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Inconstitucionalidade

1. O que é?

- Desconformidade de uma norma ou ato praticado por órgãos do


poder político com o texto da constituição.

*No sistema português atual, somente a desconformidade de


atos normativos é relevante! 112º

*Atos políticos podem ser fiscalizados quanto ao aspecto formal.


Se um decreto governamental não estiver assinado pelo
presidente, e nele contiver um ato político, sofrerá de
inconstitucionalidade formal.

*Atos administrativos podem ser apreciados pelos tribunais


comuns em caso de ilegalidade de acordo com o princípio da
legalidade da administração.

Inconstitucionalidade # Ilegalidade
Norma ordinária ou/ ordinária de valor reforçado viola a
constituição – Inconstitucionalidade

Norma ordinária comum viola norma ordinária de valor reforçado,


indo contra a constituição pelo facto de ser ela a atribuir o valor
reforçado das normas interpostas – Ilegalidade ou
inconstitucionalidade indireta

*Ambos são vícios apreciados pelo tribunal constitucional

Se houver um dos casos, a parte interessada poderá sempre


invocar o mais gravoso ou o cuja a arguição seja mais favorável.

*Não são suscetíveis de apreciação da constitucionalidade os


atos de entidade privadas vinculadas ao cumprimento da
constituição.
*Apenas são os atos e omissões dos órgãos do poder político.

A fiscalização da constitucionalidade pode-se fazer tanto quanto


a atos normativos anteriores como posteriores a constituição em
vigor (artigo 290º).
A fiscalização de atos normativos anteriores pode fazer-se
quanto ao aspecto material pela nova constituição e quanto ao
aspecto formal e orgânico pela anterior constituição.

2. Tipos de inconstitucionalidade

DIRETA / INDIRETA (ilegalidade)

POR AÇÃO / OMISSÃO

MATERIAL / FORMAL / ORGÂNICA

TOTAL / PARCIAL

ORIGINÁRIA / SUPERVENIENTE

Será direta quando uma norma infra-constitucional violar


diretamente a constituição (artigo 277º)

Será indireta quando uma norma viola normas interpostas cujo


valor reforçado é conferido pela constituição.
Será por ação, quando a desconformidade do ato resulta de uma
atuação de um órgão do poder.

Será por omissão quando resulta da não atuação de um órgão


ou pela sua atuação ineficiente.

Por ação serão ainda:

-Inconstitucionalidade material: (substancial) Resulta da


contradição entre o ato normativo e o conteúdo de uma norma ou
princípios constitucionais.

- Inconstitucionalidade Formal: Ato normativo adota uma forma


ou processo de feitura diferente dos previstos.

-Inconstitucionalidade Orgânica: Ocorre quando o ato


normativo provém de um órgão incompetente para o efeito.
Inconstitucionalidade total: Abrange todo o ato normativo?
Inconstitucionalidade Parcial: Abrange apenas uma parte?
Alguns artigos, números?

Inconstitucionalidade originária: Norma infra-constitucional


vem contrariar uma norma de uma constituição que lhe é anterior.

Inconstitucionalidade superveniente: Ocorre quando uma


norma ordinária, inicialmente constitucional, passa a ser
inconstitucional por ter entrado em vigor uma norma
constitucional que a contraria. (Neste caso, só releva se for
material)

*NOTA: Por regra, a inconstitucionalidade material é parcial

3. Sistemas de Fiscalização da constitucionalidade

Observando o número e natureza dos órgãos de fiscalização da


constitucionalidade, podem se distinguir:

- Sistemas difusos: Competência de fiscalização atribuída a


vários órgãos
- Sistemas concentrados: Competência de fiscalização é
atribuída a um órgão

- Sistema norte americano: Todo e qualquer juiz e qualquer


tribunal se pode recusar a aplicar uma norma que considere
inconstitucional

- Sistema austríaco (de tribunal constitucional): Só um tribunal


constitucional aprecia a constitucionalidade das normas,
decidindo definitivamente.

-Sistema Francês (de fiscalização por órgão político): fiscalização


é feita por um órgão político

- Sistema misto (de órgão político e jurisdicional): Fiscalização é


feita por um órgão político em certas matérias e por um
jurisdicional em outras.
4. Classificação da Fiscalização

4.1 Quanto ao modo de impugnação do ato?

A) Fiscalização por via principal: Único processo a ser dirimido


é o da fiscalização da constitucionalidade (não há processos a
decorrer em paralelo). É permitido aos cidadãos ou a certas
entidades a impugnação de um certo ato considerado
inconstitucional, independentemente da existência de qualquer
litígio.

Fiscalização por via incidental: Já existe um processo em


tribunal, quando sendo levantada a questão da
inconstitucionalidade de alguma norma, o processo principal fica
suspenso, até que esta questão seja decidida, que corre em
processo incidental (fiscalização incidental). É sucessiva.

B) Fiscalização em abstrato: Realiza-se independentemente de


qualquer processo a correr em tribunal.

-Fiscalização em concreto: Realiza-se em relação a um processo


já decorrente em tribunal. – É sempre sucessiva
4.2 Quanto ao momento em que é feita?

A) Fiscalização preventiva: Feita antes que a norma venha


ser publicada no jornal oficial (diário da república). Quando a
norma vai para promulgação pelo presidente ou assinatura
pelo representante d república.

B) Fiscalização Sucessiva: Feita depois da norma ser


publicada em diário da republica, independente da sua
entrada em vigor.

1. Classificação dos efeitos da inconstitucionalidade

Efeitos gerais (com força obrigatória geral) – Norma declarada


inconstitucional deixa de produzir efeitos “erga omnes”. O ato é
eliminado por completo do ordenamento jurídico, deixando de
vincular casos e pessoas.

-Efeitos Particulares – Norma declarada inconstitucional não irá


se aplicar mais ao caso concreto que lhe é submetido. No
entanto, continuará em vigor para outros casos, até que seja
revogada, suspensa, ou anulada pelos órgãos competentes.
Efeitos retroativos – Quando a declaração de
inconstitucionalidade faz com que a norma inconstitucional deixe
de produzir efeitos “ex tunc”(retroativos). Simultaneamente
determina efeitos repristinatórios para tudo o que ela tiver
realizado.

-Efeitos prospetivos – Declaração de inconstitucionalidade faz


com que a norma inconstitucional deixe de produzir efeitos “ex
nunc”, ou seja, a partir do momento da declaração.

Inexistência – Ato normativo simplesmente inexiste. Não vai


produzir nenhum efeito desde sua origem, ainda que publicado.
Não é vinculativo a nenhum indivíduo ou entidade. Não é
obrigatório. Cidadão podem opor-se por resistência defensiva
(não execução) ou desobediência.

Nulidade – Norma declarada inconstitucional deixa de produzir


efeitos desde a data de sua entrada em vigor.

Anulabilidade – Norma declarada inconstitucional deixa de


produzir efeitos a partir do momento da declaração.
2. Fiscalização da constitucionalidade na CRP

Sistema português de fiscalização da constitucionalidade:

A)
- Difuso em relação a fiscalização concreta (todos os nossos
tribunais podem levar a cabo – artigo 204º). O que acontece ou,
“Ex officio” ou por impugnação das partes(280º)

- Concentrado em relação a fiscalização abstrata(preventiva ou


sucessiva) pois somente o tribunal constitucional a pode efetuar
como órgão judicial( artigos 209º n 1; 278 e 281)

B) É efetuado por órgãos judiciais, embora, muitas das vezes,


seja atribuído um caráter político, mais do que o jurisdicional, em
relação a decisão de controlo preventivo da constitucionalidade e
a fiscalização abstrata.

C) O sistema de fiscalização preventiva está previsto nos


artigos 278º e 279º. Trata-se de uma fiscalização abstrata,
realizada unicamente pelo tribunal constitucional a pedido do
presidente da república ou do representante da república (quanto
a diplomas regionais).
Sua finalidade é evitar “ab initio” violações grosseiras na
constituição. Ser capaz de detectar desde o princípio. Antes que
os diplomas pudessem entrar em vigor e causar problemas.

*Tal aspecto não torna excluído o direito a posterior apreciação


de outras normas do mesmo diploma, ou então, das mesmas,
com outros fundamentos.

Fiscalização preventiva:
Um diploma vai para PR/RR para os devidos fins

Estes ao analisarem o respetivo, podem considera-lo


inconstitucional, por algum motivo, e por isso, o remetem ao
tribunal constitucional

O tribunal constitucional irá dar o seu parecer, que não é


publicado em qualquer local, apenas comunicado ao presidente e
representante.
Parecer positivo a inconstitucionalidade? PR obrigado a vetar o
diploma. Diploma é enviado de volta ao órgão responsável por
sua elaboração para que este expurgue a inconstitucionalidade.

Parecer negativo a inconstitucionalidade? PR poderá vetar o


diploma politicamente ou então promulgar.

Caso os órgãos corrijam a inconstitucionalidade, por regra, o


presidente da república irá promulga-lo e assiná-lo, embora
possa ainda requerer mais uma fiscalização preventiva.

Por outro lado:

GOV não corrige o problema no diploma? PR converte seu veto


suspensivo (quanto aos diplomas do governo) em veto definitivo.

AR ou ALRS não corrigem o problema do diploma? PR e o RR


poderão promulgar ou vetar definitivamente. Funcionarão como
árbitros entre o parecer do tribunal constitucional e a
reapreciação dos órgãos competentes.
D) Sistema de fiscalização sucessiva vem previsto nos artigos
280º e 281º, e verifica-se tanto para a inconstitucionalidade como
para a ilegalidade.

 Poderá ser uma fiscalização abstrata classificada como por


via principal (artigo 281º)

Quando uma norma é publicada no DR, qualquer indivíduo,


fazendo uso do seu direito de petição(52º), pode solicitar em
carta devidamente fundamentada a qualquer uma das entidades
com legitimidade constitucional (281º n 2) que requeira ao
tribunal constitucional a inconstitucionalidade ou ilegalidade da
norma.

Se a inconstitucionalidade ou ilegalidade é originária, a norma


que assim for declarada para de produzir efeitos desde o
momento em que entrou em vigor. Deixa de produzir efeitos para
todos os casos e opera a repristinação das normas que
eventualmente tenham sido revogadas por ela. (artigo 282 n 1)

Se a inconstitucionalidade ou ilegalidade é superveniente, a


norma declarada inconstitucional ou ilegal só vai deixar de
produzir efeitos desde o momento em que entra em vigor esta
declaração (publicada nos termos do artigo 119º nº 1 alínea g))
artigo 282 n 2.
 Poderá ser uma fiscalização em concreto feita por via
incidental (artigo 280º)

Neste caso, no decurso de um processo judicial, pode suceder


que o juiz:

- Se recuse a aplicar uma norma, por a considerar


inconstitucional ou ilegal

- Aplique uma norma cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade


tenha sido suscitada por uma das partes (artigo 280º n1 alíneas
a) e b))

Quanto ao primeiro caso:


*Se o juiz tiver se negado a aplicar norma constante de
CONVENÇÃO INTERNACIONAL; LEI; DECRETO-LEI;
DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL OU DECRETO
REGULAMENTAR, o ministério público será obrigado a recorrer
diretamente para o tribunal constitucional (artigo 280 nº 3).

*Por outro lado, se a norma a não ser aplicada constar de um


diploma de qualquer outra forma, o recurso do ministério público
não é obrigatório e não tem de ser diretamente realizado para o
tribunal constitucional. Se é que recorre, só o fará para o TC
depois de esgotadas as medidas ordinárias (se um litígio está a
ser julgado na 1ª instância, existem os tribunais da relação e o
supremo).

*Ministério público é ainda obrigado a recorrer diretamente para o


TC, das decisões de juízes que apliquem uma norma
anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal pelo TC. ( 280 nº
5)

Em relação ao segundo caso:

*Se o juiz aplicar uma norma cuja inconstitucionalidade ou


ilegalidade tenha sido suscitada durante o processo, só poderá
recorrer para o tribunal constitucional a parte que tenha suscitado
a questão e depois de ter recorrido a todos os meios ordinários.

O processo principal fica suspenso quando é suscitada a questão


da inconstitucionalidade ou ilegalidade, e então, o juiz do tribunal
terá que conformar a sua decisão com o acórdão que o tribunal
de recurso, por regra, o TC, proferir sobre a questão.
Se a norma for declarada inconstitucional ou ilegal, vai o ser com
efeitos particulares, ou seja, não será aplicada ao caso concreto
em julgamento, mas continuará em vigor para os restantes casos,
até ser anulada, revogada ou suspensa.

*No entanto, se o tribunal constitucional já tiver julgado a mesma


norma inconstitucional ou ilegal, em três casos, pode declarar
então a sua inconstitucionalidade ou ilegalidade com força
obrigatória geral (artigo 281º nº3). Deste modo, passa-se da
fiscalização sucessiva concreta para a fiscalização sucessiva
abstrata. É precisamente, O único caso em que o TC atua de
forma autónoma e não por requerimento.

E) Fiscalização da constitucionalidade por omissão vem prevista


no artigo 283º. É realizada pelo tribunal constitucional, mas a
requerimento do presidente da república, do provedor de justiça
ou dos presidentes das assembleias legislativas das regiões
autónomas.

Se o tribunal constitucional verifica a existência deste tipo de


inconstitucionalidade, limita-se a dar conhecimento ao órgão
legislativo competente, limita-se a recomendar, não impõe nem
atua em nome do órgão.

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