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1.1 Definição
Segundo o prof. Doutor Santos Justo – Traduz-se pelo conjunto de normas ou regras
jurídicas que vigoraram no mundo romano, desde a fundação de Roma (753 A.C
segundo a tradição), até o ano de 565 D.C, ano da morte de Justiniano.
NOTA: Esta é a definição em sentido estrito. Podemos falar ainda, atendendo ao que
referem outros autores
-Direito romano Lato Sensu: “O Direito Romano, lato sensu, é a tradição romanista:
abrange o período de 14 séculos (sécs. VI-XX), mas sobretudo o período que vai desde
o fenómeno da «recepção do Direito Romano» até aos nossos dias” (SEBASTIÃO
CRUZ).
É de todo o interesse para um jurista que estude o direito romano. Isto justifica-se, pelos
mais variados motivos: Indubitavelmente, vai ser um contributo para a formação
acadêmica, para o alcançar da perfeição técnico-jurídica, ou então por interesses
históricos.
Temos a Jurisprudência também, que nunca fora tão importante, desempenhando seus
papéis na interpretação, aplicação e mesmo criação de direito.
Também destaque para a terminologia, que faz do direito romano, “alfabeto e gramática
da linguagem jurídica”
1
2. Organização Social Romana
A base da organização social das aldeias romanas era, à semelhança da antiga sociedade
grega, a “gens”1.
Cada gens, era formada por um grupo de famílias, cujos membros clamavam
descender de um antepassado comum (consanguinidade), com suas sepulturas de
família, seu culto familiar (religião) e o seu chefe. Os membros das gens formavam
naturalmente o patriarcado.2 Não se surpreenda com a figura do “pater familias”3.
NOTA: De cada família assim formada, poderia fazer parte elementos adventícios, que
ficassem na sua dependência (= do patriarca) beneficiando da sua proteção – Eram os
chamados clientes. Era algo que possibilitava a proteção de estrangeiros na cidade.
-Classe mais elevada dos cidadãos romanos. Estruturava-se nas “gentes”, apenas eles
poderiam aceder as magistraturas bem como os cargos sacerdotais, e auxiliavam o rei no
governo da cidade. Reuniam-se nos chamados comícios, onde votavam as leis rogadas
(LEX ROGATA)
Os plebeus não faziam parte, como aquelas famílias, da aristocracia romana. Mas sem
dúvida constituíam o grupo social mais numeroso! E cresciam de forma muito mais
1
Gens é um termo que, na Roma Antiga, representava a identidade familiar de um determinado
conjunto de famílias, largamente inscritas na aristocracia romana (A nobreza, no caso, os patrícios – só
estes pertenciam a gens – plebeus não)
2
Patriarca, originalmente, era uma pessoa que exercia uma autoridade autocrática no papel de pater
familias sobre uma família estendida. O sistema de governo de famílias pelo homem mais velho é
denominado patriarcado.
3
Pater familias (plural: patres familias) era o mais elevado estatuto familiar (status familiae) na Roma
Antiga, sempre uma posição masculina. O termo é latino e significa, literalmente, "pai de família".
A forma é irregular e arcaica em latim, preservando a antiga terminação do genitivo em -as. O termo
pater se refere a um território ou jurisdição governado por um patriarca.
2
rápida do que os patrícios. Eram estrangeiros, que acabavam por se fixar na cidade em
virtude do alargamento das fronteiras romanas. Ali permaneciam e só cresciam de
número.4
Eram muitas as desigualdades, e medida que o tempo passou, foram eles se tornando
cada vez mais reacionários, tendo travado grandes lutas de interesses com os patrícios,
que mantiveram-se por quase toda a história romana (uma luta intensa, e consistente),
por interesses financeiros, políticos, civis, patrimoniais, religiosos etc5. Isto assim foi,
até um momento em que as autoridades públicas acabaram por reconhecer este grupo
populacional, incorporando-o no estado romano. Deste modo, passou a plebe a gozar de
alguns direitos, e fora ainda organizada do ponto de vista administrativo e militar,
durante os séculos V e IV A.C.
Para além destes grupos sociais principais, outros ainda se avultam como por
exemplo:
4
Detalhe que: Inicialmente, estrangeiros não poderiam entrar em Roma, não tendo quaisquer direitos,
nem sendo reconhecidos pelo poder público, com uma única exceção: Se se colocasse sob a proteção de
um chefe de família, através dum acordo de proteção (hospitium privatum)
5
Os patrícios, pretendiam reservar os seus direitos e a plebe, clamava por uma melhor posição na
organização política da cidade.
6
No tempo do imperador Diocleciano por exemplo. Em Roma, um vestido caro de seda branca custava
12.000 denários, equivalente hoje a aproximadamente 1.500 euros. O vestido mais caro em seda
púrpura (só permitido o uso com autorização do imperador, sob pena de morte) custava 150.000
3
NOTA: Muito limitada era a condição das mulheres e dos escravos! As mulheres
tinham já vetado todos os direitos políticos. Tinham relevância essencialmente
doméstica neste período e não na vida pública. Quanto aos escravos, vale realçar que a
sua encontra pelos romanos não foi logo no início, perto da fundação de Roma. Apenas
durante as expansões africana e asiática encontraram escravos, levando parte deles para
Roma, acrescidos de outros vencidos, incluindo os Gregos, reduzidos também a
escravidão.
3. Períodos
Qualquer ramo de direito tem, para além de muitas outras, a função importantíssima de
disciplinar juridicamente a vida dos homens em sociedade!
denários, equivalente hoje a 18.750 euros. Uma ânfora de azeite virgem, 40 denários, equivalente hoje a
5 euros.
4
Justamente por isto, eles estarão sujeitos (não forçosamente) a um processo de
desenvolvimento/evolução (já que a vida humana não é estática! Se o direito se propõe a
disciplina-la, precisa acompanhar em bom ritmo as mutações que vão ocorrendo).
- Atualmente, o direito romano não tem mais vigência. Ou se quisermos, uma “vigência
indireta” e limitada aos princípios e figuras jurídicas. Mas durante o período que
vigorou – cerca de 14 ´seculos – é totalmente compreensível que tenha sofrido muitas
alterações!
Na descrição das fases de evolução do direito romano existem vários critérios possíveis:
Político, normativo ou o jurídico externo…
Critério Utilizado pelo Prof. Doutor Santos Justo: Jurídico Interno – Quatro
épocas de evolução:
I. Época Arcaica – Acompanha 6 séculos: de 753 A.C, desde os primórdios da
vida jurídica de Roma, até 1307 A.C.8 Fora muito marcada pela presença de
instituições jurídica rudimentares e pela mistura do jurídico com a religião e
com a moral. É um período muito marcado pela oralidade, pela extrema
rigidez, solenidade e formalismo.
É o período exclusivo do ius civile, direito apenas aplicável nas relações inter cives
romani.
Um marco importante desta primeira fase fora a criação do Pretor Urbano, em 367 a.C. 9
7
Data da Lex Aebutia de Formulis, uma lei aprovada pelos órgãos competentes da República Romana
(que legalizou o novo sistema processual, o Processo das Fórmulas, contribuindo para um grande
desenvolvimento do direito romano).
8
Detalhe que esta fase acompanhou a transição da monarquia para a república (começa em 510 a.C) –
duas organizações políticas romanas, tendo a partir de 242 A.C, vivido também o surgimento do ius
gentium
9
Se ocupava da colaboração na resolução dos litígios entre cidadãos romanos, pela forma de edito
(=qualquer preceito emanado de autoridade superior ou instituição; decreto, sentença)
5
A atividade legislativa escrita, começa a afirmar-se como a única fonte jurídica, e a
subalternizar a primitiva fonte do ius: O costume.
Inicia-se com a tomada da Sicília pelos Romanos, o que viria a marcar a expansão
territorial de Roma. É também data da criação do Pretor peregrino 10, e do começo de
surgimento do ius gentium. Inicia-se a fase do direito nacional.
II. Época clássica – Dura dois séculos, situando-se entre os anos de 130 a.C,
data que corresponde à destruição de Cartago, grande porto comercial no
Norte de África11, e a anexação da Grécia, transformada em província
romana (Acaia) em 146 a.C, e 230 d.C, no princípio do século III, com a
substituição oficial do processo das fórmulas, pela “cognitio extra ordinem”
(Processo da Cognição Extraordinária) e o esgotamento da jurisprudência.
Possui alguma subépocas:
-Este sistema começou por substituir parcialmente12 seu anterior – O chamado sistema
das “legis actiones”. Neste antigo sistema, os procedimentos judiciais eram sempre
orais: quer junto de um juiz ou junto de um pretor, tudo decorria oralmente. O autor
expunha sua pretensão, o demandado contestava/confessava, as testemunhas eram
10
Se ocupava dos litígios entre cidadãos romanos e estrangeiros (perigrini) e entre estes – em 242 a.C
11
E com isto dando fim as 3 guerras púnicas
12
A lex aebutia formulis data do ano de 130 a.C. No entanto, o novo sistema processual que trouxe
apenas viria a substituir, na integra, o seu anterior, no ano de 17 a.C, com a lei iulia iudiciorum
privatorum (Promulgada por instigação do imperador Augusto).
6
ouvidas. Contrariamente, no novo sistema processual, o procedimento passou a ter na
fórmula (=documento) escrita a sua peça fundamental.
b. Clássica central – Vai de 30 A.C até o ano de 130. A 27 a.C, inicia-se o período
do Principado. Fora um período marcado pelo esplendor da iurisprudentia13
(apogeu), manifestado em diversos aspetos:
. Em 130 d.C, com Trajano, o império conhecera sua maior extensão territorial e o
latim, antes de língua local, passara a língua universal.
Servius, Cônsul em 51 a.C, criou a escola serviana e a Actio in factum concepta, que
permitiu integrar lacunas do ius civile!
c. Clássica Tardia – Ocorre entre os anos 130 e 230. É marcada por um lado, pela
substituição do processo das fórmulas pelo da cognitio extra ordinem 15. Por
outro lado, assiste-se ao início da decadência da iurisprudentia que, voltou-se
para a elaboração de exposições monográficas do ius civile e para o
13
Que viria mesmo tornar-se, com Augusto, Fonte de direito Romano.
14
Casuística refere-se ao raciocínio baseado em casos.
15
Em 134, o imperador Adriano publica o edictum perpetuum, que promoveu a cognitio extra ordinem.
Somente viria a ser chamada de cognitio oficial, no século IV.
7
desenvolvimento do ius publicum 16 (com enfase para os direitos
administrativo, militar, fiscal, penal e processual civil).
III. Época pós-clássica – Situada entre os anos 230 e 530, compreendendo duas
diferentes etapas:
1ª – Que vai de 230º a 39517 - A decadência acentua-se, com uma grande confusão no
direito (de terminologia, conceitos e instituições). O ius clássico perde precisão e rigor.
A iurisprudentia perdera sua função criadora/inovadora, e as constituições imperiais,
tornaram-se a única fonte de direito. Por outro lado, destaca-se o advento da escola
(escola dos glosadores) que viria a substituir a iurisprudentia, e que se dedica a
elaboração de glosas, glosemas e resumos de textos, que demonstram uma ciência
simplista e elementar.
16
Fenómeno que se pode explicar, pelo facto dos imperadores (a partir do período do principado)
utilizarem jurisconsultos (e titulares de cargos elevados) como funcionários públicos. Estes ficavam sob a
dependência direta daqueles, e respondiam sempre às consultas que os imperadores lhes colocavam.
17
Destaque para o facto que, neste ano de 395, o imperador Teodósio I dividiu definitivamente o
império romano em duas partes (ocidente e oriente) pelos seus dois filhos, Honório e Arcádio. Era
inicialmente (284) de Diocleciano, mas uma série de crises provocam a partilha do império (286) entre
Maximiniano e Diocleciano, com uma reunificação em 394 em Teodósio I, até chegar em 395.
18
Que viria a cair no ano de 476, com Rómulo Augusto.
8
-A decadência no ensino do direito - Cristianismo19
-Empobrecimento/depauperamento da iurisprudentia
IV. Época Justinianeia – Decorre entre os anos de 530 e 56523. Destaca-se tal
como a anterior, pela presença do classicismo e do helenismo. Mas a sua
maior especificidade decorre da maior compilação jurídica jamais feita:
19
Com Constantino, pelo edicto de Milão, em 313, passam a ser toleradas todas as religiões e um pouco
mais tarde, é mesmo adotada a religião cristã, também em resultado da sua visão da cruz com as
palavras “in hoc signo vinces” (com este sinal vencerás), antes de uma batalha em 312 de reunificação
do império e que levou Roma pela primeira vez a lutar em nome da religião, com o signo da cruz nos
exércitos.
20
Antiga região Francesa
21
A cidade de bizâncio, fundada em 660 a.C pelos gregos de Megara, súbditos do rei Byzas, passou a
Constantinopla em 330 e depois a Istambul em 28 de março de 1930, atualmente situando-se na
Turquia, e sendo a única cidade do mundo dividida por dois continentes: Ásia e europa.
22
Uma tendência intelectual que pretende imitar e valorizar o clássico.
23
Neste ano falecera Justiniano
9
“Corpus iuris Civilis”, que atualizou o direito até então existente e também
transmitiu seu conhecimento a gerações vindouras.
4. Evolução
4.1 Período do direito Romano quiritário/ius civile como ius quiritum – 753 a.C
Neste período, o direito é o direito dos cidadãos romanos primitivos, o ius quiritum (de
quirites24), de teor muito rígido e formalista e ainda não escrito! Inclui a fase em que ele
era exclusivamente costumeiro (mores), e quando se passa a escrito estes costumes.
Passamos para esta fase do direito nacional, quando da sociedade romana passam a
fazer parte elementos exteriores (numa grande quantia-Os plebeus), dado a expansão
territorial e descentralização do império, trazendo assim situações práticas que exigiam
soluções inovadoras. Surge o ius gentium, aplicável nas relações entre cidadãos
romanos e estrangeiros e estes entre si.
24
Nome dado aos primitivos cidadãos de Roma. Era um direito possível, e compreensível, já que a
permeabilidade da sociedade romana ao exterior, era bem pequena neste período.
10
No ano de 212, o imperador romano Antonino Caracala concedera, através do Edicto
(Uma espécie de constituição imperial) de Caracala, cidadania romana a todos os
habitantes livres do império. Com isto, ficou apenas uma ordem jurídica em vigor: O ius
civile, extensível agora a todos os cidadãos romanos. O ius gentium deixa de ter o seu
sentido principal, evoluindo para um direito comum a todos os povos.
5. Caracterização
O direito privado romano apresenta certas características específicas, que nos permitem
distingui-lo dos demais direitos. Vejamos algumas:
Os romanos entendiam bem que liberdade sem autoridade é uma anarquia e que
autoridade sem liberdade, é uma tirania. Por isto mesmo conciliaram estes dois
conceitos superiormente.
11
5. Reconhecimento da fides, do officium, da humanitas e da amicitia
6. Ius e Fas
Inicialmente os dois vocábulos equivaliam-se, significando aquilo que era lícito, ou seja,
o que a vontade divina permitia.
12
Com o passar do tempo, viu-se que enquanto o primeiro, conheceu um longo processo
de secularização, o segundo passou a identificar-se com o ius divinum, ou seja, o
conjunto de normas que estabelecem o que é permitido pelos deuses e cuja
inobservância é sancionada com penas religiosas.
7. Justiça e Equidade
Entendida não como uma virtude universal (=soma de todas as demais virtudes), mas
como virtude particular ou legal, a justiça (iustitia) é na definição de “Ulpianus 25, “a
vontade constante e perpétua de atribuir a cada um o seu direito”. Constitui o
ontológico do jurídico: Definindo e configurando como jurídica a vida social, cabendo
ao direito efetiva-la. Era constituída por dois elementos lógicos:
8. Iuris Praecepta
13
-Não abusar do seu direito (honeste vivere26) Este possui uma base profundamente
ética. Todavia, é um preceito jurídico/e não ético. É mais amplo do que o licitum
(=conforme ao direito). A partir da revolução francesa entendeu-se que, quando se está
na posse de um direito, não se pode ter abusos (retrocesso)
-Não prejudicar ninguém (alterum non laedere) -exercício dum direito próprio deverá
assim coexistir com o direito alheio
-Atribuir a cada um o que é seu (Suum Cuique Tribuere) Este “atribuir” pode
consistir em: (i) dar; (ii) entregar; ou (iii) dar e entregar
NOTA: Como esclarece Cícero, estes outros dois também são postulados da justiça: “O
primeiro fundamento da justiça é não prejudicar ninguém” “a justiça determina dar a
cada um o que é seu”.
As relações envolvendo os cidadãos romanos (cives romani), reguladas pelo direito (Ius
civile)
Passado o tempo, quando a lex tornou-se uma fonte do ius, esta antiga contraposição
lex-ius fora substituída pela nova distinção entre direito público (ius publicum) e direito
privado (ius privatum).
Vários poderiam ser os critérios de distinção! Entretanto, o prof. Santos Justo menciona
novamente Ulpianus, que parece atender a um critério de utilidade, segundo o qual:
26
No campo do direito viver honestamente é não abusar de seu direito.
14
- O direito civil (ius civile) é o direito específico dos cidadãos romanos (=civitas 27).
Este ius, igualmente denominado quiritário28, é muito rígido e formalista.
- O direito pretório (ius praetorium) é criado, em especial, pelo pretor urbano, na sua
especial função de “interpretar, integrar e corrigir o direito civil (ius civile), tal como
assinala Papinianus.
Por meio de edictos32 publicados no início de suas funções (ius edicendi), em que
determinavam os casos em que concederiam ou denegariam ações (actiones praetoriae),
anunciando como exerceriam seus poderes, os pretores contribuíram para a formação do
ius honorarium – Formando o ius praetorium – Grande parte daquele.
27
Que são apenas os civis romanus = Membros da comunidade política romana, na qualidade de
cidadãos da cidade de Roma
28
Quirites era a denominação para os mais antigos cidadãos romanos.
29
Magistrado, na terminologia romana significa qualquer detentor de um cargo político.
30
Mandato ou decreto publicado com autoridade do príncipe, magistrado, juiz ou autoridade
administrativa que prevê a observância de certas regras em algum assunto.
31
Magistrados ligados à administração dos mercados e com jurisdição sobre os contratos aí celebrados.
Ainda superintendiam a limpeza da cidade, conservação dos edifícios e vias públicas e mais tarde a
organização dos espetáculos públicos.
32
O pretor tinha como um programa de ação – edictum! O que ele iria fazer. Poderia fazer novos
edictuns para novas situações que surgissem e não estivessem originariamente previstas. O edictum
Praetoris, mais não era do que uma promessa de actiones. As actiones coincidiam com os iura e, por
isto, quando entendia recusar um ius, o magistrado denegava a respetiva actio ou opunha-lhe uma
exceptio; e quando uma situação não era protegida pelo ius civile criava uma actio e, com ela, o ius para
lhe fazer face.
15
O direito romano, é muito caracterizado pela sua rigidez e formalismo, especialmente o
ius civile. A magistratura do pretor, principalmente o pretor urbano, vai ter um papel
fundamental, na flexibilização e no desenvolvimento deste direito, através das
designadas “actiones praetoriae” = Ações do pretor.
Na sua tarefa de “dar” ação ou “Denegar” ações, possibilita o encontrar das melhores
soluções jurídicas, como que driblando a rigidez/inflexibilidade do ius civile. Não
alterava o ius civile, mas através das providências que concedia, permitia que e
atingissem muitas vezes certos efeitos não contemplados ou impedia a efeitos
negativos/porventura injustos, derivados da rigidez e inflexibilidade deste direito.
Apud iudiceum – Entra o juiz (iudex) – ia de acordo com as instruções o pretor, julgar
o caso, num sentido ou outro.
“Os interessados deveriam solicitar caso a caso a intervenção do pretor para dar
indicações ao juiz, caso contrário, este iria aplicar automaticamente o ius civile
para resolver o litígio. A faculdade de “dare actionem” permitia que se
atingissem resultados não previstos pelo ius civile. E a de Denegare Actionem,
impedia que se atingissem os resultados previstos pelo ius civile! Portanto, este
novo direito que se foi formando, pôs-se ao lado do ius civile, sem com ele
confundir-se – Pelo contrário: O corrige, o desenvolve ou o confirma!
16
como verdadeiro fundamento do ius honorarium. Com sua atuação continuada,
promovem uma renovação do ius civile, e acabam por formar uma nova ordem jurídica
que virá a ser compilada, aproximadamente em 130 d.C, no edictum perpetuum. Foi o
imperador Adriano, que impôs este texto único que todos os magistrados deveriam
adotar e só o imperador poderia alterar.
NOTA: A tarefa dos pretores foi até meados e 130 a.C, com a lei Aebutia de Formulis,
exclusivamente oral. A partir daí, com a substituição progressiva do antigo sistema
processual, foi passando a ser desempenhada por escrito.
- Ações fictícias (Actio ficticia): É materialmente uma ação do direito civil, mas
formalmente, pertence ao ius praetorium. Cumpre a função de estender o direito civil a
situações não previstas e inintegráveis através de analogia. O pretor finge uma situação,
cria uma ficção na qual dá a indicação ao juiz para se aplicar ou deixar de se aplicar o
ius civile. Pela via ficticia da actio se atinge o ius:
*Bonorum Vendictio – A execução patrimonial não estava prevista na Lei das XII
tábuas, apenas a execução pessoal – tábua III, enquanto a dimensão do império o
permitiu… quando Roma alargou seu território, o pretor permitiu com esta actio, a
execução patrimonial, que se recorreria quando não fosse possível a execução pessoal.
-Actio in factum Concepta – Abrange casos em que o pretor criava direito (ius
honorarium), na função de integrar ou suprir as lacunas do ius civile.
17
*Dano aquiliano – Por extensão da Lex Aquilia de Dammo, de mais ou menos 285 a.C,
que estabelecia, a favor do lesado, o direito de ser indemnizado pelo lesante dos danos
causados com a morte de um quadúpude. Porém, esta comtemplava apenas o dano
corporal, causado pela ação direta do lesante. Assim, muito rapidamente se tornou
inadequada, demasiadamente restrita face a evolução da sociedade romana onde
surgiram novas condutas danosas (danos não no corpo, na res) que ficavam a margem
das previsões desta lei (e assim, fora do ius civile) tornando-se injusta sua não punição.
Então, o pretor elabora uma actio in factum concepta, através da qual o lesado obteria o
ressarcimento de todo prejuízo causado.
E de umas e outras, surgiu aquele que ficara conhecido como o direito das gentes (=ius
gentium), que disciplinava as relações entre romanos e estrangeiros e entre estes.
34
Os traços próprios e distintivos que diferenciam algo ou alguém de outra coisa ou pessoa.
18
Segundo Gaius: “O que, na verdade, a razão natural35 constitui entre todos os homens é
observado igualmente em todos os povos e chama-se direito das gentes, como se fosse o
direito que todas as gentes utilizam”.
Tinha-se a ideia de que o direito das gentes se fundava na razão natural, tal como o
direito natural. A base comum acabou por os aproximar. Muitos jurisconsultos definiam
o ius naturale como sendo:
-Agora, está-se perante um sistema ideal de normas, que contêm exigências abstratas de
justiça: É um outro direito que já transcende o direito positivado.
Exemplo da escravatura:
-Se na época clássica, o direito natural e o direito das gentes fundavam-se na razão
natural (realidade objetiva das coisas) e, por isto, eram escravos todos os filhos de uma
escrava, doravante, por força do princípio de que todos os homens nascem a partida
livres, a escravatura fora afastada do direito natural e restringida ao campo do ius
gentium.
19
Entende-se por direito comum (ius commune)36, um conjunto de normas
jurídicas que possuem caráter geral: Aplicam-se a uma série ilimitada de casos,
abstratamente fixados.
Exemplos: A validade das doações, certas formalidades exigidas para o Testamento etc
Direito singular (ius singulare)37, o direito que, por virtude duma particular
“ratio”, se afasta do ius commune, aplicando-se a uma categoria especial de
pessoas ou coisas.
Exemplos: O ius commune da validade das doações, é contrariado pela proibição das
doações entre marido e mulher. (ius singulare)
NOTA (1): Nalguns casos, o direito singular traduz uma vantagem especial às
pessoas a quem se aplica! Por isto mesmo falando-se de benefício (beneficium).
Exemplos: benefício de inventário (beneficium inventarii) que faculta ao herdeiro a
possibilidade de responder unicamente por dívidas que não excedam o património
hereditário.
NOTA (2): Relativamente ao privilégio. É provável que na época da lei das XII tábuas,
consistisse numa pena ou uma medida desfavorável imposta a certa pessoa. Mais tarde,
veio adquirir um significado geral: Privilégio favorável ou desfavorável. E finalmente,
passou a significar tao só uma situação favorável reconhecida a uma pessoa ou grupo de
pessoas, tornando-se difícil distinguir privilegium e beneficium.
36
Normas gerais
37
Normas excecionais
20
13. Direito Objetivo (Law) e Subjetivo (Right)
13.1 Objetivo
Pode ser definido como conjunto de normas jurídicas que disciplinam a conduta humana
na sua vivencia em sociedade.
É este direito que já se viu relativamente ao ius civile, ius gentium e ius honorarium
(integram, portanto, o direito objetivo)
13.2 Subjetivo
Pode ser definido como o poder/ou faculdade reconhecido pela ordem jurídica a
alguém, de livremente exigir/ou pretender doutrem um comportamento positivo ou
negativo38; ou de, só de per si ou integrado por ato de uma autoridade pública, produzir
certos efeitos na esfera jurídica alheia, que inelutavelmente impõe-se.39
NOTA: O direito subjetivo, que manifesta a autonomia privada, também não aparece
definido nas fontes romanas! Ainda que muitas delas, tenham frequentemente utilizado
o vocábulo “ius” num sentido equivalente! Exemplos:
-Princípio “nemo plus iuris ad alium transferre potest, quam ipse haberet”
=Ninguém pode transferir para outrem, algo que não tem ou mais do que tem
-“Parece que ninguém, que faça uso do seu direito, atua com dolo”40
39
Direito potestativo
40
Nullus videtur dolo facere, qui suo iure utitur
21
14.1 Direito e Política
O direito romano está intimamente ligado ao poder político de Roma. Basta reparar: Sua
vigência atingiu a grandeza, quando o império conheceu o auge (quando a governação
estava no melhor momento); e a sua decadência coincide com a profunda crise que o
abalou. Trabalhavam em conjunto! Ao mesmo tempo que o direito progredia à sombra
do político, a política afirmava-se através do direito.
Por isto mesmo, o estudo do direito romano não pode prescindir de uma referência,
ainda que sumária, à organização política dos Romanos.
Diz a lenda sobre a criação de Roma que, quando a guerra 41 entre as cidades gregas,
Esparta e Tróia, na Ásia Menor, terminou com a destruição de Tróia por heróis gregos
como Aquiles, Ulisses etc, um dos troianos que se salvou fora Eneias, filho de Vénus e
do Rei mortal Anquises, e príncipe da Dardânia, na Tróada, que embarcou e viajou até
desembarcar na Itália, na zona do Lácio, onde se casou com a filha do rei Latino,
Lavínia, e fundaram uma cidade com este nome.
Estes tiveram aí um filho – Ascânio/ou lúlo. Este fundou Alba Longa (1000. a.C). Oito
gerações mais tarde (cerca de 200 anos), dois descendentes: Numitor e Amúlio,
ocupavam o trono do Lácio. Chegaram a lutar entre si, e Amúlio afastou seu irmão,
matando-lhes todos os filhos exceto uma: Réia Sílvia.
41
Guerra de troia – cerca dez anos de duração – terá começado por cerca de 1250 a.C.
22
Acabaram-se envolvendo em lutas, e Rómulo matou Remo. Mas precisava de mulheres
para povoar os poucos hectares de sua nova cidade, e então, organizou uma festa, tendo
convidado o povo vizinho – os sabinos (ou quirites), com seu rei Tito Tácio, e
roubaram-lhes as mulheres. Começara então uma guerra entre os dois povos.
Acabou que ambos ficaram a governar em acordo, resultado da fusão das duas tribos,
latinos e sabinos. Ficou então designado o nome romanos quirites.
Ficou, segundo a tradição, fixada a data de 21 de Abril de 753 a.C para a formação da
cidade, sendo certo que Roma Surgiu no século 8 a.C com a conquista de aldeias
romanas pelos povos Etruscos, habitantes da Etrúria, atual zona da Toscana
Segundo a tradição, Roma teria sido fundada nos anos de 754 ou 753 a.C. Nestes
tempos mais primitivos, ainda se estava para formar o estado romano 42. Era o período
das tribos, fixadas em aldeias, sendo a forma de organização política das aldeias – a
monarquia (eletiva e vitalícia)
42
Roma era, nos termos do prof. Santos Justo, “Um agrupamento de homens livres estabelecidos num
pequeno território que defendem e ondem participam nas decisões respeitantes ao interesse comum
através de órgãos políticos fundamentais.
23
O primeiro Rei Etrusco fora Tarquínio, o Antigo. A conquista Etrusca organizou a
cidade político e administrativamente, dividindo a população em Tribus e cúrias e
constituindo órgãos políticos: A realeza, A assembleia curiata e o Senado.
O rei (REX): Era um monarca vitalício (vida toda), mas com a nota curiosa de
não ser uma monarquia hereditária. Era designado pelo seu antecessor, e só
poderia reinar, quando a assembleia curiata aprovasse o monarca! 44. Se o trono
vagasse, entrava em cena o chamado interrex (chefe de gens que interinamente
desempenha funções régias, no caso de o trono vagar). O rex Dirigia a civitas e
cumpre funções religiosas, militares e judiciais.
43
Cidadão romano que não está submetido ao poder de outro pater. Tem o estatuto de sui iuris, e é o
chefe duma família, ainda que somente constituída por si próprio.
44
Lex curiata de império – Aprovação do novo rei pela assembleia – Ideia de legitimação popular do
monarca (governante) já neste tempo, não sendo um Deus Absoluto (como na era moderna)
45
O senado designava um de seus membros para suceder o rei transitoriamente (em regra 5 dias) –
período suficiente, enquanto cessou o reinado e não elegiam um novo – era o interrex
24
Populus (Popular – mas não eram os pobres): O povo intervinha na governação
da civitas romana. E intervinha como – Através dos chamados comícios das
cúrias/Assembleias curiatas – Eram assembleias do povo romano (populus
romanus) em que as trinta cúrias se reuniam. Apenas lá estavam os chefes de
cada cúria. Era um voto por cúría (votando o chefe da cúria).
O chefe da cúria (curião) via a tendência de voto dentro da sua cúria, e essa tendência,
seria o voto a ser dado pelo curião na assembleia curiata.
Foi por volta do ano mencionado que terminou a monarquia militar Etrusca, com uma
revolta em 509 a.C, levada a cabo pelo chamado exército das centúrias, constituído por
patrícios46 e plebeus47, que provocou a queda do último rex Etrusco – Tarquínio o
Soberbo. Inicia-se a república romana.
46
Patrícios constituíam a classe social mais elevada dentre os cidadãos romanos. Estruturavam-se em
gentes, e detinham as magistraturas, os cargos sacerdotais e auxiliavam o rei no governo da cidade.
Reuniam-se em comícios, onde votavam as leis rogadas
47
Eram a classe social menos elevada, ocupando-se dos trabalhos agrícolas, do pequeno comércio e do
artesanato, estavam afastados das funções governativas e reuniam-se em concílios, onde votavam os
plebiscitos.
48
A magistraturas ordinárias seguiam uma certa hierarquia. Estavam ordenadas segundo um critério de
dignidade/honra e não tanto de poderes! (= Cursus honorum – carreira das honras, instituída pela Lex
Villia Annalis de 180 a.C – não recebiam nada por governar! Servir o povo, era uma honra! Cargos não
eram remunerados. Portanto imaginem-se que apenas a aristocracia tivesse acesso. Seguiam uma
hierarquia, e só poderiam atingir os cargos mais altos passado por todos (por isto também eram mais
velhos/sábios/experientes os censores…)
25
a. Censores: Eram os cargos mais importantes em termos da Cursos Honorum. Um
cargo de altíssimo prestígio social/honorabilidade. Não só o cargo, mas a pessoa
que o ocupava. Eram eles que Administravam os bens públicos, faziam a lista
dos senadores, organizavam o recenseamento dos cidadãos romanos e tutelavam
a moralidade humana49. Eram eleitos dois censores, num mandato de 5 anos, nos
comícios das centúrias.
49
Em virtude de seu cargo ser o de mais alta honorabilidade/prestígio, pode-se imaginar que eram
pessoas conhecidas/notáveis. E isto, se conjugado com a função de guardiões da moralidade pública,
permite-nos dizer que eles tinham um certo poder para “aniquilar pessoas da sociedade romana”
/exclusão social
50
A partir de 367 A.C, com a criação da magistratura do pretor, apenas administravam a justiça de forma
extraordinária.
26
Em especial, apenas os cônsules e os pretores, bem como a magistratura
extraordinária do ditador, gozavam de IMPERIUM: Poder de soberania a que
nenhum cidadão pode subtrair-se, que permite dirigir o governo do estado, recrutar e
comandar o exército, indagar a vontade dos Deuses através de certos sinais, administrar
a justiça51, aplicar multas, reter e arrestar bens e convocar e presidir ao Senado e aos
comícios.
51
Até o ano de 367 A.C, de forma normal. Posteriormente, com a criação do pretor urbano, de forma
extraordinária.
52
Se não se encontrasse acordo, poder-se-ia recorrer para o Senado.
27
-Ditador – Em situações de crise grave, as magistraturas ordinárias suspendiam-se e
nomeava-se um ditador, que concentrava em si todos os poderes políticos, militares,
administrativos e judiciais. Exercia estas funções durante um período de 6 meses, com
total independência e irresponsabilidade!
-Tribuno da Plebe -
NOTA: Estas estruturas políticas não ficaram paradas no tempo. Evoluíram ao longo
dos séculos num devir permanente e anual, resultado do exercício de cada magistratura
e respetiva eleição.
28
a. Comícios das cúrias (comitia curiata53) – Davam posse a alguns sacerdotes,
participavam nos testamentos. Estão investidos nos seus poderes os magistrados
eleitos pelas outras assembleias.
Em certa altura, os plebeus conseguem seu assento no senado (só que não poderiam
falar, só votar – olhavam para esquerda ou direita).
Com o passar do tempo, passou a ser integrado por antigos magistrados! Aliás, logo no
início da república, no Consulado de Junio Bruto e Tarquínio Colatino, foi permitida a
entrada de plebeus.
53
Já existente! Foi remodelada.
29
A partir de certo momento, as estruturas políticas romanas da república já não
funcionavam com rigor. As lutas sociais (conflitos entre patrícios e plebeus) e políticas
romanas54, evidenciavam apenas a decadência
-Os defensores da forma política da república, para a manutenção das instituições deste
período como garantia do pluralismo político (regime democrático)
54
Entre os anos de 88 e 31 a.C, deu-se um período de muita instabilidade política em Roma, com guerras
civis, em parte, coincidentes com as tentativas de manter as magistraturas de Triunviratos (Júlio César,
Pompeu e Marco Licínio Crasso/ Marco António, Lépido e Octaviano)
1ª – Entre Caio Mário e Cornélio Sila (88-82 A.C), ficando este como Ditador; 2ª – entre Pompeu e Júlio
César (82-79 A.C), ficando este como ditador, sendo, entretanto, assassinado no ano de 44 a.C; A 3ª –
entre Octávio, Lépido e Marco António, com a morte deste em batalha no ano de 30 a.C.
55
Augusto que tem origem no latim Augustus, que também apresenta os significados de “sagrado”,
“consagrado” e “extraordinário”.
56
Sobrinho e filho adotivo de Júlio César.
57
Que significa o "primeiro no tempo ou ordem; o primeiro, acima de tudo, chefe, o mais eminente,
distinto ou nobre; o primeiro homem, a primeira pessoa". Como um título, princeps originou-se na
República Romana, onde o principal membro do Senado foi designado princeps senatus. É associado
principalmente com os imperadores romanos como um título não oficial adotado pela primeira vez por
Augusto (r.27 aC - 14 dC) em 23 aC. Seu uso neste contexto continuou até o regime de Diocleciano (r.
284 – 305 dC) no final do século III. Este preferia o título de dominus, que significa "senhor" ou "mestre".
Como resultado, o Império Romano de Augusto a Diocleciano é chamado de "principado" (principado) e
de Diocleciano em diante como o "dominar" (dominatus)
30
Isto veio a inaugurar, uma grande época de paz (Pax augusta/ou romana58).
Formalmente, se mantiveram os órgãos da república, mas aos poucos, de forma muito
hábil, o princeps foi assimilando e substituindo as funções das magistraturas romanas
até o ponto em que deixaram de ter sentido, importância.
Cada município (As províncias), passariam a ter uma lei municipal – lex municipalis.
Os seus órgãos eram:
-Senado – Constituído por 100 membros eleitos, sendo seus cargos vitalícios
58
A Pax Romana (latimpara "paz romana") é um período de tempo de cerca de 200 anos da história
romana que é identificado como um período e como uma idade de ouro de imperialismo romano
aumentado e sustentado, paz e ordem relativas, estabilidade próspera, poder hegemônico e expansão
regional, apesar de várias revoltas e guerras, e da competição contínua com a Pártia. É tradicionalmente
datado como começando a partir da ascensão de Augusto, fundador do principado romano, em 27 aC e
concluindo em 180 dC com a morte de Marco Aurélio, o último dos "Cinco Bons Imperadores". Uma vez
que foi inaugurado por Augusto no final da guerra final da República Romana, às vezes também é
chamado de Pax Augusta. Durante este período de cerca de dois séculos, o Império Romano alcançou
sua maior extensão territorial e sua população atingiu um máximo de até 70 milhões de pessoas.
Segundo Dião Cássio, o reinado ditatorial de Cômodo, mais tarde seguido pelo Ano dos Cinco
Imperadores e a Crise do Século III, marcou a descida "de um reino de ouro para um de ferro e
ferrugem".
31
14.5 Dominado (Aproximadamente 284 d.C)
O império, foi a forma de organização política que sucedeu por definitivo a república.
Dentre a manutenção das antigas instituições republicanas e a conservação do território
conquistado (essencialmente na fase do principado…) Roma escolheu lentamente o
segundo caminho!
Sendo a forma de organização política para o qual evoluíra o principado, este foi
consagrado definitivamente em 284 d.C, com o Diocleciano, que designado imperador
por suas tropas, estabeleceu uma monarquia absoluta, sob uma nova constituição
política59, o dominado, em que o imperador se afirma dominus et deus, se fazendo
adorar como um “Senhor” e “Deus”. Seu poder, assentando numa investidura divina,
exercia-se sobre um estado/território patrimonial (=todo seu). As constituições
imperiais, tornam-se fonte exclusiva de direito romano.
Aqui, aconteceu que o império romano foi dividido em dois – Oriente e Ocidente, e em
cada parte, foram constituídas duas prefeituras, cada uma das quais é governada por um
funcionário (Praefectus). A prefeitura, dividia-se em dioceses e estas em províncias, que
são dirigidas, respetivamente, por um vigário (vicarius) e pelo governador (praeses) que
depende do imperador e desempenha funções administrativas e jurisdicionais.
a. O ius civile começou por ser o direito dos cidadãos romanos, apenas sendo
aplicável a estes.
32
c. Posteriormente, com a concessão da cidadania a todos os habitantes livres do
império, o Ius gentium deixa de se aplicar, evoluindo para uma espécie de
direito natural, comum a todas as pessoas.
33
15.1 Preliminares
A expressão fontes do direito (fontes iuris) é uma metáfora, já que em bom rigor, fonte é
o local onde a água nasce e aparece, onde se vê e se pode facilmente recolher.
Podemos falar de fontes do direito em vários sentidos. O Professor santos justo destaca:
15.2 COSUTME
O direito romano, como em vários direitos na sua fase mais primitiva, foi
exclusivamente costumeiro. O costume foi a primeira das fontes de direito romano. No
seu processo evolutivo, assinalam-se duas espécies:
34
-Costume consuetudo: Surge na época pós-clássica, e pode definir-se como uma prática
constante observada durante largo período de tempo pela generalidade do populus
romanus, com força obrigatória de lei.
Em contrapartida, com o chegar da época pós-clássica esta perceção foi decaindo, até
que Constantino determinou que a autoridade do costume não deveria prevalecer sobre a
LEX (Era utilizado na falta desta).
15.3 LEX
A lex, é uma declaração solene (formal), com valor normativo, elaborada pelo populus
romanus que, reunido nos comícios, aprova a proposta que o magistrado apresenta e que
o Senado confirma.
35
A LEX ROGATAE tinha uma estrutura:
-2ª Parte – Rogatio: Parte dispositiva (=o texto legislativo propriamente dito) - Aí se
encontrava tudo o que a lei determinava
-3ª Parte – Sanctio: Parte final, onde se fixam os termos que asseguram sua eficácia – O
que iria ocorrer em caso de incumprimento.
-LEX Perfectae61 – Declaram inválidos os atos contrários a ela; e assim, não produzem
efeitos jurídicos.
-LEX Minus Quam Perfectae62 – Não declaram inválidos os atos contrários, pelo que
estes continuam a produzir seus efeitos; mas vem aplicar multas aos transgressores (a
quem praticou o ato contrário).
62
Exemplo: Lex furia Testamentaria – 200 A.C – Impôs a pena do quádruplo a quem tenha recebido um
legado superior a 1000 asses, exceto se o legatário for parente consanguíneo do testador até o 6º grau.
63
Exemplo: Lex Cincia -Ano 204 A.C – Proíbe as doações que excedam um certo valor, exceto se feitas
entre parentes consanguíneos até o 7º grau, afins, tutores e pupilos, escravos e libertos.
36
Davam-se reuniões em praça pública (nos locais onde havia sido fixado o tal projeto)
para a sua discussão pelos cidadãos.
Era o pedido do Magistrado que elaborou o projeto, no sentido de ele ser aprovado e
passar a ser LEX.
Procedia-se então com a votação do projeto. Num primeiro momento, tratou-se duma
votação oral, mas depois, passamos a ter apenas voto escrito e secreto.
15.4 Plebiscito
37
O plebiscito (plebiscitum) é uma deliberação da plebe que, reunida em assembleia – os
concílios (concilium plebis) – aprovava uma proposta do seu tribuno, o tribuno da plebe
(tribunus plebis64)
Nos primeiros tempos, não tinha qualquer caráter vinculativo – e assim também os
concílios da plebe não tinham muito reconhecimento!
Posteriormente, com a chegada da LEX Valeria Horatia de plebiscitis (449 A.C), foi-
lhe atribuída força vinculativa, apenas entre os plebeus. No ano de 287 A.C, a LEX
Hortensia de Plebiscitis65 estendeu esta sua vinculatividade aos patrícios – ficando
assim, equiparado a LEX rogatae em termos de vinculatividade/eficácia.
NOTA: O plebiscito era conhecido pelo nome do tribuno da plebe, autor da proposta.
15.5 Senatusconsulto
O senado foi sem dúvidas o órgão que se manteve no poder por mais tempo, até em
razão do prestígio que carregava (Tradição). A natureza de suas funções, foi
acompanhando o passar do tempo, as alterações na organização política, mas enquanto
órgão propriamente dito, o facto é que foi dos poucos que conseguiu manter-se de pé.
65
Com esta, os concílios da plebe tornaram-se verdadeiras assembleias legislativas com funções
análogas às dos comitia tributa (comícios da tribos).
66
Pelo que, muitos Jurisconsultos romanos, falam por vezes numa “oratio” do imperador.
38
-Pelo seu conteúdo 67
67
Baccchanalibus – do ano de 186 A.C – que proibiu as festas noturnas em honra do deus Baco.
68
Tertullianum – Do ano de 120 A.C – que concedeu à mãe consanguínea o direito de suceder, iure civili,
na herança dos seus filhos.
69
Claudianum – Do ano de 52 A.C – reduziu a escrava do dono do escravo, a mulher romana que se
unisse sexualmente a esse escravo contra a vontade expressa do seu dono.
70
Macedonianum – Provavelmente do ano 75 – que proibiu o empréstimo de dinheiro a todo o
filiusfamilias, destinado a fins imorais.
71
Com a mesma autoridade que a lei, nos termos de ULPIANUS: quod principi placuit, legis habet
vigorem – O que agrada o imperador tem valor de lei.
39
A legislação imperial tornou-se cada vez mais abundante a partir do século II, até o
ponto de se tornar fonte exclusiva de direito romano.
Era a ciência do direito, fruto do trabalho dos jurisconsultos, que vem revelar e
desenvolver um direito, adaptando-o as exigências de seu tempo/de cada momento.
Foi sem dúvida a grande fonte do direito romano. Desempenhou as seguintes funções:
72
Nome que vem de consulta jurídica
40
Durante seu esplendor, manifestado entre outros aspetos na:
A iurisprudentia foi dominada por duas grandes escolas, que funcionavam como que
clubes de discussão, onde os iurisprudentes ensinavam, oralmente, um grupo de
discípulos reunidos a sua volta:
i. Escola Sabiniana – Fora fundada por capito, mas deve este seu nome a um
de seus mais prestigiados juristas – Sabinus.
ii. Escola Proculeiana – Fundada por Labeo, um jurista bastante notável. Ficou
assim conhecida por seu sucessor ter sido o jurista Proculus.
Ao passo que estes, eram frequentemente mais audaciosos e inovadores (havendo
exceções – é algo tendencial)
Para determinar isto, enquanto que os sabinianos defendiam uma inspeção corporal, os
proculeianos, para evitar a variabilidade de resultados, inerente a uma inspeção
corporal, estabeleceram como critério a fixação da puberdade aos 12 anos para mulheres
e 14 anos para os homens, solução que veio a prevalecer.
73
Casuística refere-se ao raciocínio baseado em casos.
41
NOTA: A partir do século IV, estas escolas entrariam em decadência (a jurisprudência
no geral) vindo-lhe suceder a escola dos glosadores.
-PAPINIANO
-ULPIANUS
-PAULO
-GAIUS
-MODESTINO
42
16. Compilações de Direito Romano
43
16.1 Compilações Pré-Justinianeias – A grande Maioria de origem Privada
*Sentenças de Paulo
*Epítome de Gaius
*Res Cottidianae
Livro Siro-romano
74
Livros neste tempo, eram sobretudo rolos e papiro, um artigo de Luxo, muito caro e frágil. O
significado da palavra código é bem diferente no século XIX, quando assistimos aos movimento de
codificação que torna estes “livros” sistemáticos, sintéticos etc.
44
A. O “Corpus Iuris Civilis” (Como a maior compilação jurídica já feita – De
origem Imperial)
No entanto, vai resultar de suas iniciativas uma coletânea oficial diferente de tudo o que
havia sido feito! Este imperador não se limitou a abranger apenas as constituições
imperiais ou as leges, mas todo o direito romano então vigente! E isto ficou a se dever:
-Ao elevado nível científico atingido nesta época, pelos estudos jurídicos (escolas do
império romano oriental)
-Pela sua elaboração ter sido confiada a um jurisconsulto de saber invulgar e caráter
muito ativo e empreendedor – Tribonianus;
Trata-se aqui de uma grandiosa compilação de direitos (iura75) e leis (Lex76), que o
imperador romano do Oriente, Justiniano, mandou elaborar e cuja denominação foi dada
por Dionísio Godofredo, em sua edição publicada em Genebra, em 1583.
75
soluções jurisprudenciais
76
Constituições imperiais
45
Partes nas quais se estrutura:
-As constituições imperiais posteriores, até Justiniano; O que não invalidava a consulta
doutras fontes;
Findos 14 meses de trabalho, a comissão encerra o Codex Primus, que foi publicado por
força duma constituição imperial de 7 de Abril de 529.
Este Codex, proibia o recurso aos velhos códigos e a todas as novelas post-Teodosianas,
excetuando:
Veio a ficar em vigor durante 5 anos, sendo substituído no ano de 534, por um novo
Código. Daí também se chamar “Codex Vetus”.
46
b. 2ª Parte - Digesto/Pandectas (Pandectae)
-Suprimir tudo aquilo que fosse supérfluo, ou que tivesse caído em desuso.
Passados três anos, fora publicado 78 um trabalho em 50 livros, que se dividem em títulos
(exceto 30 a 32, que se ocupam de legados e fideicomissos), estes em fragmentos e em
parágrafos, o primeiro dos quais denomina-se Principium, pela constituição bilingue
(Em latim e em Grego) de Tanta, de 16 de dezembro de 533.
O nome digesto (Do latim) vem do verbo “Digerere”: Dispor, por ordenadamente. E o
nome Pandectae (do Grego): Os livros onde está tudo – Completam-se no seu
significado.
Esta compilação foi imposta nos tribunais e nas escolas, passando a servir de exposição
autorizada, com força de lei, de todo o ius romanum e como texto didático único.
78
E obtendo força de lei ao mesmo tempo
47
Mais ou menos, ao mesmo tempo que o elemento anterior, Justiniano mandou elaborar
um manual de estudo de direito, com caráter normativo expresso, que substituísse os
velhos manuais, no sentido da restauração da cultura jurídica da época clássica
(tendência ao classicismo), para ser lecionado nas escolas de direito.
Configura-se como que um manual elementar de direito para estudantes que iniciam seu
percurso no universo da juridicidade. Sua elaboração foi confiada a Triboniano, Teófilo
e Doroteu e os trabalhos terminaram antes um pouco do Digesto, sendo publicado em
21 de novembro de 533 (alcançando força de lei, apenas no dia 30 de dezembro do
mesmo ano, por efeito da constituição de Tanta, entrando em vigor junto com o
digesto). O seu plano, que se inspirou nas instituições de GAIUS79, dividiu as matérias
em quatro livros, estes em títulos, cada um com uma epígrafe que indicaria o respetivo
conteúdo.
Durante todo o trabalho das primeiras 3 partes, o primeiro Código (Codex vetus) tinha
se desatualizado, em razão do grande número de constituições imperiais inovadoras que
Justiniano publicara. Sua atividade legislativa foi muito intensa!
-Codex Vetus (e os códigos anteriores que se mantivessem em vigor, nos termos deste)
Pode-se dizer, nos termos do professor Santos Justo, que se compilam as leges desde o
imperador Adriano (A mais antiga datava de 130) até Justiniano (até a mais nova, 4 de
79
Ainda que fosse destinado a substituir as institutas de Gaius, utilizou fontes doutros manuais de
direito: De florentino, Paulo e Ulpianus.
48
novembro de 534). O novo código é estruturado em 12 livros, divididos em títulos e
estes em leis cronologicamente ordenadas (com o nome do imperador e data, e ainda
parágrafos – mas já na idade média aí).
Este é habitualmente chamado de Código Justinianeu, uma vez que, no seu próprio
tempo, procede à revogação da primeira coletânea por ele mandada elaborar!
e. 5ª Parte - Novelas
-Direito Público
-Direito Eclesiástico
-Leis sociais
- Epítome das Novelas de Juliano – 122 constituições dispostas por ordem cronológica e
terá sido elaborada por Juliano, provavelmente professor em Constantinopla, em 535 ou
556.
-Autêntico (Authenticum) – Contém 134 Novelas, desde os anos 535 a 556, escritas em
Grego e traduzidas em Latim. Ordenadas cronologicamente até ao número 127.
-Coletânea Grega: Contém 168 novelas redigidas em Grego e foi elaborado por um
autor desconhecido no reinado de Tibério II, talvez no ano de 580. A maioria disposta
por ordem cronológica. Vigorou na Grécia até 1940.
49
16.1 O sistema de Autotutela
Foi por muito tempo que com os romanos, a reação suscitada pelo violar/ignorar de um
direito meu, ter-se-á traduzido no recurso à força, para obter a satisfação que este direito
devia proporcionar: Predominava o sistema da autotutela/autodefesa.
Mas era algo que os romanos notavam não ser tão eficaz, já que:
a. Era um mecanismo que sucumbia perante a maior força. Quem tiver maior força
vence.
b. Também tende a reconhecer situações injustas -O mais forte ficar com algo que
era meu por direito, por ser mais forte.
Deste modo, muito cedo já se preocuparam em fixar limites ao livre exercício deste
mecanismo! Neste contexto, onde ius e faz não se distinguem, destaca-se a atividade do
Colégio dos Pontífices, que terão aplicado sanções de índole religiosa ou pecuniária aos
transgressores, em substituição da vingança privada.
A própria lei da XII tábuas (de meados do Século V) contém uma ordenação processual
em que um magistrado intervém, não para dirimir o litígio, mas para impedir o livre
exercício da vingança privada, impondo a celebração de pactos, prescrevendo uma
multa em substituição da vingança e estabelecendo o recurso obrigatório à arbitragem.
A evolução para um sistema de tutela pública, onde os conflitos ente particulares são
resolvidos por órgãos/autoridades públicas, foi algo inevitável, que não se susteve. Foi
evoluindo-se pouco a pouco, até ao ponto de os casos de autotutela constituírem simples
exceções.
50
Quais então são os meios de defesa dos direitos, num sistema de tutela pública
romano?
A. Actio (Ações)
-De uma situação de facto que um magistrado, através de seu edictum (Ações
Honorárias) considerou digna de proteção.
Tem na sua base, a fonte donde provém a tutela jurídica que a ação consubstancia:
*Ações Edilícias – São outorgadas pelos edis curúis. É o caso da ação redibitória (actio
redhibitoria) que responsabiliza o vendedor pelos vícios ou defeitos da coisa vendida e
permite que comprador rescinda o contrato; E da ação estimatória, que na mesma
situação, concede ao comprador a possibilidade de exigir a diminuição do preço.
51
É uma distinção baseada no direito que a ação tutela
- A ação real (Actio in rem), protegia direitos absolutos (direitos sobre coisas).
Visavam atuar a defesa de um direito sobre uma coisa, contra todo aquele que se põe a
si próprio como obstáculo entre o titular do direito real e a sua coisa.
Por isto, podem ser intentadas contra qualquer pessoa que os lese! Exemplos:
Deste modo, esta ação não vem a ser interposta contra alguém que deva realizar uma
atividade a favor do autor, mas contra aquele que lhe impede o gozo de uma coisa,
podendo ser dirigida contra quem quer que seja, isto é, contra qualquer um. A actio in
rem permitia ao titular do direito real perseguir a sua coisa para aonde quer que ela
fosse, independentemente da pessoa do possuidor, o qual é, para efeitos de tutela,
indiferente.
52
Destinava-se a formular uma pretensão contra uma pessoa, individualmente
determinada, não podendo a pretensão extravasar a relação obrigacional! Era intentada
quando o devedor não efetuava a prestação a que se encontrava obrigado, dirigindo-se
contra o devedor: in personam.
NOTA: É de notar, desde já, que a figura da posse escapava a esta contraposição, na
medida em que assentava noutra categoria processual, os interdicta possessionis.
Fala-se, por isso, hoje, em direitos reais, que incidem em coisas, por contraposição a
direitos de crédito, que são direitos dirigidos contra pessoas.
-As ações reipersecutórias, são todas aquelas em que se reivindica uma coisa
-Nas ações penais, reclama-se uma pena; Estas apresentam certas características:
53
b. São Noxais: Quando o ato ilícito é praticado por escravo ou pessoa sujeita a
autoridade do paterfamilias, este tem a faculdade de se desobrigar, entregando o
autor do delito ao demandante;
c. São cumulativas: Se o ato ilícito for cometido por várias pessoas, cada uma é
obrigada a reparar o dano; por isto, o ofendido poderia demandar cada um dos
delinquentes e, se um pagasse, o outro não ficaria desobrigado.
Esta distinção corresponde a aquela que no direito das obrigações – contrapõe entre os
contratos de boa-fé e contratos de direito estrito.
a. Contratos de boa-fé80 – tinha esta designação por ser tutelado pelas ações de
boa-fé (actio bonae fidei). Portanto, o que acontecia nestes era que juiz deveria
apreciar todas as circunstâncias que tenham ocorrido, e considerar tudo o que
seja exigível entre pessoas justas e leais.
Juiz, Iria analisar o caso concreto, e concretiza-lo de acordo com a boa-fé, aquilo a que
as partes estavam obrigadas. Nesta operação intelectual, de determinar no caso concreto
o conteúdo das obrigações, o juiz deveria considerar o que exigem as partes.
80
eram vários! Compra e venda; locação; sociedade, depósito, comodato, fidúcia, penhor
54
Como um jurisconsulto clássico escreveu a propósito do contrato de CPV, o juiz deveria
atender mais ao que se quis dizer, do que ao quer foi dito. Não ficando preso ao estrito
acordo manifestado pelas partes.
b. Contratos de Direito Estrito– Eram assim designados por serem tutelados por
ações de direito estrito (Actiones Stricti iuris). São contratos que geram
obrigações com um conteúdo bem determinado, cujo cumprimento importa
observar rigorosamente. Serve de exemplo, a Stipulatio.
-Ações de direito estrito (Actio stricti iuris) – Protegem estas modalidades de contrato.
Por isto, em sua sentença, o juiz deverá observar exatamente o que foi acordado, sem
considerar alguma circunstância externa que possa ter influenciado o conteúdo da
obrigação.
-As ações diretas (Actio direta) eram aplicadas às pessoas e nas circunstâncias para
que foi criada.
-As ações úteis (Actio utilis) são concedidas a pessoas diferentes ou em circunstâncias
diferentes.: Constitui a extensão duma ação já concedida a outras pessoas e noutras
circunstâncias. Estas, podem ser:
*Ações fictícias (Actio ficticia): É materialmente uma ação do direito civil, mas
formalmente, pertence ao ius praetorium. Cumpre a função de estender o direito civil a
situações não previstas e inintegráveis através de analogia.
55
*Ações translativas
*Ações ad exemplum: É uma actio in factum (criada pelo pretor, para tutelar um facto
não previsto no direito civil romano) à imagem doutra ação, cujo regime jurídico
permite aplicar a casos análogos aos previstos. Domínio da extensão analógica.
-As ações diretas, nesta classificação, são uma actio in personam que surge de um
contrato celebrado entre dois indivíduos.
Exemplos aqui são: Mandato, o depósito etc. Assim por exemplo, num contrato de
depósito, de início, surgem obrigações apenas para o depositário (quem guarda a coisa),
contra quem o depositante pode intentar ação direta (actio depositi directa).
vii. Acumulação
De um facto jurídico, poderiam surgir várias ações, que visavam o mesmo fim. Neste
caso, fala-se de concurso de ações, e é necessário saber se podem ser intentadas todas ao
mesmo tempo (concurso cumulativo) ou só algumas (concurso eletivo)
As ações penais, por seu turno, já são acumuláveis entre si: Por exemplo, quem furta um
escravo e depois o mata. Poderá ser demandado com a ação de furto e com a actio legis
aquiliae.
56
NOTA: As ações reipersecutórias, poderiam se acumular com as ações penais: Por
exemplo, deriva dum furto, uma ação reipersecutória (a condictio furtiva) e uma ação
penal (actio furti),
É o primeiro deles, e o mais antigo/primitivo. Vai percorrer desde a época arcaica até a
clássica.
Aqui, a administração da justiça não era ainda totalmente assumida pelo estado, que se
limitava a tentar afastar, de alguma maneira, como vimos, o mecanismo da autotutela
(Já era alguma coisa!)
-Ações da Lei (Legis Actiones) -Processo das Fórmulas (Agere per Fórmulas)
57
ii. Apud Iudicem – É presidida por um Juiz – Iudex - privado (era um cidadão
privado, não tinha funções públicas, tendo em atenção que por vezes
poderiam intervir 3 ou cinco juízes) escolhidos ou nomeados na fase
anterior, a quem incumbe emitir uma opinião (sentença) sobre o litígio,
depois de verificar se estavam provados ou não os factos alegados pelas
partes.
A. Origem
A escassez das fontes não permite explicar facilmente a origem do processo das
fórmulas (Agere per formulas). Mas pode-se dizer que não estará ausente, como fatores
determinantes, a inflexibilidade do antigo processo da legis actiones e a necessidade de
proteger judicialmente as relações do ius gentium – Quando Roma foi crescendo…
deixando o período arcaico…
81
Em 134, o imperador Adriano publica o edictum perpetuum, que promoveu a cognitio extra ordinem.
Somente viria a ser chamada de cognitio oficial, no século IV.
58
E depois, com a utilização dos institutos de ius gentium pelos cidadãos romanos, foi se
caminhando paulatinamente para a receção daquele direito no direito civil e,
consequência, este processo generalizou-se.
Tudo isto conduziu a criação do processo das fórmulas – Ou agere per fórmula, que
durante muito tempo, coexistiu com o processo anterior, foi sendo utilizado em
conjunto, tendo sido oficialmente reconhecido, pela lex aebutia de formullis de 130
a.C82. – e que fora o processo que marcou a época clássica – Fase de grande
desenvolvimento no DR!
B. A Fórmula
Este novo mecanismo processual trazia consigo uma nova solenidade fundamental – A
fórmula processual83.
Esta dizia respeito a uma ordem, redigida pelo pretor! Neste documento escrito, o
pretor fixava (Fase In iure):
A fórmula era então dirigida ao Juiz/Juízes/ou árbitros designados, para que estes
condenassem ou absolvessem o demandado, caso dessem por provados ou não
determinados factos. (Fase Apud Iudicem).
Serve de exemplo aqui a fórmula duma actio em que se pede a condenação em certa
pecunia, que tem a seguinte redação:
Tício seja o Juiz. Se resulta que Numério Negídio (Demandado) deve dar 10
mil sestércios a Aulo Agério (Demandante), tu, Juiz, condena Numério Negídio
a dar dez mil Sestércios a Aulo Agério. Se não resulta, absolve.
82
Que veio autorizar os cidadãos romanos a utilizarem o novo mecanismo processual, sem terem de
recorrer ao velho – que assim, foi só caindo em desuso, cada vez mais, até ser substituído por inteiro.
83
Processual, já que existia também a fórmula negocial – Esta traduzia-se pelas palavras que as parte
deveriam proferir na celebração de negócios jurídicos solenes.
59
i. Estrutura da Fórmula Processual
-As terceiras, que podem ser inseridas na fórmula a pedido das partes, são a:
EXCEPTIO + PRAESCRIPTIO
NOTA: No processo das fórmulas, a condenatio era sempre pecuniária! Quer dizer que
o magistrado ordenava sempre a condenação a um valor pecuniário (pagar este valor).
No da Cognitio Extra Ordinem também foi maioritariamente assim.
60
-Relativamente às partes extraordinárias:
Exemplo:
A. Origem
Num primeiro momento, decorria junto dos magistrados que, em situações excecionais,
conheciam a questão litigiosa, faziam eles mesmos a prova dos factos e decidiam
através dum decretum.
84
Em 134, o imperador Adriano publica o edictum perpetuum, que promoveu a cognitio extra ordinem.
No entanto, apenas viria a ser chamada de cognitio oficial, no século IV.
61
Agora, a administração da justiça passou a ser uma função exclusiva do estado, e às
partes, só pertence a iniciativa da instauração dos processos para obterem a proteção de
seus direitos. As duas fases anteriores (In iure + Apud Iudicem) desaparecem, pelo que
passou agora a existir um novo magistrado (que já é um funcionário estatal), que ficou
encarregado do desempenhar das funções anteriormente atribuídas a um magistrado e a
um juiz privado.
B. Características
a. É um processo que já decorre perante um magistrado, que conhece e decide a
questão litigiosa mediante sentença.
b. O magistrado, passa a ter um claro predomínio sobre a atividade que
desempenham as partes no processo, que constitui agora um simples meio
através do qual dirimem seus conflitos, com a função protetora do estado na
salvaguarda da paz social, de que deriva o direito e o dever de administrar a
justiça.
62
A. Poder de POTESTAS
Pode-se dizer que todos estes magistrados, estavam investidos de POTESTAS: O poder
para representar o “populus romanus”
B. Poder de IMPERIUM
C. Poder de IURISDICTIO
Faculdade que certos magistrados possuem para intervir nos processos ditos
“normais” /Ordinários, de caráter civil.
-Iurisdictio Plena e Minus Plena – A primeira, é a que ocorre nos processos típicos da
Cognitio extra ordinem. A segunda, traduz a atuação dos magistrados na fase in iure,
típica dos processos das ações da lei e das fórmulas.
85
Posteriormente, com a criação no ano 367.A.C da magistratura do Pretor, a administração da justiça
está incluída naquele poder duma forma extraordinária.
63
-Iurisdictio geral e especial – A primeira compreende todas as matérias (=Iurisdictio
dos Pretores). A segunda, limita-se apenas a algumas (Iurisdictio dos cônsules, dos
pretores especiais, dos censores, dos tribunos da plebe e dos edis curúis).
Poder de certos Magistrados para intervirem em atos não diretamente processuais, mas
relacionados ou mesmo independentes! (Importante já que possibilitou a proteção
jurídica extra-processual)
NOTA: Aqui o magistrado intervém fora de sua Iurisdictio. Todavia, foi-se estendendo
aos litígios civis, falando-se então da cognitio extra ordinem, processo que absorveu
este poder. Esta identificação, fez surgir a necessidade de se distinguir entre a Iurisdictio
contenciosa e Iurisdictio voluntária.
a. Jurisconsultos
64
b. Oradores
Em regra, eram encarregos pelas partes de falar, em seu nome, nos debates, sendo
escolhidos em virtude de suas qualidades oratórias ou elevada posição social.
c. Advogados
Por vezes, com base na sua cognitio87, intervinha quer para facilitar o desenvolvimento
do processo ordinário, quer para instaurar a pax durante a tramitação processual e
mesmo, se possível, para evitar um verdadeiro litígio.
Mas atenção que depois, com a generalização do processo da cognitio extra ordinem e
da sua passagem a processo ordinário, isto tudo incorporou-se, isto é: Todos estes
mecanismos de proteção extra-judicial (eram extraordinários enquanto vigorou o
processo das fórmulas…) foram introduzidos no ordenamento judiciário romano!
i. Conceito
87
Por trás de tudo, estava-se a desenvolver o processo da cognitio extra-ordinem
65
equidade, declara não reconhecer os efeitos a um facto ou ato jurídico válido e
eficaz segundo o ius civile.
ii. Requisitos
-Idade (Ob aetatem) – Era concedida a menores de vinte e cinco anos em relação a
atos lesivos.
-Erro88 (Ob erronem) – Concedida contra quem tenha cometido um erro essencial em
matéria negocial ou processual. Sobre o erro:
88
Um erro no pedido que leve a uma condenação excessiva ou então a omissão da exceptio.
89
Dolo aqui entendido como Dolus Malus: engano ardilosamente causado, diferente do dolus bonus ou
dolo bom, que é o mero comportamento normal nas relações negociais.
66
Trata-se, portanto, de artifícios de que uma pessoa se serve para enganar outra de forma a que
manifeste sua vontade num determinado sentido que, a saber a verdade, não manifestaria ou
declararia em sentido diferente.
-Coação (Ob metum) – Beneficia quem tenha praticado um ato jurídico por ter sido
gravemente ameaçado. Sobre a coação:
Deve 10.000
Sr. A
(imagine-
se também Sr. B
de má-fé)
90
Não age com violência um credor que ameace o devedor com o exercício dos meios executivos que a
lei lhe concede.
91
É grave, quando suscetível de impressionar um homem muito firme
67
De modo a evitar uma possível execução, aliena seus bens ao sr. C
Sr. C (Terceiro
adquirente,
neste caso, de
má fé!)
Deve 10.000
Sr. A
Sr. B
(imagine-
se de má-
fé)
Sr. D, adquire
de má-fé
68
Sr. C aliena estes mesmos bens ao Sr D
Interdictum Utile
Deve 10.000
Sr. A
(imagine- Sr. B
se de má-
fé)
De modo a evitar uma possível execução, aliena gratuitamente seus bens ao sr. C
Sr. C (Terceiro
adquirente, de
boa-fé poderá
ter sido!
Deve 10.000
Sr. A
(imagine- Sr. B
se de má-
fé)
69
De modo a evitar uma possível execução, aliena seus bens ao sr. C
Ulterior adquirente de
Sr. C (Terceiro
boa-fé, Sr. D, mas o
adquirente, de
negócio foi efetuado a
má-fé
título gratuito
B. Missio In Possessionem
I. Conceito
II. Finalidades
-Execução patrimonial (permitir aos credores a apreensão de bens para, através destes,
satisfazerem os seus créditos, nomeadamente através da respetiva venda e fazendo seu o
preço resultante).
70
C. Interdictum
i. Noção
-Se o fosse, o litígio ficaria momentaneamente resolvido, sem prejuízo da parte que o
acata poder recorrer posteriormente ao processo judicial ordinário.
A área do direito romano em que o Interdictum teve mais importância foi a da defesa da
posse.
Mera situação de facto em que alguém se comporta como sendo titular do direito de
propriedade, e com essa intenção, podendo ser ou não proprietário.
71
Além da propriedade, os romanos buscaram defender a paz social, reprimindo desde
cedo atos que perturbassem a mera disponibilidade de facto de uma coisa
independentemente de corresponder ou não a uma situação jurídica (De haver ou não
propriedade =)
Ora a posse, não se identificando com a propriedade, tinha uma tutela diferenciada. Era
extraordinária e tinha caráter administrativo. Era tutelada através dos interdictum, e
apenas se houvesse desobediência deste, é que poder-se-ia recorrer a via judicial.
18.1 Noção
72
Obrigação (=Obligatio), é um “vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa (O
devedor) fica adstrito para com outrem (o credor) à realização de uma prestação”
(Noção que vai de encontro com o que diz nosso código civil aliás!)
NOTA: Permite-nos aqui, desde logo, contrapor os direitos de crédito e os direitos reais.
-Nos direitos reais, o indivíduo vai obter o benefício que este lhe proporciona através da
sua atuação direta sobre a coisa!
-Nos direitos relativos/de crédito, o titular apenas vai obter o benefício com a
colaboração da contraparte – Mediante uma conduta positiva ou negativa do sujeito
passivo. Por isto mesmo, a “Actio in personam, que protege um direito de crédito,
dirige-se contra/apenas pode ser intentada, contra uma pessoa certa e determinada (O
devedor) pela sua relação.
18.2 Objeto
-Poderia ser um “Dare” – E aí, prestar seria constituir ou transferir um direito real,
direito direto e imediato, sobre uma rés como, por exemplo, o direito de propriedade;
-Poderia ser um “Facere” – Aqui, prestar estaria relacionado ao realizar de uma certa
atividade, um comportamento, que poderia ser uma abstenção (comportamento positivo
ou negativo)
-Poderia ser um “Praestare” – Identifica-se com os dois anteriores. Poderia ser os dois.
No entanto, pode-se dizer que designa em especial a assunção de garantia duma
obrigação.
73
Ora o objeto de qualquer obrigação – PRESTAÇÃO 92 – carece para a sua validade,
necessariamente de ser:
-Possibilidade (E este requisito, tanto do ponto de vista legal - Prestações que fossem
juridicamente impossíveis, isto é, impossíveis à luz do sistema jurídico romano, de seus
preceitos, por exemplo, não era juridicamente possível e, por isso inválida, a prestação
de transferir, a favor de alguma pessoa, a propriedade de uma coisa de que o credor já
era proprietário. Quanto do natural93/físico - Não produziria efeitos a obrigação de
colocar o Mar Mediterrâneo dentro de um cálice, ou seja, algo fisicamente impossível,
pelo que a obrigação era inválida.)
-Lícitude (Não deverá ser contrário à lei e nem à moral…) - Não era válida, numa
obrigação, a prestação na qual o devedor se vinculava a matar uma pessoa, pois tal
contrariava os preceitos que proibiam o homicídio. Da mesma maneira, também era
inválida prestação de conteúdo imoral, isto é, que atentasse contra os bons costumes
romanos; imaginemos num contrato, em que uma devedora ficava adstrita para com seu
credor a se a prostituir! Seria inválido, já que a prostituição era frontalmente condenada
pela moralidade;
-Num objeto Mediato da obrigação – Que se traduz na própria coisa, em si mesma considerada – Isto é,
o objeto da prestação propriamente dita!
Por exemplo:
Se A vende um prédio a B, e em virtude da venda, fica obrigado a entrega-lo, duas coisas são
completamente distintas:
-O ato da entrega (Prestação propriamente dita) – Prestação devida (Objeto imediato da obrigação)
93
A obrigação que tivesse por objeto uma prestação absolutamente impossível, era nula. Tocar o céu
com uma mão.
74
devedor ou, pelo menos, era necessário que fossem conhecidos os critérios que
permitissem concretizar esse comportamento. Entregar vinho.
Por fontes das obrigações (do direito romano…) entendemos os factos que, segundo o
direito romano, criam o vínculo jurídico-obrigacional, entre duas ou mais pessoas.
Durante a época clássica, apenas factos especificadamente determinados pelo ius civile
eram considerados fontes de obrigações. Todavia, graças ao trabalho que desenvolveu a
jurisprudência nesta mesma época em grande parte, e à legislação imperial, seu campo
foi se alargando!
Jurisconsulto GAIUS:
- Pública: Se ofendia a comunidade romana (Aí era uma pena corpórea ou pecuniária), e
assume a denominação crimen. Seu estudo pertence ao direito penal romano
-Privada: Se ofendia um indivíduo em particular. Aí era punido com uma pena privada
pecuniária, e denomina-se delictum/maleficium.
75
Os romanos não compreendiam os delitos, como uma categoria geral e abstrata, mas
como particulares tipos de delitos, que, segundo o ius civile eram: O furtum, a rapina, a
iniuria e o damnum datum.
Claramente era uma divisão insuficiente, pensada para seu tempo. No entanto, com a
evolução natural das coisas, veio a ser definitivamente completada no período do direito
Justinianeu, onde passou a dizer-se que:
*Dano aquiliano – Por extensão da Lex Aquilia de Dammo, de mais ou menos 285 a.C, que estabelecia, a
favor do lesado, o direito de ser indemnizado pelo lesante dos danos causados com a morte de um
quadúpude. Porém, esta comtemplava apenas o dano corporal, causado pela ação direta do lesante.
Assim, muito rapidamente se tornou inadequada, demasiadamente restrita face a evolução da
sociedade romana onde surgiram novas condutas danosas (danos não no corpo, na res) que ficavam a
margem das previsões desta lei (e assim, fora do ius civile) tornando-se injusta sua não punição. Então, o
pretor elabora uma actio in factum concepta, através da qual o lesado obteria o ressarcimento de todo
prejuízo causado.
76
A. Os contratos
i. Noção e elementos
NOTA: Estas são, todavia, definições abstratas (existente só no domínio das ideias e
sem base material), a que a jurisprudência romana foi alheia. Esta, apenas nos
apresentou certos tipos de contratos que, segundo o direito civil, poderiam criar
obrigações! Ademais, na base dos contratos como fonte de obrigações está uma longa
evolução.
-Num primeiro momento, não existem figuras jurídicas assim denominadas. Aliás,
quando utilizado o vocábulo “contractus” (que já era raro…) não era mais do que o
particípio do verbo contrahere que adjetivava substantivos como, negotium,
transmitindo a ideia de negócio contraído.
Esta fase corresponde a ideia de que a obrigação apenas poderia surgir da prática de um
dos atos solenes verbais, rigidamente fixados pelo ius civile, que a vontade das partes
não poderia alterar. (A vontade não era relevante aqui…)
77
“O acordo de vontades de duas ou mais pessoas que, obedecendo a esquemas fixados
pelo direito civil, visa constituir uma relação jurídico-obrigacional”
-A conventio (Ou consensus) – É o acordo das partes, cujas vontades convergem para
que o fim que constitui a causa fixada pelo direito civil ao contrato utilizado.
A. CONTRATOS REAIS
São aqueles que não estão concluídos apenas com o acordo das partes (consensus). Ao
acordo de vontades das partes, era preciso fazer acrescer a prática de um ato material
sobre a rés (sobre a coisa) a que o contrato diz respeito. Esse ato material, podia
consistir numa “Datio” (a transferência da propriedade duma rés) ou uma “Traditio”
(transferência da posse de uma rés ou transferência da mera detenção).
B. CONTRATOS CONSENSUAIS
78
Eram aqueles cuja perfeição dependia apenas do acordo de vontades das partes e,
nomeadamente, para produzirem os seus efeitos não necessitavam da prática de
qualquer ato material relativo às coisas que dissessem respeito.
Portanto, o acordo de vontades era suficiente para a sua perfeição. Acresce que esse
acordo de vontades podia ser manifestado de qualquer forma.
C. CONTRATOS VERBAIS
Eram contratos que tinham de ser celebrados oralmente, seguindo fórmulas pré-
estabelecidas pelo Ius Civile. A Stipolatio por exemplo.
D. CONTRATOS LITERAIS
Dada esta relação de reciprocidade, entre as obrigações das partes, nos contratos
bilaterais ou sinalagmáticos, aplica-se a regra de que quem não cumprir ou pelo menos
95
dependência recíproca de obrigações/ vínculo de reciprocidade que une as obrigações que, nos
contratos bilaterais, nascem para ambas as partes
79
não ofereceu a prestação a que estava obrigado, não pode exigir à outra parte que
satisfaça aquilo a que se obrigou. É a chamada “Exceptio non Adimpleti Contractus”
(exceção de não incumprimento dos contratos);
NOTA: Quanto a estes (Bilaterais), aplica-se o princípio de que, quem não satisfaz (Ou
pelo menos não oferece) sua prestação, não pode exigir que a contraparte satisfaça a
sua. É um princípio que subjaz à doutrina moderna da “exceptio non adimpleti
contractus”.
- Gratuitos – Modalidade contratual em que só se cria para uma das partes, uma perda
patrimonial em benefício da outra. Exemplo clássico é a doação. Só uma das partes, ao
realizar a prestação, sofre uma perda patrimonial a favor da outra parte.
96
podem eventualmente surgir no decurso destes, para o comodatário e para o depositário, obrigações
de indemnizar danos / reembolsar despesas feitas. Para exigir o cumprimento dessas obrigações
eventuais era concedida uma ação contrária…!
80
-Contratos de Boa Fé – São tutelados pelas chamadas ações de boa fé (Actiones bonae
fidei). Portanto, o juiz deveria apreciar todas as circunstâncias que tenham ocorrido, e
considerar tudo o que é exigível entre pessoas justas e leais.
-Contratos de Direito Estrito – São tutelados pelas Ações de direito estrito (Actiones
Stricti iuris) e, portanto, o juiz deveria observar rigorosamente o que fora acordado sem
atender a qualquer circunstância que tenha influenciado o conteúdo da obrigação. (Serve
de exemplo a Stipulatio)
Como se viu, os contratos reais são todos aqueles cuja a perfeição não basta o mero
acordo das partes (a tal conventio). Para que ele produza os seus efeitos jurídicos, é
necessário somar a este acordo, a prática de um determinado ato material (Que poderia
ser a “Datio” ou a “Traditio”), em relação à coisa a que se refere!
NOTA: Tudo isto, para a prossecução duma finalidade que poderá ser, o consumo
(Mutuum), a custódia (Depositum) o uso (Commodatum) ou a garantia duma obrigação
(Pygnus).
81
Definição - Era um contrato através do qual uma pessoa, o mutuante dava
(datio, transferência da propriedade) ao mutuário uma determinada quantia de
dinheiro ou certa quantidade de outras coisas fungíveis, ficando o mutuário
obrigado a restituir igual quantia de dinheiro ou igual quantidade de coisas
fungíveis, do mesmo género e qualidade (o tantundem).
As primeiras, são todas as res que se determinam pelo seu GÉNERO QUALIDADE
E QUANTIDADE. Podem ser substituídas por outras do mesmo género, qualidade e
quantidade. (Ler pag 82 do livro…)
são coisas fungíveis, não são determinadas individualmente. Determinam-se pelo seu
género, quantia e qualidade.
Exp: Alguém ter direito a receber 20 sacas de trigo. Já não poderia dizer tenho direito a
muitas sacas de trigo. Quantas seriam muitas?
Coisas infungíveis são aquelas que pelo contrário se determinam pelas suas
características específicas, vg um quadro é "daquele" pintor e não de "outro".
Mas imaginássemos que esta moeda pertencia ao Sr. A, que é colecionador, e não tem a
mesma opinião sobre a fungibilidade de sua moeda!
82
Elementos essenciais
-Conventio: É o acordo das partes, cujo objeto consiste na restituição da res fungível da
mesma natureza/género, na mesma quantidade e qualidade.
Caracterização do Mútuo
-É um contrato real = não basta o acordo das partes para que o contrato produza efeitos
jurídicos, sendo também necessária a prática de um acto material (no caso do mútuo,
uma datio) sobre a coisa objecto do contrato;
NOTA: Por isto mesmo, em princípio também não produzia juros! (Preço do dinheiro,
pela sua utilização durante um certo período de tempo)
Para que houvesse uma eventual obrigação de pagamento de juros por parte do
mutuário, era necessária a celebração de uma stipulatio (dita usurarum). Aliás, o
empréstimo a juros, constituía uma atividade bastante desenvolvida na sociedade
romana (Variando entre 8,33% ao mês e, depois de um ano, a 100% (dobro do capital
recebido) no tempo da Lei das XII tábuas até o limite de 6% ao ano no direito
Justinianeu.97
97
Durante a república, um senatusconsulto veio proibir o anatocismo: Acordo pelo qual os juros não
pagos, venciam juros. A partir do século III, legislação imperial veio consagrar o princípio de que o valor
dos juros acumulados não poderia nunca ultrapassar o montante do capital emprestado.
83
NOTA: Em suma, as partes poderiam convencionar, o pagamento de juros! A maioria
dos contratos de mútuo eram gratuitos e as partes poderiam convencionar o pagamento
de juros.
MAS ATENÇÃO: A maioria dos contratos de mútuo eram gratuitos, mas haviam
exceções a esta regra de gratuidade! Quais? Em que sentido?
Não existia uma actio em particular. Seria provável que o mutuante pudesse ser servir,
para exigir o cumprimento da obrigação de restituição:
-Da actio certae creditae pecuniae - (Se o objeto do mútuo fosse dinheiro)
-Da condictio certae rei (Ou condictio triticaria) se o objeto do mutuum fosse outra
coisa fungível.
- Para exigir o pagamento dos juros derivados da stipulatio usurarum, teria de exercer a
actio ex stipulatu
84
iii. Contrato de Fidúcia (Datio da res)
NOTA: A fidúcia era estalecida através de um acordo não formal que acompanhava o
contrato (O pactum fiduciae). Este disciplinava a relação fiduciária.
Era um contrato real porque não estava concluído sem a transferência da propriedade
da Res afavor do fiduciário e era também um contrato bilateral imperfeito, porque de
início gerava apenas obrigações para o fiduciário. A obrigação de restituir a Res quando
fosse atingida a finalidade pretendida. Durante a vigência do contrato poderiam
eventualmente surgir obrigações para o fiduciante, ressarcir ou reembolsar o fiduciário
por despesas que tenha tidocom a conservação da Res, segunda, indemnizar o fiduciário
por danos que a Res lhe tenha causado. Quanto a finalidade do pactum fiduciae podiam
distinguir duas modalidades de fidúcia, a fiducia cum creditore e fiducia cum amico.
Caracterização
98
Res = Eram as coisas. Res mancipi, designavam coisas que para serem transmitidas, deveriam observar
certos requisitos, formalidades. Eram res transferíveis apenas com o ato formal da mancipatio ou da in
iure cessio. Opunhma-se à categoria das res nec mancipi, que poderiam ser transferidas com a simples
entrega. Nos tempos pós-clássicos, a distinção foi quase completamente abandonada e o rito de
mancipatio caiu em desuso. Mas foi apenas com Justiniano que a magna differentia foi formalmente
abolida com uma constituição imperial. De fato, não há vestígios disso no Corpus iuris civilis.
85
É um contrato real – Não se poderia considerar perfeitamente concluído, sem a tal
prática do ato material em relação a res mancipi (No caso, a datio)
Era de boa-fé; exige-se que as partes observem a conduta própria de pessoas leais e
honestas. Era tutelado por ações de boa-fé;
É provável que esta modalidade tenha surgido por volta do século IV a.C, tendo
começado a decair na época pós-clássica, e desparecido no período do direito romano
justinianeu99.
Este contrato, era aplicado para a satisfação de várias necessidades, das quais destaca o
Prof. Doutor Santos Justo:
99
Por isto mesmo, na interpolação que foi feita nos textos do DIGESTO (Corpus iuris civilis) os
compiladores substituíram a palavra fidúcia pelo vocábulo Pignus.
86
Durante o processo das Fórmulas, o fiduciante era tutelado pela designada Actio
fiduciae (Dita direta), de boa fé.100 O demandado incorria, caso fosse condenado, em
infamia.
O fiduciário, era protegido pela actio fiduciae (dita contraria) – através da qual poderia
reclamar os gastos feitos na res e ressarcir-se dos danos eventualmente causados.
Caracterização
-É um contrato real – Já que apenas se constitui e produz efeitos jurídicos, com a pratica
do ato material em relação a res (móvel neste caso) a traditio.
-É um contrato de boa-fé (Em virtude disto, tutelado por uma ação de boa-fé). Exige-se
que as partes observem a conduta própria de pessoas leais e honestas.
Além do mais, deverá restituir a res, nas exatas condições em que a recebeu, com todos
os frutos e acessões.
100
Todavia, este actio tinha natureza pessoal (era uma actio in personam). Por isto, o demandado
poderia optar entre restituir a res ou então pagar o seu valor ao fiduciante.
101
Uma retribuição atribuída ao depositário pela custódia da coisa, vai retirar o caráter de depósito –
este passa a ser uma locação.
87
NOTA: Na eventualidade de tentar se apropriar da res, o depositário incorrerá no
“Furtum nec manifestum”, punível com uma ação (Actio furti), na qual será condenado
no dobro do valor da res.
Por sua vez, o depositário gozava da Actio depositi (Contraria), que lhe permitia ser
indemnizado pelos gastos feitos com a conservação da coisa depositada, bem como
dos danos que esta lhe causou102. Acrescia aqui, o direito de retenção (Ius retentionis)
da res, enquanto não fosse ressarcido.
102
Que traduzem, eventuais obrigações do depositante…
88
Iurisprudentia romana, esta modalidade contratual, aos contratos de mútuo.
Todavia, quiçá dos direitos orientais já no fim da época clássica, começou a
admitir-se o depósito de coisas fungíveis, que tinham um regime muito mais
vantajoso do que o mútuo.
-Apenas numa época relativamente tardia, foi considerado como figura jurídica
autónoma.
Caracterização
- É gratuito – À perda patrimonial de uma das partes não corresponde uma perda da
outra parte;
Mas poderiam existir casos em que, o comodato tivesse por objeto coisas consumíveis!
Mas não qualquer coisas consumíveis, tinham de revestir uma certa especificidade: Por
exemplo, poderia emprestar uma coisa para o comodatário ostentar perante terceiros; ou
103
Aquelas cujo uso normal vai importar sua destruição física/económica, ou sua transformação. Não
consumíveis, serão as cuja essência não é transformada em virtude do uso normal.
89
então, imagine-se no caso do dinheiro. Empresta-se uma moeda, esta é objeto de estudo
e depois restitui-se.
O comodatário, estava obrigado a usar a coisa apenas segundo aquilo que foi acordado,
bem como a não desaparecer com ela nem a deteriorar e, a restituir, dentro do prazo
estipulado ou quando fosse exigido pelo comodante, nas exatas condições em que se
encontrava quando recebeu.
NOTA: Se fizesse outro uso, incorria no delito de furto de uso (Furtum usus), punível
com uma ação, Actio furti!
-Ressarcir todos os gastos necessários que o comodatário tenha tido realizado no intuito
de conservar a res,
O comodante, goza da actio commodati (direta) /E da actio furti (no caso da tentativa de
apropriação da coisa)
90
1. Uma relação jurídica obrigacional principal entre dois sujeitos. Imaginemos um
contrato de mútuo.
Na data de restituição este não tinha. Está em dívida para com o Sr. A-Nesta relação
principal Sr. A – CREDOR – e o Sr. B – Devedor.
Penhora bens seus, a favor do sr. A, como forma de garantia do cumprimento da sua
obrigação.
O garante, por sua vez, poderia ter eventuais obrigações surgidas no decorrer da
execução do contrato:
91
Para tutelar as obrigações resultantes do contrato de Penhor:
-Do Credor Pignoratício - Este, por sua vez, dispõe da “actio pigneraticia contraria (In
personam)” do direito de retenção (Ius retentionis) e também duma actio Actio
pigneraticia (in rem) bem como dos interdicta possessórios, contra terceiros que
tentassem apoderar-se da coisa
B. Contratos Consensuais
Definições
Portanto, não era necessária uma forma certa/determinada para a manifestação desta
vontade, tal como sucedia nos contratos verbais e literais, nem mesmo a prática dum
certo ato material relacionado à coisa (datio/traditio etc) como sucedia nos contratos
reais.
105
No direito vigente português – Art. 408º CC, tal como na legislação anterior – Art. 715º do código de
Seabra), a constituição ou transferência de direitos reais sobre determinada coisa dá-se – opera-se em
regra – por mero efeito do contrato.
Atualmente, em contraste com o direito romano, a prestação da coisa – corresponde a uma mera
obrigação de entrega da coisa, tendo por finalidade a transmissão da posse (visto que a
transferência/constituição do domínio ou outro direito real já se obteve – com uma “eficácia espiritual”
92
Com a compra e venda, dava-se apenas a transmissão da posse! Mas nem sempre fora
assim em todas as épocas. Houve uma evolução:
-Esta definição fornecida para a compra e venda romana, utiliza os conceitos que
predominaram na época clássica do direito romano (Compra e venda na época
clássica). Aí, este contrato produzia efeitos meramente obrigacionais (Apenas
produzia certas obrigações entre as partes – não transmitindo a propriedade da
res):
COMPRADOR VENDEDOR
COMPRADOR VENDEDOR
O sr B estava a vender o bem X, pelo preço de 10 Sestérnios
93
-A propriedade transmitia-se imediatamente – por efeito do contrato
NOTA: Todavia, se é verdade que se assistiu a uma evolução neste ponto durante a
época pós-clássica, também é verdade que na época Justinianeia, este passo viria a ser
“desfeito”, quiçá por força do classicismo predominante. Durante este novo período, a
compra e venda voltou a produzir efeitos meramente obrigacionais, só que com uma
pequena diferença:
- Conventio – O acordo das partes, através do qual uma se obriga a transferir a posse
livre e pacífica, e a outra parte se obriga a pagar o preço
O preço (Pretium) – Valor a ser pago pelo comprador da res. que deveria consistir em
dinheiro – “Numerata Pecunia106” (opinião proculeiana) e não em qualquer res fungível
(
106
Dinheiro em espécie.
94
- É um contrato Consensual: Basta o acordo das partes, sem especificidade de forma,
para que o contrato produza efeitos jurídicos;
-É oneroso: À perda patrimonial de uma das partes corresponde uma perda da outra
parte (Não precisava ser uma perda de igual valor – as pessoas poderiam fazer maus
negócios)
-De boa fé: Era tutelado por ações de boa fé. Exige-se que as partes observem a conduta
própria de pessoas leais e honestas.
A compra e venda, é um contrato que poderia incidir sobre coisas corpóreas e não
corpóreas, presentes e futuras107.
-Corpóreas – As “res que podem ser tocadas”. Seriam aquelas que tem consistência
física, apreensíveis pelos sentidos.
-Não corpóreas – As “res que não podem ser tocadas”. Aquelas outras que se nos
revelam como um direito, apenas é concebível pelo espírito.
107
Neste caso, se o vendedor não estiver em condições de transferir a propriedade, incorre na obrigação
de ressarcir o comprador! Pode variar, por exemplo:
-Se a existência da res, depender exclusivamente da atividade do vendedor (Uma coisa que ele fabrica
com materiais próprios ou que irá mandar fabricar etc). Neste caso, se a coisa não vier a existir, o
vendedor responderá por incumprimento do contrato!
-Já noutro caso, se as coisas futuras não dependerem, na sua existência, unicamente da vontade do
vendedor (Produção de vegetais, crias (a nascer) de certos animais etc) a compra e venda fica sujeita à
condição da coisa existir ou então se tornar disponível. O comprador apenas se vincula a pagar o preço e
o vendedor, a transferir (a posse no período clássico, a propriedade nas épocas pós-clássica e
Justinianeia) se a coisa existir ou se tornar disponível. No caso da condição não se verificar, o contrato é
considerado inexistente.
Para a iurisprudentia romana, em contratos deste tipo, o objeto não era a coisa material em si, mas a
esperança da existência desta res, da sua disponibilidade. Atualmente temos uma figura muito
semelhante com isto, que são os contratos aleatórios de compra e venda!
95
As coisas presentes são as que existem já no momento, já as coisas futuras, ainda não
existiam quando a compra e venda era celebrada, mas esperava-se que viessem a existir,
por exemplo, os frutos de um pomar que ainda não nasceram, ou o filho de uma mulher
escrava etc.
NOTA: Mais tarde, esta nova figura jurídica fora designada pela expressão “Laesio
Enormis” (Lesão enorme)
Regime Jurídico
Obrigações do Vendedor
Na época clássica (Da primeira noção de CV que fora dada) objetivo final deste contrato
de compra e venda era que o comprador se tornasse proprietário da rés através do
instituto da Usucapião. É compreensível que o exercício da posse livre e pacífica sobre
a coisa o permitisse adquirir a propriedade.
96
Todavia, antes mesmo de decorrido o prazo da Usucapião, podia acontecer de vir um
terceiro, opor ao comprador uma sentença judicial, que limitasse (total/parcialmente)
aquela posse livre e pacífica, nomeadamente, reconhecendo um direito real sobre a res
vendida.
Se isto acontecesse, o vendedor da res iria responder por EVICÇÃO sofrida pelo
comprador, tendo em atenção aos seguintes aspetos:
108
Perda total ou parcial da posse ou propriedade de um bem que uma pessoa adquiriu em favor de um
terceiro, por meio de determinação judicial movida por outras partes. O alienante, que é a pessoa que
transmite o bem ao adquirente e reponde pelos vícios de evicção, mesmo agindo de boa fé; O evicto,
que é o adquirente que sofreu a evicção; O evictor, que é a pessoa para qual vai o bem após ocorrer a
evicção.
109
forma de adquirir o direito de propriedade através do exercício da posse durante certo tempo.
97
enfermidades crónicas e os demais defeitos físicos não aparentes que os
afetassem!110
-Com efeito, se o vendedor não declarasse ao comprador os vícios ocultos dos escravos
ou animais, e esses vícios acabassem por surgir posteriormente, afetando o comprador,
o magistrado (Edis Curui) concedia a este, contra o vendedor, ações edilícias (Actiones
Aediliciae), através das quais poderia demanda-lo:
110
Deveriam igualmente dizer, quais escravos e animais já tentaram fugir, se se entregaram à vadiagem
etc
98
-Se o vendedor assumisse por stipulatio a responsabilidade pelos vícios ocultos da coisa,
o comprador podia instaurar esta ação no prazo de um ano a contar da celebração da
compra e venda.
-Se, pelo contrário, o vendedor não tivesse assumido a responsabilidade por vícios
ocultos por stipulatio, o comprador tinha de instaurar a actio quantiminoris no prazo de
seis meses a contar da manifestação do vício
Se a coisa vendida, ainda em poderes do vendedor (posse/ propriedade) acabasse por ser
destruída/deteriorada, por caso fortuito ou por força maior (=circunstâncias inevitáveis
111
Princípio do periculum est emptoris.
99
que se impõem à vontade humana, por exemplo uma tempestade, um sismo, guerra) o
comprador mantinha sua obrigação de pagar o preço /tinha acordado!
Como se sabe a compra e venda era um contrato bilateral ou sinalagmático pois, logo de
início, gerava para ambas as partes obrigações, sendo a obrigação de uma a causa da
obrigação da outra (eu faço pq vc vai fazer também…). Daí que se tenha imposto o
princípio no qual:
-Qualquer dos contraentes, não poderá exigir do outro a execução da obrigação que lhe
corresponde sem, simultaneamente, disponibilizar-se a cumprir a sua! De contrário, a
contraparte poderá opor-lhe a exceptio non adimpleti contractus112. Se uma esta a
cumprir e a outra não!
Noutros termos, uma parte não é obrigada a realizar a sua prestação, enquanto a outra
não realizar a sua/ou enquanto não a oferecer ao menos…
a. Exclusivos do comprador
112
Permite que uma parte se recuse legitimamente a cumprir a sua obrigação enquanto a outra não se
disponibilizar para cumprir a sua! A expressão deve-se aos comentadores, uma escola do pensamento
jurídico. Valia para ambas as partes!
100
1. actio empti – permite reagir contra o incumprimento de obrigações do vendedor;
b. Exclusivos do vendedor
c. De ambas as partes
NOTA: Esta diversidade de fins conduziu a que se distinguissem no direito romano, três
contratos diferentes113 (Dentro da locação – é a chamada teoria das 3 locações)
É uma teoria que apesar disto, tem sido contestada. Afirmam os autores que os elementos essenciais da
locação (coisa + renda) conferem a locatio-conductio uma unidade sistemática!
101
-Consensus - Acordo das partes, que bastava para criar a relação locaticia,
-Objecto (Res/trabalho/obra)
- Merces (retribuição)
Caracterização
-É um contrato consensual - basta o acordo das partes para que o contrato produza
efeitos jurídicos
-É um contrato oneroso - à perda patrimonial de uma das partes corresponde uma perda
equivalente da outra parte
- De boa fé: tutelado por acções de boa fé, devendo as partes observar a conduta própria
de pessoas leais e honestas.
-Ressarcir o locatário, de todos os gastos que este fizesse nas reparações necessárias
O locatário deveria:
115
Durante época clássica, se o locatário abandonasse a fundus locada antes do prazo estipulado, sem
justa causa, deveria pagar a totalidade da renda. Durante a época Justinianeia, sua responsabilidade
102
-Restituir a coisa, findo o contrato (no seu termo)116;
- Conservar a rés exatamente como ela lhe foi entregue e dela não fazer um uso
reprovável;
Era o locador que ia ter de suportar as consequências provocadas pela situação fortuita!
NOTA: A locação caducava (extinguia) no momento da destruição total da res, tal como
se tivesse decorrido o prazo contratual. O locatário ficava libertado da obrigação de
pagar a merces a partir do momento em que a res perecesse. Só tinha a obrigação de
pagar, pelo tempo em que teve o gozo dela.
limitava-se ao dano efetivamente causado ao locador. Uma constituição imperial de Zenão concedera às
partes a faculdade de rescindirem contrato dentro do primeiro ano, em consideração das particulares
condições agrícolas e sociais.
116
Uma constituição imperial de 214 d.C, permite a restituição antecipada da coisa locada, se o locador
tivesse necessidade de habitar a casa, carecer de reparação ou se o inquilino fizer mau uso.
103
Se durante o contrato de locação, o locador vendesse a coisa locada, o comprador,
porque estranho à relação jurídico-obrigacional da locação, poderia afastar o locatário
invocando seu direito de propriedade – Traduzia o princípio da “emptio tolit locatum”.
Elementos Essenciais
- Consensus - era o acordo das partes que bastava para criar a relação locaticia, uma vez
que este era um contrato consensual;
- Objeto - devia consistir numa res, não consumível que o locatário devia usar, durante
certo tempo e do modo acordado;
- Merces - era a contraprestação devida pelo uso da res e que em regra consistia numa
quantia determinada de dinheiro, embora na locação de prédios agrícolas pudesse
consistir numa parte dos frutos produzidos;
- Tempo - o uso da res devia ocorrer durante o prazo estabelecido pelas partes, após o
qual o locatário a devia restituir ao locador. Portanto, o uso da coisa era temporário.
-Para tutelar o Locador, era-lhe concedida a Actio Locati, através da qual podia
demandar (exigir) o locatário se não cumprisse as suas obrigações.
-Para tutelar o Locatário, era disponibilizada a Actio Conducti, através da qual podia
demandar o locador.
104
Nesta modalidade da locação, o locador, se obriga a por sua atividade laboral, à
disposição do locatário, durante certo tempo, mediante o pagamento duma certa
remuneração (merces).
Nesta, o locatário gozava do direito de punição (Ius Puniendi) sobre estes trabalhadores!
Elementos essenciais
-Consensus - acordo de vontades das partes que gerava para elas obrigações;
- Merces - contraprestação devida pelo locatário pelo trabalho que o locador lhe prestou,
devia consistir numa quantia monetária;
- Tempo - a atividade laboral do locador devia ser prestada durante o tempo acordado
pelas partes;
117
Os escravos nesta época eram tidos como coisas, comercializados como coisas. Portanto, num
primeiro momento, entendia-se no contrato de locação, que não se podia locar o trabalho/atividade
intelectual dos homens livres de Roma. Porque estes não eram coisas! Eram seres com personalidade
jurídica e capacidade…
105
Cessação
A locação de trabalho, cessava com a morte do locador (não cessando com a morte do
locatário, pois o locador poderia prestar seus serviços ao herdeiro deste, que o substitui
na obrigação de pagar a remuneração (merces).
Se o locador ficasse doente, o que acontecia é que ficava dispensado de prestar seu
trabalho, mas o locatário, em contrapartida, ficaria dispensado de pagar sua merces
(durante o período da doença).
-O locador podia exercer contra o locatário a Actio Locati se não lhe fosse paga a
merces.
-Já o locatário podia exercer a Actio Conducti (ou “ex conducto”) quando o locador não
prestasse o trabalho.
Nesta modalidade, o locador iria se obrigar a entregar uma coisa ao locatário 118 para este
realizar uma obra acordada, num prazo fixado119 e mediante o pagamento de uma
certa retribuição (merces)
NOTA: Era indiferente que o trabalho fosse realizado pelo próprio locatário, ou por
operários que este tivesse (A menos que, o contrato tivesse sido celebrado, tendo em
atenção às específicas qualidades técnicas da pessoa do locatário…)
118
No caso da obra fosse realizada com materiais fornecidos pelo próprio locatário, discutiu-se se
tratava-se de uma Locação de Obra ou de uma compra e venda. Aí efetivamente temos compra e venda
(locador oferece o preço o locatário realiza a obra)
119
Caso não fosse estipulado prazo, a obra deveria ser feita e entregue, no “tempo normalmente
utilizado para a realizar”
106
- Ao passo que na locação de trabalho, o objeto do contrato era a atividade laboral do
locador, isto é, a sua mão-de-obra, na locação de obra, o objeto, é o resultado do
trabalho do locatário e não propriamente a sua atividade em si.
Elementos Essenciais
- Objeto - res que o locador entregava ao locatário para que este realizasse uma obra;
-Se a obra não fosse executada, o locador podia exercer contra o locatário a Actio
Locati.
-Se a merces não fosse paga o locatário podia demandar o locador através da Actio
Conducti.
107
D. Contrato de Mandato
M (1) m (2)
NUNCA FAZENDO NO
O fazendo no interesse: INTERESSE APENAS DO
MANDATÁRIO. AÍ TRATAR-SE-
- Do M (1) IA DUM CONSELHO…
-É um contrato Consensual
- Objeto – objecto - é a atividade que o mandatário se obrigava a realizar e que devia ser
lícita e determinada, além de gratuita; obedecendo a estes requisitos qualquer atividade
podia ser objeto de mandato;
Caracterização
I. Quanto ao objecto
a. MANDATÁRIO
120
Depois, veio a admitir-se a possibilidade do mandatário receber um “salarium”.
121
Caso não existissem, deveria sempre ter em conta a natureza da atividade a ser realizada! O mandado
ter-se-ia por excedido, no caso do mandatário se afastasse das condições que devesse observar. Assim,
109
-Deveria prestar contas da sua gestão ao mandante
Ora em primeiro lugar, dizer que o contrato de mandato vai envolver apenas o
mandatário e o mandante. São as duas partes da relação jurídico-obrigacional.
Esta relação, é estranha ao terceiro: Este apenas poderia reclamar os direitos que,
porventura tivesse, por força daquelas hipóteses, (Mandato no seu interesse ou no
interesse do mandatário e de terceiro) bem como responder por suas obrigações, perante
a figura do mandatário (Parte na relação jurídica!)
Relativamente a esta questão, funcionava assim num primeiro momento – pelo que se
pode dizer que estava excluída a representação direta do terceiro. No entanto,
paulatinamente, este “modus operandi foi se alterando, mormente através da figura do
PRETOR, com a concessão das chamadas actiones utiles (Ações Úteis) – ao mandante
e ao terceiro, respetivamente contra este e contra aquele. (= Contribuição do pretor para
a representação direta do terceiro na relação-jurídico obrigacional)
IV. Extinção
110
-Por força da execução do encargo pelo mandatário ou;
-No caso de se ter ultrapassado o prazo fixado (Apesar deste poder ser sempre renovado
por acordo de partes)
-Renúncia do Mandatário (Mas aqui, se for uma renúncia sem justa causa, intempestivo,
o mandatário vai responder por danos causados ao mandante)
122
(capacidade diminuída) é um termo usado no direito romano, referindo-se à extinção, no todo ou em
parte, do status anterior e da capacidade jurídica de uma pessoa. Houve três mudanças de estado ou
condição atendidas com diferentes consequências: máxima, média e mínima.
O maior, capitis deminutio maxima, envolvia a perda de liberdade, cidadania e família (por exemplo, ser
feito escravo ouprisioneiro de guerra). Capitis deminutio media, consistiu em uma perda de cidadania e
família sem qualquer perda de liberdade pessoal. Capitis deminutio minima, consistia em uma pessoa
deixar de pertencer a uma determinada família, sem perda de liberdade ou cidadania
111
existisse. Se desaparecesse a vontade de um dos sócios, terminava a sociedade. Essa
ideia de acordo contínuo dos sócios é traduzida pela expressão: Affectio/ animus
societatis;
-É oneroso
G. Elementos essenciais
- Consensus - acordo de vontades dos sócios, no qual a assentava o contrato; tal acordo
devia ser contínuo, pois só havia sociedade enquanto ele existisse. Se desaparecesse a
vontade de um dos sócios, terminava a sociedade. Essa ideia de acordo contínuo dos
sócios é traduzida pela expressão: Affectio/ animus societatis;
123
A fraternidade (Fraternitas) criava um vínculo de confiança forte ao ponto de justificar que a
sociedade fosse incomunicável (“Sócio de meu sócio não é meu sócio), revogável por qualquer sócio,
extinguível com a morte/capitis deminutio dum sócio etc.
112
Caracterização
A. Quanto ao objeto
Poderá ser constituído por coisas, por uma atividade laboral (Manual ou intelectual) ou
por ambas estas e, as contribuições dos sócios poderão ser bem diferentes. Consoante os
sócios contribuíssem só com uns, com outros ou com os dois, as sociedades poderiam
ser:
-Deveria também ser suscetível de constituir uma vantagem patrimonial para todos os
sócios
113
NOTA: Não se pode confundir a hipótese da sociedade Leonina, com diferente
repartição de ganhos e perdas numa sociedade normal (Posição defendida por
Jurisconsultos romanos como SERVIUS E MUCIUS, que acabara por prevalecer!)
Num contrato de sociedade, quais os direitos e obrigações que surgiam para os sócios?
i. Obrigações
-Cada sócio é obrigado a contribuir (Nalguma medida…) com aquilo que fora acordado:
Trabalho, coisas ou os dois!
-São responsáveis por evicção, bem como pelos vícios das coisas que entregam!
- Reembolsar os outros sócios pelas despesas que tenha tido com a gestão da sociedade;
ii. Direitos
-Cada um dos sócios tem o direito ao reembolso dos gastos que se façam na gestão da
sociedade, bem como a indemnização dos danos que a gestão lhes cause (A não ser que
estes danos resultem de acidentes ocasionais…)
-Os sócios participam nos ganhos e perdas da gestão, que em regra, são distribuídos em
proporções igualitárias, seja qual for a sua contribuição, salvo se outra coisa tiver sido
estipulada.
O contrato de sociedade, não criava uma pessoa jurídica (Com personalidade jurídica)
nova, diferente dos sócios124. E é por isto mesmo que, não existiam relações jurídicas
124
Existiam exceções: Sociedades de Publicanos (Societates Publicanorum) e as sociedades de
banqueiros (Societates Argentariorum).
114
estabelecidas entre sociedades (Na sua globalidade consideradas) e terceiros, antes,
entre os societários (cada um individualmente considerado) e aqueles!
Nesta aceção, somente o sócio participante poderia demandar e ser demandado pela
contraparte – Ainda que tivesse a obrigação de prestar contas aos demais sócio.
115
NOTA: Como parece claro, só responderiam os sócios que tivessem intervindo/se
relacionado de alguma forma com os terceiros.
Quando algum sócio não cumprisse as suas obrigações, os restantes sócios podiam
responsabilizá-lo, através do exercício da actio pro socio.
116
O tutelar dos direitos e das correspetivas obrigações do contrato de sociedade, na era
romana, era feito através da actio pro socio (Uma ação de boa-fé). Cada sócio gozava
desta.
A. Delito (Delictum)
Definição – É um ato ilícito, sancionado com uma pena, que poderia ser consoante o
tipo de ato praticado:
-Uma pena Pública se ofendia a comunidade romana (Aí era uma pena corpórea ou
pecuniária), e assume a denominação crimen. Seu estudo pertence ao direito penal
romano
-Pena Privada: Se ofendia um indivíduo em particular. Aí era punido com uma pena
privada pecuniária, e denomina-se delictum/maleficium (Estes serão estudados)
O direito romano não conheceu o delito, como uma categoria geral e abstrata, mas sim,
particulares tipologias que, segundo o Ius Civile, eram: O furtum, a rapina, a iniuria e o
damnum iniuria datum. Os principais eram o furtum e o dano causado com injúria.
Os delitos, tal como os contratos, são fonte de obrigações, mas obrigações distintas e
por motivos diferentes (a obrigação de o autor do delito pagar uma pena pecuniária à
vítima – e o corresponde direito de exigir).
117
1. FURTO
Definição
Elementos constitutivos
Consistia na conduta levada a cabo pelo autor do furto. Pode-se dizer que poderia
consistir numa, de três comportamentos)
-Furtum usus (trata-se do uso ilícito de coisa alheia - exemplo: o depositário, que usava
a res, que lhe foi entregue para guarda; o comodatário, que usava a coisa emprestada
para finalidades diferentes daquelas que tivessem sido acordadas com o comodante,
com a evidente exceção, de um deposito irregular pois ai o depositário tornava-se
proprietário das coisas fungíveis que lhe foram entregues e podia usa-las)
-Furtum possessionis (consiste na tomada indevida da posse de uma res, e que pode ser
cometido pelo proprietário da res quando a posse pertencer licitamente a outra pessoa126
125
Expressando a ideia de que o furto poderá lesar não apenas o real proprietário, mas também, quem
assumiu a responsabilidade por custódia da res.
126
Por exemplo, se o devedor pignoratício se apoderar da coisa empenhada, antes de satisfazer a
obrigação garantida. Ou então, o proprietário apoderava-se da coisa que o credor detém em virtude do
direito de retenção.
118
ii. Elemento subjetivo (animus furandi)
Para que existisse a figura do furto, não bastava o comportamento ilícito. Era necessário
que a contrectatio rei fosse realizada com a intenção de lesar outra pessoa. Era
necessário haver intenção de lesar outra pessoa.
Tipos de Furto – Atendendo a pena aplicável ao seu autor (na época clássica)
NOTA: Se fosse escravo, era açoitado e então despenhado da Tarpeia 127. Se fosse
praticado de noite ou de dia a mão armada, o autor poderia ser morto. Todavia, a vítima
e o autor do furto poderiam restabelecer a pax, na condição de este pagar um
determinado valor pecuniário!
A crueldade daquelas penas (açoites, despenhar de pessoas) foi mais tarde reprovada e,
em consequência, o pretor veio a substituí-las pela pena pecuniária do quádruplo do
valor da coisa furtada.
b. Furto não manifesto (Furtum nec Manifesti): Ocorria quando o autor não era
surpreendido na sua ação delitual. Conforme a lei das XII tábuas, era punido
com a pena do duplo valor da coisa furtada.
Para exigir o pagamento da pena pecuniária, a vítima do furto dispunha contra o ladrão
da actio furti.
127
Nome que remonta a fundação de Roma. Tarpeia teria sido uma mulher que traiu os romanos,
entregando as chaves da cidade para os Sabinos. Os romanos a mataram e começou uma guerra entre
os dois povos.
119
Seria uma actio furti manifesti quando o furto era manifesto e uma actio furti nec
manifesti quando não manifesto.
A actio furti – ação penal - era cumulável com outras ações, que permitiam exigir a
restituição da res (tinham caráter reipersecutório) como a reivindicatio e a condictio
furtiva.
Foi regulado inicialmente pela LEX Aquilia de damno (de 287 a. C.). Esta LEX foi
particularmente importante, oferecendo termos e conceitos que a iurisprudentia ao longo
do tempo foi elaborando. Nos termos do Jurisconsulto GAIUS, continha 3 capítulos:
-Dano, precisa ter sido causado através de um contato material com a coisa (corpore
corpori)
120
Tutela do Lesado
O lesado, para a sua proteção, goza da chamada actio legis aquiliae (legis aquiliae de
dammo, trazida pelo plebiscito de 287 a.C.).
NOTA: Importante facto foi que mais tarde, assistimos a extensão da lex Aquilia a
situações que a mesma não contemplava:
121