha a falecer segundos depois.
NATIMORTO- Não existe respiração, não existe vida e não existe, consequentemente, personalidade-
Já nasce morto.
NEOMORTO- O que respira, mas morre em seguida, contudo ainda assim é dotado de personalidade
jurídica/civil.

5.2) O nascituro:
A situação jurídica do nascituro é palco de controvérsias doutrinárias.

Quem é o nascituro? em tese é quem está em desenvolvimento no ventre feminino, ou seja, é um ente
concebido, embora ainda não nascido.
Há desentendimentos doutrinários para saber em que medida um nascituro é considerado pessoa.

TEORIA NATALISTA- Diz que se adquire personalidade a partir do nascimento com vida, o que o
nascituro tem é expectativa de direito, mas ainda não possui personalidade jurídica. (Teoria do CC/02)

TEORIA CONDICIONAL- Não atribui ao nascituro a personalidade jurídica, embora considere que,
mesmo antes de nascer, ele já seja titular de direitos da personalidade (como o direito à vida). Porém,
os direitos adquiridos ainda na sua concepção se materializam ao nascer com vida, caso não ocorra
não há uma perda ou transmissão de direitos.

TEORIA CONCEPCIONISTA- Esses defendem que a aquisição da personalidade jurídica começa com
a concepção, ou seja, o nascituro já é pessoa, alcançando, inclusive, efeitos patrimoniais. - Esse é o
entendimento da jurisprudência brasileira para maior proteção ao nascituro.

A doutrina do Brasil adota a teoria natalista, embora a visão concepcionista venha ganhando espaço na
jurisprudência brasileira. Porém, independente da teoria adotada, não há discussão que o nascituro
tenha direito à vida, inclusive para que se possa gozar dos direitos futuros, decorrentes do nascimento
com vida.

É estabelecido ainda no art. 2°- a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
● Ainda no âmbito do Direito do Trabalho é garantido a gestante a estabilidade, desde a
concepção da criança, mesmo que seja do desconhecimento do empregado e empregador (não
pode ser demitida sem justa causa ou de forma arbitrária, desde a concepção até completar 5
meses (ADCT- art. 10).

● Ademais, a gestante tem, em prol do nascituro, o direito aos chamados “Alimentos gravídicos “,
que compreendem todos os gastos necessários a proteção do feto.

● A tutela do nascituro se estende ao natimorto (morto no ventre), pois, este é titular dos direitos
da personalidade- nome, imagem, sepultura.

● “nondum conceptus” - futuro nascituro, porém já com testamento a seu favor. Os bens que lhe
são destinados ficam sob a proteção de alguém (nomeado pelo testador ou pelo juiz)

● A reprogenética humana não cabe ao art. 2°, deverá ter estatuto próprio.

CONCEPTURO- o que se forma a partir da fecundação (14 dias até que ocorra a nidação); ainda não concebido,
mas com a possibilidade de ser,

EMBRIÃO- aquele que se desenvolve fora do ventre feminino, vida extraulterina.

NACITURO- em tese é quem está em desenvolvimento no ventre feminino.

Ambos têm o direito de herdar, tem personalidade jurídica em partes (pois tem direitos, como o direito à vida) mas
ainda não tem personalidade de contrair obrigações (é uma antinomia jurídica), não é considerado pessoa.

obs- ainda que não seja considerado PESSOA (ter personalidade jurídica) este é titular de direitos

5.3) Registro Civil das pessoas naturais:


O nascimento com vida, além de conferir a personalidade e consequentemente a capacidade de direito
e a titulação de sujeito de direito, decorre algumas obrigações, a pessoa nascida deverá se registrar,
aos moldes da Lei de Registros Públicos e aos moldes do art. 9° e 10° do Código Civil.

Com o fito de identificar o cidadão (que depois incumbe ao CPF ou CNPJ), provar o seu nascimento,
além de ser um direito fundamental de acordo com a Convenção Internacional dos direitos da criança.

⮚ O prazo do registro do nascimento:

Art. 50- Todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser dado a registro, no lugar em que tiver ocorrido o parto ou
no lugar da residência dos pais, dentro do prazo de 15 dias, que será ampliado em até 3 meses para os lugares distantes a
mais de 30 km da sede do cartório.

§ 1º Quando for diverso o lugar da residência dos pais, observar-se-á a ordem contida nos itens 1º ffffffe 2º do art. 52.

§ 2º Os índios, enquanto não integrados, não estão obrigados a inscrição do nascimento. Este poderá ser feito em livro
próprio do órgão federal de assistência aos índios (FUNAI- por meio da RANI)

§ 3º Os menores de vinte e um (21) anos e maiores de dezoito (18) anos poderão, pessoalmente e isentos de multa,
requerer o registro de seu nascimento.      

§ 4° É facultado aos nascidos anteriormente à obrigatoriedade do registro civil requerer, isentos de multa, a inscrição de
seu nascimento.       

§ 5º Aos brasileiros nascidos no estrangeiro se aplicará o disposto neste artigo, ressalvadas as prescrições legais
relativas aos consulados.     

O descumprimento desse prazo não implica em impossibilidade do registro extemporâneo. Mas, caso o
registro se dê de forma tardia serão imputadas duas consequências: obrigatoriedade do registro no
domicílio da residência do interessado, e a necessidade de um requerimento assinado por 2
testemunhas.

⮚ Os legitimados a realizar o registro civil do nascimento:

Art. 52. São obrigados a fazer declaração de nascimento:      

1o) o pai ou a mãe, isoladamente ou em conjunto, observado o disposto no § 2o do art. 54;

2º) no caso de falta ou de impedimento de um dos indicados no item 1o, outro indicado, que terá o prazo para
declaração prorrogado por 45 (quarenta e cinco) dias

3º) no impedimento de ambos, o parente mais próximo, sendo maior achando-se presente;

4º) em falta ou impedimento do parente referido no número anterior os administradores de hospitais ou os médicos e
parteiras, que tiverem assistido o parto;

5º) pessoa idônea da casa em que ocorrer, sendo fora da residência da mãe;

A lei de Registros Públicos (6.015/73) determina que os registros civis de pessoas naturais
compreendem, nos termos do artigo 29:

Art. 29. Serão registrados no registro civil de pessoas naturais:


I - os nascimentos

II - os casamentos;        

III - os óbitos;       

IV - as emancipações; (por outorga dos pais ou sentença do juiz)

V - as interdições; (por incapacidade absoluta ou relativa)

VI - as sentenças declaratórias de ausência; (e morte presumida)

VII - as opções de nacionalidade;

VIII - as sentenças que deferirem a legitimação adotiva.

§ 1º Serão averbados:

a) as sentenças que decidirem a nulidade ou anulação do casamento, o desquite e o restabelecimento da sociedade


conjugal;

b) as sentenças que julgarem ilegítimos os filhos concebidos na constância do casamento e as que declararem a
filiação legítima;

c) os casamentos de que resultar a legitimação de filhos havidos ou concebidos anteriormente;

d) os atos judiciais ou extrajudiciais de reconhecimento de filhos ilegítimos;

e) as escrituras de adoção e os atos que a dissolverem;

f) as alterações ou abreviaturas de nomes.

§ 2º É competente para a inscrição da opção de nacionalidade o cartório da residência do optante, ou de seus pais. Se
forem residentes no estrangeiro, far-se-á o registro no Distrito Federal.

Os fatos constitutivos (nascimento), modificativos (separação) e extintivos (morte) exige reconhecimento


oficial pelo sistema de registros públicos. É válido ressaltar, para as pessoas naturais, a natureza
declaratória do registro, em contraposição a natureza constitutiva do registro para as pessoas jurídicas,
haja vista que a partir dele que elas “nascem”.

“A pessoa natural registra-se porque nasce, e a pessoa jurídica nasce porque se registra”

Assim, pretende-se com o registro conferir publicidade aos atos jurídicos em geral, tornando-os
cognoscíveis a toda sociedade.

5.4) Capacidade de Direito e de Fato e a legitimidade:

Capacidade de direito
Capacidade de fato Capacidade civil
Capacidade
plena específica

Com a aquisição da personalidade


Porém, nem toda pessoa écapacidade
capaz de de direito
Também + a conhecida como
jurídica (nascimento),exercer
toda pessoa
pessoalmente os seuscapacidade
direitos.de fato.
legitimidade. Significa que
adquire consequentemente
Então diz
a que se tem CAPACIDADE DE determinados atos são destinados a
capacidade de direito-FATO
é um quem
atributo
pode atuar pessoalmente pessoas específicas.
de todo ser humano.
- é em certa forma uma restrição ao
PERSONALIDADE = CAPACIDADE DE
atributo de alguns direitos, com vista a EX. Nem toda pessoa que é capaz,
DIREITO proteger o indivíduo ou o patrimônio do mesmo que plenamente, pode estar
indivíduo. legitimada a praticar determinado ato.

EX. uma criança tem capacidade de


direito, mas não pode contratar.

5.5) Regime das incapacidades:


O objetivo do regime das incapacidades é a proteção da pessoa que não pode agir por si só nos atos da
vida civil, e seus tipos legais são taxativamente enumerados.

Art. 3 o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16
(dezesseis) anos.

a. Incapacidade absoluta:
A incapacidade civil diz respeito a falta de aptidão para praticar pessoalmente os atos da vida civil, a
pessoa tem a capacidade de direito, por força do art. 1° do CC, mas não tem a capacidade de fato, em
razão da falta de discernimento, seja porque não atingiram idade suficiente para tal, seja porque não
possuem integridade mental.
Por serem absolutamente incapazes, os menores de 16 anos
devem ser representados nos atos da vida Civil.

é válido salientar que nem sempre foi assim.OOCódigo de 2002, por sua vez, tratou como
Civil de 1916 incluía como absolutamente incapaz
absolutamente incapaz:
● os menores de 16 anos, ● os menores de 16 anos,
● os loucos de todos os gêneros, ●os que por enfermidade ou doença mental não
tiverem o discernimento para a prática de tais atos,
● os surdos-mudos que não puderem exprimir a sua
vontade, ● os que, mesmo por causa transitória, não puderem
exprimir a sua vontade.
● os ausentes declarados tais por ato do juiz.

O que fez mudar essa concepção foi a entrada em vigor do Estatuto da pessoa com deficiência (lei
13.146/ 2015), que como principal medida, tirou a pessoa com deficiência da categoria de incapaz, por
afirmar que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa. Revogando todos os incisos e
deixando apenas a questão etária.
O Estatuto, homenageando o princípio da dignidade da pessoa humana, pretende fazer com que a
deficiência deixe de ser rotulada como incapacidade, para ser considerada dotada de plena capacidade
legal, ainda que com a adoção de institutos assistenciais específicos- a tomada de decisão apoiada e,
excepcionalmente a curatela.
● a tomada de decisão apoiada é um instituto consagrado pelo Estatuto, no qual a pessoa enferma
ou com deficiência elege pelo menos 2 pessoas de confiança para prestar-lhe apoio na tomada
de decisão sobre os atos da vida civil, fornecendo os elementos e informações necessárias
exercer sua capacidade.
● a curatela, poderá ser utilizada, excepcionalmente, em atos de natureza patrimonial e negocial.

b. A incapacidade relativa:
Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; 
IV - os pródigos.
Parágrafo único.  A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial

Essas se encontram em uma zona intermediária, nem são plenamente capazes, nem tão pouco
absolutamente incapazes, pois podem exercer alguns atos da vida civil. Mas, para outros precisam
estar assistidos ou acompanhados.

Trata-se dos relativamente incapazes no Código


Já o Código
Civil deCivil de 2002, estabeleceu como
1916: relativamente incapazes:
● Os maiores de dezesseis e os menores ●de Os maiores de dezesseis e os menores de dezoito;
um anos;
● Os ébrios naturais, os viciados em tóxicos,
● Os pródigos; que por deficiência mental, tenham o
discernimento reduzido;
● Os silvícolas.
● Os excepcionais, sem desenvolvimento mental
completo;
● Os pródigos.
Modificou-se o inciso II, suprimindo a menção à
deficiência mental, e alterou o inciso III para tratar das
pessoas que “por causa transitória ou permanente, não
possam exprimir a sua vontade”.

● Os maiores de dezesseis e os menores de dezoito:


Esse inciso recebeu uma importante modificação, a faixa etária de 21 anos foi reduzida para os 18, haja
vista que a maioridade civil passou a ser atingida aos 18 anos.
De acordo com Stolze a redução da maioridade civil é resultado da evolução da sociedade, em que o
jovem é chamado a assumir, cada vez mais cedo, uma função socialmente ativa. Não tem relação com
a imputabilidade penal, é uma coincidência.
Pode realizar alguns atos sem assistência:
● Votar, testemunhar, casar, testar.

● Os ébrios habituais e os viciados em tóxicos.


Como a embriaguez é um mal que destrói tanto a sociedade como o indivíduo, tratou o CC de tornar
relativamente incapaz a embriaguez habitual que reduza, sem privar totalmente, a capacidade de
discernimento do homem.
Assim como os viciados em tóxicos com reduzida capacidade de discernimento são considerados
relativamente incapazes.
Para serem assistidos precisam do recurso à interdição, e posteriormente a curatela, em que se verifica
o grau de intoxicação e dependência para saber se haverá a possibilidade de prática de atos na vida
civil. O juiz irá dizer em que grau o curador deve assistir o toxicômano, quanto tempo, e que deverá ser
assistido até em atos praticados em momentos de lucidez.

● Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a sua vontade.
É uma novidade da lei 13.146/2015.
Os que por causa transitória não pudessem exprimir a sua vontade eram tratados, inicialmente pelo
CC/02, como absolutamente incapazes, sendo transformados em relativamente.
Stolze adverte que os que permanentemente não puderem exprimir vontade alguma não deveriam ser
tratados como relativamente capazes. (mal localizado no Código). Em tese eles são assistidos, e não
representados, o que implica que ele deverá agir em conjunto com o assistente, mas como?????????
Para serem assistidos precisam do recurso à interdição, e posteriormente a curatela, levando em conta
o estado mental da pessoa,

● Os pródigos:
A lei reconhece a relativa incapacidade aos que, segundo Bevilaqua, gasta e destrói desordenadamente
a sua fazenda, reduzindo-se à miséria por sua culpa. Haja vista que reflete tanto no patrimônio
individual, como na família e sociedade.
Capacidade de interdição do pródigo- art. 1.782 do CC- A interdição do pródigo só o privará de, sem
curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar,
em geral, os atos que não sejam de mera administração.
A curatela só de dá para atos que possam diminuir o seu patrimônio.

A capacidade jurídica dos indígenas:


No CC/16 os índios eram relativamente incapazes, enquanto que atualmente dispõem de legislação
especial para regular autonomamente a matéria, a sua capacidade diferenciada reflete a concepção que
temos do índio como dissociado da realidade cultural do homem civilizado.
Criou-se em 1967, pela lei 5.371, o sistema de proteção, representação e apoio ao indígena, a FUNAI
(Fundação Nacional do índio).
A legislação especial (Estatuto do índio- 6.001/ 1973) trata o índio como absolutamente incapaz, e os
seus atos praticados se representação, considerados nulos. Parece tratar o índio como sem
discernimento para os atos da vida civil.
Na realidade, se inserido em sociedade, é preferível considerá-lo absolutamente capaz. E apenas em
situações excepcionais, reconhecidas a falta de discernimento, considerar seus atos nulos.

5.6) Suprimento da incapacidade- representantes legais :


Os absolutamente incapazes se valem do instituto da representação, que agem em nome do
representado, que podem ser os pais ou tutores.
● Caso um absolutamente incapaz realize um ato por si, sem sua representação legal, a hipótese
é de nulidade.
Ademais, é válido lembrar que os representantes devem praticar o ato no interesse do incapaz, ou seja,
devem resguardar a boa-fé de terceiros. Sendo necessário, portanto, que o representante comprove a
sua qualidade como tal, podendo ser responsabilizado pela por atos excedentes.

art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do representado,
a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a
estes excederem.

Esses representantes legais se diferem dos representantes voluntários/convencionais.

Enquanto que os relativamente incapazes suprem a incapacidade por meio da assistência. Estes não
agem em nome do relativamente incapaz, mas em conjunto com ele, haja vista que o relativamente
incapaz pode agir por si só em alguns atos da vida civil, e só vai precisar desse instituto em alguns
casos e situações.
Sob pena de anulabilidade.
5.7) Restituição ou anulação por conflito de interesse (representante X representado): *
Com o fito de proteger o incapaz (principalmente o seu patrimônio) o CC/16 estabelece que um ato
celebrado por um menor, no qual tenha saído lesado, poderá ser anulado, mesmo que cumprindo as
exigências formais- é o benefício da restituição
Caso seja praticado sem as exigências formais, representação ou assistência, deverá ser invalidado, à
luz da teoria das nulidades.
Apesar do CC/02 não consagrar expressamente o benefício da restituição, a orientação doutrinária e
jurisprudencial é a mesma.
Ademais, quando o representante age extrapolando a sua função, que é agir em benefício do
representado, poderá ser anulado o ato, caso se convença o magistrado de um conflito de interesses.

Art. 5°- A menoridade cessa


5.8) A emancipação: aos 18 anos completos,
quando a pessoa fica
Como a maioridade se dá, via de regra, aos 18 anos, a habilitada a prática de todos
capacidade jurídica plena se dá, também, pela mesma os atos da vida civil. idade.
Porém, é possível antecipar a capacidade jurídica plena,
através da emancipação, que significa a declaração de
maioridade, que poderá ser:

a. Emancipação voluntária:
A emancipação voluntária acontece pela concessão dos pais, ou de um deles, na falta do outro. Quando
o menor completa 16 anos, os pais podem conceder a sua emancipação, mediante instrumento público
que não depende de homologação judicial.
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente
de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

A emancipação é ato irrevogável. Porém, os pais podem ser responsabilizados solidariamente pelos
danos causados pelo filho que emanciparam.
b. Emancipação judicial:
A emancipação voluntária é aquela concedida pelo juiz, ouvindo o tutor, quando o menor completa 16
anos.
Esse tipo de emancipação judicial só se dará na falta de ambos os pais (pois na presença desses é
realizado extrajudicialmente). E só produz efeito quando comunicada ao oficial de registro, ou seja,
registrado.

c. Emancipação legal:
Aquelas decorrentes dos incisos do art. 5°, exceto o inciso I.

● A primeira hipótese de concessão da maioridade é o casamento.


O homem e a mulher, ainda que não possua capacidade civil plena, poderá se casar a partir dos
dezesseis anos, desde que tenham autoridade de ambos os pais ou representantes legais.
Recebendo-se o matrimônio antecipam a capacidade civil plena, pois está implícita a vontade dos seus
pais/representantes de emancipar os menores nubentes, haja vista que não faria sentido ficar sob o
poder familiar, se irão formar uma nova família.
Obs.: Mesmo dissolvendo o casamento, o emancipado não volta a situação de incapacidade, exceto se
o casamento for realizado de má-fé.

● Pela nomeação em emprego público efetivo.


Concedido tanto pelo cargo quanto pelo emprego público efetivo.
Essa hipótese perde importância prática, pois dificilmente a lei admitirá o provimento efetivo em cargo
ou emprego público antes dos 18 anos, até mesmo porque esta é a idade mínima para a capacidade
plena trabalhista, tornando-se capaz nessa idade.

● Colação de grau em curso de ensino superior.


Também é uma hipótese que perde importância prática, pois, quando o estudante vier a receber o grau
certamente terá atingido a maioridade.

● pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde


que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria
O menor, com dezesseis anos, emancipa-se em função da sua economia própria. Seja por
estabelecimento civil com economia própria, estabelecimento comercial com economia própria, ou a
partir da relação de emprego que lhe permita ter economia própria. Não é preciso ter apenas uma
relação de emprego, mas a existência de economia própria.

INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA-
São formas de individualizar a pessoa natural: Faz-se mister individualizar o indivíduo, tanto para
questões operativas (direito processual, entregas) pois traz segurança para as relações jurídicas,
quanto para que consigamos distinguir uma pessoa de outra, e para que consigamos reconhecer o nível
de capacidade de uma pessoa (especial pelo Estado).

⮚ Nome: O nome é o principal elemento de identificação da pessoa natural. Assim, o Estado evita ao
máximo os homônimos, nomes idênticos. Porém, sabendo que existem nomes idênticos, há outras
formas de se individualizar a pessoa;

O nome integra a personalidade da pessoa; sendo inalienável (não posso vende-lo, posso autorizar a
sua utilização), imprescindível (não o perco por falta de utilização), irrenunciável (não posso optar por
não ter um nome), imutável (em regra, não muda).

⮚ Estado: Indica a situação da pessoa no contexto político (nacional X estrangeiro- posição do


indivíduo frente ao Estado), familiar (situações de conjugues e parentes) e individual (situação
física do indivíduo- idade, sexo, saúde).

São irrenunciáveis (não posso renunciar o seu estado de filho), imprescindíveis e inalienáveis. Mas é
mutável.

⮚ Domicílio: Identifica onde o indivíduo habitualmente se encontra.

5.9) Nome civil:


Para efeitos do CC/2002, a natureza jurídica do direito ao nome se inclui nos direitos da personalidade,
ainda que submetido a regras e tutela específicas.

Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.
O significado da expressão nome, utilizado no artigo, corresponde à denominação completa que se
encontra no registro civil. Ex. Márlla Sabrinne de Oliveira Alves. E compreende, necessariamente,
duas partes, o prenome e o sobrenome:
a. Prenome: É o primeiro nome da pessoa, que pode ser simples ou composto. E, em regra, é
imutável.

b. Patronímico: É o nome de família, coloquialmente chamado de sobrenome. Não é obrigatório o


registro no nome dos dois pais, porém, é o que ocorre com mais frequência.

Particularidades:
Apelido: Pode ter utilizado tanto como sinônimo do patronímico, o sobrenome, quanto como sinônimo
de cognome.
Cognome: Designação dada a alguém em razão de uma particularidade especial. EX. Garrincha.
Agnome: Sinal distintivo que se acrescenta aos nomes idênticos para diferenciá-lo de parentes
próximos e indicar a posição familiar. EX. sobrinho, Neto, Júnior.
Codinome ou pseudônimo: Nome escolhido pelo próprio indivíduo para o exercício de uma atividade
específica. EX. Gustavo Lima.

⮚ Alteração do nome:
Como vimos, o prenome é, em regra, imutável, haja vista que é marca indelével do indivíduo. Assim,
para poder alterar o nome é necessário que o indivíduo apresente um motivo muito relevante, como as
causas necessárias ou voluntárias. É importante lembrar que a jurisprudência vem mudando essa
concepção.

As causas necessárias dizem respeito às mudanças decorrentes do estado de filiação; como em casos
de adoção.

E as causas voluntárias de mudança do nome dizem respeito ao:


● Casamento. Que independe de autorização judicial;
No CC/1916 a mulher era obrigada a assumir o “apelido do marido”, alterando seu nome. Com a lei do
divórcio, a mulher a facultada a adotar ou não.
No CC/2002, tanto o homem quanto a mulher são facultados a adotar o sobrenome do outro, podendo
manter esse nome após a separação.
● Alteração imotivada: Para alterar o nome, de forma espontânea e independentemente do povo,
caberá ao interessado se apresentar ao Cartórios de Registro Civil, um ano após completar a
maioridade civil ou no caso da alteração dos recém-nascidos, em até 15 dias da data do seu
registro. Que só poderá ser feita uma única vez.
Art. 56 e ss. da Lei de Registros Públicos (6015/73)
⮚ Tutela jurídica do nome:
A designação do nome civil da pessoa natural é de livre escolha do declarante, devendo incluir
obrigatoriamente o patronímico (sobrenome).
Mesmo os que não têm conhecidos os pais, tem direito ao nome. (art. 61 e 62 da LRP)

Ademais, a proteção ao nome se dá no âmbito do CC, nos artigos 17 e 18, onde se protege o nome
contra utilização indevida, mesmo sem animus difamandi.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a
exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.

Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.

A utilização do nome é privativa do seu titular, haja vista que é a principal forma de individualização da
pessoa.

5.10) Domicílio civil:


Domus= casa.
O instituto do domicílio tem a sua origem no Direito Romano, que significava o lugar onde a pessoa se
estabelecia permanentemente. E servia tanto ao direito material como ao direito processual.
Atualmente, esse conceito é mais amplo. Tem uma noção ligada a vida privada, e a atividade externa
da pessoa como veremos a seguir, respectivamente:

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

tornando-se, consequentemente; o centro dos seus negócios jurídicos e sua atividade profissional:

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde
esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio
para as relações que lhe corresponderem.

⮚ Morada X Residência X Domicílio:

Morada: Residência: Domicílio:

É o local onde a pessoa se estabelece


É o local onde a pessoa se estabelece
É o local onde a pessoa fixa residência
provisoriamente. habitualmente. animus definitivo.
Sinônimo de estadia/habitação.
Onde é encontrada com hábito.
Onde se estabelece definitivamente.
Parte objetiva e subjetiva, respectivamente

⮚ Pluralidade de domicílio:
Há pessoas que residem, habitualmente, em dois locais, mas adotam apenas um como domicílio;
Assim como existem pessoas que possuem dupla residência, onde viva em ambas alternadamente, é
permitido adotar a pluralidade de domicílios. No Processo Civil, o réu é demandado em qualquer um
deles.

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á
domicílio seu qualquer delas.

⮚ Domicílio aparente ou ocasional:


Há ainda pessoas que não possuem nenhum tipo de residência, como os moradores de rua, os ciganos,
circenses, seu domicílio é, portanto, aos moldes do art. 73:

Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.

⮚ Mudança de domicílio:
Ao mudar de residência, com o animus definitivo de mudar de domicílio, mudar-se-á.
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares,
que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a
acompanharem.

⮚ Domicílio da pessoa jurídica:


Em regra, o domicílio das PJ privadas será aquele que ela indicar no seu estatuto, ato constitutivo
equivalente (registro), exceto se não indicar o inciso IV supre a lacuna.
Já o domicílio das PJ públicas são especificamente as determinadas no artigo, e não significam o lugar
de competência de foro nos casos em que o Estado seja autor ou réu.
Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou
onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
§ 1 o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será
considerado domicílio para os atos nele praticados.
§ 2 o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica,
no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a
que ela corresponder.

⮚ Tipos de domicílio:

a) Voluntário: Mais comum.


Domicílio voluntário é aquele que decorre de uma livre escolha da pessoa. Fixa residência em um
local com animus definitivo e ali é o seu domicílio, que pode ser único ou plural.

b) Legal ou necessário: art. 76


Decorre de um mandamento da lei, não é fruto de uma escolha pessoal.
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o
lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da
Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio
estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

c) De eleição:
É o domicílio eleito e fixado pelas partes em um contrato, para especificar o foro das prováveis
complicações.
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os
direitos e obrigações deles resultantes.

⮚ Domicílio do agente diplomático:

Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde
tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro
onde o teve.

_____________________________________________________________________

5.11) A extinção da personalidade jurídica:

Art. 6 o  A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos
em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
A existência da pessoa natural, e a consequente perda da capacidade, termina com a morte.

Tipos de morte:
⮚ Morte civil:
A morte civil, admitida em tempos pretéritos, extinção da personalidade de pessoas biologicamente
vivas, e consequentemente da sua capacidade, e consideração como sujeito de direito. Assim, a pessoa
natural viva era tratada como se morta fosse, para efeitos de direitos da vida cível- inexistindo mínima
dignidade à pessoa humana e excluindo-a da sociedade.
● Tais como acontecia com pessoas condenadas à pena perpétua ou a religiosos;
● extinta do nosso ordenamento.

As previsões de morte do ordenamento jurídico brasileiro:


⮚ Morte real:
A constatação da morte real é a indicação da falta de atividade das funções cerebrais e vitais.
A morte deverá ser atestada por médicos, na falta deste é ressalvada a possibilidade de duas
testemunhas, sendo o fato levado à registro, para emissão da certidão de óbito. A certidão de óbito,
documento de caráter declaratório, irá atestar a morte, a partir de então torna-se legítimo o início da
sucessão do de cujus.
Obs: A causa da morte não interessa de fato ao Direito Civil, mas deve constar na certidão de óbito para
que o Estado melhore as suas políticas públicas e desenvolvimento de campanhas.

Obrigados a fazer a declaração de óbito e buscar a Certidão:


Efeitos da morte: extinção do poder familiar, dissolução do vínculo conjugal, abertura da sucessão,
extinção do contrato personalíssimo, presunção de paternidade.

Obs: Apesar da extinção da personalidade jurídica pós evento morte, há direitos da personalidade que
se estendem e se projetam post mortem. Ex. direito à imagem, sepultura, restos mortais. A lei protege,
post mortem, tanto a pessoa como o patrimônio.

⮚ Morte presumida:
É possível haver situações em que seja necessário decretar-se morte mesmo sem haver a presença do
cadáver, é a presunção de morte, mas não tem como se constatar precisamente se teve a morte em si.

Sem decretação de ausência:


Por força do art. 7° do Código Civil, presume-se a morte de alguém, sem decretação de ausência:

o
Art. 7 Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:

I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;

II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.

Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as
buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento

● O juiz irá decretar a morte sem decretar a ausência, se utilizando da justificativa de óbito (atesta-
se a morte, sem a exumação do cadáver).
Com decretação de ausência:

Art. 6°- ... presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva.

A ausência consiste no reconhecimento jurídico de uma situação fática, onde não se sabe o paradeiro
de uma pessoa, por um longo período de tempo, conferindo-se efeito de morte a essa situação fática,
abrindo-se todo um procedimento de sucessão:
- recolhimento dos bens do ausente, para tutelá-los,
- abertura da sucessão provisória,caso este não retorne.
- abertura da sucessão definitiva.
Tem-se todo esse processo, pois, diferentemente da outra situação, esta pessoa, em tese, não estava
em iminente perigo de vida.

● Esse instrumento busca solucionar efeitos de ordem patrimonial;


A tutela do seu patrimônio é realizada, mas a sucessão é feita com cautela, haja vista a possibilidade do
retorno. Enquanto não houver reconhecimento judicial da morte presumida, que só se dá após 10 anos
da sentença que dá início a sucessão provisória, não são transferidos, definitivamente, os bens do
ausente.

⮚ Curadoria dos bens do ausente:


A massa patrimonial da pessoa desaparecida é arrecadada e passa a ser administrada por um curador,
com poderes e obrigações fixadas, apenas se o ausente não tenha deixado representante ou
procurador, ou ainda, caso tenha deixado, se esse representante não quiser ou não puder tutelar.
● É vedada a prática de atos patrimoniais, apenas irá tutelar os bens.

Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado
representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado
ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.

Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não
queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.

Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as circunstâncias,
observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores.
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos
antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador.

§ 1º Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem,
não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo.

§ 2º Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.

§ 3º Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.

A decretação de ausência não produz efeitos de morte real, a intenção, nesse caso, é tutelar os bens do
ausente, na expectativa que este os encontre intactos quando retornar. Ainda há uma alta expectativa
de retorno.

⮚ Sucessão provisória:
Após um ano do recolhimento dos bens do ausente, ou três anos sob a tutela do representante ou
procurador escolhido por ele, poderão os interessados querer a declaração de ausência e que se abra a
sucessão provisória. (Art. 26)

Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados:

I - o cônjuge não separado judicialmente;

II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;

III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;

IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.

Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias
depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se
houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido (equiparação).

§ 1º Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao
Ministério Público requerê-la ao juízo competente.

§ 2º Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias depois de passar em
julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente
pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.

Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a
deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União.

Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição deles,
mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos.
§ 1º Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida neste artigo, será
excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro
designado pelo juiz, e que preste essa garantia.

§ 2º Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderão,
independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente.

Aparecimento do ausente na sucessão provisória:


Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e
rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses
frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante do Ministério Público, e
prestar anualmente contas ao juiz competente.

Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada,
perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos.

Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão
para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas
assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono. (Obrigados a conservar os bens)

A certeza de morte do ausente acarreta na cessação da sucessão provisória e inicia a definitiva:


Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa
data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo.

Essa sucessão é ainda feita com cautela, pois ainda não tem certeza da morte, de certa forma garante
a restituição do bem, caso o ausente se apresente.

⮚ Sucessão definitiva:
10 anos após o trânsito em julgado da sentença da sucessão provisória é que esta se converterá em
definitiva, caso os interessados requeiram. (Art. 37)
A partir de então, tem-se a morte presumida, por força do art. 6° do CC.

Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade,
e que de cinco datam as últimas notícias dele.
⮚ Retorno do ausente:
A ausência pode ser uma morte presumida, mas também não se descarta a possibilidade de retorno do
ausente.
Se o ausente aparecer na fase de arrecadação dos bens não há prejuízo, continua a gozar plenamente
dos seus bens.
Se o ausente aparecer na fase de sucessão provisória, e se provar que o motivo da ausência foi
voluntário e injustificado, o ausente perde os rendimentos e os frutos em favor do sucessor provisório.
Caso contrário, cessa as vantagens dos sucessores.
Se o ausente aparecer quando a sucessão já estiver definitiva terá direito aos seus bens existentes, no
estado que se acharem.
Obs- decorrente da ausência, até o casamento pode ser dissolvido.

Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de
seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que
se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados
houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo.
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum
interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou
do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da
União, quando situados em território federal.

⮚ Justificação de óbito:
A justificação do óbito se dá quando não é possível fazer exame médico no cadáver, ou exumação,
ainda em hipótese de campanha militar, desastre ou calamidade, para proceder ao assento de óbito.

⮚ Morte simultânea ou comoriência:

Art. 8 o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos
comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.

Quando não há como comprovar a ordem cronológica das mortes dos comorientes, a lei afirmará a
presunção de haver falecido no mesmo instante. O que faz com que, caso os comorientes sejam
parentes, não haja sucessão entre eles.
Não existe comoriência entre pessoas que não transmitem direitos entre si, não a razão de ser, haja
vista que essa é a única razão de ser da comoriência.

6. A Pessoa Jurídica (PJ)


Conceito: A PJ é uma unidade coletiva a que a lei empresta personalidade jurídica própria,
capacitando-a para ser sujeito de direito e obrigações. Criada a partir de uma conjugação de vontades,
movidas por interesses patrimoniais e extrapatrimoniais, ou por força de lei, como as pessoas jurídicas
de direito público interno.
- Associação de pessoas/ personalidade única/ conjugação de vontades/ interesses patrimoniais e
extrapatrimoniais.
A pessoa jurídica é moldada a partir de um fato social: a formação de grupos para atingir o
desenvolvimento econômico (o homem é um ser gregário por natureza).
● São realidades de direito, mas não são realidades fisiopsiquicas, haja vista que os bens e
patrimônios podem se tornar uma PJ, por meio das fundações.
● A organização das PJ, estatutos- fundações e associações, contrato social- sociedades.
● A personalidade da PJ é distinta dos indivíduos que a compõem. (Art. 49-A)
● Não é pessoa, é um ente personalizado.

Denominações: Por ser mais expressiva e exata, nosso CC adotou a expressão pessoa jurídica.
Porém, há outras denominações. Texeira de Freitas adotou a expressão “entes de existência ideal”,
pessoas fictícias, coletivas, compostas…

Natureza jurídica: O que é a PJ para o Direito?


➔ Teorias que negam a Pessoa Jurídica: Definida de formas diferentes a depender dos autores,
eles negavam a Pessoa Jurídica, afirmando que não existia PJ, mas sim uma associação de
pessoas, sem que lhes houvesse a atribuição de personalidade jurídica.

➔ Teorias que afirmam a existência da Pessoa Jurídica:

1. teoria da ficção: Essa teoria não reconhecia a existência real à pessoa jurídica, mas a
reconhecia como uma abstração, legal ou doutrinária, ou seja, como uma mera criação da lei ou
da doutrina.
problema- se a PJ é uma ficção, o Estado, que é um ente real, o que seria? Haja vista que é uma PJ de
Direito Público por excelência.

2. teoria da realidade objetiva: Para esses, a pessoa jurídica não é uma mera abstração, mas
tem existência real, social, tal como os indivíduos.

3. teoria da realidade técnica: O entendimento dessa teoria é que as PJ tem existência real,, haja
vista que o Direito lhes concede personalidade, que deverá ser utilizada para determinados fins.
- A personificação da pessoa jurídica é, de fato, construção da técnica jurídica. Haja vista, que
para existirem necessitam de um registro, que configura um ato constitutivo.
Pressuposto para configuração da PJ:
● Liberdade de associação,
● Finalidade específica, pautado na vontade humana, haja vista que as PJ de direito privado são
criadas livremente, e não por uma imposição estatal.
● Licitude do seu objetivo, sob pena de associação crimonosa.
● Ato constitutivo- irá criar, de fato, a PJ. Deverá observar as condições legais para a sua
instituição.
Sociedades- contrato social;
Associações- estatuto;
Fundações- testamento ou escritura pública,

● Registro no órgão competente.


Sociedades- RPEM (juntas comerciais)
Associações e fundações- Registro civil das PJ.
Sociedade simples- OAB.

Começo da existência legal da PJ:


1. O começo da personalidade da pessoa jurídica só é adquirida com o efetivo registro. Não há PJ
antes do registro.
Constitui-se uma sociedade irregular ou de fato, conquanto que não tem personalidade, mas pode se
obrigar diante terceiro. Os sócios têm responsabilidade direta, ilimitada e solidária. Ademais, os
benefícios do registro não retroagem à data da constituição.

2. É proveniente, em regra, da vontade humana. O que significa que, em regra, não precisa de
autorização.

3. Pode surgir de atos jurídicos bilaterais (contratos), ou unilaterais (testamentos, públicos ou


privados).

4. Com a aquisição da personalidade jurídica, ocorre a distinção patrimonial da PJ das Pessoas


Civis que a compõem.

Capacidade e representação da PJ:


O Art. 52, estipula que caberá às PJ, no que couber, proteção aos direitos da personalidade. Assim
como a pessoa natural tem direito ao nome, à imagem, integridade moral. Mas, por limitações da sua
própria natureza, não direitos decorrentes do D. de Família, nem institutos como a curatela, ausência.

A PJ possui capacidade jurídica especial, pois encontra-se delimitada no contrato social, no estatuto
ou na própria lei. Sendo vetadas da prática de atos que extrapolem a sua finalidade social. Mas
possuem capacidade plena, na forma dos atos constitutivos.
Outrossim, por não configurar um ente biopsíquico, a PJ não pode atuar por si só, daí falar em
presentação da PJ. Pessoas naturais que a compõem, praticando atos como se fosse a própria PJ, os
atos são da PJ e não física, proveniente da capacidade plena da PJ. Por isso disciplina o art. 49 que:

Art. 49. Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessado,
nomear-lhe-á administrador provisório.

Classificação da PJ:

Quanto à nacionalidade- As sociedades nacionais se regem pela legislação brasileira, enquanto as


sociedades estrangeiras, dependem de autorização do Executivo, se autorizadas passam a ser reger
por leis brasileiras, e deverá possuir representante no Brasil.

Quanto à estrutura interna- As PJ podem ser formadas por pessoas (universitas personarum-
associações e sociedades) ou formada por bens e patrimônios (universitas bonorum- fundações).

Quanto às funções e capacidade-


PJ de Direito Público Externo, Estados e Organizações Internacionais, Santa Sé, Uniões Aduaneiras.
PJ de Direito Público Interno, União, Estados, Municípios, DF, Territórios e Autarquias Federais e
entidades de caráter público criadas por lei (Criados por Lei ou pela CF/ gozam de jus imperi -
prevalência da vontade estatal)
Pj de Direito Privado- Associações, Fundações, Sociedades, Organizações religiosas, Partidos
Políticos. (Criados a partir de atos de vontade)

Tipologias das PJ de Direito Privado (art. 44 e ss)


A. Associações:
(Art. 53)
As associações são organizações de pessoas que se organizam para fins não econômicos.
● Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocas. (§ único)
Porém, o Estatuto pode estabelecer direitos e obrigações chamado de regimento interno.

As associações podem ter finalidade altruística, egoística, econômica e não lucrativa.


obs: finalidades altruísticas é a busca do bem ao próximo, não tendo em consideração interesses particulares.
finalidades egoísticas é o interesse particular.

Ainda que recolham valores para sua manutenção e/ou gere renda, não as descaracterizam. Mesmo nessas
pessoas jurídicas, tem-se a necessidade de constatar que os membros possuem responsabilidades (art. 47, CC).
Os associados não compartilham lucros.

As associações são criadas por meio de atos constitutivos, o Estatuto:

Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:

I - a denominação, os fins e a sede da associação;

II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;

III - os direitos e deveres dos associados;

IV - as fontes de recursos para sua manutenção;

V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;

VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.

VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas

Sem o Estatuto, além de ser irregular, é sem personalidade jurídica.

Gradação de associados-
Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens
especiais.

Intransmissibilidade dos sócios-

Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário.

Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a transferência
daquela não importará, de per si , na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo
disposição diversa do estatuto.

A exclusão do associado só é permitida por justa causa, mas poderá sair a qualquer momento que
quiser (Art. 57 e Art. 5°, XX, CF)

Por meio de uma Assembleia Geral, serão tomadas as decisões. Sendo convocada na forma do
Estatuto. Cabendo, especialmente, a mesma, destituir os administradores e alterar o Estatuto.

Consequências da dissolução-
O remanescente do patrimônio passará à entidade de fins não econômicos, designado no Estatuto, ou
na falta disso, por deliberação dos associados. Em último caso, devolvido à Fazenda.

B. Sociedades:
As sociedades configuram associação de pessoas, com personalidade própria, decorrida de ato
constitutivo, com o fito de exercer atividade econômica e partilhar lucros.
Classificação:
Sociedades simples- A PJ que embora exerça atividade econômica, não configura atividade
empresarial. ex. médicos, advogados. O registro é feito no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas.
(pessoalidade)
Sociedades empresárias- A PJ que exerça atividade econômica organizada para a produção ou
circulação de bens ou serviços, com registro na Junta Comercial, sujeita à legislação falimentar.
(impessoalidade)

C. Fundações:
São formadas por universitas bonorum, o que significa que não resulta da união de indivíduos, mas da
afetação de um patrimônio, designado por testamento ou escritura pública, destinado a determinado
fim.
A personalidade jurídica é atribuída a um patrimônio.

Se criado por escritura pública- ato inter vivos:


Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a
propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em nome dela, por
mandado judicial.

Se o patrimônio ou bem não for capaz de alcançar os fins-


Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não
dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.

O MP do Estado é o órgão encarregado de velar pelas fundações.


Extinção das Fundações-
Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua
existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o
seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada
pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.

Extinção da Pessoa Jurídica-


A. Convencional- É aquela deliberada pelos próprios integrantes da PJ, respeitando o Estatuto ou
o Contrato social. Ou, pelo vencimento do prazo de duração, morte dos sócios.

B. Administrativa- É aquela que decorre da cassação de autorização de funcionamento.


Decorrente, por exemplo, do desvio de finalidade.

C. Legal- É aquela dissolução prevista em lei ou no estatuto, por sentença do juiz é determinando
extinção.

D. Judicial
____________________________________________________________________
Direitos da personalidade:
Os direitos da personalidade se voltam para a condição humana como um valor a ser tutelado, e não
somente o seu patrimônio.

1. Importância da matéria:

A previsão legal desses direitos eleva a dignificação do homem, haja vista que se destina a proteção do
homem em sua essência e não apenas dos seus patrimônios.
É um sintoma da mudança axiológica da nova codificação civil, que retira seu caráter essencialmente
patrimonialista e se volta ao indivíduo e sua proteção em concordância com o texto constitucional.

2. Conceito:
Os direitos da personalidade são aqueles direitos que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e
morais do indivíduo e suas projeções sociais.
Dessa forma se mostram como sendo extrapatrimoniais, pois são valores que não são redutíveis
pecuniariamente, como o direito à vida, honra, imagem…
INERENTES A TODAS AS PESSOAS, PELA CONDIÇÃO DE SER HUMANO.

3. Denominação:
O código adota “Direitos da personalidade”, que é a denominação preferida pela doutrina nacional.
● “direitos essenciais da pessoa”
● “direitos personalíssimos”
● “direitos subjetivos essenciais”
● “direitos sobre a própria pessoa”
● “direitos à personalidade”
● “direitos fundamentais da pessoa”

4. Natureza jurídica:
A tese dominante é que se trata de poderes que o homem exerce sobre a sua própria pessoa.
a) Corrente positivista: Reconhece como direitos da personalidade somente aqueles “criados
pelo Estado” pelas normas positivas.
❖ Rol exaustivo.

b) Corrente jusnaturalista: Reconhece os direitos da personalidade como inerentes à condição


humana, cabe ao Estado apenas reconhecê-los e não elencá-los de forma atípica.
Mesmo que o Estado não os reconheça eles continuam existindo.
❖ Rol não exaustivo (Atípicos).

5. Titularidade:
O titular dos direitos da personalidade é por excelência o ser humano. Porém, incluem também:
Os nascituros, apesar de não possuírem personalidade jurídica, têm os seus direitos ressalvados desde
a concepção, como os direitos da personalidade.
As pessoas jurídicas, pois estas têm o direito e dever de zelar pelo seu nome e imagem, por exemplo.
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade

6. Características dos direitos da personalidade:

a) absolutos: Pois são oponíveis contra todos (erga omnes), haja vista que todos têm o dever de
respeitá-los.

b) Gerais: São outorgados a todas as pessoas, pelo simples fato de existirem.

c) Extrapatrimoniais: Não são redutíveis pecuniariamente, ainda que a sua lesão gere efeitos
econômicos.
Ademais, algumas espécies de direitos podem se manifestar pecuniariamente. Ex. do direito à imagem
nos realitys.

d) Indisponíveis: São intransmissíveis e irrenunciáveis; O indivíduo, nem por vontade própria pode
mudar de titularidade.

São intransmissíveis, não posso cedê-los de forma gratuita ou onerosa (alienar) para outro;
❖ mas é possível facultar o uso, por meio da cessão desses direitos, realizada contratualmente.
E irrenunciáveis , não posso abdicar e dispor desses direitos.

e) Imprescintíveis: Não existe prazo para a sua aquisição e extinção, e não se extingue pela falta
de uso.

f) Impenhoráveis: Não podem ser penhorados.

g) Vitalícios: São inatos e permanentes. Acompanham desde a concepção até a morte.


Ressalvado aqueles que se projetam mesmo depois da morte; nesse caso, os herdeiros possuem
legitimidade para defender esses direitos quando lesados, sabendo que são de titularidade do de cujus,
e não deles.

Obs: Na petição o lesado pode pedir, inclusive ao mesmo tempo, a sua livre escolha:
- prática lesiva;
- apreensão;
- multa/ pena;
- reparação dos danos;
- perseguição criminal;
- medidas cautelares.
(Responsabilidade civil)

7. Classificação: Sem pretensão de ser taxativo.

a) Direito à vida e integridade física (corpo vivo, cadáver, voz).

DIREITO À VIDA:
O direito à vida é o mais precioso, e em torno dele giram os demais, haja vista que sem a vida não tem
como se desenvolver nenhum outro.
- É um direito de caráter negativo, que exige de todos o dever de respeitá-lo.

vedações:
A sua proteção começa antes mesmo do nascimento, punindo o aborto e protegendo o nascituro.
Sendo permitido: Para salvar a vida da gestante (aborto terapêutico), ou quando resultar de estupro.
Por ser um direito à vida e não sobre a vida, é vedado também a eutanásia.
- O CP trata como homicídio privilegiado. Causa de diminuição da pena, porém é punido.
- Não considera crime a ortotanásia, quando o médico deixa de empregar recursos objetivando
apressar o falecimento do doente.

DIREITO À INTEGRIDADE FÍSICA:


É o direito à proteção do corpo humano, mantendo-se, portanto, intacto o corpo. Repelindo-se as lesões
causadas ao funcionamento normal do corpo humano.

Dessa forma, o CC concede ao doente a prerrogativa de recusar tratamento ou intervenção cirúrgica,


em função do direito à integridade física.

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção
cirúrgica

- Em casos de falta de tempo hábil para ouvir o paciente, o médico tem o dever de realizar o
procedimento, e em casos de impossibilidade da sua manifestação, ouve-se o representante
legal do doente.

A autolesão também é proibida, haja vista que causa lesão ao funcionamento normal do corpo humano,
e ninguém é autorizado a tentar contra a própria vida.
Porém, é lícito e permitido a prática de esportes com alto risco de lesão à integridade física, pela
assunção e conhecimento do risco pelo praticante. E de profissões, compete ao responsável, nesse
caso, tomar providências que minimizem as possibilidades de dano.

DIREITO AO CORPO HUMANO:

a) direito ao corpo vivo e suas partes integrantes:


O corpo humano é inalienável, embora seja possível dispor das suas partes, em vida ou morte, por meio
de transplante.

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar
diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida
em lei especial.

É admitido a disposição de partes do corpo vivo para a transexualidade.

b) Direito ao corpo morto (cadáver):

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em
parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

Apesar da personalidade jurídica terminar com a morte, os direitos da personalidade se aplicam ao


cadáver, com base na proteção da dignidade da pessoa humana e na sua preservação.
❖ É um tipo de direito familiar, diz respeito aos parentes do morto, protegendo o próprio defunto e
sua memória.

A violação ao cadáver é admitida para:


Direito à prova: Em caso de morte violenta ou suspeita de crime, o cadáver deve passar por exame
necroscópico.
Necessidade: Retirada de partes do cadáver para fins de transplante.

DIREITO À VOZ:
A voz também é protegida como um direito da personalidade. Haja vista que identifica pessoas e
estilos; tal como os dubladores de desenhos famosos; a CF assegura a proteção à reprodução da voz.
❖ Ademais, o uso da voz de artistas é sujeito à legislação autoral.

b) Integridade psíquica e criações intelectuais.


Leva-se em conta os atributos intrínsecos do indivíduos, como os atributos da sua inteligência ou
sentimento, que compõe o ser humano enquanto ser psíquico.

c) Integridade moral (honra, imagem, identidade pessoal)


1. Os bens jurídicos:
Bem, segundo Ulpiano, é tudo quanto corresponde à solicitação dos nossos desejos.

Acepção econômica: Bem é tudo aquilo suscetível de apreciação pecuniária/ econômica.


Acepção jurídica em sentido amplo: Os bens jurídicos, mais do que suscetível de apreciação
econômica, correspondem a toda utilidade física ou imaterial, objeto de um direito subjetivo ou
prestação, ou melhor dizendo, objeto de relações intersubjetivas, seja pessoal ou real.
Ex utilidade física. O terreno é o meu bem jurídico (suscetível de apreciação econômica) objeto do
meu direito subjetivo de propriedade.
Ex. utilidade imaterial. A imagem é objeto do meu direito da personalidade.

Acepção jurídica em sentido estrito: Nesse caso, é comumente utilizado como sinônimo de coisa, ou
seja, de bem corpóreo/materializado. Porém, como já vimos, os bens jurídicos também incorporam os
bens imateriais(incorpóreos) como os direitos da personalidade, direitos subjetivos de crédito.

Sendo assim, todo bem econômico é jurídico, porém, a recíproca não é verdadeira, haja vista que
os bens jurídicos têm valor jurídico, independente de ter, ou não, apreciação econômica.

1.1) Bens X Coisa:


Não há um consenso doutrinário a respeito da distinção entre bens e coisas, alguns consideram este
como gênero, aquele como espécie e vice-versa.
➢ Coisa, era mais utilizado antes do surgimento jurídico de bens; conceito pré-jurídico.
➢ O Código, por vezes, utiliza alternativamente os dois conceitos como sinônimos;

➢ O conceito de bem é histórico, construído dentro de cada cultura


- Francisco Amaral.

Seguindo a linha de Stolze e Pamplona Filho, adotamos BENS como gênero e COISAS como
espécie.

Coisas: Bem:
Nós nos identificamos sobCompreendem
o aspecto da todas as utilidades corpóreas (palpáveis) e incorpóreas
sua materialidade (existência
(não
palpável)
palpáveis),
. objetos de uma relação intersubjetiva, que têm relevância
para o Direito, independente do seu valor econômico.
São as utilidades corpóreas, objetos de
uma relação intersubjetiva, com valor
econômico.
- BENS MATERIAIS;
Assim, há bens que não são coisas, ex. a vida, haja vista que não
possuem existência palpável.
- COISAS + BENS IMATERIAIS.
2. Patrimônio jurídico:
De acordo com os clássicos, o patrimônio representa economicamente uma pessoa, seja positivo, seja
negativo. Universalidade de
Complexo de relaç
Em melhores palavras, o patrimônio é uma universalidade de direito, dotada de valor econômico, e por
(bens corpóreos e
isso passível de ser negociado (ser objeto de contrato), com a destinação que lhe der o seu titular.
apreciáveis econo
possuem destinaç
função de um imp

Característica:
- É vinculado à personalidade do indivíduo, haja vista que toda pessoa tem seu próprio
patrimônio, principalmente na concepção de mínimo existencial.
-
- Engloba todos os complexos de relações jurídicas (bens corpóreos e incorpóreos),
direitos reais e obrigacionais (relações jurídicas ativas e passivas), direitos da
personalidade economicamente valoráveis, direitos subjetivos.

Antigamente (PENSAMENTO DO CC/16): Uma pessoa era considerada cidadã em razão do seu
patrimônio, e o patrimônio era tido como coisa, ou seja, como bens corpóreos de valor econômico.

Atualmente (PENSAMENTO DO CC/02): A CF garante um mínimo existencial. Onde, todo mundo deve
ter direito a algum patrimônio mínimo que garanta a subsistência básica que lhe permita viver com
dignidade, sem poder ser reduzido a mendicância, onde o Estado, muitas vezes intervém, fornecendo
prestações materiais aos que não tem condições de obtê-las por meios próprios.
- o mínimo existencial é individualizado.

Para PAMPLONA E STOLZE, em conformidade com Clóvis de Beviláqua e Caio Mário P. da Silva, o
patrimônio é uno, haja vista estar vinculado à personalidade. “Um homem, um patrimônio”. Nos
casos de comunhão parcial de bens, por exemplo, não há a separação do patrimônio, mas a distinção
de procedência diversa dos bens que formam o patrimônio.

3. Classificação dos bens:

1. Bens corpóreos e incorpóreos: Estão fora do CC, mas dentro da doutrina.


Os bens corpóreos: Tangíveis Possuem existência material, ou seja, existem no
mundo físico.
● São perceptíveis aos sentidos materiais.Possuem existência fictícia, abstrata.
EX. Bens móveis e imóveis. ● São idealmente existentes, existência jurídica.
EX. Nome empresarial; direito subjetivo sobre uma
logomarca.
Os bens incorpóreos: Intangíveis
Em tese, somente os bens corpóreos podem ser objeto de contrato de compra e venda, enquanto os
bens incorpóreos são transmissíveis por contrato de cessão;

2. Bens considerados em si mesmos:


Se consideram em si mesmos, pois não são comparados, como ocorre na próxima classificação; são
bens principais.
Classificados quanto a:
Mobilidade- Móveis e imóveis;
Fungibilidade- Fungíveis e infungíveis;
Consumibilidade- Consumíveis e inconsumíveis;
Indivisibilidade- Divisíveis e indivisíveis.

a) Bens móveis e imóveis;

Os bens imóveis:
Não podem ser transportados de um lugar para o outro sem que haja alteração da sua substância.
- obs: A alienação dos bens imóveis revestem-se de formalidades não exigidas para os bens
móveis. REGISTRO.

1. Imóveis por sua própria natureza:


Art. 79- O solo, e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.

2. Imóveis por acessão física, industrial ou artificial:


Tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao solo.

Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:

I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro
local;
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.

3. Imóveis por determinação legal:


É considerado imóvel pela vontade do legislador.

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:

I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;

II - o direito à sucessão aberta.

Imóveis por acessão intelectual: Também chamados de pertenças.


São bens acessórios, que o proprietário destina e mantém no imóvel, para exploração industrial,
comodidade ou aformoseamento. Podem ser a qualquer tempo mobilizados.

Os bens móveis:
São movimentados, por força própria ou alheia, sem que se altere a sua substância ou sua destinação
econômico-social.

Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da
substância ou da destinação econômico-social.

- obs: Para alienação dos bens móveis, dispensa-se registro, exigindo apenas a tradição da
coisa.
-
- Atualmente, devido às inovações tecnológicas e importância econômica, os bens móveis têm
gozado de ampla proteção.

1. Por natureza: Naturalmente móveis.


São aqueles bens que podem ser transportados, mediante o emprego de força alheia, sem que haja
deterioração ou alteração da sua substância.
2. Por determinação legal:
São móveis porque a lei determina.
Ex. Os direitos de propriedade Industrial.

Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:

I - as energias que tenham valor econômico;

II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;

III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.

Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua
qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio.

3. Semoventes:
Suscetíveis de movimentos próprios.
EX. Animais.

4. Por antecipação:
embora incorporados ao solo, naturalmente imóveis, tornam-se bens móveis por ação humana.

b) Bens fungíveis e infungíveis;


Os bens fungíveis podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. (Art.
85)
Os bens infungíveis, possuem natureza insubstituível. Ainda que substituídos por outro da mesma
espécie, qualidade e quantidade, não possuem o mesmo valor para o possuidor.
São considerados assim:
Pela vontade das partes, uma nota de 2 reais que é essencialmente fungível, para um colecionador
pode não ser;
pela natureza do bem,
pelo valor histórico do bem.

c) Bens consumíveis e inconsumíveis;


Para os bens consumíveis, o uso importa destruição imediata da própria substância.
- Consumibilidade jurídica: Ao destinar o bem à alienação, ele se tornará consumível. Ex.
Venda de aparelho celular em uma loja especializada.
(Art. 86)
- Por determinação das partes- Vodka, para exposição.

Enquanto que os bens inconsumíveis, suportam o uso continuado sem perecimento ou prejuízo da
substância.

d) Bens divisíveis e indivisíveis;


Os bens divisíveis, de acordo com o CC, são aqueles que podem se fracionar sem que se altere a sua
substância, diminua seu valor, ou prejudique a sua destinação. (Art. 87)
Obs:
Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por
vontade das partes

Os indivisíveis, são o contrário. O seu fracionamento implica em alteração da sua substância,


diminuição do seu valor e prejuízo a sua destinação.

e) Bens singulares e coletivos.


São singulares os bens que, embora reunidos, consideram de per si, ou seja, em sua individualidade,
independente dos demais. (Art. 89)
-> Simples- Quando suas partes componentes encontram-se ligadas naturalmente.
-> Compostas- Quando suas partes componentes decorrem do engenho humano.

Bens coletivos são aqueles, compostos de várias coisas singulares, são consideradas em conjunto,
formando um todo homogêneo.
Dividem-se em:

UNIVERSALIDADE DE FATO: UNIVERSALIDADE DE DIREITO:

Bens corpóreos, agrupados pela vontade da pessoa,


São ospara
bens corpóreos e incorpóreos (relações
permitir que possua destinação unitária, mas podem
jurídicas),
tambémque possuem destinação unitária em
ser tratados individualmente. função de um imperativo legal, dotados de valor
econômico.
Art. 91. Constitui universalidade de direito o
Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens
relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor
singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenhameconômico.
destinação
unitária.

Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade


ser objeto de relações jurídicas próprias.

3. Bens reciprocamente considerados:


3.1) Bem principal e bens acessórios:
O bem principal tem existência própria e autonomia estrutural, existe sobre si, abstrata ou
concretamente.
O bem acessório é aquele cuja existência supõe a do principal. Orbita o principal.

Regra: O acessório segue a sorte do principal, é o princípio da gravitação jurídica. Exceto por vontade
das partes.

Os bens acessórios dividem-se em:


Frutos,
Produtos;
Rendimentos;
Benfeitorias;
* Pertenças e partes integrantes.

a) Frutos:
São bens acessórios que podem ser definidos como, utilidades produzidas periodicamente pela coisa
principal, cuja percepção não diminui a substância do bem principal.
❖ O art. 1214 afirma que o possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos
percebidos.

quanto à sua natureza:


Naturais: Decorrem do bem principal sem necessidade de intervenção humana, do desenvolvimento
orgânico vegetal ou animal.
Industriais: Decorrem do bem principal por atividade industrial humana.
Civis: A coisa frugífera periodicamente produz, viabilizando a percepção de uma renda (Aluguel).
Sinônimo de rendimento.

Quanto à relação com a coisa principal:


Pendentes: Ainda estão ligados a coisa principal, não foram destacados.
Colhidos ou percebidos: Destacados, mas ainda existentes.
Estantes: Destacados da coisa principal, mas estocados ou armazenados.
Percipiendos: Deveriam ser colhidos mas não foram.
Consumidos: Frutos que não existem mais.

b) Produtos:
São utilidades produzidas pela coisa principal, cuja percepção ou extração diminui a substância do bem
principal.

Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio
jurídico.

c) Rendimentos:
São, de acordo com Pamplona Filho e Stolze, frutos civis.
Utilidades que a coisa periodicamente produz, viabilizando a percepção de uma renda, ou de
utilização por outrem que não o proprietário.

d) Benfeitorias:
São as despesas ou obras realizadas na coisa principal, com o objetivo de conservá-la, melhorá-la ou
embelezá-la.
❖ Se realizam apenas em bens imóveis.
❖ É incorporado permanentemente ao bem principal.
❖ Sempre é ARTIFICIAL.
❖ É realizado em coisa já existente, e não necessariamente cria coisa nova.

Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a
intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.
Podem ser: Úteis, necessárias e voluptuárias.
1. Necessárias: As benfeitorias realizadas com o objetivo de conservar e evitar a deterioração ou
ruína do bem.
Não depende da autorização de terceiros;
É dever do proprietário custear essa benfeitoria;
O possuidor pode fazer, mas deve ser sempre indenizado e reembolsado, desde que prove que a
benfeitoria é realmente necessária. Não pode ultrapassar o valor do bem.

2. Úteis: As benfeitorias que aumentam ou facilitam o uso do bem principal.


São indenizáveis, desde que autorizadas.

3. Voluptuárias ou fúteis: Aquela empreendidas para mero deleite ou prazer, aprimoram


esteticamente o bem, sem nenhuma utilidade específica.
Não serão nunca indenizáveis, o de boa-fé, pode apenas levantá-la, desde que não haja prejuízo à
coisa principal.

Classificação: Depende da destinação do bem, autonomia da vontade ou circunstância.


Ex. Piscina em uma mansão é voluptuária, é útil em uma escola, necessária em uma escola de
hidroginástica.

Possuidor de boa-fé: Tem direito a Possuidor de má-fé:


Indenização das benfeitorias úteis e necessárias
Tem o direito ao ressarcimento apenas das benfeitorias
exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias
necessárias.úteis
e necessárias.
Não possui direito de retenção, nem de levantar as
Não tem direito a indenização das voluptuárias,
voluptuárias.
levantá-las, se não lhe forem pagas, desde que
em detrimento da coisa.

e) Pertenças e partes integrantes:


As pertenças são os bens que se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou
aformoseamento de outro, não constituindo parte integrante.
❖ Tem função mesmo fora do bem principal.

Parte integrante são os bens que, unidos com a parte com a parte principal formam um todo, mas são
desprovidos de existência material própria fora do bem principal, embora mantenham a sua identidade.

Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o
contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.

4. Bens públicos e particulares:


São classificados quanto a sua titularidade.

Bens particulares ou de direito privado: São aqueles que, por exclusão, não pertencem ao domínio
público, mas, à iniciativa privada.

Bens públicos: São aqueles bens que pertencem as PJ de direito público interno, à União, aos
Estados ou aos Municípios. Tornam-se, assim, objetos de domínio público
.
a) Bens de uso comum do povo: Os que possuem utilização irrestrita e imediata do povo, sem
qualquer tipo de discriminação ou ordem especial de fruição. (Praças, rios, mares, estradas)

b) Bens de uso especial: São aqueles bens que, apesar de público, que possuem atribuição
específica, como os bens afetados para os serviços da administração pública.

c) Bens dominicais ou dominiais: São públicos, não são de uso comum e não estão afetados
para os serviços da administração pública, mas são aqueles que pertencem ou constituem o
patrimônio estatal.

Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas
jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado.

Características:
❖ São, em regra, inalienáveis; enquanto conservarem a sua qualificação, na forma determinada
em lei. (Bens de uso comum do povo ou de uso especial)

❖ Apenas os dominicais podem ser alienados, observadas as exigências legais.

❖ Proibidos de usucapião. (Art. 102)

Podem ser gratuitos ou retribuídos, conforme estabelecido legalmente pela entidade cuja
administração pertença. (Art. 103)

5. Bens de família: Decorrência a proteção patrimonial e a teoria do patrimônio


mínimo.
Constituem bem de família todos aqueles bens pertencentes à entidade familiar, em tese,
comercializáveis, porém, que não podem ser penhorados e são excluídos do cumprimento das
obrigações. Sendo assim, pela garantia do patrimônio mínimo as pessoas não podem ser reduzidas a
mendicância e não podem ficar totalmente desprovidas de patrimônio, assim o direito ao crédito cede
espaço para dignidade da pessoa humana.

a) Legal: Lei 8009/1990


Não existem resquícios legais que precisam ser cumpridos, independente da vontade do titular.

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por
qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou
pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.

Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as


plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou
móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.

 O lar familiar deve ser sempre posto fora das dívidas contraídas.

Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e


adornos suntuosos.

Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens


móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do locatário,
observado o disposto neste artigo

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal,


previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:

II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à


aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo
contrato;
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu
coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses
em que ambos responderão pela dívida;                  (Redação dada pela Lei nº 13.144 de 2015)

IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em


função do imóvel familiar;

V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou
pela entidade familiar;

VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

Art. 4º Não se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-se insolvente,
adquire de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência familiar, desfazendo-se ou
não da moradia antiga.

§ 1º Neste caso, poderá o juiz, na respectiva ação do credor, transferir a


impenhorabilidade para a moradia familiar anterior, ou anular-lhe a venda, liberando a mais
valiosa para execução ou concurso, conforme a hipótese.

§ 2º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a impenhorabilidade


restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos bens móveis, e, nos casos do art. 5º,
inciso XXVI, da Constituição, à área limitada como pequena propriedade rural.

Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se


residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia
permanente.

Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários


imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo
se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do
Código Civil.

 A súmula 364 do STJ abrange essa proteção aos que residem solidariamente, tais como viúvos,
separados, solteiros.

 Súmula 486 do STJ protege os imóveis locados que são de uso total para a subsistência
familiar.

b) Convencional:
Dá-se mediante um ato voluntário de vontade da entidade familiar, por escritura pública ou testamento.
Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou
testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não
ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras
sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial.

Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento ou
doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges
beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.

Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios,
destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários , cuja renda será
aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.

Art. 1.713. Os valores mobiliários, destinados aos fins previstos no artigo antecedente, não poderão exceder o
valor do prédio instituído em bem de família, à época de sua instituição

Art. 1.714. O bem de família, quer instituído pelos cônjuges ou por terceiro, constitui-se pelo registro de seu título
no Registro de Imóveis.

Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, salvo as que
provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.

Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter destino diverso do
previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus representantes legais,
ouvido o Ministério Público.

Art. 1.721. A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família.

Parágrafo único. Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o


sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do casal.

Art. 1.722. Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os cônjuges e a
maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela.

6. Bens fora do comércio:


Constitui aqueles bens que não podem ser comercializados ou alienados, de forma onerosa ou gratuita.

a) Inapropriáveis pela própria natureza: Tais como os bens de uso inexaurível, as coisas comum
a todos, o sol, por exemplo, e os direitos da personalidade.
b) Legalmente inalienáveis: Embora possa-se comercializar, a lei veta ou restringe a sua
alienação.
c) Inalienáveis pela vontade humana: Aqueles que por ato de vontade

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