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CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

HERMENEUTICA JURIDICA: ESCOLA EXEGESE

Trabalho apresentado à Universidade,


como requisito para disciplina de
Hermenêutica Jurídica, º Período, Turma ,
sob a orientação do professor.
HERMENEUTICA JURIDICA: ESCOLA EXEGESE

Introdução

O positivismo surgiu como uma forma prática e realista à abstração e


ao idealismo do Direito Natural (supostamente imutável e eterno),
expressando-se por meio das normas válidas de um determinado espaço e
tempo. Para uma revisão conceitual, é relevante a perspectiva histórica, daí o
desmembramento em três períodos principais.
A Escola da Exegese surgiu como uma das consequências da criação
do Código de Napoleão (1804), forma de interpretação que ocorria mediante
privilégio dos aspectos gramaticais e lógicos. Com ela, tem-se o ápice do
positivismo jurídico.
Com o declínio do pensamento Jusnaturalista e sua aparente
compreensão acerca da justiça, houve a ascensão do positivismo, que também
foi criticado, posteriormente, por seu apelo excessivo à subsunção (fato-norma)
sem observação dos valores.
Para um melhor entendimento do tema principal, é importante ressaltar
algumas considerações a respeito do Direito Natural. O Jusnaturalismo, de
modo geral, divide-se nos períodos: Cosmológico (séc.VI – Pitágoras) – cuja
essência vem do universo – ; Teológico (séc.XI e XII – Tomás de Aquino) – lei
estabelecida pela vontade de Deus – , e Antropológico (séc.XVII e XIII –
Rousseau) – provem do homem e da razão.

Desenvolvimento

O Direito Natural, de outra banda, embasava-se na lei divina, na


verdade revelada, em que não há predeterminação. Essa forma de pensar o
Direito reflete características como a imutabilidade e a eternidade.
Em Antígona, obra de Sófocles, é claro o clamor ao Direito dos deuses
feito por Antígona, ao enterrar seu irmão, que foi condenado a torna-se
insepulto por um decreto de Creonte. Quando Creonte descobre que Antígona
desobedeceu a o decreto e enterrou seu irmão (a pena para quem
transgredisse sua lei era o apedrejamento dentro da cidade), Creonte fala a
ela: “Mesmo assim ousaste transgredir minhas leis?” e Antígona responde:
“Não foi, com certeza, Zeus que as proclamou nem a Justiça com
trono entre os deuses dos mortos as estabeleceu entre os homens. Nem eu
supunha que tuas ordens tivessem o poder de superar as leis não-escritas,
perenes, dos deuses, visto que és mortal. Pois elas não são nem de ontem,
nem de hoje, mas são sempre vivas, nem se sabe quando surgiram”.
Não há, entretanto, antagonismo real entre o Juspositivismo e o Direito
Natural, porém acreditava-se que o Jusnaturalismo se sobrepunha ao
Positivismo Jurídico, pois havia algo superior às leis postas pelo Estado, e esse
espaço inerente ao Homem, de liberdade e justiça, deveria ser respeitado pelo
Estado.
No período Antropológico, o Direito Natural se incorporou aos
ordenamentos positivos ao lado do Iluminismo por sua nova forma racional e
não mais submissa à Teologia. Porém, o Direito Natural foi marginalizado com
a ascensão do positivismo e a apologia à cientificidade.
Após a Revolução Francesa, a França ansiava por um Direito Nacional,
o que ocorreu com o nascimento do Código Civil francês sob ênfase do
racionalismo. Logo, surgiu a Escola da Exegese, que tinha como escopo
interpretar o Código Civil francês também de uma maneira nacional.
A Escola da Exegese consistia na reunião de vários juristas franceses
que orientaram o processo de criação e de aplicação do Código de Napoleão,
especialmente no que se refere à exegese do texto legal. O Código Civil
napoleônico buscava unificar e positivar o Direito como ferramenta de controle
social e político.
O Codicismo surgiu como fruto do Iluminismo, atualmente é comum
pensar o Direito codificado, porém a codificação não se estende a todo o
mundo, como nos países anglo-saxões, onde se aplica o “common law”, por
exemplo. Os dois códigos mais importantes para evolução da codificação foram
o Código de Justiano e o Código de Napoleão.
Norberto Bobbio diferencia essas duas codificações, afirmando que
apenas o de Napoleão é um Código propriamente dito, ou seja, “um corpo de
normas sistematicamente organizadas e expressamente elaboradas”. Segundo
Bobbio, o Corpus Iuris Civilis de Justiniano é uma compilação de leis prévias e
não exatamente um código.
Segundo a Escola da Exegese, deveria haver uma interpretação
nacional e racional do Direito, sendo exegeta aquele que esclarece algo
considerado difícil e obscuro. No sentido normativo, é aquele que esclarece a
real acepção da norma.
O Código Civil eliminou aspectos religiosos e morais, que antes havia
no Corpus Iuris Civilis. Segundo Maria Helena Diniz, “O racionalismo buscava a
simetria, construção lógica perfeita, o que o levou à utopia. Foi essa mesma
simetria que conduziu os franceses à idolatria do Código de Napoleão” .
O modo de interpretação da Escola da Exegese era reduzido e
superficial. A ideia desse corpo de normas era suprimir o máximo possível a
obscuridade e a ambiguidade. O juiz não cabia nenhuma outra função que não
fosse aplicar a lei pautado na suposta neutralidade e objetividade, a vontade do
intérprete e do legislador era a mesma. Direito e Lei, nessa abordagem teórica,
eram considerados sinônimos para a Escola da Exegese.
Durante a Revolução Francesa, alguns juízes se eximiam de julgar
quando a lei era omissa, pois havia um estímulo máximo à separação dos
poderes. Buscando evitar essa situação, o art. 4° do Código Civil impunha o
juiz a decidir no silêncio, na obscuridade ou insuficiência da lei. Apesar de
obrigar o juiz a proferir sua sentença, ele deveria encontrar a solução para a
omissão, a obscuridade ou a insuficiência dentro da própria lei.
Apesar de o juiz ser obrigado a julgar, o princípio da separação dos
poderes não seria ferido, ao juiz não era conferido o poder de produzir o
Direito, mas apenas de aplicá-lo de acordo com o que estava predefinido no
Código. Os operadores do Direito apenas se submetiam a autoridade do
legislador (princípio da onipotência do legislador). Havia o apego à
interpretação literal da lei sem distorcer a verdadeira vontade do legislador, a
lei era certa, não havia espaço para interpretações feitas pelo juiz.
Para os codicistas, o ordenamento era considerado perfeito, bastando-
se em si mesmo, não havia lacunas de Direito nem antinomias (dogma da
completude) e todas as soluções se encontravam no Código, uma vez que o
ordenamento (ou sistema) era considerado fechado e deveria achar soluções e
justificativas dentro de si mesmo (autonomia).

Norberto Bobbio denomina a forma aguda desse fenômeno de


“fetichismo da lei”, dessa forma, havia uma tendência a ater-se
escrupulosamente aos códigos. Segundo um dos exegetas Mourlon, “Dura lex,
sed lex; um bom magistrado humilha sua razão diante da razão da lei”.
Havia, também, certa pressão do governo Napoleônico para que seu
Código fosse ensinado nos cursos superiores de Direito e não mais os ideais
jusnaturalistas, enfatizando o caráter identitário que era resguardado. Afinal, o
Direito e o Código Civil eram uma das formas de dominação de que Napoleão
dispunha.
Os principais representantes da Escola da Exegese são “Proudhon,
Melville, Blondeau, Delvincourt, Huc, Aubry e Rau, Laurent, Marcadé,
Demolombe, Troplong, Pothier, Baudry-Lacantinerie, Duraton, etc.”. Os três
principais períodos da Escola da Exegese são de 1804 a 1830 – Formação;
de 1830 a 1880 – Apogeu, e 1880 em diante – Declínio (primeiras alterações
no Código Civil francês).
O declínio da Escola da Exegese ocorreu pela ineficiência de seu
processo interpretativo, a letra da lei, apenas, não era mais suficiente. Havia a
necessidade de se recorrer a outras fontes e “conhecer não só a letra da lei,
mas também o seu espírito”.
A escola da Exegese foi criticada por vários autores, entre eles:
François Gény, Rudolf von Ihering, Eugen Ehrlich, etc. Em geral, as críticas se
fundamentavam em torno do fetichismo da lei e da forma literal como se
interpretava o Direito.
Esse momento, porém, não durou para sempre, e a complexidade
social não mais comportou o modo de interpretação da Escola da Exegese.
Para Recaséns Siches, “Uma lei indeformável somente existe numa sociedade
imóvel” e, segundo Gaston Morand, o que ocorreu foi “a revolta dos fatos
contra os códigos”.

Conclusão

A deficiência na dinamicidade da Escola da Exegese vinha não só da


interpretação, mas também da forma como era considerado o sistema: fechado
e estrito ao Código Civil. Por essas razões, o sistema era engessado e estático.
A escola da Exegese não acompanhou a dinâmica da sociedade,
tomando a lei como única fonte do Direito. Havia uma inviabilização do
ingresso, permanência e expulsão das leis, uma vez que o sistema era fechado
e estrito ao Código Civil francês, o que o tornava engessado.
Os mitos da neutralidade e da completude também não acompanharam
a dinamicidade da sociedade, uma vez que limitava a visão do intérprete e do
legislador, hoje ambos os mitos são cada vez mais considerados
ultrapassados. Tanto o juiz quanto o legislador reconhecem a existência de
lacunas no ordenamento, utilizando, para isso, o princípio de freios e
contrapesos, que busca harmonizar os três “poderes” e a interpretação
principiológica.
O Código de Napoleão foi um grande avanço para a época e satisfez o
que os franceses ansiavam, mas, depois de certo tempo, não foi mais
suficiente devido a dinâmica e às críticas que advieram dos seus opositores,
notadamente dos doutrinadores da Sociologia jurídica. Ocorreram, então,
mudanças no Código Civil francês e, com elas, o início do declínio da Escola
da Exegese.
Atualmente, a interpretação gramatical é considerada uma das mais
falhas, exatamente por não levar em consideração fatores essenciais em uma
sociedade dinâmica. O intérprete deve operar lucidamente de forma a
considerar os valores sociais compreendendo que a lei e os códigos não são
um fim em si mesmo, mas sim um meio para concretizar o Estado Democrático
de Direito no qual estamos inseridos e, sobretudo, contribuindo para a
desmistificação dos mitos que outrora estavam ínsitos à prática judiciária e
doutrinária.

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